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ARTIGO

REFLEXÃO SOBRE A
FERTILIDADE
ALÉM DAS CONDIÇÕES QUÍMICAS
DO SOLO
Margarete Nicolodi
Clesio Gianello

“Se tudo é parte e tudo retorna à


terra, a fertilidade é um anel do ciclo da
vida. O solo, que há 12 mil anos produz
alimentos à população crescente, é um
problema científico e o enigma da ferti-
lidade, mesmo depois de extraordiná-
rio progressos científicos, continua em
aberto” (Oliva, 1939)

A reflexão sobre a fertilidade do


solo tem sido intensificada desde o iní-
cio do século XXI. A noção que os hu-
manus têm da fertilidade foi alterada ao
longo da história, tendo predominado
quatro noções em diferentes épocas.
A primeira e a segunda expressavam
o conhecimento das pessoas que vi-
veram na Antiguidade, principalmente
antes de Cristo e o de Columella, res-
pectivamente. No século XVIII surgiu a
humista e na primeira metade do século
XIX a mineralista — que restringe a fer-
tilidade às condições químicas do solo.
A noção de fertilidade é composta pelo
conceito, pelo modo de avaliação e pe-
las práticas recomendadas para mantê-
-la ou melhorá-la (Nicolodi, 2007a).
Raramente essa evolução histórica
é mencionada e as discussões concei-
tuais geralmente recebem menor aten-
ção da comunidade científica, pois as
pesquisas estão focadas principalmen-
te no desenvolvimento e validação de
tecnologias. Entretanto, em determina-
das épocas surgem inúmeras evidên-
cias que despertam interesse pelo tema
e as reflexões podem conduzir a modi-
ficações conceituais. Em 2000, Patzel et
al. publicaram uma revisão sobre con- Figura 1. É importante a primorar a noção que os humanus têm da fertilidade percebida pelas
ceitos e o fenômeno de fertilidade do plantas em solos cultivados sob sistemas conservacionistas.
solo na literatura alemã, também moti-

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vados pela confusão entre conceitos de pais responsáveis pelo extraordinário e em pesquisa. Além disso, enquanto
fertilidade e de qualidade do solo. No aumento na produção de alimentos. o modelo adotado pelos primeiros é
Brasil, a reflexão atual é motivada pelo Todavia, com a mudança do sistema predominantemente sistêmico, o dos
verificado após a mudança de sistema de preparo e de cultivo para o SPD, é outros é cartesiano. Em termos de apri-
de preparo e de cultivo do solo e pelos frequente a obtenção de alta produti- moramento do conhecimento, o que
resultados obtidos em áreas cultivadas vidade com valores de indicadores de está acontecendo na Ciência do Solo
sob sistema plantio direto (SPD). Ela fertilidade considerados inadequados brasileira é interessantíssimo. Por isso,
surgiu inicialmente na região sul e se para o desenvolvimento das plantas registramos os argumentos que moti-
disseminou pelo país. Registrar como no PC. Verificou-se, então, que a no- varam nossas reflexões, desde 2002,
isso aconteceu e compartilhar essas ção mineralista é insuficiente para ex- e as principais oportunidades que os
informações é uma forma de contribuir pressar a fertilidade percebida pelas humanus tiveram para trocar ideias e
para que o conceito que os humanus plantas em solos cultivados há longo experiências na busca por maior coe-
têm da fertilidade seja o mais seme- tempo no SPD (Nicolodi et al., 2008). rência da noção com a fertilidade que é
lhante possível daquela fertilidade que A referência à “fertilidade além percebida pelas plantas, no século XXI,
é percebida pelas plantas (Figura 1) e, das condições químicas do solo” tem no Brasil.
assim, estimular o aprimoramento da como objetivo despertar a atenção
avaliação e das práticas recomendadas dos humanus para os resultados ve- Evolução da concepção
para melhorar ou manter a fertilidade, o rificados na prática (ou seja, às condi- de solo e da noção de
solo, o ambiente e, consequentemente, ções percebidas pelas plantas) e para a fertilidade dos humanus
a produção de alimentos e de fibras. possibilidade de ampliar a noção e de É provável que as plantas não te-
A agricultura praticada até o final continuar aprimorando conhecimento nham dúvidas sobre o que é fertilidade
do século XX, com o preparo con- nesse ramo tradicional da Ciência do do solo. O problema é que nós (huma-
vencional (PC), mostrou que o revol- Solo: a fertilidade. Nos últimos anos nus) entendemos a fertilidade de um
vimento frequente mantém as con- ocorreram importantes oportunida- modo que talvez nem seja parecido
dições físicas e biológicas do solo des de reflexão sobre as abordagens com aquelas condições do solo que
semelhantes ao longo dos anos e, por filosóficas adotadas no estudo do solo as plantas percebem como fertilidade.
isso, as plantas respondem principal- e sobre a fertilidade. Diversas ideias Mas, o que é a fertilidade e o que de-
mente às alterações nas condições surgiram e motivaram a realização de termina a sua magnitude? As respostas
químicas do solo (Nicolodi, 2007a; Fi- eventos científicos. Em geral, agriculto- mais frequentes são: suprimento de
gura 2). Esse padrão de resposta foi res e agrônomos que atuam no campo nutrientes para as plantas e condições
verificado mundialmente e a aplica- têm maior facilidade de perceber as li- químicas do solo, respectivamente (Fi-
ção de nutrientes e de corretivos em mitações da noção mineralista do que gura 3). Essa noção é derivada da abor-
solos foi, sem dúvida, um dos princi- os profissionais que atuam no ensino dagem ou do modelo cartesiano e da
mecânica clássica de Newton (na qual
a) b)
os processos são reversíveis no tempo
e descritos por equações lineares). Nes-
te contexto, o solo é estudado a partir
das suas características e propriedades
físicas, químicas e biológicas determi-
nadas pelos componentes das fases
ou partes sólidas (mineral e orgânica),
líquida e gasosa e os efeitos na produti-
vidade das plantas são considerados de
modo isolado (Figura 3). Entretanto, o
que a planta percebe é o efeito das inte-
rações, isto é, o funcionamento do solo
como um todo. Por isso, é possível que
o entendimento dos humanus sobre o
solo seja mais próximo da realidade se
os estudos forem desenvolvidos com
uma abordagem holística ou sistêmica,
em que o solo é um sistema aberto e os
processos interpretados com base na
termodinâmica do não-equilíbrio (de-
senvolvida para os irreversíveis no tem-
Figura 2. A reflexão atual é motivada principalmente pelo verificado após a mudança de sistema po). Há quase um século essas ideias
de preparo e de cultivo do solo: a) preparo convencional b) SPD

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permeiam a Ciência do Solo. cimento e pela tecnologia disponível. tida pelo cultivo do solo com técnicas
O solo foi considerado como um Quanto mais intensa é essa interação, apropriadas e adubação abundante. A
sistema aberto por Jenny (1930;1940), mais real é a noção. Logo, a história da avaliação poderia ser feita pelo suco,
Kodva (1965) e Runge (1973). Nesses noção da fertilidade é a expressão da gordura, fermento, consistência e sa-
estudos, foram aplicados os princípios interação entre o entendimento dos bor do solo e também pela vegetação
da termodinâmica do não-equilíbrio humanus sobre o solo e a resposta presente na área. Já no ano 42 d.C.,
(Chesworth, 1973), sendo composto deste às suas ações, nas diferentes Columella recomendava o revolvimen-
por subsistemas (Dijkerman, 1974) épocas (Nicolodi, 2007a). to, mas não o repouso; enfatizava que
chamados de ‘skeletron’, ‘solution’ e A evolução da agricultura e das civi- a prática fundamental para regenerar
‘plasma’ (Hugget, 1975), de organização lizações é inseparável do conhecimento a fertilidade era a adubação e que era
hierárquica muito complexa, dinâmico da fertilidade do solo (Scarponi, 1949). muito importante “cultivar plantas em
e formado por rede de relações O interesse do homem pela fertilida- beneficio da terra” — atualmente nome-
(Rozanov, 1975), alteradas com o de sempre foi movido, primeiro, pela ada adubação verde. A percepção dele
tempo e decorrentes de processos necessidade de se alimentar para se era muito evoluída e serviu de base
irreversíveis (Yallon, 1975). Chatelin et manter vivo e, segundo, pela ânsia de para os povos tirarem seu sustento da
al. (1982) enfatizaram que a Ciência do prosperar com o lucro obtido com os terra por mais de 1.700 anos. Ela foi
Solo deveria deixar de ser reducionista. produtos agrícolas. Por isso, quando a reproposta nas obras fundamentais da
Já a abordagem holística foi defendida abundância de frutos nativos começou Ciência Agronômica, por Ibn al Awam
por Werf (1992) e por Phillips (1993), a desapare- (século XII), Gallo (1550), Serres (1600)
que destacaram ainda que as relações cer — há pelo e Lawes & Gilbert (1896), que a colo-
no sistema solo são não-lineares e menos 12 mil caram no centro da revolução agrícola
A evolução da moderna, com uso de adubos minerais
dinâmicas. Os processos de dissipação anos —, o ho-
agricultura e de corretivos (Saltini, 1984d).
e ordenação no sistema solo-planta mem iniciou
e das
foram estudados por Addiscott (1995). o cultivo e se A partir do século XVI, em vez de
civilizações é
No Brasil, esse novo modelo foi empenhou nutrimento, começou-se a investigar o
inseparável do
adotado por Mielniczuk et al. (2000), em conferir alimento ou a substância vital para as
conhecimento
Vezzani (2001), Conceição (2002), ao solo con- plantas. Havia os que defendiam ser a
da fertilidade
Schmitz (2003) e Nicolodi (2007a). dições ade- água, os sais nítricos, minúsculas par-
do solo
A mudança de paradigma ou mo- quadas para tículas de terra, etc. Em decorrência
delo científico é importante também maior e me- dessa mudança de foco, surgiu a ter-
para estudo e compreensão da sua lhor produção ceira noção predominante: a humista.
fertilidade, pois quanto melhor for o de alimentos, formando e alterando Em 1761, Wallerius identificou o húmus
nosso entendimento sobre a fertilida- aos poucos o conceito de fertilidade como o alimento das plantas. Segun-
de percebida pelas plantas, maior é a (Oliva, 1939). É possível concluir que do esta noção, também defendida por
probabilidade de adotar práticas agrí- antes da era cristã (a.C.), pelos escritos Thaer, Davy e Boussingault, a fertilidade
colas necessárias e adequadas às par- de Aristóteles, Teofrasto, Catone, Var- depende exclusivamente do teor de hú-
ticularidades de cada gleba. A maioria rone, Virgílio e outros, a fertilidade era mus do solo e deveria ser avaliada pela
das pessoas não sabe que a noção considerada o nutrimento dado pela cor do solo (Saltini, 1984b). No entanto,
da fertilidade nem sempre foi restrita terra às plantas. Contudo, a palavra nu- Columella já havia escrito que a cor não
às condições químicas e muitas ainda trimento não pode ser comparada ao era indicador de fertilidade.
não compreenderam que a magnitude significado moderno de fornecimento A noção atual foi delineada por
da resposta das plantas àquelas condi- de nutrientes. Na época, essa capaci- Saussure em 1804, quando deu forma
ções é diferente nos solos cultivados dade era avaliada principalmente pela ao conceito moderno que a fertilidade
no PC e no SPD e conforme o tempo cor do solo, e as práticas para regene- depende da disponibilidade dos ele-
de cultivo. rá-la eram: o revolvimento, o repouso, mentos solúveis no solo e pode ser
a rotação de culturas e a adubação regenerada com a adição desses mes-
Analisar a evolução da noção fer-
(Saltini, 1984a). mos elementos ou de substâncias ca-
tilidade do solo dos humanus é fun-
damental para entender a “fertilidade A segunda noção predominante foi pazes de liberá-los na forma solúvel,
além da química do solo”, identificar as a escrita na primeira teoria da fertilidade para restituir ao solo o exportado pelas
causas dos erros na avaliação e as so- do solo por Columella, na obra “A Arte colheitas. Saussure demonstrou que o
luções possíveis. Uma noção de fertili- da Agricultura”, publicada em 42 d.C.. alimento das plantas não era o húmus,
dade do solo, em determinada época, Segundo Columella, a fertilidade, nu- mas os sais solúveis contidos nele e, à
é gerada pela interação dos mecanis- trimento dado às plantas, era uma ca- época, detalhou a absorção de vários
mos do sistema neuronal dos huma- pacidade, resultante da integração das nutrientes. No entanto, foi Liebig (1842),
nus com os mecanismos do solo e é “faces” física, química e biológica do cerca de 40 anos depois, quem trans-
influenciada pela cultura, pelo conhe- solo, continuamente renovável garan- formou dois enunciados de Saussure:

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Figura 3. Atual concepção de solo e de fertilidade do solo dos humanus, com base na relação
entre características e propriedades do solo e produtividade da planta (Nicolodi, 2007a).

que “o alimento das plantas são os sais é amplamente adotada no mundo há elaboração das tabelas para interpre-
solúveis” e que “é necessário restituir mais de 150 anos. Esse conceito es- tação). Os principais indicadores são:
ao solo os elementos exportados pelas tabelece uma relação direta entre a pH, Al trocável, P e K disponíveis, V e
colheitas” e o conhecimento das subs- quantidade de nutrientes no solo e a MO. As únicas práticas recomendadas
tâncias necessárias às plantas identifi- produtividade das culturas, quando atualmente para melhorar ou manter
cadas por Sprengel, entre 1823 e 1832, os outros fatores de crescimento são a fertilidade são aplicar corretivos (de
em postulados de extraordinária im- adequados. Na prática, estabeleceram- acidez, de alcalinidade, etc.) e adubos
portância científica na sua teoria mine- -se teores (ou valores) críticos ou fai- (de origem mineral ou orgânica) ao
ralista. Liebig instituiu a ideia de que “a xas adequadas (ou de suficiência) para solo.
fertilidade é o efeito da riqueza do solo o bom desenvolvimento das culturas. A noção mineralista serviu de base
em elementos minerais” como meta da Assim, é consenso que solos cujos para o desenvolvimento da Ciência
pesquisa agronômica (Saltini, 1984c). valores dos indicadores da fertilidade Agronômica e promoveu progresso
Assim, se estabeleceu o conceito de estão fora das faixas adequadas, em da agricultura e aumento na produção
que a fertilidade é a capacidade do solo geral produzem menos ou não produ- de alimentos extraordinários, decisi-
de fornecer nutrientes às plantas, em zem, enquanto os de fertilidade ade- vos para a humanidade. No Brasil, ela
quantidades e proporções adequadas quada tendem a produzir próximo do contribuiu para aumentar a produção
e de manter a ausência de elementos seu potencial máximo. A avaliação é de grãos, especialmente a partir da dé-
tóxicos para o seu desenvolvimento. feita principalmente pela interpretação cada de 1970; nos últimos 40 anos o
Como, na época, o revolvimento do de resultados de análises químicas em rendimento médio de trigo aumentou
solo era uma prática rotineira, assim amostras de solo, embora possa ser 4,5 vezes (de 655 para 3.008 kg ha-1),
como a rotação de culturas, as “faces” feita também pela análise de tecido de o de arroz (1.501 para 5.281 kg ha-1)
física e biológica da fertilidade deixa- plantas, observação de sintomas visu- e o de milho (de 1.632 para 4.189 kg
ram de ser enfatizadas intensificando- ais de deficiência, ensaios em vasos e ha-1) triplicaram, a área cultivada com
-se as pesquisas sobre os principais de campo. O processo de avaliação é grãos aumentou de 37 para mais de 58
elementos que deveriam ser restituídos composto pela amostragem, pela aná- milhões de hectares e a produção total
ao solo, a solubilidade deles, o balanço lise química de indicadores (envolve de grãos quadruplicou, superando 186
da fertilidade, os produtos e os modos seleção de indicadores e de metodo- milhões de toneladas na última safra
de aplicação. logia para determinação — estudos de agrícola (CONAB, 2016). A magnitude
Embora o termo fertilidade sig- correlação) e pela interpretação dos da melhoria da fertilidade do solo em
nifique produzir abundantemente, a valores dos indicadores em faixas de quase quatro décadas foi quantificada
noção mineralista que restringe a fer- fertilidade (estabelecidos com base no Rio Grande do Sul (Nicolodi et al.,
tilidade às condições químicas do solo nos estudos de calibração e envolve 2009).

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Figura 4. Relações entre o teor de fósforo (a) e potássio disponíveis (b) no solo e a concentração
no tecido vegetal e o rendimento relativo de grãos de soja determinados em lavouras cultivadas
no SPD no Planalto Médio do RS [LVd: 0-10 cm; (e) pH > 5,5; V > 65% e K > 60 mg dm-3; (f) pH
> 5,5; V > 65% e P > 6 mg dm-3] (Nicolodi et al., 2005).

Consequências das SPD, com revolvimento do solo so- fertilidade. Apesar da noção mineralis-
particularidades do PC e mente na linha de semeadura, rotação ta se basear na relação direta entre a
do SPD na avaliação da de culturas e manutenção da palha na disponibilidade de nutrientes no solo
fertilidade superfície (Denardin, 1998). As relações e a produtividade das culturas verifica-
construídas no solo com o tempo de -se na prática que nem sempre essas
Os solos, desde o início da agricul-
cultivo que são destruídas no PC são relações são estreitas (Nicolodi, 2003;
tura intensiva no Brasil têm sido culti-
preservadas no SPD e enriquecidas Nicolodi et al., 2004b, Gianello & Nico-
vados no PC, preparados com arado de
pela diversidade de espécies cultiva- lodi, 2004; Fiorin, 2008). Isso também
disco e grade e com queima frequente
das na rotação. Por isso, com o tempo foi verificado nas relações obtidas em
da palha. No PC, o solo é totalmente de-
de cultivo no SPD além das condições três experimentos conduzidos por mais
sagregado pelo revolvimento, até duas
químicas, são alteradas e melhoradas, de 20 anos avaliados no Rio Grande do
vezes por ano. Isto, junto com a queima
também, as físicas e as biológicas do Sul, em Passo Fundo, Santo Ângelo e
da palha, promove a rápida degradação
solo (Nicolodi et al., 2004a). Melhora a Eldorado do Sul (Nicolodi, 2007a). As
da MO e elimina grande parte dos or-
estrutura, a infiltração e a capacidade relações entre os resultados das avalia-
ganismos e microrganismos do solo.
de armazenamento de água, aumenta ções feitas em solo sob PC e SPD e o
Assim, as condições físicas e biológicas
a diversidade e a atividade biológica e rendimento de grãos de soja e de ce-
do solo construídas durante o ciclo da
a disponibilidade de nutrientes. Essas vada demonstram que as variações no
cultura, a cada seis meses são destruí-
alterações no tempo se refletem nas rendimento independem dos valores
das (Nicolodi, 2006). Por isso, no PC as
interações e nos processos que deter- dos principais indicadores da fertilida-
condições físicas e biológicas são mui-
minam o funcionamento do solo (Fi- de; elas foram determinadas principal-
to semelhantes no tempo, assim como
gura 2b). Provavelmente, por isso, tem mente pela precipitação pluviométrica
a magnitude das interações que deter-
se verificado que os mesmos valores durante a safra (Nicolodi, 2008). Isso
minam o funcionamento do solo (Figu-
dos indicadores não expressam mais nos conduz a refletir sobre a capacida-
ra 2a). Consequentemente, as culturas
a fertilidade percebida pelas plantas de de infiltração, de armazenagem e a
respondem bem à melhoria das con-
(Nicolodi, 2007a; Nicolodi et al., 2008). disponibilidade de água e as práticas
dições químicas, e a aplicação do con-
Nos últimos anos, inúmeros resultados que interferem nestas como determi-
ceito mineralista da fertilidade produz
têm mostrado que altas produtividades nantes da fertilidade percebida pelas
resultados satisfatórios. Em geral, não
podem ser obtidas em solos cultivados plantas (Figura 1).
são obtidas altas produtividades quan-
no SPD com valores dos indicadores da A mudança da magnitude de algu-
do os indicadores de fertilidade pH, V, P
fertilidade considerados inadequados mas relações entre indicadores de solo
e K são baixos ou quando a saturação e
para o bom desenvolvimento das plan- e de planta com o cultivo no SPD mos-
o teor de Al trocável são altos (Nicolodi,
tas no PC. trou que quatro variáveis são importan-
2007a).
A análise química de amostras de tes: o sistema de cultivo, a rotação de
A partir da década de 1980, iniciou
solo é uma ferramenta muito importan- culturas, o clima e o tempo que o solo
no Sul do Brasil o cultivo do solo no
te no monitoramento de indicadores da esta continuamente sendo cultivado no

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SPD. Inicialmente, verificamos isso na dações de calagem e de adubação, -se no SPD a melhoria nos indicadores
interpretação dos resultados de avalia- também são encontrados em outras das condições químicas, na agregação
ções feitas lavouras conduzidas no SPD relações, por outros pesquisadores e na atividade biológica que também in-
consolidado, na safra 2001/02 (Nicolodi, e em diversos locais. Por exemplo, fluenciam o desenvolvimento das plan-
2007a). Com base na noção mineralista nas relações entre pH e rendimento tas, embora estes últimos não sejam
da fertilidade, um laudo de uma amos- de grãos de soja cultivada no PC e no considerados na avaliação da fertilida-
tra de solo com pH próximo a 6,0, V pró- SPD visualizamos a dispersão nos re- de. Refletindo sobre esses resultados,
xima de 80 % e teor de P disponível alto sultados de 5000 observações feitas admite-se que outros fatores de solo
informaria ao agricultor que a fertilidade em várias partes do mundo (Sumner, podem estar limitando a produtivida-
do solo dele é alta e que com os demais 1997) e comportamento bem definido de. As consequências dos efeitos dos
fatores de produção em nível adequa- nos nove resultados de experimentos outros fatores são consideradas como
do, as plantas poderiam expressar todo conduzidos no RS (Vidor & Feire, 1972 e ruído ou erro intrínseco na avaliação
o seu potencial produtivo. Entretanto, Departamento de Solos-UFRGS, 1970) (Nicolodi, 2006; Nicolodi, 2007b). Os ru-
nesta situação, numa mesma condição no PC e dispersão nas avaliações feitas ídos e os desafios para superá-los serão
de clima e de solo, a soja não produziu por Ruedell (1995), Fiorin et al. (1997), abordados noutra publicação, mas uma
mais que 75 % do rendimento relativo Fontanelli et al. (2000), Pöttker (2000), versão da noção da fertilidade do siste-
máximo. Um laudo com os resultados Nicolodi (2003) e Schlindwein (2003) ma solo foi publicada (Nicolodi, 2007a;
de outra amostra com pH menor que em lavouras e experimentos no SPD Nicolodi & Gianello, 2015).
5,0, V próxima de 50 % e P semelhante (Gianello & Nicolodi, 2004) e relação
ao anterior informaria que a fertilidade estreita nos resultados de experimento Principais momentos de
do solo está baixa e deve ser feita cala- conduzido em colunas indeformadas reflexão sobre a fertilidade
gem, porque a acidez e a V podem limi- de solo cultivado no SPD (Nolla, 2003). do solo no Brasil no século
tar a expressão do potencial produtivo; As relações com pH do solo talvez XXI
contudo, nesta situação, a soja produ- não sejam bons exemplos. Na disci- No inicio do século XXI novas situ-
ziu mais que 90% do rendimento máxi- plina de Fertilidade também se ensi- ações proporcionaram o surgimento de
mo. No entanto, também são encontra- na/aprende que, com o aumento dos diversas ideias sobre a fertilidade em
das as situações esperadas: fertilidade teores de P (Figura 4a) e K (Figura 4b) grupos de trabalho e motivou a reali-
avaliada como alta correspondendo a disponíveis no solo, ocorre o aumento zação de eventos científicos. Em 2002,
rendimento alto. Isso mostra a impor- da concentração destes nas folhas e o durante a interpretação dos resultados
tância de aprimorar o nosso modo de aumento do rendimento com aumento de avaliações feitas em várias lavouras,
avaliação; talvez seja necessário pensar dos teores no solo e da concentração nós reconhecemos essa necessidade e,
mais sobre o que estão expressando nas folhas (Nicolodi et al., 2005). En- desde então, nos dedicamos ao tema,
os indicadores, o que realmente signi- tretanto, na realidade, existe uma ten- estudando, pesquisando e trocando
ficam e o quão importante é o valor de dência de aumento da concentração ideias e experiências com profissionais
um indicador. Resultados semelhantes do nutriente nas folhas com o aumento de diversas áreas do conhecimento.
obtidos nos experimentos de longa da concentração do mesmo no solo, Alguns identificaram essa incoerência
duração, conduzidos no Rio Grande porém o teor no solo e a concentração antes de nós (por exemplo, José E. De-
do Sul (Nicolodi et al., 2008) e no Mato nas folhas não parecem ser indicadores nardin e Rainoldo Kochhann da Embra-
Grosso (Zancanaro, 2016), confirmam confiáveis para recomendar adubação pa Trigo e Luiz R. D’Agostini e Sandro L.
a insuficiência do conceito mineralista no SPD (Nicolodi, 2007a). Schlindwein da UFSC), e outros consta-
para expressar a fertilidade percebida
Lembrando que, segundo a noção taram ou a aceitaram depois.
pelas plantas cultivadas no SPD.
mineralista, existe uma relação direta Em 2004, a equipe presidida pelo
A dispersão dos pontos nos gráfi- entre a disponibilidade de nutrientes no professor Schlindwein elegeu o tema
cos é um fato evidente principalmente solo e o desenvolvimento ou produti- “A Ciência do Solo e o desafio do de-
quando os resultados são obtidos a vidade da planta. Entretanto, frequen- senvolvimento sistêmico” para a V
campo (Nicolodi, 2007a), mas causa im- temente verifica-se que igual valor de Reunião Sul-Brasileira de Ciência do
pacto, muitas vezes negativo, em algu- um indicador tem diferente efeito so- Solo. Naquela oportunidade, em Flo-
mas pessoas. Poderia ser mais interes- bre as plantas. Há pelo menos 15 anos rianópolis-SC, apresentamos pela pri-
sante investir o nosso tempo naqueles têm sido divulgados muitos resultados meira vez ideias que permearam a tese
resultados que conseguimos explicar confirmando a melhoria das condições e deram suporte ao entendimento da
completamente e são facilmente acei- do solo com a mudança de cultivo do fertilidade como uma das propriedades
tos pela comunidade científica. Porém, PC para o SPD e enfatizando que esta emergentes do sistema solo (Nicolodi
observando atentamente verificamos é tanto mais significativa quanto maior et al., 2004a).
que esses comportamentos além de a diversidade de espécies incluída na
expressar fielmente as condições para Em 2006, a “Fertilidade em solo” foi
rotação e quanto maior o tempo de
as quais são elaboradas as recomen- o tema da VI Reunião Sul-Brasileira de
cultivo do solo neste sistema. Verifica-
Ciência do Solo, em Passo Fundo-RS,

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presidida pelo pesquisador Denardin. 2007a), no PPGCS da UFRGS, em Porto motivos que causaram a “crise” que se
Naquela ocasião, D’Agostini (2006) des- Alegre-RS, com as contribuições dos encontra a Ciência do Solo, estão os fa-
tacou que a decisão de tratar efetiva- Professores Clesio Gianello, Jacques A. tos dos cientistas terem sido formados
mente fertilidade do solo como proprie- L. Marrè, João Mielniczuk, Ibanor An- com perspectivas reducionistas sobre
dade sistêmica representa(ria), de fato, ghinoni, Luiz R. D’Agostini, Sandro L. o solo e atualmente reconhecerem que
importante esforço em Ciência do Solo Schlindwein e dos pesquisadores José quase todos os problemas do solo têm
na contínua busca de mais coerência, E. Denardin e Otávio A. de Camargo. aspectos físicos, químicos, biológicos
durante a palestra “Noção de sistema: Dessa época, é importante destacar o e mineralógicos complexos e interli-
(re)emergindo fértil em solos e fertilida- fato de integrantes daquele Departa- gados, demandando conhecimento
de do solo: (re)emergindo sistêmica”. mento de Solos, que contribuíram mui- simultâneo nas disciplinas fundamen-
Em seguida, Schlindwein (2006) expli- to para melhoria da fertilidade dos solos tais e uma abordagem integrativa. No
cou que o nosso entendimento de fer- do Rio Grande do Sul, terem estimula- Simpósio “Novos enfoques e desafios
tilidade em solos é organizado a partir do (por exemplo, o Mielniczuk – Figura da fertilidade do solo” D’Agostini (2007)
de uma metáfora do barril, que também 5) e permitido (por exemplo, o Anghi- afirmou que o grande desafio está no
impede que vejamos outros aspectos noni) a condução de um trabalho com operar os sistemas: quanto mais com-
relacionados à fertilidade que não só os abordagem inovadora num ramo tradi- pleta a manifestação a interpretar para
de natureza química e propôs exercício cional da Ciência do Solo. Uma consta- inferir fertilidade, maiores são as possi-
usando a metáfora da cebola. Daquela tação interessante é que, com o passar bilidades de melhor inferir estados da
oportunidade participamos abordando dos anos, até os mais conservadores propriedade, mas menor é a confiabi-
os “Desafios à caracterização de um estão se convencendo que a noção mi- lidade na interpretação e em qualquer
solo fértil em química do solo”, eviden- neralista é insuficiente para expressar variável avaliada e nós identificamos os
ciando ruídos na avaliação da fertilida- a fertilidade percebida pelas plantas e principais “Desafios à caracterização da
de (Nicolodi, 2006). uma nova abordagem filosófica pode fertilidade do sistema solo” (Nicolodi,
Em 2007, esse tema foi abordado contribuir para aprimorar a noção. 2007b). Na mesma época, Denardin &
em várias oportunidades, com públicos Outra oportunidade foi criada no Kochhann (2007) destacaram a impor-
distintos. No início do ano, isso ocor- XXXI Congresso Brasileiro de Ciência tância da estrutura do solo como deter-
reu durante a construção e a defesa da do Solo, em Gramado-RS, com o tema minante da magnitude da fertilidade, na
tese “Evolução da noção da fertilidade e “Conquistas e desafios da Ciência do Revista Plantio Direto.
sua percepção como uma propriedade Solo brasileira”. Naquele evento, Ba- A partir de então essa reflexão tem
emergente do sistema solo” (Nicolodi, veye (2007) destacou que dentre os sido abordada em eventos em diversas
regiões do Brasil. Em 2008 e 2009, os
ruídos na avaliação e a nova noção da
fertilidade foram discutidos na palestra
“A fertilidade além da química do solo”
no IX Encontro de Plantio Direto no Cer-
rado em Palmas-TO (Nicolodi, 2008a) e
na Expodireto, em Não-Me-Toque-RS
(Nicolodi, 2008b; Nicolodi, 2009). Em
2009 e em 2010, essas também foram
abordadas nas palestras sobre “A fer-
tilidade do sistema solo” no X e no XI
Encontro Técnico da Fundação Mato
Grosso, em Poconé-MT (Gianello, 2009;
Gianello, 2010). Ainda em 2010, ideias e
alguns resultados obtidos pela Nicolodi
foram apresentados na palestra “Desa-
fios à caracterização da fertilidade do
solo em sistemas de produção de mi-
lho” no XXVIII Congresso Nacional de
Milho e Sorgo, em Goiânia-GO (Anghi-
noni, 2010).
Em 2011, um Simpósio com tema
central semelhante ao da Reunião pro-
Figura 5. Equipe após avaliação das condições do solo nos experimentos em Eldorado do Sul- movida em 2006, foi organizado pelo
-RS; cujos resultados foram decisivos na comprovação da insuficiência da noção mineralista Núcleo Regional Oeste, em Jataí-GO.
para avaliar a fertilidade percebida pelas plantas cultivadas em SPD (publicados em Nicolodi Naquele evento, duas palestras abor-
2007a e Nicolodi et al. 2008).

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ARTIGO
daram o tema de modo diferente: “Fer- que a habitual e os parâmetros físicos diferentes experiências e especiali-
tilidade do solo: do conceito químico- passam a ter relevância na avaliação. dades — o envolvimento dos jovens
-mineralista à propriedade que emerge A oportunidade mais recente foi trabalhando com os mais experientes
em sistemas que se auto-organizam” criada a partir da sugestão da pesqui- seria muito produtivo —, conduzindo
(Anghinoni, 2011), divulgando as nos- sadora Iêda C. Mendes na organização esse processo comprometidos com o
sas ideias, e “Fertilidade física do solo da XXXI Fertbio, realizada em Goiânia- futuro da humanidade.
em plantio direto” (Marchão, 2011), -GO, com o tema “Rumo aos novos
com outro entendimento de fertilida- desafios”. Em 2016, para um público Considerações
de. Em relação ao uso dessa termino- com formação e especial interesse em A noção da fertilidade do solo evo-
logia, nós nos reservamos o direito de Nutrição de Plantas, em Fertilidade, em luiu, em mais de 2.000 anos, de uma
acreditar que a planta não percebe a Biologia e em Microbiologia do Solo, percepção ampla para uma restrita às
existência de mais de uma fertilidade essa reflexão foi posta em evidência condições químicas do solo. A minera-
num mesmo solo e, por isso, não nos principalmente na conferência “O con- lista conduziu a excelentes resultados,
referimos à fertilidade física, à fertilida- ceito mineralista e a fertilidade do solo mas é insuficiente para expressar a
de química e à fertilidade biológica e no século XXI” (Nicolodi, 2016) e nas fertilidade percebida pelas plantas cul-
não incentivamos essa individualiza- palestras do painel “Novos olhares tivadas no SPD. Existem elementos te-
ção, nem a confusão com qualidade sobre a fertilidade do solo em siste- óricos e práticos suficientes para pro-
do solo. Entendemos que a magnitude mas agrícolas tropicais e subtropicais” mover a mudança dessa noção. Além
da fertilidade percebida pelas plantas (Djalma M. G. de Sousa, João C. M. disso, é essencial aumentar a confiabi-
é determinada pela interação entre as Sá e Leandro lidade na avaliação e nas recomenda-
condições físicas, químicas e biológi- Zancanaro),
A noção da ções; é um trabalho difícil e demorado,
cas do sistema solo. Esta nós preferi- que harmo-
fertilidade do mas é possível.
mos chamar de fertilidade do sistema nicamente,
solo (Nicolodi et al., 2004a; Nicolodi, solo evoluiu, Nessas oportunidades inúmeros
ratificaram a
2007a, Nicolodi & Gianello, 2015), mes- em mais de participantes despertaram para a ne-
necessidade
mo tendo sido às vezes chamada de 2.000 anos, de cessidade de aperfeiçoar o entendi-
dos humanus
fertilidade integral do solo (Denardin & uma percepção mento que os humanus têm da fer-
aprimorarem
Kochhann, 2007). ampla para tilidade. Entretanto, poucos estudos
a noção de
uma restrita estão sendo conduzidos com intuito
A apresentação desse tema na fertilidade.
às condições de contribuir para aprimorar a noção.
palestra sobre a “Fertilidade do solo A realiza- químicas do A incoerência entre a fertilidade
na pequena propriedade: desafios ção desses solo avaliada, com base no conceito mi-
da agricultura conservacionista”, em eventos nos
2012 na Fertbio, estimulou a aborda- neralista, e a percebida pelas plantas
últimos 12
gem dele em Viçosa-MG. Em 2013, na ainda não está sendo discutida no ex-
anos, abordando esse assunto como
abertura do II Simpósio Mineiro de Ci- terior, por ter sido verificada primeiro
tema central ou em apresentações es-
ência do Solo, com tema “Fertilidade em solos cultivados nos ambientes
pecíficas, confirma a importância da
do solo: conhecimentos, aplicações, subtropical e tropical (possibilitam
comunidade científica trocar ideias e
interfaces e desafios”, destacou-se a adoção de sistemas conservacionis-
experiências sobre a mudança de pa-
importância dessa reflexão a partir das tas por muitos anos sem revolvimento
radigmas da ciência no estudo do solo,
relações entre a fertilidade e as práti- do solo, com cultivo de duas ou mais
a restrição da noção da fertilidade às
cas adotadas na agricultura conserva- espécies por ano agrícola). Isso impõe
condições químicas, os ruídos na ava-
cionista (Denardin et al., 2013). um desafio à Ciência do Solo brasilei-
liação, a insuficiência do conceito mi-
ra: aprimorar a noção que os huma-
Em 2014, na X Reunião Sul-Brasilei- neralista e o aprimoramento da noção
nus têm da fertilidade, tornando-a
ra de Ciência do Solo, em Pelotas-RS, de fertilidade. O nosso reconhecimen-
mais coerente com a fertilidade que é
sobre “Fatos e mitos em Ciência do to a todos que contribuem e contribu-
percebida pelas plantas, com o atual
Solo”, o conceito mineralista foi con- íram, organizando as oportunidades
cenário agrícola e com a tecnologia
siderado um mito e o cultivo do solo estimularam essa reflexão ou partici-
disponível.
nos sistemas conservacionistas um pando de eventos e das discussões.
fato que desafia os cientistas a reinte- Evidentemente, um período longo é A bibliografia completa deste ar-
grar ao conceito aspectos relativos à necessário para construir uma nova tigo deve ser solicitada diretamente
biologia e a física do solo (Denardin, noção, aprimorar a avaliação (inclusi- aos autores
2014; Denardin & Denardin, 2015). Mas ve com novos estudos de calibração)
já em 1993, Denardin e Kochhann enfa- e a recomendação de outras práticas, Autores: Margarete Nicolodi e Clesio Gia-
tizaram que com base no conceito de além de adubação e correção. Por isso, nello são professores no Departamento de
sistema agrícola produtivo, a fertilida- são essenciais a ampla e profunda re- Solos da Universidade Federal do Rio Grande
de do solo assume abrangência maior flexão e a dedicação de cientistas, com do Sul (UFRGS).
Contato: marganicolodi@hotmail.com

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