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22-X-D (Marabá)
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GEOLOGIA
2.1 Contexto Geológico-Geotectônico Regional blocos Belém, Araguacema, Juruena e Porangatu,
articulados entre si pelos cinturões Itacaiúnas, Ara-
Ao longo das últimas décadas, várias propostas guaia e Alto Tapajós, este último ainda pouco co-
de organizações e de entidades tectono-estru- nhecido (figura 2.1). Grandes áreas desses com-
turais têm sido encaminhadas para o Brasil e em partimentos tectônicos acham-se recobertas por
particular para a Amazônia. A maioria dessas pro- unidades vulcano-sedimentares de idade protero-
postas, por carência de sustentações multidiscipli- zóica, e coberturas sedimentares fanerozóicas das
nares, vem sendo abandonada ao longo do tempo. bacias do Parnaíba e Foz do Amazonas.
A vinculação da informação geológica à interpre- A Folha Marabá, enfoque principal desta abor-
tação de dados geofísicos, em especial à gravime- dagem, abrange em seus limites porções dos cin-
tria e magnetometria, permitiu que Hasui et al. (1984) turões Itacaiúnas e Araguaia, além de importante
e Hasui & Haralyi (1985) visualizassem a estrutura- segmento da Bacia do Parnaíba (figura 2.2).
ção mais antiga da Região Amazônica, a partir da
articulação de blocos crustais bordejados por cintu-
rões. As bordas desses blocos são definidas por for- 2.2 Arcabouço Estrutural / Tectônico da Folha
te, generalizada e uniforme linearilidade dos conjun- Marabá
tos rochosos, anomalias gravimétricas positivas, e
por zonas intensamente magnetizadas. Nos núcleos Para facilitar o entendimento do Arcabouço
dos blocos ocorrem granitóides e seqüências vulca- Estrutural e da Evolução Tectônica da folha, a abor-
no-sedimentares tipo greenstone belts caracteriza- dagem deste capítulo é apresentada segundo dois
das por domínios isentos de anomalias gravimétri- enfoques principais. No primeiro, essencialmente
cas, com baixo relevo magnético e quase ausente descrito, são comentadas as principais feições ob-
padrão de linearidade nos segmentos rochosos. servadas nos domínios de cada grande comparti-
O modelo acima proposto, adaptado à evolução mento nas escalas macro, meso e micro (mapas,
do conhecimento geológico da região, permite vis- afloramentos e lâminas) e no segundo, são encami-
lumbrar para sul/sudeste do Pará um arcabouço nhadas as interpretações mais compatíveis com as
estrutural/tectônico mais antigo, constituído pelos feições descritas.
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55º30’ 44º30’
3º00’ 3º00’
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0º00’
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3
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4 ÁREA DO PROGRAMA
GRANDE CARAJÁS
7
FOLHA MARABÁ
5
0 100 200km
-11º00’ -11º00’
55º30’ 44º30’
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SB.22-X-D (Marabá)
49º30’ 48º00’
-5º00’ -5º00’
m
m
v m
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-6º00’ -6º00’
49º30’ 0 10 20km 48º00’
e estruturais bem distintos: a faixa ocidental da fo- aerogeofísica são corroboradas por registros de
lha; o conjunto centro-sul-sudeste; e porção cen- campo que mostram trends de foliação milonítica,
tro-norte-nordeste (figura 2.2). essencialmente subverticalizada, com orientação
No que se refere ao comportamento das feições geral ENE-WSW no domínio sul e WNW-ESE no do-
mais sinuosas (dúcteis) observa-se, na faixa mais mínio norte.
ocidental da folha, um primeiro compartimento com Nesta porção da folha não foram registrados, em
largura aproximada de 12 a 15km. Neste, tanto na campo, elementos lineares.
parte norte (representada pelo conjunto rochoso de Nos afloramentos do domínio norte deste com-
alto grau metamórfico) como no setor sul (onde ex- partimento, os tipos rochosos apresentam varieda-
põem-se as seqüências supracrustais com por- des granulométricas de muito finas a grossas, e va-
ções mesocrustais lenticularizadas), as feições da riam de granitos a tonalitos em alto grau metamórfi-
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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
co e em arranjos imbricados. A anisotropia estrutu- nos muscovita quartzitos da estação PM-182 (foto 3).
ral é variada, mostrando em alguns locais frações Ao longo de alguns perfis podem ser observadas fra-
isentas e em outros exibem bandamentos feldspáti- ções ou lascas de rochas graníticas gnaissificadas,
cos e biotíticos (PM-113), e bandas de cisalhamen- representantes da mesocrosta.
to centimétricas em arranjos anastomosados. Por- Ao microscópio as rochas deste domínio apre-
ções máficas apresentam-se em formas sig- sentam variadas taxas de deformação, com pre-
moidais, com assimetria indicando rotação sinistral sença de microdobras e microcrenulações nos ti-
(figura 2.3). pos mais deformados. As relações entre as micro-
Também em lâminas delgadas, a anisotropia es- estruturas observadas permitem determinar o sen-
trutural do domínio é marcada com variedades de tido de movimentação essencialmente sinistral a
estágio protomilonítico a ultramilonítico (foto1). Os que foram submetidas estas rochas.
processos deformacionais provocam cominuição Imediatamente a leste do segmento anterior,
dos grãos minerais, e microbandas de cisalhamen- grosso modo, na porção centro-sul-sudeste da fo-
to. Estas tendem a se paralelizar, tornando a orien- lha, expõe-se o segundo expressivo conjunto de ro-
tação preferencial dos minerais segundo a direção chas supracrustais, também desta feita caracteri-
da foliação superposta. As relações entre as micro- zado por domínios estruturais destintos. O principal
bandas de cisalhamento, entre as foliações S e C, e deles apresenta trend geral de foliação com orien-
as assimetrias de cristais, indicam movimentação tação submeridiana (variando de NNW-SSE a
essencialmente sinistral (foto 2). NNE-SSW) e o outro, corresponde a feixes discre-
As exposições rochosas do domínio sul são repre- tos com orientação preferencial NW-SE. No geral,
sentadas fundamentalmente por supracrustais (me- tanto um como outro exibem mergulhos variando
tabasitos e metassedimentos) em variado grau de de 50° a 20° para ENE a ESE no primeiro caso e
anisotropia estrutural (figura 2.4) e com freqüentes para NE no segundo.
bandas e zonas de cisalhamento. No ponto PM-178, No primeiro domínio deste segundo comparti-
às margens do rio Sereno, identifica-se zona de cisa- mento litoestrutural, em especial nas porções ro-
lhamento subvertical, com direção N85°E. As assi- chosas menos pelíticas, é comum no plano da folia-
metrias de dobras intrafoliais centimétricas indicam ção, o registro de uma lineação mineral oblíqua,
movimentação sinistral, e a intensidade deformacio- mergulhando preferencialmente para SE e com va-
nal chega a alcançar estágio ultramilonítico, como riações para ENE.
0 20cm 0 5cm
Figura 2.3 (PM-77) – Granoblastito granítico da Figura 2.4 (PM-177) – Actinolita xistos (metabasaltos)
Suíte Metamórfica Bacajaí, mostrando a anastomose do Grupo Rio Novo, com vista do plano XZ,
da foliação e as porções máficas em formas observando-se as partes máficas finamente
sigmoidais com movimentação sinistral. foliadas e as porções quartzo-feldspáticas
concordantes com a foliação.
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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
49º28’ 49º15’
-5º21’ -5º21’
0 4cm
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em profundidade, apresentam-se mais ou menos a A partir do Jurássico, com a separação dos con-
leste do limite mapeado em superfície (figura 2.7). tinentes africano e sul-americano, a bacia passa a
Este registro pode evidenciar uma franca variação estar sujeita à atuação de um eixo extensional
de aloctonia na frente de cavalgamento principal, ENE-WSW, responsável pelo desenvolvimento do
ocasionada tanto pela sinuosidade dos lineamen- Oceano Atlântico Equatorial (Costa et al., op. cit.).
tos, como por variações na direção do transporte Nesse contexto, os lineamentos antigos NNW-SSE,
de massas rochosas. que funcionaram como frentes de cavalgamentos
O terceiro e último grande compartimento cor- oblíquos sinistrais no Pré-Cambriano e como zonas
responde às estruturas e rochas ligadas à Bacia do de falhas normais oblíquas dextrais no Paleozóico,
Parnaíba, que teve períodos evolutivos tanto no Pa- passam a incorporar movimentações extensionais
leozóico como no Mesozóico. oblíquas sinistrais no Mesozóico, e controlam tanto
Os traços estruturais que controlam a sua arquite- a instalação das unidades sedimentares (forma-
tura, gerados por fluxo cataclástico, mostram orienta- ções Sambaíba, Pastos Bons, Corda, Codó e Itape-
ção geral NNW-SSE a NW-SE e NE-SW (figura 2.9). curu), como a colocação dos derrames e instru-
Costa et al. (op. cit.) registram que o arcabouço sões básicas das formações Mosquito e Sardinha,
estrutural da Bacia do Parnaíba foi fortemente con- respectivamente.
trolado pela estruturação pré-cambriana do seu Por outro lado, lineamentos NE-SW, que atua-
embasamento. ram como zonas normais no Paleozóico, são rea-
Um eixo extensional NW-SE, que atuou durante a tivados com movimentação direcional (falhas de
abertura do Oceno Atlântico I (Wilson, 1966) no Pa- transferência no sentido de Gibbs, 1984) no Me-
leozóico, foi o responsável pelo desenvolvimento de sozóico. As atitudes das camadas, as orienta-
falhas normais e/ou oblíquas dextrais a partir da rea- ções e mergulhos de planos de falhas ou fraturas,
tivação dos lineamentos NNW-SSE que funcionaram além de inúmeros registros de paleocorrentes, in-
como zonas compressionais oblíquas com compo- dicam, além de um caimento geral para ENE, um
nente strike-slip sinistral no Pré-Cambriano (Cinturão sugestivo basculamento para SE, também corro-
Araguaia). Por outro lado, as zonas transcorrentes borado pelos resultados do levantamento gravi-
NW-SE (rampas laterais) do Cinturão Araguaia vol- métrico, mapa Bouguer.
tam a funcionar como transcorrências compartimen- Nesta evolução há predomínio de ambiências
tais na evolução paleozóica da bacia. A área de ex- sedimetares continentais, com sistema deposicio-
posição dos produtos ligados a essa evolução (for- nal desértico (Formação Sambaíba), fluvial a lacus-
mações Pimenteiras, Poti, Piauí, Pedra de Fogo e tre (Formação Pastos Bons) e fluvial/eólico/lacustre
Motuca), não é expressiva, bem como reduzidos (Formação Corda). Já no Cretáceo Inferior, abati-
são os registros dos elemenetos estruturais. Pouco mentos mais significativos permitiram pequena en-
se sabe sobre a geometria das falhas desse perío- trada do mar com ambientes lagunares, infra-mari-
do, pois os registros de mergulhos suaves das ca- nho e de lobos deltaicos (Formação Codó). No tem-
madas, normalmente voltadas pra ENE, e a presen- po Itapecuru restabelece-se a ambiência continen-
ça de falhas mergulhando fortemente para ENE, tal, com retorno de sistemas fluviais e eólicos.
gerando sinclinais de teto, se ajustam mais à tectô- No Período Cenozóico registra-se uma quies-
nica mesozóica superposta. Alguns valores de cência nas movimentações essencialmente exten-
mergulhos voltados para WSW podem significar sionais, e a partir do Terciário Inferior, segundo Ha-
controle por falhas lístricas com mergulhos fracos, sui (1990), passa a dominar no interior da Placa
desenvolvendo anticlinais de teto (figura 2.10). A Sul-Americana o regime direcional, decorrente da
orientação preferencial das unidades, o mergulho atuação de um megabinário dextral de direção
geral das camadas, e o estudo das paleocorrentes E-W, resultante do deslocamento da placa para W.
corroboram esta interpretação evolutiva, sugerindo Como em toda evolução direcional, segmentos
ainda abatimentos cíclicos, evidenciados pelas flu- transtrativos e transpressivos são previsíveis.
tuações de entrada do mar, refletidos nos ambien- No contexto da Folha Marabá, chama atenção
tes sedimentares que variam entre planícies de um singular controle tanto do relevo como das
maré (Formação Pimenteiras), fluvial com ingres- várias ordens de hierarquia da rede de drenagem.
sões marinhas (Formação Piauí), voltando a conti- Observam-se sugestivos alinhamentos de drena-
nental, planície de maré e lagunar (Formação Pe- gens e de coberturas lateríticas, bem como de dife-
dra de Fogo) e marinho/lagunar/continental/eólico rentes níveis de paleoterraços com orientação ge-
(Formação Motuca). ral N-S, em especial a norte do rio Tocantins, e sig-
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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
49º30’ 48º00’
-5º00’ -5º00’
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-6º00’ Cpi -6º00’
49º30’ 0 10 20km 48º00’
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Formação Pastos Bons Formação Poti Eixo extensional do Mesozóico
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Formação Mosquito Formação Pimenteiras Eixo extensional do Paleozóico
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A B
WSW NNE WSW NNE
Figura 2.10 – Perfis esquemáticos mostrando o desenvolvimento de sinclinais de tela a partir de falhas
normais com mergulho forte (A), e anticlinais de teto (roll over) a partir de falhas lístricas (B).
nificativas inflexões dos rios alternando a orienta- va decai para -77mgal, indicando uma deficiên-
ção geral dos seus cursos ora para N-S, ora para cia de massa causada pelo abatimento da crosta
E-W (figura 2.11). Ao longo das drenagens maiores em cujo topo ajusta-se por sucessivos escalona-
(rios Tocantins e Araguaia) merece destaque a al- mentos cobertos pelas supracrustais do Cinturão
ternância de trechos mais retos (E-W) e mais sinuo- Araguaia. Na altura da estação do km135 (rio Ara-
sos (N-S), assim como as feições de estrangula- guaia), o alto gravimétrico presente pode ser in-
mento tanto nas direções de estrangulamento tanto terpretado pela injeção de uma massa densa na
nas direções N-S como E-W. Sistematicamente à crosta (a 7,3km de profundidade). Corroboram
montante desses estrangulamentos há expressivo essa interpretação as exposições de rochas
desenvolvimento de cobertura aluvionar, como a gnáissicas e anfibolíticas nas folhas Xambioá e
sul da cidade de Itupiranga e a oeste da cidade de Conceição do Araguaia que constituem o braqui-
São João do Araguaia (figura 2.11). Estes controles anticlinal do Lontra e os domos de Guaraí e Col-
são claramente estruturais e revelam a movimenta- méia, respectivamente, exibindo altos gravimétri-
ção recente de blocos ora alçados com grande ex- cos causados pelo soerguimento dessas estrutu-
posição de terraços rochosos (entre São João do ras, Carvalho (1987).
Araguaia e Marabá), ora abatidos com grande de-
senvolvimento de planícies aluvionares, por efeito
de uma neotectônica, em grande parte de caráter 2.3 Arranjo Estratigráfico / Caracterização das
ressurgente, notadamente no contexto dos linea- Unidades
mentos submeridianos que parecem ter atuado
desde o Pré-Cambriano. As análises de padrões, formas e geometrias
Em síntese, uma integração de todos os dados, das unidades, integradas aos elementos estru-
assim como as interpretações de ferramentas au- turais descritos em várias hierarquias na seção an-
xiliares, permite a visualização de um perfil geoló- terior, permitem caracterizar na Folha Marabá uma
gico esquemático integrado, como mostrado na compartimentação maior, onde o arranjo espacial,
figura 2.12. Observa-se que tanto a compartimen- temporal e crustal dos conjuntos rochosos é enten-
tação maior, como o arranjo das unidades são per- dido segundo um quadro com a seguinte organiza-
feitamente coerentes e ajustados aos reflexos do ção (quadro 2.1):
levantamento gravimétrico. A oeste, onde ex- Diante dessa organização, a caracterização de-
põe-se o Cinturão Itacaiúnas, o perfil Bouguer talhada de todas as unidades envolvidas em seus
ajusta-se com valores positivos de até + 7mgal. sistemas e domínios estruturais atrelados às suas
Desse trecho até a estação do km100, onde sur- respectivas províncias geológicas/geotectônicas é
gem os sedimentos da Bacia do Parnaíba, a cur- feita nos itens a seguir.
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49º30’ 48º00’
-5º00’ -5º00’
TQc TQc
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PALESTINA
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-6º00’ -6º00’
49º30’ 0 10 20km 48º00’
2.3.1 Cinturão Itacaiúnas (Regime Compressivo sessenta é que surgiram, na região sudeste do
Oblíquo) Pará, os primeiros trabalhos que redundaram em
grande impulso na evolução do conhecimento geo-
Histórico lógico regional e da pesquisa mineral do Cráton
Amazônico.
As unidades geológicas que compõem o arca- Barbosa et al. (1966) chamaram de Complexo
bouço dessa Província Geotectônica foram objeto Basal, a unidade composta de rochas como dioritos,
de estudos na década de 20, tais como os traba- anfibolitos, granitos, migmatitos com paleossomas de
lhos de Oliveira (1928), que estudou os litótipos do metabasitos, quartzitos com veios e lentes de quartzo
Complexo Xingu ao longo dos rios Xingu e Fresco, e pegmatitos, gabros e anortositos. Também apresenta-
Guimarães (1928), que analisou petrograficamente ram o empilhamento estratigráfico e o tectonismo de
as rochas coletadas por Oliveira (op. cit.). vasta região entre os rios Xingu e Tocantins.
Dessa época, até o início dos anos sessenta, Almeida (1967), em Origem e Evolução da Plata-
houve apenas incursões esporádicas visando a forma Brasileira, entre outros assuntos, define o
descobertas de ouro e pedras preciosas na região. Cráton do Guaporé, onde a Folha Marabá situa-se
Somente a partir da segunda metade da década de na sua margem oriental.
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49º30’ 48º00’
-5º00’ -5º00’
-15
-30 -60 -45
-20
0
A -15 -60
-40
-50
-70
-40
-90
-60 -65
B
-6º00’ -6º00’
49º30’ 48º00’
A - Mapa Bouguer A B Situação do Perfil
A B
0km 25 50 75 100 125 150 170km
0 mgal
-25
Calculado -50
RIO ARAGUAIA
Medido
10
20km
D - Perfil Geológico Esquemático 0 10 20km
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TER. TQc
REGIME DISTENSIVO - EIXO EXTENSIONAL (NE-SW) - BACIAS E PLUTONISMO BÁSICO
BACIAS Mdb
MESO.
MESOZÓICAS
REGIME DISTENSIVO - EIXO EXTENSIONAL (NW-SE) - BACIA
BACIA DO
PALEO.
PARNAÍBA
NÍVEL REGIME COMPRESSIVO OBLÍQUO - VETOR DE COMPRESSÃO (NE-SW) REGIME COMPRESSIVO OBLÍQUO -
CRUSTAL VETOR DE COMPRESSÃO (SE-NW)
CINTURÃO ITACAIÚNAS CINTURÃO ARAGUAIA
PROTEROZÓICO
DOMÍNIO TRANSCORRENTE
ARQUEANO/
Almaraz (1967) datou rochas do Pré-Cambriano Amaral (1974), com base em análises geocrono-
Indiferenciado nas áreas dos rios Itacaiúnas, Pa- lógicas e bibliográfica, propõe a denominação Gru-
rauapebas e Tocantins, pelo método K/Ar, obten- po Serra dos Carajás em substituição ao Grupo
do uma idade média de 2.000Ma; Almeida (1968) Grão-Pará e faz uma síntese geológica do
obteve idade semelhante em anfibólio xistos e Pré-Cambriano da Amazônia, dividindo-o em pro-
migmatitos do rio Parauapebas; e Amaral (1969), víncias, denominadas de Pré-Cambriano Oriental,
em amostras de gnaisses, anfibolitos e muscovita Central e Ocidental, separadas pela Bacia Sedi-
xistos do rio Itacaiúnas, fixou o último evento meta- mentar do Amazonas.
mórfico em 2.000Ma. Também determinou a idade Martins & Araújo (1979) descreveram e separa-
de um anfibolito da parte oeste da serra Tapirapé, ram, do Complexo Xingu, unidades com predomi-
em 3.280 ±113Ma, representando a rocha mais nância de rochas granulíticas.
antiga do Brasil, até aquela data. Cordani et al. (1979) apresentaram com base em
Na década de 70 intensificaram-se, na região su- dados geocronológicos, uma evolução do Cráton
deste do Pará, os trabalhos de pesquisa, revelando Amazônico, a partir de faixas móveis denominadas
novos conhecimentos, tendo como base à geocro- de Maroni-Itacaiúnas, Rio Negro-Juruena e Rondo-
nologia e o mapeamento geológico. niana, marginais a uma província tectônica arquea-
Puty et al. (1972), no Projeto Marabá, descreve- na, denominada Amazônia Central.
ram rochas da Suíte Metamórfica Bacajaí e do Os trabalhos subseqüentes, a partir da década de
Complexo Xingu, como pertencentes ao então cha- oitenta, na Amazônia Oriental, notadamente na re-
mado Pré-Cambriano Indiferenciado. gião da Serra dos Carajás, evoluiram no conhecimen-
Silva et al. (1974) denominaram como Complexo to geológico, apoiados em interpretações de ima-
Xingu aos terrenos infracrustais do Cráton Amazô- gens de radar e de satélite. Informes geológicos,
nio. Apresentaram os grandes domínios litológicos, geofísicos, geocronológicos e estruturais de concei-
o empilhamento estratigráfico e o potencial metalo- tuações mais modernas contribuiram para uma inte-
genético da região. gração multidisciplinar, em auxílio a essa evolução.
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SB.22-X-D (Marabá)
Hirata et al. (1982) integraram os dados geológi- algumas propostas para os principais problemas
cos obtidos pelos trabalhos da DOCEGEO e apre- estratigráficos da área.
sentaram um mapa geológico e um empilhamento Costa & Siqueira (1990) comentaram a geome-
estratigráfico da Área Carajás. Denominaram aos tria e a cinemática do Sistema Transcorrente Cin-
greenstone belts de Seqüência Salobo-Pojuca, po- zento, achando que o mesmo é formado por vários
sicionando-a sobre o Complexo Xingu e abaixo do feixes de zonas de cisalhamento sinistrais. Reco-
Grupo Grão-Pará. nheceram que esse sistema envolve duplexes
Lima (1984) propôs a compartimentação do Crá- compressivos, distensivos, distensivos e
ton Amazônico em províncias geológicas, denomi- rabo-de-cavalo, que experimentaram deformações
nando-as de Amazônia Oriental, Central, Ocidental tipo transtração, transpressão e deslocamentos
e Guiana Central, caracterizadas pelas similarida- transcorrentes. A essas estruturas, denominaram
des da história geológica e das feições fisiográfi- de duplex distensivo Igarapé Solobo, duplex com-
cas, petrográficas e estruturais. pressivo Cumaru e rabo-de-cavalo compressivo
Meireles et al. (1984) englobaram uma seqüên- Serra Pelada. Finalmente, concluiram que tal linea-
cia de rochas metavulcânicas, máficas e metamáfi- mento é parte de uma pequena fração da evolução
cas, metassedimentares e sedimentos na Seqüên- do Cinturão Itacaiúnas, no final do Arqueano.
cia Rio Novo de Hirata et al. (op.cit.), ampliando a Araújo et al. (op. cit.) apresentaram no mapea-
faixa de ocorrência dessa unidade. mento geológico da Folha Serra dos Carajás, um
Hasui et al. (op. cit.) e Hasui & Haralyi (op. cit.), na in- quadro Arqueano/Proterozóico Inferior, comparti-
terpretação de dados gravimétricos e magnetométri- mentado em 3 unidades geotectônicas, denominan-
cos, visualizaram a estruturação antiga da Amazônia do-as: Terreno Granito-Greenstone do Sul do Pará;
Oriental, compartimentada em blocos crustais deno- Cinturão Itacaiúnas, subdividido em Domínio Imbri-
minados Belém, Araguacema, Juruena e Porangatu. cado e Domínio Transcorrente; e, Cinturão Araguaia.
Dall’agnol et al. (1986), Jorge João et al. (1987) e Ligado ao regime distensivo do Proterozóico Médio,
Martins & Araújo (op. cit.), tentaram subdividir o identificaram granitos e corpos máficos e ultramáfi-
Complexo Xingu de Silva et al. (op. cit.), propondo cos. Cartografaram uma expressiva seqüência de
individualizações cartográficas para alguns grani- granulitos, a qual denominaram de Complexo Pium,
tóides, pertencentes a esse complexo. aflorantes por alçamento tectônico em regime dúctil
Jorge João et al. (op. cit.) descreveram e indivi- de baixo ângulo. Enquadraram a Seqüência Rio
dualizaram rochas granulíticas de composição Novo definida por Hirata et al. (op. cit.), na categoria
charno-enderbíticas, com tipos básicos subordina- de Grupo, com uma distribuição geográfica mais
dos e as denominaram Granolitos Bacajaí, posicio- ampla e como pertencente ao Sistema Transcorren-
nando-as no Arqueano Médio. te Carajás. Finalmente mostraram a importância
A equipe da DOCEGEO (1987 e 1988) propôs econômica da Província Mineral Carajás e a poten-
uma revisão na coluna litoestratigráfica de Hirata cialidade metalogenética da folha.
(op. cit.), agrupando todos os greenstone belts do Lab & Costa (1992) estudaram a extremidade
sul do Pará, no então denominado Supergrupo leste do Sistema Transcorrente Cinzento, obser-
Andorinhas. Considerou ainda, o Complexo Xingu vando pelo arranjo geométrico de suas estruturas,
como produto metamórfico retrabalhado de terre- tratar-se de um duplex transpressivo simétrico,
nos graníticos arqueanos e as supracrustais como truncado a leste e a oeste pelo Cinturão Araguaia e
pertencentes ao Supergrupo Itacaiúnas e ao Grupo Granito Cigano, respectivamente.
Igarapé Pojuca, com sua área de ocorrência restri- Macambira & Vale (no prelo), no mapeamento da
ta às feições morfológicas da serra do Tapirapé. Folha São Félix do Xingu, revelaram um quadro geo-
Araújo et al. (1988) sugerem um modelo alternati- lógico compartimentado em Arqueano e Proterozói-
vo para a megaestruturação arqueana da Folha co. Ao Arqueano, associaram: o Terreno Grani-
Serra dos Carajás, com base na geometria dos ele- to-Greenstone do Sul do Pará, representado pelo
mentos estruturais. Lembraram que tal estrutura é Grupo Tucumã e Granodiorito Rio Maria; e, o Cintu-
parte de um cinturão de cisalhamento dúctil, então rão Itacaiúnas, Granito Plaquê e pelos grupos Sapu-
denominado como Cinturão Itacaiúnas. Este, ca- caia, Aquiri, São Sebastião e São Félix. No Protero-
racterizado a sul, por um sistema imbricado, resul- zóico, enquadraram o Grupo Uatumã, a Formação
tante de uma tectônica compressiva e, a norte, por Triunfo e os granitóides Parauari e Velho Guilherme.
uma estrutura em flor positiva, ligada a um sistema Oliveira et al. (op. cit.), quanto ao mapeamento
direcional de caráter sinistral. Encaminham, ainda, da Folha Serra Pelada, mantiveram a denominação
– 21 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
de Cinturão Itacaiúnas de Araújo et al. (op. cit.), di- partir das proximidades do rio Itacaiúnas para
vidido em domínios Imbricado e Transcorrente. Ao norte e oeste, adentrando nas folhas vizinhas (fi-
primeiro domínio associaram a Suíte Metamórfica gura 2.13).
Bacajaí, o Complexo Xingu e o Granito Plaquê. O Suas melhores exposições foram encontradas
segundo domínio subdividiram em: Sistema Cin- no rio Itacaiúnas e no igarapé Lago Vermelho. Aflo-
zento, contendo os grupos Rio Novo, Salobo e Alto ramentos de menores expressões, ocorrem na
Bonito; Sistema Carajás, formado pelo Grupo BR-230, PA-322 e ao longo de estradas carroçáveis
Grão-Pará; Sistema Buritirama, envolvendo o Gru- ligadas a essas rodovias.
po Buritirama; e Sistema Josinópolis, formado pelo A expressão morfológica dessa unidade, apre-
Grupo Misteriosa. Esses autores optaram pela de- senta-se com um relevo de configuração variada,
nominação Suíte Metamórfica Bacajaí, ao conjunto que no geral representa morros e serras alternan-
de rochas granulíticas, outrora definidas como do-se com sítios peneplanizados.
Complexo Pium por Araújo et al. (op. cit.), dividin- As relações de contato entre esta e as demais
do-a em Enderbito Cajazeiras e Piriclasito Rio Pre- unidades estratigráficas, não foram observadas em
to. Mantiveram as denominações Complexo Xingu campo, mas somente fotointerpretadas. A sul, o
e Grupo Rio Novo, como definido por Araújo et al. contato dá-se com as rochas do Grupo Paredão,
(op. cit.), acrescentando ao grupo, os metassedi- sendo, segundo Oliveira et al. (op. cit.), de natureza
mentos da serra do Sereno, a Formação Serra Pela- estrutural. A leste, o contato dessa unidade é por
da de Jorge João et al. (1982) e o Complexo Máfi- cavalgamento oblíquo e às vezes transcorrente
co-Ultramáfico Luanga. Propuseram a designação com a Formação Couto Magalhães do Cinturão
formal de Grupo Tapirapé (Sistema Castanheira), Araguaia e discordante com as rochas sedimenta-
extraído do regionalizado Complexo Xingu, aos litó- res da Formação Itapecuru e com os sedimentos
tipos metamorfizados de fácies anfibolito a xis- aluvionares.
to-verde, com predominância de ortoanfibolito,
com quartzitos e cherts subordinados. Estenderam
seus limites para leste, além da serra homônima, Caracterização Litológica e Petrográfica
adentrando na Folha Marabá. Finalmente, formali-
zaram a denominação de Grupo Paredão, aos sedi- Os estudos petrográficos dos representantes ro-
mentos litoestratigráficos da serra homônima, estes chosos dessa unidade, identificaram uma variação
também incluídos no Sistema Castanheira. de faciologia metamórfica, com paragêneses com-
Na Folha Marabá estão presentes, de forma não patíveis com fácies anfibolito alto a granulito. A uni-
bem representativa quanto na Folha Serra Pelada, dade na folha estudada é representada fundamen-
algumas unidades que compõem o Cinturão Itacaiú- talmente por constituintes ácidos, muito embora lo-
nas. Por essa razão, a abordagem destas unidades calmente (PM-81,87 e 114) sejam identificados ti-
nesta nota explicativa constitue um extrato, adapta- pos de composição mais básica de impossível deli-
do onde coube, do apresentado naquela folha. As mitação cartográfica. Na Folha Serra Pelada, vizi-
unidades representadas na Folha Marabá são a Suí- nha da Folha Marabá do lado ocidental, estes dois
te Metamórfica Bacajaí, o Complexo Xingu e os gru- conjuntos receberam as denominações de Ender-
pos Rio Novo, Tapirapé e Paredão. bito Cajazeiras e Piriclasito Rio Preto.
A figura 2.13 mostra a disposição das unidades A Unidade Bacajaí constitui uma seqüência de
litoestratigráficas e o arranjo estrutural simplificado alto grau sendo representada fundamentalmente
do Cinturão Itacaiúnas, na Folha Marabá. por granulitos enderbíticos, charno-enderbíticos e
granoblastitos monzograníticos e sienograníticos.
De um modo geral, são rochas leucrocráticas a
2.3.1.1 Suíte Metamórfica Bacajaí (Domínio mesotipo, faneríticas de granulação média a gros-
Imbricado com Transcorrências sa, comumente eqüigranulares, exibindo variados
Associadas) – Aba graus de anisotropia estrutural.
Os granulitos enderbíticos (PM-82 e 115), char-
Distribuição Geográfica, Morfologia e Relações no-enderbíticos e charnockíticos (PM-73, 74, 76,
de Contato 77, 78, 86, 116 e 118) apresentam uma textura gra-
noblástica eqüigranular a ineqüigranular, exibindo
A Unidade Bacajaí ocupa a maior parte do flan- freqüentemente taxas deformacionais crescentes,
co ocidental da folha, ocorrendo continuamente a do tipo flaser com pronunciada foliação milonítica.
– 22 –
SB.22-X-D (Marabá)
49º30’ 48º00’
-5º00’ -5º00’
Aba
ITUPIRANGA
T
o
R i c
o a
n t
i n s
MARABÁ
V SÃO JOÃO DO
ARAGUAIA
R i o
Ara
Aba
gu a
ia
Aba
ARAGUATINS
BREJO GRANDE
DO ARAGUAIA
Ppa
PALESTINA
Ata DO PARÁ
Arn
Arn
Acx
-6º00’ -6º00’
49º30’ 0 10 20km 48º00’
Arn Grupo Rio Novo Zona de cisalhamento transcorrente Lineamento definido por traço
com movimentação indicada de foliação milonítica
Acx Complexo Xingu Falha indiscriminada Lineamento de estiramento
com caimento indicado
A assembléia mineral é dominada por plagioclá- melas em função da deformação, exibem um inci-
sio e quartzo nos tipos enderbíticos; plagioclásio, piente desenvolvimento para crescimento anti-
microclina e quartzo nas variedades charno-ender- pertítico.
bíticas; e microclina, plagioclásio e quartzo nas va- O feldspato potássico, representado por grânu-
riedades charnockíticas, obedecendo geralmente los hipidioblásticos de microclina, assume alguma
uma ordem decrescente em abundância, como fa- significância volumétrica nos tipos charno-enderbí-
ses minerais majoritárias. Ortopiroxênio, clinopiro- ticos e passa a ser uma fase dominante nas varie-
xênio, hornblenda e biotita são fases varietais que dades charnockíticas. Exibe típica geminação po-
ocorrem em porcentagens volumétricas bastante lissintética cruzada e desenvolve intercrescimen-
variadas. tos mirmequíticos ao longo dos planos de contato
O plagioclásio ocorre como cristais tabulares com o plagioclásio.
hipidioblásticos, parcialmente sericitizados, de O quartzo é uma fase essencial, ocorrendo em
composição sódico-cálcica, em geral do tipo oli- dimensões e formas variadas, geralmente xeno-
goclásio-andesina. Apresenta geminação do tipo blástico, como grãos eqüidimensionais nas varie-
Albita e/ou combinada Albita-Periclina, cujas la- dades fortemente recristalizadas, desenvolvendo,
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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
porém, aspecto achatado e estirado, como grãos Estes ortoderivados básicos têm granulação mé-
ribonados nos estágios deformacionais miloníticos. dia a fina, índice de coloração melanocrático genera-
Nesses tipos, constituem, por vezes, níveis bem in- lizado, um dominante isotropismo estrutural e uma re-
dividualizados ou diferenciados, alternando-se lação geométrica de eqüigranularidade freqüente.
com níveis feldspáticos. Nas variedades protomilo- Trata-se, em essência, de granulitos básicos, geral-
níticas, ocorrem como agregados cristalinos de as- mente a dois piroxênios, de composição dominante-
pecto sacaroidal, com efeitos de tensões internas mente gabróide, exibindo uma certa invariabilidade
algo pronunciados, denunciando processo de re- composicional e estrutural. O arranjo mútuo entre os
cuperação com formação de subgrãos e de recris- grãos minerais é do tipo granoblástico, eqüigranular,
talização com geração de novos grãos. exibindo circunstancialmente efeitos de recristaliza-
O ortopiroxênio, representado por hiperstênio, é ção poligonizada.Taxas deformacionais atingindo o
o mineral índice marcador da faciologia metamórfi- estágio milonítico são freqüentes, modificando o arran-
ca de alto grau. Ocorre sob a forma hipidioblástica, jo granoblástico para um padrão com forte anisotropia,
como cristais de diferentes formas e dimensões e em que os grãos minerais se alinham preferencialmen-
em diferentes percentuais volumétricos. Comu- te, materializando uma foliação milonítica superposta.
mente, mostra um íntima associação com hornblen- A assembléia mineral é representada por plagio-
da, titano-biotita e opacos, numa relação de dese- clásio-hiperstênio-diopsídio-titanobiotita-hornblen-
quilíbrio reacional, indicativa de uma generalizada da, ± quartzo, ± granada, apatita e opacos, em or-
ação retrometamórfica, ligada ao alçamento tectô- dem, aproximada, de decréscimo em abundância.
nico das rochas granulíticas, para níveis crustais O plagioclásio é do tipo labradorita, ocorrendo
compatíveis com a fácies anfibolito. Circunstancial- de forma hipidioblástica, geralmente exibindo efei-
mente, as palhetas de biotita mostram parcial trans- tos de tensões internas, como extinção ondulante e
formação para hidrobiotita e /ou vermiculita e/ou lamelas de geminação curvadas, parcialmente se-
prehnita, indicando condições metamórficas relati- ricitizado. Nas variedades com mais intensa recris-
vas à fácies xisto-verde. talização, os cristais tabulares de labradorita mos-
De um modo geral, a associação piroxênio-anfibó- tram ausência de efeitos de tensões internas e ao
lio-biotita constitui aglomerados orientados e confina- longo de seus contatos intergranulares desenvol-
dos a leitos que mostram relativa individualização e vem padrão de poligonização.
que são marcadores dos planos de cisalhamento. O hiperstênio e o diopsídio são as duas fases pi-
Opacos, apatita, zircão e rara allanita constituem roxênicas, geralmente ocorrendo em quantidades
os acessórios observados no conjunto estudado, aproximadamente iguais entre si e como grãos re-
exibindo uma tendência à associação com essas lativamente bem individualizados, ocasionalmente
fases minerais máficas varietais. mostrando parcial alteração para bastita.
As propriedades óticas e as características mi- A hornblenda e a titanobiotita são duas fases mi-
neralógicas das fases minerais que constituem es- nerais varietais, ocorrendo como cristais individua-
sas assembléias são comuns, de modo generaliza- lizados e/ou coroando cristais de hiperstênio, indi-
do, para as variedades enderbíticas, charno-en- cando reações em desequilíbrio, relacionadas ao
derbíticas e charnockíticas. metamorfismo retrógrado atuante.
Em íntima associação ocorre uma seqüência de Quartzo e granada são fases minerais oca-
granoblastitos sienograníticos e monzograníticos, sionais e, quando ocorrem, são em percentual volu-
caracterizados, fundamentalmente, pela ausência métrico subordinado. Apatita e opacos são acessó-
das fases ortopiroxênicas, pelo marcante índice le- rios freqüentes e mostram uma tendência de íntima
ucrocrático e notadamente pela alta triclinicidade associação às palhetas de biotita.
dos cristais de microclina, mostrando, por vezes,
características mesopertíticas.
Os granoblastitos são quantitativamente subordi- Assinaturas Geofísica e Geoquímica
nados, não pertencendo à zona hiperstênica regio-
nal e a sua assembléia mineral sugere um protólito Nos mapas aerogeofísicos, essa unidade exibe
com características distintas dos granulitos de natu- características magnetométricas de relevo médio,
reza essencialmente alcalifeldspática granítica. com as isodinâmicas orientadas na direção E-W, e
Os representantes básicos que ocorrem na Uni- gamaespectrométricas acima de 400cps, corres-
dade Bacajaí são classificados como piriclasitos, e pondendo à predominância de rochas ácidas a in-
via de regra ocorrem em forma de lentes. termediárias. A formação de baixos magnéticos
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SB.22-X-D (Marabá)
monopolares e radiação na faixa de 100 a 300cps, A unidade é dominada por tonalitos e granodiori-
compreendem os encraves de rochas básicas da tos e, subordinadamente, monzogranitos, que via
unidade. Na gravimetria há a formação de um pe- de regra apresentam estágios deformacionais mi-
queno baixo no extremo-norte e de um alto, com loníticos (PM-185). Em conseqüência, o arranjo tex-
eixo E-W, na altura do rio Itacaiúnas, estenden- tural é extremamente variado, com padrões grano-
do-se para a Folha Serra Pelada. blásticos eqüidimensionais , eqüigranulares a milo-
Trata-se de um conjunto bimodal de rochas ar- níticos, exibindo porfiroclastos rotacionados, con-
queanas de alto grau, com predomínio dos termos trastando com a matriz cominuída.
enderbíticos, com piriclasitos intimamente associa- De um modo geral, a assembléia mineral é repre-
dos sob a forma de lentes. Os estudos geoquímicos sentada por plagioclásio, quartzo, microclina, bio-
das rochas apresentadas no relatório da Folha Ser- tita, hornblenda, clorita, sericita, opacos, ± apatita,
ra Pelada, por Souza (no prelo), indicam que os en- ± zircão, ± allanita, em ordem decrescente de
derbitos variam de intermediários a ácidos com abundância.
predomínio dos ácidos. Têm composição desde to- O plagioclásio é geralmente do tipo oligoclásio, par-
nalíticas a graníticas, o mesmo acontecendo com cialmente sericitizado, subédrico nos tipos não defor-
os granoblastitos, estes, com maior freqüência de mados e anédricos sob a forma de fenoblastos, nas
amostras de composição granítica. Os piriclasitos variedades miloníticas, nas quais mostra, ainda, evi-
têm comportamento semelhante a rochas calcial- dências de rotação e maclas de geminação curvadas.
calinas de arco insular em ambiente de subducção, O quartzo é outra fase mineral majoritária, ocorrendo
sendo provavelmente produtos de fusão parcial de como cristais subédricos nos estágios protomiloníticos,
material toleiítico de fundo oceânico. modificando sua configuração para tipos ribonados,
extremamente achatados nos estágios mais avança-
dos da deformação, com geração de milonitos.
2.3.1.2 Complexo Xingu (Domínio Imbricado com A microclina ocorre em quantidades subordina-
Transcorrências Associadas) – Acx das nas variedades granodioríticas, mais comu-
mente como neocristais, confinados à matriz comi-
Distribuição Geográfica, Morfologia e Relações nuída e exibindo evidências de recristalização me-
de Contato tamórfica dinâmica.
A biotita é a fase mineral varietal, encontrada
O Complexo Xingu ocorre ocupando um peque- com freqüência nos tonalitos e granodioritos da uni-
no espaço no extremo-sudoeste da folha (figura dade. Ocorre como palhetas relativamente bem
2.13). desenvolvidas e orientadas segundo uma direção
Suas exposições, quase sempre de rochas tona- preferencial, realçando a foliação milonítica, consti-
líticas em forma de lajeiros, foram encontradas na tuindo leitos ou níveis, por vezes bem definidos,
estrada secundária que liga o garimpo da Cutia à e/ou contornando os fenoclastos de feldspatos.
estrada de ferro Ponta da Madeira-Carajás. A clorita é uma fase mineral secundária, circuns-
Via de regra exibe uma morfologia arrasada, tancialmente encontrada nos tonalitos e granodiori-
com colinas e morros baixos de topos subarredon- tos intensamente deformados e cisalhados, denun-
dados, fugindo do contexto geral aplainado. Às ve- ciando processos diaftoréticos.
zes, morros isolados e serras alinhadas, de- Apatita, opacos, allanita e raras titanitas mostram
nunciam feições estruturais ou mudanças nas lito- tendência à íntima associação com as fases máficas.
logias da unidade. Os granitóides que compõem o Complexo Xingu
A relação de contato que faz com a Unidade Rio mostram características litológicas de uma seqüên-
Novo foi interpretada como sendo concordante es- cia infracrustal metamorfizada e deformada em regi-
truturalmente. me de cisalhamento dúcil, com alçamento tectônico
a níveis crustais superiores. As reações minerais em
desequilíbrio denunciam um retrometamorfismo
Caracterização Litológica e Petrográfica atingindo a fácies xisto-verde alta. As observações
petrográficas sugerem, em especial na Folha Serra
As amostras analisadas compõem uma seqüên- Pelada, que parte dos granitóides analisados e atri-
cia de rochas granitóides, cuja paragênese é com- buídos ao Complexo Xingu poderiam representar
patível com as condições físico-químicas inerentes catametamorfitos da Suíte Metamórfica Bacajaí re-
à fácies anfibolito. trometamorfizados à fácies anfibolito.
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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
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SB.22-X-D (Marabá)
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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
Trata-se de rochas ortoanfibolíticas, cuja para- de ambiente tipo fundo oceânico para arco-de-ilha,
gênese é dominada pela associação hornblen- ocupando posição de front arc. A classificação quí-
da-plagioclásio, em quantidades aproximadamen- mico-mineralógica das rochas é predominante-
te iguais entre si e dispostas segundo um arranjo mente do tipo basalto/toleiíto com pequenas varia-
mútuo, nematoblástico eqüidimensional. ções para basalto/traquiandesito, andesito basálti-
A associação mineral é diagnóstica de meta- co, andesito e olivina basalto.
morfismo sob condições físico-químicas reinantes
na fácies anfibolito.
A hornblenda verde ocorre como cristais pris- 2.3.1.5 Grupo Paredão (Domínio Transcorrente
máticos hipidioblásticos, circunstancialmente poi- com Cavalgamentos Associados ) – Ppa
quiloblásticos e fortemente orientados segundo
uma direção preferencial. Distribuição Geográfica, Morfologia e Relações
O plagioclásio é geralmente do tipo andesina, de Contato
ocorrendo como cristais tabulares hipidioblásti-
cos, exibindo parcial alteração a sericita e geral- A área de ocorrência dessa unidade situa-se no
mente orientados paralelamente aos cristais de flanco sudoeste da folha, a partir das proximidades
hornblenda. do rio Itacaiúnas, estendendo-se para sul e ultra-
Grânulos de opacos e de titanita ocorrem em ín- passando os limites cartográficos para oeste (figu-
tima associação com cristais de hornblenda. ra 2.13).
Granada e diopsídio são duas fases minerais va- Seus litótipos foram confirmados em afloramen-
rietais ocorrentes nos anfibolitos. tos ocorrentes nos flancos norte e leste da serra ho-
A granada ocorre como cristais xenoblásticos, mônima.
com numerosas inclusões de diopsídio com pa- A morfologia que exibe nesta folha é representa-
drão tipo poiquiloblástico, e a apatita, zircão e cal- da por um relevo plano a levemente ondulado. À
cita são fases minerais acessórias que ocorrem lo- medida que se avança para oeste, adentrando na
calmente nas rochas anfibolíticas. Folha Serra Pelada, o relevo torna-se montanhoso,
O conjunto anfibolítico Tapirapé evidencia uma com os flancos norte e sul bem talhados, com en-
ação metamórfica e doformacional sobre protólito costas abruptas.
de natureza basáltica. As evidências texturais e pa- O contato que o Grupo Paredão mantém com as
ragenéticas indicam o envolvimento do Anfibolito demais unidades vizinhas, foi baseado em critérios
Tapirapé num regime tectônico compressivo, após interpretativos, não observados em campo, sendo
sua implantação em regime transtrativo, como se que a norte dá-se com a Unidade Bacajaí, a leste
deduz das reações minerais em equilíbrio, denun- com a Formação Couto Magalhães, a sul com os
ciando um retrometamorfismo por alçamento tectô- grupos Rio Novo e Tapirapé, e a oeste estende-se
nico a níveis crustais superiores. para a folha vizinha.
Não foi possível caracterizar uma feição geofísi- Os principais litótipos descritos na área de ocor-
ca própria para esse grupo. Isso ocorre mais em rência do Grupo Paredão, em especial no contexto
função da pequena área de exposição que a repre- da Folha Serra Pelada, são representados por are-
senta, do que pela sua constituição litológica, re- nitos ortoquartzíticos e subordinadamente, arenitos
presentada por rochas ortoanfibolíticas. Assim, en- arcosianos e conglomeráticos, grauvacas e con-
tre os sensores geofísicos analisados, apenas o glomerados.
magnético aéreo sugere que o contato entre essa O tipo litológico predominante é um arenito orto-
unidade e o Grupo Rio Novo ocorre através de uma quartzítico, de coloração creme-esbranquiçado a
zona de transcorrência de caráter sinistral. rosa, granulometria de fina a média, com grãos
Os índices geoquímicos utilizados na Folha Ser- apresentando um grau de esfericidade que varia
ra Pelada, indicaram que esta unidade ocupa pre- de subanguloso a subarredondado, mal seleciona-
ferencialmente ambientes oceânicos, arcos insula- do, apresentando-se, em geral, bem litificado, sen-
res ou ilhas oceânicas, situando-se na faixa dos to- do que os exemplares mais friáveis são bastante
leiítos de arcos insulares. Têm caráter de transição subordinados.
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SB.22-X-D (Marabá)
Em geral, esses arenitos formam espessos pa- Os conglomerados são constituídos por matriz
cotes, onde se observa como estrutura primária angulosa mal selecionada, sem estruturação, colora-
predominante a estratificação plano-horizontal, po- ção avermelhada e, por vezes, esverdeada. A com-
dendo, no topo das camadas, ser observada uma posição é arcosiana (feldspato + quartzo), envolven-
certa ondulação (estratificação cruzada foi obser- do seixos polimíticos de silexito, quartzito, formação
vada em blocos rolados). ferrífera, vulcânicas básicas e quartzo, que não se to-
Em uma seção que corta transversalmente a bor- cam, e emprestam à rocha um arcabouço aberto.
da oeste da serra do Paredão, observam-se, inter- Ao microscópio, esta rocha conglomerática ar-
calados ao arenito ortoquartzítico, níveis de areni- cosiana exibe certas feições calaclásticas a proto-
tos conglomeráticos, onde os grãos de quartzo se miloníticas. Muitas vezes, torna-se difícil observa-
mostram um tanto quanto alongados, de forma li- rem-se tais feições, em face do corte impróprio
geiramente amendoada, sugerindo que os sedi- dado na rocha, da incipiente deformação e da gra-
mentos se encontram, pelo menos localmente, de- nulometria muito grosseira do sedimento.
formados e metamorfizados.
Ao microscópio, os arenitos ortoquartzíticos
mostram-se ineqüigranulares, com matriz quartzo- Assinaturas Geofísica e Geoquímica
sa e cimentados por sílica e raramente por óxido de
ferro. O contato entre os grãos se dá de forma pre- O Grupo Paredão exibe uma particular feição
dominantemente retilínea e, em menor monta, côn- magnetométrica. Trata-se de uma série de ano-
cavos e suturados. Os grãos de quartzo, em geral, malias dipolares em pares positivos e negativos,
apresentam-se com sobrecrescimento de sílica se- com pequenos comprimentos de onda e fortes gra-
cundária, extinção variando de moderada a forte- dientes, as quais associam-se aos domínios das
mente ondulante. Os contatos poligonizados são grauvacas e dos diques de diabásio. Estes últimos,
freqüentes e indicam um moderado grau de recris- de idade mais jovem, intrudidos nessa unidade. A
talização sofrido pela rocha, que, conforme a fraca gamaespectrometria exibe valores inferiores a
orientação dos grãos de quartzo, sugere um fraco 400cps. A gravimetria marca a possível zona de
metamorfismo imposto à rocha ou uma forte diagê- contato deste grupo com a Suíte Metamórfica Ba-
nese que, em face da composição da rocha, não cajaí, através da passagem de um gradiente mer-
permite maiores conclusões. gulhado a lete para outro, formando um alto a norte.
A grauvaca é uma litologia subordinada, tanto Nas rochas desta unidade não foram efetuados
nos domínios da Folha Serra Pelada como na Folha estudos geoquímicos.
Marabá, onde aflora sob a forma de blocos arre-
dondados, de dimensões que variam de decimé-
trica a centimétrica. A coloração é cinza-escuro, Metamorfismo e Deformação do Cinturão
granulometria média, aspecto maciço e fortemente Itacaiúnas
litificada (RM-41).
Ao microscópio, observa-se que a rocha se Conforme já referenciado anteriormente, os as-
apresenta constituída por quartzo, plagioclásio, pectos inerentes ao Cinturão Itacaiúnas constituem,
microclina e fragmentos de rochas. Os grãos mi- em sua maior parte, um extrato das considerações
nerais e de fragmentos de rochas, que cons- apresentadas na Folha Serra Pelada (no prelo).
tituem o litótipo, apresentam-se predominante- Desta forma, são aqui apresentadas as observa-
mente angulosos e mal selecionados. Os mine- ções sobre metamorfismo e deformação das unida-
rais acessórios mais comuns são a clorita, a des Suíte Bacajaí, Complexo Xingu e grupos Tapi-
muscovita, o epídoto, opacos, zircão e carbona- rapé e Rio Novo, ocorrentes no âmbito da Folha Ma-
to, este muito subordinadamente. A matriz, em rabá.
geral, é constituída pela associação clorita, seri- Suíte Metamórfica Bacajaí – as rochas da Suíte
cita e argilominerais. Bacajaí ocupam a maior parte da área de ocorrên-
Os exemplares de grauvacas estudados na Fo- cia do Cinturão Itacaiúnas na Folha Marabá. A uni-
lha Serra Pelada, exibem grão minerais alongados dade é caracterizada por um metamorfismo retró-
e orientados preferencialmente, sugerindo tra- grado, através das relações texturais e paragenéti-
tar-se de uma foliação metamórfica, evidenciando, cas dos granulitos básicos (piriclasitos) e ácidos
portanto, estarem as mesmas metamorfizadas (me- (charnokitos - charno-enderbitos e granoblastitos)
tagrauvacas ou grauvacas protomiloníticas). e metassedimentos (kinzigitos).
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SB.22-X-D (Marabá)
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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
No Grupo Rio Novo, as datações efetuadas por 2.3.2 Cinturão Araguaia (Regime Compressivo
Machado et al. (op.cit.), através do método U/Pb, Oblíquo)
em rochas do Complexo Luanga, intrudidas no re-
ferido grupo indicam idade de 2.763 ± 6Ma. Histórico
Idades semelhantes foram obtidas em xistos do
Grupo Salobo por Tassinari et al. (1982), através do O desenvolvimento histórico do relacionamento
método Rb/Sr, alcan; ando 2.700 ±150Ma, e em ro- entre os conjuntos litológicos que formam esta pro-
chas vulcânicas básicas do Grupo Grão-Pará por víncia geotectônica, tem sido objeto de diferentes in-
Wirth et al. (1986), pelo método U/Pb, atingindo terpretações no decorrer do tempo. A principal con-
2.768 ± 78Ma. trovérsia que tem sido suscitada diz respeito, princi-
As litologias do Complexo Luanga foram englo- palmente, ao posicionamento estratigráfico bem
badas no Grupo Rio Novo por Oliveira et al. (op. como à própria definição das unidades geológicas.
cit.). Também pelos dados acima, torna-se possível Atualmente, pode-se entender, que o motivo das
uma correlação do Grupo Rio Novo, em tempos conflitantes versões está intimamente relacionado
temporais e evolutivos com os grupos Grão-Pará e à impossibilidade de um perfeito entendimento do
Salobo. Da mesma forma, para Araújo et al. (op. posicionamento estratigráfico regional, em função
cit.), outras correlações podem ser feitas com se- da movimentação compressiva que impôs mudan-
qüências tipo greenstone belts do sul do Pará. ças expressivas nas posições espaciais originais
No Grupo Tapirapé, o estudo geocronológico dos conjuntos litológicos.
realizado por Amaral (op. cit.), através do método Outro fator que tem dificultado o entendimento do
K/Ar, em anfibolito do setor oeste da serra Tapira- quadro geológico se refere à setorização dos estu-
pé, revelou idade de 3.280 ± 113Ma. Talvez pela dos, ou seja, o desenvolvimento de trabalhos sem
suspeita de contaminação em argônio, verifica-se vinculação com programas sistemáticos e, em dife-
que é contrastante este resultado com outros de rentes escalas, resultando em um quadro de dados
datações em anfibolitos da região do rio Itacaiúnas heterogêneos, que ainda não proporcionou um en-
e adjacências, pertencentes a essa unidade. tendimento integrado satisfatório, dos diversos as-
Assim, Gomes et al. (op. cit.) dataram tais rochas, pectos litoestruturais desse segmento crustal. Além
pelos métodos K/Ar e Rb/Sr, obtendo idades de disso, o caráter gradacional entre as litologias que
2.222 ± 32Ma, 2.160 ± 140Ma e 2.130 ± 78Ma. compõem as unidades e do contato entre estas, são
Para Oliveira et al. (op.cit.) uma análise desses fatores limitadores a definições mais acuradas.
dados mostram que são incompatíveis a outros A primeira referência geológica sobre as rochas
segmentos arqueanos da região, tais como, os dos do cinturão deve-se a Moraes Rego (1933), que defi-
grupos Salobo, Rio Novo, Gão-Pará, etc., ou então, niu a Série Tocantins. Autores como Shearer et al.
tal incompatibilidade deve-se à deficiência da apli- (1944), Campbell (1949) e Kegel (1952), este último
cação do método K/Ar, em rochas antigas, subme- relatando os estudos que Othon H. Leonardos, Pe-
tidas a eventos termais. dro de Moura e R. Fleury realizaram em 1938 em ro-
No Grupo Paredão, as informações sobre o pos- chas do cinturão, deram contribuições referentes a
sível posicionamento desta unidade, deve-se a hi- descrições litológicas em diversas localidades, al-
póteses levantadas por Serique et al. (1984), que guns citando ocorrências de cristal-de-rocha e dia-
acham, por analogia aos sedimentos da Área Gran- mante.
ja na serra do Carajás, que as litologias desse gru- A partir de meados da década de sessenta co-
po sejam de idade pré-cambriana. Da mesma ma- meçaram a surgir trabalhos de caráter mais abran-
neira, Ramal et al.(1984), repetem haver semelhan- gente e sistemático, destacando-se o Projeto Ara-
ça com os arenitos da Área Granja, com provável guaia, de Barbosa et al. (op.cit.), os quais entre ou-
idade entre 1.800 a 2.200Ma. tras questões de cunho mais regionalizado reuni-
Entretanto, pela afinidade espacial, ligado ao ram os metassedimentos nas séries Araxá e Tocan-
Sistema Castanheira, assim como pelos registros tins, com base em critérios metamórficos. Almeida
das descrições de lâminas, denunciando metamor- (op.cit.) enquadrou estas séries na categoria de
fismo em caráter protomilonítico a epimetamórfico Grupo, incluindo-as na Faixa de Dobramentos Pa-
de algumas de suas amostras, permitem correla- raguai-Araguaia. Puty et al. (op.cit.), Reis et al.
cionar tal unidade à Formação Águas Claras, con- (1974) e Silva et al. (op.cit.), mantiveram a categoria
seqüentemente, ligada à fase final da implantação de Grupo, tendo estes últimos definido ainda a Fai-
do domínio transcorrente do Cinturão Itacaiúnas. xa Orogênica Araguaia-Tocantins. Almeida (1974)
– 32 –
SB.22-X-D (Marabá)
reconhece uma geossutura no limite do Cráton do racteriza por feições longitudinais submeridianas,
Guaporé com a Faixa de Dobramentos Para- concordante com o comportamento litológico-estru-
guai-Araguaia, denominando-a Geossutura Tocan- tural da área. Também analisando as cartas magnéti-
tins-Araguaia. cas do Projeto Geofísico Brasil - Canadá (1979), rela-
Da segunda metade da década de setenta em tou que elas oferecem condições à individualização
diante, surgiram trabalhos específicos envolvendo de domínios magnéticos correlacionáveis às lito-
aspectos diversos sobre as rochas do cinturão. Hasui logias e estruturas do arcabouço tectônico regional.
et al. (1975) mostraram que a denominação Araxá Costa et al. (1988) definiram o Cinturão Araguaia
não poderia ser mantida para os metassedimentos como um cinturão de cisalhamento oblíquo caval-
dos Cinturão Araguaia, devido a suas vergências gante, descaracterizando a anterior concepção de
opostas, portanto, o termo Araxá foi substituído por cinturão de dobramento. Hasui & Costa (1990)
Estrondo. Hasui et al. (1977) definiram o Grupo Baixo apresentaram uma revisão do modelo litoestrutural
Araguaia constituído, da base para o topo, pelas for- do Cinturão Araguaia, dividindo-o em duas unida-
mações Estrondo, Couto Magalhães e Pequizeiro. des maiores: o Complexo Colméia e o Supergrupo
Abreu (1978) definiu o Supergrupo Baixo Araguaia, Baixo Araguaia, este último compreendendo o Gru-
formado pelos grupos Estrondo e Tocantins, sendo o po Estrondo, na base, e o Grupo Pequizeiro, no
primeiro constituído pelas formações Morro do Cam- topo. A estruturação teria sido decorrente de imbri-
po e Xambioá, e o segundo formado pelas formações cação generalizada das unidades litológicas, com-
Couto Magalhães e Pequizeiro. preendendo dois pulsos cinemáticos. O primeiro
Costa (1980) definiu a Formação Canto da Vazan- representado por cavalgamentos dúcteis e o se-
te, relacionada ao Grupo Estrondo, posicionando-a gundo por dobramentos e falhas transcorrentes.
sobre a Formação Xambioá. Gorayeb (1981) inver- Lima & Costa (1992) desenvolveram estudos estru-
teu a posição estratigráfica das formações Pequizei- turais em níveis macro, meso e micro no Cinturão
ro e Couto Magalhães e observou que as passagens Araguaia, entre as cidades de Marabá e São João
entre as unidades é gradacional. Cunha et al. do Araguaia, tendo observado estruturas planares
(op.cit.) corroboraram que não havia discordância e lineares, resultantes da deformação progressiva,
entre as unidades do cinturão, e que os contatos são as quais evoluem do campo do achatamento para o
gradacionais. Matta (1982) estudou a falha de em- contracional de oeste para leste.
purrão de Tucuruí e estabeleceu um modelo estrutu- A figura 2.14 mostra a disposição das unidades
ral para a área com três fases de deformações su- litoestratigráficas e o arranjo estrutural simplificado
cessivas. Teixeira (1984) seguiu fundamentalmente do Cinturão Araguaia, na área da Folha Marabá.
a coluna de Costa (op.cit.), porém suprimiu a Forma-
ção Canto da Vazante. Santos et al. (1984) e Souza
(1984), entre outros, mantiveram a divisão estrati- 2.3.2.1 Formação Xambioá – Pxb
gráfica do Supergrupo Baixo Araguaia proposta por
Abreu (op.cit.). Hasui et al. (op.cit.) fizeram uma sín- Distribuição Geográfica, Morfologia e Relações
tese dos conhecimentos geológicos do setor seten- de Contato
trional da Província do Tapajós, admitindo uma sub-
sidência do embasamento da Faixa Araguaia, na Na Folha Marabá, as rochas da Formação Xam-
forma de depressão geossinclinal que permitiu a de- bioá dispõem-se em uma faixa de direção sub-
posição do pacote Baixo Araguaia, envolvendo a meridiana, localizada no setor centro-leste da fo-
Geossutura Tocantins-Araguaia, a qual fragmentou lha, com 28km de largura e 40km de extensão (fi-
a crosta possibilitando a ascensão de material bási- gura 2.14).
co-ultrabásico do manto. O relevo apresenta uma expressão mais acen-
A partir dos trabalhos de Hasui et al. (op. cit.) e Ha- tuada na porção leste desta faixa, sustentado por
sui e Haralyi (op.cit.), a arquitetura crustal da Região veios de quartzo e lentes de quartzitos, não mapeá-
Amazônica tem sido entendida através da articula- veis na escala de trabalho, as últimas provavelmen-
ção de blocos crustais, o que permite que interpreta- te pertencentes à Formação Morro do Campo. Tan-
ções mais modernas visualizem a compressão oblí- to os veios de quartzo, quanto os quartzitos, dis-
qua a que foi submetido o Cinturão Araguaia, como põem-se na direção geral N-S. Na parte oeste, o re-
resultante do cavalgamento do Bloco Porangatu so- levo torna-se mais suave, em consonância com a
bre o Bloco Araguacema. Carvalho (1988) mostrou redução gradativa da ocorrência de veios de quart-
que o padrão gravimétrico da Faixa Araguaia se ca- zo e quartzitos.
– 33 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
49º30’ 48º00’
-5º00’ -5º00’
Pcm
ITUPIRANGA
Pcm
Pcm
T
o
R i c
o a
n t
i n s
MARABÁ
Pcm SÃO JOÃO DO
ARAGUAIA
Pcm R i o
Ara
Pcm Pcm
gu a
ia
Pmu v Ppq
Pcm
Pmu Pcm
BREJO GRANDE ARAGUATINS
DO ARAGUAIA
Pcm Pxb
Pmu
Pcm Ppq
Pxb
-6º00’ Pcm -6º00’
49º30’ 0 10 20km 48º00’
– 34 –
SB.22-X-D (Marabá)
Ainda neste item, mencionam-se os quartzitos fer- cro-ocelos de epídoto rotacionados com sentido si-
ruginosos (PM-133, 152 e 159) pertencentes à For- nistral. Não obstante, as fortes transformações mine-
mação Morro do Campo, não mapeáveis na escala ralógicas e a extrema deformação cisalhante dúctil,
de trabalho. Dos três afloramentos estudados, dois com obliteração total das características texturais e
(PM-152 e 159) são compostos por grandes blocos mineralógicas originais, admite-se que tais tipos pe-
deslocados e, no outro, as rochas estão in situ trográficos poderiam representar metavulcânicas
(PM-133). Neste último afloramento, pode-se obser- máficas intercaladas no pacote metassedimentar.
var, nitidamente, a intercalação rítmica dos quartzi- Esses xistos máficos exibem uma textura tipica-
tos com os xistos da Formação Xambioá, em leitos mente nematoblástica em que os seus comporta-
de aproximadamente dois metros de espessura. Os mentos mineralógicos não se dispõem em um pa-
quartzitos têm granulação média a localmente gros- drão de leitos ou níveis diferenciados e/ou segrega-
sa, exibem bandamento paralelo à foliação, e apre- dos. Em geral a associação actinolita, tremolita,
sentam intercalação rítmica de níveis claros com ní- epídoto e clorita, constitui uma massa mineralógi-
veis cinza-médio a escuro, ferruginosos. ca, incorporando grãos xenoblásticos de quartzo,
A análise microscópica de um conjunto repre- cuja conseqüência textural está relacionada ao me-
sentativo de rochas permitiu a caracterização das tamorfismo e à deformação, em sincronismo tem-
variedades petrográficas mais significativas da uni- poral com uma forte tansposição estrutural, ineren-
dade. Portanto, a Formação Xambioá é representa- te ao regime de cisalhamento dúctil impresso nesta
da dominantemente por xistos a base de quartzo, litologia.
biotita, muscovita, granada, epídoto e clorita. Em quantidade extremamente subordinada e
Os biotita-muscovita xistos apresentam uma folia- sem expressão no nível da escala de trabalho,
ção milonítica penetrativa, caracterizada pela alter- ocorrem quartzitos a magnetita, os quais mostram
nância algo regular de leitos micáceos e quartzosos uma tendência à segregação em níveis quartzo-
(fotos 9 e 10). O aspecto microestrutural mais mar- sos e ferruginosos. O conjunto quartzo-magnetita
cante é o desenvolvimento de um padrão anastomó- dispõe-se segundo uma forte orientação preferen-
tico e evidências de forte transposição dos corpos cial, traduzida por uma foliação milonítica. No pa-
rochosos. De um modo geral, a muscovita e a biotita drão microestrutural destacam-se os grãos de
ocorrem em íntima associação com granada, epído- quartzo com acentuado aspecto de recuperação e
to e clorita em quantidades subordinadas, definindo recristalização estática, que evolui para um arranjo
localmente a clivagem de crenulação. Os leitos textural granoblástico poligonal e conseqüente eli-
quatzosos são compostos por agregados de grãos minação dos efeitos de tensões internas.
de quartzo policristalinos e fases de recristalização A textura exibida pelos quartzos é em geral gra-
sin e pós-cinemática. noblástica ineqüigranular, cujos contatos intergra-
O arranjo mútuo entre os grãos minerais desenha nulares mostram uma tendência ao desenvolvi-
um padrão textural lepidoblástico em que a biotita e mento de junção tríplice, como conseqüência de
a muscovita se dispõem como agregados filitosos uma moderada recristalização pós-cinemática. A
em nítida orientação preferencial, contrastando presença de delgados e subrdinados níveis de
com os leitos de quartzo, exibindo internamente um magnetita empresta aos quartzitos um arranjo tex-
arranjo textural granoblástico algo poligonizado, tural algo granolepidoblástico, em que os níveis de
com contatos intergranulares formando ângulo die- agregados de grãos de magnetita se alternam irre-
dral em junção tríplice. A textura interna dos níveis gularmente com os agregados quartzosos policris-
micáceos e quartzosos são fortemente contrastan- talinos e anelados. O padrão textural, como eviden-
tes e resultantes dos diferentes comportamentos ciado pelo relacionamento intergranular, resulta do
reológicos entre as duas fases. O forte e conspícuo metamorfismo e da deformação, intimamente liga-
arranjo textural lepidoblástico é decorrente do forte dos a um processo estrutural envolvendo uma forte
processo de transposição estrutural sofrido por es- transposição destes litótipos.
tes litótipos.
É freqüente a ocorrência de anfibólio xistos, a
exemplo daquele da estação PM-149, caracteriza- Assinaturas Geofísica e Geoquímica
do por uma associação de actinolita-tremolita-quart-
zo-epídoto-clorita, dispostos segundo uma forte ani- Esta formação acha-se representada por uma
sotropia planar, materializada por uma foliação milo- unidade magnetométrica, onde o paralelismo das
nítica; nesse arranjo destacam-se grãos ou mi- isolinhas na direção E-W, acha-se interrompido
– 35 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
Fração quartzosa/
Foliação quartzo-feldspática Fração micácea
Caracterização Litológica e Petrográfica
Figura 2.15 (PM -167) – Xistos da Formação Pequizeiro
Os xistos desta unidade são freqüentemente do apresentando dobras intrafoliais desarmônicas
tipo cálcio-muscovita-quartzo-clorita xistos, com apertadas. Sigmóides quartzosas, lenticularização
granulação média a fina, colorações esverdeadas e anastomose são feições de ocorrência
e tendo cores de alteração amareladas e/ou esver- generalizada nas rochas do Cinturão Araguaia.
deadas. Movimentação dominantemente sinistral.
– 36 –
SB.22-X-D (Marabá)
A observação em escala microscópica dos tipos 2.3.2.3 Formação Couto Magalhães – Pcm
rochosos componentes da Unidade Pequizeiro,
denuncia uma marcante homogeneidade microes- Distribuição Geográfica, Morfologia e Relações
trutural e paragenética, em função dos espécimes de Contato
coletados e analisados.
O padrão textural exibido é tipicamente lepido- A Unidade Couto Magalhães ocupa uma grande
blástico a granolepidoblástico, em que a alternân- porção da região centro-oeste da folha. Suas litolo-
cia algo regular de leitos micáceos e quartzosos gias encontram-se dispostas em uma faixa de dire-
denuncia uma extrema diferenciação por segrega- ção norte-sul, tendo aproximadamente 65km de
ção metamórfica. Os leitos micáceos mostram uma largura por 83km de comprimento. Nas proximida-
forte orientação preferencial, exibindo internamen- des do limite norte da folha, a unidade desaparece
te microcrenulações, enquanto os níveis quartzo- sob as rochas da Formação Itapecuru (figura 2.14).
sos ocorrem como agregados policristalinos poli- Com referência às feições morfológicas, obser-
gonizados isogranulares, com contatos intergranu- va-se a predominância de um aspecto bastante ho-
lares em junção tríplice, incorporando grãos de car- mogêneo, para a maior parte da unidade, o que se
bonato com recristalização anômala. Entre os dife- encontra refletido nos sensores remotos de caráter
rentes leitos quartzosos existem diferenças granu- fotográfico. Estes aspectos são verificados no terre-
lométricas, em função das diferentes intensidades no, através da existência de um sistema de serras,
do processo de cominuição resultante da miloniti- que estabelecem um padrão suavemente ondulado.
zação inerente à transposição estrutural ocorrida. Nas proximidades do contato com o Cinturão Ita-
A visualização conjunta mostra uma dominân- caiúnas, o relevo assume características topográfi-
cia de quartzo-muscovita-clorita xistos como tipos cas mais elevadas, com desníveis mais íngremes,
paraderivados, cujo grau metamórfico e taxas de- principalmente devido a presença de silexitos e ro-
formacionais constituem aspectos constantes chas ferríferas bandadas, mais competentes.
destes micaxistos. De um modo geral, o conspí- A Formação Couto Magalhães mantém relação
cuo bandamento composicional resultante de ex- de contato de caráter discordante com as rochas
trema deformação, com microdobras apertadas e do Cinturão Itacaiúnas nas proximidades do limite
conseqüentes transposições estruturais (fotos 12 oeste da folha, através de zona de cisalhamento
e 13), se materializa por uma alternância irregular com caráter de cavalgamento oblíquo. Ao norte, o
de leitos micáceos e níveis quartzosos em padrão contato é de natureza discordante com a Formação
de arranjo estrutural anastomótico. Os leitos micá- Itapecuru. Para leste, a Unidade Couto Magalhães
ceos são constituídos por um aglomerado de mus- está em contato com as formações Pequizeiro e Ita-
covita e clorita como fases dominantes, tendo em pecuru, sendo com a primeira por contato grada-
associação quantidades subordinadas e variáveis cional através de zona de cisalhamento com trans-
de opacos, epídoto, apatita e mais raramente de formações mineralógicas progressivas, e com a
turmalina. Formação Itapecuru por discordância angular e
erosiva. Igualmente apresentando caráter discor-
dante angular, registra-se o contato da Formação
Assinatura Geofísica Couto Magalhães com as formações Itapecuru e
Pedra de Fogo, no graben situado ao redor da cida-
Tanto os sensores aerogeofísicos (magnetome- de de Marabá.
tria e gamaespectrometria) como o terrestre (gravi-
metria), não apresentaram feições planares carac-
terísticas que pudessem ser correlacionadas com Caracterização Litológica e Petrográfica
a unidade geológica em questão. Até porque, sua
faixa de exposição não ultrapassa a 8km de largu- Em termos regionais a Formação Couto Maga-
ra. Contudo, uma grande peculiaridade revelada lhães compreende litótipos como filitos, ardósias,
pela geofísica aérea e terrestre é uma feição linear, xistos (de granulação fina), quartzitos e calcários
caracterizada pelos arranjos das isolinhas, corres- com baixo grau de metamorfismo. Na área da fo-
pondendo a um grande alinhamento na mesma di- lha predominam xistos de granulação fina gradan-
reção da camada, aproximadamente NNW-SSE, do a filitos. A fácies metamórfica situa-se do xis-
que marca o contato entre esta unidade e a Forma- to-verde baixo a médio, alcançando o grau anqui-
ção Couto Magalhães. metamórfico.
– 37 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
As espécies rochosas representativas dos xistos nais os trabalhos anteriores delimitaram uma faixa
de granulação fina, apresentam bandamento com- descontínua de direção N-S, estendendo-se desde
posicional paralelo à xistosidade. a cidade de Araguacema até a norte do rio Itacaiú-
Filmes de minerais micáceos intercalam-se ritmi- nas, na qual aflorariam corpos ultramáficos, com di-
camente, definindo a foliação milonítica. À seme- mensões variadas, alcançando até 50km de com-
lhança das rochas das unidades anteriores, a folia- primento por 5km de largura, situados nas proximi-
ção apresenta-se anastomosada, com presença dades da área cratônica.
de feições de transposições, massas minerais com Porém, trabalhos como os de Gorayeb (1989) e
formas sigmoidais, lenticularização, boudinagem, Souza (no prelo), entre outros, demonstraram que,
estruturas S-C, etc. na verdade, em apenas pequenas porções dos cor-
As espécies pelíticas têm constituição quase pos, afloram rochas ultramáficas. Souza (op.cit.) de-
monominerálica, compreendendo essencialmente nominou estes segmentos como Associação Máfi-
sericita com algum quartzo disseminado (figura ca-Ultramáfica Serra do Tapa, composta por ser-
2.16, foto 14). Os afloramentos estudados apresen- pentinitos, metabasaltos e silexitos, com quantida-
tam-se normalmente bastante alterados pelo intem- des subordinadas de talco xistos, clorita xistos,
perismo, em face da pronunciada dominância de quartzitos ferríferos bandados e filitos.
material pelítico sob a forma de filossilicatos. Com Segundo Gorayeb (op. cit.) não se trata de cor-
isto, o aspecto melhor observado, mesoscopica- pos intrusivos, teriam características alóctores e
mente, refere-se à anisotropia estrutural penetrati- seriam formados antes ou durante a tectogênese
va, caracterizada como do tipo clivagem ardosiana do Cinturão Araguaia.
(foto 15), resultante do deslizamento por fluxo plás- As dobras de crenulação, feições comuns na For-
tico dos leitos minerais entre si. Estas anisotropias mação Couto Magalhães, são micro-ondulações da
são marcadas pela superposição de filmes de mi- foliação milonítica em forma de sucessivas feições
nerais micáceos. A direção média é norte-sul com antiformais e sinformais, os ângulos interflancos são
mergulhos de 35°-65° para leste. normalmente fechados e os ápices espessados
Ainda compondo esta unidade são encontradas (foto 16). Assumem formas variando de assimétricas
na folha, sob a forma de corpos com dimensões a simétricas, às vezes com os flancos rompidos. Na
restritas, espécies rochosas representadas essen- progressão da deformação a transposição em fai-
cialmente por silexitos e rochas ferríferas banda- xas justapostas gera a clivagem de crenulação. Os
das, estas com menor expressão. Em termos regio- planos axiais das dobras de crenulação e dos pla-
nos de clivagem de crenulação têm postura subver-
tical, com orientações NNW-SSE a WNW.
As dobras de maior amplitude, que têm ocorrên-
cia preferencial nesta unidade, apresentam um esti-
lo holomórfico com perfis suaves e abertos (fotos 17
e 18). São dobras simétricas a levemente assimétri-
cas, desenhadas pela foliação milonítica bandada,
com planos axiais de direção submeridiana com
pouca inclinação para leste.
As variedades petrográficas observadas no cur-
so do mapeamento são representadas por filitos e
quartzo-sericita-clorita xistos de granulação extre-
mamente fina (fotomicrografia 2.19), como um con-
junto tipicamente metassedimentar, com caracte-
rísticas de passagens transicionais para os metas-
sedimentos da Unidade Pequizeiro.
0 5cm
Na análise conjunta destes tipos petrográficos
Foliação milonítica dobrada
por banda de cisalhamento são marcantes a granulometria extremamente final,
a predominante natureza pelítica e a aparente rela-
Figura 2.16 (RM-11) – Metapelitos da Formação Couto tiva modificação do estilo estrutural.
Magalhães com dobras assimétricas resultantes da De um modo geral a textura exibida é lepidoblás-
atuação de bandas de cisalhamento marcadas por tica, em que os minerais filitosos se agregam em ní-
filmes silicosos. veis com alternância regular a irregular com leitos
– 38 –
SB.22-X-D (Marabá)
silicosos. Estes são representados por uma massa os grandes alinhamentos de direção N-S. Na gravi-
de quartzo microcriptocristalino incorporando metria, dois grandes alinhamentos secundários, de
grãos clásticos maiores de forma xenoblástica. Os direções NE-SW e NW-SE, cruzam-se sobre esta
níveis filitosos representados por uma massa de unidade, sugerindo articulação de blocos.
palhetas microcristalinas de sericita, manchadas
por óxido de ferro, se dispõem em acentuada orien-
tação preferencial, marcando uma foliação miloníti- Metamorfismo e Deformação do Cinturão
ca por trasnsposição estrutural. Araguaia
Alternâncias irregulares entre níveis filitosos e sili-
cosos, em escala milimétrica, são resultantes de ex- O Cinturão Araguaia representa uma entidade
trema deformação, com subseqüente transforma- geotectônica composta dominantemente, por uma
ção em estágio milonítico (foto 20). Em todas as es- seqüência pelítica, cujo metamorfismo obedeceu
pécies analisadas é visível o caráter de deformação às condições físico-químicas reinantes na epizona
polifásica com destaque para as estruturas micro- e cujos processos deformacionais associados exi-
crenuladas nos feixes micáceos (fotos 21, 22 e 23). bem uma larga heterogeneidade na sua progres-
Os níveis silicosos são representados por quartzo são e intensidade.
microcristalino, com alguns grãos exibindo cresci- A visualização regionalizada do cinturão, mostra
mento ou recristalização anormal. Em associação, que suas unidades litoestratigráficas se inter-relacio-
ocorrem com freqüência grãos relativamente bem nam de forma íntima, onde as variações físico-quími-
desenvolvidos de calcita. cas, que determinam a faciologia metamórfica, têm
A outra variedade relativamente dominante é re- passagem contínua e gradacional no range anqui-
presentada por filitos ou ardósias filíticas, em que a metamorfismo - fácies xisto-verde alto, como obser-
paragênese é constituída por sericita e quartzo, vado no curso do mapeamento da Folha Marabá.
ocorrendo em dimensões microcriptocristalina, Considerando-se a direção do esforço compres-
com forte orientação preferencial, marcando uma sivo, o trend da foliação regional e a vergência do
conspícua foliação e mostrando uma tendência à cinturão como invariáveis, nos domínios geográfi-
segregação em leitos filitosos e quartzosos. cos da Folha Marabá, os aspectos metamórficos e
deformacionais são considerados de forma conjun-
ta com relação às formações Xambioá , Pequizeiro
Assinatura Geofísica e Couto Magalhães.
A observação generalizada sobre as estações
Duas distintas feições magnetométricas são re- das diferentes seções geológicas realizadas, de-
gistradas nesta unidade. Uma caracterizada pela nuncia uma certa coerência nos traços macro,
agitação do relevo e aparecimento de anomalias, e meso e microestruturais, em função da análise das
a outra apresentando o relevo mais suave de todo o tramas estruturais e das conseqüentes transforma-
padrão regional, interrompido esporadicamente ções e alterações mineralógicas, resultantes das
pela incidência de porções anômalas locais de pe- ações metamórficas deformacionais.
quena intensidade. A primeira, situada a oeste, atri- Os metapelitos mostram, a rigor, uma paragêne-
bui-se tratar de uma zona de contato com o Cinturão se representada por quartzo + albita, + muscovita, +
Itacaiúnas, através de cavalgamentos e transcor- clorita, ± biotita, ± calcita, ± sericita, ± epídoto,
rências, e as anomalias alongadas na direção N-S, como componentes majoritários, refletindo, de um
associam-se a presença de diques básicos e/ou a modo geral, uma neomineralização por recristali-
presença de formações de rochas ferríferas. A se- zação metamórfica sincinemática, com reações mi-
gunda, no centro-sul da folha, reflete um padrão neralógicas completadas. Esta paragênese domi-
magnético de fundo, extremamente calmo, ditado nante mostra, com freqüência, transformações sob
pelo paralelismo das isolinhas na direção E-W, que condições hidrotermais, com geração de minerais
quando apresentam sucessivas quebras indicam secundários, resultantes da deformação simultâ-
alinhamentos com movimentos direcionais, muitas nea em regime de cisalhamento dúctil. Muscovita e
vezes coincidentes com as linhas dos planos de ca- clorita ocorrem geralmente como leitos bem segre-
valgamento e transcorrência impostos ao cinturão. gados dos níveis quartzosos ou quartzosos carbo-
Na gamaespectrometria, o canal de contagem total náticos, gerados por um processo de forte diferen-
ressalta estreitas e alongadas feições com radiação ciação metamórfica e/ou laminação tectônica (foto
máxima de 500cps, quase sempre acompanhando 25), envolvendo uma forte transposição estrutural
– 39 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
(foto 26). Circunstancialmente esse conjunto de lei- A análise em seções favoráveis, do relaciona-
tos algo bem segregados, edificam dobras abertas mento microestrutural entre os porfiroblastos e os
de amplitudes decimétricas a métricas, algo suavi- componentes matriciais, seguem uma linha de evi-
zadas (fotos 17, 18 e 27). dência de diacronismo temporal entre o metamor-
Nos locais de maior taxa de deformação, a assi- fismo e a deformação, caracterizando sobremanei-
metria de pequenos dobramentos com flancos ra um metamorfismo regional ou dinamotermal
rompidos, tais como dobras isoclinais, em bainha e sindeformacional, polifásico, não-coaxial. São qua-
intrafoliais, contribuem para a anastomose da folia- se generalizadas as evidências de um metamorfis-
ção. As atitudes gerais da foliação têm direção sub- mo polifásico, associado a uma deformação hete-
meridiana com mergulhos de 30° a 45° para leste. rogênea e progressiva, atingindo esta, com fre-
Localmente, mudanças das atitudes regionais são qüência, os estágios miloníticos a ultramiloníticos
observadas, devido a acomodações durante a pro- (foto 28).
pagação da deformação heterogênea. No processo metamórfico sindeformacional, fo-
As dobras intrafolias desenhadas pela foliação ram estabelecidas inúmeras zonas de cisalhamen-
milonítica têm amplitudes centimétricas a métricas, to (foto 29), que se arranjam mutuamente, segundo
apresentam ápices espessados e flancos adelga- um padrão anastomótico e, em cujos planos ocor-
çados, freqüentemente rompidos. Os leitos dobra- rem as principais modificações ou transformações
dos constituem-se de proeminentes massas quart- mineralógicas, por hidrotermalismo e incipiente
zo-feldspáticas envolvidas por minerais micáceos. ação retrogressiva.
Os planos axiais são paralelos à foliação e às linhas A sucessão de fases metamórficas imprime es-
de charneira, que às vezes apresentam-se encurva- truturações superpostas com meso (foto 30) e mi-
das, apontando sistematicamente para NNW a NW crocrenulações, relativamente bem desenvolvidas,
com direções variando de NNW-SSE a WNW-ESE. como se observa freqüentemente nos metapelitos
Na continuidade da deformação, os flancos dos das formações Xambioá, Pequizeiro e Couto Maga-
dobramentos tornam-se paralelos entre si e a folia- lhães (fotos 31 e 32).
ção milonítica dando origem às denominadas do- Uma análise mais acurada do conjunto de ti-
bras isoclinais (figura 2.17, foto 24). Seus ápices pologias que compõem o Cinturão Araguaia,
apresentam-se espessados e seus flancos adelga- mostra um decréscimo no grau metamórfico no
çados e por vezes rompidos. rumo oeste onde as proximidades da região cra-
tônica atinge o grau anquimetamórfico, sem
contudo representar um arrefecimento deforma-
cional.
A rigor, a Formação Xambioá na porção mais les-
te da área trabalhada, exibe uma paragênese do-
minada por quartzo, biotita, muscovita e granada,
indicando o grau metamórfico mais avançado da
seção estudada.
A Formação Pequizeiro se destaca por assem-
bléia mineral dominada por quartzo, muscovita e
clorita e a Formação Couto Magalhães, com seus
litótipos na faixa anquimetamórfica, se caracteri-
za pela dominância de componentes finos, com
destaque para quartzo microcristalino, sericita e
clorita.
Essas três unidades mostram, em termos meta-
0 3cm mórficos, uma nítida gradação dos aspectos gra-
Fração quartzosa/ Fração nulométricos e composicionais mineralógicos. Tal
Foliação quartzo-feldspática micácea fato é indicativo de que a Sequência metapelítica
Araguaia materializa uma seqüência metamórfica
Figura 2.17 (PM-165) – Xistos da Formação Pequizeiro regional progressiva de oeste para leste, cuja se-
exibindo dobras isoclinais com planos axiais paralelos paração em unidades litoestratigráficas obedece,
à foliação milonítica, sigmóides quartzo-feldspáticas e unicamente, o critério de estabelecimento de mine-
estruturas S-C. O sentido da movimentação é sinistral. rais-índices ou guias.
– 40 –
SB.22-X-D (Marabá)
Não obstante representar uma significativa se- assim como material carbonático cristalizado, po-
qüência metamórfica progressiva no sentido for- rém ocupando os espaços intergranulares.
mações Couto Magalhães/Pequizeiro/Xambioá, na Em fase sinmetamórfica e sindeformacional, es-
análise regionalizada dessas unidades, é sugesti- ses xistos desenvolvem padrões miloníticos do tipo
vo que, localizadamente, efeitos metamórficos re- S-C, geralmente indicativos de um sentido de movi-
trógrados, estão presentes na Unidade Pequizeiro, mentação sinistral.
traduzidos pela transformação de biotita em clorita. São freqüentes os processos de blastese suces-
De certa forma, o retrometamorfismo da Formação sivos, como se depreende dos crescimentos porfiro-
Xambioá, com características de indução à Forma- blásticos de albita rotacionada e de micas orientadas
ção Pequizeiro, pode ser justificado e entendido paralelamente à xistosidade em fase sincinemática,
pela natureza da forte lenticularização e imbrica- bem como, cristais algo desenvolvidos de micas de-
ção, bem como ao possível alçamento tectônico, sorientadas e não alinhados em relação à matriz xis-
inerente ao regime compressivo oblíquo que carac- tosa em fase pós-cinemática (foto 36).
teriza o Cinturão Araguaia. Desta forma, os indicativos são de que, de um
No curso do metamorfismo sindeformacional, modo geral, as assembléias minerais não se forma-
processos de recuperação e recristalização re- ram simultaneamente, denunciando pequenas re-
presentaram a evolução microestrutural observa- lativas discrepâncias temporais entre o metamor-
da no cinturão, nos domínios da Folha Marabá. fismo e a deformação.
Desta forma, os níveis quartzosos relativamente
bem diferenciados e com freqüente ocorrência
nos micaxistos apresentam uma forte heteroge- Panorama Litogeoquímico do Cinturão
neidade no grau de recristalização, variando Araguaia
dentro dos leitos quartzosos, desde frações forte-
mente cominuídas a frações com acentuada re- Foram analisadas quimicamente 11 amostras de
cristalização (foto 33). rochas metassedimentares distribuídas entre as
Observam-se comumente zonas ou áreas – em unidades Xambioá (3), Couto Magalhães (6) e Pe-
nível microscópico – com um processo de acentua- quizeiro (2).
da recristalização metamórfica, em que os grãos O conjunto de amostras coletadas está distribuí-
de quartzo ocorrem como agregados policristali- do espacialmente conforme indicado na figura
nos em arranjo poligonizado, sem efeito de tensões 2.18. Para a seleção destas amostras utilizou-se so-
internas, indicando uma recristalização estática ou bretudo critérios estratigráficos e petrográficos,
pós-cinemática, com características blastomiloníti- buscando investigar os padrões químicos e even-
cas. Acompanham este processo, de forma íntima, tuais distinções entre os litótipos dessas unidades.
cristais relativamente bem desenvolvidos de calci- As pesquisas foram desenvolvidas em espécimes
ta (fotos 34 e 35). petrograficamente isentos de alterações intempéri-
Internamente, nos leitos micáceos, são conspí- cas e secundárias.
cuos os traços de microplanos de cisalhamento, Os estudos visaram investigar, em nível de reco-
estabelecendo nas micas uma certa configuração nhecimento regional, as características químicas
pisciforme. Os níveis silicosos são representados específicas dos litótipos sedimentares clásticos de
por aglomerados de cristais de quartzo fortemente cada unidade estratigráfica, a natureza quími-
achatados e estirados em função de uma extrema co-petrográfica das áreas-fonte e a paleoambiên-
deformação atingindo o estágio milonítico. Em ínti- cia tectônica deposicional.
ma associação aos grãos de quartzo, ocorrem di- Nos espécimes selecionados por critérios estra-
minutos cristais de albita com desenvolvimento de tigráficos e petrográficos foram analisados os óxi-
incipiente geminação polissintética. A rigor, o con- dos dos elementos maiores e as concentrações de
junto de grãos de quartzo mostra um acentuado elementos-traço, estando estes dados dispostos
processo de recristalização estática, com desen- na tabela 2.1. As análises foram desenvolvidas no
volvimento de agregados microcristalinos poligoni- Laboratório Central de Análises Químicas e
zados, com ausência de feições de tensões inter- Minerais da CPRM – LAMIN, tendo-se obedecido
nas, e mostrando incipientes características blasto- aos procedimentos e critérios dos padrões de con-
miloníticas. Com relativa freqüência, associam-se trole de qualidade analíticos conforme especifica-
aos níveis quartzosos, cristais de calcita como dos no Manual de Controle de Qualidade Analítica
grãos individualizados com tendência idioblástica, do LAMIN - CPRM.
– 41 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
Óxidos de elementos maiores – as principais ob- clásticas de idade pós-arqueana, sendo pobres
servações dizem respeito a: nestes óxidos quando comparadas com a média
– os litótipos têm caráter essencialmente ácido, da crosta superior pós-arqueana;
com porcentagens de SiO2 na faixa de 70%, portanto, – o TiO2 e, sobretudo, o FeO têm padrões com-
semelhante à média das rochas sedimentares clásti- patíveis com os sedimentos clásticos do
cas pós-arqueanas, Taylor e McLennan (1981); pós-Arqueano. As relações Fe2O3/FeO são carac-
– na grande maioria das amostras o Na2O predo- teristicamente superiores a 1, portanto, bem distin-
mina sobre o K2O, tratando-se de uma característi- tas dos padrões dos pares grauvacas-argilitos ar-
ca semelhantes às rochas clásticas arqueanas e às queanos e fanerozóicos de Condie (1981);
crostas superiores arqueanas e pós-arqueanas; – o Al2O3 tem concentração bem mais baixa do
– os percentuais de CaO e MgO são normalmen- que os padrões das rochas tanto arqueanas como
te baixos e comparáveis às rochas sedimentares pós-arqueanas. Apesar disto, trata-se de rochas
49º30’ 48º00’
-5º00’ -5º00’
Pcm
ITUPIRANGA
Pcm
Pcm
T
o
R i c
o a
n t
i n s
MARABÁ
Pcm SÃO JOÃO DO
ARAGUAIA
Pcm R i o
Ara
Pcm Pcm
gu a
ia
Pmu v Ppq
Pcm
Pmu Pcm
BREJO GRANDE ARAGUATINS
DO ARAGUAIA
Pcm Pxb
Pmu
Pcm Ppq
Pxb
-6º00’
Pcm -6º00’
49º30’ 0 10 20km 48º00’
Figura 2.18 – Cartograma indicando os pontos de coleta de amostras para os estudos litogeoquímicos das
formações Xambioá, Pequizeiro e Couto Magalhães.
– 42 –
SB.22-X-D (
2,50 2,50 20,00 8,33 15,00 15,00 15,00 20,00 15,00 30,00 20,00 15,00 15,00 19,17
150,00 7,00 100,00 85,67 70,00 70,00 70,00 70,00 70,00 150,00 150,00 100,00 100,00 106,67
30,00 2,50 15,00 15,83 20,00 20,00 20,00 30,00 30,00 20,00 20,00 5,00 15,00 20,00
15,00 5,00 15,00 11,67 10,00 10,00 10,00 10,00 10,00 10,00 10,00 7,00 15,00 10,33
100,00 7,00 70,00 59,00 70,00 70,00 70,00 70,00 70,00 70,00 50,00 50,00 70,00 63,33
35,00 100,00 45,00 48,33 135,00 115,00 125,00 20,00 90,00 50,00 50,00 235,00 30,00 79,17
500,00 700,00 1.000,00 733,33 500,00 1.000,00 750,00 700,00 150,00 500,00 700,00 700,00 700,00 575,00
10,00 30,00 114,00 47,67 92,00 90,00 91,00 100,00 86,00 70,00 30,00 20,00 91,00 66,17
200,00 700,00 100,00 333,33 70,00 200,00 135,00 100,00 100,00 700,00 500,00 300,00 100,00 300,00
70,00 7,00 30,00 35,67 50,00 30,00 40,00 50,00 50,00 50,00 50,00 30,00 50,00 46,67
10,00 50,00 10,00 23,33 10,00 10,00 10,00 10,00 10,00 10,00 10,00 10,00 10,00 10,00
7,00 7,00 30,00 14,67 30,00 30,00 30,00 20,00 20,00 10,00 15,00 15,00 10,00 15,00
20,00 14,00 10,00 14,67 7,00 20,00 13,50 10,00 10,00 70,00 50,00 30,00 10,00 35,00
20,00 23,33 0,88 14,74 0,76 2,22 1,49 1,00 1,16 10,00 16,67 15,00 1,10 7,21
1,00 1,67 0,09 0,92 0,11 0,11 0,11 0,10 0,12 0,14 0,33 0,50 0,11 0,17
4,00 0,80 1,25 2,02 1,67 1,00 1,33 2,00 1,67 1,17 1,25 1,00 1,67 1,52
1,50 2,50 0,60 1,53 0,40 0,67 0,53 0,25 0,40 0,29 0,40 0,47 0,60 0,33
0,10 0,71 0,15 0,32 0,14 0,14 0,14 0,14 0,14 0,07 0,07 0,07 0,15 0,10
10,00 3,50 2,80 5,43 2,80 4,67 3,73 1,75 2,80 2,00 2,00 3,33 2,80 2,14
4,29 0,20 2,86 2,45 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 4,29 4,29 2,86 2,86 3,14
8 Fe2O3 + FeO A/KCN = Al2O3/K2O+Na2O (molar) N.A.- Elemento não analisado A = Rochas sedimentares clásticas arqueanas
rtzo-muscovita-clorita xisto PM-94 = Biotita-muscovita xisto (1) = Análise por absorção atômica B = Crosta superior arqueana
= Cálcio-clorita-muscovita xisto PM-97 e 105 = Muscovita-clorita xisto (2) = Análise por raios C = Rochas sedimentares clásticas pós-arqueanas
io-muscovita-clorita xisto PM-136 e 146 = Biotita-muscovita xisto (3) = Análise por espectrografia de emissão D = Crosta superior pós-arqueana
Biotita-clorita-muscovita xisto * - Crosta continental, segundo Shaw et al. (1986)
– 43 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
– 44 –
SB.22-X-D (Marabá)
– 45 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
Fe2O3*+MgO
3.000
R2
ARENITO
LÍTICO
2.000 (POTÁSSICO
FERRO-
MAGNESIANOS)
1.000 TONALITO
R1
0
0 1.000 2.000 3.000 4.000
Na2O K2O
Figura 2.20 – Diagramas R1-R2 de La Roche (1980) Figura 2.22 – Diagrama Fe2O3* + MgO-Na2O-K2O clas-
propostos por Ed Dewitt para discriminar as rochas sificatório de rochas areníticas, segundo Blatt et al.
sedimentares (R1> ± 3.000). Aplicado às rochas das (1980). Aplicado às rochas das formações Xambioá,
formações Xambioá, Pequizeiro e Couto Magalhães. Pequizeiro e Couto Magalhães.
2 TiO2(%)
Na2O/K2O
3
1 GRAUVACAS
1
2 ARCÓSIO
AS
2
IC
ÊN
3 ARENITO LÍTICO
OG
3
AT
M
AG
M
S
1
CA
LAMITOS
VA
AU
0
GR
ARENITOS
2
TRENDS SEDIMENTARES
CALCÁRIOS
SiO2/Al2O3 Ni (ppm)
-1 0
0 1 2 0 100 200
Figura 2.21 – Classificação química dos metassedi- Figura 2.23 – Diagrama TiO2-Ni mostrando os trends
mentos das formações Xambioá, Pequizeiro e Couto grauvacas magmatogênicas e os sedimentares,
Magalhães, na Folha Marabá. Segundo Pettijohn et al. segundo Floyd et al. (1989). Aplicado às rochas das
(1973, apud Floyd et al., 1989). formações Xambioá, Pequizeiro e Couto Magalhães.
– 46 –
SB.22-X-D (Marabá)
125 Ca/Sr
2
CaO x 10
GRANITO E QUARTZO
MONZONITO
100
GRANODIORITO E
QUARTZO DIORITO
A
SIC
BÁ
75
50
IDA
ÁC
25 GRAUVACAS DE WYOMING
MATURIDADE
Sr Y x 10 CaO(%)
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Figura 2.24 – Diagrama CaO-Sr-Y de Holland & Win- Figura 2.26 – Diagrama CaO-Ca/Sr mostrando a va-
chester (1983) com indicação da natureza da área-fon- riação composicional de rochas sedimentares e de
te e da evolução da maturidade química das rochas rochas ígneas segundo Condie (1967). Aplicado às
sedimentares. Aplicado às rochas das formações formações Xambioá, Pequizeiro e Couto Magalhães.
Xambioá, Pequizeiro e Couto Magalhães.
Algumas idades podem ser referenciadas, com
o intuito de demonstrar a provável inconsistência
constatada. Desta forma pode-se, entre outros, re-
ferenciar os dados apresentados por: Hasui et al.
(op. cit.) que relatam datações K/Ar de 426 a
615Ma; Montalvão (1977) que apresenta idades de
2.000 a 1.800Ma, para o Grupo Xambioá; Hasui et
Ni x 10 al.(1980) que mencionam duas isócronas Rb/Sr,
sendo uma de 1.050Ma e outra de 520Ma; Cunha et
al. (op. cit.) que mostram isócrona Rb/Sr de 974±95
Ma; e para a Unidade Tocantins (equivalente à For-
mação Couto Magalhães) idades citadas de
510Ma (Rb-Sr, Hasui et al., op. cit.) e 1.006 ±15Ma
A
SIC
– 47 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
Log (K2O+Na2O)
CaO
2
A
PM
D 0
GR
ACM
-1
ARC
G
SiO2(%)
Na2O K 2O -2
50 60 70 80 90 100
Figura 2.27 – Diagrama CaO-Na2O-K2O para arenitos, Figura 2.28 – Diagrama K2O + Na2O versus SiO2 discri-
segundo Bhatia (1983). Campos: A - andesitos; D - Da- minando diferentes ambientes tectônicos deposicio-
citos; GR - granodioritos e G - granitos, segundo Le nais, segundo Roser & Korsch (1986): PM - Margem
Maitre (1976). Aplicado às rochas das formações Passiva; ACM - Margem Continental Ativa; ARC -
Xambioá, Pequizeiro e Couto Magalhães. Arco-de-Ilhas Oceânicas. Aplicado às rochas das for-
mações Xambioá, Pequizeiro e Couto Magalhães.
Moura et al. (1992) dataram zircões em corpos A Bacia do Parnaíba é considerada com litoes-
graníticos associados as rochas do Cinturão Ara- tratigrafia correlacionável à da Bacia do Amazonas,
guaia, obtendo idades de 498 ± 19Ma a 583 ± pelo fato das mesmas terem sido ligadas ao longo
39Ma, às quais atribuem serem idades mínimas de de todo o Período Paleozóico (quadro 2.2).
cristalizações dos zircões. Reportam ainda que o Nos trabalhos desenvolvidos na Folha Marabá,
desenvolvimento estrutural do cinturão pode ser in- no que se refere às rochas sedimentares, foram es-
terpretado como do Proterozóico Médio. tudadas e cartografadas várias unidades estrati-
Com base nos dados acima e no contexto geoló- gráficas pertencentes a borda oeste da Bacia do
gico regional, aceita-se a idade Proterozóico Parnaíba.
Inferior a Médio, para as rochas do Cinturão Ara- A coluna estratigráfica adotada para essa siné-
guaia como um todo. clise baseia-se nas revisões estratigráficas efe-
Em termos históricos as unidades do Cinturão Ara- tuadas por Aguiar (1969) e é apresentada no qua-
guaia foram correlacionadas à Série e/ou Grupo Ara- dro 2.3.
xá, correlação esta que em face das discrepâncias O Paleozóico é representado pelas formações
em termos de vergência tectônica é completamente Pimenteiras, Poti, Piauí, Pedra de Fogo e Motuca,
inconsistente. Desta forma passa-se a situar o Cintu- com sedimentação a partir de depósitos de frente
rão Araguaia como uma unidade geológica distinta deltaica, fluvial e lacustre, e planície de maré.
dentro de um contexto geológico regional próprio. O Mesozóico compreende as formações Sam-
baíba, Mosquito, Pastos Bons, Corda, Sardinha,
2.3.3 Bacia do Parnaíba e Grabens Associados Codó e Itapecuru, com depósitos continentais (flu-
viais e eólicos), marinho (planície de maré) e de
As bacias sedimentares paleozóicas brasileiras (fi- magma básico (extrusão e intrusão fissural).
gura 2.32) foram classificadas nos tipos l e ll de Klem- Completando o quadro estratigráfico, tem-se os
me (1971) por Asmus e Porto (1972) ou, do tipo Di (de- sedimentos do Cenozóico, representados pelo
pressão interior) por Kingston et al. (1983). Elas abran- Terciário (coberturas detríticas e/ou lateríticas), e
gem, aproximadamente, 70% da área sedimentar do o Quaternário (coberturas sedimentares atuais),
Brasil, estando ligadas ao desenvolvimento do Super- distribuídos ao longo dos leitos dos rios, lagos,
continente Gondwana, durante o Paleozóico. bem como em suas planícies de inundação.
– 48 –
SB.22-X-D (Marabá)
0,4
1,6 Al2O3/SiO2
TiO2
1,4
0,3
1,2
A
1,0 A
B
0,2
0,8
C
0,6 B
0,1
0,4
D C D
0,2
* *
Fe2O 3+MgO(%) Fe2O 3+MgO(%)
0 0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 0 2 4 6 8 10 12 14 16
2,4 7
K2O/Na2O Al2O3/(CaO+Na2O)
2,0 6
D 5
1,6 D
1,2
C
3
0,8 C
2
B
B A
0,4
1
A
Fe2O*3+MgO(%) Fe2O*3+MgO(%)
0
0 2 4 6 8 10 12 14 0 2 4 6 8 10 12 14
Figura 2.29 – Diagramas discriminantes de ambientes geotectônicos de areias e arenitos, com base na composi-
ção a partir dos elementos maiores, segundo Bhatia (1983). Campos: A - Arco-de-Ilha Oceânica; B - Arco-de-Ilha
Continental; C - Margem Continental Ativa; D - Margens Continentais Passivas. Fe2O3* = ferro total com Fe2O3.
Aplicado às formações Xambioá, Pequizeiro e Couto Magalhães.
– 49 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
*
%Fe2O 3+TiO2+CaO 2.3.3.1 Formação Pimenteiras – Devoniano – DP
50
Histórico
– 50 –
SB.22-X-D (Marabá)
60º 45º
Quadro 2.2 – Crono e litoestratigrafia das bacias do
Amazonas e Parnaíba (adaptado de Caputo, 1983).
0º 0º
MÉDIO
ALTO AMAZONAS
AMAZONAS
CRONOESTRATIGRAFIA LITOESTRATIGRAFIA
BAIXO PARNAÍBA
ACRE AMAZONAS
TERC. Q. PERÍODO
BACIA DO BACIA DO
ERA ÉPOCA IDADE
AMAZONAS PARNAÍBA
HOLOC. PLEIST. ?
CENOZÓICA
15º 15º PLIOCENO SOLI- PIABAS
ALMEIRIM
EO-MIOCENO MÕES
NOVA IORQUE
EOCENO
NEO SENONIANO ALCÂNTARA
PARANÁ
CRETÁCEO
TURONIANO ALTER DO CHÃO ITAPECURU/
MESO
CENOMANIANO URUCUIA
ALBIANO
CODÓ GRAJAÚ
EO APTIANO
30º 30º NEOCOMIANO SARDINHA
0 1.000km
Fonte: PETROBRAS (1985) CORDA
NEO PASTOS BONS
MESOZÓICA
60º 45º
JURÁSSICO
Figura 2.32 – Bacias sedimentares paleozóicas MESO
brasileiras. MOSQUITO
TRIÁSSICO EO
NEO
SAMBAÍBA
MESO
Através de uma seção geológica, foi calculada
uma espessura média em torno de 30m,entretanto, EO
MOTUCA
Aguiar (op.cit.) informa ter encontrado no poço NEO ANDIRÁ
PERMIANO
NEO
MONTE ALEGRE
Nos trabalhos de campo foi possível constatar WESTFALIANO
que os sedimentos desta formação repousam em POTI
VISEANO FARO
discordância angular erosiva sobre os metassedi- EO
mentos da Formação Xambioá, do Cinturão Ara- TOURNASIANO ORIXIMINÁ LONGÁ
guaia.
PA L E O Z Ó I C A
STRUNIANO CABEÇAS
O contato superior com a Formação Poti é des- NEO FAMENIANO
CURIRI
crito por diversos autores como sendo concordan- FRASNIANO
DEVONIANO
BARREIRINHA
te, podendo localmente ser discordante. GIVETIANO ERERÊ
PIMENTEIRAS
MANACAPURU JAICÓS
ORD. SILURIANO
NEO WENLOCKIANO
S. GRANDE
TIANGUÁ
PITINGA
Diagnose das Litofácies e dos Sistemas
TROMBETAS
MESO LANDOVERIANO
Deposicionais NHAMUNDÁ IPU
EO
Os principais critérios e a interpretação do ambi- AUTÁS MIRIM
? ? ?
ente deposicional das litofácies individualizadas no
curso do mapeamento são apresentados no qua- EMBASAMENTO
dro 2.4.
– 51 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
SUP.
(Jc) com contribuição eólica. para brita
SUP. Arenitos cinza, grã fina a média e bi- Continental de dunas eóli-
FORMAÇÃO modal. cas, associado a interduna. Areia
SAMBAÍBA (TRs)
MÉD.
INF. Arenitos avermelhados, grã fina a mé- Fluvial, de rios entrelaçados Areia
FORMAÇÃO MOTUCA
dia, às vezes arcosianos classifica- com depósitos lagunares, re-
(PTRm)
SUP. dos, apresentando herringbone. trabalhada por maré.
PERMIANO
INF. dos.
SUP. com cimento calcífero. Pelitos e folhe- raso com influência de maré
(Cpi)
lhos avermelhados, localmente com e dunas eólicas, associadas
níveis de calcarenito. com barras de Wady.
Arenitos de cor cinza,e grã fina a mé- Planície de maré rasa, com
dia, com intercalações de pelitos cin- lagos, depósitos de frente
DEV.
– 52 –
TEXTURA
EST. PALEO-
IDADE FORMAÇÃO LIT. ARG. AREIA
SED. CORR.
I N T E R P R E TA Ç Ã O
CAS.
SILT. f m g
M
F E
CODÓ PLANÍCIE DE MARÉ EM ZONA DE SUBMARÉ
A S
Ó
PASTOS BONS
R PLANÍCIE DE MARÉ
I
– 53 –
O
C MOSQUITO
DERRAMES BASÁLTICOS
Z O
DEVON. CARBONÍFERO PERMIANO TRIÁSSICO
DUNA E INTERDUNA
SAMBAÍBA FLUVIAL A LACUSTRE
Ó COM FRENTE DELTAICA E DELTA
RETRABALHADO POR MARÉ
I MOTUCA PLANÍCIE DE MARÉ EM
P ZONA DE SUPRA A
A INTERMARÉ
C PEDRA DE FOGO
L
E
O FLUVIAL A LACUSTRE COM CONTRIBUIÇÃO EÓLICA
O PIAUÍ
E RETRABALHAMENTO POR MARÉ
Z
Ó POTI
SUBMARÉ A
I SHOREFACE INFERIOR E
C PLANÍCIE DELTAICA SOB
O PIMENTEIRAS INFLUÊNCIA DE MARÉ
PLANÍCIE DE MARÉ
SB.22-X-D (Marabá)
E M B A S A M E N T O
Figura 2.33 – Sucessão vertical esquemática dos sistemas deposicionais da Bacia do Parnaíba, na Folha Marabá.
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
– 54 –
SB.22-X-D (Marabá)
Morfologicamente, a Formação Poti exibe uma su- Aguiar (op. cit.) considera que esta formação é de
perfície plana coberta por sedimentos arenosos, e idade mississipiana, com base no estudo de macro e
subordinadamente algumas elevações. microfósseis, sem contudo mencionar os seus tipos.
Na área estudada não foi possível uma avaliação Brito (1981) menciona em seu trabalho a ocor-
de sua espessura, entretanto, Perillo & Nahass rência de pelecípodes marinhos, nesta formação,
(1968) registraram em seção realizada a sudeste sem contudo fornecer a idade.
de Pedro Afonso, uma espessura de 208m. Neste trabalho não foram encontrados fósseis
nas seções estudadas, entretanto, com base nos
estudos existentes corrobora-se a idade carbonífe-
Relações de Contato ra inferior apresentada por Aguiar (op.cit.).
– 55 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
Idade e Paleontologia
Quadro 2.7 – Caracterização e associação das
litofácies da Formação Poti. Kegel (op. cit.) estudando a coleção de rochas
Unidade Fácies Fácies
Interpretação
coletadas por Romeu Fleury (1938), em sua viagem
fácies Dominantes Subordinadas ao Araguaia, descreveu uma fauna marinha consti-
A Aec – Fluvial tuída de lamelibrânquios e braquiópodos, atribuin-
do à unidade uma idade carbonífera superior.
Depósitos de frente ou
planície deltaica com Aguiar (op. cit.) considera que a Formação Piauí
B Aas Plmo influência de maré e la- é de idade pensilvaniana, baseado principalmente
gos rasos subordina- em macro e microfósseis.
dos.
Neste trabalho não foram encontrados fósseis
C Afc –
Depósito de dunas eóli- nas amostras coletadas, entretanto, adota-se a ida-
cas
de atribuída por Kegel (op. cit.).
Depósito de planície de
D Afd –
maré
– 56 –
SB.22-X-D (Marabá)
ESTRUTURAS
COR/TEXTURAS/
LITOFÁCIES DESCRIÇÃO SEDIMENTARAES/ GEOMETRIA INTERPRETAÇÃO
LITOLOGIAS SUBORDINADAS
ESTAÇÕES/FOTOS
– 57 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
Quadro 2.9 – Caracterização e associação das ção Motuca. É recoberta pelas formações Sambaí-
litofácies da Formação Piauí. ba e Itapecuru de maneira discordante, e também,
Unidade Fácies Fácies
por falhas normais com esta última.
fácies Dominantes Subordinadas
Interpretação Nos grabens da porção centro-sul, o contato
desta unidade é feito através de falhas normais
Depósito fluvial em bar-
Aec ras de pontal, associado com as formações Couto Magalhães, Pequizeiro e
A Flt Pimenteiras, e encontra-se recoberta pela Forma-
Plmo a sedimentação lagunar
e lacustre. ção Itapecuru de modo discordante.
Depósitos lagunares ra- No graben próximo a Marabá, a Formação Pedra
Ac
B
Ppp
– sos com influência de de Fogo mantém contato através de falhamentos
maré.
normais com a Formação Couto Magalhães, e está
Depósitos de dunas eóli- recoberta, discordantemente, pela Formação Ita-
Act
C
Afa
App cas associados com bar- pecuru (fotos 45 e 46).
ras de Wady.
Aguiar (1964), Cunha (1964), Northfleet (1965) , Ojeda Diagnose das Litofácies e dos Sistemas Depo-
& Bembom (1966), Ojeda & Perillo (1967), Melo & Pra- sicionais
de (1968), Mabesoone (1977), Lima et al. (op. cit.),
Lima & Leite (op. cit.), Faria Júnior (1979), Della Favera No quadro 2.10 são descritas onze litofácies
& Uliana (1990), entre outros. desta unidade, individualizadas, com base nos se-
guintes parâmetros: estruturas sedimentares, tex-
tura e geometria.
Modo de Ocorrência, Distribuição e Espessura
Na folha trabalhada, esta formação ocorre, prin- Ambientes de Sedimentação e Sistemas Depo-
cipalmente, em três áreas distintas, a saber: sicionais
a) na parte mais a leste, onde se estende em
uma faixa contínua, com direção N-S, apresentan- Com base nas litofácies descritas e suas asso-
do largura que varia de 10 a 20km, estando corta- ciações, interpreta-se, para esta unidade, um pale-
da tanto na parte norte, quanto na parte sul, pelo oambiente deposicional relacionado a uma planí-
rio Araguaia; b) próximo à cidade de Marabá, na cie de maré mista, carbonático-siliciclástica rasa
porção oeste da folha, em quatro áreas restritas com variação de energia, possivelmente ligada a
nos rios Itacaiúnas, Sororó, Tocantins e no igarapé um mar restrito, com interferência de depósitos
Lago Vermelho; c) na porção centro-sul, em gra- continentais fluviais.
bens sob a forma de duas faixas, relativamente es- No quadro 2.11 é apresentado um resumo da as-
treitas. sociação das litofácies, que foram agrupadas em
Aguiar (op. cit.) assinala que na área de São duas unidades de fácies, A e B, e suas respectivas
João dos Patos, a espessura total exposta é de interpretações.
100m tendo sido de 189m, a maior espessura en-
contrada em subsuperfície.
Leite et al. (1975) assinalam que, na região de Ca- Idade e Paleontologia
xias, sua espessura, em subsuperfície, é de 173m.
Lima & Leite (op. cit.) informam que não foram
encontrados fósseis marinhos, entretanto, psaro-
Relações de Contato nius (madeira fóssil), restos de anfíbios labirinto-
dontes e de tubarões foram identificados nesta
Durante o mapeamento, foi possível constatar formação.
que a Formação Pedra de Fogo mantém contato Para vários autores, a idade permiana desta for-
em sua porção basal, no setor nordeste da folha, mação, foi sugerida, com base, principalmente, na
com a Formação Piauí de modo gradacional e sutil, presença de evaporitos e de sílex, onde é demons-
tornando-se difícil a sua separação, e com a Forma- trado a existência de um mar fechado, remanescen-
ção Poti de modo erosivo. No topo mantém relação te, que atuou em um determinado tempo. Durante
de contato de maneira gradacional com a Forma- este período, as condições climáticas tiveram uma
– 58 –
SB.22-X-D (Marabá)
Conglomerado – Seixos suportados pela matriz – Seixos centimétricos de Leque aluvial proximal
Csm suportado pela – Arcabouço aberto quartzo Lenticular a mediana.
matriz – Estações: HA-153 e 225
– 59 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
– 60 –
SB.22-X-D (Marabá)
guns peixes encontrados assemelham-se aos pei- Sua espessura, segundo Lima & Leite (op. cit.) é
xes permianos Paleoniscus e Elonichtys, de idade de aproximadamente 200m, conforme medida efe-
neopermiana. tuada na cidade de Sambaíba, estado do Mara-
Neste trabalho corrobora-se a idade neopermia- nhão, onde fica localizada sua seção-tipo.
na para esta unidade.
Relações de Contato
2.3.3.6 Formação Sambaíba – Triássico – TRs
Durante os trabalhos de mapeamento na Folha
Histórico Marabá, foi observado nas seções realizadas, que a
Formação Sambaíba é sobreposta pelas unidades
Plummer (op. cit., apud: Léxico Estratigráfico do Corda, Itapecuru e Mosquito de maneira discordan-
Brasil, 1984) foi quem, pela primeira vez, definiu a te, entretanto, localmente os basaltos da Formação
Formação Sambaíba como sendo arenitos forma- Mosquito, truncam os litótipos desta formação.
dores das mesetas que ocorrem nas proximidades O contato basal, também, é do tipo discordante
de Sambaíba, estado do Maranhão, onde se locali- com a Formação Pedra de Fogo, e é concordante
za a sua seção-tipo. com a Formação Motuca, sem contudo mostrar
Campbell (op. cit.), Mesner & Wooldridge (1964), uma nítida gradação.
Barbosa et al. (1966), Aguiar (op. cit.), Cunha &
Carneiro (1972), Lima & Leite (op. cit.), em seus tra-
balhos apresentam estudos sobre esta unidade. Diagnose das Litofácies e dos Sistemas Depo-
sicionais
Modo de Ocorrência, Distribuição e Espessura Nesta unidade foi possível individualizar duas li-
tofácies, com base nos critérios diagnósticos de
Na área mapeada, esta unidade ocorre, principal- caracterização, relacionadas às estruturas sedi-
mente, na porção sudeste, e é caracterizada por mentares, texturas e geometrias.
apresentar uma morfologia de extensos chapadões, Estas litofácies e a interpretação dos sistemas
que se destacam pela sua topografia conspícua. deposicionais, estão resumidos no quadro 2.14.
– 61 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
Histórico
Quadro 2.13 – Caracterização e associação das
litofácies da Formação Motuca. Aguiar (op. cit.) foi quem primeiro denominou de
Unidade Fácies Fácies
Interpretação
Formação Mosquito os derrames basálticos com in-
Fácies Dominantes Subordinadas tercalações de arenito, cuja localidade-tipo é o leito
Barras transversais e do rio Mosquito, a sul da cidade de Fortaleza dos
dunas subaquáticas de Nogueiras, estado do Maranhão.
rios entrelaçados e de-
Aca, Act, App Pv, As e Ah pósitos lagunares na Outros autores, como: Campbell (1946), Mesner
A e Aa planície de inundação. & Wooldridge (op. cit.), Northfleet & Melo (op. cit.),
Subordinadamente de-
pósitos de frente deltai-
Projeto RADAM (1974), Lima & Leite (op. cit.) fize-
ca e delta retrabalhado ram referência em seus trabalhos, sobre esta uni-
por maré. dade.
Neste relatório, os autores adotam o termo For-
mação Mosquito como definido por Aguiar (op.cit.).
– 62 –
SB.22-X-D (Marabá)
Quadro 2.15 – Caracterização e associação das amígdalas imersas em uma massa afanítica, com
litofácies da Formação Sambaíba. pequenos pontos brancos, originados, possivel-
Unidade Fácies Fácies mente, da alteração dos minerais de preenchimen-
Interpretação to das vesículas. As amígdalas estão normalmente
Fácies Dominantes Subordinadas
preenchidas por calcita, calcedônia, clorita e zeóli-
Depósito continental tas (HA-06 e 83).
A Acta Ppp eólico de dunas e in-
terdunas. Em seção delgada, apresentam-se com textura
ofítica/subofítica, constituídos, essencialmente, por
ripas de plagioclásio (labradorita) com maclas do
Na porção leste, esta formação é recoberta por
sedimentos das formações Itapecuru e Corda. FORMAÇÃO SAMBAÍBA
Sua espessura máxima é de 175m, tendo sido re-
0 10
gistrada no poço JZST-1-MA da PETROBRAS, 340
350
20
(Mesner & Wooldridge, op. cit.). 330 30
290 70
– 63 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
tipo Albita, coexistindo com piroxênio em cristais 2.3.3.8 Formação Pastos Bons – Jurássico – Jpb
prismáticos. Foram observados, também, opacos e
raros grãos de carbonato originados, possivelmen- Histórico
te, da alteração dos piroxênios.
Lisboa (1914) foi quem pela primeira vez usou o
termo Pastos Bons para designar camadas de are-
Idade nitos com intercalações de folhelhos e calcários,
ocorrentes nas adjacências da cidade de Pastos
Gomes (1968), em seu trabalho sobre “Fossas Bons, estado do Maranhão.
Tectônicas do Brasil”, informa que as datações ra- Campbell et al. (op. cit.) elevaram as camadas
diométricas, procedidas em amostras de diabásio Pastos Bons definidas por Lisboa (op. cit.), a cate-
do Brasil, África e Austrália, estão de acordo com o goria de formação.
posicionamento do diabásio na coluna cronoestra- Plummer (op. cit.), Luz (1958), Mesner & Wool-
tigráfica da Bacia do Parnaíba. dridge (op. cit.), Santos (1974), Lima & Leite (op.
Lima et al. (op. cit.), de acordo com os dados ra- cit.), entre outros, fizeram referências em seus tra-
diométricos, atribuem um posicionamento Jurássi- balhos às litologias da Formação Pastos Bons.
co/Triássico Superior para os derrames da Forma-
ção Mosquito.
Caputo (1985) identifica três diferentes estágios Modo de Ocorrência, Distribuição e Espessura
de formação desses basaltos. Informa, ainda, que
a manifestação mais antiga tem 215Ma, correspon- A Formação Pastos Bons ocorre na margem es-
dendo ao Triássico Médio. O mesmo autor correla- querda do rio Araguaia, próximo a sua desemboca-
ciona os basaltos, desta idade, com os diques de dura no rio Tocantins, abrangendo uma área com
diabásio que ocorrem na área costeira do estado menos de 1% da folha.
do Amapá. Os afloramentos estudados, estações CF-11,
Neste relatório adota-se a idade Jurássi- HA-150 e 156 são restritos ao rio Araguaia, repre-
co/Triássico com base no trabalho de Lima et al. sentados, predominantemente por calcarenitos e
(op. cit.). mudstone (ritmito).
Quadro 2.16 – Descrição das litofácies.
ESTRUTURAS SEDIMENTARES/ COR/TEXTURA/LITOLOGIAS
LITOFÁCIES DESCRIÇÃO GEOMETRIA INTERPRETAÇÃO
ESTAÇÕES SUBORDINADAS
Calcarenito com – Estratificação cruzada tan- – Grã fina Sand wave de maré em
estratificação gencial de baixo ângulo zona de intermaré.
Caet Lenticular
cruzada – Marcas onduladas
tangencial – Estação: CF-11
Folhelho com – Estratificação planoparalela – Cor preta Folhelho hemipelágico de
Fpp estratificação – Estação: CF-11 – Grã fina Tabular zona de submaré profun-
planoparalela da.
Calcilutito com – Marcas onduladas – Cor cinza Depósito de submaré em
marcas – estação: HA-150 – Grã fina planície de maré carboná-
Clmo Lenticular
onduladas – Veios milimétricos de calcita tica.
espática
Brecha intra- – Estação: HA-150 – Cor cinza Depósito de frente deltaica
formacional – Fragmentos angulosos de proximal.
Bri –
calcilutito
– Cimento de calcita
Pelito com – Marcas onduladas – Cor esverdeada Depósito lagunar e planí-
Pmo marcas – Estação: HA-150 – Lama carbonática Lenticular cie de maré.
onduladas
Arenito com – Estratificação cruzada tan- – Cor cinza Duna subaquática
estratificação gencial de pequeno porte – Grã fina
Act Lenticular
cruzada – Estações: HA-150 e 156 – Bem selecionado
tangencial – Arcosiano
– Estratificação planoparalela – Cor cinza-avermelhada Barra de plataforma terrí-
Arenito com – Marcas onduladas – Grã fina gena, em águas rasas com
App estratificação – Linsen, Wavy – Intercalação de pelito Lenticular variação de energia, sujei-
planoparalela – Flaser, Drape vermelho ta à ação de maré.
– Estação: HA-156
– 64 –
SB.22-X-D (Marabá)
Quadro 2.17 – Caracterização e associação das Silva & Santos (1974) identificaram peixes lepi-
litofácies da Formação Pastos Bons. dotes piauhyensis, macrossemideo e pleuropho-
Unidade Fácies Fácies
Interpretação
lídeo, restritos à idade jurássica média a superior.
Fácies Dominantes Subordinadas Assim, atribuiram o posicionamento da Unidade
Caet, Fpp, Bri, Pmo Depósito de sub a supramaré Pastos Bons ao Jurássico Médio.
Clmo em bacia carbonática sujeita
A
à ação de ondas de tempes- Lima et al. (op. cit.) consideram a Formação
tade. Pastos Bons como sendo de idade jurássica mé-
Act, App Depósito de duna subaquáti- dia a superior, baseados, também em seu conteú-
B –
ca sujeita à ação de maré. do fóssil.
Neste trabalho, os autores adotam a idade Jurás-
A espessura média desta formação foi relatada sico Médio a Superior, baseados no trabalho de
por Aguiar (op. cit.), como sendo de 60m, sem con- Lima et al. (op. cit.).
tudo informar o local onde a mesma foi medida.
As sete litofácies individualizadas, foram agru- Na Folha Marabá, a Formação Corda ocorre na
padas em duas unidades de fácies cujas interpre- extremidade leste, abrangendo cerca de 1% da fo-
tações encontram-se resumidas no quadro 2.17. lha.
O paleoambiente deposicional interpretado para As exposições desta unidade são, geralmente,
esta formação, no âmbito da Folha Marabá, relacio- restritas e descontínuas, às vezes ocupando vales
na-se a uma bacia carbonática com depósitos em ou elevações.
zonas de sub a supramaré, lagunares e de frente Em trabalho desenvolvido pela PETROBRAS, na
deltaica, evoluindo para uma plataforma terrígena região de Imperatriz, foi registrada uma espessura
rasa, mostrando ação de maré, com variação na em torno de 30m, para esta formação. Entretan-
energia de transporte. to,em nível regional, esta espessura pode atingir
até 100m, segundo Lima & Leite (op. cit.).
Idade e Paleontologia
Relações de Contato
Mesner & Wooldridge (op. cit.), no trabalho de re-
visão da Bacia do Maranhão, informam que Forma- Segundo dados bibliográficos, a Formação Cor-
ção Pastos Bons foi datada com base em seu con- da assenta-se, discordantemente, sobre os basal-
teúdo fossilífero, sendo posicionada no Triássico tos da Formação Mosquito e arenitos da Formação
Superior. Sambaíba.
– 65 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
Seu contato superior, mantido com a Formação Mesner & Wooldridge (op. cit.), Cunha & Carnei-
Itapecuru, é geralmente concordante, podendo lo- ro (op. cit.), Lima & Leite (op. cit.) e Guerreiro & Silva
calmente ser discordante. (op. cit.) fizeram em seus trabalhos referências so-
bre estes basaltos e diabásios.
Neste relatório, adota-se a denominação de For-
Diagnose das Litofácies e dos Sistemas Depo- mação Sardinha para os diques de diabásio ocor-
sicionais rentes na porção leste da folha.
– 66 –
SB.22-X-D (Marabá)
Histórico
Relações de Contato
Lisboa (op. cit.) trabalhando em sedimentos aflo-
No curso do mapeamento, observou-se que esta rantes nos vales dos rios Itapecuru e Alpargatas, a
unidade mantém o contato superior concordante norte da cidade de Pastos Bons, estado do Mara-
com a Formação Itapecuru, podendo ser localmen- nhão, denominou-os de Camadas Itapecuru.
te discordante erosivo. Com o Quaternário, se faz Campbell (op. cit.) posicionou as Camadas Ita-
por falhamento normal. pecuru de Lisboa (op. cit.) na categoria de forma-
O contato inferior não foi observado durante os ção, denominando de Formação Itapecuru os sedi-
trabalhos, entretanto, Carneiro (apud Lima & Leite, mentos ocorrentes nas costas oriental do estado do
op. cit.) comenta que o contato inferior é também Pará e ocidental do estado do Maranhão.
concordante, excetuando-se, pequenas discor- Vários autores, como: Molnar & Urdinea (1966),
dâncias locais. Aguiar (op. cit.), Northfleet & Melo (op. cit.), Barbo-
– 67 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
Quadro 2.20 – Caracterização e associação das Na parte oriental da Folha Santa Inês (SA.23-Y-D),
litofácies da Formação Codó. através de sondagem estratigráfica, realizada pela
PETROBRAS, foi possível calcular a espessura des-
Unidade Fácies Fácies ta formação, que atingiu 400m, 414m, 555m e 602m,
Interpretação
Fácies Dominantes Subordinadas
nos furos PMS-7-1-MA, SLST-1-MA, PAF-4R-MA e
PAF-3-MA, respectivamente.
Clpp, Camo, Pmo Planície de maré carbo-
Amo nática rasa, em zona de
A
submaré e lagos subor-
dinados. Relações de Contato
A Formação Itapecuru ocupa cerca de 30% da Diagnose das Litofácies e dos Sistemas Depo-
folha. Distribui-se em extensas áreas, nas porções sicionais
norte, nordeste, centro-sul e centro-oeste.
Os melhores afloramentos estudados estão lo- Através dos parâmetros característicos descri-
calizados ao longo de cortes de estradas, como tos durante os trabalhos da Folha Marabá, foi possí-
na BR-230 (Transamazônica), BR-222, PA-150, vel individualizar dez litofácies na Formação Itape-
PA-461, PA-153, TO-136, TO-496, caminhos vici- curu, cujas descrições encontram-se resumidas no
nais e na ferrovia Ponta da Madeira-Carajás. quadro 2.21.
– 68 –
SB.22-X-D (Marabá)
Arenito com – Estratificação cruzada tan- – Cor cinza Dunas subaquáticas de rios
cruzada gencial de pequeno porte – Grã fina entrelaçados
Act tangencial – Estações: HA-52, 172, 173, – Bem selecionado Lenticular
191, 202, 203, 206, 215 e 216 – Bastante friável
– Foto: 62
Arenito arcosiano – Estratificação cruzada tangen- – Cor cinza Depósito eólico oriundo do
cial de pequeno e médio porte – Grã fina a média retrabalhamento de dunas
– Grain fall – Bem selecionado e barras do sistema fluvial
Aa – Grain follow – Seixos disseminados Lenticular
– Estações: HA-67, 68, 73, 87, – Bimodal
140, 149, 174, 175, 181, 188, 208,
219, 229, 232 e 237
Conglomerado – Grãos suportados pela matriz – Seixos de quartzo Leque fluvial proximal a me-
suportado pela – Desorganizado – Matriz areno-argilosa diano
Csm Lenticular
matriz – Estações: HA-181, 182, 191 e – Fragmentos de arenito e
197 argila
Arenito grosseiro – Estratificação cruzada tangen- – Cor cinza a rósea Dunas subaquáticas de rios
e conglomerático cial de pequeno porte – Grã grossa a conglomerá- entrelaçados
– Estações: HA-233 e 234; JI-08 tica
Agc Lenticular
e 16 – Seixos de quartzo dissemi-
nados
– Arcosiano
Arenito cinza – Estratificação cruzada tangen- – Cor cinza Dunas subaquáticas de rios
cial de pequeno porte – Grã fina entrelaçados
Ac – Marcas onduladas – Bem selecionado Lenticular
– Estações: HA-141, 142, 147
e 148
– 69 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
Ambientes de Sedimentação e Sistemas De- Klein & Ferreira (1979) em trabalho de pesquisa
posicionais paleontológica, na área de ocorrência da Forma-
ção Itapecuru, na região de São Luís, estado do
As dez litofácies individualizadas nesta forma- Maranhão, e baseados na assembléia fossilífera
ção foram agrupadas em duas unidades de fácies, existente naqueles sedimentos, constataram que
cujas litofácies predominantes e subordinadas, as- os mesmos são de ambiente estuarino, e sugerem
sim como a interpretação do sistema deposicional, idade cenomaniana para esse conjunto.
estão resumidas no quadro 2.22. Colares & Araújo (1987) estudaram raros mol-
des internos de foraminíferos e crustáceos (?),
Quadro 2.22 – Caracterização e associação das dentes e escamas de peixes mal preservados, su-
litofácies da Formação Itapecuru. postamente colocados no Eo-Cretáceo.
Não foi feito, neste projeto, nenhuma análise pali-
Unidade Fácies Fácies
Fácies Dominantes Subordinadas
Interpretação nológica, entretanto, corrobora-se a idade albiana
definida por Mesner & Wooldridge (op. cit.).
Barras e dunas
subaquáticas
de rios entrela-
çados, associa- 2.3.4 Coberturas Detríticas e/ou Lateríticas –
dos a lagos em Terciário – TQc
Act, Afm, Agc, Aa e Ppp planície de inun-
A
Ac, App, Acs e dação e eólicos
Aal oriundos do re- Histórico
trabalhamento
das barras e du-
nas subaquáti- Matoso e Robertson (1959), em seu trabalho, in-
cas. formam que o termo Barreiras tem um significado fi-
siográfico, pois foi usado desde o século passado,
Csm Leque aluvial na
B – porção proximal
referindo-se a uma estreita faixa sedimentar que
a mediana. bordeja a maior parte da costa brasileira. Estes auto-
res, por considerarem indevida a denominação de
Série ou Formação Barreiras, sugerem a substitui-
O paleoambiente deposicional da Formação Ita- ção pela designação de Formação Cenozóica Indi-
pecuru, na Folha Marabá, relaciona-se predominan- ferenciada ou Cenozóica Indivisa, até que trabalhos
temente a um sistema fluvial de rios entrelaçados estratigráficos detalhados sejam realizados.
com variação de energia, depósitos de lagos na pla- Braun (op. cit.) definiu como “depósitos neóge-
nície de inundação e eólicos provenientes do retra- nos indiferenciados”, todas as coberturas que co-
balhamento dos depósitos fluviais. Subordinada- brem os remanescentes das superfícies de aplai-
mente, registram-se depósitos de leques aluviais em namento do Ciclo Sul-Americano (King, 1956).
porção proximal a mediana. O Projeto RADAMBRASIL (op. cit.) definiu como
sendo Formação Barreiras os sedimentos clásticos
mal selecionados, de granulometria síltica a con-
Idade e Paleontologia glomerática, de coloração variando de amarela a
vermelha. Os arenitos são caulínicos com lentes de
Price (1947), em trabalhos de pesquisa, en- folhelhos.
controu na ilha de Livramento, próximo à cidade Góes (op. cit.) efetuou estudos dos sedimentos
de Alcântara, no estado do Maranhão, uma vér- Barreiras, Ipixuna e Itapecuru, admitindo ser a
tebra de dinossauro e outros fragmentos de os- Formação Ipixuna uma fácies da Formação Itape-
sos que indicam idades posteriores ao Triássi- curu.
co e anteriores ao Terciário, atribuindo aos de- Neste trabalho, considera-se como Coberturas
pósitos sedimentares, fluviolacustres, a idade Detríticas e/ou Lateríticas, os sedimentos imaturos
cretácea. de natureza arenosa, argilosa e laterítica, que local-
Mesner & Wooldridge (op. cit.) definiram a For- mente recobrem, discordantemente, as formações
mação Itapecuru como sendo de idade albiana, Xambioá, Pequizeiro, Pimenteiras e Itapecuru. Em
baseados em registros palinológicos, estabelecen- âmbito regional, essas coberturas comparecem re-
do, inclusive, sua correlação com a Formação Tu- cobrindo parte de todas as unidades estratigráficas
tóia, da Bacia de Barreirinhas. da Bacia do Parnaíba (Lima & Leite, op. cit.).
– 70 –
SB.22-X-D (Marabá)
O contato com a Formação Itapecuru foi estudado Estudando um fragmento de tronco silicificado,
nas estações JI-07 e 08 (corte na estrada PA-332) e Jupiassu (1970) realizou estudos palinológicos, em
JI-34 (corte na Estrada de Ferro Carajás-Ponta da sedimento caulínicos da localidade de Irituia, esta-
Madeira), HA-191 (corte na estrada PA-150), HA-202 do do Pará, identificando como sendo fósseis do
(corte na estrada PA-461) e HA-195 (caminho ao sul grupo Angiospermae da família Humiriaceae, da-
da cidade de Marabá), e definido como sendo dis- tando-os como do Terciário Inferior.
cordante erosivo, confirmando os dados de Colares Neste relatório, os autores corroboram com a da-
et al. (1989) na Folha Vitorino Freire, onde observaram tação, definida por Jupiassu (op. cit.).
também discordância erosiva, em afloramentos ao
longo da rodovia BR-222.
Esse mesmo tipo de contato foi observado com 2.3.5 Coberturas Sedimentares dos Rios Ara-
as formações Xambioá, Pequizeiro e Pimenteiras. guaia, Tocantins, Itacaiúnas, Vermelho
e Sororó – Quaternário – Qal
Diagnose das Litofácies e dos Sistemas Depo- Este pacote de sedimentos foi definido como
sicionais sendo coberturas sedimentares dos rios Araguaia,
Tocantins, Itacaiúnas, Vermelho e Sororó, distribuí-
Nos depósitos Terciários detríticos ocorrentes do ao longo das margens desses rios e em suas
na Folha Marabá, foram individualizadas oito litofá- planícies de inundação (foto 64).
cies, cujas características principais são apresen- Estas coberturas são constituídas por siltes, argi-
tadas no quadro 2.23. las, areias e cascalhos, originadas de um sistema
fluvial entrelaçado e meandrante, assim como de
ambiente lacustre.
Ambientes de Sedimentação e Sistemas Depo- Através da análise litológica e das feições morfo-
sicionais lógicas, foi possível individualizar 7 tipos de depó-
sitos para esta unidade.
O sistema deposicional interpretado para o Ter- Depósitos de barras em pontal ou em meandros:
ciário detrítico na Folha Marabá, relaciona-se a de- são constituídos de areia fina a média, no lado inter-
pósitos de leques aluviais, barras, lagos e preen- no dos canais meandrantes e silto-argilosas nas
chimento de canais de rios meandrantes. partes mais elevadas, evidenciando a diminuição
– 71 –
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil
Conglomerado – Seixos suportados pela matriz – Grã grossa a conglomerática Barra de rio mean-
desorganizado – Arcabouço aberto – Composição quartzosa drante
– Estações: JI-10, 19, 20 e 26 – Matriz arenosa
Cd Lenticular
– Mal selecionado
– Seixos variando de 1 a 6cm
de diâmetro
Arenito fino – Bioturbação por raízes vegetais – Cor amarela Barra de rio mean-
Afa amarelado – Estações: JI-7, 18, 20 e 24 – Grã fina a média Tabular drante
– Matriz argilosa
Conglomerado – Seixos suportados por grãos – Grã conglomerática Leque aluvial por-
de debris flow – Arcabouço fechado – Seixos angulosos ção proximal
Cdf – Debris flow – Composição quartzosa Tabular
– Estações: JI-35 e HA-195 – Mal selecionado
– Foto: 63 – Matriz arenosa
Arenito fino a – Bioturbação por raízes vegetais – Cor amarela Barra de rio mean-
conglomerático – Estruturas tipo stone line – Grã fina a conglomerática drante
Afc – Estações: JI-22 e 40 – Matriz areno-argilosa Tabular
– Seixos de tamanho milimétrico
a centimétrico
Quadro 2.24 – Caracterização e associação Detríticas. de textura em direção ao topo das barras, forman-
do a fácies de areia média a síltico-argilosa (Ams).
Unidade Fácies Fácies
Fácies Dominantes Subordinadas
Interpretação Na parte externa desses canais são comuns fei-
ções de escorregamento e desbarrancamentos,
Cdf Depósito de leques alu- sendo o primeiro, o principal fator responsável pelo
A – viais em porção proxi- deslocamento do canal.
mal.
Depósitos de canal: constituídos de areia de grã
Cd, Afa, Per, Aco e Barras de rios mean-
fina a média (Afm), localiza-se nas porções mais
Afc, Co Acd drantes, associados profundas do canal, apresentando leitos com mega
B
com depósitos de pre- ripples de crista sinuosa.
enchimento de canais
e lagunar em planície Depósitos de diques naturais: formados durante
de inundação os períodos de cheia, ocorrem margeando o canal
– 72 –
SB.22-X-D (Marabá)
principal. São constituídos de areia fina, silte e argi- Depósitos de lagos: material oriundo da precipita-
la (Asa). ção do material em suspensão nos lagos, são cons-
Depósitos residuais de canal: constituídos de tituídos de argila de cor cinza plástica, contendo ma-
areia grossa (Ag), de espessura reduzida, ocorren- téria orgânica e laminação planoparalela (Ppp).
do sob a forma lenticular e descontínua nas partes Depósitos de conglomerados (Cg): constituídos
mais profundas do canal. A sua forma de leito é nor- por seixos centimétricos de quartzo, quartzito, frag-
malmente mega ripples de crista sinuosa. mentos de calcário, argila e blocos de lateritos,
Depósitos de planícies de inundação: formados apresentando arcabouço aberto, suportado por
durante o período de cheias, devido à precipitação uma matriz areno-argilosa. Foram depositados pro-
de material em suspensão, são constituídos domi- vavelmente em porção proximal de leques aluviais
nantemente de argila (P). (fotos 65 e 66).
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