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O texto de Rita Chaves (1999) propõe e argumenta a respeito da importância da

interdisciplinaridade em um contexto tão singular como aquele observado em Angola.


Significa afirmar que a relação da produção da literatura, da arte e a constituição de
identidade nacional não tem como fim a própria criação. É preciso levar em consideração
outras áreas do conhecimento com as quais a criação dialoga, seja ela histórica, sociológica,
política, econômica, geográfica, antropologia, entre outras, para a formação e o entendimento
de um romance angolano.
As singularidades da história angolana exigem, daqueles que pesquisam sobre alguma
produção, um olhar capaz de compreender as contradições que atuam na formação social e
cultural daquela nação. A literatura, desta forma, se apresenta com características essenciais
para entendimento da formação e constituição de país. Os diversos desafios enfrentados, as
inúmeras guerras coloniais, a dominação da metrópole, os processos de luta e conquista por
independência, entre outros, tornaram-se temas e fizeram da resistência a característica
marcante do povo angolano. Significa afirmar, para Rita Chaves (1999), que a manutenção
dos conflitos mostra a pluralidade e a profundidade das dificuldades ali enfrentadas para a
constituição da nação e da sua própria identidade.
O projeto literário angolano buscou conferir uma unidade para aquilo que é
completamente fragmentário por rachaduras de diversas ordens. Desta forma, passou a ser
papel desta elite angolana gerenciar o capital simbólico que fosse capaz de cimentar as
rachaduras e, ao longo do tempo, tentar desmistificar as continuidades impostas até então
pela metrópole portuguesa. A produção literária buscou um fazer angolano e investiu em um
discurso de autonomia que fosse possível unificar as vozes do continente e abafar/apagar da
memória angolana a voz uniforme do colonialismo. A literatura do contexto colonial
procurava vencer o colonizador para, assim, legitimar o que seria a Angola pelos angolanos.
A literatura angolana, nesse sentido, passa pela urgência da resistência colonial. A
história dessa literatura é quase uma autobiografia das gerações de escritores que tentaram
oprimir os anseios dos mais explorados, por uma simples necessidade estética de
enfrentamento da imposição da metrópole através de uma afirmação do homem angolano.
Essa foi a resposta na tentativa de minar as imposições coloniais, e acaba ao mesmo tempo
ofuscando os agentes de sua constituição. Porém, vale ressaltar que os colonizadores
permeiam tanto na produção econômica, política e social quanto na conduta de valores que
acabaram sendo os responsáveis pela produção da história.
Conforme elaborado muito bem pelo texto de Rita Chaves (1999), o lugar da literatura
no combate a colonização tem importante papel de formação e resistência, e esta produção
ganha corpo e voz em Angola através da atuação das elites. Os conhecidos como “Velhos
intelectuais de Angola”, a produção da História das palavras de Angola e outros debates e
criações literárias e artísticas se apresentam e tomam corpo por meio do papel das elites
angolanas.
Com isso, o percurso da ficção angolana, desde o seu início como combate urgente ao
colonialismo, é um ato de resistência. Para compreender toda essa construção literária de
Angola, é preciso que se leve em consideração as questões em que as obras foram realizadas.
Somente dessa forma, como afirma Rita Chaves (1999), é viável que seja realizada uma
análise de fenômenos ligados ao tema da identidade cultural. Nesse sentido, para aqueles que
não viveram a segunda metade do século XX em Angola, é evidente a necessidade de
conhecer mais do complexo colonial e de como ele impacta as estruturas formativas de um
país. Há algo que une essas nações que passaram pelo processo de colonização. Não apenas
na produção brasileira, mas também na angolana, é possível encontrar, por exemplo, temas
sobre o passado, expressos nas passagens às tradições da terra no momento anterior ao da
colonização. Esse movimento e este tema foram importantes para o projeto de independência
e de nação que Angola buscava.

Resumo do texto “Literatura e Nacionalidade no Contexto Colonial” de Rita Chaves.

BIBLIOGRAFIA
CHAVES, R. Literatura e nacionalidade no contexto colonial, 1999.

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