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Boletim de Pesquisa 28

e Desenvolvimento ISSN 1677-2229


Janeiro, 2007

Suscetibilidade a Inseticidas e
Parasitismo Natural por Trichogramma
sp. em Traça-do-Tomateiro
República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva
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Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento


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ISSN 1677-2299
Janeiro, 2007

Empresa Brasileira de Pesquisa agropecuária


Embrapa Hortaliças
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Boletim de Pesquisa
e Desenvolvimento 28

Suscetibilidade a Inseticidas e
Parasitismo Natural por Trichogramma
sp. em Traça-do-Tomateiro

Tarita Cira Deboni


Marina Castelo Branco

Brasília-DF
2007
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1a edição
1a impressão (2007): 50 exemplares

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A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em
parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610).

Deboni, Tarita Cira


Suscetibilidade a inseticidas e parasitismo natural por Trichogramma sp. em traça-do-tomateiro /
Tarita Cira Deboni e Marina Castelo Branco. -- Brasília : Embrapa Hortaliças, 2007.

18 p. ; (Embrapa Hortaliças. Boletim de pesquisa e desenvolvimento, 28)


ISSN 1677-2229

1. Praga - Controle biológico - Trichogramma sp. 2. Praga - Inseticida - Resistência.


3. Tuta absoluta. I. Castelo Branco, Marina. II. Título. III. Série.

CDD 632.96 (21. ed.)


®
Embrapa 2007
Sumário

Resumo .......................................................................................................1

Abstract .......................................................................................................2

Introdução ...................................................................................................3

Material e Métodos ......................................................................................4

Resultados e Discussão..............................................................................5

Conclusões ...............................................................................................10

Referências Bibliográficas .........................................................................10


Suscetibilidade a Inseticidas e
Parasitismo Natural por Trichogramma
sp. em Traça-do-Tomateiro

Tarita Cira Deboni1


Marina Castelo Branco2

Resumo

A traça-do-tomateiro é uma praga importante do tomate e inseticidas são freqüentemente


empregados para o seu controle. Porém, devido ao impacto ambiental e a possibilidade de
resistência aos produtos utilizados para o controle do inseto, o controle biológico com o uso
de Trichogramma pode ser uma alternativa para eliminar os dois problemas. Neste trabalho
foi avaliada em bioensaios de laboratório a eficiência da dose recomendada de inseticidas do
grupo químico dos organofosforados, piretróides e benzoiluréia para o controle da traça-do-
tomateiro. Foi também avaliada a ocorrência natural de Trichogramma sp. em áreas
pulverizadas ou não pulverizadas com inseticidas. A ocorrência do parasitismo natural foi
determinada por meio da coleta de folhas em campo contendo ovos de traça-do-tomateiro, a
fim de determinar, em avaliações de laboratório, a percentagem de ovos parasitados. Os
resultados mostraram que todos os inseticidas testados causaram uma mortalidade de larvas
menor que 70%, o que sugere uma eficiência reduzida dos produtos. O parasitóide
Trichogramma sp. ocorreu naturalmente em todas as áreas, mas a percentagem de
parasitismo foi menor nas áreas pulverizadas. Outros estudos devem ser realizados a fim de
avaliar o potencial dos parasitóides locais, provavelmente mais bem adaptados as condições
locais, para o controle da traça-do-tomateiro. Se esses organismos forem efetivos, o uso de
inseticidas em lavouras de tomate pode ser reduzido.

Palavras chave: Tuta absoluta , Resistência , controle biológico.

_______________________
1
Estagiária da Embrapa Hortaliças. Estudante de Graduação de Agronomia da Universidade Estadual de Santa Catarina;
2
Pesquisadora, PhD Entomologia, Embrapa Hortaliças, Brasília-DF. E-mail: marina@cnph.embrapa.br
Susceptibility to Insecticides and
Natural Parasitism by Trichogramma
sp. in the Tomato Pinworm

Abstract

The South American tomato pinworm is an important tomato pest and insecticides are
commonly used for its control. But, due to their environmental impact and the possibility of
resistance to these products, biological control using Trichogramma sp. could be an
alternative to eliminate both problems. In this work we evaluated the efficciency of the
recommended doses of organophosphorous compounds, pyrethroids and
benzoylureas to control the tomato pinworm in laboratory bioassays. Also, we evaluated the
natural occurrence of Trichogramma in sprayed and unsprayed areas. The occurrence of
natural parasitism was determined by collecting tomato leaves with eggs in the field in order
to determine in the laboratory the percentage of parasitism. The results showed that all tested
insecticides caused less than 70% mortality, which suggested reduced effectiveness.
Trichogramma sp. occurred naturally in all areas, but the rate of parasitism was lower in
sprayed areas. Further studies could be taken in order to evaluate the potential of local
parasitoids, probably adapted to local conditions, to control tomato pinworm. If those
organisms are effective, the use of insecticides in tomato crops could be reduced.

IndexTerms: Tuta absoluta, resistance, biological control


3 Suscetibilidade a inseticidas e Parasitismo Natural por Trichogramma sp. em Traça-do-Tomateiro

INTRODUÇÃO

O Estado de Goiás é o maior produtor de tomate para mesa e principalmente para


processamento do país; em 2005 foi responsável por 22,5% da produção nacional. Os
municípios de Itaberaí, Cristalina e Morrinhos são os maiores produtores do estado e
respondem por cerca de 8,3% da tomaticultura nacional (IBGE, 2007).

A cultura do tomate é de alto risco em virtude da infestação por diversas pragas, sendo
uma das mais importantes a traça-do-tomateiro (Tuta absoluta) (Lepidoptera:
Gelechiidae). O inseto ocorre durante todo o ciclo da cultura e ataca folhas, ramos e
frutos (SOUZA; REIS, 2003). Para a redução desses danos, o controle químico é a
prática mais empregada e em algumas regiões chegam a ser feitas duas a três
pulverizações por semana. Essas pulverizações podem reduzir a susceptibilidade das
populações de traça-do-tomateiro aos produtos empregados (SIQUEIRA et al., 2000;
CASTELO BRANCO et al., 2001; LIETTI et al., 2005). Uma forma de avaliar a presença
do problema é identificar os produtos mais eficientes para o controle do inseto em uma
região através de bioensaios em laboratório, onde a eficiência da dose recomendada do
inseticida para o controle da praga é testada (CASTELO BRANCO et al., 2003).

Uma alternativa ao controle químico da traça-do-tomateiro é o emprego do controle


biológico feito com parasitóides de ovos como por exemplo, Trichogramma pretiosum
(HAJI et al., 2002). O parasitóide do gênero Trichogramma apresenta uma ampla
distribuição geográfica e pode ocorrer naturalmente no campo (BASTOS et al., 2006;
GONÇALVES et al., 2006; HERZ et al., 2007). Essas espécies locais podem ser as mais
indicadas para o controle biológico, já que estão bem adaptadas ao hospedeiro e as
condições ambientais locais (HASSAN, 1994).

Tendo em vista que os inseticidas são hoje o principal método de controle da traça-do-
tomateiro, que populações desse inseto com susceptibilidade reduzida a inseticidas já
foram encontradas no Brasil, e que não há informações sobre a ocorrência natural de
Trichogramma sp. em áreas de produção de tomate industrial de Goiás, os objetivos
deste trabalho foram:
Suscetibilidade a inseticidas e Parasitismo Natural por Trichogramma sp. em Traça-do-Tomateiro 4

a) avaliar a susceptibilidade de duas populações de traça-do-tomateiro a dose


recomendada de inseticidas dos grupos químicos dos organofosforados,
piretróides e benzoiluréia;
b) avaliar a ocorrência natural do parasitóide Trichogramma sp. em duas áreas
de tomate industrial de Goiás;
c) comparar os índices de parasitismo natural de ovos de traça-do-tomateiro de
duas áreas de produção de tomate industrial com os índices de parasitismo
natural de duas áreas de produção de tomate orgânico.

Material e Métodos

Inseticidas usados em tomate industrial e susceptibilidade de traça-do-tomateiro a


inseticidas

O trabalho foi realizado com duas populações de traça-do-tomateiro (populações 1 e 2)


coletadas em duas propriedades produtoras de tomate destinado a indústria, na cidade
de Morrinhos (GO). A população 1 foi coletada em uma área de produção de 120 ha
irrigada com pivô central. No local, inseticidas não eram aplicados há 15 dias e a
colheita se iniciaria no dia seguinte. A população 2 foi coletada em duas áreas
localizadas lado a lado de 120 ha cada uma e irrigadas também por pivô central. Os
locais estavam a 7 dias sem receber pulverização.

O primeiro passo do trabalho foi realizar um levantamento dos inseticidas aplicados nas
duas lavouras durante todo o ciclo da cultura. Após isto, cerca de 200 folhas de tomate
da parte superior e mediana das plantas foram coletadas aleatoriamente nas áreas
anteriormente descritas. As folhas foram levadas para o Laboratório de Entomologia da
Embrapa Hortaliças no Distrito Federal e colocadas ao redor de plantas semeadas em
vasos, para que os ovos eclodissem e as larvas migrassem para as plantas de tomate.
Larvas de terceiro instar foram empregadas no bioensaio.

Para a determinação da susceptibilidade das populações a dose recomendada dos


inseticidas, foram testadas as doses comercias de três inseticidas de três grupos
químicos diferentes: benzoiluréia (grupo químico não empregado em nenhuma das
áreas de produção) (lufenuron, 4 g.i.a/100L); organofosforado (acefato, 75 g.i.a/100L) e
5 Suscetibilidade a inseticidas e Parasitismo Natural por Trichogramma sp. em Traça-do-Tomateiro

piretróide (lambidacialotrina, 2,5 g.i.a/100L). Folhas de plantas de tomate com cerca de


45 dias de idade foram imersas na solução do inseticida e deixadas para secar a
temperatura ambiente por uma hora. Depois de secas as folhas foram colocadas
individualmente em placas de Petri descartáveis, sobre discos de papel filtro, levemente
umedecidos com água destilada. Para cada população foram empregadas cinco
repetições por tratamento, com oito larvas por repetição. Para o tratamento testemunha
empregou-se folhas tratadas apenas com água.

A mortalidade das larvas foi avaliada após 72 h. Para a determinação da taxa de


mortalidade, os dados foram corrigidos pela fórmula de Abbot (1925).

Parasitismo de Trichogramma sp. em ovos de Tuta absoluta

Para a avaliação do parasitismo de ovos de T. absoluta por Trichogramma sp. foram


usados 60 e 30 ovos de traça-do-tomateiro retirados de folhas de tomate coletadas no
campo das populações 1 e 2 descritas anteriormente. Para melhor avaliação do
potencial de ocorrência de parasitismo natural, foi ainda avaliada a percentagem de
parasitismo de ovos coletados em duas áreas de produção orgânica (populações 3 e 4).
A população 3 foi coletada na área de produção de tomate orgânico da Embrapa
Hortaliças e a população 4 em uma Horta Urbana Orgânica localizada na cidade de
Santo Antônio do Descoberto (GO). Como o número de ovos de traça-do-tomateiro era
baixo nestas duas áreas, foram realizadas seis e cinco coletas respectivamente, entre
agosto e setembro de 2006. Em cada coleta foram retiradas aleatoriamente 60 folíolos
da parte superior das plantas encontradas no campo e todos os ovos encontrados foram
empregados nas avaliações. Foram obtidos um total de 67 e 39 ovos para as
populações 3 e 4 respectivamente.

Para a avaliação da percentagem de parasitismo, os ovos encontrados nas folhas foram


transferidos individualmente para cápsulas de gelatina. Após sete dias foram
observados em lupa para verificar a presença de larva de traça-do-tomateiro ou
presença de Trichogramma sp. Os ovos que não haviam eclodido nesta data foram
reavaliados aos 12 e 18 dias, sendo que, somente após este período, foram
contabilizados como ovos não eclodidos.
Suscetibilidade a inseticidas e Parasitismo Natural por Trichogramma sp. em Traça-do-Tomateiro 6

Resultados e Discussão

Inseticidas utilizados em tomate industrial e susceptibilidade de traça-do-


tomateiro a inseticidas

Os inseticidas para o controle de pragas aplicados nas duas lavouras de Morrinhos


foram os mesmos, já que a produção era destinada à mesma indústria e era conduzida
pelo mesmo agrônomo. Os produtos foram adquiridos no início da safra e aplicados de
acordo com um calendário pré-determinado. Nos primeiros trinta dias após o transplante
o objetivo era controlar pragas que poderiam cortar as plantas e também a mosca-
branca (Tabela 1). Este último inseto tem causado grandes preocupações aos
produtores, já que ao sugar as plantas podem provocar alterações no seu
desenvolvimento ou ainda transmitir viroses que podem paralisar o crescimento (VILLAS
BÔAS, 2005). No período compreendido entre os 30 e 90 dias após o transplante, os
inseticidas foram aplicados com o objetivo de reduzir os potenciais danos nos frutos
causados por traça-do-tomateiro e brocas grande e pequena. Nesta fase as
pulverizações foram realizadas com um intervalo de três a quatro dias e objetivava
atingir quase todos os estágios de desenvolvimento do inseto (Tabela 1). No período
entre 90 e 120 dias após o transplante as pulverizações visaram outra vez o controle de
mosca-branca (Tabela 1). Nesta fase o objetivo foi evitar que as toxinas injetadas pelo
inseto causassem o amadurecimento irregular dos frutos, o que poderia afetar a cor do
produto industrializado (VILLAS BÔAS, 2005).

Como conseqüência deste calendário pré-determinado de pulverizações, foram


realizadas cerca de 25 aplicações de inseticidas durante o ciclo da cultura, sendo nove a
10 aplicações realizadas para o controle da traça-do-tomateiro, em um período bem
definido do ciclo (Tabela 1). Ainda que o número de pulverizações e a freqüência de
aplicação de inseticidas para o controle da traça-do-tomateiro possa ser considerado
elevado, ao se comparar estes dois parâmetros, com os relatados na década passada,
constatou-se uma redução do uso de inseticidas ao longo do tempo, possibilitada pela
definição do período de controle. Em 1993, em lavouras de tomate estaqueado eram
realizadas até três pulverizações semanais somente para o controle da traça-do-
tomateiro, o que poderia totalizar até 36 pulverizações durante todo o ciclo da cultura
(FRANÇA, 1993).
7 Suscetibilidade a inseticidas e Parasitismo Natural por Trichogramma sp. em Traça-do-Tomateiro

Tabela 1. Inseticidas empregados para o controle de pragas em duas lavouras de


tomate para processamento industrial. Morrinhos (GO). 2006.
Dias após Grupo Classe
Produto Ingrediente
transplante¹ Praga alvo químico Ambienta
comercial ativo
. l4
Neonicotinóid III
0-30 Mosca-branca Confidor Imidacloprid
e
Organofosfora II
Grilos Astro Clorpirifós
do
Vaquinhas e Beta- Piretróide II
Turbo
lagarta-rosca ciflutrina
30-90 Traça-do- Lannate Organofosfora II
Metomil
tomateiro e (larvas) do
broca-dos- Ditiocarbamat II
2 Cartap3 (ovos) Cartap
frutos o
Sumithion Organofosfora
Fenitrotiona
(larvas) do
Ditiocarbamat II
Cartap (ovos) Cartap
o
Lannate + Organofosfora II + II
Metomil +
Sumidan do + piretróide
Esfenvalerat
(larvas +
e
adultos)
Ditiocarbamat II
Cartap (ovo) Cartap
o
90-120 Mosca-branca Hostathion Triazofós Fosforado II
Neonicotinóid III
Confidor Imidacloprid
e
Espiromesife Cetoenol II
Oberon
no
Tiger Piriproxifeno Piridil éter II
1/
Os intervalos são aproximados com base nas informações obtidas
2/
Os inseticidas foram empregados em rotação no período de 30 a 120 dias
3/
O inseticida Cartap era aplicado três a quatro dias após o inseticida anterior
4/
Classe Ambiental: I= produto altamente perigoso ; II= produto muito perigoso; III= produto perigoso;
IV= produto pouco perigoso

Muito embora o número de pulverizações para o controle da traça-do-tomateiro seja


atualmente menor, as pulverizações contínuas de inseticidas podem reduzir a
susceptibilidade das populações a dose recomendada dos produtos, o que pode
comprometer o controle do inseto. No caso das duas populações de Morrinhos, foi
observado que a mortalidade das larvas foi inferior a 70% para todos os agrotóxicos
testados (Figura 1). Tal fato sugere que os inseticidas podem ter uma eficiência reduzida
em campo, principalmente em ocasiões onde há uma grande população do inseto na
área. Para esta inferência deve-se levar em conta que, quando um novo produto é
lançado, normalmente a sua eficiência em testes de laboratório é superior a 95%
(CASTELO BRANCO et al., 2003).
Suscetibilidade a inseticidas e Parasitismo Natural por Trichogramma sp. em Traça-do-Tomateiro 8

80

70
% mortalidade de larvas

60

50
População 1
40
População 2
30

20

10

0
acefato (75 Lambidacialtrina (2,5 lufenuron (4
g.i.a/100L) g.i.a/100 L) g.i.a/100L)

Figura 1. Avaliação da eficiência da dose recomendada de


inseticidas para o controle de traça-do-tomateiro de duas populações
coletadas em áreas de tomate para processamento em Morrinhos
(GO). Bioensaios de laboratório. Brasília. 2006.

A reduzida susceptibilidade da traça-do-tomateiro aos inseticidas aqui observada não é


nova. Em 2001, bioensaios realizados com uma população de traça-do-tomateiro do
Distrito Federal constataram que as doses comerciais dos inseticidas lufenuron, acefato
e deltametrina (piretróide) causaram respectivamente 67, 2 e 0% de mortalidade larval
(CASTELO BRANCO et al., 2001).

Para todos os inseticidas foi observada uma taxa de mortalidade diferente entre as duas
populações (Figura 1), o que sugere diferentes graus de eficiência de controle para cada
área de produção. Curiosamente, a maior diferença na taxa de mortalidade foi para o
inseticida lufenuron, onde para a população 1 foi observada uma mortalidade de larvas
de 50% e para a população 2 uma mortalidade de larvas de apenas 2%. Isto sugere que
o nível de susceptibilidade das populações também variava no espaço. Como inseticidas
deste grupo não eram utilizados nas áreas de produção avaliadas, é possível que tenha
havido uma migração e multiplicação de indivíduos não susceptíveis ao produto nas
áreas de cultivo, como já foi observado para outras pragas no Japão (HAMA, 1990) e na
Austrália (SCOTT et al., 2005).

Em resumo, os resultados mostraram uma baixa susceptibilidade de populações de


traça-do-tomateiro a inseticidas dos grupos químicos organofosforados, piretróides e
9 Suscetibilidade a inseticidas e Parasitismo Natural por Trichogramma sp. em Traça-do-Tomateiro

benzoiluréia nas áreas selecionadas. A realização de bioensaios para a avaliação da


susceptibilidade de populações de traça-do-tomateiro a dose recomendada de
inseticidas em outras áreas de cultivo de tomate poderá verificar se esta resistência
também ocorre e poderá também contribuir para uma melhor indicação dos produtos a
serem empregados para o controle da praga. Além do mais, a realização destes
bioensaios e a seleção mais criteriosa dos inseticidas poderá contribuir para reduzir o
uso de produtos ineficientes para o controle da traça-do-tomateiro, além de eliminar os
potenciais impactos ambientais negativos destes produtos, já que a maioria dos
produtos empregados neste caso eram perigosos para o meio-ambiente (Tabela 1).

Parasitismo de Trichogramma sp. em ovos de Tuta absoluta

Ovos de traça-do-tomateiro parasitados naturalmente por Trichogramma sp. foram


encontrados em todas as regiões em que houve coleta. Em áreas onde não houve
pulverização de inseticidas (áreas de coleta das populações 3 e 4), o parasitismo natural
foi em média de 30% (Figura 2). Em Portugal, Trichogramma sp. também foi observado
naturalmente no campo, e os índices de parasitismo variaram de 28% a 64%
(GONÇALVES et al., 2006). Nas áreas pulverizadas (populações 1 e 2), o parasitismo
natural foi inferior ao encontrado nas áreas não pulverizadas (Figura 2). As
pulverizações de inseticidas podem ter contribuído para este resultado, conforme
Carvalho et al. (2003) e Rocha e Carvalho (2004), que verificaram que diferentes
inseticidas causaram a mortalidade de adultos de Trichogramma ou afetaram a sua
capacidade de parasitismo.

Nas áreas pulverizadas, a maior percentagem de parasitismo foi encontrada na área


onde as pulverizações não eram realizadas há 15 dias (população 1) (Figura 2). Tal
observação sugere que em ausência de aplicações de inseticidas, a percentagem de
parasitismo natural tende a aumentar. Isto pode ocorrer porque com a redução dos
resíduos de inseticidas sobre as plantas, parasitóides que escaparam do contato com os
produtos nas lavouras poderiam sobreviver e se multiplicar.
Suscetibilidade a inseticidas e Parasitismo Natural por Trichogramma sp. em Traça-do-Tomateiro 10

60

50

40
Percentagem

% ovos parasitados
30
% ovos não eclodidos

20

10

0
População 1 População 2 População 3 População 4

Figura 2. Porcentagem de ovos de traça-do-tomateiro parasitados por


Trichogramma sp. e percentagem de ovos de traça-do-tomateiro não eclodidos.
População 1 e 2 coletadas em Morrinhos (GO) em áreas de tomate para
processamento pulverizadas com inseticidas. População 3 e 4 coletadas
respectivamente na Embrapa Hortaliças (DF) e em Santo Antônio do
Descoberto (GO) em áreas de produção de tomate orgânico. 2006.

Em resumo, os resultados desta avaliação indicaram que parasitóides do gênero


Trichogramma ocorreram naturalmente nas áreas de cultivo de tomate pulverizadas com
inseticidas e nas áreas de cultivo orgânico. Outras avaliações da ocorrência desse
parasitismo natural deverão ser realizadas em outras localidades de cultivo industrial.
Isto porque, no caso específico das lavouras de tomate para processamento industrial, a
existência de uma época específica para o controle da traça-do-tomateiro (Tabela 1),
indica a possibilidade do uso do controle biológico com Trichogramma sp. para a
redução dos danos da praga. O controle biológico inundativo empregando parasitóides
locais, que devem ser bem adaptados a região, merece então ter a sua eficiência
avaliada. Se Trichogramma sp. for empregado para o controle da traça-do-tomateiro, o
número de pulverizações de inseticidas nas lavouras pode ser reduzido e com isso
podem ser reduzidos os custos financeiros dos produtores, bem como os custos
ambientais associados a aplicações de inseticidas.
11 Suscetibilidade a inseticidas e Parasitismo Natural por Trichogramma sp. em Traça-do-Tomateiro

Conclusões

1. Os inseticidas testados causaram uma mortalidade de larvas menor que 70%, o que
sugere uma eficiência reduzida dos produtos.
2. O parasitóide Trichogramma sp. ocorreu naturalmente em todas as áreas, mas a
percentagem de parasitismo foi menor nas áreas pulverizadas.
3. Outros estudos devem ser realizados a fim de avaliar o potencial dos parasitóides
locais, provavelmente mais bem adaptados as condições locais, para o controle da
traça-do-tomateiro.

Agradecimentos

A Dra. Geni L. Villas Bôas pela revisão do texto e a Ronaldo S. de Liz pelo auxílio nos
trabalhos de laboratório.

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