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Barragem do rio São Sepé - VAC-38B e canais de irrigação

Relatório de avaliação geotécnica

1. Introdução

Analisa-se a seguir o condicionamento e a adequação geotécnica


do projeto da Barragem do rio São Sepé e do seu sistema de irrigação.
No item 2 são avaliadas as características geológico-geotécnicas do
sítio de barramento, bem como os projetos de escavação, drenagem e
impermeabilização de ombreiras e fundações. O projeto geotécnico dos
canais de irrigação é analisado no item 3, enquanto a disponibilidade e
as características dos materiais naturais de construção são examinadas
no item 4. Finalmente, considerando os aspectos geológico-geotécnicos
contemplados nos itens anteriores, avalia-se no item 5 a concepção do
projeto geotécnico e os aspectos construtivos desta decorrentes.

2. Sítio de barramento

 Geologia das ombreiras e fundações

O barramento situa-se na borda do complexo granítico São Sepé, o


qual é composto por granitos, granodioritos e monzonitos com textura
orientada por efeito tectônico. Ocorrem eventualmente rochas vulcânicas
associadas à suíte granítica, estas normalmente de composição riolítica.
No mapa geológico (figura 1) verifica-se a ocorrência de falhamentos
cortando o eixo da barragem na margem esquerda e no próprio leito do
rio São Sepé. A estes falhamentos está normalmente associada uma
faixa de cisalhamento e alteração.

As unidades estratigráficas constituintes da bacia do rio São Sepé


são de natureza diversa, verificando-se a ocorrência rochas ígneas,
sedimentares e metamórficas, assim como depósitos quaternários
inconsolidados.
Figura 1: Geologia do sítio de barramento, o qual situa-se no complexo
granítico São Sepé, próximo ao contato com as rochas sedimentares da
formação Rio bonito. Observa-se a ocorrência de falhamentos na ombreira
esquerda e leito do rio São Sepé.
O levantamento geofísico das ombreiras e fundações,
compreendendo nove sondagens elétricas verticais e três seções de
caminhamento elétrico com 200m cada (Figura 2), mostra uma variação
significativa de eletrorresistividades ao longo do eixo de barramento. As
resistividades elevadas da margem esquerda foram interpretadas como
rocha de boa qualidade e sanidade, com provável topo rochoso próximo
a superfície, enquanto na margem direita, as resistividades mais baixas
indicam maiores graus de alteração e fraturamento (figuras 3, 4 e 5).

Uma faixa de intenso grau de alteração e fraturamento foi detectada


no leito do rio São Sepé, coincidente com lineamento tectônico já
identificado neste mesmo local no mapa geológico. A avaliação geofísica
desta zona de fraturamento e alteração indica que a mesma estende-se
para a margem esquerda em uma extensão superior a 60m. A
profundidade do topo rochoso foi estimada entre 2 a 5m nas ombreiras e
entre 15m a 20m no leito do rio.
Figura 2: localização do levantamento geofísico com seções
paralelas ao eixo de barramento e transversais ao leito do rio São Sepé
Figura 3: seção de caminhamento elétrico a montante do eixo de barramento.
Figura 4: Seção de caminhamento elétrico no eixo de barramento.
\

Figura 5: Seção de caminhamento elétrico a jusante do eixo de barramento.


As sondagens a percussão e rotativa executadas no eixo de
barramento tem sua localização indicada no Quadro 1 e na Figura 6. As
sondagens S-02, S-07 e S-08 estão deslocadas do eixo de barramento,
sendo representadas por projeção sobre a seção geológica longitudinal
ao eixo de barramento.

Quadro 1: SONDAGENS ROTATIVAS


Sond. COTA Y X
(m)
S-01 55,055 6.656.781,283 252.338,771
S-02 70,829 6.656.718,501 252.394,376
S-03 68,832 6.656.819,396 252.322,922
S-04 85,127 6.656.857,533 252.311,530
S-05 67,677 6.656.725,257 252.354,161
S-06 84,613 6.656.634,674 252.400,802
S-06A 99,25 6.656.551,000 252.414,000
S-07 67,845 6.656.747,016 252.420,247
S-08 65,603 6.656.781,670 252.393,778
SONDAGENS A PERCUSSÃO
SP-01 - 6.656.753,000 252.340,000

As sondagens rotativas confirmam a cota prevista pelo levantamento


geofísico para o topo da rocha granítica. No leito do rio (estaca 0+300m),
o contato entre rocha sã e alterada, inicialmente indicado pela geofísica
(SEV-04) na cota 57m, é praticamente coincidente com a cota detectada
pela sondagem mista S-01, precisão incomum para métodos indiretos
como o levantamento geofísico.

Os aluviões arenosos inconsolidados apresentam espessuras em


torno de 5,0m, sendo que o material coluvionar na ombreira direita
atinge até 8,0m de espessura. As resistências a percussão são baixas
para ambos os materiais, com Nspt=1 a 5 para os aluviões no leito do rio
e Nspt= 5 a 7 para o pacote coluvionar na margem direita.

Para os aluviões, a cota do terreno é de 65m, com nível dágua


subterrâneo em torno da cota 62m, enquanto o topo rochoso, constituído
de rocha granítica sã e/ou, alterada, encontra-se na cota 57m. Por sua
vez, no depósito coluvionar da ombreira direita o nível dágua
subterrâneo acompanha aproximadamente o relevo, com uma lâmina
dágua de aproximadamente 5,0m acima do topo da rocha granítica
(estaca 0+460m).

A zona de falhamento no leito do rio foi confirmada pelas sondagens,


como se observa na figura 7, em torno da estaca 0+300m. A propagação
do efeito do falhamento em profundidade foi detectado até a cota 45m,
aproximadamente 13m abaixo da cota de fundação da barragem. Na
ombreira esquerda uma intrusão vulcânica ocorreu através do
falhamento, tendo sido detectado um corpo de diabásio em tono da
estaca 0+260m., cuja recuperação nas sondagens rotativas é muito
baixa ou até mesmo nula, com perda dágua total nos ensaios hidráulicos
sob pressão.

Os principais efeitos associados ao falhamento são o fraturamento


intenso, o qual atinge tanto o leito do rio como a ombreira esquerda, bem
como o processo de alteração que se instalou pela percolação intensa
ao longo da zona de falha. Estas características geológicas são
responsáveis pelas características hidráulicas e geomecânicas locais.
Figura 6: Localização do eixo de barramento e sondagens geotécnicas
Figura 7: Seção geológica do eixo de barramento.
 Impermeabilização e drenagem das ombreiras e fundações

As ombreiras e fundações apresentam problemas de


estanqueidade, verificando-se permeabilidades elevadas ou mesmo
com perda dágua total nos ensaios sob pressão, predominantemente
no leito do rio entre as estacas 0+260m a 0+360m. Os resultados
dos ensaios de perda dágua sob pressão estão sintetizados no
Quadro 2, enquanto a localização das zonas com problemas de
estanqueidade, assim como a linha de escavação e a projeção da
cortina de impermeabilização das fundações, estão indicadas na
Figura 8 e 9.

A análise dos ensaios hidráulicos (Quadro 2), mostra que na zona


de falha (estaca 0+300m), ocorre uma transição de comportamento
hidráulico a partir da profundidade de 16m abaixo da cota de
fundação. O trecho inicial até os 16m de profundiddade (cota 41m)
tem alta condutividade hidráulica, inclusive com perda dágua total,
bem como abertura de fraturas e deformação permanente sob carga
hidráulica. A partir desta profundidade o maciço granítico passa a
apresentar comportamento elástico e condutividades hidráulicas
mais baixas, em maiores profundidades a passa a ocorrer o
fechamento das fraturas por alívio de pressão após a execução dos
ensaios hidráulicos.

O projeto da cortina de injeções de impermeabilização tem


profundidade prevista de 27m, a qual é adequada para a zona de
falha (estacas 0+260m a 0+360m), sendo desnecessária nas
ombreiras, onde pode-se reduzir a profundidade de tratamento. Por
sua vez, a concepção da cortina de injeção com uma linha simples
central, considerando os problemas hidráulicos detectados no trecho
de falhamento, pode-se ser insuficiente. Sugere-se a sua substituição
por três linhas paralelas, com injeções primárias, secundárias e
terciárias. Além disto, devem ser previstas sondagens e ensaios
hidráulicos para avaliação dos resultados das injeções.
Uma das lacunas de projeto é a definição do traço da calda a ser
utilizada nos tratamentos de injeção, o que tem impacto direto nos
quantitativos e custo do tratamento de fundações.

Ainda, considerando a necessidade de reduzir as deformações


diferenciais na zona de maior altura da estrutura de concreto, as
quais podem ser significativas na transição rocha sã/rocha alterada
na zona de falhamento, deve ser considerada a possibilidade de
execução de injeções de consolidação em toda a extensão das
fundações entre as estacas 0+260m e 0+360m. O mapeamento
geotécnico das escavações neste trecho é imprescindível para a
delimitação deste tipo de tratamento no período construtivo.
Quadro 2. – Análise dos ensaios hidráulicos sob pressão no eixo de barramento
Sond. Estaca Cota Prof. Cota Cota de Prof. Abaixo Cond. Comportamento das fraturas e tensões no
Terreno Ensaio ensaio escavação da fundação. Hidráulica subsolos.
Natural
(m) (m) (m) (m) (cm/s).
(m)

S-01 0+300m 55,0 5,0 a 8,0 50,0- 47,0 57,0 7,0 – 10,0 1,8 x 10-3 a Abertura de fraturas a baixa pressão,
9,9 x 10-4 deformação permanente

8,0 a 11,0 47,0 - 44,0 10,0 – 13,0 Perda Total Perda dágua total com pressão mínima,
deformação permanente

11,0 a 14,0 44,0 – 41,0 13,0 – 16,0 2,3 x 10-4 a Comportamento elástico, retorno das fraturas à
7,7 x 10-4 condição inicial, fluxo laminar.

14,0 a 17,0 41,0 - 38,0 16,0 – 19,0 1,3 x 10-5 a Fechamento de fraturas, fluxo turbulento,
8,1 x 10-5 tensões residuais superiores a 380 KPa.

17,0 a 20,0 38,0 – 35,0 19,0 - 22,0 1,6 x 10-5 a Fechamento de fraturas, fluxo laminar, tensões
7,3 x 10-5 residuais.

20,0 a 23,0 35,0 – 32,0 22,0 – 25,0 1,6 x 10-5 a Fechamento de fraturas, fluxo laminar, tensões
7,3 x 10-5 residuais.

23,0 a 25,0 32,0 – 30,0 25,0 – 27,0 1,4 x 10-6 a Comportamento elástico, retorno das fraturas à
5,1 x 10-6 condição inicial, fluxo laminar.
S-02 0+380m 70,9 3,0 – 6,0 67,9 – 64,9 70,0 2,1 – 5,1 5,5 x 10-4 a Abertura de fraturas, fluxo turbulento,
7,7 x 10-4 deformação permanente

6,0 – 9,0 64,9 – 61,9 5,1 – 8,1 1,0 x 10-4 a Abertura de fraturas, fluxo turbulento,
8,5 x 10-5 deformação permanente

9,0 – 12,0 61,9 – 58,9 8,1 – 11,1 1,7 x 10-4 a Comportamento elástico, retorno das fraturas à
2,0 x 10-4 condição inicial, fluxo laminar.

12,0 – 13,0 58,9 – 57,9 11,1 – 12,1 3,4 x 10-5 a Abertura de fraturas, fluxo laminar, deformação
5,15 x 10-5 permanente

S - 03 68,8 10,0 – 13,0 58,8 – 55,8 2,0 x 10-4 a Comportamento elástico, retorno das fraturas à
4,4 x 10-4 condição inicial, fluxo laminar.

13,0 – 16,0 55,8 – 52,8 1,2 x 10-5 a Comportamento elástico, retorno das fraturas à
3,0 x 10-6 condição inicial, fluxo laminar.

S - 04 85,1 1,3 – 4,2 83,8 – 80,9 nula Não houve perda dágua

4,2 – 6,7 80,9 – 78,4 nula Não houve perda dágua

S - 05 67,6 7,8 – 10,5 59,8 – 57,1 1,0 x 10-4 a Comportamento elástico, retorno das fraturas à
1,2 x 10-4 condição inicial, fluxo laminar.

10,5 – 13,6 57,1 – 54,0 1,1 x 10-5 a Comportamento elástico, retorno das fraturas à
4,5 x 10-6 condição inicial, fluxo laminar.

13,6 – 16,8 54,0 – 50,8 Não houve perda dágua

16,8 – 19,8 50,8 – 47,8 1,0 x 10-5 a Comportamento elástico, retorno das fraturas à
1,7 x 10-5 condição inicial, fluxo laminar.
19,8 – 22,0 47,8 – 45,6 Não houve perda dágua

S - 06 84,6 10,8 – 13,5 73,8 – 71,1 4,1 x 10-5 a Comportamento elástico, retorno das fraturas à
7,2 x 10-5 condição inicial, fluxo laminar.

13,5 – 16,6 71,1 – 68,0 1,5 x 10-5 a Comportamento elástico, retorno das fraturas à
1,2 x 10-6 condição inicial, fluxo laminar.

S - 07 67,8 5,8 – 8,5 62,0 – 59,3 Não houve perda dágua

8,5 – 11,5 59,3 – 56,3 3,1 x 10-6 a Comportamento elástico, retorno das fraturas à
5,5 x 10-7 condição inicial, fluxo laminar

11,5 – 15,5 56,3 – 52,3 1,1 x 10-5 a Comportamento elástico, retorno das fraturas à
2,1 x 10-6 condição inicial, fluxo laminar

S - 08 65,6 13,7 – 16,7 51,9 – 48,9 4,0 x 10-4 a Comportamento elástico, retorno das fraturas à
5,3 x 10-4 condição inicial, fluxo laminar

16,7 – 19,8 48,9 – 45,9 Não houve perda dágua


Figura 8: Seção geológica esquemática, mostrando o dique de diabásio (hachurado) na ombreira esquerda, o falhamento cortando
a sondagen rotativa S-01e as profundidades de escavação da ordem de 8m na S-06 de 15m na S-01. Há possibilidade de
execução de injeções de consolidação na região da S-01, o que necessita de testes preliminares de injeção.
Figura 9: Perfil da linha de injeções previstas em projeto. Observa-se que o trecho previsto de injeções, entre as estacas 0+260m
e 0+460m não contempla toda a extensão das estruturas geológicas de alta permeabilidade indicadas na figura 8. Finalmente, a
linha de escavação de projeto está subestimada, devendo atingir as profundidades indicadas na figura 8, com vistas a atingir rocha
com qualidade compatível como fundação da barragem de concreto.
 Parametrização geotécnica e estabilidade da barragem

A fundação em rocha, tanto sã como alterada, teve sua


parametrização avaliada a partir da metodologia RMR- Rock Mass
Rating (Bieniawski, 1969), utilizando-se para tanto os resultados das
sondagens rotativas constantes do projeto. Os parâmetros utilizados
para a classificação foram obtidos através das sondagens, estimando-
se a resistência a compressão simples para os diversos tipos de
rochas e respectivos graus de alteração.

A zona do leito do rio apresenta as piores características


geotécnicas do sítio de barramento, sendo a rocha enquadrada entre
as classes III e IV do método RMR. Os parâmetros geomecânicos
estimados por este método para este trecho foram:

o Coesão: 150 a 200 KPa

o Atrito: 32 graus

o Massa específica: 2,4 t/m3

Estes parâmetros foram fornecidos ao eng. Estrutural, o qual


realizou a verificação da estabilidade da barragem de concreto.
 Ensecadeiras e escavações de 1ª. e 2.a fase

As ensecadeiras de montante e jusante, cujas seções-tipo e


etapas construtivas encontram-se nas figuras 10, 11 e 12, estão
projetadas com taludes conservadores (1,0V:2,5H jusante e
1,0V:3,0H montante), não apresentando problemas de instabilidade.
Os materiais de construção previstos para as mesmas, com exceção
do filtro-dreno vertical e tapete drenante horizontal, são os ocorrentes
nas imediações ou no próprio sítio de barramento. É recomendável a
execução de dreno de pé ou enrocamento de proteção do tapete
drenante junto ao talude de jusante das ensecadeiras.

Por outro lado, não estão definidos os procedimentos


construtivos, principalmente quanto aos aluviões permeáveis nas
fundações. O “cut-off” de vedação, com 8m a 10m de lagura no fundo
e profundidades de 3,0m, necessitará de fato ser aprofundado até
8,0m a 9,0m (cota 57,0m) para interceptar as camadas permeáveis
constituídas por aluviões e níveis arenosos nas fundações. Este
procedimento construtivo tem como inconveniente a presença de
nível dágua elevado (cota 61m a 62m), sendo os taludes de
escavação indicados instáveis nestas condições.

As escavações do circuito de desvio (1ª. fase) e da barragem


principal (2ª. fase) tem taludes conservadores, porém apresenta o
mesmo problema das ensecadeiras, pois não tem uma cota final de
escavação definida no trecho do leito do rio (estacas 0+260m a
0+360m), onde estima-se que deverá atingir 8,0m a 9,0m de
profundidade. Da mesma forma, entre as estacas 0+420m a 0+480m,
onde estima-se uma profundidade das escavações da ordem de
10,0m 12,0m até ser atingida a rocha com características adequadas
para fundação da estrutura de concreto.
Figura 10: Seções-tipo das ensecadeiras de montante e jusante
Figura 11: Escavação do circuito de desvio do rio (1ª. fase)
Figura 12: Construção das ensecadeiras de montante e jusante e escavação da barragem ( 2ª. fase).
 Materiais de construção

No entorno do barramento verificam-se ocorrências de solos


residuais e/ou coluvionares, areia e materiais pétreos. A localização em
imagem de satélite encontra-se indicada na Figura 13 (Localização das
jazidas de materiais de construção), enquanto as coordenadas UTM das
jazidas é apresentada no Quadro 3.

Quadro 3: Localização dos materiais de construção (coord. UTM)

Jazida X y

Solo argiloso 252219.89 6656072.28

Areia 1 (rio) 252362.14 6656774.40

Areia 2 254143.70 6658586.14

Materiais pétreos 252457.63 6656681.09


Figura 13: Localização das jazidas de solos residuais argilosos, areia e materiais pétreos
o jazidas de solos

O projeto da barragem não apresenta estudos de jazidas de


solos, uma vez que a concepção original é em barragem de concreto.
Entretanto, a inspeção realizada no local de barramento e imediações
(Figura 14) evidenciou a ocorrência de solos argilosos derivados do
embasamento granítico, tanto residuais como coluvionares, os quais são
utilizáveis para construção das ensecadeiras e do próprio barramento
em solo compactado. Embora as características tecnológicas destes
solos não tenham sido estudadas por ocasião do projeto, algumas
amostras de solos coletadas entre as estacas 0+380m a 0+500m (eixo
de barramento), retratam o comportamento dos solos residuais e/ou
coluvionares no entorno do mesmo (Quadro 4).

Os resultados mostram que os solos são predominantemente


argilo-arenosos ou areno-siltosos (CL ou SC), com teores de argila
superiores a 20%, IP maior ou igual a 8, não expansivos e com ISC
variando de 6 a 14. Estes solos apresentam características tecnológicas
adequadas para a construção do barramento e ensecadeiras. Os dados
existentes são insuficientes, mesmo para obras temporárias como as
ensecadeiras, devendo-se proceder maior número de ensaios de
caracterização e compactação, inclusive com determinação da
permeabilidade a carga variável.
Quadro 3: características geotécnicas dos solos residuais se
coluvionares na ombreira direita

Sond. Prof. sucs LL IP Dmáx hót ISC exp

(m)

ST-05 0,5-1,5 SC 48 18 1,75 18,0 9 0,1

ST-06 0,0-0,6 SC 26 8 1,97 11,6 7 -

0,6-1,1 CL 38 13 1,92 13,1 9 0,2

1,1-1,8 CL 45 15 1,81 22,4 6 1,4

ST-09 0,0-0,3 SC 26 12 1,95 11,3 14 0,1


Figura 14: Solos argilosos residuais / coluvionares situados a montante
do barramento.
o Jazidas de Areia

As jazidas de areia encontram-se na várzea e no próprio leito do


rio São Sepé, inclusive dentro da zona urbana (vide figuras 15 e 16).
Trata-se de areias quartzosas, derivadas do próprio embasamento
cristalino a montante do barramento, cuja granulometria enquadra-se na
faixa de utilização para concreto. É aconselhável a realização de testes
de reatividade devido a procedência mista ígneo-metamórfica.

Figura 15: Ocorrência de areia no leito do rio São Sepé dentro da zona
urbana.
Figura 16: extração de areia junto ao rio São Sepé, dentro da zona
urbana.
o Materiais pétreos

As análises petrográficas indicam que a rocha granítica (Figura 17)


não apresenta minerais reativos, o que foi confirmado pelos ensaios de
sanidade. A perda por abrasão Los Angeles não é significativa para
obras hidráulicas.

Figura 17: rocha granítica na ombreira esquerda do barramento.


 Conclusões

o As ombreiras e fundações do barramento estão constituídas por


rochas graníticas e granodioríticas com variado grau de alteração e
fraturamento.

o Entre as estacas 0+260m a 0+360m foi detectada uma zona de


falha, tanto pelo levantamento geofísico como pelas sondagens
rotativas. Esta zona se caracteria por um intenso fraturamento e
alteração das fundações no leito do rio. Na ombreira esquerda
ocorre uma intrusão de diabásio intensamente fraturado e alterado.

o O trecho entre as estacas 0+260m a 0+360m apresenta elevada


condutividade hidráulica (10-3 cm/s a 10-4 cm/s), inclusive com
perda dágua total.. O comportamento dos ensaios hidráulicos
mostra uma transição do comportamento das fundações a
profundidades a partir dos 16m abaixo da cota de escavação.

o A profundidade de escavação prevista em projeto está


subestimada, devendo ser removidos volumes considerávelmente
maiores para que seja atingida a rocha de fundação compatível com
a barragem de concreto.

o A profundidade prevista para o tratamento das fundações é


adequada, entretanto é recomendável utilizar três linhas parelas ao
invés de apenas uma, bem como realizar sondagens e ensaios
hidráulicos de verificação da eficiência do tratamento.

o O projeto de tratamento das fundações por injeção é insuficiente


para cobrir as zonas permeáveis até agora detectadas pelas
sondagens.

o É recomendável a realização de injeções de consolidação das


fundações, no trecho entre as estacas 0+260m e 0+360m, em toda
a projeção da estrutura de concreto.
o Os procedimentos construtivos não estão suficientemente
detalhados, principalmente quanto as ensecadeiras. Estas obras
temporárias tem como principal condicionamento as fundações em
aluviões arenosos permeáveis, com até 5,0m de espessura e
escavação predominantemente submersa.

o Nas imediações do barramento ocorrem solos argilosos e areno-


argilosos com características tecnológicas adequadas para a
construção das ensecadeiras e, no caso da alternativa em obras de
terra, da própria barragem.

o Materiais pétreos e areias de boa qualidade nas imediações do


barramento, apresentam disponibilidade e características
tecnológicas adequadas para utilização no concreto.

o É recomendável o estudo da alternativa de barramento em seção


zoneada, terra-enrocamento, com vertedor lateral, a qual pode
apresentar menor custo total do empreendimento.

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