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Sumário
Prefácio
As Ironias da Cruz
O Centro de Toda a Bíblia
Sumário
Prefácio
Mateus 27.27_31
Capítulo 1
As Ironias da Cruz
Mateus 27.27-5la
e modo geral, ele foi um rei muito bom. Uniu as tribos divergentes, edificou uma
nação e estabeleceu uma dinastia. Sendo pessoalmente corajoso, ele também
construiu um
formidável sistema de defesa e deu segurança às fronteiras de seu
país. Demonstrou ser um administrador hábil e, em geral, governou com justiça.
Como se isso não fosse bastante, ele foi um exímio poeta e músico.
Entretanto, na meia-idade, ele seduziu uma mulher jovem que morava ao lado de
seu palácio. Para entendermos melhor quão grave foi esse mal, temos de
recordar que, na ocasião, o marido daquela mulher estava longe de casa, no
fronte militar, travando as batalhas do rei. Por conseqüência da estadia de
uma noite, a mulher ficou grávida e mandou uma mensagem ao rei. Ele era um
“consertador” e pensou que poderia consertar aquilo. Mandou uma mensageiro
ao fronte de combate, pedindo ao comandante das tropas que mandasse o
homem jovem de volta à capital, com uma mensagem importante para o rei. E
claro que o homem veio, mas, no desenrolar dos acontecimentos, ele não foi para
casa, a fim de dormir com a esposa. De alguma maneira, ele sentiu que estaria
sendo injusto com seus colegas que tinham ficado no fronte. O homem dormiu
no pátio real, pronto para retornar à batalha. E o rei Davi sabia que seria
descoberto. Por isso, mandou uma mensagem secreta aos oficiais comandantes
no fronte, uma mensagem levada pelas mãos do próprio homem, uma mensagem
que era a garantia de sua morte. Os oficiais deveriam arranjar um conflito no
qual todos da unidade receberiam um sinal secreto para recuar, exceto aquele
homem. O inevitável aconteceu: a unidade recuou, o homem foi deixado sozinho
no conflito e foi morto. Logo depois, o rei Davi se casou com a viúva. Ele
pensava que tinha resolvido o problema de seu pecado.
Deus enviou o profeta Natã para confrontar Davi. Embora fosse um profeta fiel,
Natã decidiu que seria melhor abordar o rei com cautela apropriada e, assim,
começou sua história. Em essência, ele disse: “Vossa majestade, deparei-me com
um caso difícil no país. Há dois agricultores que são vizinhos. Um deles é podre
de rico; o número de animais em seus rebanhos é incontável. O outro é
um agricultor de subsistência. Tem apenas uma cordeirinha; isso é todo o seu
rebanho. De fato, ele não tem mais a cordeirinha. Alguns visitantes chegaram à
casa do agricultor rico, que, em vez de mostrar a devida hospitalidade, matando
um dos animais de seus próprios rebanhos e preparando uma boa refeição, foi e
roubou a cordeirinha possuída pelo agricultor pobre. 0 que o senhor acha que
deve ser feito neste caso?”
Davi ficou furioso. Ele disse: “Tão certo como vive o SENHOR, o homem que fez
isso deve ser morto. E pela cordeirinha restituirá quatro vezes, porque fez tal
coisa e porque não se compadeceu” (2 Sm 12.5-6). Davi não tinha a menor idéia
de quão dolorosamente irônica era a sua sentença. É claro que Natã sabia, e o
escritor sabia, e Deus sabia, e os leitores sabem - mas Davi não pôde detectar
a profunda ironia de suas próprias palavras, até que Natã lhe disse: “Tu és o
homem” (v. 7).
Todos sabemos o que é ironia. A ironia expressa significado por utilizar palavras
que normalmente significam o oposto do que está sendo dito. Às vezes, a ironia
é intencional; o falante sabe que está usando uma ironia. Outras vezes, como
neste caso, Davi não
tinha indício de que suas palavras eram irônicas, até que seu juízo hipócrita foi
exposto. Ele pensou que suas palavras o estabeleciam como um juiz
intransigente que tomava decisões judiciais corretas e justas. Contudo, à luz de
sua vida secreta, ele apenas expôs a si mesmo como um hipócrita deplorável. O
verdadeiro significado de suas palavras, neste contexto mais amplo, é uma
condenação severa do homem que, por usar essas palavras, achava estar
mostrando que era um homem justo e um bom rei.
Há uma ironia que é perniciosa; há uma ironia que é bastante divertida. Mas
todos sabemos que a ironia tem o poder, especialmente na narrativa, de trazer
uma situação a um foco nítido. Muito freqüentemente, é a ironia na narrativa que
capacita os ouvintes e os leitores a perceberem o que está, de fato, acontecendo.
A ironia provê uma dimensão de profundidade e nitidez que, de outro
modo, estariam ausentes.
Dos escritores do Novo Testamento, os mais dados à ironia são Mateus e João.
Na passagem que agora consideramos, Mateus revela o que aconteceu quando
Jesus foi crucificado - mas ele o faz apresentando quatro grandes ironias que
mostram aos leitores atentos o que realmente estava se passando.
Permita-me recordar-lhe o contexto. A essa altura, Jesus havia estado perante os
olhos públicos por dois ou três anos - os anos de seu ministério público. No
entanto, agora ele se tornara inimigo das autoridades políticas e religiosas. Eles
tinham inveja da popularidade de Jesus, temiam seu poder político potencial
e suspeitavam de seus motivos. Eles se perguntavam se o número crescente dos
seguidores de Jesus poderia tornar-se em rebelião contra o superpoder dominante
da época, o poderoso Império Romano - pois só poderia haver um resultado num
conflito com Roma. Por isso, Jesus tinha de ser destruído. Eles conseguiram um
julgamento irregular, declararam Jesus culpado de traição e obtiveram a sanção
do governador romano para que Jesus fosse
executado por crucificação. Tudo isso, eles pensavam, era política e
religiosamente apropriado - visava ao melhor.
Neste texto (Mt 27.27), pegamos o relato imediatamente após o pronunciamento
da sentença. Naqueles dias, não havia para os prisioneiros uma longa demora no
corredor da morte. Uma vez que a pena capital era determinada, o prisioneiro era
levado e executado em poucas horas ou, no máximo, em poucos dias. No texto
que consideramos, vemos os soldados preparando Jesus para a
crucificação imediata. À medida que Mateus nos conta a história, podemos
refletir sobre quatro ironias profundas da cruz.
O HOMEM QUE É ZOMBADO
Romanos 3-21-26
Capítulo 2
O Centro de Toda a Bíblia
Romanos 3.21-26
A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua, urdem engano. (SI 5.9)
(SI 10.7)
São os seus pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos, há destruição e miséria;
desconheceram o caminho da paz. (Is 59.7-8)
Era também agonia. Você não pode imaginar o que uma pessoa tem de fazer para si mesma - bem, se
você é como eu era, talvez você entenda o que estou dizendo - o que uma pessoa tem de fazer para si
mesma a fim de continuar crendo nessa insensatez. O apóstolo Paulo disse que o conhecimento da lei
de Deus está “gravado” em nosso “coração, testemunhando... também” a nossa consciência.
A maneira como os filósofos da lei natural expressam isso é dizendo que as leis de Deus constituem a
estrutura profunda de nossa mente. Esse ensino do apóstolo implica que,
enquanto temos mente, não podemos deixar de conhecer as coisas ali gravadas. Bem, eu estava
singularmente decidido a não conhecê-las. Portanto, eu tinha de destruir minha mente. Resisti à
tentação de crer no bem, com tanto vigor quanto alguns santos empregam para resistir à tentação de
negligenciar o bem. Por exemplo, eu amava minha esposa e filhos, mas estava decidido a considerar
esse amor como mera preferência subjetiva sem qualquer valor real e objetivo. Pense no que isso fez à
minha capacidade de amá-los. Afinal de contas, o amor é um compromisso da vontade para com o
verdadeiro bem de outra pessoa. E, como alguém pode ser comprometido com o bem de outra pessoa,
se nega a realidade do bem, nega a realidade das pessoas e nega que seus compromissos estão em
seu controle?
Imagine um homem abrindo os painéis de acesso à sua mente e jogando fora todos os componentes
que tinham a imagem de Deus estampada neles. O problema é que todos eles estampam a imagem de
Deus; portanto, o homem nunca parará. Não importa quantos ele joga fora, há sempre mais a jogar.
Eu era esse homem. Porque joguei fora cada vez mais componentes, havia cada vez menos sobre os
quais eu podia pensar. Mas, como havia cada vez menos componentes em que eu podia pensar, estava
me tornando mais e mais focalizado. Porque eu acreditava em coisas que me enchiam de pavor,
pensava que era mais esperto e mais corajoso do que as pessoas que não acreditavam em tais coisas.
Pensava que via um vazio no âmago do universo que estava oculto dos olhos tolos das outras
pessoas. Mas o tolo era eu mesmo.2
Em seguida, ele conta como a graça começou a chamá-lo e relata os seus passos
para crer em Deus. Ele é um homem que começou a entender Romanos 1.18-
3.20.
Tenho um amigo na Austrália que sempre faz missões entre universitários e
ocasionalmente prega uma mensagem intitulada “Os Ateístas São Tolos e os
Agnósticos São Covardes”. Ora, não estou sugerindo que esse é um título que
todos nós devemos escolher. Ele é um australiano, e os australianos tendem a ser
um pouco mais diretos do que muitos de nós. Mas, em certo nível, é fácil
simpatizarmos com o que ele diz. Do ponto de vista de Deus, é o tolo que diz
em seu coração: “Não há Deus” (SI 14.1).
O fato é que, se você não vê realmente o estado de perdição em que nós, seres
humanos, estamos em nossa rebelião contra Deus, é muito difícil achar sentido
no que vem em seguida.
O que Paulo estabelece em Romanos 3.21-26
Nesta passagem, Paulo fala sobre a solução - como podemos ser justos diante de
Deus. A expressão controladora deste parágrafo é “a justiça de Deus”. Essa
expressão, que pode ser traduzida por “a justificação de Deus”, ocorre quatro
vezes nestes seis versículos. O verbo justificar ocorre duas vezes adicionais, e o
adjetivo jus to ocorre uma vez. Toda esta passagem diz respeito a como uma
pessoa pode ser considerada justa diante deste Deus santo, visto que nossa
condição é tão miserável como demonstrada nos primeiros dois capítulos e meio.
Para chegarmos ao âmago da solução de Paulo, refletiremos sobre os quatro
passos que ele estabelece em seu argumento.
1) Paulo estabelece a relação da justiça de Deus em Cristo com a aliança da lei
do Antigo Testamento (3.21).
“Mas agora” introduz algo novo no argumento de Paulo. Isso não é apenas uma
transição lógica: “Mas agora, neste passo do argumento...” Paulo podia usar
“mas agora” em diversas maneiras, mas, neste contexto, a expressão significa:
“Mas agora, neste ponto do fluxo da história de redenção”. Algo novo é
introduzido.
Qual é a natureza da mudança que Paulo tinha em mente? No passado, havia
outra coisa, “mas agora" o que há?
Um ponto de vista popular, mas errôneo, é o de que no Antigo Testamento Deus
era especialmente furioso, “mas agora” no Novo Testamento Deus é amoroso e
gracioso. O argumento é mais ou menos assim: na antiga aliança, Deus
mostrava-se a si mesmo em ira justa, pelo menos em fomes, pragas e guerras.
Agora, porém, sob os termos da nova aliança estabelecida pela cruz, Deus revela
no evangelho um lado mais gentil de seu caráter. Muitos cristãos acham que no
Antigo Testamento Deus é sempre de temperamento vingativo, enquanto
no Novo Testamento Jesus diz aos seus seguidores a oferecerem a outra face - e
ele mesmo vai à cruz em nosso favor. Portanto, quando Paulo introduz este
parágrafo com as palavras "mas agora", ele está nos preparando para mostrar um
quadro de Deus que é um pouco mais brando do que o que encontramos no
Antigo Testamento.
Por pelo menos três razões, esse ponto de vista é um grande engano. Primeira,
embora haja abundantes julgamentos no Antigo Testamento, os mesmos
documentos do Antigo Testamento afirmam, com igual fervor, a bondade, a
generosidade, o amor e a graça de Deus. Por exemplo:
O Senhor é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno.2
Como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece dos que o temem.
(SI 103.8-9,13-14)
Em todo o nosso discurso sobre teologia, em todos os nossos debates sobre como
o Novo Testamento usa o Antigo Testamento, sobre o significado exato da
inerrância e sobre todos os outros assuntos que têm de ser tratados, nunca
percamos de vista o âmago da questão: “Deus estava em Cristo reconciliando
consigo o mundo” (2 Co 5.19).
Dilema infame: como pode a santidade De vida resplendente e límpida tolerar Fétida lama de
rebelião e não a abater Em sua glória, comprometida ao máximo?
Dilema infame: como pode a verdade atestar Que Deus é amor e não ser envergonhada por
ódio, vontades escravizadas e morte amarga - a carga Da maldição merecida, o caos de rebeldes
humanos?
O amor e a pureza de Deus, em graça assoladora, Solucionam o grande dilema! A cruz! A cruz!
Este santo, amável Deus cujo Filho querido morre Por meio disso é o justo - e aquele que justifica.6
Você crê? Um Deus vivo que morre e vive novamente? Um Deus que está contra nós em ira e, ao
mesmo tempo, nos ama? Uma cruz em que a punição é aplicada por Deus e recebida por Deus?
Escandaloso!
“O que acontece quando um dos teólogos mais proeminentes do mundo expõe alguns dos textos mais
proeminentes da Bíblia? Este livro.”
"A clareza de Don Carson em comunicar a Escritura é um grande dom, e neste livro ele o transmite a
nós. Este professor pode pregar! Estas sào mensagens-modelos sobre passagens cruciais. Sào
meditações deliciosas que instruem nossa mente e alimentam nossa alma. Conteúdo bíblico - franco,
vigoroso, solene e consistente -isso é o que Carson nos dá sobre a cruz e a ressurreição de Cristo. Leia,
marque, aprenda e alimente seu espírito.”
Cf. Ex 34.6; Nm 14.18; Ne 9.17; SI 86.15; 103.8; 145.8; J12.13; Jn 4.2; Na 1.3.
Uma excelente abordagem lingüística do debate sobre a “fé de Cristo” ("fé em Cristo” versus
"fidelidade de Cristo") foi escrita por Moisés Silva - “Faith Versus Works of Law in Galatians”. In:
CARSON, D. A.; O’BRIEN, Peter T.; SEIFRID, Mark A. (Ed.). Justification and variegated no-mism:
the paradoxes of PauL Grand Rapids: Baker, 2004. p. 217-248.
Quanto a refutações da posição de C. H. Dodd sobre a propiciação, ver: NICOLE, Roger. C. H. Dodd
and the doctrine of propitiation. Westminster Theological Journal, Philadelphia, v. 17, p, 117-
157,1954-1955. MORRIS, Leon. The apostolic preaching of the cross. 3rd ed. Grand Rapids:
Eerdmans, 1965.
Faça um contraste entre Steve Chalke e Alan Mann, que rejeitando a noção de substituição penal e
um sacrifício propiciatório, escrevem: “O fato é que a cruz não é uma forma de abuso infantil
cósmico - um pai vingativo punindo seu filho por uma ofensa que ele nem
cometeu. Compreensivelmente, as pessoas de dentro e as de fora da igreja têm achado essa versão
pervertida dos eventos moralmente dúbia e uma grande barreira à fé. Todavia, mais profundo do
que isso é o fato de que essa construção permanece em total contradição com a afirmação ‘Deus é
amor’. Se a cruz é um ato pessoal de violênda perpetrado por Deus para com a humanidade, mas
suportado por seu Filho, então ela escarnece do ensino de Jesus quanto a amar os inimigos e recusar-
se a pagar o mal com o mal. A verdade é que a cruz é um símbolo de amor. E uma demonstração de
até aonde Deus, o Pai, e Jesus, seu Filho, estão dispostos a ir para provar esse amor. A cruz é uma
afirmação vivida do desamparo de amor” (7he Lost Messagem of Jesus, Grand Rapids: Zondervan,
2003, p. 182-183).
CARSON, D. A. Holy sonnets of the twentieth century. Grand Rapids: Baker, 1994. p. 101.