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Aula: 14 de Outubro

Assunto: Planejamento governamental no Brasil

Temos trilhado um caminho para o conhecimento das particularidades do


planejamento governamental na América Latina. Os assuntos indicados e
apresentados, mais que descrever a construção dos acontecimentos e
ideias, foram escolhidos com vistas a mostrar como as exigências da
política econômica estatal incidem, determinam a planificação.

Por quê?

As reflexões do professor Otávio Ianni (em: Estado e planejamento


econômico no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996) ajudam a
entender a relação essencial existente entre as exigências da política
econômica estatal e o planejamento governamental. É isso: existe uma
relação essencial entre política econômica e planejamento
governamental.

Dentre outros importantes esclarecimentos, nessa obra Ianni explica que


somente entendemos as particularidades desse planejamento quando
percebemos que toda política governamental, considerada tanto no
âmbito das ideias como no prático, pode ser encarada como manifestação
particularmente privilegiada das relações entre o Estado e a Economia,
entre o poder político e a economia.
As reflexões do professor Ianni desvelam que: a análise dos conteúdos
ideológicos e práticos da política econômica governamental pode
esclarecer as relações entre Estado e sociedade. Entre política
econômica estatal e planejamento governamental. É que a política
econômica diz respeito à direção da organização, do funcionamento, o
sentido da transformação política e econômica almejada (cabe lembrar
que estamos nos referindo a relações sociais de dominação (políticas) e
apropriação (econômicas)). E que, num sentido lato, o planejamento
governamental é o processo que estabelece objetivo, define linha de ação,
planos, determina os recursos necessários à consecução dos objetivos
dessa política.

Por exemplo:

O período iniciado em 1930 foi de profundas transformações no Estado


brasileiro, enquanto estrutura de poder e organização burocrática. Essa foi
a época em que deixou de existir o Estado oligárquico e em que o setor
industrial adquiriu hegemonia, fatos que mostram as tendências
predominantes na evolução do sistema político-econômico brasileiro:

- as políticas econômicas adotadas ao longo dos anos 1930-1970


manifestam a ambição de grupos e classes sociais no sentido de criar um
sistema econômico configurado como capitalismo nacional;

- também, a ambição de grupos e classes sociais no sentido de provocar a


consolidação de um capitalismo dependente;

- fazem ver, ainda, algumas formulações e realizações de políticas


econômicas de cunho nacionalista que expressavam compromisso com a
criação de um sistema de tipo socialista (julgava-se que a estatização
crescente fosse uma possibilidade real de socialização do sistema
econômico).

Enfim, a análise da relação entre o Estado e a Economia no Brasil, no


período 1930-70, faz ver que o Estado desempenhou funções decisivas
(tanto econômicas como políticas) para o funcionamento e expansão do
capitalismo monopolista, em condições de dependência.

Detalhando as particularidades do planejamento governamental no Brasil,


Ianni, na mesma obra, faz ver que nos anos 1930 e 1945, as políticas
econômicas financeiras adotadas, as reformas político-administrativas

realizadas e a própria reestruturação do aparelho estatal não foram o

resultado de um plano pré-estabelecido. Então, no período de


1930-45, o governo foi respondendo aos problemas conforme
apareciam.

O que não é sinônimo de dizer que o governo não suscitou e incentivou a


sistematização de informações, a realização de debates, a análise de
problemas, a tomada de decisões, formulação de projetos e a execução de
medidas de política econômica. Basta ver a estrutura ministerial criada: os
conselhos, institutos, comissões etc.
A questão é que essas e outras realizações
governamentais não foram resultado de um estudo
prévio, de caráter global, sistemático. Resultaram das
situações críticas ou problemáticas surgidas ao longo do
processo político e da evolução econômica. No conjunto,
essas formulações e realizações mostram a estrutura, os
sentidos da atuação governamental. Revelam o contexto
histórico e estrutural em que o Estado se encontrava.

Cabe destacar a instituição do Conselho Federal de Comércio Exterior,


1934. Devido à forma como desempenhou as suas funções, os problemas
ao quais se dedicou e à realização de políticas econômicas, esse Conselho
pode ser considerado o primeiro órgão brasileiro de planejamento
governamental.

Ianni ressalta que:

é muito provável que a técnica de planejamento, enquanto instrumento


de política econômica estatal, tenha começado a ser incorporada pelo
poder público, no Brasil, durante a II Guerra Mundial;

foi nessa época que a planificação passou a fazer parte do pensamento e


da prática dos governantes, como técnica “mais racional” de organização
das informações, análise de problemas, tomada de decisões e controle
da execução de políticas econômico-financeiras;
o término da guerra e a chamada redemocratização do país estavam
incluindo novos problemas e novos grupos sociais no debate relativo às
estratégias políticas de desenvolvimento;

as próprias tarefas práticas do poder público exigiam decisões imediatas.


Demandavam maior coordenação da política econômica governamental.
Daí, em 1945, empresários, membros do governo, economistas e
técnicos reconhecerem no planejamento uma técnica de aceleração do
desenvolvimento econômico.

Uma coisa é certa:

a combinação desses fatores transformou o planejamento em


um componente dinâmico do sistema político-administrativo;

mas, a fraqueza e a instabilidade econômicas levaram o Brasil à


adoção de uma série de planejamentos parciais e
intervencionismos do Estado.
Paulo Roberto de Almeida, no texto A experiência brasileira em
planejamento econômico: uma síntese histórica destaca que:

desde 1940 o Brasil acumulou uma experiência razoável em matéria de


planejamento governamental – desde os primeiros planos, dentre eles o
Plano SALTE, ao plano de metas de JK, até os mais recentes planos
plurianuais, determinados constitucionalmente. O fato é que o Estado
brasileiro acumulou diversas tentativas de planejamento e de
organização do desenvolvimento econômico.

Apoiado nos estudos de José Tunda Palazzo, Almeida informa a seguinte


cronologia do itinerário da incorporação do planejamento ao processo
governamental:

- 1934-1945 abrange o Estado novo e tem como órgão central o


Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP);

- 1946-1956 fase de transição caracterizada pelas tentativas de


implantação de órgãos centrais estabelecidos em função de planos, mais
que de planejamento;

- 1964 fase de esforço de planejamento global, com Plano de Ação


Econômica do Governo (PAEG), depois continuado por meio dos PND I e II;

- 1980-1990 início da fase marcada pela determinação constitucional de


implementação de planos plurianuais como forma de balizar a alocação
de gastos públicos no decorrer de um prazo maior (04 anos).
A Constituição de 1988 instituiu o Plano Plurianual (PPA) como o principal
instrumento de planejamento de médio prazo no sistema governamental
brasileiro. O PPA deve estabelecer de forma regionalizada as diretrizes,
objetivos e metas da administração pública federal. Cada PPA deve conter
diretrizes para a organização e execução dos orçamentos anuais.

O que deferência uma época da outra?

- a disposição dos meios operacionais (e legais) à disposição do Estado;

- maior ou menor presença do Estado;

- uma ampla flexibilidade e liberdade de ação na época da ditadura (o


governo militar era a Lei, atuava por Decreto-Lei);

- a necessidade de negociação com o poder legislativo, assim como com a


própria sociedade civil, característica indissociável da democracia.

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