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A principal preocupação em relação às águas subterrâneas estava relacionada à quantidade

disponível para abastecimento, devido à crescente demanda por água potável para uso
humano, agricultura, indústria e outros setores. As pesquisas estavam principalmente voltadas
para a quantificação dos recursos hídricos subterrâneos, incluindo a identificação de aquíferos,
a avaliação da recarga e descarga de água subterrânea e a estimativa da disponibilidade
hídrica. No entanto, nas últimas décadas, houve uma mudança de ênfase nas pesquisas sobre
águas subterrâneas com um aumento do foco nos problemas de qualidade em vez de apenas
na quantidade dessas águas.

No entanto, nas últimas décadas, tem havido uma crescente compreensão de que a qualidade
da água subterrânea é uma preocupação igualmente importante. A contaminação da água
subterrânea por poluentes químicos, como pesticidas, produtos farmacêuticos, metais
pesados e produtos químicos industriais, tornou-se uma preocupação significativa em muitas
áreas urbanas e industriais. A poluição da água subterrânea pode ter impactos negativos na
saúde humana, na qualidade do meio ambiente e na sustentabilidade dos recursos hídricos.

A principal forma da contaminação das águas subterrâneas se dá pela sua exploração


(DRAGON, 2008; ROY; BICKERTON, 2011) e as causas podem ser através de: efluentes
domésticos (fossas sépticas) e industriais, lixões e aterros sanitários e poços mal construídos
(ALKHASHMAN, 2007; JAMEEL e HUSSAIN, 2011; BABA e TAYFUR, 2011).

Os lixões, por exemplo, podem representar uma fonte significativa de contaminação da água
subterrânea devido ao chorume gerado pela decomposição de resíduos orgânicos e produtos
químicos presentes no lixo. O chorume pode infiltrar-se no solo e alcançar o lençol freático,
contaminando a água subterrânea com uma série de poluentes, como metais pesados,
substâncias químicas tóxicas e patógenos.

Os derramamentos de derivados de petróleo e outros compostos orgânicos também podem


contaminar a água subterrânea, especialmente em áreas industriais onde o manuseio,
armazenamento e transporte de produtos químicos são comuns. Vazamentos de tanques de
armazenamento, dutos de transporte de combustíveis e atividades de manipulação
inadequada de substâncias químicas podem resultar em contaminação da água subterrânea
com hidrocarbonetos e outros poluentes orgânicos.

As indústrias eletro-eletrônicas e de cloro-soda podem liberar substâncias químicas tóxicas e


metais pesados em suas atividades de produção e descarte de resíduos, representando uma
potencial fonte de contaminação da água subterrânea. O uso de organoclorados e
organofosforados em atividades agropecuárias, como pesticidas e produtos químicos para o
controle de insetos, também pode levar à contaminação da água subterrânea em áreas
agrícolas.

A cidade de Porto Velho enfrenta desafios significativos relacionados à falta de infraestrutura


adequada de saneamento básico há décadas. Essa questão foi destacada pela primeira vez por
Oswaldo Cruz em seu relatório encaminhado ao Ministério da Saúde em 1910.

Ao longo dos anos, a falta de infraestrutura no saneamento básico tem sido um problema
persistente em Porto Velho. O sistema de coleta e tratamento de esgoto é insuficiente e
muitas áreas urbanas ainda não possuem acesso a redes de água e esgoto. Isso pode resultar
em práticas inadequadas de disposição de resíduos sólidos e líquidos, incluindo o despejo de
esgoto bruto em rios, riachos e terrenos baldios, o que pode levar à contaminação da água
subterrânea e de superfície.

A falta de infraestrutura adequada de saneamento básico pode ter consequências diretas na


qualidade da água subterrânea em Porto Velho e contribuir para a degradação do meio
ambiente e a saúde pública. A contaminação da água subterrânea por patógenos, nutrientes,
metais pesados e outros poluentes pode representar riscos à saúde da população e exigir a
implementação de medidas de remediação e prevenção.

Destarte, a cidade de Porto Velho, juntamente com outras capitais da região Norte do Brasil,
como Macapá, Belém, São Luiz e Teresina, enfrenta sérios problemas no que diz respeito aos
serviços de saneamento básico, de acordo com dados do Sistema Nacional de Informações
sobre Saneamento (SNIS) de 2011. A falta de infraestrutura adequada para esgotamento
sanitário, tratamento de água, coleta e destinação adequada de resíduos sólidos e drenagem
pluvial são algumas das principais deficiências relatadas.

Ao ponto de em 2014, Porto Velho ainda enfrentava problemas como a deficiência no


atendimento de 100% dos domicílios com água potável, a falta de um aterro sanitário para a
destinação adequada dos resíduos sólidos e uma drenagem pluvial deficiente. Como resultado,
a cidade enfrentava alagamentos frequentes em diversos pontos durante as fortes chuvas do
inverno Amazônico.
Assim, todos estes fatores citados são determinantes para a potencial contaminação das águas
subterrâneas e potencial comprometimento à saúde ambiental e humana, principalmente das
crianças do nosso município.

Bahia (1997), em sua dissertação de mestrado fez referência à necessidade de elaboração de


mapas potenciométricos e de vulnerabilidade na cidade de Porto Velho. Sobretudo, para
orientar o Plano Diretor do município na gestão dos recursos hídricos subterrâneos.

Na capital Porto Velho apenas 48% da população possui abastecimento com água tratada e
52% com água de poço, portanto, a água subterrânea é uma alternativa importante, sendo
utilizada por grande parte da população para o uso doméstico geral (CAERD, 2001).

Assim, foi publicado na Revista Scientia Amazonia o Artigo intitulado: Distribuição espacial da
qualidade da água subterrânea na área urbana da cidade de Porto Velho, Rondônia, Ederson
Rodinei Dantas Rodrigues, Igor Bruno Barbosa de Holanda, Dario Pires de Carvalho, José
Vicente Elias Bernardi, Angelo Gilberto Manzatto, Wanderley Rodrigues Bastos. Publicado on-
line 30/12/2014.

O objetivo do trabalho foi avaliar a qualidade das águas dos poços tipo “amazonas” da área
urbana de Porto Velho (RO), onde a mesma foi dividida em 5 (cinco) zonas. O processo
metodológico constituiu-se de três etapas: amostragem de campo na área urbana onde foram
coletadas 166 amostras, análise de laboratório e análise estatística dos dados. Os parâmetros
físico-químicos foram realizados in loco obtendo-se intervalos mínimo e máximo de: pH entre
4,64 e 5,75; condutividade elétrica entre 9,42 e 73,12 µS/cm e oxigênio dissolvido entre 1,57 e
3,86 mg/L. A maior cota altimétrica no aqüífero foi encontrada onde os níveis piezométricos
são mais elevados (76,42 – 99,40 m) influenciando o lençol freático na distribuição dos níveis
bacteriológicos de coliformes fecais (0 - 15.400 NMP/100 mL) e totais (0 - 21.300 NMP/100
mL). Os poços foram escavados na sua maioria por moradores sem respeitar a distância segura
do poço em relação às fossas sépticas, encontrando-se variações entre 12,01 a 23,78 m e com
profundidades entre 1,47 a 9,74 m.

Após o exposto, concluiu-se que as águas do lençol freático dos poços “tipo amazonas” da área
urbana da cidade de Porto Velho (RO) encontram-se com altos índices de contaminação
bacteriológica indicando a presença de coliformes fecais, ou seja, impróprias para o consumo
humano sem um tratamento prévio e, em alguns casos até para uso no lazer, conforme
preconiza a legislação vigente no Brasil (BRASIL, 2005). Das 166 amostras coletadas 85%
apresentaram coliformes fecais (Zona 1 com 79%; Zona 2 com 91%; Zona 3 com 79%; Zona 4
com 88% e; Zona 5 com 94%.

Os fatores que determinam à contaminação nos bairros são os fluxos elevados do lençol
freático e sua direção, principalmente voltando-se para áreas mais baixas ocasionando um
impacto maior nos menores declividades e, consequentemente, aumentando potencialmente
o contágio da água, fato este que se associa principalmente a influência dos igarapés
impactados pelos lançamentos de esgotos in natura contribuindo com o aumento desta
contaminação.
A falta de saneamento básico na cidade de Porto Velho, com a ausência de sistema de esgoto
adequado e o uso de fossas e sumidouros sem critérios de segurança, pode ser uma das
principais causas dos altos níveis bacteriológicos nas águas dos poços subterrâneos, conforme
mencionado na referência da revista Scientia Amazonia citada. Além disso, o lançamento de
resíduos domésticos e sólidos nas proximidades dos poços ou em igarapés e córregos pode
contribuir para a contaminação bacteriológica dessas águas subterrâneas.

A contaminação bacteriológica, indicada pela presença de coliformes fecais nas amostras de


água dos poços esta prioritariamente ligada a falta de saneamento da cidade, complementada
com fossas e sumidouros, sem critérios de segurança, com contribuições fluviais de
lançamentos de resíduos domésticos e sólidos nas proximidades dos poços ou dentro de
igarapés e córregos. Os níveis microbiológicos encontrados nesse estudo nas águas dos poços,
em sua maioria acima dos limites permissíveis recomendados pelo Ministério da Saúde,
tornam a água imprópria para consumo humano sem um tratamento prévio adequado.

Essa situação representa um risco para a saúde da população que utiliza essa água como fonte
de abastecimento, destacando a importância do saneamento básico adequado, incluindo o
tratamento de esgoto, para garantir a qualidade da água subterrânea e proteger a saúde
pública. É fundamental que sejam adotadas medidas adequadas de gestão ambiental e de
saneamento, visando a proteção e preservação dos recursos hídricos subterrâneos e a
promoção da saúde da população.

O artigo aponta áreas mais críticas na cidade de Porto Velho, como os bairros: Nova Porto
Velho, Floresta, Nova Floresta e Agenor de Carvalho, onde os níveis de contaminação
bacteriológica nas águas subterrâneas são elevados. Isso destaca a necessidade de ações por
parte dos órgãos responsáveis e o constante monitoramento dessas áreas para garantir a
qualidade da água subterrânea e, consequentemente, proteger a saúde da população.

A falta de implementação de uma política de infraestrutura adequada de saneamento básico


na cidade de Porto Velho pode resultar em um aumento significativo dos índices de doenças
relacionadas à água. A contaminação bacteriológica das águas subterrâneas, indicada pela
presença de coliformes fecais, pode representar riscos à saúde pública, incluindo doenças
gastrointestinais e outras doenças transmitidas pela água. É importante que sejam adotadas
medidas efetivas para melhorar a infraestrutura de saneamento básico na cidade, incluindo o
tratamento adequado de esgoto, o monitoramento constante da qualidade da água
subterrânea e a implementação de ações preventivas para minimizar os riscos à saúde da
população. Ações integradas, envolvendo os órgãos responsáveis, a comunidade local e outras
partes interessadas, são fundamentais para enfrentar esse desafio e garantir um ambiente
saudável e seguro para a população.

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