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1
Patrocínio :
APOIO
Índice Pág.
Prefácio ............................................................................................... 3
Urbanização e impatos de águas de chuva ………………............................ 5
Sistema sustentavél de drenagem urbana .............................................. 8
Políticas, legislação e estrutura institucional............................................ 9
Drenagem urbana a nível municipal ...................................................... 11
Planejamento urbano para uma drenagem urbana sustentável ................ 12
Desenvolvimento e adoção das melhores práticas .................................. 15
Financiamento dos sistemas de drenagem urbana .................................. 19
Limitações do PDDU.............................................................................. 21
Conclusões e Recomendações ............................................................... 23
2
Prefácio
Os sistemas de drenagem urbana sustentável são práticas que têm sido adotadas largamente
nos países desenvolvidos. Existe, por parte dos países em desenvolvimento, um crescente
interesse pela adoção das técnicas inovadoras mas, ainda, existem muitas dificuldades para as
suas implementações. Visando a identificação destas dificuldades, um projeto de pesquisa está
sendo financiado pelo Department for International Development (DFID) do Reino Unido e
coordenado pelo Water Engineering and Development Centre (WEDC) da Universidade de
Loughborough na Inglaterra.
Este projeto envolve o levamento dos problemas de inundação e dos sistemas de drenagem, a
investigação do potencial para o uso dos sistemas de drenagem urbana sustentável e das
melhores práticas de gerenciamento (Best Management Practices – BMP’s) nos seguintes
países: Uganda, Vietnam e Brasil. A escolha desses países para a realização dos workshops se
deu pelo fato destes apresentarem diferentes níveis de desenvolvimento sócio-econômico, além
do fato de serem países aos quais o DFID está dando assistência técnica e financeira. Cada
país, também, possui diferentes experiências na área de drenagem urbana.
O objetivo principal deste projeto é aprender com a experiência destes países e avaliar o
potencial para a introdução dessas novas alternativas nas comunidades de baixa renda e com
recursos financeiros limitados. Como parte integrante do projeto, o Workshop em Drenagem
Urbana Sustentável no Brasil, realizado em Goiânia-GO, proporcionou uma oportunidade para
os participantes aprenderem mais sobre as recentes experiências no campo de gerenciamento
das águas de drenagem de diferentes partes do Brasil, além de permitir discussões em relação
aos seguintes problemas:
o Levantamento das práticas atuais e dos problemas existentes associados com a infra-
estrutura dos sistemas de drenagem urbana
o Identificação dos fatores críticos para melhorar os sistemas de drenagem urbana e das
dificuldades em relação à operação e manutenção dos sistemas
O presente relatório apresenta uma síntese dos trabalhos seguitnes apresentados durante
workshop em Goiânia, e das discussões acerca do tema.
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Programação do Workshop
Visão internacional do gerenciamento de drenagem urbana sustentável
Dr. Jonathan Parkinson - IWA/IAHR Joint Committee on Urban Drainage
Jonathan Parkinson é engenheiro civil e do meio ambiente, especializado em planejamento e gerenciamento de
infraestrutura e serviços de saneamento básico urbano para comunidades de baixa renda. Ele é bem conhecido
internacionamente através de suas publicacoes e de seu envolvimento no grupo especialista em drenagem urbana da
International Water Association.
Endereço : Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás, Praça Universitária S/N
CEP 74605-220, Goiânia, Goiás
Tel : + 55 (62) 241 4554 Fax: + 55 (62) 241 4554 e-mail : parkinsonj@bigfoot.com
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Planejamento dos sistemas de drenagem - problemas de saúde e saneamento
Dr. Ricardo Silveira Bernardes - Departimento do Enginheiro Civil e Meio Ambinete,
Universidade de Brasília.
Ricardo Silveira Bernardes é Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de
Brasília – UnB. Ele tem Mestre em Hidráulica e Saneamento (EESC-USP) e PhD pela “Wageningen Agricultural
University”, Holanda. Ele é especialista em impactos das águas pluvial na saude pública, sistemas de drenagem urbana
e planejamento da infra-estructura dos municípios.
Endereço : Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, FT Universidade de Brasília, 70910-900 - Brasília – DF
Tel: (61) 307-2325 Ramal 213 Fax (061) 273 4644 e-mail : ricardo@unb.br
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Problemas institucionais e de financiamento no gerenciamento da drenagem urbana
no Brasil
Dr. Márcio Baptista - Universidade Federal de Minas Gerais
Márcio Baptista é Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Escola de
Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais e Bolsista de produtividade em Pesquisa 2B do CNPq, além de
Membro titular do Conselho Estadual de Política Ambiental do Estado de Minas Gerais.
Endereço :
Tel: (31) 3238-1871 Fax : (31) 3238- 1001 e-mail : marbapt@ehr.ufmg.br
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Implementação do sistema integrado de drenagem urbana - Plano Diretor de Santo
André
MSc. Sebastião Vaz Júnior - Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André
Sebastião Vaz Júnior é formado em engenharia civil pela Universidade Federal de Mato Grosso, Mestre em Recursos
Hídricos pela Universidade de Campinas e atualmente é doutorando em Ciências Ambientais pela UNESP, de São Paulo.
Já participou de várias entidades municipais na região de São Paulo, participou da comissão técnica de criação do
comitê da bacia do Paraíba do Sul e atualmente está no Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André
(SEMASA), como diretor superintendente .
Endereço: Av. José Caballero, 143 CEP: 09040-210 Cidade: Santo André SP
Tel : tel.: (11) 499 0317 Fax : 4433 9851 e-mail : sebastiaoneyvaz@semasa.sp.gov.br
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Os sistemas de drenagem urbana e o gerenciamento integrado de recursos hídricos
Dr. Joaquim Gondim - Superintendente de Usos Múltiplos - Agência Nacional de Águas
Joaquim Gondim é engenheiro civil, com Mestrado em Recursos Hídricos e Economia. Foi Diretor Nacional do
Departamento de Obras contra a Seca, Diretor da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará e atualmente é
Diretor de Usos Múltiplos da Agência Nacional de Águas (ANA).
Endereço : Agencia Nacional de Aguas – ANA, SPS - Area 5, Quadra 3, Bloco B, 70610-200 Brasília, DF Brazil
Tel: 061- 4455207 Fax : (+55) 61-445-5415 e-mail : joaquim@ana.gov.br
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Drenagem urbana sustentável no Brasil - estudo de caso de Porto Alegre
Dr. Carlos Eduardo Moretti Tucci - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Carlos Tucci é Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com doutorado na Universidade de Colorado,
USA. Ele é atual vice-presidente da International Association of Hydrologic Society (IASH), tem vários livros publicados
e um um total de 260 publicações. Consultor de empresas na área de recursos hídricos tanto no nível nacional quanto
internacional.
Endereço : Instituto de Pesquisas Hidráulicas – UFRGS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul ,
Av. Bento Gonçalves, 9500, Agronomia - PORTO ALEGRE CEP 91501-970, RS - Brasil
Telefone: (51) 3316-6408 Fax : (51) 3316-7291 e-mail : carlos.tucci@ufrgs.br
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Urbanização e impatos de águas de chuva
O processo de urbanização no Brasil, nos últimos anos, se deu com o crescimento maior das
cidades médias e um crescimento menor das metrópoles. A população urbana brasileira, hoje,
é da ordem de 80% contra uma urbanização na década de 40 a 50 abaixo de 40%. O processo
de urbanização no Brasil foi, em grande parte, desordenado e falho na previsão da população
total. A primeira questão a ser levantada é que o problema da drenagem está muito associado
a questão da urbanização. A Figura 1a demonstra a relação entre a área impermeável e a
densidade urbana baseada em dados de São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. A Figura 1b
demonstra que o crescimento populacional acarreta um aumento tanto na porcentagem de área
impermeável quanto no número de eventos de cheia.
80 3000 25
população
eventos de inundação
70
inundações 20
População (1000)
60
2000
Impervious area %
50 15
40
10
30 1000
20 5
10
0 0
0
0 50 100 150 200 250 1920 1940 1960 1980 2000 2020 2040
urban density, inhab/ha
anos
Figura 1a) Relação entre área impermeável e densidade urbana baseada em dados de São
Paulo, Curitiba e Porto Alegre (Tucci, 2003)
Figura 1b) Relação entre crescimento da população e o número de eventos de cheia em Belo
Horizonte (Tucci, 2003)
1
IBGE ( 2000). Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) - 2000. Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística. Brasília.
5
Figura 2 Localização dos municípios com ocorrência de inundações ou enchentes
em 1998-1999 (IBGE, 2002)
Tabela 1 Municípios que sofreram inundações ou enchentes em 1998 e 1999 (IBGE, 2002)
Sem declaração 3 1 1 1 - -
Áreas onde ocorreram inundações 48.809 1.629 6.606 10.171 28.176 2.227
ou enchentes (ha)
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Outro aspecto importante é a segregação social e conseqüentemente uma segregação de infra-
estrutura. As cidades criam vetores de crescimento de alta renda, que é onde,
conseqüentemente, se encontra a infraestrutura alocada. Em contrapartida, ao lado desses
vetores são encontradas comunidades sem infraestrutura. Quando se fala em segregação da
população de alta renda, de certa forma, está se dizendo da segregação do saneamento em
geral. Isso pode ser observado em várias cidades brasileiras, onde populações com baixa renda
tem um baixo acesso a essa infraestrutura.
A drenagem, no que diz respeito às doenças, socializa o problema. O bairro que tem alto
atendimento com drenagem e lixo também sofre os efeitos da má distribuição do atendimento
aos serviços de drenagem. Esse efeito somado à segregação espacial tratada anteriormente
mostra que a infraestrutura da cidade é distribuída de forma irregular. A parcela que tem
disponibilidade de infraestrutura e drenagem recebe os impactos de forma não tão intensa
quanto à população de menor poder aquisitivo.
As inundações nas cidades podem causar muitos problemas de doenças, especificamente nos
locais onde existe uma falta de saneamento básico. Também, as inundações podem provocar
surtos de dengue e morte de pessoas que vivem em áreas de risco ambiental, além de
aumentar o risco à saúde e poluição dos mananciais. A ocupação inadequada favorece os
processos erosivos e deslizamentos de encostas.
O acúmulo de resíduos sólidos carreados pelas águas de chuva também pode causar poluição
dos rios locais A má qualidade da limpeza urbana e a falta de conscientização da população
tem trazido grandes prejuízos à qualidade da água pluvial escoada para os cursos d'água. É
preciso que o manejo dos resíduos sólidos seja executado na fonte. O excesso de lixo é um
empecilho para a adoção de reservatórios de retenção, aumenta os riscos sanitários e o custo
de manutenção da rede de drenagem.
No Brasil, ainda, não há uma grande preocupação com a qualidade da água de drenagem,
talvez, pelo fato da maioria de nossos cursos d'água ainda receber esgoto doméstico "in
natura". Outro aspecto a ser observado diz respeito à afirmação de que no Brasil tem-se um
sistema de esgotamento sanitário tipo separador absoluto: todo esgoto sanitário vai para uma
rede que só recebe esgoto sanitário e água de infiltração. Por outro lado o sistema de
drenagem é para receber só águas pluviais.
A prática do rápido escoamento das águas pluviais tem se mostrado insustentável, pois apenas
age no sentido de transferir o impacto para jusante. O custo da canalização é muito alto, ele
chega a custar dez vezes mais do que o processo de amortecimento na origem das inundações.
A falta de infiltração natural no solo ocasionada pela impermeabilização das superfícies não
permite a recarga dos lençóis subterrâneos. O lançamento das enxurradas também pode causar
poluição dos rios locais e devido à falta de infiltração natural no solo, os lençóis subterrâneos
não são recarregáveis. E, com o passar do tempo, o problema se manifesta à jusante.
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Sistema sustentavél de drenagem urbana - uma nova
alternativa para as cidades
Diversas estratégias são necessárias para solucionar estes problemas que não podem ser
resolvidos simplesmente através da construção de grandes obras de drenagem. Recentes
estudos, realizados principalmente por países desenvolvidos, têm apresentado um novo
conceito sobre projetos de drenagem urbana.
o Novos desenvolvimentos não podem aumentar a vazão de pico das condições naturais
(ou prévias) - controle da vazão de saída ;
Para gestão dos recursos hídricos é necessária a integração das diversas agendas que existem
em uma bacia, que estão associados com os recursos hídricos (agenda azul), o meio ambiente
(agenda verde), e a cidade (agenda marrom). Então, essas políticas também têm que ser
compatibilizadas nesta unidade de planejamento geral, que é a bacia hidrográfica. Para estas
técnicas de engenharia serem implementadas e para assegurar a operação sustentável dos
sistemas, novos métodos de planejamento e gerenciamento urbano são necessários.
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Políticas, legislação e estrutura institucional
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 21 estabelece que compete à União planejar e
promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e
inundações. O Estatuto da Cidade, aprovado em 2.001, institui medidas jurídicas para a questão
da adoção das medidas não estruturais na drenagem. Um dos instrumentos é o direito de
preempção (artigos 25 a 27) que trata da preferência, por parte do poder público, para compra
de imóveis do seu interesse,no momento de sua venda. O objetivo deste instrumento é facilitar
a aquisição, por parte do poder público, de áreas de seu interesse, para a realização de
projetos específicos. Estas medidas ainda necessitam de um detalhamento maior para sua
aplicação.
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Em 2000, a lei N. 9.984 criou a Agência Nacional de Águas (ANA), instituindo como sua
responsabilidade a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), cuja
formulação é responsabilidade da Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio
Ambiente. Esta Lei dispõe que cabe à ANA :
Incentivo às boas práticas e à inovação tecnológica - incentivar as boas práticas, consideradas como
inovadoras incorporando os aspectos tecnológicos, de planejamento e de gestão, não só de obras, mas,
também, jurídico-legais e econômico-financeiros, podendo contribuir, principalmente, com o Ministério das
Cidades para ser incluído em um programa maior, tal qual o Plano Pluri-Anual (PPA).
Trata-se de apoiar ações não-estruturais com vistas à gestão da água no meio urbano e ao controle e à
prevenção de inundações em áreas urbanas. Secundariamente, o Programa poderia apoiar ações
estruturais específicas, inseridas em planos de controle e prevenção de inundações, quando aquelas
apresentarem maior benefício líquido potencial que possíveis medidas não-estruturais, considerados os
objetivos específicos de cada plano regional ou local em seu todo.
Trata-se de apoiar ações não-estruturais com vistas ao controle e à prevenção de inundações em áreas
ribeirinhas. O Programa poderia apoiar ações estruturais específicas inseridas em planos de controle e
prevenção de inundações, quando aquelas apresentarem maior benefício líquido potencial que possíveis
medidas não-estruturais, considerados os objetivos específicos de cada plano regional ou local em seu
todo.
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Drenagem urbana a nível municipal
De uma maneira geral, do ponto de vista institucional, tradicionalmente, no Brasil, o
gerenciamento da drenagem urbana é efetuado através de uma estrutura técnica e
administrativa vinculada diretamente ao poder municipal, freqüentemente, à secretaria de
obras. Não se tem um órgão gestor compondo a drenagem urbana, embora alguns municípios
tenham iniciado essa modalidade de gestão.
Na maioria das vezes, os serviços municipais com responsabilidade específica sobre a drenagem
de águas pluviais não são organizados como entidades independentes, com autonomia
financeira e gerencial. Essa forte dependência do orçamento municipal, leva à fragilidade
institucional da estrutura de gestão da drenagem urbana que aparece na inadequação da
formação de equipes técnicas, com diversos órgãos atuando de forma até redundante na
drenagem urbana, e na descontinuidade administrativa, o que implica na ausência de
planejamento a longo prazo.
No nível municipal, existem alguns instrumentos, tais como o Código de Obras, o Código
Ambiental, Código de Posturas, Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, Lei Orgânica
Municipal, que tratam da questão da drenagem urbana, inserida no contexto municipal,
estabelecendo seus fundamentos básicos e diretrizes. É muito importante que o Plano Diretor
de Drenagem esteja coerente com estes instrumentos.
2
ASSEMAE (1998). Drenagem Urbana - Menos alagamento, mais qualidade de vida. Núcleo de Drenagem Urbana
11
Planejamento urbano para uma drenagem urbana
sustentável
O Plano de Drenagem de uma cidade deve obedecer aos controles estabelecidos no Plano de
Recursos Hídricos da Bacia na qual estiver inserido. A Figura 4 mostra as conexões entre o
plano diretor de drenagem urbana, o plano diretor de desenvolvimento urbano e a gestão
integrada das bacias hídrográficas. O Plano de Recursos Hídricos (RH) não chega ao nível de
detalhar o Plano de Drenagem como sub-componente do mesmo, mas estabelece alguns
princípios sustentáveis tais como: não propagação da cheia (controle na fonte) e controle da
poluição difusa.
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Por questão de sustentabilidade econômica, o plano deve ser implementado por etapas,
conforme a Figura 5 e a descrição a seguir. Após sua finalização, o PDDU passa a ser o
instrumento que vai orientar o poder executivo nas suas ações a curto, médio e longo prazo. O
plano e os diversos planos de ação indicam onde é mais importante estar atuando, não só nas
questões pontuais onde o foco aparece nas inundações, mas nas medidas estruturais da
macrodrenagem, geralmente, nas contenções, nas encostas e nas cabeceiras.
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Alguns planos têm sido desenvolvidos e implementados em algumas cidades brasileiras, como
Porto Alegre, área metropolitana de Curitiba, Belo Horizonte, Caxias do Sul e Santo André.
O primeiro trabalho do PDDU foi a avaliação do sistema de proteção contra enchentes e estações de
bombeamento. Concluiu-se que o conjunto de bombas era capaz de atender o bombeamento no caso de
cheia, mas o sistema de drenagem tinha tantas restrições que a água não chegava no ponto de ser
bombeada.
O município de Porto Alegre possui Plano Estrutural detalhado para três sub-bacias. O plano de
outras três sub-bacias está sendo concluído. O mapa de inundação das sub-bacias é executado
para quatro cenários futuros de desenvolvimento e ocupação do espaço. São determinados
todos os pontos que inundam com perído de 02 anos, com 05 anos e com 10 anos dentro da
região. A partir deste mapa, foi estudada cada uma das sub-bacias e determinados os
diferentes tipos de detenção que deveriam haver nessa bacia toda.
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Desenvolvimento e adoção das melhores práticas
Esta seção descreve os componentes da BMPs que devem ser incorporados no PDDU. Alguns
pontos definidos pelo PDDU podem ser identificados como sugestões para dar sustentabilidade
à gestão da drenagem urbana.
O caso de Curitiba
Em 1994, foi iniciado na cidade de Curitiba, no Estado do Paraná, um programa para controle de enchente
para toda a sua região metropolitana. Esse plano está sendo desenvolvido em três etapas. A primeira
fase foi emergencial e constou da limpeza de canais e reforma de pontes. A segunda fase foi de controle
das áreas ribeirinhas do rio Iguaçu. Nessa fase foi feito um estudo de alternativas através de modelagem
onde a solução adotada foi a construção de um canal lateral para bloquear a pressão pública de invasão e
a criação de um parque interno na região com 20 km2. Este parque foi criado internamente para ser uma
área de amortecimento e de lazer da população. O parque está na fase final de implementação.
A terceira fase foi a elaboração do Plano Diretor da Região Metropolitana de Curitiba, concluído
recentemente. A filosofia básica para a parte final do plano foi de se reservar, nas áreas de
desenvolvimento, áreas de inundação e amortecimento para o cenário futuro (parques, quadras,etc).
Estas áreas podem ser contabilizadas como áreas públicas, dentro da parcela dos 35% de área
necessários para aprovação dos empreendimentos. É condicionado que, na área limítrofe, tenha que ser
implementado um parque, já planejado pela Prefeitura. Automaticamente, cada loteamento que se
desenvolve já implementa essa área linear de parque. Esta é uma forma de não transferir o custo dessa
implementação para o setor público. Esta medida também acaba com o incentivo à ocupação de áreas de
fundo de vale, por parte dos proprietários.
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2. A integração dos serviços de saneamento ambiental
A cidade de Santo André tem 175 km2 de área aproximadamente e 55% da área do município está em
área de mananciais. Em Santo André, a administração vem trabalhando, desde 1997, o conceito de
saneamento ambiental, no sentido de criar uma autarquia de Saneamento Ambiental, o SEMASA. Em 1997
houve a transferência formal do sistema de drenagem para a autarquia, que até então funcionava como
abastecimento de água e esgoto. Depois foram transferidos a gestão ambiental, o gerenciamento de
resíduos sólidos, englobando a questão da disposição/produção, coleta e tratamento final e, por último,
em 2001, a transferência da defesa civil, da parte voltada para a questão de riscos urbanos.
O município de Santo André tem conseguido a gestão integrada do saneamento ambiental, através de
uma única entidade municipal que gerencia os três componentes: sistema de esgotamento, drenagem
urbana e resíduos sólidos. Em 1997, a Prefeitura começou a trabalhar a questão da manutenção do
sistema de drenagem. A manutenção do sistema foi estruturada e valorizada, trabalhando , inclusive com
educação ambiental . A primeira providência foi a contratação do Plano Diretor de Drenagem. No plano de
drenagem, foram privilegiadas as medidas não estruturais, mas medidas estruturais também foram
necessárias, dada a situação em alguns pontos da cidade. No detalhamento do plano, tem-se o plano de
ações, considerando o sistema de supervisão e controle da drenagem da cidade. O plano foi focado muito
na questão do gerenciamento por bacias.
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3. A utilização de tecnologias mais sustantável
A condução dos diversos aspectos da gestão da drenagem urbana leva à utilização de
tecnologias mais sustantável que são as BMPs, chamadas no Brasil de Tecnologias Alternativas
ou Compensatórias. Para tanto é necessário adotar uma abordagem mais integrada das
questões da drenagem urbana, ou seja, além dos aspectos hidrológicos e hidráulicos,
tradicionalmente considerados, é necessário conduzir essa análise para os aspectos sanitários,
ambientais e paisagísticos. Essa abordagem integrada com a utilização de tecnologias mais
sofisticadas implica na adoção ou na necessidade de recursos financeiros mais substanciais.
O reuso de águas
O reuso de águas pluviais e a relocação de populações situadas em áreas de risco são exemplos
de boas práticas em relação ao desenvolvimento do planejamento urbano. A Associação de
Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Guarulhos (SP) conseguiu incorporar no Código de
Obras deste município, Lei Nº 5.617, técnicas de armazenamento das águas pluviais. É
importante ressaltar que deve-se definir o uso da água armazenada pela sua qualidade.
17
4. Aspectos do participação no planajamento dos sistemas e drenagem urbana
A prática do orçamento participativo no qual a prefeitura municipal aprova seu orçamento anual
após discussão com a população, tem contribuído muito para melhorar a gestão da drenagem
urbana, e a compreensão e colaboração da comunidade no que diz respeito ao amortecimento
de cheias. A comunidade participa das decisões sobre a adoção das medidas de controle pela
análise de pareceres técnicos, estudos de viabilidade econômica e disponibilidade de recursos.
Após a definição das técnicas alternativas, na fase de implementação dos projetos, a população
tem uma participação decisiva.
Em Porto Alegre, o plano estrutural das bacias levanta as alternativas possíveis e seus custos;
como o Município adota a prática do Orçamento Participativo, a viabilidade de cada alternativa
é discutida com a comunidade. A comunidade aprova o uso dos recursos municipais para as
medidas projetadas. O que tem sido feito são apresentações de técnicos da Prefeitura sobre
filosofia e a escolha das áreas de detenção. A análise dos custos de implantação tem sido
determinante neste processo, pois os recursos municipais são limitados e divididos entre as
várias áreas urbanas. A escolha de uma alternativa de custo elevado para a região implica em
comprometer vários anos sem investimento em outras áreas.
A implantação de sistemas de alerta é outra prática que tem dado bons resultados. É adotada
quando a região necessita de obras estruturais, mas não há recursos suficientes. Essa rede de
alerta é ligada ao sistema de Defesa Civil, que, a partir da previsão meteorológica de um evento
chuvoso de certa magnitude, avisa a população e executa o plano de retirada, com 7 a 8 horas
de antecedência.
Santo André
Todos os pontos de inundação da cidade foram mapeados, a partir deste mapa foram
analisadas as causas. Algumas são de caráter intermunicipal que, isoladamente, o município
não consegue resolver, outras tratavam de deficiências do sistema. Com este trabalho os
pontos de inundação foram reduzidos de 100 em 1998, para cerca de 40 e poucos pontos
atualmente. Algumas medidas foram estruturais e outras, de custo muito baixo, foram ajustes,
como inverter o fluxo de algumas canalizações, trabalhar com algumas válvulas para evitar o
retorno para os bairros da água dos principais canais.
Existem vários locais de inundação que o município não consegue implantar as medidas
estruturais necessárias, por falta de recursos. Nestes locais, quando necessário, é implantado o
Sistema de Alerta. O município de Santo André tem uma equipe de relações comunitárias que
trabalha com a população. Toda a população local é cadastrada. Quando a Defesa Civil Estadual
de previsão meteorológica informa a previsão de uma certa precipitação, a equipe informa à
população dessas áreas.
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Financiamento dos sistemas de drenagem urbana
Ao analisar o saneamento básico como um todo, pode-se perceber que o problema do
financiamento para o abastecimento de água já foi resolvido. Para o esgotamento sanitário o
problema é um pouco mais complicado porque neste estão envolvidas questões de
indivisibilidade parcial e externalidades. O que se adota no Brasil é uma tarifa "simplista"
amarrando a cobrança do esgotamento sanitário ao volume de água efetivamente consumido.
orçamento
municipal
implantação manutenção
empréstimos gestão
ampliação
O que se observa no Brasil é uma inadequação dos recursos alocados na drenagem urbana.
Essa inadequação se manifesta tanto na insuficiência de investimentos, o que se reflete na
fragilização da estrutura organizacional e nas deficiências da infra-estrutura da drenagem
urbana, como também, na descontinuidade de fluxos financeiros, ou seja, há freqüentemente a
paralisação de obras e grandes deficiências nos programas de manutenção.
Diante dos problemas apresentados percebe-se a necessidade de uma reflexão sobre a adoção
de novos mecanismos de captação de recursos. No que diz respeito ao modelo para
financiamento é constatada a clara necessidade da implantação de mecanismos de cobrança
assegurando, então, a viabilidade da estrutura institucional proposta anteriormente.
19
No município de Santo Andre, a partir da transferência do sistema de drenagem, a autarquia
sofreu com a questão do financiamento de todos os serviços. Até então ela tinha só os
subsídios da tarifa de água e esgoto. Em 1998, foi implementada a taxa de manutenção da
drenagem, que é no valor aproximado de R$ 2,00/mês por família e é implementada totalmente
na manutenção dos sistemas. Depois no ano 2001, criou a taxa da coleta dos resíduos
infectantes e limpeza pública incluída no IPTU foi transferida para o SEMASA.
Pode-se concluir que a taxa de impermeabilização apresenta uma alternativa mais interessante,
mais viável, devido à pertinência e embasamento físico, e tão importante quanto, existe o
caráter incitativo para o controle na produção do escoamento. A cobrança dessa taxa
aconteceria em âmbito local no sentido de resguardar a autonomia econômica, financeira e
administrativa do órgão gestor de drenagem urbana. Evidentemente se for criada o preço
metropolitano de saneamento essa taxa seria cobrada no âmbito dessa empresa metropolitana
de saneamento, e não dentro do município especificamente.
Limitações do PDDU
Do ponto de vista técnico, para o desenvolvimento do PDDU e o funcionamento do sistema de
drenagem, as seguintes limitações emergem como principais:
20
3) Quando tentam organizar a manutenção e o gerenciamento do sistema de drenagem, os
municípios enfrentam o problema de ausência de dados, ou seja, cadastro técnico
deficiente, falta de capacitação do corpo técnico, falta de cultura de planejamento e
manutenção tanto por parte dos órgãos quanto da população, falta de monitoramento do
sistema e falta de recursos. O levantamento de dados e estruturação do cadastro são
elementos que aumentam muito os recursos financeiros necessários à contratação de um
Plano Diretor de Drenagem Urbana.
Todas as questões anteriormente discutidas são baseadas num arcabouço jurídico para
regulamentação e controle que apresentam uma série de conflitos que acabam por dificultar o
adequado gerenciamento da drenagem urbana. A Tabela 3 apresenta o quadro institucional da
drenagem urbana no Brasil apontando os diversos níveis dos problemas relacionados à
drenagem e suas respectivas causas.
Tabela 3 Problemas relativos à estrutura institucional da drenagem urbana no Brasil
21
Conclusões e Recomendações
Práticas correntes e problemas existentes
A urbanização altera o balanço hídrico e gera inúmeros impactos ambientais, os quais podem
ser minimizados pelo planejamento de sistemas de drenagem: quanto maior for a compreensão
entre as relações espaço urbano-ciclo hidrológico maior será o potencial do planejamento em
minimizar os impactos.
Para o controle das águas superficiais na fonte são criadas estruturas que favorecem a
infiltração, mas é importante lembrar que só o fato de não impermeabilizar, já mantem a
velocidade do escoamento e não há a tendência de ter um hidrograma com uma vazão de pico
mais elevada, o que representa um fator positivo na drenagem urbana. A filosofia a adotada é a
utilização de mecanismos de favorecimento de quem controla, pode ser, inclusive, ao invés de
cobrar, deixar de cobrar alguma coisa, ter uma redução de impostos daquele morador ou
daquele empreendedor que controla o seu escoamento.
22
Política existente
Com relação aos instrumentos legais disponíveis pode-se concluir que a limitação não seja da
existência dos mesmos, mas sim, da estrutura institucional montada no Brasil, que apresenta
dependência direta do poder municipal. Há instrumentos legais tais como a obrigatoriedade do
Plano Diretor para cidades de porte mais significativo, embora a experiência mostre que apenas
uma pequena parte das cidades dispõe desse instrumento.
Várias das soluções são pensadas dentro das universidades, mas há uma distância muito
grande entre a pesquisa da comissão técnica e a implementação. Há claramente um problema
na transferência de tecnologia do conhecimento para as soluções. É um desafio a popularização
do conhecimento e a sensibilização do meio técnico, no tocante à drenagem.
Estrutura institucional
A ação coordenada entre os poderes federal, estadual e municipal é essencial para implantar
uma drenagem urbana sustentável. A solução dos problemas está, então, na criação e
estabelecimento de uma estrutura organizacional e institucional sólida, efetiva, perene de
recursos financeiros para administrar as ações da drenagem urbana de maneira independente
de questões políticas e de forma sintonizada com os interesses efetivos que se quer dar. Nesse
contexto, o Estatuto da Cidade desempenha um papel importante para o gerenciamento da
drenagem urbana.
Na área federal o que se espera é a elaboração de diretrizes gerais de uma política nacional de
saneamento ambiental que irá buscar a regulamentação dos instrumentos existentes, fazer uma
discussão mais aprofundada do Estatuto da Cidade, para que se possa trabalhar em parceria,
união, estados e municípios. Admitindo que cada problema exige um modelo distinto e que um
modelo de políticas intermunicipais é conveniente em muitos casos, para resolver os conflitos
de gestão, o governo federal pode ter uma participação importante. Cabe também aos órgãos
federais e estaduais a implementação de uma política de capacitação dos recursos humanos.
Diante do exposto, pode-se afirmar que existe uma necessidade da reestruturação institucional
das atitudes de gerenciamento da drenagem urbana no Brasil. Analisando para o caso
brasileiro, pode-se propor as soluções detalhadas na Tabela 4, que apresenta as possíveis
soluções para os problemas institucionais da drenagem urbana no Brasil.
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Tabela 4 Possíveis soluções para os problemas relativos à estrutura institucional da
drenagem urbana no Brasil
municipal
regional
Equipes técnicas em • estabelecimento de agencias estaduais ou federais de apoio técnico ou
pequenas cidades • estabelecimento de instituições regionais de drenagem urbana ou
• atribuição da regulação e da gestão às agencias de água
Inadequação no tratamento • instituição de “consórcios intermunicipais” ou
de questões intermunicipais • estabelecimento de instituições regionais de drenagem urbana ou
• atribuição às agencias de água das atividades de cooperação
intermunicipal
Inadequação no tratamento • instituição de “comunidades urbanas” ou
de questões metropolitanas • estabelecimento de instituições regionais de drenagem pluvial urbana ou
• atribuição às agencias de água das atividades de concertação
intermunicipal
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