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Pergunta:
- "Olá a todos! Quero fazer uma perguntinha em razão de uma dúvida que tenho e
agradeceria muito se alguém pudesse me esclarecer. Alguns amigos protestantes me
disseram que quando Cristo disse a Pedro: 'Tu és Pedro e sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja', Ele estava se referindo a Si mesmo como a pedra sobre a
qual edificaria a sua Igreja; não estava então se referindo a Pedro. A seguir, me
apontaram vários versículos onde Cristo é a pedra angular da Igreja e não Pedro.
Vocês poderiam me ajudar?"
Resposta:
Para responder aos argumentos do seu amigo, aproveito para empregar as regras
hermenêuticas que o pastor Fernando García Sotomayor (diretor de um seminário
protestante na Colômbia) compartilhou comigo.
- "E eu, de minha parte, te digo: tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha
Igreja, e as portas do Hades não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do
Reino dos Céus; e o que atares na terra será atado nos céus e o que desatares na
terra será desatado nos céus" (Mateus 16,18-19).
Nós, católicos, dizemos que Cristo se referia, neste texto, a Pedro como a 'pedra';
os protestantes dizem, neste caso, que Cristo se referia a Si mesmo como 'pedra'.
A referida frase de Cristo altera o nome de Simão para Pedro (que quer dizer
'pedra'). Por que se deveria pensar então que Cristo fazia referência a Si mesmo,
se acabava de mudar o nome de Pedro para pedra? Foi por acaso?
O contexto não revela que Cristo estava se referindo a Si mesmo, mas a Pedro.
Segundo, porque em todos os contextos onde ocorreu uma mudança de nome na Bíblia,
estes tinham um profundo significado: um mudança de função ou ministério para a
pessoa.
Exemplos:
Deus muda o nome de Abrão para 'Abraão' porque o constitui em pai de uma multidão
de povos:
- “Abrão caiu com rosto em terra e Deus lhe falou assim: 'Da minha parte, eis aqui
a minha aliança contigo: serás pai de uma multidão de povos. Não te chamarás mais
'Abrão', mas teu nome será 'Abraão', pois pai de uma multidão de povos Eu te
constituí. Te tornarei sobremaneira fecundo, te converterei em povos e reis sairão
de ti'” (Gênesis 17,3-6).
Deus muda o nome de Sarai (esposa de Abraão) para 'Sara' que significa "princesa
fecunda", "mãe de reis":
- “Disse Deus a Abraão: 'A Sarai, tua mulher, não a chamarás mais 'Sarai', mas seu
nome será 'Sara'. Eu a abençoarei e dela também te darei um filho. A abençoarei e
se converterá em nações; reis de povos procederão dela'” (Gênesis 17,16).
Deus muda o nome de Jacó para 'Israel' porque "lutou com Deus e com os homens e os
venceu":
- “Disse o outro: '- Qual é o teu nome?' '- Jacó'. '- Doravante não te chamarás
Jacó, mas 'Israel', porque foste forte contra Deus e contra os homens e os
venceste'” (Gênesis 32,28).
- “Dará a luz a um filho e tu lhe porás por nome 'Jesus', porque Ele salvará o seu
povo de seus pecados” (Mateus 1,21).
- "Eu te darei as chaves do Reino dos Céus; e o que atares na terra será atado nos
céus, e o que desatares na terra será desatado nos céus" (Mateus 16,18-19).
Cristo entrega as chaves do Reino dos céus a Pedro. Sua função será a de ser o
portador das chaves.
- “Naquele dia chamarei meu servo Eliaquim, filho de Jelquias. O revestirei com tua
túnica; com o teu cinto o cingirei; a tua autoridade colocarei na mão dele e ele
será um pai para os habitantes de Jerusalém e para a casa de Judá; porei a chave da
casa de Davi sobre o seu ombro: abrirá e ninguém fechará; fechará e ninguém abrirá;
o fincarei como estaca em lugar seguro e será trono de glória para a casa de seu
pai: pendurarão ali tudo o que há de valor na casa de seu pai - seus descendentes e
sua posterioridade -, todo o enxoval, todas as taças e cântaros. Naquele dia -
oráculo de Yahveh Sebaot - se removerá a estaca fincada em lugar seguro; cederá e
cairá; e a fará em pedaços o peso que sustentava, porque Yahveh falou” (Isaías
22,20-25).
Esse texto era uma profecia, onde Deus anunciou que instauraria um novo mordomo em
Israel (Eliaquim, que de fato chegou a ser mordomo no lugar de Sebna; ver 2Reis
18,18; 19,2; Isaías 33,3; 37,2). O mordomo era um ministro que detinha as chaves do
reino. Ainda que os demais ministros também tivessem autoridade, a autoridade do
mordomo era superior. Todos atavam e desatavam, porém o que o mordomo atava os
outros ministros não podiam desatar e vice-versa (isto se refere à autoridade de
tomar decisões). O mordomo não era o rei, mas tinha autoridade conferida pela mão
do rei.
Por que Cristo emprega esta figura? Porque Cristo quer usar um exemplo de seu
tempo, para que todos pudessem entender a nova função de Pedro: ser o novo mordomo
do Seu Reino. Assim como os antigos reis de Israel tinham um mordomo, Cristo
designa o seu: Pedro.
Os protestante ignoram todas estas regras na prática. Chega a ser engraçado vê-los
falar de hermenêutica pra cá, de hermenêutica pra lá e, na hora da verdade, é tão
somente um clichê.
Você concordará comigo que, na Bíblia, entre todos os gêneros literários que
podemos encontrar, um deles é a metáfora. Em uma metáfora se compara um elemento
literal e associa-se-lhe um significado. Exemplos:
E assim poderíamos continuar, porém considero que não seja necessário porque todos
nós conhecemos quais metáforas existem na Sagrada Escritura.
Uma vez esclarecido isto, há que se entender que, ainda que na Bíblia existam
muitas metáforas, os elementos nela empregados não têm um significado fixo. É um
erro pensar que porque em João 8,12 se diz que Cristo é "Luz do mundo", cada vez
que aparecer a palavra "luz" numa metáfora estará se referindo a Ele. Temos um
exemplo claro disso em Mateus 5,14, onde Cristo nos diz: “Vós sois a luz do mundo”.
Contudo, é isso o que fazem os protestantes! Buscam muitas metáforas onde Cristo é
"pedra" (ou "rocha") e estabelecem a hipótese de que cada vez que isto ocorre se
estará indiscutivelmente referindo a Cristo. Mas isto é incorreto!
Isaías 51,1, por exemplo, diz: “Olhai para pedra de onde fostes cortados”, e nesta
metáfora a pedra não é Cristo mas Abraão. A passagem continua: “...e para a caverna
do abismo de onde fostes arrancados. Olhai para Abraão, vosso pai”.
- “Porque ninguém pode colocar outro fundamento além daquele que foi posto: Jesus
Cristo” (1Coríntios 3,11).
Há aqui uma contradição? Claro que não! São metáforas diferentes! Na primeira
(Efésios 2,20), a Igreja é comparada a um edifício; ali, todos nós somos
figuradamente representados como pedras (os fiéis, os Apóstolos e também Cristo, já
que Ele figura aqui como 'pedra angular'). Na segunda (1Coríntios 3,11), já não se
fala da Igreja, mas de cada fiel que constrói sua vida com base nas suas obras;
estas obras que estão sendo edificadas sobre o fundamento (que é Cristo) receberão
a sua recompensa (recomendo ler na íntegra os capítulos citados, para entender
melhor o contexto).
É importante assinalar também que a Pedra angular de uma construção não é a pedra
sobre a qual se edifica a Igreja. A primeira pedra sobre a qual se edifica uma
construção encontra-se na base; a pedra angular encontra-se na parte superior, para
dar consistência a todas as demais (e em algumas construções - por exemplo, uma
pirâmide [com base quadrada] - pode haver na verdade até 5 pedras angulares, muito
embora geralmente a pedra angular se refira àquela que se encontra na cúspide e não
às que estão na base).
Deste modo, poderíamos construir uma metáfora genérica assim: a Igreja é
simbolizada como um edifício espiritual; Cristo é figurado como pedra angular;
Pedro e os Apóstolos, como fundamento (sendo Pedro a primeira pedra sobre a qual se
edifica (=o mordomo)); e nós, as pedras vivas que abraçamos o restante do edifício.
- "E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como também o nosso amado
irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; falando disto, como
em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os
indoutos e inconstantes torcem, igualmente como fazem com as outras Escrituras,
para sua própria perdição. Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-
vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados e
descaiais da vossa firmeza" (2Pedro 3,15-17).