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PORTUGAL NO PRIMEIRO PÓS-GUERRA

} AS DIFICULDADES ECONÓMICAS E A INSTABIBILIDADE POLÍTICA E SOCIAL; A


FALÊNCIA DA PRIMEIRA REPÚBLICA

Devido aos elevados poderes do Congresso da República, em que em 16 anos de regime houvera muitas
eleições atribui-se a crónica de instabilidade governativa.
O parlamento interferia em todos os aspetos da vida governativa exigindo constantes explicações aos
membros do Governo e enveredando até, pela via dos ataques pessoais.
Ao laicismo1 da República, assente na separação da Igreja do Estado se deve o seu anticlericalismo.
A proibição de congregações religiosas, as humilhações impostas a sacerdotes e a excessiva regulamentação
do culto conquistaram à República a hostilidade da Igreja e do país conservador e católico.

} Dificuldades económicas e instabilidade social

Em março de 1916, Portugal entrou na Guerra, integrando a causa dos Aliados. O seu contingente
designava-se por CEP – Corpo Expedicionário Português, chefiado por Gomes da Costa.
A sua participação no conflito mundial acentuou os desequilíbrios económicos e o descontentamento
social.

Consequências da entrada na guerra:


- Falta de bens de consumo;
- Racionamentos;
- Especulação;
- Produção industrial em queda;
- Défice da balança comercial;
- Dívida pública disparou;
- Diminuição das receitas orçamentais;
- Aumento das despesas.

O processo inflacionista permaneceu para além da guerra, subindo assim o custo de vida e afetando os que
viviam de rendimentos fixos e poupanças, ou seja, as classes médias e os operários, vítimas de desemprego.
Também descrente da república estava o operariado.
A agitação social em 1919-1920, levava a frequentes greves organizadas pelas anarcossindicalistas.

} O agravamento da instabilidade política

Em 1915, ainda Portugal não tinha entrado na guerra e já o general Pimenta de Castro dissolvia o
Parlamento e instalava a ditadura militar.
Pela via da ditadura seguiu-se Sidónio Pais, em dezembro de 1917.
Destituiu o Presidente da República, dissolveu o Congresso e fez-se eleger presidente por eleições diretas,
em abril de 1918.
Através de um golpe de Estado, desmorona a República Velha e instala a República Nova, sendo apoiado
por monárquicos, religiosos e evolucionistas.
Cria a sopa dos pobres, abre creches para os filhos do proletariado, demonstrando um grande carinho pelo
povo.
No entanto, a dezembro de 1918 é assassinado e os monarquistas aproveitam-se, criando a “Monarquia do
Norte”, proclamada no Porto que suscita uma guerra civil entre Lisboa e Norte.

O regresso ao funcionamento democrático das instituições fez-se logo em março de 1919, mas a
República Velha (período terminal da Primeira República) não desfrutou da conciliação desejada: a divisão

1
Doutrina que tende a dar às instituições um caráter não religioso.
dos republicanos agravou-se; os antigos políticos retiraram-se da cena política e aos novos líderes faltaram
capacidade e carisma para imporem os seus projetos.

À instabilidade governativa somavam-se atos de violência que manchavam o regime e envergonhavam


Portugal aos olhos dos outros países.
Foi o caso do acontecimento designado por “Noite Sangrenta” a 19 de outubro de 1921, ocorrendo o
assassinato de António Granjo (ex-chefe de Governo), Carlos da Maia (republicano de raiz) e Machado dos
Santos (comandou as tropas de 5 de Outubro).

} A falência da Primeira República

Das fraquezas da República se aproveitou a oposição para se reorganizar:


- Igreja: indisposta com o anticlericalismo e o ateísmo republicanos cerra filas em torno do Centro
Católico Portugal tendo como apoio o país agrário, conservador e católico;
- Os grandes proprietários e capitalistas, ameaçados pelo aumento dos impostos e pelo surto grevista
e terrorista, exploraram o tema da ameaça bolchevista (Criaram em 1922, a Confederação Patronal,
transformada pouco depois em União dos Interesses Económicos, concorrendo às urnas, fazendo eleger
deputados seus ao Parlamento);
- A classe média vê o seu nível de vida a diminuir de qualidade e teme o bolchevismo tirando o apoio
à República e desejando um governo forte.

Portugal fica então suscetível às soluções autoritárias.

A 28 de maio de 1926, através de um golpe de Estado por Gomes da Costa a Primeira República
portuguesa cai, instalando-se uma ditadura militar de 1926 a 1933.

} TENDÊNCIAS CULTURAIS: ENTRE O NATURALISMO E A VANGUARDA

} Pintura

Portugal permanecia acomodado aos padrões estéticos, cujo gosto oficial premiava o naturalismo.
Aquela pintura académica que obedecia a regras criteriosamente aprendidas nas academias de Belas-Artes,
satisfazia-se com as cenas de costumes e as particularidades realistas da vida popular.

O novo poder republicano, nacionalista e eleitoralista apreciava e acarinhava as velhas tendências


culturais, dado que refletiva a mais pura essência do portuguesismo e justificava os esforços de promoção
cívica (social e cultural) em que a República se empenhava.

Desde 1911, artistas plásticos e escritores como Cristiano Luz, Santa-Rita, Amadeo de Souza-Cardoso,
Mário de Sá Carneiro, Fernando Pessoa, Eduardo Viana, entre outros lutavam por colocar Portugal no mapa
cultural da Europa. Muitos deles tinham estudado em Paris e lá se fascinaram com as vanguardas artísticas
do tempo.
Estes, de costas voltadas para o academismo, revelaram-se cosmopolitas. Substituíram a iconografia
rústica, melancólica e saudosa pelo mundanismo boémio, esquematizavam em vez de pormenorizarem,
apoiavam-se no plano, procuravam a originalidade e experimentavam. Foram cubistas, impressionistas,
futuristas, abstracionistas, expressionistas, surrealistas.

Ao atacarem alicerces da sociedade burguesa, nomeadamente os seus gostos e valores culturais, os


modernistas receberam a indignação e o sarcasmo, sendo que para se afirmarem realizavam exposições
independentes, publicações periódicas e decoravam espaços públicos à revelia de preceitos académicos.

} Modernismo
- Os artistas abandonam o saudosismo rural que é substituído pelo cosmopolitismo boémio;
- O pormenor desaparece havendo a simplificação da linha;
- Esbatimento do volume;
- Utilização de cores contrastantes;
- Costumam distinguir dois modernismos: 1911 a 1918, ligado às revistas Orpheu e Portugal
Futurista e 1920 a 1930 às revistas Presença e Contemporânea.

} O primeiro modernismo (1911-1918)


Na pintura, o primeiro modernismo ficou ligado a um conjunto de exposições (livres, independentes e
humoristas) realizadas com regularidade desde 1911, em Lisboa e no Porto. Nelas encontramos artistas
como Manuel Bentes, Almada Negreiros, Cristiano Cruz, Stuart Carvalhais, entre outros.

Os desenhos apresentados, muitos deles caricaturas, perseguiam objetivos de sátira política, social e até
anticlerical. Entre enquadramentos boémios e urbanos, ora avultavam as cenas elegantes de café, ora as
cenas populares com as suas figuras típicas. Utilizavam-se cores claras e contrastantes.
Este primeiro modernismo sofreu um impulso notável com a eclosão da Primeira Guerra Mundial,
principalmente quando voltaram de Paris, Amadeo Souza-Cardoso, Guilherme Santa-Rita, Eduardo Viana,
José Pacheco, considerados o melhor núcleo de pintores portugueses assim como com eles veio o casal
Robert e Sonia Delaunay, destacadas personalidades do meio artístico parisiense.

Destes regressos resultou a formação de dois pólos ativos e inovadores:

- Lisboa, liderado por Almada Negreiros e Santa-Rita, que se juntaram a Fernando Pessoa e Mário de
Sá-Carneiro, surgindo a revista Orpheu, sendo somente dois números publicados que revelavam a faceta
mais inovadora, polémica e emblemática do futurismo, “fez o encontro das letras com a pintura”. Deixaram
o país escandalizado com o repúdio ao homem contemplativo e exaltando o homem de ação, denunciado a
morbidez saudosista dos Portugueses e incitando ao orgulho, ação, aventura e glória.

- Norte, em torno do casal Delaunay, Eduardo Viana e Amadeo de Souza-Cardoso. Amadeo de


Souza-Cardoso, influenciado pelo futurismo realizou duas exposições individuais, não tendo o apoio da
crítica nem do público. Saiu também o número único da revista Portugal Futurista, que teve a apreensão da
polícia. O regime republicano atacado nos gostos e opções culturais não se desvinculava dos cânones
académicos.

} O segundo modernismo (Anos 20 e 30)


Com as mortes prematuras de Sá-Carneiro, Santa-Rita e Amadeo, o regresso dos Delaunay a França
e a partida de Almada para Paris encerrou-se o primeiro modernismo português.
- Reúne homens das letras e das artes;

- Nas letras destacamos José Régio, Adolfo Casais Monteiro e João Gaspar Simões;

- Tal como no primeiro modernismo, estavam à margem, não sendo compreendidos pela crítica e
pelo público;

- Davam a conhecer o seu trabalho através de: exposições independentes, decoração de espaços como
Bristol Club e A Brasileira do Chiado. Ilustração de revistas tais como: Domingo Ilustrado, ABC, Ilustração
Portuguesa, Sempre Fixe, etc. Existência de duas revistas: Contemporânea e Presença;

- Em 1933, António Ferro, jornalista e admirador do modernismo é nomeado Chefe do Secretariado


de Propaganda Nacional (controlava a arte durante o Estado Novo). Contrata os modernistas com o objetivo
destes transmitirem a imagem que o Estado Novo pretendia criar. Os modernistas passam a representantes
da arte oficial.
- Esta subordinação do modernismo é contestada pelo pintor António Pedro que promove, na década
de 30, uma exposição de artistas independentes que pretendida ser uma homenagem aos membros do
primeiro modernismo.

Na década de 40 vai ser um dos introdutores do surrealismo em Portugal. Este opunha-se à arte
oficial.

Alguns pintores modernistas

 Amadeo de Souza-Cardoso
- Em Paris troca a arquitetura pela pintura;
- Em 1913, Amadeo é reconhecido pela crítica;
- Quando rebenta a Primeira Guerra Mundial volta a Portugal, aplicando técnicas vanguardistas
absorvidas em Paris;
- Em 1916 expõe em Lisboa e no Porto, mas depara-se com a incompreensão da crítica e do público;
- Tem uma obra multifacetada, que passa pelo desenho estilizado, pelo cubismo, expressionismo,
futurismo e pelo dadaísmo;
- Participa na Portugal Futurista, apreendida pela polícia e o terceiro número de Orpheu, que não foi
publicada contava com obras suas.

 José de Almada Negreiros


- Realiza em 1913 a sua primeira exposição individual e trava amizade com Fernando Pessoa, com
quem colaborará em Orpheu e Portugal Futurista;
- Produz mais obras literárias que pictóricas sendo alguns dos seus textos de intervenção: Manifesto
Anti-Dantas, K4;
- Pinta o Autorretrato num Grupo para a redecoração de A Brasileira;
- Desiludido, parte para Madrid durante cinco anos onde inicia a técnica do mural;
- Decora na década de 40 as Gares Marítimas de Lisboa;
- Casa-se com Sarah Afonso e realiza Maternidade;

 Eduardo Viana
- Em 1905, desiste do seu curso da Academia Nacional de Belas-Artes e parte com Manuel Bentes
para Paris, na busca do ensino moderno;
- Deixa-se fascinar por Cézanne;
- Em 1915, o pintor instala-se com o casal Delaunay, sendo que datam dessa época as suas incursões,
na decomposição das formas, à maneira cubista, e da luz, à maneira órfica. Deixa-se influenciar pelo brilho
do sol português e pelas cores alegres da olaria minhota;
- O Rapaz das Louças, marca o retorno de Viana à figuração volumétrica;
- Foi frequentemente acusado de “cézannista”, sendo ligado a uma pintura oitocentista;
- A sua modernista reside na pujança da cor, que usa em contrastes vibrantes e luminosos, quer em
retratos nus, paisagens ou naturezas-mortas;
- Foi admirado como um dos maiores pintores da primeira geração de modernistas;
- “Pintor fundamentalmente sensual, um instintivo, estranho a teorias (…) ”

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