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TOME / VOLUME 2
FOLHAS / SHEETS: MECUMBURA (1631), CHIOCO (1632), TETE (1633),
TAMBARA (1634), GURO
(1732,1733), CHEMBA (1734), MANICA (1832), CATANDICA (1833),
GORONGOSA (1834), ROTANDA (1932), CHIMOIO (1933) E / AND
BEIRA (1934)
RESUMO
318 -
Terrenos Gondwânicos Evento Karoo Carbonífero Superior-
180
Jurássico Inferior
<
Pós-Pan-
542
Africanas
750 -
Orogenia Pan-Africana Neoproterozóico-Cambriano
490
Pan-Africano
900
Neoproterozóico -
700
Inicial
1450
Kibariano/Irumidiano/Grenvilleano Mesoproterozóico
- 900
~
Fase Tardio
1860
3800
Crátons (terrenos granito-greenstone) e Faixas Arcaico -
2500
Móveis
Proterozóicos, que foram empurrados ou depositados no topo da margem sul e leste do Cráton.
Na Tanzania, a frente do empurrão vergente a oeste da Faixa Moçambique, marca o limite entre
os Terrenos Gondwana Oeste e Gondwana Leste. Mais ao sul, esta sutura é pobremente definida,
mas no Bloco Tetê- Chibata – um fragmento tectônico menor delimitado pela Zona de
Cisalhamento Sanângoè e o Deslocamento Mwembeshi – esta sutura corresponde supostamente
ao contacto entre o domínio maior de direcção WSW-ENE e o Grupo Angónia, de direção
NW-SE. A Suíte Furancungo (Granito Desaranhama), igualmente de direcção NW-SE,
representa supostamente a soleira da massa de empurrão Angónia, pertencendo, porém, ao
Terreno Gondwana Oeste (GTK Consortium 2006d).
● Gondwana Leste – Na Tanzania, este compreende o embasamento cristalino – os
Granulitos Orientais – a leste da sutura Pan-Africana. Mais ao sul, este compreende a
maioria das rochas em Malawi e Moçambique setentrional. O seu núcelo Arcaico é
supostamente localizado em Madagascar e Índia.
Complexo Mudzi (A3Mq) - As rochas do Complexo Mudzi estão expostas ao longo da margem
norte do Cráton Zimbabwe e se extendem ininterruptamente a Moçambique na região de
Cuchamano (SDS 1631/1632), povoado de Mudze Chizimwe (SDS 1633, Fig. 6.2., perfil) e mais
ao sul (SDS 1732/1733, 1832/1833).
As litologias félsicas do Complexo Mudzi ocorrem em estructuras dômicas (e.g. Monte Senga
Senga) ou em seqüências de gneisses bandadas Arcaicas, empilhadas por empurrões, com a
separação do embasamento/cobertura (thin-skinned) e com intercalações de metagabros
Arcaicos, que possuem um mergulho suave a sul e ocorrendo sub- e sobrejacentes aos xistos e
quartzitos Gairezi.
As unidades mapeáveis seguintes têm sido atribuídas ao Complexo Mudzi: Ortogneisses
Félsicos, que compreendem (1) Quartzo- Monzonitos/Quartzo-Monzodioritos (A3Mqm), (2)
Granitóide Foliado, localmente porfirítico (A3Mgr) e (3) Gneisse TTG, Granitóide Foliado
(A3Mgn), com idades U-Pb magmáticas variando de 2600 a 2710 Ma. Os membros máficos
subordinados incluem: (4) Gneisse Granodiorítico, contendo bandas amfibolíticas (A3Mgd), (5)
Metagabro (A3Mgb) e (6) Amfibolito/Granada-Amfibolito (A3Mam). Finalmente, a menor
proporção do Complexo Mudzi é composta por gneisses com protólito sedimentar e inclui (7)
Granada-Gneisse (A3Mgg). A relação estratigráfica mútua entre estas unidades permanece
desconhecida.
Portanto, a sucessão destas litologias na legenda do mapa näo possui um significado
cronoestratigráfico.
As análises SHRIMP de zircões zonados dos Ortogneisses Mudzi (A3Mgn), expostos em uma
estructura dômica Arcaica, fornecem três idades diferentes:
● Zircões zonados constituem uma sub-série mais antiga com a idade magmática de
2713±22 Ma,
● Estes zircões sofreram um evento metamórfico a ~2.54 Ga, indicado pela neoblastese e
sobre-crescimentos metamórficos do zircão. Isto pode representar a fase de
retrabalhamento e rehidratação sob condições de fácies amfibolito para rochas
equivalentes em Zimbabwe, referidos por Barton et al. (1991) e Vinyu et al. (2001),
● Uma sobre-impressão metamórfica Pan-Africana a 520±16 Ma.
Complexo Mavonde (A3V) - O conjunto de granitóides do Cráton Zimbabwe é mais jovem que
o Supergrupo Bulawayo Superior, sendo assim, mais jovem que as rochas do Cinturão de Rochas
Verdes Manica e incluindo as Suítes Neoarcaicos Wedza (~2.65 Ga) e Chilimani (~2.60 Ga).
Porém, mapeamento e dados geocronológicos insuficientes não podem excluir a presença de
granitóides mais antigos. Os granitóides TTG formam um domínio bastante uniforme e amplo,
extendendo-se ao longo da fronteira com Zimbabwe por ~200 km, a meio caminho entre as
cidades de Manica e Chimoio, constituindo uma paisagem suave e ondulada, com raros e
inconspicuos Inselbergs, que subjazem as cristas estreitas com direcção norte, formados por
quartzitos Gaireze em estructuras sinclinais (SDS 1832/1833 e 1932/1933). A parte oeste do
domínio, próxima à fronteira com Zimbabwe, é caracterizada por uma topografia de montanhas
mais elevadas.
Os granitóides Neoarcaicos no Complexo Mavonde é caracterizada, em termos gerais, por
composições graníticas a tonalíticas (e.g. gneisse TTG). Variedades aplíticas e migmatíticas
estão presentes em certos locais. Gneisses máficos e metagabro são tipos de rochas
subordinados. Os granitóides apresentam geralmente cor cinza e possuem granulação bastante
fina a média, sendo variavelmente foliadas e gradando localmente a rochas porfiríticas. Sendo
suavemente foliadas nas suas porções ocidentais, o Complexo Mavonde assume
progressivamente uma foliação e mergulho mais accentuados a leste, possuindo uma direcção
N-S, manifestando o cisalhamento dúctil do Pan-Africano Tardio. Para leste, porém, pode se
observer a manifestação da deformação progressiva, causada pelo cisalhamento dúctil
Pan-Africano.
Porém, as relações mútuas entre as diversas litofácies dos granitóides não são conhecidas. O
Gneisse TTG, félsico e variavelmente bandado (A3Vgn e A3Vbgn) e Tonalito/Granodiorito
(A3Vto) foram mapeados em várias localidades. O maior corpo de Granito Porfirítico e
Granodiorito (A3Vpgd), com cristais comuns de feldspato alcalino com 2-4 cm de comprimento,
ocorrem ao sul da estrada Manica-Chimoio. A hornblenda domina entre os minerais máficos. Os
tipos discretamente foliados a não-foliados, ocasionalmente com feldspatos alcalinos
grosseiramente orientados, incluem o Granito Aplítico (A3Vagr), Granito (A3Vgr), Granito
Maciço (A3Vbmgr) e Granito Migmatítico (A3Vmi). Os membros foliados incluem o Granito
Foliado, localmente porfirítico (A3Vpg). As variedades mais máficas incluem o Ortogneisse
Máfico a Intermediário (A3Vogn) e Metagabro (A3Vgb). O Pegmatito (A3Vpm) é
supostamente a rocha ígnea mais jovem.
Os granitóides do Complexo Mavonde säo peraluminosos ou metaluminosos e são classificados
no campo dos granitos, tendo uma uma menor proporção de composições granodioríticas,
tonalíticas ou quartzo-monzodioríticas. Nos diagramas TAS, os componentes máficos são
toleíticos e os componentes félsicos, entre calco-alkalinos e toleíticos. A classificação
lito-geoquímica sugere uma assinatura predominantemente “entre-placas” e “arco vulcânico”,
implicando uma origem de granitos do tipo A para alguns dos granitóides. Não se pode distinguir
uma diferença entre os granitóides e gabros dos complexos granitóides
Mudzi e Mavonde.
A geocronologia do zircão desta rocha forneceu um grande leque de idades entre < 2.65 Ga e
~2.5 Ga. Necessita-se de mais dados para resolver a crono-estratigrafia dos granitóides do
terreno granito-greenstone do lado leste do Cráton Zimbabwe em Moçambique.
Granitóides mais antigos (A2gt) - Os “Granitóides mais antigos” são evidenciados por uma
amostra de gneisse tonalítico, coletado ao longo da estrada Manica-Chimoio, a 5 km a leste de
Manica. A datação U-Pb SHRIMP forneceu a a idade magmática concórdia de 2907±16 Ma. Os
núcleos alterados, metamícticos, indicam idades-zircão mais antigos de componentes herdados.
A idade sugere a correlação com a Sebakhewan em Zimbabwe. A extensão de este tipo de rocha
na área é desconhecida.
As margens norte e sul do segmento de Mutare são cercadas por granitos intrusivos. No limbo
norte do sinclinório, stocks de quartzo-diorito intrudem as rochas verdes em Penhalonga e na
Velha Missão de Mutare. O stock quartzo-diorito-tonalito-granodiorito Penhalonga, datado em
2741±3 Ma (Chenjerai et al. 1993), é a intrusão mais antiga no cinturão de rochas verdes.
Outra unidade litológica (A3Mpgn), considerada mais antiga que o cinturão de rochas verdes de
Manica, é também atribuída aos “Granitos mais antigos”. A rocha é um biotitagneisse de
granulação média a grossa, possuindo feldspato alkalino do tipo Augen, com foliação e lineação,
além do dobramento de pequena escala, exposta sobre uma superfície com dimensões de 25 x 25
km, a leste de Rotanda (SDS 1932/1933). A unidade subjaz a sedimentos e metasedimentos dos
Grupos Umkondo e Gairezi. As relações de contacto com os granitóides circundantes não são
claras.
Diques de Doleritos e Microgabro - Três grupos de diques máficos foram intrudidos no terreno
granito-greenstone do Cráton Zimbabwe Oriental: (1) diques máficos no Cinturão de Rochas
Verdes de Manica-Mutare, (2) metadoleritos nos gneisses Arcaicos e metasedimentos do Grupo
Gairezi e (3) diques e sills dos doleritos micro-gabróicos de Mashonaland nos quartzitos
Umkondo. Anteriormente, todos os diques eram agrupados em uma família e denominados de
Doleritos Umkondo (doleritos pós-Unkondo, Hunting 1984), pertencendo à “Província Ígnea de
Umkondo”, com uma idade mesoproterozóica de ~1100 Ma (e.g. Wingate, 2001). A datação Sm/
Nd recente, efectuado pelo Consórcio GTK, forneceu uma idade de 1102+52 Ma, confirmando o
dado geocronológico mais antigo. O dolerito intrudido no Cinturão de Rochas Verdes de Manica
é datada de 1783±51 Ma e o metadolerito foi datado de 973±73 Ma. Os valores epsilon
diferentes e os diagramas de discriminação lito-geoquímicas indicam fontes de magma diferentes
para os doleritos Mashonaland Mesoproterozóicos e os doleritos Paleoproterozóicos da área de
Manica.
Grupo Rushinga (P1R) - Na área coberta por esta Nota Explicativa do Mapa, as rochas do
Grupo Rushinga ocorrem ao longo da fronteira com Zimbabwe no domínio norte (SDS 1631/
1632), separada do domínio sul por uma protrusão da fronteira internacional (SDS 1633, 1732/
1733). A abundância de diques máficos e félsicos ou plutões (Suíte Intrusiva Rukore) do Karoo
Tardio no domínio norte e a ausência destas no domínio sul é um facto surpreendente. Baseado
na secção estratigráfica-chave no Monte Pitão (Canto SE da SDS 1632), o Grupo Rushinga tem
sido subdividido em Moçambique em (1) Formação Rio Embuca*(P1RE), quartzo-feldspática a
pelítica e (2) Formação Monte Pitão (P1RP), mármores e rochas calco-silicatadas. A sucessão
difere fortemente da coluna estratigráfica estabelecida por Barton et al. (1991) em Zimbabwe,
como mostrado na Tabela 7.1.
A Formação Rio Embuca* inclui (da base ao topo) (1) Quartzito Inferior (P1REa), (2) Gneisse
Quartzo-Feldspático (P1REqf), (3) Meta-Arcóseo/Quartzito (P1REa) e (4) Biotita Xisto
(P1REch). O Quartzito Inferior (P1REqz), feldspático a orto-quartzítico, com lentes de
Metaconglomerados (P1REc), é exposta principalemente ao longo de suaves cristas e restando
directamente sobre os gneisses do embasamento Arcaico, com um contacto supostamente
tectônico. Meta-Arcóseo/Quartzito Arcóseo (P1REa), é uma rocha quartzo-feldspática levemente
amarelada a castanho-rosada, de granulação mediana e finamente bandada. Esta é geralmente
associada com amfibolitos bandados. A sua similaridade geral com algumas variedades félsicas
da Suíte Guro podem localmente dificultar a separação entre estas unidades rochosas. Biotita
Xisto (P1REch), que geralmente contém granada e silimanita, forma horizontes finas mas
contínuas ao longo dos supracrustais do Rushinga. As variedades transicionais de quartzitos a
silimanita a gneisses feldspáticos com nódulos de silimanita são comuns. Os xistos aluminosos
compreendem localmente só porfiroblastos de granada e silimanita fibrolítica, com teores de
Al2O3 de até 24%, sugerindo assim, um protólito de paleosolo.
A Formação Monte Pitão* compreende (da base ao topo) (1) Amfibolito Bandado (P1RPa), (2)
Gneisse Calco-Silicatado (P1RPcc), (3) Mármore Inferior (P1RPm1), (4) Biotita Gneisse
(P1RPgn), (5) Mármore Superior (P1RPma) e (6) Quartzito Superior (P1RPq).
Amfibolitos Bandados (P1RPa) e os gneisses a hornblenda associados, formam horizontes
sub-contínuos. A secção, localizada no Rio Mazoe, a ~ 2 km a E da fronteira com Zimbabwe,
compõe-se de predominantemente de amfibolitos bandados e gneisses quartzo-feldspáticos.
Rochas Calco-Silicatadas (P1RPcc) são geralmente associados com mármores e gneisses
pelíticos. Os gneisses calco-silicatadas são rochas de granulação média, variavelmente foliadas,
apresentando um bandamento composicional distincto. A alteração intempérica de camadas ou
enclaves de mármore deixam geralmente finas, mas profundas cavidades de dissolução em
superfícies alteradas.
As análises SHRIMP de zircões detríticos de biotita-granada-silimanita xisto da Formação Rio
Embuca*, efectuadas pelo Consórcio GTK, demonstraram a idade máxima de ~2.0 Ga. Esta é
considerada como a época do desenvolvimento da bacia Rushinga e a deposição da seqüência
sedimentar. Acredita-se que os zircões mais antigos, com idades SHRIMP de 2.54 e 2.8 Ga,
representem grãos detríticos derivados do Cráton Zimbabwe. A idade da sedimentação
Paleoproterozóica para o Grupo Rushinga é confirmada pelos elevados valores de δ13 das rochas
carbonáticas, claramente superiores aos valores marinhos normais de 0‰. Estes valores altos não
podem ser explicados pela alteração secundária e muito provavelmente representam períodos de
excursões de δ13 marinhas positivas, características do período de 0.6-1.0 Ga ou de 2.0-2.3 Ga.
Devido à ausência de zircões detríticos mais jovens que ~ 2.0 Ga, uma idade deposicional mais
jovem é considerada como improvável.
Grupo Gairezi (P1Z) – As rochas tradicionalmente atribuídas aos Grupos Gairezi e Fronteira
ocorrem junto à fronteira entre Zimbabwe e Moçambique. Na Província de Manica estes são
encontrados em forma de uma faixa alongada que começa na Monte Senga Senga (norte) e
continua quase até o Rio Save (sul). As litologias do Grupo Gairezi podem ser facilmente
distinguidos dos granitóides e litologias Arcaicos subjacentes do Complexo Báruè, tanto em
fotografias aéreas (Hunting, 1984) como em imagens Landsat. Estes formam terrenos
montanhosos elevados, com cristas longas, accentuando-se claramente dos terrenos suaves a
leste e oeste.
Os autores anteriores (referências em Hunting, 1984) já denotaram as grandes diferenças entre as
rochas do “Sistema Fronteira/Série Gairezi”, consistindo em metasedimentos fortemente
deformados e recristalizados, dobrados juntamente com gneisses Arcaicos e jazendo, em maior
parte, incomformavelmente sobre estes e os estratos de relevo baixo e pouco ou
não-metamorfisados do Grupo Umkondo (vide a Secção 6.5). Na década de 1960, pesquisadores
da Universidade de Leeds (referências em Hunting, 1984) e subsequentemente Barton et al.
(1991), contrariaram este ponto de vista, baseado em elementos estratigráficos comuns em ambas
as successões. Eles argumentaram que a “Série Gairezi” era o equivalente estratigráfico da parte
basal do “Sistema Umkondo” e que as diferenças litológicas maiores eram explicadas pelas
variações de fácies entre as unidades. Consequentemente, ambas as seqüências foram atribuídas
ao “Sistema Umkondo”, sendo as exposições a oeste colocadas sob os termos de fácies
Rhodesianos ou Inhangas e as do leste, sob fácies Moçambique, Fronteira ou Gairezi. A DNG
tem apoiado esta subdivisão ao adotar o termo “Sistema Umkondo” para todas as rochas
supracrustais e agrupando as exposições a oeste e leste nas Formações Umkondo e Fronteira,
respectivamente. Hunting (1984) atribuiu as rochas que formam a Serra Gairezi na parte norte da
Província Manica ao Grupo Gairezi2.
As litologias que formam a Serra Sitatonga e as Montanhas Chimanimani a sul, foram incluídos
por este no Grupo Fronteira. A análise das imagens Landsat e fotografias aéreas demonstram,
porém, que as litologias que, segundo Hunting (1984), pertencem aos grupos Gairezi e Fronteira,
são, 2 Para uma breve história da nomenclatura estratigráfica, vide o parágrafo 3.2.4. na verdade,
restos erosionais da mesma seqüência metasedimentar e, consequentemente, o Consórcio GTK
atribuiu ambos ao Grupo Gairezi.
O Grupo Gairezi consiste predominantemente em xistos pelíticos e orto-quartzitos brancos a
cinzentos. Mármore e meta-conglomerados polimíticos são subordinados. As relacções
estratigráficas entre estes vários tipos de metasedimentos permanecem obscuros (Tabela 7.3).
Lentes e camadas de Meta-conglomerado (P1Zc) intraformacional e polimítico são encontradas
na parte basal do Quartzito (P1Zq) na região de Chicamba Real. Os clastos compreendem outras
rochas supracrustais, como xistos, em adição a gneisses graníticos e granodioríticos (Fig. 7.27C).
Finas intercalações de Mármore (P1Zmb), de granularidade média e cor cinza-branco a
vermelho-salmão, são comumente expostas na parte norte (e.g. a oeste de Monte Senga-Senga;
Fig. 7.28). Cristas proeminentes de Quartzito Sacaróide (P1Zqs), de cor branca, ocorrem na
parte sul da área de mapeamento (SDS 1932-1933) Ao norte, a oeste do povoado de Catandica,
quartzitos similares ocorrem na forma de finas, mas contínuas cristas, formando uma estrutura
anelar peculiar de ortoquartzito do Monte Senga- Senga, cercando um domo gnéissico Arcaico.
Feições primárias, como o acamadamento plano-paralelo ou cruzado, são raramente visíveis
(Fig. 7.27C). Xistos pelíticos e semipelíticos alternam com ortoquartzitos. Xistos aluminosos
(P1Zss) são predominantemente muscovita-biotita- e clorita xistos e estão expostos na região
elevada a leste de Catandica.
Porfiroblastos de granada e silimanita são comuns nas rochas dominadas por muscovita (e.g. N e
E do reservatório de Chicamba). Prismas de cianita, localmente com até 5 cm de comprimento,
ocorrem em uma quantidade substancial nos estratos metapelíticos do Grupo Gairezi ao redor do
Monte Senga-Senga (Fig. 7.31A).
As análises SHRIMP de zircões detríticos do granada-cianita xisto do Grupo Gairezi sugerem
uma idade máxima de 2041±15 Ma e proveniência Arcaica para sedimentos metapelíticos do
mesmo (7.6.3). Esta idade máxima é marcadamente similar à idade máxima encontrada nos
metasedimentos do Grupo Rushinga (Secção 7.4.6). As similaridades litológicas entre os grupos
Gairezi e Rushinga, especialmente na sua parte basal (Formação Rio Embuca*), junto com os
resultados das idades e a continuidade regional ininterrupta, sugerem que o Grupo Gairezi e a
parte basal do Grupo Rushinga sejam estratigraficamente equivalentes (cf. Barton et al. 1991).
Suíte Guro – A Suíte Guro é apresentado nesta Nota Explicativa do Mapa (Volume 2), como
uma nova unidade litológica. As rochas da Suíte Guro (e as litologias intercaladas, vide acima)
são expostas em uma área de 100 x 100 km, ao norte do redefinido Complexo Báruè, entre Tete e
Guro-Mungári (16° e 17°30’ S) e foram anteriormente incorporados no Complexo Báruè, sensu
Hunting (1984).
A Suíte Bimodal Guro é composto por membros máficos e félsicos. Os teores de SiO2 dos
componentes félsicos variam entre 68.1 e 77.6 % e os dos membros máficos, entre 44.7 e 50.6 %
(Apêndice 3, Tabela 7.4. anál. 4-27). O membro félsico é denominado de Granito Aplítico
Gneisse-Migmatito Serra Banguatere e o membro máfico de Metagabro e Gneisse- Migmatito
Máfico Magasso. Estes ocorrem mais comumente juntos, em um arranjo bandado, com a
predominância do membro félsico. Esta assembléia bandada é denominada de granito
Gneisse-Migmatito com Gneisse Migmatito Máfico Monte Calinga Muci. O Granito Aplítico
Gneisse-Migmatito Serra Banguatere (P3Oag) representa o componente félsico puro da suíte
bimodal, composta por camadas, cujas espessuras variam de alguns centímetros a mais de cem
metros. Aquelas com a espessura adequada, são mostradas no mapa em forma de corpos
alongados, reflectindo as suas formas tabulares.
O Metagabro e Gneisse-Migmatito Máfico Magasso (P3Ogb) forma o componente máfico da
Suíte Bimodal Guro. Este é o componente inferior do complexo de injecão máficofélsico e
ocorre somente de forma ocasional em grandes afloramentos, sem o componente félsico.
Somente alguns poucos corpos arredondados mapeáveis, alguns com consideráveis dimensões,
foram desenhados no mapa. A unidade maior da Suíte Guro é o Granito Gneisse-Migmatito e
Gneisse-Migmatito Máfico Monte Calinga Muci (P3Ogm). Este é a combinação de
componentes máficos e félsicos intercamadadas com limites agudos, que ocorrem intimamente
lado a lado em camadas, bandas ou lâminas paralelas, tendo, na maioria dos casos, a
predominância do membro félsico sobre o componente máfico.
A Suíte Guro é considerado representar um sistema ígneo sin-cinemático de multiinjecção. As
injecções mais tardias são menos foliadas, com relações de contacto discordantes com a fábrica
das anteriores. Os membros félsicos e máficos são aproximadamente contemporâneos, o que é
demonstrada por relações de contacto variáveis, mas que são difíceis de serem definidos, devido
ao achatamento e estiramento tectônicos desta assembleia bimodal.
O Consórcio GTK datou três amostras da Suíte Guro, dos quais, em resumo, três idades podem
ser deduzidos: (1) idade magmática de zircão de 867±15 Ma, (2) idade metamórfica de zircão de
850-830 Ma e (3) uma segunda sobre-impressão metamórfica de 512±4 Ma. A idade (1) pode ser
atribuída ao emplaçamento magmático da Suíte Guro. A idade (2) pode estar relacionada com
falhamento de descolamento extensional (cf. Dirks et al. 1998) e idade (3) à sobre-impressão
metamórfica Pan-Africana.
COBERTURA FANEROZÓICA
A cobertura Fanerozóica em Moçambique compreende sedimentos terrestres e marinhos e rochas
(sub-)vulcânicas associadas pós-Pan-Africanas, geralmente (sub-)horizontais. A cobertura
Fanerozóica é convenientemente subdividida (da base ao topo) em Supergrupo Karoo e
seqüências depositadas contemporaneamente com o desenvolvimento do Sistema de Rifte da
África Oriental. O primeiro, depositado durante o Evento Karoo, anuncia a separação abortada
do Gondwana. As seqüências do Rifte da África Oriental compreendem uma assembléia vaga de
sedimentos e rochas (sub-) vulcânicas associadas, que podem ser relacionadas com o
rifteamento, migração e dispersão do Gondwana. O desenvolvimento do Sistema de Rifte da
África Oriental (SRAO) foi superposta aos últimos processos geodinâmicos.
O Grupo Karoo Inferior – A história deposicional do Grupo Karoo Inferior inicia-se com a
glaciação da idade correspondente à Dwyka (Carbonífero Superior) e termina com a deposição
de depósitos clásticos mixtos de granulação grosseira a fina durante o Permiano. A Formação
Vúzi* (CbV) foi depositada em uma ambiente flúvio-glacial durante o Carbonífero Superior.
Esta aparece restricta às depressões mais baixas da paisagem pré-Karoo e consequentemente é
exposto somente em poucas localidades (SDS 1634). As litologias mais expressivas
compreendem conglomerados fluviais, grés feldspáticos, lamitos carbonosos, siltitos e camadas
com carvão.
Os afloramentos da Formação Moatize* (PeM) são encontrados ao longo do banco norte do Rio
Zambezi, em três sub-bacias carboníferas, i.e. bacias Chicôa-Mecúcoè, Sanângoè-Mefidéze e
Moatize-Minjova. Na última, a Formação Moatize* é bem exposta no Vale do Rio Moatize (SDS
1633), onde esta alcança a espessura de 340 m e consiste, em sua maior parte, de grés carbonosos
com seis camadas diferentes de carvão. Outras sub-bacias com carvão serão discutidas na Nota
Explicativa do Mapa, Volume 4 (GTK Consortium, 2006d). A unidade compreende arcóseos
brancos a cinzas, grés conglomeráticos ocasionais, grés de grão fino com argila ou micáceo (com
flora fóssil) e argilitos negros com camadas de carvão, subordinados (Fig. 9.1). Sobre a
Formação Moatize*, carbonífera, depositou-se a Formação Matinde* (PeT, PeTc) que
compreende uma espessa successão intercalada de grés muito grosseiros e conglomerados
polimíticos, encontrado na parte norte da área da Nota Explicativa do Mapa (SDS 1632-1634;
e.g., na Folha Chioco, ao norte do contacto tectônico entre o Fanerozóico e os terrenos
Proterozóicos). Grés grosseiros ou conglomeráticos similares afloram também sob derrames de
lavas basálticas no núcleo do domo vulcânico da Serra Mavunge. Os sedimentos da Formação
Matinde* na área de Birira (SDS 1633), são predominantemente compostos por gré e
subordinadamente por siltito de cor creme e conglomerado, que alternam com riolitos e basaltos
das formações sobrejacentes do Karoo Superior. Grés macio, alterado, com lâminas finas de cor
creme são expostos em um tributário do Rio Mavúzi (Fig. 9.2). Grés grosso e muito grosso, com
algumas camadas conglomeráticas, ocorrem na mesma localidade (Fig. 9.3). A idade Permiana
Inferior a Média é assumida à Formação Matinde*, equivalente à Ecca Média/Superior da Bacia
Principal do Karoo na África do Sul.
O Grupo Karoo Superior – O Grupo Karoo Superior compreende uma série de successões
terrestres, juntamente com rochas (sub-)vulcânicas inter-estratificadas ou intrusivas de idade
Triássica Inferior a Jurássica Inferior, incluindo as Suítes Rukore e Gorongosa, bimodais, agora
datadas de 180-190 Ma. As observações de campo destas foram efectuadas principalmente nas
áreas de Massangano, Brira e Canal de Lupata (SDS 1633) e do domo da Serra Mevunge3 (SDS
1631-1632).
A Formação Cádzi* (PeC) é exposta na forma de uma faixa arqueada, cercando a ponta norte do
Canal de Lupata (SDS 1633-1634), compreendendo grés arcóseos de granularidade média a
grosseira (Fig. 9.4), calcáreo e grés carbonáticos. Camadas similares de gré mineralogicamente
imaturo afloram também mais ao sul, ao longo do contacto tectônico com 3 A estructura
vulcânica dômica do Karoo Superior, localizada nas Folhas de Mecumbura e Chioco (SDS 1631/
1632) foi denominada de Domo de Luia por Hunting (1984), mas renomeado por Consórcio
GTK como a Serra Mevunge, baseado na parte mais alta do domo (966 m), o terreno
Proterozóico adjacente (Fig. 9.5a,b). Em certos locais, horizontes conglomeráticos com clastos
angulosos a bem arredondados, ocorrem com estes grés (Fig. 9.6). Troncos de árvores
petrificados foram encontrados na região de Doa. A Formação Cádzi* tem sido geralmente
considerado como tendo a idade Permiana Superior a Triássica Inferior.
A Formação Rio Nhavúdezi* (JrRN) compreende uma successão de basaltos, encontrados ao
longo do Canal de Lupata, mas formando uma maior unidade litológica a sul do povoado de
Nhamatanda (SDS 1934), onde esta continua como a faixa Canxixe, Nuannetsi-Sabi, com uma
largura variando de 5 a 20 km, por mais de 250 km a SW da fronteira com Zimbabwe (Nota
Explicativa do Mapa, Volume 1; GTK Consortium, 2006a). O contacto da soleira é exposta em
um tributário do Rio Mebahata (SDS 1734), onde a lava basáltica brechada de um derrame
sobrejaz uma variedade conglomerática da Formação Chueza* (Fig. 9.7). O contacto superior
com as rochas riolíticas da Formação Serra Bombuè é gradacional, começando na parte superior
da Formação Rio Nhavúdezi com finas camadas de riolito, intercaladas com lavas basálticas
(Fig. 9.8).
Os basaltos Rio Nhavúdezi formam rochas de cor cinza escura a verde acastanhada, de textura
fina, amidaloidal e geralmente afíricas. As variedades porfiríticas com fenocristais de
plagioclásio ocorrem localmente. As amígdalas preenchidas por calcedônia e zeolitas são
comuns na parte superior dos fluxos de lava. Alguns dos fluxos de lava exibem disjuncções
colunares bem desenvolvidas (Fig. 9.9). Textralmente, os basaltos de grão fino são rochas
sub-ofíticas, contendo plagioclásio, clinopiroxênio e olivina como minerais predominantes.
Biotita e clorita secundárias são os accessórios mais comuns. Do ponto de vista litogeoquímico,
as lavas do Rio Nhavúdezi são toleítos subalcalinos.
Os riolitos da Formação Serra Bombuè* (JrSb) formam uma crista de direcção norte, com
menos de 4 km de largura e mais de 30 km de comprimento, suavemente inclinada (12- 20°) a
leste a W do Canal de Lupata, NW da montanha de Gorongosa (SDS 1734), espremida entre as
lavas basálticas das Formações Rio Nhavúdezi* e Chueza*. O contacto com a Formação Rio
Nhavúdezi* é gradacional (Fig. 9.10). O riolito Serra Bombuè é uma rocha de textura fina, cor
chocolate e bastante maciço, indicando derrames bastante espessos e resfriamento lento.
Localmente pode se observar um bandamento de fluxo. Variedades brechadas, com fragmentos
de contornos bem definidos e texturas esferulíticas, ocorrem na parte basal da successão riolítica.
A Formação Rio Mazoe* (JrIa, JrIb) é bem definida nas Folhas de Chioco (SDS 1632) e Tête
(SDS 1633), onde as lavas basálticas e andesíticas da Formação Rio Mazoe* jazem sobre grés da
Formação Matinde* do Karoo Inferior, sendo, por sua vez, cobertos por riolitos da Formação
Bangomateta*. Os afloramentos a oeste da ponte do Rio Mazoe e nas partes centrais do domo da
Serra Mevunge compreendem lavas basálticas intemperizadas de forma variegada, muitas vezes
dificultando a identificação apropriada das rochas.
Consequentemente, dados radiométricos foram utlizados para separar os basaltos das variedades
mais félsicas na seqüência vulcânica. O basalto de grão fino forma uma pilha de derrames com
inclinação suave (12-20°) a SWW, encontrada nos bancos dos rios (Fig. 9.11). Contactos ricos
em vesículas definem espessuras de derrames individuais, variando de 2 m a 15 m na parte basal
da pilha. Muitas das características típicas dos basaltos do tipo flood tem sido observados, como
zonas basais de vesículas alongadas do tipo pipe, cilindros vesiculares verticais e disjuncção
colunar nos núcleos de derrame e estructuras de lavas cordadas (pahoehoe) nas superfícies de
derrame (Fig. 9.12). A ausência de material sedimentar ou piroclástico entre os derrames de lava
confima a intensidade e taxa de erupção altas, o que também é típico de províncias continentais
de basaltos do tipo flood. As vesículas contém calcita e zeolita. Orifícios de até 20-30 cm de
tamanho apresentam frequentemente lineações brilhantes de crisocola de cor azul-verde.
Derrames vulcânicos similares, mas menos espessos, ocorrem na área do domo da Serra
Mevunge, onde jazem sobre os grés do Karoo Inferior, sendo cobertos por fluxos riolíticos da
Formação Bangomateta*. Orifícios preenchidas por zeolita e calcita, encontrados na parte
superior do derrame, excedem localmente 30-40 cm em tamanho (Fig. 9.13). Lavas basálticas,
expostas a 3 km a leste do povoado de Changara, formam uma região montanhosa, que se
extende por uma superfície de 10 x 10 km. Concentrações de geodos de quartzo são encontrados
em alguns lugares, marcando partes superiores de derrames de lava. Na área de Birira (SDS
1633), as camadas de basalto podem alternar-se com derrames riolíticos (Fig. 9.14). Derrames
riolíticos mais espessos a sul de Birira compõem colinas proeminentes e são intercalados com
derrames basálticos. Derrames riolíticos igualmente extensos e espessos capeiam derrames
basálticos da Formação Rio Mazoe* na estructura dômica da Serra Mevunge (SDS 1632) e a E
da confluência dos rios Luia e Mazoe (SDS 1633), extendendo-se por mais de 80 km a NW e
formando o taboleiro da Montanha Bangomateta.
A idade K-Ar antiga de 166±10 Ma (Flores, 1964) foi invalidada, em vista dos resultados
geocronológicos recentes, que sugerem uma idade Jurássica Inferior (180-190 Ma). Na área do
Rio Mazoe, a Formação Bangomateta* (JrBr, JrBb) compreende uma pilha de derrames
riolíticos que mergulham suavemente (10-35°) a SW. Os piroclásticos predominam ao longo dos
Rios Mazoe e Luia. Uma seqüência heterogênea de riolitos mostra feições típicas de tufos
soldados de fluxos de cinzas ou ignimbritos nas proximidades do Monte Inhamangombe (Figs.
9.15A-D). Os lapíli-tufos e brechas piroclásticas, geralmente mal seleccionados e maciços,
compreendem fragmentos de contornos bem definidos (tufos soldados, Fig. 9.15A) ou
fragmentos de púmice vesicular em vários graus de soldagem (Fig. 9.15B). O bandamento de
fluxo (Fig. 9.15C) e litófises associados, preenchidos por quartzo e zeolita (Fig. 9.15D), são
também manifestações da soldagem de depósitos piroclásticos. Tufitos de grão fino, maciços a
laminados, são encontrados localmente nas áreas mais distais ao Monte Inhamangombe. Estes
provavelmente representam as fácies não-soldadas, mais distais de tufos de fluxos de cinzas ou
depósitos de queda de cinzas ácidas. Uma ponta ou lobo de lava riolítica bem preservada é
exposta no desfiladeiro do Rio Mazoe, a aproximadamente 10 km a E do Monte Inhamangombe.
Este fluxo é rico em pequenas vesículas deformadas, fenocristais orientados de feldspato
(traquíticos) e bandamento de fluxo distincto. Vários orifícios largos (até 4 x 8 m em diâmetro)
presentes nos fluxos, representam possivelmente um alinhamento de chaminés vulcânicos (Fig.
9.16). O Monte Inhamangombe forma uma estructura circular com ~seis km de diâmetro, em
parte com proeminentes escarpas, próxima à confluência dos Rios Mazoe e Luia. As rochas
riolíticas da área compreendem principalmente vários tipos de depósitos piroclásticos, incluindo
brechas pumíceas, aglomerados e tufos diversamente soldados de fluxos de cinza, ricos em
litófises preenchidos por quartzo (Fig. 9.17). A sua configuração como uma caldeira é sugerida
pela presença de uma brecha grosseira e caótica, compreendendo grandes fragmentos (até 2 m de
diâmetro) angulares a sub-arredondados de lava e tufo, encontrada na borda SSE da estructura
vulcânica (Fig. 9.18). Esta brecha, que aparece ter dezenas de metros de espessura total,
representa provavelmente a brecha de tálus de um sistema de falha sin-vulcânica que circunda o
reservatório de magma (caldeira).
A interpretaço de imagens de satélite e a abundância de potássio nos dados radiométricos
manifesta a presença de riolitos Bangomateta na área do domo da Serra Mevunge (SDS 1632).
Na parte norte do domo, a successão vulcânica mergulha 10-12° a NE, devido ao basculamento
local e forma uma pilha de derrames em forma similar a terraços. A larga extensão e a forma
tabular destes infere uma única unidade de resfriamento de tufos de fluxo de cinzas. A sete
quilômetros a SEE do Monte Chimandau, os bancos dos rios e o toposolo altamente
intemperizado do riolito vesicular, similar a uma lava esponjosa (Fig. 9.19), é rico em geodos
esféricos de ágata. Estes nódulos estratificados de calcedônia, originalmente desenvolvidos como
cavidades de gás (litófises) em um tufo soldado (Ross & Smith 1961), são comumente
conhecidos como “ovos do trovão” (thunder eggs) e confirmam a natureza piroclástica das
rochas riolíticas. Porém, na parte central do domo da Serra Mevunge, as estructuras de riolitos
(e.g. bandamento de fluxo), indicam que também houve extrusão de derrames de lava. Derrames
riolíticos contendo bandamento de fluxo e dobramento superficial típica de lava viscosa também
ocorrem (Fig. 9.20) a ~cinco km a NE do Monte Balati. Na mesma área, a lava riolítica contém
pequenos fragmentos (<5 cm) de grafita, derivados provavelmente de sedimentos com carvão do
Karoo Inferior, subjacente. Riolitos porfiríticos, contendo pequenos fenocristais de feldspato e
quartzo (<5 mm) imersos em uma matriz de textura fina, são encontrados em certos lugares. Os
mergulhos abruptos a verticais locais do bandamento de fluxo do riolito sugerem proximidade
com condutos vulcânicos. Um derrame de obsidiana, com mais de três metros de espessura, é
exposta por alguns centenas de metros a aproximadamente 10 km do Monte Sluxia. Esta rocha
maciça tem cor cinza desembotada em superfícies alteradas, enquanto nas superfícies de fractura
conchoidais mostra-se preto vítreo, com um brilho lustroso (Fig. 9.12). As análises químicas do
derrame de obsidiana são idênticas ao derrame de lava riolítica da área do Rio Mazoe.
Derrames de riolito de textura fina, cor-de-rosa a avermelhados e amigdaloidais ocorrem a 7 km
a norte do povoado de Birira (SDS 1633). As amígdalas estão preenchidas geralmente por calcita
e localmente por zeolita. Aglomerados riolíticos são também encontrados. Horizontes bem
bandados de cor cinza de calcedônia e piroclásticos, com mergulhos de 15-20° a SW, são
encontrados Em outros locais, estas rochas vulcânicas são cortadas por veios de calcita, com
espessuras de até 10 cm.
Idade Jurássica Média é tradicionalmente atribuída à Formação Bangomateta*. Porém, visto os
dados geocronológicos mais recentes, a idade Jurássica Inferior é mais provável.
Os derrames basálticos da Formação Chueza* (JrC) estão ininterruptamente expostos entre os
povoados de Sinjal e Chueza, na parte nordeste do Canal de Lupata (SDS 1634)(Fig. 9.23), onde
estes repousam directamente sobre os basaltos da Formação Rio Mazoe*. Basaltos similares são
também encontrados na região de Massangano (SDS 1633). Geodos de até 30 cm de diâmetro
possuem finos cristais de calcita com até 10 cm de comprimento no Monte Cinzeiros. Basaltos
similares são também encontrados ao longo da escarpa do Monte Linhanga e no Monte Cuadezo.
Ao longo do declive oeste da Canal de Lupata uma excelente secção de basaltos Cueza podem
ser vistas, próxima ao povoado de Búzua (SDS 1734), onde uma pilha de derrames de lava
subhorizontais aflora completo no desfiladeiro do Rio Pompue. Derrames com até 5 m de
espessura mostram padrões de juntas de resfriamento regulares, topos com pequenas amígdalas
arredondadas e bases com tubos de amígdalas alongadas, com até 15 cm de comprimento,
demonstrando a direcção de fluxo a noroeste (Fig. 9.24A e 9.24B). Nos derrames basálticos
encontra-se localmente estructuras arredondadas, similares a pequenos pães, que provavelmente
representam secções verticais de pontas de línguas de derrames de lava (Fig. 9.24C). Um túnel
colapsado de lava com aproximadamente um metro de diâmetro, foi encontrado em um
desfiladeiro de um rio.
Um contacto tectônico milonitizado entre os basaltos Chueza e gneisses Mesoproterozóicos, com
um mergulho abrupto a leste (60°), é exposta no banco sul do Rio Pompue, a ca. cinco km do
povoado de Búzue (Fig. 9.25). A idade dos basaltos da Formação Chueza* tem sido
tradicionalmente comparado com os flood basaltos Drakenberg (~180 Ma). Visto os dados
geocronológicos novos, uma idademais antiga deve ser assumida à esta.
Suíte Rukore – A Suíte Intrusiva Rukore forma a cadeia de montanhas de Rukore, que é
topograficamente contígua com a área granítica montanhosa do Rukore, com ~20 km2 em
área no território de Moçambique (parte sudoeste da Folha de Chioco, SDS 1632). A relação
espacial íntima com o (micro)granito Rukore e dolerito, as similaridades composicionais e
texturais e as relações intrusivas variáveis dos diques doleríticos e microgranito indicam um
emplaçamento aproximadamente contemporâneo dos componentes máficos e félsicos.
Pequenas intrusões, plugs e diques da Suíte Rukore (JrR, JrR, JrRf) são abundantes no
embasamento e estratos vulcano-sedimentares do Karoo, onde estes intrudiram forçadamente ou
foram emplaçados ao longo das zonas de fraqueza Mesozóicas e pré-Mesozóicas reactivadas. As
intrusões félsicas da Suíte compreendem o microgranito (e.g. Granito Rukore), pórfiro (e.g.
Pórfiro Bungue), riolito, tufo félsico e plugs de composição dacítica. Alguns raros componentes
félsicos possuem composição nefelino-sienítico ou fonolítico.Enclaves máficos magmáticos,
com xenocristais de feldspato alcalino, não são incomuns (Fig. 9.28). As texturas micrográficas e
granofíricas freqüentes do granito Rukore indicam a sua origem sub-vulcânica, hipabissal.
Os diques quartzo-feldspato pórfiros da Suíte Rukore formam cristas proeminentes, do tipo
bloco, na área do Rio Mazoe, onde estes estão invariavelmente associados e ocasionalmente
cortados por diques doleríticos. Os diques quartzo-feldspáticos, com uma direção geral NW,
ocorrem em zonas de enxames, medindo até 30-50 m de largura e vários quilômetros de
comprimento. Estes diques maciços de vermelho-tijolo, são geralmente distinctamente
porfiríticos, com fenocristais arredondados de quartzo e de feldspato zonados com até 30-40 mm
de tamanho, “fluctuando” na matriz quartzo-feldspática microcristalina (Fig. 9.29). Intrusivas
máficas da Suíte Bimodal Rukore incluem diques com composições micro-gabróicas ou
basálticas. Os stocks de (micro)gabro de textura fina a média foram emplaçados nos grés do
Karoo na área de Massangano, no banco direito do Rio Zambezi.
A datação Sm-Nd, efectuada por Consórcio GTK, forneceu a idade de 195-180 Ma para o
microgranito Rukore (Mänttäri, 2005b).
Lavas alcalinas da Formação Monte Linhaga (CrLM), exposta em ambos os bancos do Rio
Zambezi, é nomeada conforme uma colina proeminente (577 m) ao longo da margem nordeste
do polígono com o formato semi-circular. A parte convexa do polígono forma uma escarpa que,
em algumas localidades, ascende a ~400 m por cima do terreno circundante. O Canal de Lupata
forma aparentemente o centro do vulcanismo alcalino Cretáceo, do mesmo modo que o domo da
Serra Mevunge é o núcelo do vulcanismo Karoo. Os traquitos e alcalibasaltos Cretáceos
continuam a leste e sul e são intercamadados com a Formação Sena, sobrejacente. A unidade
pode ser separada em quatro diferentes derrames, visíveis na forma de patamares pronunciados
ao se aproximar do Rio Zambezi. A textura traquítica-porfirítica é característica para estas lavas
alcalinas com fenocristais alinhados de feldspato potássico e analcita (Fig. 9.38). Litologias
incluem traquito e subordinadamente tufo, basalto e analcitafonolito.
A sua espessura é de aproximadamente 300 m, como pode ser deduzida a partir de dados de
sondagem obtidos pela Gulf Oil Company (Flores, 1964). Geofisicamente, os traquitos são
difíceis de serem distingüidos das rochas vulcânicas Karoo subjacentes, possuindo, porém, uma
assinatura magnética e radiométrica mais uniforme. Os sub-tipos incluem Aglomerado
Traquítico (CrLMa), constituído por ejectólitos cimentados, incluindo cristais de analcita, lapíli e
bombas vulcânicas (Fig. 9.39B) e afloramentos muito pequenos de Grés, Grés Tufácea e Tufo
(CrLMs) que tem sido encontrados no topo do riolito ao longo da margem norte do polígono de
Lupata. A partir da sua posição estratigráfica, pode se concluir que as rochas
sedimentares-epiclásticas mixtas pertencem à parte basal da Formação Monte Linhanga*. Estes
grés são grauvacas feldspáticas, com aproximadamente 25% de matriz de grão fino.
As rochas vulcânicas do Grupo Lupata tem sido tradicionalmente correlacionadas com o Karoo
Superior. Inexistem dados geocronológicos modernos e os dados mais antigos de K40- Ar40
fornecem um amplo leque de idades de ~106 a ~166 Ma (Cretácea Inferior). A idade de 140 Ma
é mais apropriada e corresponde com a idade do kimberlito nas fracturas extensionais Riedel nas
estructras de rifte marginal do Graben Maniamba (Província de Niassa), datada de 138±9 Ma
(Key et al. 2006).
A Formação Mágoè (CrM) é exposta na região Zumbo-Changara e nas planícies e terras baixas
a E e W do domo da Serra Mevunge (SDS 1632). É composta por três membros (da base para o
topo) (Real 1966): (1) Conglomerado, (2) Gré e (3) Membro Gré-Calcáreo. O Membro (2) grada
a e é contemporâneo com partes do gré da Formação Sena* no contíguo Canal de Lupata, na
parte leste da Província de Tête. Depósitos clásticos grosseiros, assinalados ao Membro
Conglomerado (CrMc) tem sido encontrados em muitos lugares na base da Formação Mágoè*.
Um conglomerado polimítico, com clastos bem arredondados de micro-gabro, basalto, riolito,
quartzo de veio e rocha quartzosa, possuindo diâmetros entre 10 a 40 cm e com a idade
correspondente ao Karoo, é exposta no cruzamento entre a estrada Chioco e o Rio Birira e nos
bancos do mesmo rio. Em um tributário do Rio Luia, próximo ao declive sul do domo da Serra
Mevunge, os blocos arredondados são compostos somente por lavas máficas e félsicas das
formações subjacentes do Karoo (Fig. 9.42A). Na zona de falha entre o embasamento e as rochas
Fanerozóicas no Rio Nhamafite, fragmentos angulosos a sub-arredondados do conglomerado são
predominantemente compostos por pegmatito, granito e vários tipos de xistos ou gneisses,
imersos em uma matriz imatura, similar a grauvaca (Fig. 9.42B).
O Membro Gré (CrMs) cobre as planícies e terras baixas a E e W do domo da Serra Mevunge
(SDS 1631-1632). Devido à sua natureza friável e posição sub-horizontal ou levemente
basculada, os grés estão pobremente expostos somente como íngremes bancos erosionais cavadas
nos sedimentos por rios grandes (Fig. 9.43). Em geral, os grés Mágoè compreendem grés
feldspáticos esbranquiçados ou marrom-avermelhados de granulação fina a média, com
horizontes conglomeráticos finos ou raros clastos derivados de rochas vulcânicas máficas e
félsicas do Karoo. A estratificação laminar ou paralela é frequentemente bem desenvolvida (Fig.
9.44A). O Calcáreo e gré (CrMl) da Formação Mágoè compreende finos e pobrementre
acamadados calcáreos lacustres e subordinadamente, grés pobremente cimentados. Em
fotosaéreas, a unidade apresenta um bastante distictiva cor clara, com a característica padrão de
drenagem dendrítica. Esta forma áreas desérticas, esparsamente vegetadas, com um solo
amarelo, pedregoso, seco e infértil.
Seqüência 4: Eoceno – A Formação Cheringoma* (TeC) forma uma faixa contínua ao longo
do limite nordeste da depressão Zângue-Urema (SDS 1834), cobrindo áreas extensas a N do Rio
Búzi (SDS 1934). Esta unidade, separada por um hiatus Paleocênico-Eocênico dos depósitos
Cretáceos subjacentes, é composta por calcáreos glauconíticos e dolomíticos, com grés calcáreos
no topo. As fácies deposicionais desta formação, rica em fósseis, correspondem à fácies marinho
raso de alta energia na zona fótica, incluindo águas marinhas oxigenadas e tropicais. A idade
Eocênica Média a Superior é geralmente aceita à Formação Cheringoma*.
Seqüência 6: Quaternário – Os depósitos Quaternários são extensos não só nos vales dos rios
maiores, mas também nas depressões estructurais causadas por falhamentos Phanerozóicos em
blocos.
Areias de Terraços Fluviais (Qt) são largamente expostas ao longo dos rios Mazoe e Luia e nos
seus tributários (SDS 1632, SDS 1933). A N do povoado de Nhacolo, no lado norte do Rio
Zambezi (SDS 1634), terraços fluviais mostram altitudes locais variando de 20 a 100 m em cima
do rio actual. Os terraços superiores são atribuídas á idade Pleistocênica Inferior. Nos bancos
íngremes do Rio Mazoe, uma secção de depósitos fluviais consiste predominantemente de areia,
mas também de variedades com cascalho, que não são incomuns na base da seqüência (Fig.
9.48). Ao longo do Rio Zambezi, os Depósitos coluviais (Qc) constituem depósitos
desagregados, heterogêneos e inconsolidados, ocorrendo em zonas de subsidência tectônica,
como por exemplo a Zânguè-Urema (SDS 1834-1934) e ao longo dos rios principais da área da
Nota Explicativa do Mapa. O grosso do material pedogênico ou rochoso foi depositado por
lavagens efectuadas pelas chuvas e pela lenta solifluxão pelos declives abaixo, assistida pela
gravidade e acumulando-se geralmente na base dos declives ou estructuras dômicas em forma de
depósitos maciços, não-seleccionados (Fig. 9.49).
Durante o Pleistoceno, a erosão normal, actuando sobre unidades de grés Terciários,
especialmente aquelas da Formação Mazamba*, causaram a acumulação da Areias Argilosas de
Planície Eluvial de Inundação (Qps). Estes depósitos säo encontrados na parte sul e leste da
Folha de Beira (SDS 1934).
Lamas de Planície de Inundação Eluvial (Qpi) são encontradas em elevações mais baixas no
canto sudeste da SDS 1934, cobrindo grandes áreas planas. Estes terrenos argilosos possuem
uma permeabilidade muito baixa e formam áreas de freqüentes inundações com lagunas e
pântanos. Estes depósitos subjazem os depósitos de areia argilosa de planícies de inundação
eluvial.
Areias de Dunas Costeiras (Qd) säo encontradas ao longo da zona litorânea da costa
Moçambicana, a sul do estuário do Rio Búzi (SDS 1934).
Depósitos Aluviais (Qa), compostas por siltes, areias e cascalhos, são distribuídos nas planíceis
de inundação dos rios principais, como Luenha e Zambezi, onde bancos de areia proeminentes
são frequentemente depositados nos fundos dos rios (Fig. 9.50). Grandes acúmulos de aluviäo
ocorrem também em algumas outras regiões, como por exemplo ao longo dos rios Sorodeze e
Mazoe.
Pequenas ocorrências de Debris de Clastos (Qp) existem em ambos os lados do Rio Revue (SDS
1934), cobrindo os grés Cretáceos da Sena. Estes depósitos, formando elevações do tipo terraço e
cristas com até 30 a 40 m de altura, são predominantemente compostos por clastos arredondados
de cascalho de quartzo, quartzito e basalto com até 20 a 30 cm de tamanho. Porém, estes
horizontes de debris de clastos não são depósitos, mas sim, gerados por processos de formação
de solo.
ESTRUCTURA E METAMORFISMO
O Cráton Zimbabwe tem idades de cristalização entre ~3.55 e 2.54 Ga e é predominantemente
composto por terrenos granito-greenstone e de gneisses Arcaicos ao longo das suas margens
norte e sul (Fig. 6.1). A acresção crustal episódica é manifestada pela deposição de várias
gerações de supracrustais de baixo grau nas chamadas “faixas de rochas verdes”, cada uma
associada com o emplaçamento de uma suíte TTG contemporânea ou pouco mais jovem (Tabela
6.1). O terreno de gneisse Arcaico ao norte compreende o Terreno Gneisse Migmatítico,
composto por orto- e para-gneisses de grau amfibolítico, com relictos de rochas de fácies
granulítico.
A margem norte do Cráton Zimbabwe é parte da Faixa Zambezi, Pan-Africana, o segmento leste
da faixa orogênica transcontinental Damara-Lufiliana-Zambezi (515-560 Ma), separando o
Cráton Congo do Cráton Kalahari. A faixa é composta por crosta mais antiga retrabalhada,
pertencente a vários terrenos e ao material magmático juvenil de menor proporção. As massas de
empurrões, vergentes a sul, foram agrupadas em Terreno Alóctone Zambezi e Terreno Gneisse
Marginal (Secção 7.1). Dois períodos tectono-metamórficos tem sido reconhecidos nas unidades
tectônicas da Chewore Inliers (Goscombe et al. 1994, 1998; Johnson & Oliver 1998, 2000, 2002,
2004). M1 ocorreu sob condições de fácies granulito de alta temperatura-baixa pressão (>800° C,
< 4,4 kbar; Gosgombe et al. 1994) a 1068±21 Ma. A recristalização subsequente ocorreu em
condições de estilo colisional de granada-amfibolito de alta pressão-temperatura média (> 13
kbar, 600-700° C) a 526±17 Ma.
A margem leste do Cráton Zimbabwe é parte da Faixa Moçambique e é composto por massas de
empurrão com a separação embasamento/cobertura (thin-skinned) e lascas, vergentes a oeste e
envolvendo fragmentos de rochas Arcaicas e Proterozóicas do Cráton Zimbabwe (Fig. 10.1). O
último compreende os grupos para-autóctones Gairezi e Rushinga e o alóctone Complexo Báruè,
supostamente derivado da Antártica durante o Ciclo Orogênico Grenvilleano a ~1100 Ma e
contendo quantidades significativas de material magmático juvenil. Este evento dinamo-termal
D1 deu origem à foliação gnéissica e migmatítica S1, que geralmente tem um mergulho suave a
leste, desenvolvida sob condições metamórficas M1 de amfibolito superior. Em muitas das lascas
da margem cratônica, a S1 dos planos de cisalhamento é paralelo aos limites das massas
tectônicas, enquanto em outras exposições, esta é superposta às estructuras planares Arcaicas
mais antigas.
O Ciclo Orogênico Pan-Africano é expressa pela compressão N-S ao longo da zona colisional
setentrional e pelo desenvolvimento de uma zona de cisalhamento sinistral de direcção N-S ao
longo da margem leste do Cráton exposto. A compressão N-S causou o desenvolvimento de
estructuras dobradas F2 de direcção E-W e, onde superposta às dobras F1 de grande escala,
estructuras de interferência F1/F2 do tipo cogumelo, visíveis nas imagesn de satélite (Fig. 2.9).
As condições metamórficas M2 alcançaram novamente condições amfibolíticas, causando a
remobilização de vários tipos de rochas e abundante emplaçamento de pegmatitos. O
cisalhamento sinistral D2 deu origem à foliação vertical S2 e bandamento migmatítico. Os
resultados do evento de cisalhamento sinistral de direcção N-S pode ser bem vista em um
afloramento a sul de Catandica, a ca. 11 km a norte de Vanduzi (Fig. 10.3-5). O metadiabásio a
leste de Manica sofreu o metamorfismo Pan-Africano a 503±8 Ma (Ap. 2), idade obtida de
granada-rocha total pelo método Sm-Nd.
O emplaçamento da Suíte Guro, bimodal, datada de 867±15 Ma, ocorreu sob condições
extensionais em um ambiente de margem cratônica, sendo afectado logo após por um empurrão
de descolamento (de direcção E a NE?), datado de 850-830 Ma. Dirks et al. (1998) advogou um
cenário similar à Suíte Masoso (Seccão 7.3). A espessura desta unidade subhorizontal pode ser
relativamente pequena (1-2 km).
A deformação Pan-Africana Tardia é expressa em forma de uma série de zonas de cisalhamento
sinistrais, desenvolvidas a leste de Manica, na área marginal do Cráton Zimbabwe e Complexo
Báruè (Manhiça et al. 2001). O mesmo cisalhamento é responsável pelo curvamento da Faixa de
Rochas Verdes de uma direcção E-W a N-S. Este cisalhamento sinistral é uma feição regional no
Orógeno da África Oriental.
EVOLUÇÃO GEODINÂMICA
Após a tentativa de demarcação dos limites – suturas ou pseudosuturas – entre os “blocos de
construcção” – Terrenos Gondwana Oeste, Leste e Sul – que constituem o embasamento
cristalino Moçambicano, precendentes da amalgamação Pan-Africana, a evolução geodinâmica
da área coberta por esta Nota Explicativa (Volume 2) é esquematizada (Capítulo 11). A evolução
Arcaica do Cráton Zimbabwe é bem documentada por outros trabalhos e é aqui apenas
brevemente revista. A extensão Paleoproterozóica ocorrida ao longo da margem leste do Cráton,
com a deposição das successões dos Grupos Gairezi e Rushinga, datadas de 2.04 Ga, podem ser
correlacionadas com eventos extensionais em escala regional no Cráton Kalahari.
A evolução Proterozóico-Ordoviciana é esquematizada em termos de uma successão de eventos
compressivos e extensivos, afectando as placas litosféricas e resultando na formação de
Supercontinentes, seguida pela sua separação, migração e dispersão. Esta compreende a
formação da Rodínia (Fig. 11.3) durante o Mesoproterozóico Ciclo Grenvilleano (~ 1.1 a 1.0
Ga), seguida pela separação pós–Rodinia (e.g. emplaçamento da bimodal Suíte Guro a ~867 e
852 Ma) e formação do Gondwana durante o Ciclo Orogênico Pan-Africano durante o
Neoproterozóico-Ordoviciano (~690-470 Ma).
Dois cenários são geralmente propostos ao Ciclo Orogênico Pan-Africano na África oriental e
meridional. Um dos modelos propõe o consumo do Oceano Moçambique e a colisão e
amalgamação (~ 640-550 Ma) do Gondwana Leste e Oeste (Fig. 11.1). Este modelo assume a
extensão do Orógeno da África Oriental (OAO) a sul de ~ 16° S na Antártida. Nesta Nota
Explicativa do Mapa (Volume 2), um modelo alternativo é advogado, baseado na suposição de
três maiores “blocos de construcção” pré-Pan-Africanos: os Terrenos Gondwana Oeste, Leste e
Sul. Isto é baseado na reinterpretação da evolução geodinâmica da faixa de dobramentos
Zambezi-Lufiliana-Damara e dados paleomagnéticos, que sugerem que o Cráton Kalahari e a
Antártica não teriam se separado após o Ciclo Orogênico Grenvilleano. Este modelo implica na
colisão e amalgamação do Gondwana Oeste e Leste e na formação da OAO entre 690-580 Ma ao
norte de 16° S. A sul de 16° S, este foi seguido pela colisão e amalgamação do Gondwana Norte
(= Gondwana Leste + Oeste) e Gondwana Sul (Kalahari Cráton + Antártica) e na formação do
Orógeno Kuunga entre 580-480 Ma (Fig. 11.4).
O rifteamento abortado do Gondwana foi registrado pela deposição dos sedimentos Karoo entre
Carbonífero Superior e Jurássico Inferior e culminando com o vulcanismo da Grande Província
Ígnea do Karoo (GPIK), com o seu pico ao redor de 183 Ma. Na área coberta por esta Nota
Explicativa do Mapa (Volume 2) surgiu o Graben do Médio Zambezi, de direcção E-W e
iniciou-se a evolução da Bacia Moçambique.
Após a estabilidade de ~ 40 Ma, o rifteamento começou novamente ao redor de 140 Ma, com a
evolução da Bacia Moçambique. Desenvolveram-se mais sub-bacias internas de direcção
NW-SE no topo do Graben do Médio Zambezi, de direcção E-W. O rifteamento incipiente foi
associado com vulcanismo alcalino da Província Alcalina de Chilwa (e.g. Grupo Lupata).