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DA LIBERDADE
1
Carlos Henrique Filgueiras Prata
2
Leyla Menezes de Santana
RESUMO
Esse trabalho tem como objetivo analisar a educação, porém, a partir do paradigma anarquista. Discute
o conflito ideológico decorrente disso, a não neutralidade do processo educacional, bem como suas
consequências à liberdade e desenvolvimento intelectual de cada indivíduo, apontando alternativas à
luz da teoria libertária (especialmente de sua pedagogia). A pesquisa ancora-se numa metodologia
bibliográfica de pesquisa em várias fontes, como sites, revistas, livros e artigos terciários. Vem de
Silvio Gallo (1996, p.11) a crítica à educação tradicional principalmente pelo seu caráter ideológico:
As escolas dedicam-se a reproduzir a estrutura da sociedade de exploração e dominação, ensinando os
alunos a ocuparem seus lugares sociais pré-determinados. Daí a necessidade de reformar a educação a
partir de princípios sólidos, partindo também do pressuposto da impossibilidade de uma neutralidade,
já que somos moldados pelos valores construídos socialmente (que também passam por suas próprias
disputas ideológicas enquanto estão em processo de solidificação) e pelas nossas influências
intelectuais, a proposta é de uma educação que trabalhe com o princípio de liberdade (a partir dela e a
tendo como objetivo) e da busca pela neutralidade Webberiana, uma isenção de valores (Wertfreiheit).
ABSTRACT: This work aims to analyze education, however, from the anarchist paradigm. Discusses
the ideological conflict arising from this, the non-neutrality of the educational process and its
consequences to freedom and intellectual development of each individual, pointing out alternatives in
light of the libertarian theory (especially it’s pedagogy). The research is anchored in a bibliographic
research methodology in various sources such as websites, magazines, books and tertiary articles. It
comes from Silvio Gallo (1996, p.11) criticism of traditional education mainly by its ideological
character: Schools are dedicated to reproduce the structure of exploitation and domination society,
teaching students to occupy their predetermined social places. Hence the need to reform education
from solid principles, also starting from the impossibility of neutrality assumption, since we are
shaped by the values socially constructed (which also go through their own ideological disputes while
in the solidification process) and for our intellectual influences, the proposal is for an education that
works with the principle of freedom and the search for webberian neutrality, an exemption values
(Wertfreiheit).
1
Discente do Instituto Federal de Sergipe/ Curso de Informática – Campus Aracaju. Email:
henrique.prata7@gmail.com.
2
Docente do Instituto Federal de Sergipe / Disciplina História – Campus Aracaju e da Universidade
Tiradentes; Grupos de Pesquisa: Educação, Cultura e Subjetividades (GPECS) / Educação e Sociedade:
Sujeitos e Práticas Educativas; Email: leyla.menezes@gmail.com.
1. A não-neutralidade da educação
2. As diferentes pedagogias
Se vivo, Durkheim talvez tivesse concordado com Lessing e sua proposição de que
toda educação é um sistema de doutrinação, mas não a interpretaria de forma crítica. Para ele,
a educação deveria fazer a transição do ser individual ao ser social. O individualismo
resultante da expansão capitalista (aprofundada nos tempos de hoje) deveria ser superado para
a formação de uma consciência coletiva. O fato de que a sociedade moderna baseia-se em
uma divisão crescentes (nos moldes fordistas) das tarefas traz como consequência uma
diferenciação cada vez maior dos papéis sociais e um risco de perda desse equilíbrio onde os
diferentes papéis e funções sociais são solidários uns aos outros (a consciência de classe,
como definiria o marxismo). A educação deveria, nesse âmbito, captar o "Zeitgeist" da época
para replicá-lo nas gerações futuras. Mesmo que sob meios autoritários, deveria ser a
sistematização dos padrões de uma sociedade. Como o próprio afirma:
A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda
não estão maduras para a vida social. Tem por objetivo suscitar e
desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e
morais, que requerem dela, tanto a sociedade política em seu conjunto,
quanto o meio especial ao qual ela é mais particularmente destinada...
Resulta da definição acima que a educação consiste em uma socialização
metódica da jovem geração" (DURKHEIM, 1975, p. 51).
Ninguém traz consigo alguma coisa, nem livros nem cadernos. Nenhum
aluno é obrigado a fazer dever de casa. Além de virem de mãos vazias, os
alunos não são obrigados a decorar lições, sequer a aula do dia anterior. Eles
não se atormentam com o pensamento da tarefa por fazer. Trazem apenas a si
mesmos, sua natureza receptiva, e a certeza de que hoje a escola será tão
alegre quanto ontem[...] Ninguém jamais é repreendido por se atrasar. Eles
se sentam onde querem: bancos, mesas, peitoris das janelas, poltronas. O
horário prevê quatro aulas antes do jantar, que às vezes na prática se tornam
três ou duas, e que podem ser sobre assuntos bastante diferentes[...] Na
minha opinião essa desordem externa é útil e necessária, por mais estranha e
inconveniente que possa parecer ao professor […] De início essa desordem,
ou ordem livre, nos assusta, porque fomos educados de outras maneiras e
estamos acostumados a algo diferente. Em segundo lugar, neste como em
muitos casos semelhantes, a coerção só é usada por causa de pressa ou falta
de respeito pela natureza humana[...] (Tolstói, op.cit Bartlett, 2013, p. 192).
Faz parte do ideário de Bakunin que a criança não pode ser propriedade de ninguém:
Nem de seus pais, nem da sociedade. Por rejeitar tanto o Estado quanto a propriedade privada,
Tolstói viu como única alternativa a essas tentativas de modelagem de mentalidade a
liberdade. A propriedade é o domínio de alguns homens sobre os outros, e o Estado existe
para garantir, por meio da força coercitiva ou da lei, essas relações de propriedade.
Ia contra os princípios de Tolstói exercer dominação sobre qualquer pessoa, por
isso, ele baseou sua escola na liberdade, ou seja, o aluno deveria querer aderir por si
mesmo. Tudo poderia ser ensinado, mas a partir do aluno, de suas necessidades, do seu
ritmo, da sua capacidade. Liberdade como meio e fim, e não apenas como fim.
Deveria ser socialmente conquistada nas lutas sociais, mas a escola deve se
mostrar como um centro de libertação das amarras construídas pela convivência e pelos
padrões para ajudar a superá-los. A educação integral também era importante, conforme
afirma Trassatti, educadores libertários não recusam a ciência e o saber especializado,
mas advogam que, antes, o processo educativo se concentre na formação plena
(dimensões física, intelectual e moral), que não separe o saber do saber fazer, isto é, que
não se fundamente na divisão entre ação e pensamento (trabalho braçal e intelectual).
Por não ser possível evitar essa transformação do indivíduo uma vez que ele se
encontra num meio social, e considerando que o ser humano é resultado de seus arranjos
sócio-econômicos (bem como os arranjos políticos), o objetivo de uma pedagogia libertária
deve ser, por fim, romper com os paradigmas da sociedade anterior para poder construir uma
nova natureza material e moral de uma nova sociedade, que seja individualizada em cada um.
O que se espera desse aluno é uma autogestão pedagógica, de modo que ele possa ser
ouvido a partir dos seus interesses e da sua inteireza, provocando uma emancipação
intelectual onde haja um desenvolvimento conciliado principalmente com os seus interesses
pessoais.
4. Considerações finais
Numa "era da informação", uma mudança na educação para uma perspectiva crítica -
livre - da realidade poderia gerar, na era da informação, uma análise crítica das coisas que
recebemos atualmente de forma muito rápida, sem muita dissociação entre fato e mito, entre
argumentação e falácia.
Dessa forma, considera-se que a neutralidade é um princípio complexo, talvez
impossível de ser atingido, mas pode-se considerar que o objetivo de demonstrar o conflito
ideológico decorrente da forma atual de se fazer educação foi atingido.
5. Referências Bibliográficas
GALLO, Silvio. "O paradigma anarquista em educação". Nuances, São Paulo, Vol 2.,
Out., 1996.
LÉVAL, Gaston. "La pedagogia de Bakunin". Reconstruir, Buenos Aires, Número 100,
Jan., 1976.
DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. 10. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1975.