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2.

2 – Contexto histórico
A Palestina e circunvizinhanças estavam amedrontadas com os avanços dos assírios. No intuito de evitar
a dominação, Israel (Efraim) e Síria (Arã) organizaram uma aliança de fortalecimento e pretendiam
agrupar também Judá, destituindo Acaz do trono. Temendo ser atacado pela aliança de Israel e Síria, Acaz
pede auxílio à Assíria (Tiglate Pileser), abrindo as portas de seu país para os assírios como corredor.
Entretanto, passa a correr o risco de tornar-se vassalo dos assírios. Nesse contexto de guerra e alianças
políticas, Isaías denuncia a falta de fé e de confiança em Deus por parte da corte de Judá.
2.3 – Contexto narrativo
Observando o texto anterior (Is 7.1-9), descobrimos o desenrolar da trama da invasão de Judá pela
coalizão entre Israel e Síria. Esse evento amedronta Acaz e o povo de Judá. Isaías e seu filho “Sear Jasub”
(Um resto volverá) tentam aconselhar Acaz a confiar em Deus, na promessa de que Iahweh é o único
Senhor, Fortaleza e comandante de Judá, como fora na época de Davi. No entanto, Acaz não ouve o
profeta e procura auxílio e socorro na Assíria.
No capítulo 7.10-17, Isaías intervém novamente, declarando a Acaz a fala de Deus: Somente Deus pode
salvar Judá; a Assíria trará mais opressão. Isaías insiste para que o rei peça um sinal a Deus, seja qual for,
mas Acaz rejeita. Então Isaías anuncia o sinal de Deus mesmo assim: o Emanuel.
2.4 – Análise do contexto de Isaías 7.10-17
V. 10 – Isaías afirma que é Deus quem está falando com Acaz, oferecendo socorro.
V. 11 – Deus insiste com Acaz para confiar em sua proteção e pedir um sinal como prova da salvação.
V. 12 – Acaz, com falsa piedade e pensando em seus benefícios, rejeita o sinal de Deus. Ele sabe que sua
família e parte da corte serão privilegiadas na ocupação pela Assíria. Apenas o povo se tornara vassalo.
Assim, prefere as regalias e os benefícios da aliança com os assírios do que a proteção de Deus.
V. 13 – Indignado, o profeta revela a desgraça e a opressão que o povo passará a sofrer com a aliança
com a Assíria. Sofrimento e opressão que também afligem o próprio Deus.
V. 14 – Anúncio do sinal dado por Deus, mesmo com a rejeição de Acaz. O sinal é o nascimento do
Emanuel, o Deus conosco. A profecia revela a intervenção de Deus em seu reino messiânico. No sentido
de algo imediato como o nascimento do filho de Acaz (Ezequiel); como também ultrapassando a realidade
imediata e anunciando o nascimento de Jesus, o Emanuel, narrado nos evangelhos (Mt 1.23).
V. 15-17 – Os alimentos revelam a vida nômade, simples do campo. Dessa maneira, a aliança com a
Assíria reduzirá o país a uma organização social precária e simples. O versículo também pode destacar a
vida peregrina do Emanuel, indicando sua preparação no deserto.
O texto de Isaías 7.10-17 manifesta a intervenção de Deus na salvação messiânica de seu povo. Essa
salvação independe de conchavos e alianças com interesses politiqueiros, que apenas prometem
segurança abaixo de exploração e opressão. Deus está com seu povo através do Emanuel independente
das estruturas que não o ouvem e que assim exploram e alienam o povo.
3 Mensagem pastoral
No contexto de final de Advento e de planejamento de viagens, de preparação de encontros e festividades
familiares e comunitárias, necessitamos questionar se o sinal de Deus – o Emanuel – é lembrado nesses
encontros. O Advento preparou-nos para a chegada do sinal de Deus entre nós? Jesus Cristo é o sinal, a
fala, a presença de Deus entre nós? Será que estamos ou- vindo, acolhendo e reconhecendo sua presença
entre nós?
3.1 – O que o texto bíblico traz como lei (libertar do quê?)
No contexto dos três textos bíblicos, eles libertam:
* Da surdez e indiferença humanas para com a voz de Deus. O não- reconhecimento da presença, da voz
de Deus, que se aproxima oferecendo socorro e paz.
* Da falsa segurança, das propostas de solução imediatistas e milagreiras, que beneficiam poucos
enquanto exploram e alienam a maioria; isso devido ao fato de não estar fundamentada na presença de
Deus, mas em interesses “egolátricos”.
* Do não-reconhecimento do sinal de Deus: o Emanuel, em Jesus Cristo, o Deus com seu povo, em suas
lidas e percalços.
* Da falsa piedade, da lógica da aparência e do egoísmo, que não quer reconhecer Deus conosco como o
conforto e a paz aos nossos medos, conflitos e inseguranças.
* Da celebração consumista do Natal, onde se vendem alegria, paz e comunhão, esquecendo o menino da
manjedoura, que trouxe a verdadeira paz, comunhão e salvação ao mundo.
* Da falta de preparação, de reflexão de ouvir a voz de Deus anunciando que o Emanuel está entre nós.
3.2 – O que o texto traz como evangelho (libertar baseado em quê?)
* O sinal do Emanuel cumpriu-se em Jesus Cristo. Deus não está distante, está entre nós. Com isso, a vida
tem esperança, a escuridão tem luz e a morte, ressurreição.
* A insistência de Deus em relacionar-se com a humanidade. Deus vem ao encontro de seu povo, mesmo
com a sua dureza de coração, indiferença e surdez.
* O Deus da graça não entra na lógica da opressão, da exploração, que gera benefícios para poucos e
pesar para muitos. Deus salva o seu povo oprimido mediante o Emanuel.
* Deus fala conosco, está entre nós de forma clara em Jesus Cristo
(Mt 18.20).
* A proteção de Deus foi revelada plenamente na manjedoura de Belém, declarando que Deus está entre
os explorados, esquecidos, marginalizados e aflitos.
3.3 – O que o texto traz como imperativo (libertar pra que?)
para quê?)
* Reconhecer a fala de Deus, que vem ao encontro de seu povo e, assim, fortalece a confiança de que
Deus está entre nós, consolando. Essa confiança José teve ao ouvir Deus.
* Ouvir a voz de Deus e tornar-se instrumento do Emanuel ali onde vivemos, do mesmo modo como agiu o
apóstolo Paulo.
* Vivenciar a proteção de Deus, a salvação de Jesus Cristo, como caminhada diária de fé, e não como
forma mágica e fenomenal de resolver os anseios e interesses individualistas e “egolátricos” (o que fez o
rei Acaz).
* Vivenciar a comunhão com Deus conforme Jesus Cristo manifestou, ou seja, um Deus que age como pai
e mãe – solidário, próximo, o Emanuel.
* Ressignificar o sentido das festividades e celebrações natalinas a partir da proposta do reino de Deus,
vivenciado e ensinado por Jesus. O Emanuel está conosco; a vida necessita ser diferente. Como foi o
Advento que nós preparamos?
* Promover o Deus conosco nas celebrações da comunidade e no dia-a-dia das pessoas,
imprescindivelmente, em situações de opressão e exploração. Ou seja, em situações em que Deus não é
reconhecido, como se não estivesse presente, devido à indiferença humana ao Emanuel. Presença de
Deus que é graça e juízo, perdão e arrependimento, pão de cada dia e ação de graças, salvação
messiânica e transformação social.
3.4 – Tópicos para prédica
a – Trabalhar os espaços, os sinais e os momentos da vida, seja individual, familiar ou comunitária, em
que ouvimos a voz de Deus e reconhecemos sua presença libertadora entre nós.
b – Refletir sobre o tipo de proteção, de segurança que Deus nos revela. Algo que é construído na
comunhão de fé, na partilha da vida ou em soluções milagreiras e miraculosas.
c – A presença de Deus entre nós revela o cuidado do Emanuel para com os sofridos e explorados; ou de
outra maneira, beneficia grupinhos, minorias que, alienadas da presença de Deus, exploram e oprimem a
comunidade de forma ativa (manipulação de poder, desvio dos repasses financeiros, elitismo) e passiva
(na conivência com o sofrimento e a exploração social).
d – O cumprimento da profecia do Emanuel em Jesus Cristo é algo presente no viver comunitário e social
da comunidade, ou estamos buscando um Deus longínquo e distante? O que a vida de fé em Jesus Cristo,
o Emanuel, revela de forma clara e concreta em propostas e trabalhos pastorais na comunidade? Se o
Emanuel está entre nós, quais são os sinais de sua presença no viver da comunidade?
e – Trabalhar o significado e o sentido do Natal, conforme a tradição bíblica e eclesial para a comunidade.
Refletir sobre como foi a preparação para a chegada do Natal; e também sobre o que o Natal traz todo
ano para a vida comunitária e cotidiana da fé. Relacionar o que a recordação do nascimento de Jesus tem
a ver com a correria e o consumismo do fim de ano. As pessoas estão pensando no menino da
manjedoura ou no preparo das festividades, no planejamento de viagens e no orçamento, nas compras e
mesas fartas?
f – Reforçar a presença de Deus, o seu falar na tradição protestante da Igreja da Palavra. Deus segue
falando conosco nas celebrações, nos encontros, nos estudos. Encontramo-nos porque Deus está falando
conosco.

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