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A semeadura do trabalho como princípio educativo na

Educação Profissional e Tecnológica


Diene Israela da Silva mestranda no Mestrado
em Educação Profissional e Tecnológica pelo
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Educação Profissional e Tecnológica, no
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Baiano campus Catu.
Área de concentração: Organização e Memórias
de Espaços Pedagógicos na Educação
Profissional e Tecnológica (EPT)
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Souza Oliveira

INTRODUÇÃO
Na Educação Profissional e Tecnológica (EPT) a categoria trabalho está no

cerne das discussões sobre o fomento da educação integral 1. Educação e trabalho são
polissêmicos e estão inter-relacionados nos processos de formação e execução de
projetos políticos que versam sobre a organização do sistema de ensino nacional. Estes
projetos que se desdobram em leis e decretos, mesmo sendo propostos em gestões
governamentais diferentes, contém elementos socioeconômicos e culturais de
expressões permanentes. Ocorre ainda, que diante de mudanças conjunturais alguns
elementos neles contidos perdem relevância social ou são ressignificados.
Entende-se Estado como o conjunto de instituições permanentes. Um corpo de
órgãos centralizados ou descentralizados contendo o legislativo, as autarquias, o
exército e outros, dão aporte para a gestão governamental. E Governo “como o
conjunto de programas e projetos que parte da sociedade (políticos, técnicos,
organismos da sociedade civil e outros)” (Holfling, 2001). O Estado2 em tese deveria
agir implantando seu projeto de governo por meio de programas para setores sociais
específicos. As resoluções de problemas sociais norteiam e dão sentido a sua
existência, objetivam promover a proteção social e a redistribuição de benefícios

1 A Educação Integral é uma concepção de formação dos sujeitos em todas as suas dimensões
– física, intelectual, emocional, cultural e social. Deve ser um princípio para oferta da educação em todos
os níveis. BNCC PG 16 Nesse contexto, a BNCC afirma, de maneira explícita, o seu compromisso com a
educação integral 13. Reconhece, assim, que a Educação Básica deve visar à formação e ao
desenvolvimento humano global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse
desenvolvimento.
2 Estado Democrático, baseia-se no princípio da soberania popular, pelo qual o povo é titular
do poder constituinte, é o ente que legitima todo o poder político. (JUSBRASIL 2020)

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sociais para a diminuição das desigualdades. Dessas ações resultam políticas sociais
para a promoção e garantia de direitos, as cotas, os programas de permanências, a
Educação de Jovens e Adultos são exemplos de políticas sociais.
Durante um governo pode coexistir políticas de abordagens antagônicas, as
hegemônicas (capitalista) e as contra hegemônicas (marxista, socialista e outras). As
abordagens Capitalistas tendem a preservação das classes sociais. O bem-estar social
não está ligado a mudança ou superação das desigualdades, mas a harmonização
desigual dos interesses empresariais e dos trabalhadores, sendo estes últimos
minimamente atendidos. As políticas contra hegemônicas objetivam garantir o bem-
estar da sociedade como um todo diminuindo as distâncias entre as classes.

Examinar as políticas públicas educacionais do Brasil é um modo de


compreender aspectos da educação, perceber sua historicidade, seus limites e traçar
perspectivas. Historicamente as deliberações do poder público sobre a educação
pública sofrem entraves para a implementações de projetos. As leis e decretos sofrem
constantes reformas- mudanças sobre as modalidades, diretrizes e finalidades entre
outras- centralizadoras e descentralizadoras, cujo movimento pendular oscila entre
avanços e retrocessos na disponibilidade e qualidade da educação.

Saviani (2007) ao estudar a política educacional brasileira faz um importante


balanço histórico sobre as políticas públicas educacionais. Mostra como estas estão
intimamente ligadas ao Estado e as suas necessidades, sendo suas ações inconstantes
com sucessivas reformas pouco efetivas. O autor chama a atenção para o
financiamento da educação e os “jeitinhos” que restringem os recursos financeiros
para esta área. Deste estudo pode-se concluir que há uma resistência à manutenção da
educação, morosidade ou recuo para obtenção e garantia de recursos financeiros
dentro do orçamento público que viabilize uma educação de qualidade. Junta-se a isso
as descontinuidades nas políticas educativas que limitam a promoção e consolidação
de uma educação igualitária de qualidade.
No cenário nacional as políticas públicas estão sempre em disputa, ora temos
avanços, com políticas e programas pensados para garantia de fornecimento da
Educação Profissional e Tecnológica, a Educação do Campo e outros. E ora temos
retrocessos, com cortes nas verbas da educação e reformas gerais que suprimem
direitos conquistados, afastam a dimensão profissional e tecnológica fazendo com que

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os alunos sejam um produto para o empresariado. Estas disputas ideológicas são
percebidas em todos os períodos governamentais do Brasil.
Pensando a EPT, com recorte específico para os Institutos Federais ,vê-se
disputas e debates políticos-ideológicos importantes que culminaram tanto na criação
das Escolas de Aprendizes e Artífices (EAAs), marco do início da rede da educação
profissional, quanto em debates atuais, como o ocorrido em 2019 quando o governo
Bolsonaro apresentou ao congresso o Projeto de Lei 11.279/2019 para alterar a
legislação que instituiu a Rede federal de Educação Profissional Científica e
Tecnológica. Como resposta, os profissionais dos institutos e intelectuais que
perceberam tal medida como retrocesso teceram críticas substanciais ao governo. A
movimentação contrária resultou na retirada do projeto no dia 26/03/2019.
A cronologia das Instituições federais (IFs) é secular, as diversas mudanças em
suas nomenclaturas mostram o quanto estão contidas nos processos históricos.

Figura 1- Cronologia resumida da EPT


Efetuando ainda mais um recorte, dentro dessa temporalidade extensa, neste
estudo serão analisadas as políticas públicas que culminaram em leis e decretos para os
IFs no período de 1909 a 1961. Esta escolha se justifica por espelhar o objeto da
pesquisa intitulada Contribuições do Instituto Federal Baiano - Campus Catu e de seus
sujeitos para a história do ensino profissional e tecnológico no Brasil, cujo período
abordado é entre 1966-1971. Logo este estudo elucidará dúvidas acerca da conjuntura
histórica pelo qual perpassou esta instituição também secular e que hoje busca
promover um ensino integrado.

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O objetivo é buscar na legislação as sementes do processo que viabilizou pensar
e executar o trabalho como princípio educativo. Pois, essas sementes idearias e
políticas foram levadas as várias regiões do Brasil chegando também em Catu, que não
deixou de absorver as demandas governamentais impostas nem os reflexos da EPT,
contendo no momento da implantação do ensino médio sua própria semente para o
desenvolvimento local da educação profissional e tecnológica. A metodologia dessa
investigação é uma pesquisa bibliográfica com fontes primárias- leis e decretos- e
secundárias – publicações acerca da educação e da EPT.

1. OS SENTIDOS DO TRABALHO E O TRABALHO COMO PRINCÍPIO


EDUCATIVO.
Para compreender os sentidos do trabalho Frigotto busca no legado de Marx a
polissemia desse termo e as contrapõe aos sentidos dados por outros autores. Não faz
uma investigação meramente semântica, mas fundamentada na histórica disputa de
classes e as diversas contradições do sistema capitalista, observáveis dentro de uma
realidade concreta. Pode-se apreender que a representação da consciência, a produção
ou reprodução de ideias se interligam as atividades reais humanas, a realidade não é
criada a partir da consciência, da teoria e a linguagem, estas são produzidas e fazem
parte de uma mesma realidade histórica. O autor diz que

Essa compreensão conduz-me ao pressuposto de que os sentidos e


significados do trabalho resultam e constituem-se como parte das relações
sociais em diferentes épocas históricas e um ponto central da batalha das
ideias na luta contrahegemônica à ideologia e à cultura burguesas Esse
pressuposto, como consequência, leva-me ao mesmo tempo a compreender e
tratar as relações de produção e de reprodução sociais, a linguagem, o
pensamento e a cultura de forma históricodialética e, para não cairmos numa
discussão abstrata, atemporal ou - nos termos de Marx - escolástica, que o
sentido do trabalho, expresso pela linguagem e pelo pensamento, só pode ser
efetivamente real no campo contraditório da práxis e num determinado tempo
e contextos históricos. (Frigotto, 2009)
O autor relaciona o trabalho com a categoria classe social e educação
desvendando a polissemia que resultam e são constituídas como parte das relações
sociais em diferentes épocas históricas, sendo ponto central da luta contra hegemônica a
ideologia burguesa. A razão para entender os diversos significados do trabalho para
além de questões teóricas, epistemológicas e semânticas, colocando-os nos processos de
natureza histórico-social, ontológico, ético e político, é a possibilidade de analisar
criticamente as relações sociais e os processos formativos e educativos que reproduzem
o sistema de capital e suas formas de alienação. Desdobra-se, portanto, na compreensão

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das experiências sociais e culturais das massas, a formação da sociedade no âmbito
econômico, cultural, das artes e da educação.

As significações do trabalho podem ser debatidas em todas as instâncias


sociais, acadêmicos e trabalhadores com baixa escolarização são capazes de conceituá-
lo a partir de saberes diferentes. Pode ser entendido como o intercâmbio orgânico do
homem com a natureza, atividade laborativa ou emprego, atividade doméstica e
outros. Para o autor o trabalho não perde o sentido por conta das diversas
conformações conjunturais, por isso deve ser analisado para além da semântica e
também para além de Marx. E apesar das contradições do sistema capitalista, onde
ocorre o sentido do trabalho como dominação de classe, este também é entendido
como princípio educativo, segundo ele

Da leitura que faço do trabalho como princípio educativo em


Marx, ele não está ligado diretamente a método pedagógico nem à escola,
mas a um processo de socialização e de internalização de caráter e
personalidade solidários, fundamental no processo de superação do sistema
do capital e da ideologia das sociedades de classe que cindem o gênero
humano. Não se trata de uma solidariedade psicologizante ou moralizante.
Ao contrário, ela se fundamenta no fato de que todo ser humano, como ser
da natureza, tem o imperativo de, pelo trabalho, buscar os meios de sua
reprodução - primeiramente biológica, e na base desse imperativo da
necessidade criar e dilatar o mundo efetivamente livre. Socializar ou
educar-se de que o trabalho que produz valores de uso é tarefa de todos, é
uma perspectiva constituinte da sociedade sem classes. Por ser o trabalho
(mediação de primeira ordem) o que possibilita que o ser humano produza-
se e reproduza-se, e por isso, na metáfora de Marx, antediluviano, e não o
trabalho escravo, servil e o trabalho alienado sob o capital (mediações de
segunda ordem), a internalização, desde a infância, do princípio do trabalho
produtor de valores de uso é fundamental. É dentro desse contexto que
entendo a expressão "mamíferos de luxo", de Gramsci, para significar
formação e socialização que aliena a possibilidade de perceber que tudo que
é produzido para o ser humano produzir a si mesmo como ser da natureza
vem do trabalho. (Frigotto, 2009)
Abaixo um mapa conceitual sobre o trabalho e os sentidos abordados por
Frigotto

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Figura 2- Mapa conceitual sobre trabalho

Este princípio educativo também é analisado por Kuenzer através de uma


relação mais direta com as escolas de nível médio. Em uma pesquisa que fez com
operários observou que os mesmos viam a escola como forma de apropriação dos
saberes produzidos na sociedade e também adquirir uma qualificação necessária para
ser inserido no mercado de trabalho, evidenciando uma relação direta entre escola,
empresa e trabalho. Apesar das limitações da escola ela se constitui como um espaço
formal que assegura a difusão dos conhecimentos necessários a vida. A autora aponta
que não foi superada a heterogeneidade da escola, apesar das políticas
homogeneizantes, existem assim diversas ofertas desse nível de ensino estabelecidos
não pela escola, mas pela classe que também determina as condições de acesso e
permanência.

Identifica dois princípios educativos:

● O princípio educativo humanista tradicional, que organiza a educação


para formação de duas classes, a dos dirigentes e a dos trabalhadores.
● E o princípio do trabalho educativo.
O primeiro foi historicamente estabelecido e acentua a dualidade entre o ensino
profissional e o regular. O segundo contemporâneo, nasce da contradição do sistema
capitalista engendrados no crescimento da indústria, a demanda de mão de obra
qualificada para exercer atividades complexas, e busca de técnicos capazes de se

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adaptar as demandas do mercado. Este processo reaproxima o trabalho da ciência,
antes dissociados, e forma uma unidade que exige repensar o processo produtivo e
uma formação capaz de unificar ciência, técnica e cultura.

A educação que a autora deseja é

Pelo contrário, a educação geral será compreendida como a


apropriação dos princípios teórico-metodológicos que permitirão
compreender e executar tarefas instrumentais, dominas as diferentes formas
de linguagem e situar, a sie ao seu trabalho, em relação ao conjunto das
relações sociais das quais participe. (Kuenzer 1989)
Este é o caminho para confrontar a separação do trabalho intelectual do
manual, superar o academicismo clássico e situar o ensino em uma dimensão
politécnica. Atender as demandas do desenvolvimento social, a expansão tecnológica e
informática, preparar o trabalhador para ser capaz de decidir politicamente. É em
termos políticos que essa dimensão deve ser pensada, não apenas metodologicamente,
com disposição de técnicas ou conteúdos, a autora salienta que o trabalho e a educação
devem ser direcionados ao trabalhador que se deseja formar, por isso a escola deve ser
única como estrutura, politécnica como conteúdo e dialética como método.

2. A HISTÓRICA DUALIDADE NO CAMPO DA EDUCAÇÃO.

Pensar EPT é pensar formas de promover uma educação contra hegemônica


que possibilite germinar, lançar possibilidades concretas para uma formação integrada.
Ciavatta (2007) ao abordar a articulação integrada entre o ensino profissional técnico
de nível médio e o ensino médio promove uma importante reflexão a respeito desse
tema. Mostra que na realidade concebida pela vida social, movimentações,
inquietações com questões problemas sensíveis a existência do ser, surgem novas
ideias, pensamentos políticos que resultam em leis, decretos e demais ações que
retroalimentam o fluxo de inquietações até que sejam amplamente aceitos pela
sociedade.

Integrar para a autora é assegurar uma educação geral indissociável da


educação profissional em todos os campos e níveis educacionais ofertado ao
trabalhador.

Significa que buscamos enfocar o trabalho como princípio educativo, no


sentido de superar a dicotomia trabalho manual/ trabalho intelectual de
incorporar a dimensão intelectual ao trabalho produtivo, de formar
trabalhadores capazes de atuar como dirigentes e cidadãos (Gramsci, 181,
p.144 apud Ciavatta 2005)

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A integralidade física, mental, cultural, política e científico- tecnológica do ser
humano é uma ideia que nasce na educação socialista e expande-se nas primeiras
décadas do século XIX entre os socialistas utópicos. Porém, a educação ocidental
sempre estivera a serviço das altas camadas sociais ofertando-lhes uma educação
humanística, provocando dualidade no fornecimento da educação. Paralelo a educação
da minoria que ocupariam os cargos de dirigentes existia outra para os trabalhadores
que executariam com baixa ou nenhuma instrução trabalhos manuais. O resultado é o
distanciamento da integralidade do ser, separação entre trabalho manual e intelectual e
uma distorção do valor do trabalho. Valor no sentido de troca de trabalho por uma
remuneração e reconhecimento da importância social do trabalho.
A dignidade do trabalhador e os meios de promover o próprio sustento são
associados ao nível educacional a que teve acesso e ao emprego ou profissão que
exerce. Significa perpetuar um ciclo social onde a pessoa que nasce na classe dominante
tem alta probabilidade de continuar na mesma, assim como quem nasce na classe
dominada ideologicamente e materialmente também tem altas chances de permanecer
na mesma classe. Discutir trabalho e educação não é apenas discutir o acesso a uma
educação de qualidade que encaminhe para uma profissão, é discutir acesso aos espaços
sociais, saúde e moradia. A promoção da formação integrada instrumentaliza o
trabalhador para refletir sobre e tentar mudar sua realidade. Ainda sobre este tema a
autora afirma
A formação integrada sugere tornar íntegro, inteiro, o ser humano
dividido pela divisão social do trabalho entre a ação de executar e a ação de
pensar, dirigir ou planejar. Trata-se de superar a redução da preparação para o
trabalho ao seu aspecto operacional simplificando, escoimando dos
conhecimentos que estão na sua gênese científico tecnológica e na sua
apropriação histórico-social. Como formação humana o que se busca é
garantir ao adolescente, ao jovem e ao adulto trabalhador o direito a uma
formação completa para a leitura do mundo e para a atuação como cidadão
pertencente a um país, integrado dignamente a sua sociedade política.
Formação que, neste sentido supõe a compreensão das relações sociais
subjacentes a todos os fenômenos. (Ciavatta 20005)

A abordagem histórica sobre concepção da formação integral e sua utilização


contemporâneas advém das lutas em defesa a uma educação igualitária. Um necessário
contraponto ao Estado cujo governo promove políticas neoliberais que minimizam os
investimentos e reforçam essa dualidade educacional. No recorte temporal aqui
estipulado a separação entre o tipo de educação ofertada e a classe a quem se
destinavam estavam normalmente fundados nessa dualidade. Seria anacrônico para
esta conjuntura pensar a EPT pelo viés das ideologias pedagógicas que valorizassem a
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integralidade do ser. Tentativas contra hegemônicas de projetos políticos não estatais,
como a escolas do Bloco Operário-Camponês (BOC), que denunciam essa dualidade
podem ser encontradas. Sem, no entanto, terem reconhecidas as suas pautas ou
recursos públicos para efetivação de suas ideias pedagógicas.

Por isso, diferente das outras produções na EPT que versão sobre os desafios,
avanços, e reflexões para fazer essa travessia para a formação integral, este trabalho
realiza um retrocesso temporal. O objetivo é perceber neste terreno nacional, onde
facilmente cresceram e aprofundaram raízes projetos educacionais hegemônicos
portanto desiguais, quais eram as concepções pedagógicas, quais princípios as guiaram
e qual seria o sentido do trabalho. Para que também seja percebido a semeadura das
iniciativas de concepções educacionais avessas ou não homogêneas ao sistema
capitalista e que no acúmulo de experiência e propagação de ideias se transformaram
nas sementes do trabalho como princípio educativo.

2.1 AS IDEIAS PEDAGÓGICAS NA FORMAÇÃO DO SISTEMA DE


EDUCAÇÃO NACIONAL.

A efervescência de ideias que projetaram o sistema educacional brasileiro


acompanha as diversas mudanças conjunturais pelas quais o país passou. Saviani
(2007) ao perscrutar quais seriam as ideias as organiza em quatro períodos. O primeiro
período; As ideias pedagógicas no Brasil entre 1549 e 1759: monopólio da vertente
religiosa da pedagogia tradicional, o segundo período; As ideias pedagógicas no Brasil
entre 1759 e 1932: coexistência das vertentes religiosas e leigas da pedagogia
tradicional, terceiro período; As ideias pedagógicas no Brasil entre 1932 e 1969 e por
fim o quarto período; As ideias pedagógicas entre 1969 e 2001: Configuração da
concepção pedagógica produtivista.

Será explicitado aqui as concepções compreendias entre o segundo e terceiro


período para entender a questão do ensino profissional entrelaçada com as abordagens
encontradas na trilogia de Cunha: O ensino de ofícios artesanais e manufatureiros no
brasil escravocrata, O ensino nos primórdios da industrialização e O ensino
profissional na irradiação do industrialismo - especificamente a segunda e a terceira
obra para conhecimento da questão.

No período da coexistência entre as vertentes religiosas e leigas da pedagogia


tradicional o autor faz uma análise histórica sobre o período pombalino e a

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inauguração das escolas de primeiras letras. Destaca o pensamento caracterizado pelo
Iluminismo luso-brasileiro que desencadeou diversas reformas assim como os
impactos desta no império. As principais ideias pedagógicas propagadas por sujeitos
que formularam e discutiram um projeto de educação nacional aparecem nas figuras
dos reformadores da chamada instrução pública. São marcantes as reformas e
pareceres de: Couto Ferraz, Leôncio de Carvalho e Rui Barbosa. As ideias
pedagógicas permeavam pelo ecletismo, positivismo, catolicismo, comunismo,
anarquismo comunismo e liberalismo.

Sobre o liberalismo, as análises que o autor traz auxilia no entendimento


sobre como os liberais do século XIX compreendiam o sentido do trabalho e a lida
com a terra de maneiras diferentes. Até o termo liberal ganha significações
heterogêneas, no primeiro caso até quatro sentidos: “conservador das liberdades de
produzir, vender e comprar”; “representar-se politicamente eleger e ser eleito”;
“submeter trabalhador escravo mediante coação política” e ser capaz de adquirir terras.
( Bosi,1922,pp.199-200 apud Saviani 2007) . Em contraste surge uma nova
significação que já desenha por onde se encaminhará o pensamento pedagógico no
século XX.

O “novo liberalismo” referido por Bosi tinha como base a abolição


da escravatura e a introdução do trabalho assalariado no Brasil. Esse
“segundo liberalismo” impõe-se sobre o anterior a partir de 1868, data que
historicamente assinala “ como o grande divisor de águas entre as fase mais
estável do Segundo Império e a sua longa crise que culminaria vinte anos
mais tarde com a Abolição e a República” (Bosi, 1992,p.222 apud Saviani,
2007)
O pensamento dos liberais sobre o trabalho recai em dois pontos que nos
interessam. O primeiro observado por Cunha diz respeito a aversão social por
trabalhos manuais executados, até a abolição tardia, pelos escravos. Esse tipo de
trabalho posterior a abolição não perde o estigma sendo considerado como trabalho
para os desfavorecidos da fortuna, vadios, pessoas em situação de risco. Nem as
necessidades das manufaturas, fabricas e a indústria nascente fez com que se
vislumbrasse esses setores como atrativos, sendo ocupado e executado por mãos
negras e mestiças e grandemente pelas mãos de imigrantes estrangeiros vindos para
fornecer mão de obra qualificada.

O segundo é a virada deste pensamento liberal que trouxe a defesa de uma


educação para o trabalho, no sentido da execução da técnica. Cunha (2000) expõe uma
situação incômoda para o empresariado que viam irradiar entre os trabalhadores
10
nacionais ideias socialistas e anarquistas dos imigrantes. Para evitar levantes, deixar de
depender dessa mão de obra que mantinha para si o saber fazia-se necessário formar
escolas profissionais que educassem os nacionais, garantido o afastamento de
comportamentos desarmoniosos e a reposição constante de profissionais qualificados.

O próprio desenvolvimento capitalista engendra as contradições pelas quais


poderá germinar iniciativas antagônicas. Saviani (2007) no terceiro período debruça-se
sobre a modernização da agricultura cafeeira além de discorrer sobre a
industrialização. Conclui que nesse período há um equilíbrio entre a pedagogia
tradicional e a pedagogia nova. Trazendo novamente os principais signatários do
Manifesto dos Pioneiros da Educação nova cujas ideologias e projetos são analisados
separadamente. Apesar de heterogêneo, o grupo convergia para a necessidade de uma
educação nova. A Igreja Católica buscava restituir seu direito ao ensino religioso, um
ponto contrário as concepções que pretendia que a educação fosse gratuita, única e
laica.

Mesmo divergindo nos objetivos, bases filosóficas e políticas para a educação


nova, a Igreja Católica e os renovadores tiveram suas forças equilibradas, sendo
garantido parte de suas reivindicações. Nesse período também se observou o que os
autores chamaram de entusiasmo e otimismo pela educação. A educação cumpriria seu
papel desenvolvimentista e modernizador a medida em que fosse ofertada com sua
verdadeira função social, pautada na democracia e na hierarquia social. Sobre este
contexto Cunha afirma

Impulsionada por essa ideologia e/ou pelas necessidades dadas pelas


mudanças na produção e etc., é que as instituições de ensino profissional e
diferenciaram-se expandiram durante as primeiras décadas do regime
republicano, resultantes de iniciativas (União e estado) e de empreendimentos
privados, religiosos e laicos. Do mesmo modo, o pensamento do ensino
profissional, particularmente industrial-manufatureiro, complexificou-se.
Além de procedimento de personalidades interessadas no tema enquanto
diletantes, foi possível observar a tendência à constituição de um corpo de
profissionais especializados no ensino profissional, assim como à elaboração
de um discurso institucional sobre essa modalidade de ensino. (Cunha, 2000)

Em síntese nas primeiras décadas do século XX ocorreram eventos marcantes


para a educação. O advento dos grupos escolares, as reformas para o ensino primário e
secundário, a constatação da educação como dever do Estado, ressaltando sua função
social, e criação do sistema educacional nacional. Para o ensino profissional a criação

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das Escolas de Aprendizes e Artífices em 1909 significou o início de uma rede de
formação profissional em todo território.

2.3 PEDAGOGIAS CONTRA HEGEMÔNICAS EM TERRENOS ÁRIDOS

Saviani (2007) aponta as ideias não hegemônicas relatando a formação de


escolas a partir de partidos político de trabalhadores operários cujo acesso as obras de
cunho socialista, anárquico-comunista repensaram a função da escola. A educação
ocupava lugar central no ideário libertário e tinham uma pauta dupla: a formulação da
própria concepção pedagógica que se concretizava na criação de escolas autônomas e
autogeridas e a crítica a burguesia. Disseminavam críticas ao Estado e a Igreja
mostrando como estas instituições utilizavam a escola como instrumento de sujeição
dos trabalhadores. Estudavam as questões ideológicas pelas quais se guiavam e
imprimiam e distribuíam panfletos com esses temas.

Estavam antenados sobre as iniciativas revolucionárias ocorridas na Alemanha


e na Rússia. Observando-as não mais no sentido da promoção de uma revolução
proletária internacional, mas, uma local conduzida segundo as especificidades de cada
país. O partido comunista brasileiro (PCB) e o Bloco Operário-Camponês (BOC)
atuaram nesses movimentos. Cunha (2000) também cita as movimentações dos
partidos operários do Ceará, que reivindicavam a alfabetização, e do Centro operário
do Rio de Janeiro que defendia a instrução primária obrigatória. Assim como em
outros estados os partidos reivindicavam as pautas comuns da Escola Nova: escola
laica, gratuita em todos os graus, escolas noturnas e escolas rurais e profissionais para
os operários.

No Rio de Janeiro ocorreu o que Cunha (2000) chamou de laboratório de


reformas. Duas figuras se destacaram por avançar com reformas educacionais que
conectavam diretamente educação e trabalho. O primeiro é Fernando de Azevedo que
estando no Distrito Federal, elaborou um projeto de lei para reforma do ensino
público. Redigiu tal projeto após realização de um inquérito sobre o ensino primário, o
normal e o técnico-profissional. Segundo Cunha (2000) isto teria preconizado a
primeira legislação educacional feita de forma mais horizontalizada ou ainda partindo
da realidade. A escola primária foi concebida em função do ensino técnico-
profissional, buscando retirar a implicação de ser um espaço destinado aos
desfavorecidos. Destaca sete pontos no decreto feito entre 1927 e 1930, que são:

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a) ministrar o conhecimento e a prática de um ofício, b) elevar o nível
moral e intelectual do operário, c) despertar e desenvolver lhe a consciência
de suas responsabilidades, d) alagar-lhe a visão técnica e artística, e)
aperfeiçoar lhe a técnica no sentido de maior rendimento do trabalho; e f)
transformá-lo por esta maneira num elemento de progresso técnico nas
oficinas e nas indústrias. (Cunha 2000)

Para Azevedo a escola primária deveria atuar como uma verdadeira escola do
trabalho. A finalidade era produzir benefícios individuais e sociais por meio do
trabalho.

A segunda figura é Anízio Teixeira, ousando ainda mais que Azevedo num
momento em que o dualismo entre as modalidades secundária e técnica persistia,
baixou um decreto para criar a Escola Técnica Secundária. Não aceitava que o ensino
profissional se mantivesse no nível primário, ele reconhecia a dualidade existente
como pode ser visto no seu próprio discurso,

Ora, o chamado ensino secundário, no brasil, vem cogitando simplesmente


da preparação para este tipo de intelectual de trabalho, o que eu julgo uma
solução incompleta do problema e de certo modo perigosa, porque contribui
para manter a velha concepção dualista, inconscientemente alimentada, de
uma educação profissional para o povo, expressão em que, de regra, só se
compreendem os elementos menos ambiciosos ou menos afortunados da
sociedade- e uma educação acadêmica para os que presumem não ser o
povo ou não o querem ser (Teixeira, 1998,pg 170 apud Cunha 200)
A separação entre o trabalho manual e intelectual é criticada por Teixeira que
para além do plano das ideias implementa sua escola. No entanto esta como muitas
outras escolas públicas sofrem com falta de recursos, de mão de obra especializada e
evasão escolar, pois era comum que antes de se formar os alunos conseguissem
trabalho para ajudar suas famílias. As más condições da escola e outras questões
políticas levaram ao afastamento de Teixeira e a reformulação do projeto de lei para a
escola.

3. A AUSÊNCIA DO ENSINO SECUNDÁRIO NAS ESCOLAS


PROFISSIONAIS

A mudança da forma de governo no final do século XIX no Brasil não alterou


imediatamente o contexto social. Economicamente o país se mantinha agroexportador
e dependente do capital estrangeiro. A educação bacharelesca mantinha seus
privilégios e os níveis de educação secundária era pouco ofertada. Como já foi falado,
a educação artesanal, manual destinava-se aos menos favorecidos. O alto índice de

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analfabetismo mostrava as fragilidades de oferta de ensino em qualquer nível, o Brasil
não tinha um sistema de ensino. O trecho abaixo corrobora com esta conclusão,

Conclui-se, pois, que as dificuldades para a realização da ideia de


sistema nacional de ensino se manifestaram tanto no plano das condições
materiais como no âmbito da mentalidade pedagógica. Assim, o caminho
da implantação dos respectivos sistemas nacionais de ensino, por meio do
qual os principais países do Ocidente lograram universalizar o ensino
fundamental e erradicar o analfabetismo, não foi trilhado pelo Brasil. E as
consequências desse fato hoje, deixando-nos de agudas deficiências no que
se refere ao atendimento das necessidades educacionais do conjunto da
população. (Saviani 2007)
O ensino secundário era a etapa que viria logo após o ensino primário e era
ofertado a adolescentes, objetivando de modo geral preparar para o acesso ao ensino
superior. O ensino secundário passou pelas reformas de Epitácio Pessoa -1901 e foi
seguido por Benjamin Constant que a norteou pelas ideias de liberdade, gratuidade da
escola primária e laicidade do ensino, sendo organizada da seguinte forma:

1) Escola primária organizada em dois ciclos: 1º grau para alunos de 7 a 13 anos e


2º grau para alunos de 13 a 15 anos
2) Escola secundária com duração de 7 anos
3) Ensino superior reestruturado: politécnico, de medicina, de direito e militar

Benjamim Constant se destaca pela ênfase e trato ao ensino superior. Após


essas reformas seguiram-se mais três: a reforma Rivadávia Correia- 1911, a de Carlos
Maximiliano-1915 e a de João Luiz Alves/Rocha Vaz- 1915. O sistema se desenvolve
sob a isenção de conciliar o ensino secundário ao ensino profissional, este não aparece
na organização do sistema. Permanece então assistencialista destinado aos órfãos, os
desvalidos e vadios, uma continuidade da educação profissional do império. Assim se
confirma o público destinado ao ensino secundário, “preparação para as
individualidades condutoras” (Cunha,2000) e o profissional para negros, pardos e

14
pobres. Na tabela abaixo é possível ver claramente essa dualidade

Figura 3 - Articulação tendencial entre os níveis de ensino segundo a Lei de


diretrizes e Bases da Educação Nacional (1961) e legislação correlata.
(Cunha 2005)
Os alunos egressos do ensino secundário têm acesso aos níveis e ciclos
posteriores que desejar, enquanto os oriundos do ensino profissionais são barrados.
Uma forma de imobilizar o trabalhador, seja negando totalmente o acesso ou
restringindo as possibilidades de cursos no superior.

Outro fato importante é que só tardiamente, 72 anos depois da Proclamação da


República e após diversas reformas no sistema educacional, é que se teve uma
iniciativa efetiva contra a dualidade na educação. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB)
de 1961, retirando por completo essas barreiras fizeram com que escolas profissionais
e escolas agrícolas profissionais implantassem o ensino médio. Nota-se então um
movimento da década de 60 para que fosse implantado o ensino médio nas instituições
e escolas federais que não tinha esse nível. São exemplos o Instituto Federal de Mato
Grosso (IFMT) que no ano de 1964 teve decretada a implantação do ensino médio
através do decreto 53.558, passou de Escola Agrícola Gustavo Dutra para Ginásio
Agrícola Gustavo Dutra. E a Escola Agrícola de Sergipe que em 1964 passou a

15
chamar-se Colégio Agrícola. Acredita-se que o IF-Catu também absorveu os efeitos
legais da LDB de 61.

4. ANÁLISE DO SENTIDO DO TRABALHO NA LEGISLAÇÃO LIGADA A


EPT OU A ELA RELACIONADA.

Está análise busca identificar como aparece a categoria trabalho no corpo da lei
e qual sentido ela tem. Será tabelado uma descrição com o objetivo da lei, conjuntura
categoria trabalho e possíveis sentidos após exposto o resultado da análise.

1- DECRETO Nº 7.566, DE 23 DE 5- DECRETO-LEI Nº 4.073, DE 30 DE


SETEMBRO DE 1909 JANEIRO DE 1942

2- DECRETO Nº 19.890, DE 18 DE 6- DECRETO-LEI Nº 4.244, DE 9 DE


ABRIL DE 1931 ABRIL DE 1942

3- DECRETO Nº 20.158, DE 30 DE 7- DECRETO-LEI Nº 9.613, DE 20 DE


JUNHO DE 1931 AGOSTO DE 1946

4- LEI Nº 378, DE 13 DE JANEIRO DE 8- LEI Nº 4.024, DE 20 DE


1937 DEZEMBRO DE 1961

Tabela 1- Quadro de leis e decretos

OBJETIVO CONJUNTURA TRABALHO SENTIDO DO


TRABALHO

1 Criar nas capitais dos Governo de Nilo Aparece 2 vezes. Tem sentido
Estados da Escolas de Peçanha, início da Mais encontrados: assistencialista,
Aprendizes Artífices, República velha ou corretivo e preventivo.
para o ensino primeira república. Trabalho profícuo Passa por uma
profissional primário e Aumento populacional e capacitação não

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gratuito os primórdios da Trabalho manual formação.
educação

2 Dispõe da organização Governo de Getúlio Aparece 14 vezes. Não se relaciona com


do ensino secundário Vargas, época do Mais encontrados: nenhum sentido
entusiasmo pela profissional. Significa
educação e otimismo. Trabalho prático, um exercício
Educação moral para a trabalho escolar, formativo, atividades
democracia, trabalhos publicados escolares e avaliativas.
desenvolvimentismo e
industrialismo.

3 Organizar o ensino Ainda no governo Aparece 4 vezes. Tem sentido de


comercial, regulamenta Vargas Movimento Mais encontrados: profissão
a profissão de contador Escola novista ganha
e dá outras impulso, tem-se a Método de trabalho,
providências organização dos trabalho de escritório
pioneiros e debates de
ideias heterogêneas para
educação.

4 Dá nova organização Governo Vargas, Aparece 2 vezes Tem sentido de


ao Ministério da desmembramento do relacionado a saúde profissão
educação e Saúde ministério de justiça e
Pública. negócio e criação do
ministério da educação e
saúde pública

5 Estabelecer as bases de Governo Vargas, o Aparece 20 vezes. Tem sentido de


organização e de Industrialismo era visto Mais encontrados: profissão,
regime do ensino como forma de

17
industrial progresso, emancipação Trabalho escolar Atividade escolar
da economia e
independência política Trabalho como formação
para a promoção da profissão
democracia.

Trabalho industrial

6 Retificar o decreto de Governo Vargas Não aparece o termo


10/04/42 Reforma Capanema, trabalho
aumento da dualidade
educacional.

7 Estabelecer as bases de Governo de Eurico Aparece 28 vezes. Tem sentido de


organização e de Gaspar Dutra, momento Mais encontrados: profissão e atividade
regime do ensino a de desequilíbrio na escolares.
agrícola. economia e altas taxas Trabalho agrícola,
de importação. trabalho rural,
trabalho escolar

8 Fixar as Diretrizes e Governo de João Aparece 6 vezes. Tem sentido de


Bases da Educação Goulart, marcado por Mais encontrados: profissão e atividade
Nacional. tensão política, escolar
insatisfação das elites
com as reformas
pretendidas por ele.
Governo abreviado por
um golpe civil-militar.
Este governo estipula a
obrigatoriedade de
parcerias entre as
empresas públicas e

18
privadas.

Tabela 2- Quadro de análise comparativa.

4.1 RESULTADOS OBTIDOS

● Estas leis e decretos foram criadas em quatro gestões governamentais


diferentes. A questão problema central que provocou o governo foi a
necessidade da organização e promoção da educação, esta fragmentada
em três: propedêutica, industrial e agrícola. Para conformação desses
projetos de leis não houve escuta pública, são medidas hierarquizadas
convergentes com a postura do Estado nesse período, que se achando
composto por homens letrados, educados pelo princípio humanístico,
tomam para si o papel de dirigentes do povo.
● A educação tem diferentes funções sociais nestes textos: é
assistencialista, corretiva e preventiva. A formação encontra-se também
fragmentada
● Em comum a esses governos tem-se a dualidade e o seguinte processo:
educar para o trabalho, trabalhar para garantir condições de
autossustento, sustento das necessidades humanas para ter a moral
restabelecida e construir uma cultura nacional para o progresso
● Sobre a categoria trabalho, do grupo dos 8 elementos escolhidos 5 tem
o trabalho com sentido de profissão, 2 de atividades escolares diversas
1 com sentido assistencialista, corretivo e preventivo e em 1 não
aparece o termo trabalho.
● No Decreto nº 7.566 de 1909, (que criou as EAAS e marca o início da
rede EPT) é onde o sentido de trabalho aparece de forma mais
divergente das possíveis significações dadas por Frigotto. É o decreto
que, apesar de absorver a histórica visão do ensino profissional como
assistencialista, por criar escola de trabalho e para o trabalho esperava-
se encontrar a categoria trabalho ao menos com sentido de profissão ou
emprego.
● Educação e trabalho não só estão associados como por vezes
compartilham o mesmo sentido.

19
5. CONCLUSÃO

Estas leis e decretos foram escolhidos por serem marcos históricos. A criação
das EAAs no governo de Nilo Peçanha. Os decretos no governo Vargas cuja
conjuntura é longa e onde ocorre a reforma Capanema marco da acentuação da
dualidade na educação. O governo de Eurico Gaspar Dutra o primeiro a estabelecer as
bases para a educação agrícola. E o governo de João Goulart onde se estabelece a
primeira lei de diretrizes e bases do Brasil.

As bases ideológicas filosóficas destas gestões são hegemônicas progressistas


ou conservadoras. Tendo em comum uma formação fragmentada distante da educação
integral sendo evidenciado a separação entre trabalho manual e intelectual. Nesses
períodos poucas iniciativas contra hegemônica existiram. As que obtiveram algum
sucesso como a de Anísio Teixeira foram paralisadas.

Nesse texto buscou-se a raiz da dualidade no sistema educacional para verificar


possibilidades de ensino integrado acreditando que esses processos históricos se
configuravam como as sementes que fecundadas nas lutas sociais e debates políticos,
culminariam na Educação Profissional e Tecnológica. Esse conhecimento histórico
subsidiam as pesquisas sobre as instituições federais da EPT que são sujeito e objeto
da promoção de uma educação integral tendo o trabalho como princípio educativo.

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acessado em 05/04/2021
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regulamenta a profissão de contador e dá outras providências. Disponível em:
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BRASIL. Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937 .Dá nova organização ao Ministério da
educação e Saúde Pública. Disponível em
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organização e de regime do ensino industrial. Disponível em
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