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Automedicação responsável e os
medicamentos isentos de prescrição

Rogério Hoefler, MSc


Letícia Nogueira Leite, MSc, PhD
Farmacêuticos do Centro Brasileiro de Informação sobre
Medicamentos/Conselho Federal de Farmácia

Introdução

O progressivo desenvolvimento de novos Independentemente de limitações na ca-


medicamentos está associado a benefícios bem pacidade de atendimento nos sistemas de
estabelecidos para a saúde individual e coleti- saúde, a automedicação pode ser considerada
va, com evidências consistentes de redução da uma legítima alternativa para as pessoas re-
mortalidade, redução da carga de doença e me- solverem de forma proativa seus problemas de
lhora da qualidade de vida1. saúde, com agilidade e baixo custo. Todavia, há
Além disso, o uso de medicamentos de for- aspectos que podem comprometer a segurança
ma apropriada reduz custos à sociedade, espe- e a efetividade desta prática, como a deficien-
cialmente, por reduzir hospitalizações e perda te educação em saúde de parcela significativa
de produtividade devidas a efeitos adversos e da população; as propagandas impróprias que
a insucesso terapêutico1. Este aspecto ganha valorizam os benefícios de medicamentos, por
maior importância quando consideramos o vezes inexistentes, e omitem seus efeitos ad-
grande desafio de alcançar a sustentabilidade versos e contraindicações; e a negligência à im-
dos sistemas de saúde, em contexto de aumen- portância da orientação e do acompanhamento
to progressivo da longevidade das populações, de profissional habilitado.
de limitados recursos disponíveis e de crescen- Neste artigo, são discutidos conceitos bási-
tes custos das tecnologias para a saúde. cos relativos à automedicação e ao uso de me-
Apesar disso, nem sempre o medicamento dicamentos isentos de prescrição (MIPs), como
certo chega ao paciente que dele necessita. Cerca introdução a uma série de artigos que serão
de 50% de todos os pacientes não utilizam seus publicados nas próximas edições do Boletim
medicamentos de forma correta2 e, em muitos Farmacoterapêutica, abordando as evidências
casos, os sistemas de saúde não oferecem ade- de potenciais benefícios e danos associados a
quado suporte ao uso racional desses produtos1. essas práticas.

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Uso responsável e racional de medicamentos intuito de estabelecer e manter a própria saú-


de, bem como prevenir e lidar com as doenças.
O uso responsável de medicamentos pres- Este conceito é amplo e inclui cuidados de hi-
supõe que as atividades, as capacidades e os giene, de nutrição, de estilo de vida, de fatores
recursos dos profissionais da saúde estão ali- ambientais, de fatores socioeconômicos, e au-
nhados para garantir que os pacientes recebam tomedicação5.
os medicamentos corretos, em tempo oportu-
Seguindo esse raciocínio, automedicação
no, que os usem de forma apropriada e, por fim,
é o ato de selecionar e usar medicamentos
sejam de fato beneficiados1.
para tratar sinais, sintomas ou doenças re-
Este conceito é complementar e não conhecidas pelas próprias pessoas afetadas5.
substitui a definição de “uso racional de me- Este conceito abrange, por exemplo, novo uso
dicamento”, proposta pela Organização Mun- de um medicamento que consta em antiga
dial da Saúde (OMS):“O uso de medicamentos prescrição, aquisição de medicamento sem
é racional [apropriado, adequado, correto] prescrição, uso por indicação de amigos ou
quando os pacientes recebem os medica- parentes, ou compartilhamento de medica-
mentos apropriados, em doses que atendem mento em grupo social6.
suas necessidades individuais, por um perío-
A prática da automedicação é crescente en-
do adequado de tempo, ao mais baixo custo
tre pessoas com bom nível educacional e está
para eles e para a comunidade. O uso irracio-
associada ao melhor perfil socioeconômico,
nal [impróprio, inadequado, incorreto] de me-
mudanças do estilo de vida, “falta de tempo”,
dicamentos é quando ao menos uma destas
facilidade de acesso ao medicamento, casais
condições não é atendida.”1,3.
em que ambos trabalham, conhecimento sobre
Nota-se, nesses conceitos, a responsabili- a doença e capacidade de se tratar, e acesso à
dade dos profissionais envolvidos em garantir informação midiática4,6.
que os pacientes sejam beneficiados pelo tra-
Para as doenças de menor gravidade, ge-
tamento farmacológico, com o mínimo possível
ralmente autolimitadas, a automedicação é a
de danos, além do reconhecimento de que os
primeira opção de tratamento e pode ser mais
recursos são limitados.
acessível às pessoas com limitações financei-
ras para pagar por serviços clínicos e medica-
Autocuidado, automedicação e automedicação
mentos. Pode ser útil para reduzir os custos
responsável
dos cuidados em saúde e permitir aos profis-
sionais da saúde que se concentrem nos ca-
A escassez de médicos para atender às de-
sos de emergência6, pois reduz a demanda por
mandas das pessoas é um problema que aflige
serviços de saúde. Para as pessoas que vivem
muitas populações, em quase todo o mundo.
em áreas rurais ou remotas, com difícil aces-
Com isso, principalmente para os pacientes que
so a serviços de saúde, os pacientes são mais
não consideram sua condição suficientemente
capazes de controlar suas próprias condições4.
grave, o custo e o tempo de espera para conse-
Em geral, a automedicação é segura quando
guir uma consulta médica podem ser conside-
o problema de saúde tratado é de baixa gra-
rados insuportáveis 4.
vidade, todavia, não é isenta de desencadear
O conceito de autocuidado aplica-se às reações adversas e intoxicações em prejuízo
ações e comportamentos de uma pessoa com o do paciente (Quadro 1)6.

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Um aspecto importante do fenômeno da do, constipação, hiperacidez gástrica, fra-


automedicação é que muitas pessoas a prati- queza generalizada, insônia, febre, infecções
cam com medicamentos que requerem pres- na pele, artralgias, queimaduras, dismenor-
crição, expondo-se, potencialmente, a maiores reia e picadas de insetos 6.
riscos de reações adversas. O conceito de automedicação responsável
Usualmente, as pessoas se automedicam aplica-se à prática em que uma pessoa trata si-
com analgésicos, antipiréticos, antiácidos, nais, sintomas, e doenças que não necessitam
antidiarreicos, antidepressivos, ansiolíticos de consulta ou supervisão médica, com medi-
(sedativos), antialérgicos, antieméticos, pro- camentos isentos de prescrição (MIPs)4,5, a se-
dutos para a pele, antibióticos, esteroides, guir discutidos.
vitaminas, tônicos e preparações de proteí- Se a condição tratada com um MIP não for
nas. Entre as principais condições clínicas resolvida, com persistência ou agravamento do
tratadas por automedicação citam-se cefa- quadro, o paciente deve ser orientado a buscar
leia, dor no corpo, tosse associada a resfria- auxílio médico4.

Quadro 1. Potenciais benefícios e problemas da automedicação

Benefícios

• Ajuda a prevenir e a tratar sinais, sintomas e doenças que não exigem intervenção médica;
• Reduz a demanda por serviços de saúde, o que é especialmente importante onde estes estão
indisponíveis ou insuficientes;
• É opção de cuidado à saúde em áreas rurais ou remotas;
• Ajuda os pacientes a melhorar o controle sobre doenças crônicas;
• Melhora o bem-estar e a produtividade das pessoas;
• Beneficia economicamente o empregador;
• Economiza tempo e recursos das pessoas nos cuidados de saúde.

Problemas

• Muitas pessoas usam analgésicos por longo prazo para tratar cefaleia, por exemplo, sem sa-
ber a causa e sem buscar orientação de um médico;
• O paracetamol pode causar graves danos hepáticos quando usado em doses elevadas, por
longo prazo, ou associado ao consumo de bebida alcoólica;
• Surgimento de resistência microbiana, particularmente em países em desenvolvimento, onde
os antimicrobianos são frequentemente usados sem prescrição;
• Seu uso irracional aumenta o risco de reações adversas, pode desenvolver resistência micro-
biana, além de hipersensibilidade, sinais/sintomas de abstinência e mascaramento temporá-
rio de doença, protelando o adequado diagnóstico.

Fonte: Vidyavati et al6.

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Autoprescrição casos, o medicamento deve ter sido desen-


volvido especificamente para o propósito
As agências reguladoras da maioria dos para o qual será usado, em dosagem e forma
países dividem os medicamentos em duas farmacêutica apropriadas5.
grandes categorias: os de venda sob pres-
Os MIPs podem representar economia de
crição e os de venda isenta de prescrição
tempo e dinheiro, além do potencial benefício
(MIPs). Contudo, várias pesquisas indicam
clínico rápido, especialmente para condições
que medicamentos que deveriam ser ven-
clínicas de baixa gravidade e de experiência
didos somente mediante a apresentação de
prévia de bons resultados5,6,8.
uma prescrição podem ser adquiridos em al-
guns contextos mesmo sem o requerido do- Todavia, para potencializar o uso responsá-
cumento, fenômeno denominado autopres- vel e racional dos MIPs, os usuários devem re-
crição4. Em países como o Brasil, é prática ceber informação apropriada sobre os mesmos
possivelmente tão comum quanto a autome- (Quadro 2)5.
dicação responsável. Portanto, há muitas questões críticas que
A carência de programas de educação devem ser exploradas como contrapontos aos
em saúde à população e de fiscalização sa- potenciais benefícios da automedicação. Qual-
nitária, bem como as limitações do acesso quer produto destinado à automedicação deve
ao sistema de saúde, aliadas a atitudes ir- ter boa margem de segurança para o usuário,
responsáveis de alguns profissionais, cor- ou seja, além de oferecer baixo risco de da-
roboram para o hábito da autoprescrição. A nos, deve ser acompanhado de informação
grande oferta de sítios na internet que pro- apropriada e não pode ser usado para protelar
movem o comércio virtual de medicamentos diagnóstico e tratamento de doenças que re-
também favorece a ocorrência deste fenô- queiram intervenção especializada. Além disso,
meno. Em muitos deles, são promovidos me- deve-se considerar que os MIPs podem intera-
dicamentos sem qualquer garantia de eficá- gir com muitos medicamentos prescritos, álcool
cia, segurança e qualidade4,7. ou alimentos, com potenciais danos ao usuário.
Infelizmente, antes de prescrever um medica-
Medicamentos isentos de prescrição (MIPs) mento, muitos médicos não verificam se o pa-
ciente faz uso de algum MIP e muitos pacientes
Os MIPs são aqueles que não requerem adquirem tais produtos servindo-se diretamen-
prescrição médica, pois são produzidos es- te nas gôndolas das farmácias, sem orientação
pecificamente para uso por automedicação 4. farmacêutica. Somado a isso, as mensagens
Assim como ocorre com os medicamentos promocionais na mídia e na internet tendem a
que requerem prescrição, os MIPs devem ter transmitir confiança sobre a segurança do pro-
segurança, eficácia e qualidade comprova- duto e, frequentemente, dão a impressão de
das. O uso é indicado para condições que que os MIPs são meros artigos de consumo. Em
permitem autodiagnóstico, e para algumas outros casos, a utilização de MIPs para fins não
condições crônicas ou recorrentes, depois terapêuticos pode ser um problema4, como no
do diagnóstico médico inicial. Em todos os uso por adictos4,9.

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Quadro 2. Informações que devem acompanhar os medicamentos isentos de prescrição para pro-
mover o uso apropriado

• Modo correto de uso do medicamento;


• Efeitos esperados e possíveis efeitos colaterais;
• Como monitorar os efeitos do medicamento;
• Possíveis interações com outros medicamentos, alimentos, álcool e tabaco;
• Precauções e alertas;
• Duração de uso; e
• Situações nas quais se recomenda a busca de orientação profissional.

Fonte: World Health Organization5.

Regulação dos MIPs no Brasil mativa (IN) n° 11, que instituiu a lista de medi-
camentos isentos de prescrição - LMIP. A lista
O enquadramento de um medicamento apresenta os grupos terapêuticos e respectivas
como isento de prescrição está previsto na Re- indicações terapêuticas que se enquadram na
solução da Diretoria Colegiada (RDC) no 98/2016, definição de MIP12.
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (An-
Há algumas questões relativas ao en-
visa)10. A avaliação do enquadramento de um
quadramento de medicamentos como MIP,
MIP é feita com base na documentação sub-
pelo órgão regulador, que merecem consi-
metida pelo detentor do registro, a qual deve
deração, especialmente, o princípio de que
comprovar os critérios estabelecidos na referi-
nenhum medicamento é absolutamente se-
da norma. As principais características de um
guro e o fato de que, na maioria dos casos,
MIP são 10,11:
a automedicação ocorre sem supervisão de
• Ser indicado para o tratamento de doen- profissional habilitado. Somado a isso, em
ças não graves e com evolução inexisten- certa medida, são pouco conhecidas as inte-
te ou muito lenta; rações e as consequências do uso dos MIPs
• Desencadear reações adversas com cau- em situações especiais como gravidez, lacta-
salidades conhecidas, baixo potencial de ção, pediatria e geriatria, condução veicular,
toxicidade e de interações com medica- condições de trabalho, uso concomitante de
mentos e alimentos; álcool ou alimento, diferentemente do con-
texto mais controlado dos medicamentos de
• Ser utilizado por curto período de tempo
prescrição 4.
ou por tempo previsto em bula;
• Ser de fácil manejo pelo paciente, cuida- Países com sistema de vigilância sanitá-
dor ou mediante orientação do farma- ria bem estabelecido recebem notificações de
cêutico; suspeitas de reações adversas a medicamentos
(RAMs) diretamente de pacientes e consumi-
• Apresentar baixo potencial de dano ao
dores, além das enviadas por profissionais da
paciente;
saúde. Todavia, muitos países ainda não pos-
• Não possuir potencial de gerar depen-
suem um canal para receber notificações que
dência química ou psíquica.
incluam os MIPs, pois seus programas de far-
Em 2016, a Anvisa editou a Instrução Nor- macovigilância operam apenas com profissio-

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nais de serviços hospitalaresa. Outro aspecto e de estudantes, e com normas rígidas para li-
relevante é que os resultados de ensaios clí- mitar a compra de medicamentos que não se-
nicos para medicamentos de prescrição não jam MIPs, sem apresentar prescrição 6.
necessariamente são válidos em contexto de
automedicação4,13. Atuação dos farmacêuticos
Além disso, os usuários podem desconhe-
O farmacêutico tem competência para
cer que muitos produtos com diferentes nomes
atuar na promoção, proteção e recuperação da
de marca e para diferentes indicações podem
saúde, bem como na prevenção de doenças e
conter ingredientes ativos comuns 4.
de seus agravos, com potencial para agregar
Por fim, os usuários precisam receber infor- resultados positivos aos sistemas de saúde, es-
mação apropriada que favoreça o uso seguro, pecialmente no que se refere à morbimortali-
efetivo e racional de medicamentos por auto- dade associada à farmacoterapia14. Em 2013, o
medicação. As orientações ao usuário/paciente Conselho Federal de Farmácia (CFF) editou as
devem incluir uma descrição de como usar o resoluções n° 58515 e n° 58616, que regulamen-
produto sem supervisão de profissional habi- tam as atribuições clínicas do farmacêutico e
litado e as circunstâncias que exigem a busca a prescrição farmacêutica no Brasil, respectiva-
por orientação profissional (v. Quadro 2). Em mente. No ano seguinte, a Lei no 13.02117 mudou
muitos casos, os MIPs são confundidos com o conceito de farmácia no Brasil e reconheceu
medicamentos alternativos, suplementos ali- a autoridade técnica do farmacêutico nesses
mentares, vitaminas, plantas ou outras subs- estabelecimentos, ao instituir obrigações legais
tâncias contidas em produtos disponíveis no voltadas à prestação de cuidado direto ao pa-
comércio. Muitos produtos comercializados em ciente.
farmácias ou em lojas de suplementos nutricio- Os farmacêuticos devem estar atentos à
nais não foram submetidos a testes clínicos e legislação sanitária, à legalidade das matérias
não há base científica para sua recomendação midiáticas, à lei de defesa do consumidor e aos
para fim terapêutico. Alguns desses produtos direitos humanos relativos à automedicação.
podem até causar graves problemas à saúde do Além disso, devem melhorar a comunicação e
usuário. Por isso, os farmacêuticos e outros pro- melhorar o processo de encaminhamento de
fissionais da saúde que indicam medicamentos pacientes aos serviços de saúde6.
alternativos podem cometer atos impróprios e
Na esteira das novas regulamentações, e
passíveis de sanções de responsabilidade, caso
tendo em vista a necessidade de atualizar os
um paciente sofra algum dano ou protele de
farmacêuticos no Brasil quanto às condutas clí-
forma inadequada um tratamento como resul-
nicas apropriadas nos atendimentos a usuários
tado das indicações recebidas4.
com queixas de problemas de saúde autolimi-
É importante que as autoridades regulado- tados, o CFF lançou, em 2016, o Programa de
ras busquem, avaliem [e apliquem] meios para Suporte ao Cuidado Farmacêutico na Atenção
sensibilizar a população sobre os prós e contras à Saúde (PROFAR). Este incluiu a realização do
da automedicação responsável, para que me- curso de ensino a distância “Prescrição Farma-
lhorem suas atitudes em relação a essa prática. cêutica no Manejo de Problemas de Saúde Au-
Isso pode ser feito pela inclusão do tema nos tolimitados”, sob coordenação de Josélia Pena
currículos escolares, envolvendo farmacêuticos Frade, e a publicação de material de suporte
na educação em saúde da população em geral e de uma coleção de guias de prática clínica.

“a”: No Brasil, existe o sistema VigiMed, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que recebe notificações de suspeitas de rea-
ções adversas a medicamentos de leigos e de profissionais da saúde.

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Além de especialistas em cuidado farmacêuti- A automedicação, quando bem orientada, pode


co, o processo de revisão dos guias tem o apoio trazer benefício ao usuário, de forma ágil e com
da Sociedade Brasileira de Medicina de Família baixo custo. Quando os medicamentos são uti-
e Comunidade e da Organização Pan-America- lizados de forma apropriada, sob prescrição ou
na da Saúde (OPAS)14. orientação de profissional habilitado, é maior a
chance de sucesso terapêutico e menor a chan-
Esses guias fornecem as bases para que
ce de dano ao usuário, com obtenção de me-
o farmacêutico selecione a melhor conduta
lhores resultados clínicos. O farmacêutico tem
quando apoia o paciente no manejo de pro-
papel importante no processo de uso racional
blemas de saúde autolimitados. Entre os temas
de medicamentos, orientando adequadamente
propostos, estão: espirro e congestão nasal,
os pacientes em uso de medicamento prescrito
azia e dispepsia, febre e dismenorreia.
e aqueles que se automedicam, inibindo a au-
Os guias podem ser acessados, gratuita- toprescrição.
mente, em: https://bit.ly/2StwR2w. Nas próximas edições do boletim serão
analisadas as evidências científicas relativas
Considerações finais à segurança e efetividade dos tratamentos de
sinais e sintomas de problemas de saúde au-
O uso de medicamentos, quando neces- tolimitados, na perspectiva de subsidiar os far-
sário, tem o potencial para melhorar o estado macêuticos no atendimento aos pacientes que
de saúde e a qualidade de vida das pessoas. buscam seus serviços.

Referências

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