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PARTE I

INTRODUÇÃO
SF.21-X-A (Aquidauana)

1
HISTÓRICO
C om a retomada, a partir de 1985, das
atividades de mapeamento geológico pelo
cos Básicos do Brasil (PLGB) e constou das
seguintes etapas:
Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Etapa I – Levantamento e aquisição de
Brasil (PLGB), a Companhia de Pesquisa de documentação básica. Aquisição de fotografias
Recursos Minerais (CPRM) integrou nesta unidade o áereas (USAF) disponíveis na escala 1:60.000,
levantamento geológico, na escala 1:250.000, da mosaicos semicontrolados de radar, escala
Folha Aquidauana (SF.21-X-A), situada no oeste do 1:250.000 e imagens de satélite (TM-Landsat-5,
estado de Mato Grosso do Sul. canais 3 e 4).
Os trabalhos referentes a esta folha tiveram início Etapa II – Análise da documentação básica.
em fevereiro de 1991, simultaneamente com os da Compilação bibliográfica, fotointerpretação preli-
Folha Aldeia Tomázia. A minuta do relatório e os minar e confecção dos mapas preliminares de ser-
mapas Geológico e Metalogenético foram concluí- viço.
dos em maio de 1994, com duração de 38 meses, Etapa III – Reconhecimento de campo. Foram
incluídos os períodos de férias do executor. O res- realizados os caminhamentos geológicos previstos,
ponsável por sua execução foi o geólogo Hélios de além de verificação das ocorrências minerais,
Oliveira Godoi, apoiado pelos Coordenadores Te- incluindo o cadastramento daquelas não
máticos Regionais: de Sensoriamento Remoto – catalogadas em trabalhos anteriores.
Cidney Rodrigues Valente, de Geologia Estrutural – Etapa IV – Interpretação e Análise dos Dados.
Cipriano Cavalcante de Oliveira, de Geofísica – Mu- Esta etapa constou da integração dos dados de
rilo Machado Pinheiro, e de Petrografia – Maria campo e de laboratório obtidos a partir da descri-
Abadia Camargo, sob a supervisão dos geólogos ção dos afloramentos e das análises de amostras
Lorenzo Jorge Eduardo Cuadros Justo e João Olím- coletadas.
pio Souza, e coordenação dos geólogos Gilberto Etapa V – Corresponde às atividades finais.
Scislewski e Pedro Sérgio Estevam Ribeiro. Constou da elaboração e consolidação dos produ-
O desenvolvimento dos trabalhos obedeceu à tos intermediários e finais, culminando com a pre-
metodologia do Programa Levantamentos Geológi- sente Nota Explicativa.

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SF.21-X-A (Aquidauana)

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LOCALIZAÇÃO E ACESSO
A área estudada situa-se no oeste do estado
de Mato Grosso do Sul (figura I.2.1). É limitada pe-
dauana ao oeste e ao sul da área. Diversas estra-
das secundárias ligam os pequenos vilarejos aos
las coordenadas geográficas 55° 30'-57° 00' WGr centros maiores e às fazendas. É servida, de leste a
20° 00' - 21° 00' de latitude sul. Possui uma superfí- noroeste, pela ferrovia RFFSA, que liga o Brasil à
2
cie de aproximadamente 17.350km e abrange Bolívia (figura I.2.2).
parte dos municípios de Aquidauana, Miranda, Bo- Em Aquidauana, Bodoquena e Miranda há aero-
doquena, Anastácio, Piraputanga, Nioaque e Porto portos para vôos domésticos; em Bodoquena a
Murtinho. empresa Camargo Corrêa construiu uma pista de
A área é bem servida de rodovias, sendo atra- pouso asfaltada para operações com aviões de
vessada pela BR–262, asfaltada, que liga Aqui- médio porte. Inúmeras fazendas possuem cam-
dauana, Anastácio e Miranda a Corumbá, situada a pos para pouso e decolagem de aviões monomo-
noroeste da folha. Os trechos Miranda – Bodoque- tores.
na (MS-339) e Aquidauana – Nioaque (MS-419) são Os rios Aquidauana e Miranda são navegáveis
asfaltados. Estradas não asfaltadas, mas de boa por embarcações de pequeno porte durante o ano
qualidade, ligam as cidades de Bodoquena e Aqui- inteiro.

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

48º

6º 6º

58º MARANHÃO
7º 7º

AMAZONAS P A R Á

s
in
t

Tocan

PIAUÍ
60º 56º 50º
Ri 46º
o 54º 9º 9º
9º 9º 52º

Rio
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10º

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10º PALMAS

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TOCANTINS
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11º

RONDÔNIA

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12º
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13º

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13º
MATO GROSSO
Xin 14º
14º
Rio

GOIÁS 15º
15º
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CUIABÁ
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D.F.

16º
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16º 46º
A

GOIÂNIA
60º 17º
17º

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19º A
19º R
MATO GROSSO 48º E
1 4
Rio

DO SUL
50º G
20º
20º MINAS
2 5 7 CAMPO GRANDE
Rio Pa

21º
21º
SÃO PAULO
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3 6
PA

22º
22º
R

52º
A

U 58º
G

A
I 23º 23º 1 - Folha Corumbá
56º PARANÁ
24º 24º 2 - Folha Aldeia Tomázia
54º
3 - Folha Porto Murtinho
0 70 140km
4 - Folha Bodoquena

5 - Folha Aquidauana

6 - Folha Jardim

7 - Folha Campo Grande

Figura I.2.1 – Localização da área.

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SF.21-X-A (Aquidauana)

FSF 21 - X - A
57º00' W.Gr. 55º30'
20º00'S 20º00'S

GUAICURUS
MS - 243

-419
MIRANDA

BR
AGACHI
TAUNAY
5
R.
F.F - 34
BR .S. MS
A.
-2
62

9
- 33
PIRAPUTANGA
AQUIDAUANA
MS

ANASTÁCIO
Fábrica de Cimento Nobre Mineração e
(Camargo Corrêa) Participação Ltda.
MORRARIA BODOQUENA

TARUMÃ
Mineração Miranda Ltda.
5
34
MS - 339

419
MS

BR -
MS - 178

Faz. São Bento


21º00' 21º00'
57º00' 55º30'

10 0 10 20 30km

ESTRADA PAVIMENTADA CIDADE e VILA

ESTRADA SEM PAVIMENTAÇÃO TRÁF. PERMANENTE FÁBRICA / MINERAÇÃO / FAZENDA

ESTRADA DE FERRO AEROPORTO

Figura I.2.2 – Mapa viário.

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SF.21-X-A (Aquidauana)

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ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS
A economia da região está voltada principal-
mente para as atividades do setor primário, desta-
estudiosos e amantes da natureza têm procurado
a região, como alternativa de lazer.
cando-se a pecuária como a principal delas. O setor industrial é ainda pouco desenvolvido,
Ao lado da pecuária, a agricultura vem alcançan- embora existam algumas indústrias de transforma-
do bons índices de produção e produtividade, com ção como a Mineração Miranda S.A. (produção de
a ampliação de áreas agricultáveis e o emprego de pó calcário para corretivo de solos e ração animal,
novas tecnologias. Nesse aspecto têm relevância e cal para a construção civil), a Mineração Calbon
os municípios de Miranda e Bodoquena, na cultura Ltda. (calcários dolomítico e calcítico para fins agrí-
de feijão, e Aquidauana e Bonito, na de arroz. colas) e a Camargo Corrêa Industrial, por sua con-
Na atividade pesqueira destaca-se a cidade trolada Cimento Portland Eldorado, localizada no
de Miranda, onde existe uma infra-estrutura hote- município de Bodoquena. A região é bem servida
leira voltada para esse fim. Com a nova mentali- de cerâmicas, com algumas delas produzindo te-
dade de proteção ao meio ambiente, levas de lhas e manilhas, além de tijolos furados.

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SF.21-X-A (Aquidauana)

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ASPECTOS FISIOGRÁFICOS E
GEOMORFOLÓGICOS
4.1 Clima do pantanal, a mata caducifólia (mata seca) e a
mata perenifólia ciliar.
De acordo com o DNOS, 1974 (in Projeto RA- A mata tropical desenvolve-se na região da serra
DAMBRASIL, Folha SF.21, 1984), predomina o cli- da Bodoquena, onde sobressaem as espécies bar-
ma tropical quente do tipo Savana do centro-oeste riguda (Chorisia sp.), angico (Piptadenia sp.), ca-
ou Aw, da classificação de Köppen (in Nogueira et nafístula (Cassia fístula), braúna (Schinópsia
al., 1978), com duas estações bem marcadas: seca brasiliensis), aroeira (Astronium sp.), peroba (Aspi-
(abril a setembro) e chuvosa (outubro a março). Su- dosperma peroba), cedro (Cedrela sp.) e ipê (Ta-
bordinadamente observa-se o clima subtropical, bebuia sp.).
porém, sem o período seco florestal, como se verifi- O cerrado, tipo de vegetação predominante,
ca no sul do Brasil. ocorre na parte central e leste da área, sobre litolo-
As temperaturas médias mensais são superiores gias do Grupo Cuiabá e da Formação Aquidauana.
a 18° C, sendo setembro o mês mais quente. Em ju- Ocorre também a oeste da serra da Bodoquena so-
nho e julho ocorrem temperaturas mínimas absolu- bre litologias do Complexo Rio Apa e da Associa-
tas de até 0° C, ou mesmo inferiores, nas regiões ção Metamórfica do Alto Tererê.
mais altas da serra da Bodoquena. As espécies vegetais do cerrado possuem ca-
racterísticas inconfundíveis, como troncos e galhos
4.2 Vegetação retorcidos, porte médio em torno de 4-6m e cascas
grossas e enrugadas. Os estratos inferiores são for-
A cobertura vegetal possui representantes de mados por gramíneas e árvores de pequeno porte.
grande parte das principais espécies vegetais da Em muitos pontos o solo fica a descoberto.
Região Centro-Oeste. Destacam-se: a mata De acordo com Khulmann, 1960 (in Nogueira et
tropical, o cerrado, os campos limpos, o complexo al., 1978), as principais espécies vegetais represen-

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tantes dos cerrados são: a lixeira (Curatella ameri- drenagem bem menos densa. É comum a presença
cana), o pau-terra (Qualea sp.), o pau-santo de grutas, causadas pela dissolução das rochas
(Kielmeyera Coriacea), o pequi (Caryocar brasilien- calcárias. Em alguns locais os rios apresentam
sis) e a mangaba (Harcórnia sp.). sumidouros, passando a correr subterraneamente,
A vegetação do estrato arbóreo do pantanal ma- como ocorre com o rio Perdido (foto 1). Não se
to-grossense varia de local para local, alternando verificam sedimentos nos leitos desses rios, mas
espécies hidrófilas, mesófilas e mais raramente xe- sim, matéria carbonática de aspecto esponjoso,
rófilas, ocupando áreas bem definidas. A vegeta- constituindo os travertinos e formando, às vezes,
ção hidrófila ocorre em terrenos permanentemente travessões (foto 12).
alagados. São típicas dessa vegetação a marsília,
a elodea e a vitória-régia. A vegetação mesófila se
desenvolve onde os terrenos são medianamente 4.4 Solos
úmidos. É a mais evoluída, tendo como represen-
tantes a embaúba, o coqueiro e a canela. São co- São identificados, de maneira generalizada, seis tipos
muns manchas de mata de tamanho e forma de solos na região: latossolos, solos calcimórficos,
variáveis, bem como extensões de campos e vere- litossolos, solos hidromórficos, solos halomórficos e solos
das; estas, formadas por gramíneas ralas, em zo- aluviais (Nogueira et al., 1978). Segundo esses autores,
nas umedecidas. A vegetação do Pantanal está os latossolos ocorrem nas áreas pediplanizadas,
presente, nesta folha, na região conhecida por de- caracterizando-se por apresentarem textura argilosa e
pressão periférica do rio Miranda (Almeida, 1945), cores vermelhas vivas. Os solos calcimórficos estão
a noroeste da cidade homônima, e a norte da cida- concentrados na região da serra da Bodoquena, sob o
de de Aquidauana, ao longo da planície de inunda- domínio de rochas carbonáticas. Suas cores variam do
ção do rio Aquidauana. cinza ao marrom-escuro e a textura é argilosa.
Geralmente mostram perfil imaturo. Esses solos, com
freqüência formam pequenas ocorrências de travertino,
4.3 Hidrografia precipitado através do fluxo aquoso das encostas (foto
13). Os litossolos estão relacionados com as litologias do
Todos os rios que drenam a área em apreço estão Grupo Cuiabá e do Complexo Rio Apa,
integrados à Bacia Platina, sendo afluentes do rio caracterizando-se por serem pouco desenvolvidos, isto
Paraguai, pela margem esquerda. O rio Miranda, o é, imaturos, e muito pedregosos, com fragmentos de
principal, recebe pela margem esquerda os rios quartzo leitoso capeando as ondulações do terreno, de
Chapena e Salobra, e pela margem direita o rio modo irregular. Os solos hidromórficos estão confinados
Aquidauana, que constitui o mais importante às áreas pantanosas ou alagadas, como as planícies
escoadouro do setor leste da folha. Dezenas de aluviais do rio Salobra e áreas do Pantanal, a noroeste de
pequenos córregos e rios menores formam as Miranda e norte de Aquidauana. Esses solos são de
bacias de captação desses dois importantes rios. cores cinza a cinza-escuro e apresentam textura
Nos setores central, sul e sudoeste da folha, em argilosa, com teores altos de matéria orgânica e
domínios de rochas metapelíticas do Grupo Cuiabá carbonática. Os solos halomórficos ocorrem na região
e da Associação Metamórfica do Alto Tererê, do Pantanal, onde, em conseqüência da intensa
respectivamente, os rios mostram-se densamente evaporação nos períodos de estiagem, sobretudo nas
distribuídos. Ali, o aspecto colinoso e montanhoso regiões periféricas das inúmeras lagoas, há a
do relevo proporciona a formação de vales em forma concentração de sais. Esses solos ocorrem também
de “V”, formando verdadeiras torrentes no período em trechos ao longo das margens do rio Miranda.
chuvoso, tornando-se, alguns, secos durante a Finalmente, os solos aluviais distribuem-se ao longo
estiagem. Como conseqüência do relevo e dos tipos das margens e confluências dos principais rios como
de rochas atravessados, há consideráveis o Miranda e Aquidauana. Sua textura é arenosa,
depósitos aluvionares nos leitos desses rios. Já as inconsistente e algumas vezes pedregosa, sendo
regiões sob o domínio de rochas carbonáticas dos bastante permeáveis. Mostram características de
grupos Cuiabá e Corumbá, possuem uma solos alóctones.

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SF.21-X-A (Aquidauana)

4.5 Geomorfologia são na folha. Possui as mesmas características


ambientais que as planícies pantaneiras, forman-
Com relação aos aspectos geomorfológicos são do “depressões alagadiças, terraços elevados e
evidenciadas as seguintes feições no relevo da área: secos durante boa parte do ano, baixas colinas
o espigão tabular da serra da Bodoquena, a depres- retocadas em terraços, leques aluviais de drena-
são interplanáltica que incorpora a bacia do rio Miran- gem anastomosada e pedimentos coluviais que
da e os baixos platôs tabulares da serra de Maracaju; evoluem para pedimentos rochosos” (Nogueira
esta última fora dos limites da folha. A leste, no âmbito et al., 1978). A área abrangida por essa unidade
dos arenitos da Formação Aquidauana, o relevo, vai desde os contrafortes orientais da serra da
pontificado por testemunhos ou monadnocks, apre- Bodoquena até os platôs que constituem os are-
senta formas tabulares. A noroeste do município de nitos da Formação Aquidauana, a leste. Para nor-
Miranda e a norte de Aquidauana desenvolve-se uma te o relevo torna-se mais arrasado, apresentando
planície que corresponde ao início do Pantanal. Em aqui e acolá, morrotes e cristas, denotando uma
contraste com a planície pantaneira, – a forma de re- topografia irregular. Para sul, a fisiografia é mar-
levo que mais sobressai – a serra da Bodoquena for- cada por superfícies aplainadas entre os rios,
ma um planalto estreito em forma de espigão, de topo com vales pouco aprofundados, seja em rochas
tabular, estendendo-se na direção norte-sul por mais do Grupo Cuiabá ou da Formação Aquidauana.
de 200km, com largura de 20-40km. É freqüente a Ao longo dos rios Aquidauana e Miranda desen-
presença de dolinas (foto 2). volvem-se planícies aluviais, caracterizadas por
A depressão interplanáltica do rio Miranda é a drenagem complexa, anastomosada, formando
feição geomorfológica que ocupa a maior exten- lagoas e meandros abandonados.

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