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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

ELABORAÇÃO E ANÁLISE DE PROJETOS ECONÔMICOS


SÍNTESE DO MATERIAL DIDÁTICO

LEONARDO FERRAZ XAVIER


leonardoferraz@gmail.com

RECIFE, 2º SEMESTRE/2021.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 3
1.1 Estratégia e projetos......................................................................................................... 4
1.1.1 Missão.............................................................................................................................. 4
1.1.2 Visão ................................................................................................................................ 5
1.1.3 Valores ............................................................................................................................. 6
1.1.4 Diferenciais ..................................................................................................................... 6
1.1.5 Análise de posição ........................................................................................................... 7
1.1.6 Análise de ambiente ......................................................................................................... 9
1.1.7 Planos de ação ................................................................................................................ 9
1.1.8 Síntese ............................................................................................................................ 11
1.2 Tipos e estrutura de projetos.......................................................................................... 11
1.3 Gestão de projetos ......................................................................................................... 18
2 ANÁLISE DE MERCADO ........................................................................................... 20
2.1 Algumas medidas a considerar sobre a demanda .......................................................... 20
2.2 Ciclo de vida do produto/serviço ................................................................................... 24
2.3 Desenho dos canais de comercialização ........................................................................ 27
2.4 Estrutura da análise de mercado .................................................................................... 28
3 ENGENHARIA, TAMANHO E LOCALIZAÇÃO...................................................... 39
3.1 Processo produtivo e tecnologia utilizada ..................................................................... 39
3.2 Economias de escala e tamanho ótimo .......................................................................... 40
3.3 Decisões de localização ................................................................................................. 46
4 QUADROS FINANCEIROS DO PROJETO ............................................................... 50
4.1 Quadro de orçamentos ................................................................................................... 50
4.2 Quadro de cronograma de desembolsos ........................................................................ 56
4.3 Quadro de usos e fontes ................................................................................................. 57
4.4 Quadro de estimativas de receitas ................................................................................. 58
4.5 Quadro de estimativas de gastos com materiais ............................................................ 60
4.6 Quadro de estimativas de gastos com mão de obra ....................................................... 61
4.7 Quadro de estimativas de gastos com depreciação, manutenção e seguros .................. 62
4.8 Quadro de estimativas de gastos com demais CIF ........................................................ 63
4.9 Quadro de estimativas de gastos com tributos .............................................................. 64
4.10 Quadro de estimativas de gastos totais .......................................................................... 66
4.11 Quadro de reposição de dívidas existentes .................................................................... 66
4.12 Quadro de reposição de dívidas projetadas ................................................................... 67
4.13 Quadro de resultados, capacidade de pagamento e fluxo de caixa ................................ 67
5 CRITÉRIOS DE ANÁLISE DE VIABILIDADE E RISCO ........................................ 69
5.1 Antecedentes.................................................................................................................. 69
5.2 Valor presente líquido ................................................................................................... 73
5.2.1 Vida útil e valor residual ............................................................................................... 76
5.2.2 Projetos de tamanhos distintos ...................................................................................... 78
5.2.3 Taxa mínima de atratividade e interseção de Fischer .................................................. 79
5.2.4 Valor presente líquido integrado................................................................................... 81
5.3 Taxa interna de retorno .................................................................................................. 83
5.4 Tempo de retorno........................................................................................................... 86
5.5 Outros indicadores de viabilidade ................................................................................. 87
5.6 Análise de risco ............................................................................................................. 89
APÊNDICE .............................................................................................................................. 93
Apêndice A: exemplo de quadro de orçamentos ...................................................................... 93
Apêndice B: exemplo de quadro de cronograma de desembolsos ........................................... 94
Apêndice C: exemplo de quadro de usos e fontes .................................................................... 95
Apêndice D: exemplo de quadro de estimativas de receitas .................................................... 95
Apêndice E: exemplo de quadro de estimativas de gastos com materiais................................ 96
Apêndice F: exemplo de quadro de estimativas de gastos com mão de obra ........................... 97
Apêndice G: exemplo de quadro de estimativas de gastos com depreciação, manutenção e
seguros ...................................................................................................................................... 98
Apêndice H: exemplo de quadro de estimativas de gastos com demais CIF ........................... 98
Apêndice I: exemplo de quadro de estimativas de gastos com tributos ................................... 99
Apêndice J: exemplo de quadro de estimativas de gastos totais .............................................. 99
Apêndice K: exemplo de quadro de reposição de dívidas ...................................................... 100
Apêndice L: exemplo de quadro de resultados, capacidade de pagamento e fluxo de caixa . 100
Apêndice M: exemplo de interpolação linear para interseção de Fischer .............................. 101
Apêndice N: exemplo de interpolação linear para TIR .......................................................... 102
Apêndice O: exemplo de interpolação linear para tempo de retorno ..................................... 102
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1 INTRODUÇÃO

Imagine que você reconheceu um problema de certa clientela, modelou uma solução
minimamente adequada e resolveu empreender. O negócio requer pouco investimento e pode
funcionar basicamente através de um aplicativo. A ideia é repetível (pode ser aplicada em
variadas condições, a exemplo de outras localidades) e escalável (pode crescer rapidamente
sem afetar o modelo de negócio), o que configura esse empreendimento como uma startup
(empresa emergente). Nessa situação, em um mercado intensamente dinâmico, a agilidade é
uma característica fundamental para fazer o empreendimento dar certo.
Basicamente, toda informação consolidada ao longo desse processo limitou-se a
responder as seguintes questões: (i) Quais clientes serão atendidos? (ii) Quais problemas da
clientela serão tratados? (iii) Qual a proposta de valor a ser entregue à clientela, ou seja, o que
merecerá atenção da clientela? (iv) Quais soluções serão ofertadas para resolver cada
problema listado? (v) Quais canais serão usados para conectar a clientela a essas soluções?
(vi) Quais os meios de obtenção de receita nesse modelo de negócio? (vii) Qual a estrutura de
gastos requeridos para colocar em prática esse modelo? (viii) Quais indicadores serão usados
para acompanhar se o negócio está ou não no caminho certo? (ix) Quais são as vantagens
competitivas desse modelo, ou seja, quais os diferenciais relativos às alternativas já
disponíveis à clientela?
As respostas a esse conjunto de perguntas são frequentemente revisadas, visto que
o empreendimento lançou uma solução minimamente adequada e isso permitiu examinar seus
resultados, melhorar suas características e lançar uma nova versão que, por sua vez, seguirá o
mesmo ciclo de avaliação, melhoria e relançamento. Vale observar que tudo isso começou
com pouco investimento, de forma que a leitura desses parágrafos introdutórios é
especialmente útil para empreender em boa parte dos negócios compreendidos no setor de
serviços, sobretudo startups.
Por outro lado, para setores como agropecuária, indústria/agroindústria e
comércio, em geral, o volume de recursos investidos tende a ser consideravelmente maior,
pois envolvem aquisições de terrenos, edificações, instalações, equipamentos, móveis,
utensílios, veículos, treinamento de pessoal, capital de giro para dar fôlego no início das
atividades, dentre outras necessidades. Mesmo no setor de serviços, há inúmeros negócios que
demandam elevados volumes de investimento, a exemplo de estabelecimentos que atuam em
saúde, educação, segurança, alimentação, transporte, armazenamento, turismo, cultura etc.
Nesses múltiplos casos, em todos os setores, nas situações em que o investimento demanda
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volumes consideráveis de recursos, passa a ser fundamental o processamento de informações


adicionais que são agrupadas em um projeto.
Por definição, o projeto é um documento que reúne e ordena informações
(antecedentes, suposições, pesquisas, projeções e conclusões) que permitem avaliar, sob
certos critérios, a conveniência ou não de se destinar recursos a determinado investimento.
Essa definição abrange não só a avaliação da viabilidade de estabelecer ou implantar um
empreendimento, mas também recai sobre eventuais ampliações e/ou modernizações, desde
que seja preciso aplicar recursos.
Esse documento interessa não só a quem irá empreender e/ou destinar recursos,
mas também a órgãos de financiamento (para avaliar a capacidade de recuperar empréstimos
concedidos), ao governo (para incentivar o desenvolvimento ou inibir externalidades
negativas), a organizações sociais específicas (para avaliar os efeitos positivos e negativos do
investimento sobre certos indivíduos e suas famílias) ou até a empreendimentos adjacentes
(para também avaliar efeitos positivos e negativos sobre seus negócios).
Um investimento, portanto, pode ser avaliado sob diferentes perspectivas, de
forma que é possível elaborar e analisar projetos organizados sob variadas estruturas.
Contudo, na presente síntese de material didático, o enfoque será dado ao projeto avaliado sob
a ótica de quem vai empreender e/ou destinar recursos, tratando-se as outras óticas de maneira
mais superficial. Em linhas gerais, esse documento é composto por tópicos que tratam da
identificação do negócio (histórico, composição societária etc.), do plano mercadológico
(clientes, concorrentes etc.), do plano operacional (capacidade produtiva, localização etc.) e
do plano financeiro (projeção de resultados, indicadores de viabilidade e risco etc.).

1.1 Estratégia e projetos


Como parte introdutória ao estudo de projetos, é recomendável pontuar algumas
considerações sobre planejamento estratégico, o que permite consolidar informações úteis à
elaboração do projeto. O planejamento estratégico é uma oportunidade para que as pessoas
envolvidas no empreendimento fundamentem seus conhecimentos sobre o negócio.
Há várias ferramentas disponíveis para se construir um planejamento estratégico.
Nesta síntese de material didático, propõe-se passar pelas seguintes etapas:

1.1.1 Missão
A missão expressa o propósito da organização, geralmente exposta em uma frase única. De
forma equivocada, não é raro encontrar empresas que usam a missão como uma ferramenta de
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publicidade junto à clientela, algo que seria mais próprio do slogan (lema). Em vez disso, a
missão deve ser apropriada pelas pessoas que formam a organização, de maneira que suas
decisões e condutas não se desviem de tal propósito.
Como exemplo, a italiana Fiat utiliza a frase “Desenvolver, produzir e
comercializar carros e serviços que as pessoas prefiram comprar e tenham orgulho de
possuir, garantindo a criação de valor e a sustentabilidade do negócio”. Vale observar a
pluralidade de propósitos dispostos em uma só frase bem construída e capaz de ser apropriada
pelas pessoas envolvidas na organização.
Por sua vez, a pernambucana Baterias Moura tem como missão “Produzir e
entregar as melhores soluções em baterias com um time coeso, gerando riquezas, fazendo o
novo, bem feito e com paixão”. A empresa ainda divulga explicações complementares sobre
certas passagens presentes em sua missão. Por exemplo, sobre a passagem “melhores soluções
em baterias”, a empresa detalha o seguinte: “Dialogamos continuamente com nossos clientes
para identificar suas necessidades a fim de integrar produtos e serviços que atendam
plenamente as demandas de seus negócios”. Apesar de não ser habitual, as empresas podem
então esmiuçar a missão e elucidar pontos que talvez não estejam claros ou são difíceis de
expor em uma só frase.
Por fim, traz-se o exemplo de nossa Universidade Federal Rural de Pernambuco,
cuja missão é “Construir e disseminar conhecimento e inovação, através de atividades de
ensino, pesquisa e extensão, atenta aos anseios da sociedade”. Essa frase foi definida no
Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) construído em 2012 e serviu de orientação para
os exercícios de 2013 a 2020. Dessa maneira, todo o planejamento da instituição, bem como
suas decisões e suas condutas, devem se mostrar coerentes com essa frase, não se desviando
de referido propósito.

1.1.2 Visão
A visão expressa o futuro vislumbrado pela organização, também geralmente exposta em
uma frase única. Antes de construir a visão, é importante definir seu prazo de referência,
geralmente três, cinco ou dez anos. É possível inclusive definir várias visões de acordo com
diferentes prazos, indicando-se qual o futuro vislumbrado para o próximo ano ou para outros
horizontes. É recomendável prenunciar situações factíveis a serem alcançadas, pois isso irá
interferir na motivação da equipe. Além disso, ressalta-se que, assim como a missão, a visão
não deve ser construída visando publicidade junto à clientela. Em vez disso, a visão deve ser
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definida para orientar o planejamento, as decisões e as condutas da organização, que devem


ser compatíveis e, portanto, promover o alcance desse futuro vislumbrado.
Como exemplo, a Fiat tem a visão de “Estar entre os principais players do
mercado e ser referência de excelência em produtos e serviços automobilísticos”, mas sem
explicitar seu prazo de referência. Por sua vez, a UFRPE definiu como visão “Consolidar-se
no âmbito regional como universidade pública de excelência, fundamentada em uma gestão
participativa”, frase construída no PDI de 2012 e tendo o ano de 2020 como prazo de
referência, algo que se pode julgar como de fato alcançado.

1.1.3 Valores
Os valores expressam os princípios que orientam a organização, geralmente elencadas em
algumas palavras-chave, mas que também podem ser complementadas por frases explicativas.
Assim como a missão e a visão, a declaração de valores deve ser apropriada pela equipe e
também visa nortear o planejamento, as decisões e as condutas da organização. Então, por
exemplo, se certa decisão ferir um dos valores elencados, esta deverá ser descartada.
Como exemplo, a Fiat declara adotar os seguintes valores: “satisfação do cliente;
atuar como parte integrante da FCA; respeito ao meio ambiente; valorização e respeito às
pessoas; e responsabilidade social”. Nesse sentido, entende-se que a multinacional procura,
por exemplo, rechaçar condutas que prejudiquem a integração do grupo Fiat Chrysler
Automobiles (FCA), como a concorrência da Fiat frente a outras marcas do grupo.
Por sua vez, a UFRPE definiu em seu PDI que adota os seguintes valores:
“transparência; inovação; inclusão; respeito à diversidade; respeito aos saberes populares;
equidade; ética; sustentabilidade”. Portanto, as falhas de acessibilidade às pessoas que
apresentam dificuldade de locomoção são exemplos que contrariam o princípio da inclusão
preconizado pela instituição, o que motiva a promoção de políticas voltadas à redução desse
tipo de problema.

1.1.4 Diferenciais
Os diferenciais expressam características que tornam a organização única aos olhos da
clientela. Esse tipo de declaração não é algo trivial a ser elaborado, pois justamente requer se
colocar na posição da clientela. Nesse aspecto, não é raro encontrar duas ou mais empresas
que são concorrentes diretas e, contraditoriamente, declaram possuir um mesmo diferencial.
Para facilitar a identificação de diferenciais, pode-se buscar responder às seguintes
perguntas norteadoras: (i) O que faz o produto/serviço ofertado pela organização ser diferente
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e especial? (ii) A organização oferta uma melhor solução à clientela e/ou algo que seja
inovador (foi a primeira a identificar um problema)? (iii) Há algo que crie dependência da
clientela ao produto/serviço ofertado pela organização? (iv) Há alguma combinação de
recursos exclusiva da organização, como equipe, processos, relacionamentos etc.? (v) Há
informações privilegiadas, suporte de especialistas ou experiência da equipe? (vi) Há barreiras
à entrada de concorrentes para ofertar substitutos ou maneiras para proteger a ideia frente a
concorrentes? (vii) Há um nicho que não atraia a atenção de concorrentes ou uma vantagem
única, ou seja, algo que não pode ser copiado ou apropriado facilmente por concorrentes?
Alguns exemplos de diferenciais referem-se à disponibilidade de recursos
financeiros para investimento (sejam próprios ou via financiamento), instalações modernas,
localização privilegiada, patentes, marca registrada e/ou direitos autorais, motivação da
equipe, habilidades gerenciais e/ou técnicas, marca reconhecida e/ou boa reputação no
mercado, dentre outros.

1.1.5 Análise de posição


A análise de posição refere-se ao estudo das cinco forças de Porter, elaborando-se textos que
abordem cada uma dessas dimensões: entrantes, substitutos, fornecedores, clientes e rivais.
A primeira força diz respeito à possibilidade de entrantes, ou seja, busca-se
descrever as barreiras ou as facilidades para a entrada de concorrentes no mercado em que se
busca atender. Como se pode observar, a pergunta (vi) proposta na descrição de diferenciais
deve auxiliar na composição da análise desta primeira força.
A segunda força refere-se à existência de substitutos, ou seja, a disponibilidade
de produtos/serviços que podem substituir o atendimento à demanda. Em geral, substitutos
devem ser produtos/serviços resultantes de processos de inovação, a exemplo de latas de
alumínio que substituíram latas de aço como insumos da indústria alimentícia.
A terceira força corresponde à barganha de fornecedores, que tende a ser maior
quanto mais concentrada for a distribuição de ofertantes, o que favorece o controle de
condições de venda como preço, quantidade ofertada, qualidade, prazo de entrega, opções de
pagamento etc. Por exemplo, cita-se o caso da brasileira Braskem, que detém o monopólio de
fornecimento de resinas plásticas, essencial para várias indústrias de embalagem.
Por sua vez, a quarta força concerne à barganha de clientes, que tende a ser
maior quanto mais concentrada for a distribuição de demandantes, o que favorece o controle
de condições de compra como preço, quantidade demandada, qualidade, prazo de entrega,
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opções de pagamento etc. Por exemplo, basta observar o poder de grandes varejistas que
alcançam melhores condições de compra ao firmar contratos com volumes substanciais.
Por fim, a quinta força associa-se à existência de rivais, que não deve ser
confundida com a possibilidade de entrantes (força que aborda as chances de novas entradas
de rivais) ou com a existência de substitutos (que se vincula à existência de outros
produtos/serviços concorrentes). Por outro lado, a rivalidade trata de concorrentes que já se
estabeleceram e disputam fatias do mercado consumidor. Um exemplo é a rivalidade entre as
estadunidenses Coca-Cola e Pepsi no setor de bebidas.
A análise dessas cinco forças possibilita examinar a posição da organização no
mercado em que atua, o que auxilia no planejamento e na execução de estratégias de
melhorias de posição. Tais estratégias podem ser classificadas em estratégias de custo, que
se referem à obtenção de custo baixo e de modo consistente ao longo do tempo (um exemplo
é a brasileira Fibria na produção de celulose de eucalipto); e em estratégias de diferenciação,
que diz respeito à oferta de produtos/serviços voltados a um nicho de mercado (a exemplo da
alemã Mercedes-Benz no segmento de carros de luxo).
De maneira geral, observa-se que a participação de mercado tende a ser maior
quando a organização adota estratégias de custo. Por outro lado, ao adotar estratégias de
diferenciação, tende-se a deter uma menor participação de mercado, justamente porque a
organização procura atender uma fatia mais específica. Porém, em ambos os casos, tende-se a
atingir maiores taxas de retorno de investimento, comportamento traduzido pela conhecida
Curva U de Porter.
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Neste gráfico, um exemplo de um segmento hipotético é exposto e pode ser


interpretado da seguinte maneira: (i) organizações que adotam estratégias de custo geralmente
se encontram mais à direita, com maior fatia de mercado (acima de 40%) e alta taxa de
retorno de investimento (acima de 20% a.a.); (ii) as que adotam estratégias de diferenciação
geralmente se encontram mais à esquerda, com menor fatia de mercado (abaixo de 5%), mas
também com alta taxa de retorno de investimento (acima de 20% a.a.); (iii) organizações que
não adotam essas estratégias geralmente se encontram mais ao centro, com fatia de mercado
intermediária e retorno de investimento menos atrativo (chegando a menos de 10% a.a.).
Referido exemplo demostrou uma curva simétrica, mas nada impede a ocorrência
de casos com variados graus de assimetria e curtose/achatamento. Não obstante, de maneira
geral, há considerável número de estudos empíricos que comprovam a aplicabilidade da
Curva U de Porter para uma série de atividades econômicas.

1.1.6 Análise de ambiente


A análise de ambiente refere-se ao estudo da Matriz SWOT (Strengths, Weaknesses,
Opportunities, and Threats), elencando-se características que abordem cada uma destas
perspectivas: forças, fraquezas, oportunidades e ameaças.
As duas primeiras perspectivas tratam do ambiente interno da organização,
separadas em pontos positivos (forças) e pontos negativos (fraquezas). Por exemplo, uma
localização privilegiada pode ser elencada como uma força, enquanto uma deficiente
qualificação da equipe pode ser considerada uma fraqueza.
A outras duas perspectivas tratam do ambiente externo à organização, também
separadas em pontos positivos (oportunidades) e pontos negativos (ameaças). Por exemplo,
uma boa regulação contra a pirataria pode ser elencada como uma oportunidade, enquanto
situações de crise social pode ser considerada uma ameaça.
Salienta-se que muitas das etapas anteriores do planejamento estratégico,
sobretudo a declaração de diferenciais e a análise de posição, facilitam na construção da
análise de ambiente. Por sua vez, ao se esboçar a Matriz SWOT, o nível de conhecimento
sobre o negócio e seu mercado se torna mais profundo, de forma que também é oportuno,
posteriormente, revisar as demais etapas do planejamento estratégico.

1.1.7 Planos de ação


Um dos objetivos do planejamento estratégico é direcionar ações que procuram salientar as
forças da organização, dirimir suas fraquezas, aproveitar as oportunidades existentes e reduzir
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as ameaças que a cercam. Esse direcionamento pode ser definido pelos planos de ação,
construídos através de técnicas variadas, dentre as quais se preferiu sugerir apenas um
exemplo no presente tópico. Em geral, os planos de ação são construídos com a participação
da alta administração da organização, mas nada impede que seus diferentes setores possam
construir seus próprios planos.
A técnica aqui exemplificada fundamenta-se em dois questionamentos: (i) O que
tem impulsionado a evolução da organização? (ii) O que tem retardado a evolução da
organização?
A ideia é que as pessoas estejam à vontade para responder o que estiver em mente
no momento em que essas perguntas são lançadas. As respostas podem ser dadas abertamente
ou individualmente, o que pode ser vantajoso se as pessoas não estiverem tão à vontade. As
respostas devem ser agrupadas por similaridade e, posteriormente, listadas em um quadro
intitulado situação atual.
Nesse quadro serão definidas duas colunas, uma com os fatores que impulsionam
a organização e outra trazendo características que retardam sua evolução. Por exemplo, de um
lado podem constar a localização privilegiada ou o retorno de uma coordenadora que
participou de certa qualificação; do outro, podem ser listadas a falta de um canal de vendas
pela internet ou a dependência de um tipo específico de matéria-prima.
Definida a situação atual, parte-se para a definição das ações. A cada
característica definida no quadro de situação atual, deve-se então atrelar ações que possam
promover as qualidades da organização e minimizar seus problemas. Por exemplo, quanto à
localização privilegiada, parece que não há muito mais ações que possam incrementar essa
vantagem. Porém, quanto ao retorno da coordenadora, uma possível ação seria a realização de
um seminário para que ela compartilhe seus conhecimentos. Do lado dos fatores que retardam
a empresa, por sua vez, pode-se pensar em ações como construção de um protótipo de
aplicativo de vendas e investigação de possíveis substitutos para a matéria-prima específica.
Posteriormente, parte-se para a definição de prioridades. Para tanto, como
sugestão, pode-se adotar dois critérios: (i) Quais ações são mais simples ou menos onerosas
para pôr em prática? (ii) Quais ações afetam mais na evolução da organização?
Por exemplo, a ação sobre o seminário com a coordenadora é muito simples e
pouco onerosa para pôr em prática, de forma que ela pode ser definida como prioritária.
Porém, a construção de um protótipo de aplicativo de vendas também é muito simples e
pouco oneroso, mas deve ter um efeito ainda mais significativo sobre a evolução da
organização. Assim, se for tão simples e pouco oneroso quanto a promoção do seminário, a
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construção do protótipo pode ser considerada uma ação mais prioritária. Por outro lado,
quanto à investigação de substitutos para a matéria-prima, apesar do significativo efeito sobre
a evolução da organização, deve-se reconhecer que essa pesquisa requer mais tempo, gastos e
experimentação, o que a coloca em menor grau de prioridade frente às demais ações aqui
exemplificadas. Isso não quer dizer que não deva ser colocada em prática, mas se sugere
desdobrá-la em ações mais específicas, resolvendo-se em um prazo mais estendido.
Após classificar as ações segundo graus de prioridade, o enfoque passa àquelas
ações que serão colocadas em prática de imediato. Para cada uma dessas ações, deve-se
definir responsáveis (para direcionar os esforços), recursos necessários (para fomentar a
execução), prazo (para vincular um limite para apresentação de resultados) e indicadores de
acompanhamento (para observar o andamento da ação). Por exemplo, quanto à construção
de um protótipo de aplicativo de vendas, pode-se definir como responsável um funcionário do
setor de Tecnologia da Informação, com orçamento de até R$ 3 mil para contratação de
serviços externos (como programação visual) e prazo de duas semanas. Como indicadores de
acompanhamento, pode-se considerar o envio de um relatório parcial simplificado na primeira
semana e de um vídeo de apresentação do protótipo no final da segunda semana.

1.1.8 Síntese
Ao finalizar o planejamento estratégico, é recomendável sintetizar as informações produzidas
e acrescentar reflexões a respeito do negócio, as quais terão maior grau de amadurecimento
com a passagem por todas as etapas anteriores.
Para produzir a síntese, sugere-se dar respostas às seguintes questões: (i) O que a
organização faz? (ii) Como faz? (iii) Para quem faz? (iv) Qual sua missão? (v) Qual sua
visão? (vi) Quais seus diferenciais?
Aconselha-se que esta síntese seja difundida e apropriada por toda a equipe que
compõe a organização, visto que abrange temáticas fundamentais para entender o modelo de
negócio empregado.

1.2 Tipos e estrutura de projetos


Como comentado, o planejamento estratégico tende a facilitar a elaboração do projeto, visto
que consolida conhecimentos úteis a respeito do negócio. O projeto é um documento que
reúne e ordena informações que simulam a decisão de investimento e, assim, permite testar
sua viabilidade. O presente tópico, também como parte introdutória, busca apresentar algumas
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classificações pertinentes ao projeto, bem como tratar sobre estruturas de documento que
normalmente são empregadas.
A princípio, dado que o projeto recai sobre decisões de investimento, vale tratar
especificamente sobre esse conceito. Por definição, investimento é todo gasto efetuado na
aquisição de itens que serão estocados na organização e utilizados até sua exaustão, com a
expectativa de que irão proporcionar retorno.
Os investimentos são classificados como permanentes quando a exaustão de seu
uso ocorre no longo prazo. Exemplos de investimentos permanentes são obras civis
(normalmente se considera que a vida útil das edificações gira equivale a 25 anos), instalações
(com vida útil de dez anos), equipamentos (também dez anos), móveis e utensílios (dez anos),
equipamentos de informática (cinco anos) e veículos (cinco anos). Como se pode observar, ao
adquirir itens de investimento permanentes, estes serão estocados e utilizados até sua
exaustão, que só ocorre no longo prazo.
Por outro lado, há investimentos que são classificados como circulantes. Nesses
casos, os itens serão estocados, mas a exaustão ocorre no curto prazo, a exemplo de materiais
que serão processados (algo comum na agropecuária e na indústria/agroindústria), produtos de
revenda (comum em atividades comerciais) e treinamento (comum em atividades de todos os
setores). O próprio investimento em capital de giro, necessário para fomentar as atividades
iniciais do negócio, deve ser caracterizado como item circulante, já que se configura como
recursos que serão exauridos no curto prazo.
Antes de tomar decisões de investimento, algumas considerações devem ser feitas,
mais especificamente sobre valor (quanto se pode investir?), prazo (por quanto tempo se
pretende ou pode-se manter o recurso investido?), risco (qual risco se permite expor?) e
retorno (qual retorno se espera alcançar?).
Nesse sentido, e diante dessas questões, algumas análises são fundamentais a
discorrer no projeto, como a identificação de oportunidades ou gargalos, o dimensionamento
de quadros financeiros, a análise de méritos sociais, econômicos e financeiros, a análise da
incerteza e do risco, além do reconhecimento das limitações do estudo, como a maneira como
se produz estimativas e se faz a avaliação de recursos intangíveis (marcas, capital intelectual
etc.). Mesmo havendo aspectos comuns aos mais variados tipos de projetos, as informações
levantadas e processadas, bem como sua própria apresentação dependem de sua classificação.
Primeiramente, segundo a finalidade do projeto, pode-se tipificar cinco situações:
implantação, expansão, diversificação, relocalização e modernização. Projetos de
implantação direcionam-se à decisão de fundar ou estabelecer uma organização, enquanto os
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demais tipos voltam-se a organizações já estabelecidas. No caso de projetos de expansão,


estes são elaborados com a organização pretende ampliar a capacidade produtiva e a oferta de
um ou mais produtos/serviços que já trabalha. Por sua vez, projetos de diversificação
destinam-se a organizações que visam ofertar um novo produto/serviço que não trabalhava
anteriormente. Enquanto isso, projetos de relocalização refletem sobre a transferência da
organização para outra área. Por fim, projetos de modernização são realizados quando uma
organização deseja modernizar seus processos produtivos, não necessariamente ampliando
sua capacidade produtiva e sua oferta, mas com objetivo de reduzir custos e/ou despesas.
Para entender melhor essa classificação, imagine que se pretenda instalar uma
fábrica de calçados femininos no centro de uma grande cidade e que sua produção será
voltada à oferta de sapatilhas e sandálias rasteiras. Nessa situação, fica claro que é
recomendável a elaboração e a análise de um projeto de implantação. Por sua vez, anos
depois, se a fábrica pretender ampliar a capacidade produtiva e a oferta de sandálias rasteiras,
é aconselhável elaborar um projeto de expansão. Posteriormente, se a fábrica desejar ofertar
outro tipo de calçados femininos, como sandálias de salto alto, então essa decisão deve
requerer um projeto de diversificação. Por outro lado, se houver necessidade de mover a
fábrica do centro da cidade para um local menos congestionado, sugere-se desenvolver um
projeto de relocalização. Por último, se a fábrica precisa substituir um equipamento por outro
mais moderno, reduzindo seus custos e sem alterar sua capacidade produtiva e sua oferta,
deve-se elaborar um projeto de modernização.
Em geral, a estrutura do projeto não se altera de acordo com a finalidade.
Contudo, projetos de implantação geralmente exigem maior nível de convencimento quanto
às projeções realizadas. Por sua vez, nos demais tipos de projetos, as predições tendem a ser
justificadas e calculadas mais facilmente diante do próprio histórico de resultados (receitas,
gastos e lucros) da organização, pela ocorrência de contratos já firmados, por seu
reconhecimento no mercado, dentre outros fatores. Por outro lado, nesses casos, o cálculo da
taxa de retorno do investimento costuma ser um pouco mais difícil, pois requer desdobrar os
resultados esperados em uma parte especificamente associada ao investimento realizado e
outra parte decorrente da própria evolução esperada da organização e independente da
execução do investimento. Como se pode deduzir, essa dissociação também requer
justificativas muito bem fundamentadas.
Vale ainda salientar que é possível que um projeto assuma mais de uma
finalidade, como a combinação entre modernização e expansão, a exemplo de uma fábrica que
pretenda substituir um equipamento para reduzir custos e, ao mesmo tempo, elevar a
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capacidade produtiva e a oferta de um de seus produtos/serviços. Mesmo sendo improvável, é


também possível a combinação de todas as finalidades, exceto implantação, a exemplo de
uma organização que pretenda mudar sua localidade e, concomitantemente, expandir sua
capacidade produtiva e sua oferta, trabalhar com um novo produto/serviço e, ainda,
modernizar determinados equipamentos.
Seguindo para outro critério de classificação de projetos, destaca-se que estes
podem ser tipificados de acordo com o setor produtivo cuja organização está inserida. Dessa
maneira, em geral, podem ser segmentados projetos agrícolas (que incluem não só a
agricultura, mas também a pecuária), projetos industriais (que também incluem a
agroindústria), projetos comerciais e projetos de serviços. Alguns programas de
financiamento podem considerar outras classificações, a exemplo do que ocorre no FNE
(Fundo Constitucional do Nordeste, fundamental para o financiamento produtivo na região)
que distingue projetos inovadores (direcionados a melhorias organizacionais, em processos
e/ou em produtos/serviços), projetos verdes (voltados a uso sustentável de recursos florestais,
recuperação ambiental, energias renováveis, tratamento de resíduos etc.), específicos para o
turismo (inclusive atividades culturais), dentre diversos outros tipos.
A estrutura do projeto também não deve alterar de acordo com o tipo de setor em
que se atua. Contudo, percebe-se que projetos agrícolas dão atenção a aspectos como solo e
clima, por exemplo, algo que geralmente não é abordado em muitos projetos de outros
setores. Por sua vez, projetos industriais exigem maior rigor na apresentação de plantas fabris,
algo menos comum em projetos de serviços, por exemplo. Projetos comerciais costumam
demandar mais cuidados no cálculo do capital de giro a ser inicialmente empregado, algo que
deve condizer com o dimensionamento dos primeiros estoques de produtos para revenda,
fundamentais para o funcionamento do negócio. Portanto, a depender do setor de atuação,
certos temas receberão maior ou menor enfoque na elaboração e na análise do projeto.
Por fim, vale ainda discorrer sobre outro critério de classificação de projetos, o de
viabilidade, analisado sob duas perspectivas, o ponto de vista privado e o ponto de vista
social. Nesse aspecto, um projeto é considerado simultaneamente viável se for vantajoso
tanto do ponto de vista privado (na ótica da organização que fará o investimento), quanto do
ponto de vista social (na ótica de indivíduos, comunidades e até outras organizações). Há
também projetos considerados simultaneamente inviáveis, quando o investimento não é
atraente sob quaisquer pontos de vista e, portanto, deve-se descartar sua execução.
Um projeto também pode ser viável apenas do ponto de vista privado, quando o
investimento é vantajoso para a organização, mas produz externalidades negativas para a
15

sociedade (inviável do ponto de vista social, seja por problemas ambientais, destruição de
empregos, insegurança etc.). Nesses casos, o governo deve analisar o investimento para
decidir se aceita a perda social e permite a liberdade econômica, ou se restringe a execução do
investimento através de regulação, tributação, restrição creditícia, dentre outros caminhos.
Por fim, um projeto pode ser viável apenas do ponto de vista social, quando o
investimento é vantajoso para a sociedade, mas não atrai o interesse do ponto de vista privado,
seja por uma insuficiente taxa de retorno, pela existência de riscos elevados, por exigir muito
dinheiro, dentre outros fatores. Nesses casos, o governo deve analisar o investimento para
decidir se prefere não dispor desse atrativo à sociedade ou se estimula sua execução através de
subsídios, isenções fiscais, facilidades creditícias, participações societárias etc.
Quanto à viabilidade, portanto, todas as situações demandam a análise de um
projeto que deve fundamentar a decisão de realizar ou não um investimento. Como já
abordado, a estrutura do projeto pode dar enfoque maior ou menor a determinados temas, de
acordo com sua classificação, mas é possível ter referências comuns na organização desse
documento, de forma que é possível sugerir a seguinte estrutura genérica:

• Componentes econômicos: tratar sobre mercado (estimativas de


quantidade e preço, características da demanda, canais de distribuição,
concorrência e fornecedores), localização (análise do local ideal para
executar o investimento, considerando aspectos como mercado, restrições
legais e suficiência de fatores produtivos) e tamanho (dimensionamento da
escala ótima de produção);
• Componentes técnicos: abordar processo produtivo, aspectos da
engenharia envolvida, arranjo físico e projeções de avanços tecnológicos;
• Componentes financeiros: apresentar a composição do capital (recursos
próprios e de terceiros) e análises retrospectivas (resultados alcançados
antes do investimento, caso a organização já exista) e prospectivas
(estimativa de resultados esperados após o investimento);
• Componentes administrativos: discorrer sobre a estrutura organizacional
necessária para o negócio;
• Componentes institucionais: expor aspectos jurídicos (composição
societária, existência de contratos com clientes e/ou fornecedores etc.),
legais (exigências e incentivos específicos) e ambientais (existência de
externalidades negativas e/ou positivas).
16

Referida estrutura aborda as principais temáticas sugeridas para compor um


projeto. A depender de quem tem interesse no documento, algumas variações podem ser
observadas na maneira em que as informações estão dispostas. Por exemplo, a seguir, expõe-
se a estrutura adotada pelas instituições financiadoras locais, orientada para que clientes
submetam suas propostas de financiamento. Nesses casos, o projeto é basicamente dividido
em quatro partes: apresentação da organização, plano mercadológico, plano operacional e
plano financeiro.
A parte intitulada “Apresentação da organização” divide-se em dois tópicos:

• Dados da organização: apresentar um quadro que informe razão social,


número de CNPJ, contatos (endereço da sede, telefone, site e e-mail),
forma jurídica (se é uma empresa individual, uma sociedade limitada, uma
sociedade anônima etc.), composição do capital social (valor e
participação de cada pessoa que compõe a sociedade), setor de atividade e
breve histórico sobre a organização;
• Dados das lideranças, perfis e atribuições: apresentar um quadro, para
cada líder da organização (além de componentes da sociedade, deve-se
também falar de componentes da alta administração/diretoria), que
descreva nome, contatos (endereço, telefone e e-mail), papel a ser
desempenhado na organização e breve currículo (incluindo vivências em
sua área de atuação).

Após apresentar a organização, o projeto deve abordar o chamado “Plano


mercadológico”, geralmente dividido nos seguintes tópicos:

• Principais produtos/serviços: descrever os principais itens ofertados pela


organização (em alguns casos, pode-se agrupar esses produtos/serviços em
atividades-chave) ou, de forma mais geral, descrever os meios mais
importantes pelos quais a organização obtém receita;
• Estudo da clientela: apresentar a identificação de principais clientes (se
há enfoque em pessoas físicas ou em certas pessoas jurídicas), as
características gerais da clientela (como porte de pessoas jurídicas, faixa
etária e renda de pessoas físicas, estágio no ciclo de vida do
produto/serviço, projeções de demanda etc.) e seus comportamentos e
interesses (fatores que levam a clientela a demandar o produto/serviço);
17

• Estudo da concorrência: apresentar a identificação de principais


concorrentes (nomeando-se essas pessoas jurídicas), suas características
gerais (comparando-as com a própria organização, considerando aspectos
como qualidade, preço, localização, condições de pagamento etc.) e as
projeções de oferta no setor;
• Estudo de fornecedores: identificar principais fornecedores (nomeando-
se essas pessoas jurídicas) e descrever suas características gerais
(localização, preço, prazo de entrega, condições de pagamento etc.);
• Estratégias de comercialização: discorrer sobre os canais de venda e
distribuição, bem como sobre as estratégias promocionais adotadas pela
organização.

Quanto ao “Plano operacional”, este deve ser organizado nos seguintes tópicos:

• Tecnologia e processo produtivo: tratar sobre a escolha tecnológica da


organização (inclusive os equipamentos selecionados) e descrever etapas e
rotinas que a organização realiza para ofertar seus produtos/serviços (por
exemplo, aquisição de insumos, molde, corte, acabamento, embalagem e
expedição);
• Arranjo físico: descrever a distribuição dos setores da organização e das
pessoas no espaço físico (pode-se incluir um esboço da planta);
• Capacidade produtiva: expor a projeção de oferta e indicar as horas
diárias e os dias de funcionamento da organização;
• Localização: detalhar a infraestrutura disponível na área, as condições de
acesso por parte de clientes e fornecedores, bem como tratar dos demais
fatores que possam justificar a escolha do local da organização;
• Necessidade de pessoal: apresentar um quadro com a distribuição dos
recursos humanos segundo cargos ou funções, além das qualificações
requeridas em cada caso;
• Aspectos socioambientais: listar os impactos gerados pelo projeto, sejam
positivos (melhoria de renda, geração de empregos etc.) ou negativos
(produção de resíduos, poluição sonora etc., sendo necessário indicar a
maneira como a organização enfrentará os problemas listados).
18

Por fim, o projeto deve conter o chamado “Plano financeiro”, dividido nos
seguintes tópicos:

• Estimativa de investimentos permanentes: listar os itens de inversão e


indicar como estes serão utilizados na organização;
• Estimativa de investimentos circulantes: descrever as necessidades de
estoques iniciais e o dimensionamento do capital de giro requerido;
• Estimativa de receitas: detalhar os cálculos relativos à obtenção de
receitas, identificadas segundo principais produtos/serviços;
• Estimativa de custos e despesas: discriminar gastos com materiais
(primários, secundários, auxiliares e embalagens), mão de obra, tributos,
depreciações etc.;
• Estimativa de resultados: montar a projeção do DRE (Demonstrativo do
Resultado do Exercício);
• Indicadores de viabilidade e risco: apresentar os resultados de diversos
indicadores de viabilidade (VPL, TIR, Payback etc.) e risco (análise de
sensibilidade, modelo probabilístico etc.).

De maneira complementar, o projeto também pode conter uma síntese conclusiva,


orientando a decisão sobre realizar ou não o investimento; além de uma nota metodológica
simplificada, que inclua o reconhecimento das limitações do estudo. Ao longo das próximas
seções, cada uma das partes que formam o projeto será esmiuçada, incluindo reflexões que
auxiliam em suas construções, bem como em suas análises.

1.3 Gestão de projetos


Para finalizar esta parte introdutória ao estudo de projetos, vale fazer algumas considerações
sobre sua execução. Como já colocado, o projeto é um documento voltado à análise da
viabilidade de um investimento e é sobre este conceito que as próximas seções se debruçarão.
Porém, há outro conceito de projeto que é base para o estudo de práticas adequadas a sua
execução.
Segundo o PMI (Project Management Institute ou Instituto de Gerenciamento de
Projetos, referência na difusão de técnicas de gestão de projetos), o projeto envolve qualquer
esforço feito em tempo limitado para se alcançar determinado resultado. Portanto, o projeto,
19

no sentido de testar a viabilidade de investimento, é diferente do projeto no sentido de


execução. É neste segundo conceito que recai outro campo de estudo, a gestão de projetos.
A esse respeito, vale apenas tratar aqui de algumas poucas considerações.
Inicialmente, esclarecer que o objetivo da gestão de projetos é acompanhar as fases do
projeto, de sua concepção até sua entrega. Nesse aspecto, o PMBoK (Project Management
Body of Knowledge ou Corpo de Conhecimentos de Gestão de Projetos, um conjunto de
práticas difundidas pelo PMI) é a principal base de conhecimentos para profissionais da área.
Em linhas gerais, o PMBoK orienta organizar grupos de processos definidos como
início (formalização da ideia, via termo de abertura e designação de quem gerenciará o
projeto), planejamento (definição das ações necessárias, incluindo informações sobre prazo,
recursos, riscos, comunicação etc.), execução (definição de processos para realizar as ações,
incluindo solicitações, termos de entrega, relatórios de estado etc.), monitoramento
(acompanhamento do progresso do projeto, identificando e tratando desvios entre plano e
execução) e encerramento (formalização do fim do projeto, via relatório final e termo de
aceitação da entrega por quem demandou o projeto).
20

2 ANÁLISE DE MERCADO

Como já descrito, uma das partes que compõem o projeto é o plano mercadológico. Para
aprofundar conhecimentos a esse respeito, a presente seção procura orientar a concepção de
uma análise de mercado. A compreensão dessa temática servirá não só para compor uma das
partes do projeto, mas também incrementar conhecimentos sobre como elaborar estudos que
se debrucem particularmente sobre determinado mercado.
Inicialmente, salienta-se que a análise de mercado é utilizada no projeto com três
objetivos, basicamente: (i) auxiliar na determinação da escala do negócio, visto que a análise
de mercado deve permitir a previsão de eventual escassez de oferta; (ii) ajudar na escolha da
localização do negócio, visto que traz detalhes importantes sobre a área geográfica em que se
pretende comercializar o produto/serviço; e (iii) servir de base para as projeções financeiras
do negócio, visto que a análise de mercado descreve características de demanda e oferta,
como preços de venda, condições na compra de insumos etc.
Além disso, de forma geral, pode-se pontuar que os fundamentos da teoria
econômica trazem pistas úteis à realização da análise de mercado, sobretudo a partir dos
conceitos de demanda e oferta. Por definição, a quantidade demandada corresponde à
disposição da clientela a comprar certo bem (produto/serviço) por determinado preço. Por sua
vez, a demanda é uma função que relaciona a quantidade demandada ao preço do próprio
bem (relação negativa, ou seja, inversamente proporcional) e a outros fatores determinantes,
como preço de bens relacionados (positiva se esse bem for substituto e negativa se for
complementar), renda da clientela (positiva se o bem for normal e negativa se for inferior),
despesas com propaganda (positiva), sazonalidade (positiva para determinadas épocas) etc.
Por outro lado, a quantidade ofertada corresponde à disposição das organizações
a vender certo bem (produto/serviço) por determinado preço. Nesse sentido, a oferta é uma
função que relaciona a quantidade ofertada ao preço do próprio bem (relação positiva, ou seja,
diretamente proporcional) e a outros fatores determinantes, como preço de bens relacionados
(negativa se esse bem for um substituto de produção e positiva se for complementar), preço de
fatores produtivos (negativa), tributação (negativa), subsídios governamentais (positiva), nível
tecnológico (positiva), sazonalidade (positiva para determinadas épocas), dentre outros.

2.1 Algumas medidas a considerar sobre a demanda


A depender do tipo de bem (produto/serviço) que se está analisando, algumas medidas são
especialmente interessantes a observar. A princípio, para bens de consumo não duráveis
21

(aqueles cujo consumo esgota o bem rapidamente, como alimentos, vestuário etc.), sugere-se
levantar informações sobre os seguintes temas que devem influenciar sobre o crescimento
potencial do mercado que se deseja alcançar:

• População: algumas medidas relativas a este tema são taxa de crescimento


populacional, composição por faixas etárias (a depender se houver
tratamento específico a certa faixa), grau de urbanização (razão entre
população urbana e rural) ou densidade demográfica, movimento
migratório na área geográfica de enfoque, dentre outras;
• Renda: com medidas como nível de renda e sua taxa de crescimento,
distribuição de renda (lembrando-se que a concentração pode limitar certos
mercados), renda discricionária1 (pode refletir os limites de uso da renda
pelas famílias), poder de compra2 (expande o conceito de renda
discricionária) etc.;
• Tendência de consumo secular: trata-se da evolução no consumo per
capita do bem, o que pode revelar tendências à saturação (mais detalhes
serão expostos no tópico sobre ciclo de vida do produto/serviço);
• Preço do bem e de bens relacionados: participação ou comprometimento
do orçamento familiar (principalmente quando há alta concentração de
renda) e influência de bens complementares e/ou substitutos.

Para bens de consumo duráveis (cujo consumo não esgota o bem rapidamente,
como eletrodomésticos, móveis etc.), sugere-se levantar informações sobre os seguintes
temas:

• Situação da demanda: para esse tipo de bens, é importante considerar dois


componentes de consumo, a demanda de expansão (formada por clientes
que não possuem o bem, o que costuma ocorrer até o que bem entre em
processo de saturação no mercado) e demanda de reposição (composto por
clientes que precisam substituir o bem, geralmente por obsolescência);
• Número de famílias: como os bens de consumo duráveis são geralmente
usados em uma unidade familiar, informações sobre número de famílias

1
Calculada como a renda disponível menos os gastos essenciais (alimentos, vestuário, contas etc.).
2
Calculada como a renda discricionária mais os saldos em caixa, disposição de crédito e ativos quase líquidos.
22

(como taxa de formação, número de pessoas por família etc.) passam a ser
mais interessantes que dados sobre população;
• Renda: como já descrito, também é importante levantar informações sobre
renda discricionária, poder de compra, distribuição de renda etc.,
observando-se que a aquisição de bens duráveis geralmente compromete
muito o orçamento familiar;
• Condições de crédito: medidas como nível de taxa de juros, prazos
contratados e volumes disponíveis são relevantes porque facilitam o
acesso das famílias a bens que geralmente são mais onerosos, a exemplo
dos bens duráveis;
• Durabilidade e estoque: deve-se observar que a menor vida útil do bem
tende a elevar a demanda de reposição (mas deve reduzir a demanda de
expansão, já que atrai menos consumidores), enquanto o maior estoque em
poder de clientes tende a reduzir a demanda de expansão (mas deve elevar
a demanda de reposição, pois requer mais substituições);
• Preço do bem e de bens relacionados: como já descrito, deve-se considerar
o peso da aquisição do bem no orçamento familiar e a influência de
complementares e/ou substitutos.

Por sua vez, se o objeto da análise de mercado é um bem intermediário (tipo de


bens não duráveis empregados na produção de outros bens, como materiais primários e
secundários), sugere-se considerar os temas a seguir:

• Demanda dos bens finais: a demanda de bens intermediários está atrelada


ao comportamento de outros bens (inclusive, se o bem intermediário serve
à produção de bem de setores variados, pode-se tratar o comportamento
agregado desses bens finais);
• Demais fatores de produção: deve-se considerar se os fatores são
empregados em proporções fixas ou se é possível variar a quantidade
utilizada para se obter o bem final, assim como é importante verificar se é
possível substituir o bem intermediário por um concorrente.

Por outro lado, para bens de capital (bens duráveis empregados na produção,
como equipamentos e instalações), as seguintes temáticas podem ser consideradas:
23

• Rentabilidade do setor: verificar se o investimento no bem de capital


ofertado é mesmo atraente às organizações demandantes e se é mesmo
vantajoso que elas produzam com concentração de capital, em vez de
serem intensivas em trabalho;
• Nível de utilização e vida útil: estudar o uso da capacidade produtiva do
setor demandante (a ociosidade pode ser um entrave à procura pelo bem de
capital ofertado) e o prazo médio para surgimento da demanda de
reposição;
• Condições de crédito: como já comentado, medidas como nível de taxa de
juros, prazos contratados e volumes disponíveis também são relevantes
para a aquisição de bens de capital.

Por fim, ressalta-se que outras informações são importantes para coletar,
qualquer que seja o bem que é objeto da análise de mercado:

• Consumo aparente e consumo real3: já que dados de consumo não são


facilmente encontrados, geralmente se utilizam aproximações baseadas em
informações como produção e comércio exterior de um bem, medidas
mais difundidas que seu consumo;
• Preferências do consumidor: pesquisar a evolução no padrão de gostos da
população;
• Mercado internacional: estudar o mercado externo não é só essencial a
quem visa exportar seus bens, mas também a quem pretende inserir um
novo bem localmente ou ofertar bens cujo país ainda não tem tradição
produtiva;
• Serviços complementares: considerar as dificuldades na infraestrutura de
serviços ofertada na área que se deseja atingir, sobretudo assistência
técnica, oferta de peças de reposição, consertos etc.;

3
Ao se considerar 𝐶𝐴 = consumo aparente, 𝐶𝑅 = consumo real, 𝑃 = produção, 𝑀 = importações, 𝑋 =
exportações e ∆𝑆 = variação de estoques, define-se que 𝐶𝐴 = 𝑃 + 𝑀 − 𝑋, ou seja, o consumo aparente de um
bem é dado pela sua produção, somada pelas importações desse bem e descontada pelas exportações realizadas,
já que estas são consumidas externamente. Por sua vez, define-se que 𝐶𝑅 = 𝐶𝐴 − ∆𝑆, ou seja, o consumo real de
um bem é dado pelo consumo aparente menos a variação de estoques, ou seja, um aumento nos estoques das
empresas produtoras deve fazer o consumo real ser menor que o consumo aparente. Contudo, para certos bens,
deve-se reconhecer que ∆𝑆 também é uma medida não facilmente encontrada.
24

• Elasticidades4: mesmo demandando análises econométricas mais robustas,


informações sobre estimativas de elasticidade-preço, elasticidade-preço
cruzada e elasticidade-renda, por exemplo, são especialmente
enriquecedoras em uma análise de mercado.

Algumas fontes disponíveis na internet podem ajudar na coleta de várias das


medidas citadas neste tópico. Como exemplos, vale citar o portal Ideias de Negócio, do
SEBRAE (http://bit.do/fHojv); e os documentos de análise setorial disponibilizados pelo
BNDES (http://bit.do/fHojy e http://bit.do/fHojB). Além destes, vale registrar as plataformas
SIDRA/IBGE (https://sidra.ibge.gov.br/), Ipeadata/IPEA (http://www.ipeadata.gov.br/),
SGS/BCB (https://www3.bcb.gov.br/sgspub/), PDET/MTE (http://pdet.mte.gov.br/), Comex
Stat/MDIC (http://comexstat.mdic.gov.br/), Dados Abertos/INEP (http://inep.gov.br/dados),
DATASUS/MS (https://datasus.saude.gov.br/), além dos portais do CEPEA
(https://www.cepea.esalq.usp.br/br) e o DataViva, do Governo do Estado de Minas Gerais
(http://dataviva.info/pt/). Ainda vale citar algumas bases internacionais que contam com
informações valiosas, como as do Banco Mundial (https://data.worldbank.org/), do FMI
(https://www.imf.org/en/Data), da OMC (https://www.trademap.org/) e da FAO
(http://www.fao.org/faostat/en/). Localmente, deve-se exemplificar o banco disponibilizado
pela CONDEPE-FIDEM (http://www.condepefidem.pe.gov.br/web/condepe-fidem/base-de-
dados). Ademais, consultas específicas em buscadores são recomendáveis, sobretudo para
acessar portais de associações setoriais.

2.2 Ciclo de vida do produto/serviço


Uma importante abordagem a ser tratada na análise da demanda diz respeito ao estágio do
ciclo de vida em que o produto/serviço se encontra. Trata-se de um padrão evolutivo muito
utilizado para efetuar projeções de demanda e fundamentar mudanças nas estratégias
empresariais. Em geral, partindo do lançamento do produto/serviço no mercado, seu ciclo de
vida compreende cinco fases: introdução, crescimento, maturidade, saturação e declínio.
Em alguns casos, porém, ressalta-se a necessidades de etapas embrionárias, como
pesquisa e desenvolvimento, depósito de patentes, definição de estratégias de negociação etc.
Nesse sentido, antes mesmo da fase de introdução, é aconselhável analisar diversas dimensões

4
De forma geral, pode-se calcular a elasticidade como a razão da variação percentual de certa variável explicada
sobre a variação percentual na variável explicativa. Assim, por exemplo, a elasticidade-preço da demanda pode
∆%𝑝 (𝑝1 −𝑝0 )⁄𝑝0
ser calculada como 𝜀𝑝𝑑 = 𝑑 = 𝑑 𝑑 𝑑.
∆%𝑞 (𝑞1 −𝑞0 )⁄𝑞0
25

de qualidade do bem, a exemplo de desempenho (aspectos operacionais), conformidade


(adequação a padrões predefinidos), durabilidade (vida útil), confiabilidade (probabilidade de
falha), adereços (características visuais), flexibilidade (possibilidade de customização),
atendimento (cortesia, rapidez, facilidades etc.) e valor (reconhecimento pelo consumidor).
Voltando-se propriamente ao estudo do ciclo de vida do produto, o mesmo pode
ser representado pelo gráfico a seguir:

O primeiro estágio, de introdução, caracteriza-se pelo lançamento do bem no


mercado. As vendas são baixas e crescem lentamente, enquanto a margem de lucro é baixa ou
nem mesmo chega a existir.
Nessa fase, algumas decisões importantes são a adequação da escala de produção
e a definição de estratégias de comercialização (fixação de preços e canais de distribuição).
Além disso, nesse estágio, a projeção da demanda pode se dar por testes de mercado ou
através de pesquisa direta junto à clientela.
Já no segundo estágio, de crescimento, observa-se que o bem é aceito no
mercado, de forma que vendas e lucro crescem rapidamente, visto que clientes que inovam
(testam primeiro, já na fase de introdução) são acompanhados por clientes que imitam e
costumam compram com cautela. Geralmente, esse tipo de clientes compõe a maior parte da
clientela. Além disso, é comum que a concorrência comece a aparecer nessa fase, o que
pressiona os preços para baixo, devido à maior oferta do produto.
Algumas decisões importantes a tomar nessa fase são a expansão da capacidade
produtiva e o planejamento da produção e das estratégias de comercialização. Quanto às
projeções de demanda, sugere-se a realização de pesquisas de intenção de compra e testes de
inflexão no crescimento de vendas, o que poderá antecipar a chegada de uma nova fase.
26

Na terceira fase, de maturidade, as vendas passam a crescer a taxas decrescentes,


enquanto o lucro chega a seu ápice, caindo em seguida. Outras características são o
crescimento da competição, eliminando-se ofertantes menos eficientes, bem como a tentativa
de introdução de novos modelos como esforço para prolongar o ciclo (conforme ilustrado no
gráfico).
Decisões importantes nesse estágio são a promoção de uso mais frequente do
produto/serviço, a busca por nova clientela e a busca por novos usos (um exemplo é a história
do leite condensado, inicialmente desenvolvido para tornar o leite menos perecível, mas
depois utilizado como importante insumo na culinária). Com relação às projeções de
demanda, o tempo percorrido desde o lançamento do produto já é suficiente para realizar
análises de regressão com número adequado de observações. Além disso, são aconselháveis
pesquisas de opinião junto a empresas do setor e/ou pessoas que trabalham vendendo o
produto/serviço, bem como pesquisas de campo junto à clientela.
Por sua vez, a saturação é o quarto estágio do ciclo, caracterizado após as vendas
não apresentarem mais crescimento. Além da redução nas vendas, o lucro continua seu
comportamento de queda, visto que a competição se acirra ainda mais. O produto/serviço
passa a depender das condições gerais da economia, o que pode acelerar ou não o processo de
queda.
Nessa fase, as decisões costumam se limitar à gestão de estoques e à realização de
promoções. Quanto às projeções de demanda, continuam válidas as análises de regressão e
pesquisas de mercado.
No último estágio, de declínio, as vendas continuam em queda e o lucro chega a
não aparecer, situação associada à falta de necessidade do bem, ao surgimento de novos bens
ou à promoção de um melhor produto/serviço substituto desenvolvido pela concorrência.
Nesse sentido, as organizações sobreviventes ficam em um mercado restrito e especializado.
Nessa fase, as decisões mais comuns restringem-se ao esforço de comercialização
e à transferência das instalações produtivas para outras finalidades. Com respeito às projeções
de demanda, continuam válidas as análises de regressão e pesquisas de mercado, mas também
é recomendável realizar analogias históricas, ou seja, a comparação frente ao ocorrido para
bens semelhantes, mas que já estão ultrapassados para o mercado.
Como visto, para uma análise de mercado para certo produto/serviço, a
identificação do estágio em seu ciclo de vida é algo precioso para entender características da
demanda e indicar estratégias adequadas ao cenário vigente, influenciando fortemente sobre a
decisão de investimentos.
27

2.3 Desenho dos canais de comercialização


Muitos são os casos de organizações que não vendem diretamente a clientes finais, realizando
a distribuição através de diferentes caminhos. Mesmo ofertantes que atingem o consumo final
sem quaisquer intermediações, muitas vezes fazem o escoamento por meio de variados canais,
promovendo condições adequadas a cada caso. Por esses motivos, a análise de mercado
também deve abordar o desenho dos canais de comercialização, útil para entender
características próprias a essas demandas e customizar as melhores estratégias de venda.
As recomendações sobre essa etapa da análise de mercado resumem-se em
identificar cada canal de comercialização, caracterizar cada tipo de cliente identificado e
sugerir as estratégias de venda apropriadas a cada caso. A título de ilustração, este tópico traz
um exemplo que recai sobre uma indústria de cimento. Nesse exemplo, associam-se três
canais de venda: varejistas, outras indústrias e empreiteiras.
Quanto ao canal de varejistas, deve-se observar que seu atendimento é voltado a
clientes finais, cuja influência é limitada a um bairro ou a uma pequena região. Outra
característica que se deve pontuar é o fato de o cimento não ser um produto lucrativo para
varejistas, servindo na verdade como atração para o consumo de outros bens. Por esse motivo,
é comum que varejistas não disponham de muitas marcas de cimento para ofertar, vendendo
aquelas mais conhecidas do público. Por todas essas características, uma estratégia de venda
adequada a varejistas é o alongamento do prazo de pagamento, culminando na possibilidade
de consignação do produto.
Pelo lado das indústrias, tem-se que estas transformam o cimento em outros bens,
como vigas, lajes, estacas e pré-moldados. Seus produtos são basicamente destinados a
clientes finais e a empreiteiras, e geralmente operam com um substancial volume de compras.
Justamente por essa escala e pelo poder de barganha, uma estratégia recomendável é fornecer
melhores condições de preço e prazo de pagamento.
Pelo lado das empreiteiras, as características mais marcantes é que estas podem
ser de variados portes e destinam seus negócios principalmente ao governo, de forma que são
vulneráveis a oscilações da política econômica. Analogamente às indústrias, dada a
substancial escala de compras e seu poder de barganha, deve-se considerar melhores
condições de preço e prazo de pagamento para alcançar e manter esse tipo de clientela.
Apesar de bastante sintético, esse exemplo de desenho de canais de
comercialização é suficiente para fazer perceber sua importância dentro de uma análise de
mercado, dado que sua definição auxilia nas decisões de venda e na formulação de contratos
28

específicos. Algo que não foi incluído no exemplo, mas aconselha-se ser feito, é a ilustração
dos canais em um fluxograma que demonstre os elos que formam a cadeia de comercialização
da organização até a clientela final.

2.4 Estrutura da análise de mercado


Com base no que foi discutido até aqui e acrescentando-se outras reflexões, o presente tópico
busca orientar a organização de um documento que trate especificamente da análise de
mercado. Salienta-se que, para fins de projeto, é suficiente considerar a estrutura de plano
mercadológico exemplificada na seção 1.2 e adotada por instituições financiadoras locais.
Contudo, em um estudo específico, a análise de mercado pode ser configurada em um
documento estruturado de outra maneira, algo tratado particularmente neste tópico.
As primeiras recomendações voltam-se à introdução. Nessa parte, deve-se definir
os objetivos do estudo e suas limitações, ou seja, o grau de detalhe a ser considerado, as
proxies utilizadas etc. O produto/serviço a ser estudado também deve ser descrito, bem como
a existência de bens complementares e substitutos. Além disso, também é importante
discorrer sobre o estado da arte (aspectos relativos à tecnologia de produção normalmente
adotada pelo setor) e a possível existência de normas de produção e/ou utilização do bem.
Após a parte introdutória, aconselha-se detalhar uma análise histórica. Para tanto,
é importante limitar a área geográfica estudada e incorporar dados que tratem da evolução do
consumo e da produção. Como já exposto, dados de consumo geralmente não são encontrados
facilmente, mas isso pode ser contornado por aproximações como consumo real e consumo
aparente. Quanto aos dados de produção, mais facilmente obtidos, pode-se complementar
essas informações com históricos da formação da oferta, como a chegada de empresas no
setor, evolução de importações e exportações, ocorrência de incentivos e/ou empecilhos,
dentre outros aspectos. Ressalta-se que, caso não haja registros históricos para o país ou a
região de interesse, pode-se considerar uma análise econométrica com dados de consumo e/ou
produção oriundos de outros países ou regiões.
A análise histórica pode ser sucedida pela investigação de dados descritivos.
Nessa parte, pode-se apresentar gráficos que ilustrem o crescimento geométrico do consumo5,
o crescimento geométrico do consumo per capita, bem como a evolução da produção e da
razão produção/consumo. Essas medidas podem ser comparadas ao que ocorre em outros
países ou regiões, para identificar uma potencial demanda reprimida. Adicionalmente, pode-se

5
O crescimento geométrico é calculado como em uma fórmula de juros compostos. Assim, com o consumo (𝐶𝑡 )
e dois pontos no tempo (𝑡0 e 𝑡1 ), a taxa de crescimento geométrico (𝑔̂) é dada por 𝐶𝑡1 = 𝐶𝑡0 ∙ (1 + 𝑔̂)𝑡1−𝑡0 .
29

abordar as medidas sugeridas na seção 2.1, apresentando-se a evolução em temáticas como


população, renda, preços etc., conforme o tipo de bem cujo mercado se esteja analisando.
Posteriormente, o documento deve tratar de análises complementares. É nessa
parte que devem ser feitas reflexões a respeito do ciclo de vida do produto/serviços, além do
desenho dos canais de comercialização e das estratégias de venda adotadas pela organização.
Os perfis de concorrência e fornecedores também devem ser tratados. Pelo lado do estudo de
concorrentes, pesquisas na internet são muito úteis, inclusive a partir de ferramentas que
mapeiem potenciais concorrentes na área que se deseja ofertar o produto/serviço. Além disso,
deve-se apontar suas características gerais em comparação com a própria organização, a
respeito de aspectos como qualidade, preço, localização e condições de pagamento. Quanto a
fornecedores, deve-se pontuar vantagens e desvantagens na relação com a organização e
justificar suas escolhas.
Feito o levantamento e a exposição dessas informações, a análise de mercado deve
agora recair sobre projeções. Para tanto, deve-se levar em conta algumas classificações.
Quanto a prazo, por exemplo, as projeções são geralmente associadas a alcances de até um
ano (curto prazo), de um a dois anos (médio prazo) e a partir de dois anos (longo prazo), o que
na verdade são critérios subjetivos. Há ainda classificações relativas à agregação, pois
projeções podem ser setoriais e mais específicas; ou macroeconômicas, que são gerais, mas
normalmente demandam menos esforço para levantamento e processamento.
Outra classificação de projeções faz a separação entre critérios quantitativos e
qualitativos. No caso da análise quantitativa, as projeções podem ser representadas por
gráficos e geradas por medidas como taxa aritmética de crescimento6, taxa geométrica de
crescimento7, regressões8 e médias móveis9.
Com relação à análise qualitativa, um exemplo é a pesquisa de mercado, que usa
entrevistas para identificar fatores relevantes para explicar as preferências da clientela. Outro
instrumento é a investigação de cenários, que se define como a descrição de uma sequência
lógica de possíveis eventos, com o objetivo de associar estratégias que a organização deve

6
O crescimento aritmético é calculado como em uma fórmula de juros simples. Assim, dada uma variável (𝑉𝑡 ) e
dois pontos no tempo (𝑡0 e 𝑡1 ), a taxa de crescimento aritmético (𝑎̂) é dada por 𝑉𝑡1 = 𝑉𝑡0 ∙ [1 + 𝑎̂ ∙ (𝑡1 − 𝑡0 )].
Portanto, uma projeção para 𝑉̂𝑡2 pode ser dada simplesmente por 𝑉̂𝑡2 = 𝑉𝑡1 ∙ [1 + 𝑎̂ ∙ (𝑡2 − 𝑡1 )].
7
Dada a taxa geométrica (𝑔̂), uma projeção para 𝑉̂𝑡2 pode ser dada simplesmente por 𝑉̂𝑡2 = 𝑉𝑡1 ∙ (1 + 𝑔̂)𝑡2−𝑡1 .
8
Podem ser consideradas projeções a partir de séries temporais.
9
Nesse caso, para certa variável, gera-se uma série baseada na média aritmética em um intervalo de tempo
definido (geralmente três a nove períodos imediatamente anteriores). Posteriormente, calculam-se os desvios
entre os valores observados e a média móvel, gerando-se uma nova série. As projeções, portanto, são tomadas
como a soma entre a média móvel do intervalo imediatamente anterior e a média dos desvios calculados. Um
exemplo a esse respeito será tratado ao final deste tópico.
30

considerar em cada situação. Um desdobramento do estudo de cenários é a análise de impacto


cruzado, que busca conhecer os efeitos de certo evento sobre todos os outros eventos
relacionados, inclusive com a estipulação de probabilidades de ocorrência. Outro interessante
instrumento qualitativo é a analogia histórica, já comentada anteriormente, em que se faz a
comparação de um novo produto/serviço a um similar já estabelecido no mercado. Por
exemplo, pode-se fazer um paralelo entre a evolução das vendas de televisões digitais frente
ao ocorrido para aparelhos analógicos.
Muitas técnicas podem facilitar a produção de informações qualitativas. Um
exemplo é a metodologia Delphi (uma referência ao oráculo de Delfos, na Grécia Antiga),
que objetiva o consenso de um grupo de especialistas em torno de uma opinião. Em geral, o
método consiste em uma aplicação seriada de questionários que deve ser respondida
individualmente, eliminando-se problemas como persuasão e timidez. As respostas devem ser
reunidas por alguém que coordenará o processo, compilando as informações e verificando
similaridades. Os relatórios são apresentados ao grupo e novos questionários são submetidos,
repetindo-se o processo até a obtenção de consensos.
Outro exemplo é o painel de especialistas, técnica que tem o mesmo objetivo do
método Delphi, mas em que as respostas são diretamente compartilhadas com o grupo. Apesar
de conter problemas como efeitos de persuasão e casos de timidez no grupo, o painel tem a
vantagem de produzir informações mais rapidamente.
Ainda quanto às projeções, vale ressaltar características associadas
particularmente à oferta. Nesse sentido, é recomendável separar dois tipos de bens: aqueles
de menor escala, pouco intensivos em capital e sem barreiras à entrada; e aqueles que têm
maior escala, são muito intensivos em capital e contam com barreiras à entrada. No primeiro
grupo, sugere-se projetar a oferta com base no crescimento passado e, muitas vezes, pode-se
até supor que sua evolução acompanha o próprio comportamento da demanda. Exemplos
nesse grupo são os setores de alimentos, confecções, comércio varejistas e outros tradicionais.
Por sua vez, no grupo de maior escala, muito intensivo em capital e com barreiras
à entrada, é aconselhável acompanhar divulgações feitas a respeito de concorrentes, sobre
investimentos realizados, capacidade produtiva e outras questões associadas. É interessante
ter atenção à região em que se pretende atuar e pesquisar informações na imprensa, em
revistas especializadas no setor e em relatórios de órgãos de financiamento.
Por fim, sobre a estruturação da análise de mercado, vale ainda pontuar algumas
orientações complementares. Primeiro, deve-se ter atenção ao uso de hipóteses, usando dados
precisos e conservadores, dando preferência a projeções menos otimistas. Segundo, é
31

importante incorporar a experiência da alta administração da organização, tanto na produção


do conteúdo, quanto na validação das informações geradas. Outra sugestão refere-se à
definição dos objetivos do estudo, essencial para ajustar o tempo e os recursos aplicados para
realizar a análise de mercado. Ainda, é importante incluir uma descrição metodológica que
descreva hipóteses, técnicas e fontes utilizadas, prezando por objetividade. Por fim, de forma
geral, todo o documento deve utilizar linguagem clara e precisa, sendo recomendável a
inclusão de um resumo e uma seção de conclusões, trazendo respostas diretas aos objetivos da
análise.

Exemplo para cálculo de projeções da escassez de oferta


O caso a seguir refere-se a um setor hipotético, cujos dados apresentados são apenas
ilustrativos e consideram uma série histórica de quinze anos, em certo país, e composta pelas
seguintes medidas: consumo interno, capacidade produtiva, grau de ociosidade10, importações
e exportações.
Capacidade Grau de
Período Consumo (t) Importações (t) Exportações (t)
produtiva (t) ociosidade (%)
Ano 1 900 1.000 30 200 10
Ano 2 950 1.100 35 230 5
Ano 3 970 1.098 33 250 20
Ano 4 950 1.150 35 230 17
Ano 5 1.000 1.147 33 260 28
Ano 6 960 1.130 40 300 12
Ano 7 1.050 1.150 39 350 20
Ano 8 1.012 1.210 35 270 50
Ano 9 1.050 1.300 36 290 70
Ano 10 1.025 1.350 38 280 100
Ano 11 970 1.349 35 250 130
Ano 12 940 1.325 34 210 140
Ano 13 914 1.375 36 190 170
Ano 14 876 1.500 39 170 210
Ano 15 936 1.510 40 180 185
Esses dados permitem observar que o consumo, apesar de ter aumentado no
horizonte analisado, sofreu uma importante queda no último quinquênio, vindo a apresentar
uma leve recuperação apenas no Ano 15.
Quanto à capacidade produtiva, em geral, verifica-se que esta apresentou
consistente crescimento no período. Nesse aspecto, pode-se interpretar que aumentos de um
ano para o outro significam que os investimentos realizados (que elevam a capacidade

10
Essa medida reflete o quanto da capacidade produtiva não é utilizada pelo setor.
32

produtiva) superaram as depreciações (que reduzem essa capacidade). Por exemplo, pode-se
observar um importante salto ocorrido no Ano 14, que ampliou a capacidade produtiva do
setor em mais de 100 toneladas.
Por sua vez, no horizonte analisado, o grau de ociosidade variou na faixa de 30%
a 40%, o que significa que a produção efetiva do setor esteve entre 60% e 70% da capacidade
instalada.
Já quanto à balança comercial, verifica-se que as importações mantiveram
praticamente o mesmo volume, quando se compara o início ao final da série, enquanto as
exportações foram crescendo consistentemente.
A partir desses dados, pode-se deduzir o comportamento da produção local, o que
indicará a evolução da quantidade ofertada. Nesse aspecto, deve-se simplesmente multiplicar
a capacidade produtiva pelo percentual de uso da capacidade produtiva. Tomando-se o Ano
15 como exemplo, cujo grau de ociosidade chega a 40%, basta então calcular 1.510 ∙
(1 − 0,40) = 1.510 ∙ 0,60 = 906. Portanto, a produção local, no Ano 15, correspondeu a 906
toneladas.
Capacidade Grau de
Período Produção (t)
produtiva (t) ociosidade (%)
Ano 1 1.000 30 700,0
Ano 2 1.100 35 715,0
Ano 3 1.098 33 735,7
Ano 4 1.150 35 747,5
Ano 5 1.147 33 768,5
Ano 6 1.130 40 678,0
Ano 7 1.150 39 701,5
Ano 8 1.210 35 786,5
Ano 9 1.300 36 832,0
Ano 10 1.350 38 837,0
Ano 11 1.349 35 876,9
Ano 12 1.325 34 874,5
Ano 13 1.375 36 880,0
Ano 14 1.500 39 915,0
Ano 15 1.510 40 906,0
Para efetuar as projeções de demanda (a partir dos dados de consumo) e de oferta
(a partir dos dados de produção), a título de exemplo, será considerada a extrapolação por
médias móveis para cinco períodos (essa escolha é arbitrária e, portanto, é interessante testar
outros intervalos e verificar a sensibilidade dos resultados). Por exemplo, no Ano 6, a média
móvel da produção considera a média aritmética dos Anos 1 a 5, o que corresponde a 733,3
toneladas. Nesse sentido, como não há dados anteriores ao Ano 1, não é possível calcular a
média móvel para os cinco períodos iniciais. Por sua vez, no Ano 16, possibilita-se o cálculo
33

da média móvel a partir dos dados observados nos Anos 11 a 15, mas isso já não é factível
para anos futuros, já que a série acaba no Ano 15.
Média móvel da Média móvel do
Período Produção (t) Consumo (t)
produção (t) consumo (t)
Ano 1 700,0 - 900,0 -
Ano 2 715,0 - 950,0 -
Ano 3 735,7 - 970,0 -
Ano 4 747,5 - 950,0 -
Ano 5 768,5 - 1.000,0 -
Ano 6 678,0 733,3 960,0 954,0
Ano 7 701,5 728,9 1.050,0 966,0
Ano 8 786,5 726,2 1.012,0 986,0
Ano 9 832,0 736,4 1.050,0 994,4
Ano 10 837,0 753,3 1.025,0 1.014,4
Ano 11 876,9 767,0 970,0 1.019,4
Ano 12 874,5 806,8 940,0 1.021,4
Ano 13 880,0 841,4 914,0 999,4
Ano 14 915,0 860,1 876,0 979,8
Ano 15 906,0 876,7 936,0 945,0
Ano 16* - 890,5 - 927,2
Calculadas as médias móveis, o próximo passo para a extrapolação é o cálculo dos
desvios dessa medida frente ao valor observado. Nesse sentido, o objetivo do cômputo das
médias móveis não é propriamente verificar tendências, mas comparar os valores de um
instante em relação à média do que ocorreu recentemente. Por exemplo, no Ano 4, tem-se que
o desvio para a produção é calculado como 678,0 − 733,3 = −55,3. Em outras palavras, o
valor observado naquele ano mostrou-se 55,3 toneladas abaixo da média aritmética dos cinco
períodos anteriores. Vale também notar que, para o Ano 16, visto que não há valor observado,
não é possível obter sua medida de desvio.
Outro procedimento a ser feito é a soma da média móvel dos valores observados
com a média móvel dos desvios calculados. Para esse exemplo, a média móvel dos desvios
também é calculada com base na média aritmética de cinco períodos anteriores. Por exemplo,
para a produção, a média móvel dos desvios corresponde a 60,1 toneladas no Ano 16.
A partir desses valores, pode-se agora gerar estimativas para a produção e para o
consumo. Nesse exemplo, será considerada uma projeção para cinco anos posteriores (Anos
16 a 20). Começando pela produção, faz-se a soma entre sua média móvel e a média móvel de
seus desvios. Por exemplo, para o Ano 16, tem-se que 890,5 + 60,1 = 950,6 toneladas. A
partir dessa estimativa, pode-se calcular um novo valor para o desvio da produção, ou seja,
950,6 − 890,5 = 60,1 toneladas, obviamente. Essas estimativas, por sua vez, servirão para
estipular a média móvel da produção e a média móvel dos desvios para o Ano 17, o que
projetará a produção desse ano, processo que se repete até o final da série futura.
34

Média móvel dos


Média móvel da Desvios da
Período Produção (t) desvios da
produção (t) produção (t)
produção (t)
Ano 1 700,0 - - -
Ano 2 715,0 - - -
Ano 3 735,7 - - -
Ano 4 747,5 - - -
Ano 5 768,5 - - -
Ano 6 678,0 733,3 -55,3 -
Ano 7 701,5 728,9 -27,4 -
Ano 8 786,5 726,2 60,3 -
Ano 9 832,0 736,4 95,6 -
Ano 10 837,0 753,3 83,7 -
Ano 11 876,9 767,0 109,9 31,4
Ano 12 874,5 806,8 67,7 64,4
Ano 13 880,0 841,4 38,6 83,4
Ano 14 915,0 860,1 54,9 79,1
Ano 15 906,0 876,7 29,3 71,0
Ano 16* 950,6* 890,5 60,1* 60,1
Ano 17* 955,4* 905,2* 50,1* 50,1*
Ano 18* 968,0* 921,4* 46,6* 46,6*
Ano 19* 987,2* 939,0* 48,2* 48,2*
Ano 20* 1.000,3* 953,4* 46,9* 46,9*

Média móvel dos


Média móvel do Desvios do
Período Consumo (t) desvios do
consumo (t) consumo (t)
consumo (t)
Ano 1 900,0 - - -
Ano 2 950,0 - - -
Ano 3 970,0 - - -
Ano 4 950,0 - - -
Ano 5 1.000,0 - - -
Ano 6 960,0 954,0 6,0 -
Ano 7 1.050,0 966,0 84,0 -
Ano 8 1.012,0 986,0 26,0 -
Ano 9 1.050,0 994,4 55,6 -
Ano 10 1.025,0 1.014,4 10,6 -
Ano 11 970,0 1.019,4 -49,4 -
Ano 12 940,0 1.021,4 -81,4 -
Ano 13 914,0 999,4 -85,4 -
Ano 14 876,0 979,8 -103,8 -
Ano 15 936,0 945,0 -9,0 -
Ano 16* 912,5* 927,2 -14,7* -14,7
Ano 17* 901,0* 915,7* -14,7* -14,7*
Ano 18* 893,2* 907,9* -14,7* -14,7*
Ano 19* 889,1* 903,8* -14,7* -14,7*
Ano 20* 891,7* 906,4* -14,7* -14,7*
Pelo lado do consumo, repete-se o mesmo procedimento, mas considerando outro
intervalo de tempo para o cálculo da média móvel dos desvios. Como já comentado, ao
contrário do crescimento bem-comportado da produção, o consumo demonstrou maiores
oscilações, o que compromete o cálculo dos desvios. Com efeito, observa-se que o consumo
sofreu forte queda no último quinquênio, apresentando uma leve recuperação apenas no Ano
35

15. Dessa maneira, se fosse considerado um intervalo de cinco anos para o cálculo da média
móvel dos desvios, os valores projetados para o consumo apresentariam queda acentuada, o
que subestima a leve recuperação demonstrada no Ano 15. Diante disso, especificamente para
as projeções de consumo, preferiu-se considerar a média móvel dos desvios para toda a série
disponível, ou seja, a média aritmética dos desvios calculados entre os Anos 6 e 15.
Realizadas as projeções de demanda e oferta, pode-se agora projetar a escassez de
oferta local. Para tanto, deve-se considerar que parte do consumo advém das importações,
enquanto parte da produção destina-se às exportações. Por esse motivo, o confronto entre
demanda e oferta deve descontar essas medidas, as quais devem ser projetadas seguindo o
mesmo procedimento utilizado na projeção da produção (sugere-se que as estimativas para os
Anos 16 a 20, referentes às exportações e às importações, sirvam como exercício).
Período Produção (t) Exportações (t) Consumo (t) Importações (t)
Ano 1 700,0 10,0 900,0 200,0
Ano 2 715,0 5,0 950,0 230,0
Ano 3 735,7 20,0 970,0 250,0
Ano 4 747,5 17,0 950,0 230,0
Ano 5 768,5 28,0 1.000,0 260,0
Ano 6 678,0 12,0 960,0 300,0
Ano 7 701,5 20,0 1.050,0 350,0
Ano 8 786,5 50,0 1.012,0 270,0
Ano 9 832,0 70,0 1.050,0 290,0
Ano 10 837,0 100,0 1.025,0 280,0
Ano 11 876,9 130,0 970,0 250,0
Ano 12 874,5 140,0 940,0 210,0
Ano 13 880,0 170,0 914,0 190,0
Ano 14 915,0 210,0 876,0 170,0
Ano 15 906,0 185,0 936,0 180,0
Ano 16* 950,6* 235,1* 912,5* 138,0*
Ano 17* 955,4* 253,8* 901,0* 112,8*
Ano 18* 968,0* 276,6* 893,2* 96,0*
Ano 19* 987,2* 296,7* 889,1* 78,8*
Ano 20* 1.000,3* 309,3* 891,7* 63,2*
A partir desses dados, calcula-se produção menos exportações (produção voltada
ao mercado local), valor que deve ser comparado com os resultados de consumo menos
importações (consumo advindo do mercado local). Se a primeira medida for maior que a
segunda, infere-se então um excesso de oferta no mercado local. Por sua vez, se o resultado
for negativo, tem-se uma projeção de escassez de oferta local, situação que estimula a
realização de investimentos, visto que o aumento da capacidade produtiva e da produção
encontrará respaldo no lado da procura.
No exemplo, nos quinze anos observados, pode-se notar que o mercado
demonstrou estar próximo ao equilíbrio, ora apresentando pequenos excessos de oferta
(valores positivos), ora com leves excessos de demanda (valores negativos). Contudo, em dois
36

dos três últimos anos da série, a escassez de oferta se mostrou um pouco mais substancial,
chegando a alcançar 35 toneladas no Ano 15, quase 5% de toda a produção ofertada
localmente. Essa tendência, projetada para cinco anos futuros, indica um potencial
crescimento para a escassez de oferta no mercado local, algo que propicia a decisão de
investimentos, visto que o aumento da produção tende a ser absorvido pela demanda.
Produção – Exportações Consumo – Importações
Período Excesso de oferta (t)
(t) (t)
Ano 1 690,0 700,0 -10,0
Ano 2 710,0 720,0 -10,0
Ano 3 715,7 720,0 -4,3
Ano 4 730,5 720,0 10,5
Ano 5 740,5 740,0 0,5
Ano 6 666,0 660,0 6,0
Ano 7 681,5 700,0 -18,5
Ano 8 736,5 742,0 -5,5
Ano 9 762,0 760,0 2,0
Ano 10 737,0 745,0 -8,0
Ano 11 746,9 720,0 26,9
Ano 12 734,5 730,0 4,5
Ano 13 710,0 724,0 -14,0
Ano 14 705,0 706,0 -1,0
Ano 15 721,0 756,0 -35,0
Ano 16* 715,4* 774,5* -59,1*
Ano 17* 701,5* 788,2* -86,7*
Ano 18* 691,4* 797,2* -105,8*
Ano 19* 690,6* 810,3* -119,8*
Ano 20* 691,0* 828,5* -137,5*
Salienta-se que o procedimento ilustrado tem várias limitações. Por exemplo,
mesmo tendo vantagens quanto à fácil operacionalização, deve-se considerar que há elevado
grau de arbitrariedade na escolha dos períodos utilizados nos cálculos das médias móveis.
Ainda assim, considera-se que suas limitações ainda são menos contundentes que aquelas
demonstradas por métodos de extrapolação que usam simplesmente a taxa aritmética ou a taxa
geométrica de crescimento. De toda maneira, se for vantajoso empreender mais esforço nessa
parte do estudo, sugere-se realizar análises econométricas que permitam gerar projeções a
partir de séries temporais.
Para finalizar este exemplo, os gráficos a seguir ilustram as variáveis com seus
valores observados e projetados. Como se pode notar, o crescimento projetado para as
exportações é um pouco superior ao calculado para a produção. Esse comportamento faz com
que a projeção para a produção voltada ao mercado local tenda a reduzir um pouco. Esse
comportamento é o inverso do encontrado para diferença entre consumo e importações, de
forma que é possível projetar uma escassez de oferta no mercado local que poderá ser
aproveitada por novos investimentos.
37
38

Cabe, porém, fazer uma ressalva, tendo em vista que a escassez projetada
localmente não chega a 150 toneladas/ano no horizonte de cinco anos futuros. Isso deve
contar negativamente sobre a decisão de investimentos, dado que o setor apresenta um alto
grau de ociosidade. Apenas para se tomar um exemplo, no Ano 15, 40% da capacidade
produtiva de 1.510 toneladas é ociosa, de forma que é possível aumentar a produção em 604
toneladas sem que seja preciso realizar investimentos.
39

3 ENGENHARIA, TAMANHO E LOCALIZAÇÃO

A presente seção procura orientar a concepção do plano operacional, o qual compreende os


seguintes objetivos, basicamente: (i) descrever o processo produtivo e a tecnologia que a
organização irá empregar; (ii) definir a escala de produção e seu tamanho ótimo; e (iii) decidir
a localização ótima do projeto.

3.1 Processo produtivo e tecnologia utilizada


Para descrever as escolhas de processo produtivo e tecnologia, recomenda-se passar por
algumas etapas. A primeira diz respeito a investigações preliminares, ou seja, estudos
realizados desde a concepção do produto até a definição do processo produtivo, buscando por
referências já existentes sobre alternativas tecnológicas e normas aplicadas ao setor. De forma
geral, tais informações já são levantadas desde a análise de mercado e muitas são bem
disseminadas, sobretudo a respeito de pequenos projetos. Porém, para grandes investimentos,
é fundamental o levantamento do que se conhece como estado da arte.
Uma segunda etapa refere-se à seleção tecnológica. Nessa parte, deve-se
caracterizar a escolha dentre as alternativas tecnológicas disponíveis, a exemplo de aspectos
como: (i) Será intensiva em capital ou em mão de obra? (ii) Será usado um forno vertical ou
horizontal? (iii) A fonte energética escolhida será elétrica ou solar? (iv) Será adquirido um
equipamento de marca específica ou não? (v) A irrigação será por gotejamento ou por
aspersão?
Normalmente, salienta-se que a seleção tecnológica é influenciada pelos seguintes
fatores: (i) tipo de matéria-prima empregada e acesso aos recursos; (ii) normas específicas
para o setor produtivo; (iii) preço de aquisição; (iv) relação com fabricantes; (v) moeda de
pagamento (origem do equipamento) e condições de crédito; (vi) gastos com instalação e
treinamento; (vii) vida útil e disponibilidade de assistência técnica e peças de reposição; e
(viii) possibilidade de ampliar a capacidade produtiva.
É importante, nessa etapa, fazer a descrição dos equipamentos necessários para a
produção. Nessa descrição, deve-se abordar aspectos como: (i) fornecedor/fabricante e
origem; (ii) valor de aquisição e moeda de pagamento; (iii) uso no processo produtivo; (iv)
capacidade de produção; (v) fonte energética; (vi) vida útil estimada; (vii) gastos com
transporte, inclusive seguro; (viii) gastos com instalação e treinamento; e (ix) previsão de
gastos com manutenção e seguro.
40

Outra etapa trata especificamente da descrição do processo produtivo,


comentando sobre as fases e as operações pelas quais passam os insumos, desde sua recepção
até a obtenção do produto final. Sugere-se que o processo seja descrito por fluxogramas,
sempre indicando as entradas (materiais), as saídas (produtos e subprodutos), além de perdas e
resíduos gerados. De maneira complementar, pode-se indicar a necessidade de equipamentos
e mão de obra em cada fase do processo, bem como descrever características dos insumos e
dos produtos, como dimensões, formas, grau de perecibilidade, forma de armazenagem etc.
Ainda, deve-se abordar sobre a disposição dos equipamentos no ambiente. Nesse
aspecto, é fundamental a racionalização do espaço físico para maximizar o rendimento. Em
geral, a disposição pode ser caracterizada por produto, em que o maquinário se localiza na
sequência recomendada para a fabricação do produto; ou por processo, em que o maquinário
é agrupado por funções similares, como molde, corte, embalagem etc. Em geral, pode-se notar
que a disposição por processo exige maior movimentação de materiais, significando maior
custo; enquanto a disposição por produto exige maior disponibilidade de espaço e maquinário,
o que requer maior investimento. Além disso, observa-se que a disposição por processo é
mais flexível a eventuais mudanças, como uma diversificação; enquanto a disposição por
produto permite maior controle das operações, possibilitando checar ineficiências mais
facilmente.
Após a etapa de descrição do processo produtivo, recomenda-se a inclusão de um
projeto de construção civil, infraestrutura e instalações. Nessa etapa, deve-se: (i)
considerar as dimensões e as normas relativas ao terreno onde será construída a unidade; (ii)
definir o tipo de construção e a infraestrutura necessária (estradas de acesso, energia,
saneamento, informação etc.); (iii) adequar as instalações às escolhas do processo produtivo e
da disposição do maquinário; (iv) elencar o maquinário, suas dimensões e os meios de
movimentação de materiais ao longo do processo, sempre prezando pela fluidez e evitando o
cruzamentos entre fases; (v) definir as áreas necessárias para cada setor (recepção, operações,
armazenagem etc.), com espaço para equipamentos, mão de obra, movimentação de materiais
e circulação; (vi) antecipar possíveis ampliações futuras; e (vii) descrever a programação da
execução das obras. Nessa etapa, sobretudo, é fundamental a participação de profissionais de
Engenharia para dar consistência às escolhas realizadas.

3.2 Economias de escala e tamanho ótimo


Em geral, a análise da escala de produção é colocada em segundo plano, dadas certas
limitações, como tamanho do mercado e disponibilidade de recursos para investimento.
41

Porém, pode-se decidir entre investir em uma escala maior, antecipando-se a um potencial
crescimento de vendas; ou iniciar com uma menor escala, mas dando espaço para uma
possível ampliação de sua capacidade produtiva no futuro. Assim, estudar a escala de
produção é um dos aspectos fundamentais no projeto.
Convencionalmente, define-se tamanho como a capacidade produtiva que pode se
pode alcançar em determinado intervalo de tempo. Nesse sentido, há diversas medidas que
podem refletir sobre o tamanho da organização, como o número de horas em operação, o
número de empregos gerados, o número de profissionais ligados à produção, o nível de capital
empregado ou o montante de investimento realizado, o volume de matéria-prima empregada
em certo período ou mesmo o tamanho da área física.
A própria capacidade produtiva pode ser definida sob diferentes perspectivas. Sob
o ponto de vista técnico, capacidade produtiva é a máxima produção que pode ser obtida
com determinado processo em certo intervalo de tempo. Ainda sob essa perspectiva, vale
diferenciar os conceitos de capacidade nominal (é a produção máxima que se pode alcançar,
caso fosse possível manter todo o funcionamento sem quaisquer interrupções) e capacidade
efetiva (considera interrupções decorrentes de manutenções ou ineficiências operacionais).
Salienta-se também o conceito de nível de utilização, dado pela razão entre a
capacidade efetiva e a capacidade nominal. Assim, se o nível de utilização de uma fábrica
equivale a 95%, interpreta-se que a capacidade efetiva alcança 95% da capacidade nominal, o
que aparenta uma baixa interferência de interrupções.
Cabe ressaltar que o nível de utilização é um conceito diferente do uso da
capacidade produtiva, apesar da semelhança semântica. Nesse aspecto, o uso da capacidade
produtiva mede o quanto a organização de fato produz em relação à sua capacidade produtiva.
Por exemplo, se a capacidade produtiva de certa fábrica é 100 mil toneladas/mês, e esta
produziu de fato 80 mil toneladas no mês passado, então o uso da capacidade produtiva
equivale a 80%. Nesse caso, como capacidade produtiva, normalmente se utiliza como
referência a capacidade efetiva, em vez da capacidade nominal. Note-se ainda que, nesse
exemplo, o nível de ociosidade equivale a 20%.
Apesar de ser mais comum a adoção do conceito técnico, a capacidade produtiva
também pode ser definida sob o ponto de vista econômico. Nesse sentido, diz-se que o
tamanho ótimo é aquele que minimiza o custo médio de produção, considerando custos
explícitos (que exigem desembolsos, ou seja, os custos contábeis) e implícitos (custos de
oportunidade, o que é considerado na soma de custos econômicos).
42

Deve-se observar que esta é a condição de equilíbrio competitivo que a teoria


econômica preconiza como maximização de lucros das firmas no longo prazo (lucro nulo,
dados os custos explícitos e os custos implícitos). Isso ocorre porque o preço do bem, no
longo prazo, tende ao nível mínimo da curva de custo médio, dada a livre mobilidade de
concorrentes. Nesse ponto, deve-se também perceber que a receita marginal iguala ao custo
marginal, o que configura a maximização de lucro da firma no curto prazo.
Vale também lembrar que a curva de custo médio de longo prazo é uma envoltória
das curvas de custo médio de curto prazo. Então, se a firma se encontra à esquerda do ponto
mínimo da curva de custo médio de longo prazo, a mesma opera em economia de escala, ou
seja, no longo prazo, o aumento da produção reduzirá o custo médio. Por outro lado, se a
firma se encontra à direita do ponto mínimo, tem-se que ela opera em deseconomia de escala,
de forma que, no longo prazo, o aumento da produção elevará o custo médio.
Pode-se exemplificar algumas fontes de economia de escala, como diluição do
custo fixo, divisão e especialização do trabalho, redução no custo de aquisição e transporte de
insumos, melhor utilização de equipamentos dimensionados propriamente para determinadas
escalas, uso de equipamentos de maior capacidade e menor custo proporcional, menores
perdas e maior padronização, dentre outras características que se recomenda perseguir.
Outra importante fonte de economia de escala é a aprendizagem. A esse respeito,
é recomendável o registro histórico dos custos e da produção para permitir analisar a curva de
aprendizagem, uma simples ferramenta utilizada na projeção de custos. Essa curva representa
a queda no custo médio em função do aumento da produção acumulada, que é a soma de toda
a produção já realizada até determinado instante. Por exemplo, considere uma fábrica que, em
seu primeiro 1 milhão de unidades de certo produto (𝑄1), alcançou um custo médio de R$
10,00 (𝐶𝑀𝑑1 ). Tempos depois e após um processo de aprendizagem, produziu mais 1 milhão
de unidades (de forma que a produção acumulada alcançou 𝑄2 = 2 milhões de unidades) ao
custo médio de R$ 9,50 (𝐶𝑀𝑑2 ). Com esses dados, tem-se que:
−𝛽 −𝛽
𝑄2
𝐶𝑀𝑑2 = 𝐶𝑀𝑑1 ∙ ( ⁄𝑄 ) ∴ 9,5 = 10 ∙ (2⁄1) ∴ 0,95 = 2−𝛽 ∴
1

ln(0,95) = ln(2−𝛽 ) ∴ ln(0,95) = −𝛽 ∙ ln(2) ∴

−𝛽 = ln(0,95)⁄ln(2) = −0,074 ∴ 𝛽 = 0,074

Após descobrir 𝛽, pode-se colocar que a curva de aprendizagem dessa fábrica é


−0,074
𝑄
representada pela seguinte equação: 𝐶𝑀𝑡1 = 𝐶𝑀𝑡0 ∙ ( 𝑡1⁄𝑄 ) .
𝑡0
43

Dessa maneira, se a fábrica deseja projetar o custo médio quando novamente


duplicar sua produção acumulada (de forma que a produção acumulada alcance 𝑄3 = 4
milhões de unidades), tem-se que:
−0,074 −0,074
𝑄3
𝐶𝑀𝑑3 = 𝐶𝑀𝑑2 ∙ ( ⁄𝑄 ) ∴ 𝐶𝑀𝑑3 = 9,5 ∙ (4⁄2) ∴
2

𝐶𝑀𝑑3 = 9,5 ∙ 2−0,074 = 9,5 ∙ 0,95 = 9,025

Então, pode-se estipular que a aprendizagem da fábrica levará seu custo médio

para R$ 9,025. Vale notar que 9,50⁄10,00 = 0,95, assim como 9,25⁄9,50 = 0,95. Portanto,

diz-se que esta fábrica se encontra em uma curva de aprendizagem de 95%, ou seja, espera-se
que ela diminua seu custo médio em 95% sempre que duplicar sua produção acumulada.
A aprendizagem pode decorrer de uma série de fatores, as quais também levam à
economia de escala. Um exemplo é a melhoria na eficiência do trabalho, via repetição e busca
por modos mais eficientes de realizar uma tarefa. Outros condicionantes são a especialização,
via divisão de operações em etapas; a adoção de novos processos, agregando tecnologia; a
obtenção de melhor desempenho dos equipamentos, via teste de limites e inovações em
modos de operação; mudanças fatoriais, substituindo recursos mais caros por outros mais
baratos; a padronização do produto, o que simplifica a operação; e o redesenho do produto,
deixando-o mais funcional, geralmente com ganhos na matéria-prima e nos processos.

Algumas observações sobre análise de custos


Como comentado, a definição de tamanho sob o ponto de vista econômico leva em conta a
análise da curva de custo médio. De forma geral, a teoria econômica não faz distinções aos
gastos efetuados pela firma, mas isso é uma temática central de um campo de estudo
conhecido como análise de custos.
Na análise de custos, cuja finalidade é basicamente fundamentar a formação de
preços de um produto/serviço, é essencial a distinção de gastos entre investimentos, custos,
despesas, perdas e desperdícios11. Como já definido, investimentos são gastos com aquisição
de itens que serão estocados na organização e utilizados até sua exaustão, sejam itens
permanentes ou circulantes.

11
Esses dois últimos tipos de gastos se referem a ocorrências anormais, sejam decorrentes de ineficiências
(desperdícios) ou de inesperadas (perdas).
44

Por sua vez, custos são gastos relacionados com a produção e classificados em
materiais diretos (MD)12, mão de obra direta (MOD)13 e custos indiretos de fabricação (CIF).
Particularmente aos CIF, ressalta-se que nessa classificação enquadram-se materiais indiretos
(MI)14, mão de obra indireta (MOI)15 e demais gastos relacionados indiretamente com a
fabricação (depreciação de equipamentos, aluguel e energia da fábrica etc.).
Por outro lado, despesas são gastos não associados com a estrutura administrativa
da empresa, a exemplo, do aluguel e da energia do escritório, da remuneração da diretoria, do
pagamento por serviços contábeis, advocatícios, de segurança ou comunicação, do pagamento
a profissionais que fazem a venda do produto, do frete até a clientela etc.
Para perceber a aplicação da análise de custos, imagine uma fazenda que produz e
vende ovos e feijão, suas únicas fontes de receita. Nesse caso, em dado mês, considera-se que:

• A compra de uma vacina para aves, que não será usada nesse mês, é um
gasto considerado como investimento naquele mês16;
• A aquisição de uma colheitadeira para feijão é um investimento;
• A aquisição de ração para aves, já usada ao longo desse mês, é um gasto
considerado como custo direto (material direto);
• A remuneração de profissionais que coletam ovos é um custo direto (mão
de obra direta);
• A remuneração de alguém que irá gerenciar toda fazenda é um custo
indireto (mão de obra indireta);
• O combustível usado no escoamento de toda a produção da fazenda para a
cidade é uma despesa.

Esses são apenas exemplos de gastos que podem acontecer nessa fazenda, mas é o
suficiente para entender a finalidade da análise de custos. A partir dessa classificação, pode-se

12
Como matérias-primas e embalagens.
13
Profissionais que trabalham diretamente na fabricação do produto.
14
Como materiais secundários, que também compõem o produto, mas em menor grau de importância que
matérias-primas; e materiais auxiliares, que são utilizados na produção, mas não compõem o produto. Por
exemplo, na fabricação de uma camisa, o tecido é uma matéria-prima, enquanto botões e linhas são materiais
secundários, e o lubrificante usado em equipamentos é um material auxiliar.
15
Profissionais que trabalham na fábrica, mas não diretamente com a manipulação de insumos até a obtenção do
produto, a exemplo de gerentes de produção ou profissionais de serviços gerais.
16
Vale observar que, se essa vacina sair do estoque no próximo mês, então esse gasto passa a ser computado
como um custo realizado. Com efeito, se a empresa deseja calcular o custo realizado em determinado mês, então
todas as retiradas de materiais do estoque que ocorreram naquele mês devem ser contabilizadas. Por outro lado,
se for pretendido calcular o investimento feito em certo mês, as aquisições de materiais que entraram em
estoque, mas não foram utilizadas na produção nesse período, devem ser computadas.
45

associar cada gasto a cada unidade produzida, sejam ovos ou feijão. Por exemplo, o custo de
ração é um gasto que deve ser alocado apenas na formação de preço da dúzia de ovos. Nesse
caso, se nesse mês foram gastos R$ 20 mil em ração e foram produzidas 15.000 dúzias no
mês, então o preço de venda da dúzia deve considerar R$ 1,33/dúzia, dentre outros gastos.
Por outro lado, não se pode associar custos indiretos e despesas a unidades
produzidas, exceto por algum critério para rateio entre os produtos ofertados. Por exemplo, se
a remuneração da pessoa que gerencia a fazenda é R$ 1.000/mês e ela dedica 60% de seu
tempo para acompanhar a produção de ovos e 40% para a produção de feijão, então um
critério de rateio seria alocar R$ 600 na produção de ovos e R$ 400 na produção de feijão.
Assim, particularmente à produção de ovos, se foram produzidas 15.000 dúzias naquele mês,
então seu preço de venda também deve considerar R$ 0,04/dúzia (= R$ 600 / R$ 15.000).
A partir desse exemplo, pode-se refletir sobre a importância da análise de custos
na formação de preços. No caso da dúzia de ovos, imagine que além dos R$ 1,33/dúzia
relativos à ração e dos R$ 0,04/dúzia quanto à remuneração da gerência, ainda há outros R$
2,00/dúzia associados aos outros gastos da fazenda, devidamente rateados. Então, para não
haver prejuízo, o preço de venda da dúzia de ovos não deve ser inferior a R$ 3,37/dúzia.
Logicamente, isso não significa que a firma definirá o preço nesse mercado. Na
verdade, é a interação entre demanda e oferta que determinará o preço de equilíbrio. Dessa
maneira, se esse preço for R$ 4,00/dúzia, a firma tratada no exemplo terá lucros
extraordinários de R$ 0,63/dúzia. Caso contrário, se o preço de mercado for R$ 3,00/dúzia, a
firma terá prejuízo equivalente a R$ 0,37/dúzia, algo realmente indesejável.
Como colocado anteriormente, a teoria econômica preconiza que, no longo prazo,
o preço de equilíbrio competitivo tende ao ponto mínimo da curva de custo médio, de forma
que firmas menos eficientes serão eliminadas do mercado. Por outro lado, as que continuam
ofertando continuarão maximizando lucros, dados os custos explícitos e implícitos. Deve-se
então perceber que essa terminologia é diferente daquela adotada pela análise de custos,
embora demonstrem diferenças sutis.

Em síntese, a escolha do tamanho ótimo pode levar em conta diversas


perspectivas, inclusive fundamentadas na teoria econômica. De forma geral, na prática,
recomenda-se determinar uma escala de produção que conduza a empresa à mais alta
rentabilidade ao longo da vida útil do projeto, maximizando-se o valor atual do fluxo de caixa
46

esperado, descontado a certa taxa de juros (isso será aprofundado na seção relacionada ao
plano financeiro do projeto). Obviamente, essa escolha dependerá do mercado que se deseja
atingir (e isso leva em conta o estágio no ciclo de vida, a distribuição geográfica etc.), dos
recursos necessários para instalação e produção (disponibilidades para investimento e
operação), bem como aspectos técnicos (como a escolha da disposição física, por produto ou
por processo).
Além disso, deve-se considerar: (i) investimento na construção do processo; (ii)
custo de oportunidade do capital investido na capacidade instalada; (iii) custo de oportunidade
do tempo de construção de uma fábrica nova ou de ampliação de uma existente; (iv) custo
associado às economias de escala (custo de oportunidade de não ter capacidade para atender
demandas futuras); (v) gastos relativos à estrutura fiscal (ocorrência de impostos e/ou
subsídios); e (vi) vida útil do projeto, conjugada às expectativas de inovações tecnológicas
(possibilidade de obsolescência).

3.3 Decisões de localização


Assim como a determinação do tamanho, a análise da escolha locacional geralmente está
limitada a uma série de fatores, como disponibilidade de recursos para investimento, tamanho
do mercado e questões legais. Contudo, estudar a localização é essencial para evitar erros que
significarão desperdício de investimento.
A princípio, ao se observar opções de localização, aconselha-se selecionar aquela
que proporcione maior vantagem quanto ao valor atual do fluxo de caixa esperado. Nesse
aspecto, alguns gastos são elementares na escolha locacional: (i) as entradas, referentes ao
custo de materiais diretos, ou seja, com a aquisição e o transporte de matérias-primas; (ii) os
processos, associados ao custo de transformação, que inclui a mão de obra direta
(profissionais que manipulam diretamente na obtenção do produto) e custos indiretos de
fabricação (energia, materiais secundários, mão de obra indireta etc.); e (iii) as saídas, que
dizem respeito às despesas com distribuição, ou seja, despesas com frete de vendas ou acesso
à clientela.
Dessa maneira, os seguintes fatores serão determinantes para a seleção da
localização: (i) localização dos materiais utilizados na produção; (ii) disponibilidade de mão
de obra; (iii) disponibilidade de energia, saneamento e rede de comunicações; (iv) terrenos
disponíveis, clima e fatores topográficos; (v) facilidades de transporte, tanto para a entrada de
materiais, quanto para o escoamento do produto final; (vi) distância e dimensão do mercado a
ser atingido; (vii) condições de vida e normas; e (viii) estrutura fiscal e incentivos públicos.
47

Também é necessário levar em conta que duas perspectivas devem ser


consideradas na escolha localização. Primeiro, a ótica da macrolocalização, que seria a
escolha de uma região ou uma cidade onde ficará a unidade produtiva. Nesse aspecto, pesam
principalmente fatores como custo de transporte, mão de obra, acesso a materiais, políticas
locacionais etc.
Após a escolha da macrolocalização, a análise deve abordar a seleção da
microlocalização, que seria o local específico a ser escolhido dentro da região ou da cidade.
Nesse caso, pesam questões como área (valor, topografia, característica de solo etc.),
exigência de infraestrutura (acesso viário, energia, saneamento, comunicações etc.), a
regulamentação do solo (é fundamental estudar o plano diretor do município), a expectativa
de obras futuras (como a possibilidade de se ampliar a capacidade produtiva em decorrência
de um crescimento de mercado), dentre outras.
A escolha da localização ótima pode se dar através do método dos orçamentos
comparados, que considera uma série de critérios quantitativos e qualitativos. Com relação
aos critérios quantitativos, o primeiro seria o peso das entradas. Nesse caso, quando o
processo exige matéria-prima volumosa ou pesada (a exemplo das indústrias de cimento e
celulose), a escolha locacional tende a privilegiar a proximidade com as fontes de matéria-
prima.
Outro critério quantitativo seria o peso das saídas. Nesse aspecto, quando um
mercado específico tem grande importância para a organização, com considerável despesa de
distribuição (a exemplo da indústria de bebidas), a localização ótima tende a aproximar-se do
mercado consumidor.
Um último critério quantitativo refere-se ao peso dos processos, que é
significativo quando as operações dependem de recursos como mão de obra abundante ou
com características específicas (como no setor de tecnologia de informação), ou contam com
restrições de impacto ambiental. Nesse sentido, na escolha da localização ótima, pesam
fatores que facilitam o processamento dos materiais para obtenção do produto final.
No método dos orçamentos comparados, são ainda considerados os fatores
qualitativos, que estão associados a preferências particulares às pessoas que forma a gestão da
organização. Nesse aspecto, deve-se considerar o custo de oportunidade de optar por uma
localização em relação a outra, o que está basicamente associado a características de
qualidade de vida.
Ao se considerar todos esses critérios, recomenda-se começar o estudo pela
determinação da macrolocalização, analisando posteriormente a microlocalização. É também
48

aconselhável atribuir pesos aos fatores considerados, como implantação, operação,


distribuição etc. Ressalta-se ainda ser fundamental a antecipação de possíveis expansões, o
que reforça a necessidade de avaliação do entorno.
Além do método dos orçamentos comparados, há ainda a teoria clássica da
localização ótima, que é muito semelhante, mas menos abrangente. Basicamente, considera-
se apenas o somatório dos gastos de reunião (transporte de insumos) e de distribuição
(transporte de produtos), em cada opção avaliada de localização, selecionando-se aquela que
apresentar menor gasto total. Apesar de mais simples, costuma-se ainda difundir essa
abordagem por facilitar a aplicação exemplos de decisão locacional, como o apresentado a
seguir.
Considere uma fábrica que pretende instalar sua unidade produtiva em
determinada cidade, dentro de cinco opções: C1, C2, C3, I1 e I2. As cidades C1, C2 e C3
seriam boas opções porque são importantes centros consumidores, enquanto as cidades I1 e I2
também são consideradas no estudo porque representam origens de insumos muito relevantes.
Em seu estudo, considera-se que a fábrica irá produzir 1.000 t/ano e deverá vender
250 t/ano para a cidade C1, 300 t/ano para a cidade C2 e 450 t/ano para a cidade C3. Por outro
lado, quanto à necessidade de aquisição de insumos, a fábrica demandará 800 t/ano, sendo
450 t/ano advindas da cidade I1 e 350 t/ano da cidade I2.
As distâncias entre cidades são representadas da seguinte maneira:
Trecho Meio de transporte Distância
C1-C2 Rodoviário 100
C1-C3 Rodoviário 85
C1-I1 Rodoviário 140
C1-I2 Ferroviário 125
C2-C3 Rodoviário 160
C2-I1 Fluvial 50
C2-I2 Rodoviário 70
C3-I1 Rodoviário 25
C3-I2 Fluvial 40
I1-I2 Ferroviário 15
Além disso, os preços de transporte de insumos e produtos são representados
como a seguir. Nesse aspecto, vale observar que o preço do transporte de produtos costuma
ser maior que o preço do transporte de insumos, já que o seguro de produtos é mais caro que o
seguro pago pelo transporte de insumos.
Transporte de insumos Transporte de produtos
Meio de transporte
(R$/km/t) (R$/km/t)
Rodoviário 10,00 10,50
Ferroviário 8,50 8,75
Fluvial 8,00 8,10
49

No exemplo disposto, através de uma planilha, é possível cruzar as informações e


obter os gastos de reunião e de distribuição em cada opção locacional. Por exemplo, se a
fábrica decidisse optar pela cidade C1, seria necessário reunir insumos advindos de I1 e I2.
Nesse caso, como seriam requeridas 450 t/ano de I1, transportadas por 140 km via transporte
rodoviário (cujo preço é R$ 10,00/km/t para insumos), o que anualmente corresponderia a
450 ∙ 140 ∙ 10,00 = 𝑅$ 630.000. Por sua vez, para reunir as 350 t/ano advindas de I2,
transportadas por 125 km via ferrovia (R$ 8,50/km/t para insumos), o gasto necessário
corresponderia a 350 ∙ 125 ∙ 8,50 = 𝑅$ 371.875. Dessa maneira, apenas relativo ao gasto de
reunião de insumos (𝐺𝑅), a fábrica gastaria 𝐺𝑅 = 450 ∙ 140 ∙ 10,00 + 350 ∙ 125 ∙ 8,50 =
630.000 + 371.875 = 𝑅$ 1.001.875/𝑎𝑛𝑜, caso optasse pela localização na cidade C1.
Por outro lado, quanto aos gastos de distribuição (𝐺𝐷), somente para destinar as
300 t/ano de produtos para C2, a fábrica teria que gastar 300 ∙ 100 ∙ 10,50 = 𝑅$ 315.000
anualmente. Para C3, esses gastos já seriam equivalentes a 450 ∙ 85 ∙ 10,50 = 𝑅$ 401.625.
Portanto, quanto ao gasto de distribuição de produtos (𝐺𝐷), ao optar pela cidade C1, a fábrica
gastaria 𝐺𝐷 = 300 ∙ 100 ∙ 10,50 + 450 ∙ 85 ∙ 10,50 = 𝑅$ 716.625.
A partir desses cálculos, obtém-se que os gastos totais de reunião e distribuição
(𝐺𝑅𝐷), ocorridos se a fábrica decidisse pela localização na cidade C1, seriam anualmente
equivalentes a 𝐺𝑅𝐷 = 𝐺𝑅 + 𝐺𝐷 = 1.001.875 + 716.625 = 𝑅$ 1.718.500. Esse valor deve
ser comparado com o total obtido para as demais opções de localização, de forma que a
localização ótima se refere àquela cidade que apresentar menor gasto total. Esses cálculos são
sugeridos como exercício (para conferência, os cálculos apontam para a cidade I1 como
localização ótima, em que 𝐺𝑅𝐷 = 𝑅$ 651.750/ano).
50

4 QUADROS FINANCEIROS DO PROJETO

A presente seção procura orientar a concepção do plano financeiro, particularmente a respeito


do preenchimento de uma série de quadros necessários para a análise da viabilidade e do risco
do investimento.

4.1 Quadro de orçamentos


O primeiro quadro essencial a apresentar diz respeito aos orçamentos de todos os itens que
serão investidos na organização. Nesse aspecto, o objetivo é indicar o valor e a composição do
investimento a ser realizado. Os itens de inversão (como normalmente são conhecidos os itens
de investimento) devem ser organizados em categorias distintas. Isso é importante porque, por
um lado, facilita a observação da finalidade que o item terá dentro da organização; e, por
outro, permite associar percentuais de depreciação que serão utilizados nos cálculos dos
resultados esperados.
Além de relacionar cada item de inversão e indicar seu valor unitário e as
quantidades necessárias, gerando o valor total a ser investido, deve-se também indicar a fonte
de recursos em cada caso. Por exemplo, dentre os itens de inversão, se serão necessários dois
caminhões cujo valor unitário corresponde a R$ 200 mil, então serão necessários R$ 400 mil
apenas para cobrir essa aquisição. Além dessas informações, deve-se indicar a fonte desses R$
400 mil, ou seja, se será completamente coberto por recursos próprios ou se haverá alguma
parcela de recursos de terceiros (geralmente bancos). Nesse caso, por exemplo, pode-se
considerar que 70% será financiado por determinado banco, enquanto o restante será coberto
por recursos próprios.
O quadro de orçamentos também deve fazer referência aos investimentos que já
foram realizados. Apesar de não ser recomendado fazer essa execução antes mesmo da análise
do projeto, algumas empresas podem realizar investimentos prévios, os quais dever ser
devidamente registrados no quadro de orçamentos.
Um exemplo de quadro de orçamentos é disponibilizado no Apêndice A. Além
disso, é importante ressaltar algumas práticas normalmente utilizadas por instituições locais
de financiamento:

• Geralmente, os bancos aceitam financiar até 80% do valor total de


investimento, de forma que exigem um mínimo de 20% em recursos
próprios para a empresa investir (essa parcela de 20% é chamada
51

contrapartida de recursos próprios, uma forma de fazer com que a empresa


também esteja comprometida com a viabilidade do investimento);
• Além da contrapartida de recursos próprios, os bancos normalmente
exigem a apresentação de garantias que somem 130% do valor financiado,
o que pode ser coberto por hipoteca de imóveis, por exemplo;
• Caso a empresa não consiga apresentar essas garantias, os próprios itens
de investimento (sobretudo equipamentos) podem ser hipotecados, ainda
que, nesses casos, a parcela financiada deverá cair para 70% (assim, a
contrapartida de recursos próprios crescerá para 30%);
• Caso a empresa já tenha realizado investimentos alguns meses antes de
solicitar o financiamento, pode-se ainda incluir esses itens na proposta
(isso é comum, por exemplo, quando um terreno fora adquirido
recentemente pela empresa, justamente o local onde será realizado o
investimento);
• Para cada item de inversão, normalmente é exigida a apresentação de ao
menos dois orçamentos de diferentes fornecedores, colocando-se no
quadro apenas o menor valor orçado (isso é exigido sobretudo para
programas de financiamento que oferecem condições de pagamento
subsidiadas pelo governo);
• Há itens de inversão que podem agrupar diferentes produtos ou serviços
(em vez de detalhar itens como X colheres, Y garfos, Z facas etc., bastaria
agrupá-los em um só item descrito como utensílios de cozinha, por
exemplo), o que é bastante conveniente nos casos de materiais de
informática, móveis, utensílios e até mesmo obras civis (nesses casos,
pode-se agrupar em itens como serviços preliminares, fundação, estrutura,
alvenaria, acabamento, pintura etc.);
• Cada item de inversão deve ter uma unidade associada, como quilograma
ou quilômetro (aquisição de 45.000 kg de aço para construção de 1 km de
linha férrea, no valor de R$ 3,00/kg), ou hectare (aquisição de 5 hectares
de terreno para plantio de capim, no valor de R$ 8 mil/ha), ou até mesmo
unidade (aquisição de duas unidades de caminhão, no valor de R$ 200
mil/unidade);
52

• Há itens de inversão cuja unidade não é explícita (a exemplo de utensílios


de cozinha, como comentado anteriormente), então, nesses casos, é
comum associar esses itens a uma unidade chamada “verba” (por exemplo,
1 verba para utensílios de cozinha, no valor de R$ 10 mil);
• Sobretudo em projetos de implantação, é comum a necessidade de solicitar
financiamento também para capital de giro, de forma que este também
pode ser um dos itens de investimento (o dimensionamento desse capital
de giro é uma das importantes etapas do preenchimento do quadro de
orçamentos, o que será detalhado adiante).

Metodologia para cálculo da necessidade de capital de giro


No quadro de orçamentos, como comentado, um dos itens de investimento a descrever refere-
se ao capital de giro, que representa a liquidez que permite as atividades do negócio. Em
geral, essa necessidade é dada pela diferença entre responsabilidades e recursos da empresa.
Pelo lado das responsabilidades, destaca-se que esta deve cobrir as seguintes
obrigações: (i) caixa mínimo, referente às necessidades específicas para saldar suas despesas
(gastos relativos a sua estrutura administrativa); (ii) financiamento de vendas, ou seja, deve
cobrir o tempo que a empresa concede aos clientes para pagar suas dívidas (caso a empresa
permita vendas a prazo); e (iii) estoques, ou seja, cobrir o tempo que a empresa leva para
estocar seus materiais, processá-los, além de manter os produtos acabados até sua venda.
Por sua vez, pelo lado dos recursos, levam-se em conta todos os adiantamentos
dados à empresa: (i) crédito de fornecedores, referente aos prazos de pagamento dados pelos
fornecedores de materiais; e (ii) descontos de duplicatas, ou seja, todo adiantamento obtido
pela empresa, via instituições financeiras, por boletos futuros a serem pagos pelos clientes.
Pelo lado dos recursos, a empresa ainda pode obter financiamentos do capital de
giro. Porém, essa questão não é tratada nesta metodologia, já que, dada a necessidade de
capital de giro da empresa, esta poderá decidir se tal necessidade será suprida por recursos
próprios ou de terceiros. Diante do exposto, para se estimar a necessidade de capital de giro,
recomenda-se efetuar os cálculos a seguir, a partir de uma série de identidades financeiras.

𝑁𝑒𝑐𝑒𝑠𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝐺𝑖𝑟𝑜 = 𝑅𝑒𝑠𝑝𝑜𝑛𝑠𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠 − 𝑅𝑒𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜𝑠


(1) (2)
53

(1) 𝑅𝑒𝑠𝑝𝑜𝑠𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠 = 𝐶𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑚𝑖́ 𝑛𝑖𝑚𝑜 + 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑖𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 + 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠


(1.1) (1.2) (1.3)

𝐷𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙
(1.1) 𝐶𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑚𝑖́𝑛𝑖𝑚𝑜 = ∙ 𝐶𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑒𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑎𝑠 𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎𝑠
360
(1.1.1) (1.1.2)
𝐷𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙
(1.1.1) refere-se à média diária de despesas do negócio, lembrando que
360

despesas são gastos relativos a sua estrutura administrativa (aluguel do escritório,


pessoal administrativo, comissões, bonificações, impostos etc.).

(1.1.2) 𝐶𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑒𝑖𝑟𝑜 𝑑𝑎𝑠 𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎𝑠 é a diferença entre (i) o tempo médio que a
empresa leva para receber seus recursos (também conhecido como ciclo
operacional, ou seja, o tempo que leva desde a aquisição de materiais até o efetivo
recebimento pelas vendas) e (ii) o tempo médio que a empresa tem para saldar
suas despesas. Dessa forma, pode-se colocar a seguinte equação17:
𝐶𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐. 𝑑𝑎𝑠 𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎𝑠 = 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑒́ 𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠 +
𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑚. +𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑑. 𝑎𝑐𝑎𝑏𝑎𝑑𝑜𝑠 +
𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑚. 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 − 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑑𝑒 𝑝𝑎𝑔𝑎𝑚. 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎𝑠

𝑉𝑒𝑛𝑑𝑎 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙
(1.2) 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑖𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 = ∙ 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑒́ 𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑚. 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠
360
(1.2.1) (1.2.2)
𝑉𝑒𝑛𝑑𝑎 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙
(1.2.1) refere-se à média diária de receitas do negócio.
360

(1.2.2) 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑒́ 𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑚. 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 é o tempo médio dado aos clientes para
pagar suas compras. Nesse caso, sugere-se usar uma média ponderada pelo
volume de vendas. Por exemplo, imagine-se que a receita total anual seja de R$
700 mil, sendo R$ 300 mil pagos à vista, R$ 100 mil em 30 dias, R$ 90 mil em 60
dias, R$ 60 mil em 90 dias, R$ 50 mil em 120 dias e o mesmo montante em 150 e
180 dias. Assim, pode-se calcular que 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑚. 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 =
300∙0+100∙30+90∙60+60∙90+50∙120+50∙150+50∙180
= 51,86 𝑑𝑖𝑎𝑠.
700

17
Nessa abordagem, sugere-se utilizar médias ponderadas. Por exemplo, quanto ao prazo médio de estoque de
materiais, imagine-se que o gasto total anual com materiais seja de R$ 100 mil, sendo R$ 50 mil em materiais
primários, R$ 20 mil em materiais secundários, R$ 5 mil em materiais auxiliares e R$ 25 mil em embalagens.
Assim, se os prazos médios de estocagem forem de 10 dias para materiais primários, 30 dias para materiais
secundários, 60 dias para materiais auxiliares e 45 dias para embalagens, pode-se então calcular que
50∙10+20∙30+5∙60+25∙45
𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑒́ 𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠 = = 25,25 𝑑𝑖𝑎𝑠.
100
54

(1.3) 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠 = 𝑀𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠 + 𝑃𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 + 𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠 𝑎𝑐𝑎𝑏𝑎𝑑𝑜𝑠


(1.3.1) (1.3.2) (1.3.3)
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑚 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠
(1.3.1) 𝑀𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠 = ∙ 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠,
360

lembrando que o custo com materiais inclui materiais primários, secundários e


auxiliares, além de embalagens, bem como o prazo médio em estoque se refere a
uma média ponderada pelos volumes de gastos com cada um desses itens18.
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑚 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑚.
(1.3.2) 𝑃𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = ∙ 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑒́ 𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑚.,
360

lembrando que o prazo médio de processamento se refere ao tempo que a empresa


leva desde a retirada dos materiais do almoxarifado (início do processo de
produção) até a obtenção do produto acabado (o qual será enviado ao estoque).
Além disso, salienta-se que o custo com processamento equivale ao Custo de
Transformação (MOD mais CIF, exceto materiais secundários e auxiliares19).
𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑑.𝑎𝑐𝑎𝑏𝑎𝑑𝑜𝑠
(1.3.3) 𝑃𝑟𝑜𝑑. 𝑎𝑐𝑎𝑏𝑎𝑑𝑜𝑠 = ∙ 𝑃𝑧. 𝑚𝑑. 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑑. 𝑎𝑐𝑎𝑏.,
360

lembrando que o valor anual dos produtos acabados não se refere ao valor da
receita, mas sim ao valor da produção (com menos rigor, pode-se efetuar essa
substituição). Além disso, destaca-se que o prazo médio de estoque de produtos
acabados considera o tempo entre a obtenção do produto acabado (o qual sai da
linha de produção até o almoxarifado) até a efetivação de sua venda (quando se dá
a emissão da nota fiscal).

(2) 𝑅𝑒𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜𝑠 = 𝐶𝑟𝑒́ 𝑑𝑖𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠 + 𝐷𝑒𝑠𝑐𝑜𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑑𝑢𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑡𝑎𝑠


(2.1) (2.2)

𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑚 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠


(2.1) 𝐶𝑟𝑒́ 𝑑𝑖𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑. = ∙ 𝑃𝑧. 𝑚𝑑. 𝑝𝑎𝑔𝑎𝑚. 𝑎𝑜𝑠 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑.,
360

lembrando que o custo com materiais inclui materiais primários, secundários e


auxiliares, além de embalagens. Além disso, o prazo médio de pagamento aos
fornecedores se refere a uma média ponderada pelos volumes de gastos com cada
fornecedor20.

18
Outra forma de calcular a identidade 1.3.1 seria tomar uma soma para vários tipos de materiais utilizados:
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑚 𝑜 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑗
𝑀𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠 = ∑𝑛𝑗=1 ( ∙ 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑑𝑜 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑗).
360
19
Apesar de os gastos com materiais secundários e auxiliares serem contabilizados como CIF, estes já estão
inclusos no estoque de materiais (identidade 1.3.1).
20
Outra forma de calcular a identidade 2.1 seria tomar uma soma para vários tipos de fornecedores utilizados:
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑚 𝑜 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟 𝑗
𝐶𝑟𝑒́ 𝑑𝑖𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠 = ∑𝑛𝑗=1 ( ∙ 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟 𝑗).
360
55

(2.2) 𝐷𝑒𝑠𝑐𝑜𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑑𝑢𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑡𝑎𝑠 = 𝐷𝑢𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑒𝑟 ∙ % 𝑑𝑢𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑡𝑎𝑠 𝑎 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑟,


ou seja, trata-se do valor adiantado, através de instituições financeiras, referente a
boletos futuros a serem pagos pelos clientes.

A título de ilustração dessa metodologia, considere que uma empresa precise


calcular sua necessidade de capital de giro com base nas seguintes informações:

• Prazo médio de estoque de materiais: 30 dias;


• Prazo médio de processamento: 1 dia;
• Prazo médio de estoque de produtos acabados: 7 dias;
• Prazo médio de recebimento de vendas: 60 dias;
• Prazo médio de pagamento aos fornecedores: 30 dias;
• Prazo médio de pagamento de despesas: 30 dias;
• Receita anual: R$ 700 mil;
• Valor anual de produtos acabados: R$ 700 mil;
• Duplicatas a receber: R$ 400 mil;
• Percentual de duplicatas a descontar (adiantamento): 10%;
• Custo anual com materiais21: R$ 100 mil;
• Custo anual de processamento22: R$ 400 mil;
• Despesa anual: R$ 50 mil.

Como solução, sugere-se então passar pelas seguintes etapas de cálculo:

• 𝐶𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐. 𝑑𝑎𝑠 𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎𝑠 = 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠 +


𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑚. +𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑑. 𝑎𝑐𝑎𝑏𝑎𝑑𝑜𝑠 +
𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑚. 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 − 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑑𝑒 𝑝𝑎𝑔𝑎𝑚. 𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎𝑠 =
30 + 1 + 7 + 60 − 30 = 68 𝑑𝑖𝑎𝑠;
𝐷𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 50.000
• 𝐶𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑚𝑖́𝑛𝑖𝑚𝑜 = ∙ 𝐶𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐. 𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎𝑠 = ∙ 68 =
360 360

𝑅$ 9.444,44;
𝑉𝑒𝑛𝑑𝑎 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙
• 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐𝑖𝑎𝑚. 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 = ∙ 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑚. 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 =
360
700.000
∙ 60 = 𝑅$ 116.666,67;
360

21
Incluindo materiais primários, secundários e auxiliares, além de embalagens.
22
Equivalente ao Custo de Transformação = MOD + CIF, exceto materiais secundários e auxiliares.
56

𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑚 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠


• 𝑀𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠 = ∙ 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑡. =
360
100.000
∙ 30 = 𝑅$ 8.333,33;
360

𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑚 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑚.


• 𝑃𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = ∙ 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑚𝑑. 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑚. =
360
400.000
∙ 1 = 𝑅$ 1.111,11;
360

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑝𝑟𝑜𝑑.𝑎𝑐𝑎𝑏.


• 𝑃𝑟𝑜𝑑. 𝑎𝑐𝑎𝑏𝑎𝑑𝑜𝑠 = ∙ 𝑃𝑧. 𝑚𝑑. 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑑. 𝑎𝑐𝑎𝑏. =
360
700.000
∙ 7 = 𝑅$ 13.611,11;
360

• 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠 = 𝑀𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠 + 𝑃𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 + 𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠 𝑎𝑐𝑎𝑏𝑎𝑑𝑜𝑠 =


8.333,33 + 1.111,11 + 13.611,11 = 𝑅$ 23.055,56;
𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑐/𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑖𝑠
• 𝐶𝑟𝑒́ 𝑑. 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑. = ∙ 𝑃𝑧. 𝑚𝑑. 𝑝𝑎𝑔𝑎𝑚. 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑. =
360
100.000
∙ 30 = 𝑅$ 8.333,33;
360

• 𝐷𝑒𝑠𝑐. 𝑑𝑢𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑡𝑎𝑠 = 𝐷𝑢𝑝𝑙𝑖𝑐. 𝑎 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑒𝑟 ∙ % 𝑑𝑒 𝑑𝑢𝑝𝑙𝑖𝑐. 𝑎 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑟 =


400.000 ∙ 10% = 400.000 ∙ 0,10 = 𝑅$ 40.000,00;

• 𝑅𝑒𝑠𝑝𝑜𝑠𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠 = 𝐶𝑥. 𝑚𝑖́𝑛𝑖𝑚𝑜 + 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑛𝑐. 𝑣𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 + 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠 =


9.444,44 + 116.666,67 + 23.055,56 = 𝑅$ 149.166,67;

• 𝑅𝑒𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜𝑠 = 𝐶𝑟𝑒́ 𝑑𝑖𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠 + 𝐷𝑒𝑠𝑐𝑜𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑑𝑢𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑡𝑎𝑠 =


8.333,33 + 40.000,00 = 𝑅$ 48.333,33;

• 𝑁𝑒𝑐𝑒𝑠𝑠𝑖𝑑. 𝑑𝑒 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝐺𝑖𝑟𝑜 = 𝑅𝑒𝑠𝑝𝑜𝑛𝑠𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠 − 𝑅𝑒𝑐𝑢𝑟𝑠𝑜𝑠 =


149.166,67 − 48.333,33 = 𝑅$ 100.833,33.

Então, conforme calculado, pode-se concluir que a liquidez necessária para


sustentar as atividades da empresa corresponde a R$ 100.833,33. Essa necessidade de capital
de giro pode ser suprida através de recursos próprios e/ou por meio de financiamento, estando
inclusa como um dos itens de investimento a descrever no quadro de orçamentos.

4.2 Quadro de cronograma de desembolsos


O próximo quadro a compor o plano financeiro do projeto diz respeito ao cronograma de
execução de cada itens de investimento. Assim, para cada item descrito no quadro de
57

orçamentos, deve-se indicar seu mês ou meses para desembolsos. Referido quadro tem a
finalidade de projetar a necessidade de aplicação de recursos ao longo do tempo, dado que,
em geral, leva-se algum tempo para concluir todo o investimento.
Um exemplo de cronograma de desembolsos é disponibilizado no Apêndice B.
Além disso, é importante ressaltar algumas práticas normalmente utilizadas por instituições
locais de financiamento:

• Caso o item de investimento já tenha sido executado, seu valor deve ser
lançado como desembolsado no mês atual (Mês 0), ou seja, aquele mês em
que a proposta será apresentada à instituição financeira;
• A maioria dos itens terá registro de apenas um desembolso, mas há casos
em que a execução levará mais tempo (por exemplo, para obras civis, os
desembolsos para um item de investimento como serviços de acabamento
devem levar meses);
• O cronograma de desembolsos deve seguir uma lógica racional, de forma
que investimentos em terrenos devem ocorrer antes de obras civis, que, por
sua vez, são seguidos por investimentos em instalações, aquisição de
equipamentos e demais itens (nesse caso, a execução do capital de giro só
deverá ocorrer após a execução de desembolsos de todos os demais itens
de investimento).

4.3 Quadro de usos e fontes


Nesse quadro, objetiva-se discriminar o investimento segundo usos e fontes. Assim, por um
lado, procura-se informar a maneira como os recursos foram e/ou serão aplicados na
organização, de acordo com diferentes grupos de investimento (obras civis, instalações,
equipamentos etc.). Por outro lado, faz-se o detalhamento de cada fonte dos recursos
aplicados, indicando-se a participação de recursos próprios da organização e/ou recursos de
terceiros, sobretudo as disponibilizadas por instituições financeiras. Nesse sentido,
obviamente, é imprescindível que a soma dos valores descritos em usos seja equivalente à
soma das fontes detalhadas.
O quadro também deve discriminar valores previstos e existentes. O previsto diz
respeito a todo investimento que será realizado e corresponde aos mesmos valores que estão
descritos no quadro de orçamentos. Contudo, vale lembrar que, no quadro de orçamentos, é
58

possível que alguns investimentos já tenham sido realizados (como a compra de um terreno,
conforme foi exemplificado no tópico 4.1). Nesses casos, mesmo estando inclusos no projeto,
esses valores devem ser classificados como existentes no quadro de usos e fontes.
No detalhamento de valores existentes, além desses investimentos já realizados e
que estão inclusos no projeto, deve-se tomar por referência o Balanço Patrimonial da
organização. Assim, por exemplo, contabiliza-se o valor total em equipamentos que a
organização já dispõe, antes mesmo da realização do investimento projetado. Obviamente, no
caso de projetos de implantação, não faz sentido considerar valores no existente do quadro de
usos e fontes, mas, assim mesmo, é comum registrar ao menos o valor do Capital Social de
abertura da organização.
Um exemplo de quadro de usos e fontes é ilustrado no Apêndice C. Através deste,
é possível notar que boa parte de suas informações advém de dados já dispostos no quadro de
orçamentos do projeto. Então, no quadro de usos e fontes, o acréscimo de informações refere-
se pragmaticamente ao valor dos ativos que já existem na empresa, algo não contemplado nos
quadros anteriores.

4.4 Quadro de estimativas de receitas


Nesse quadro, objetiva-se detalhar a composição das fontes de receita da organização, tanto os
valores atualmente obtidos, quanto aqueles projetados em consequência da realização do
investimento. Por exemplo, o projeto de uma indústria de televisores pode detalhar suas
receitas atual e futura entre vendas de aparelhos de tamanho A, B ou C. Por outro lado, o
projeto de uma avicultura de postura pode separar suas fontes de receita como vendas de
dúzias de ovos brancos ou ovos vermelhos. Por sua vez, o projeto de uma escola de línguas
pode discriminar suas receitas entre curso básico e curso avançado.
Observa-se que, em projetos industriais/agroindustriais e agropecuários, e mesmo
em muitos casos de projetos de serviços, é comum que as fontes de receita sejam facilmente
identificadas. Contudo, há casos em que não é simples separar tais fontes, sobretudo para
projetos comerciais, dada a amplitude de itens que podem compor as receitas do negócio. Isso
justifica considerar algum tipo de agrupamento. Por exemplo, o projeto de um supermercado
pode detalhar suas receitas entre grupos como materiais de limpeza, materiais de higiene,
bebidas, enlatados, cereais, laticínios, frutas/verduras, açougue etc.
Cada item discriminado no quadro de receitas deve trazer sua unidade de venda
(quilograma, metro quadrado, unidade, verba etc.) e seu preço unitário. Além disso, deve-se
indicar a capacidade produtiva anual de cada um desses itens, ou seja, o máximo que seria
59

possível produzir em cada caso, anualmente. É fundamental também explicitar o uso da


capacidade produtiva, isto é, o quanto da capacidade produtiva é de fato utilizada e convertida
em receita para o negócio23.
Essas informações devem ser descritas tanto para o ano atual, quanto para anos
futuros. O ano atual refere-se ao momento cujo projeto de investimento é elaborado. Assim,
deve-se informar a capacidade produtiva e o uso dessa capacidade que atualmente é
demonstrada pela empresa. Para projetos de implantação, portanto, não faz sentido incluir
quaisquer valores para o ano atual.
Por sua vez, quanto aos anos futuros, deve-se informar as alterações decorrentes
do investimento projetado. Realizado o investimento, espera-se que a capacidade produtiva
aumente, de forma que a receita deve também crescer.
Um exemplo de quadro de estimativas de receitas é disponibilizado no Apêndice
D. Além disso, é importante ressaltar algumas práticas normalmente utilizadas por instituições
locais de financiamento:

• Apesar de haver sentido em se considerar a inflação nas projeções, esta


não é uma prática comum, o que se justifica pela imprecisão nas previsões
ou mesmo pela indiferença no cálculo de indicadores de viabilidade e risco
(isso será tratado na seção 5)24;
• Já que não é comum considerar a inflação, os preços informados no
quadro de receitas são geralmente um retrato da situação atual;
• Mesmo que a maioria dos projetos leve em conta uma longa vida útil
(geralmente dez anos, o que será pormenorizado na seção 5), as projeções
de crescimento de receitas usualmente são feitas somente até o Ano 3
(conhecido como ano de estabilização), de forma que as receitas projetadas
para anos posteriores são apenas valores replicados deste terceiro ano;

23
No caso do projeto de um supermercado, uma sugestão é considerar a capacidade produtiva como o número
máximo de atendimentos que anualmente seria possível relizar. Por exemplo, no item de materiais de limpeza,
pode-se assumir que o supermercado poderia realizar, no máximo, 6 atendimentos/hora (um atendimento a cada
dez minutos), com ticket médio estimado em R$ 25,00 (isto é, a média de receita por atendimento, relativo
apenas a vendas de materiais de limpeza). Então, para esse item, seria possível realizar um máximo de 288
atendimentos/semana, considerando que o supermercado terá atividade de 48 horas/semana. Anualmente,
portanto, esse número corresponde a algo em torno de 15 mil atendimentos/ano. Ao se considerar 60% de uso da
capacidade produtiva, chega-se a pouco mais de 9 mil atendimentos/ano, o que corresponderia a uma receita
anual de R$ 225 mil apenas com materiais de limpeza.
24
Assim mesmo, é possível considerar projeções de inflação nos casos em que se espera que a variação nos
preços de fatores produtivos seja diferente da variação incidente sobre fontes de receita.
60

• Apesar de ser comum tomar o Ano 3 como ano de estabilização, há


projetos que consideram intervalos maiores, sobretudo projetos
agropecuários25;
• As instituições financeiras costumam questionar projetos que considerem
usos de capacidade produtiva acima de 90% (o que indicaria uma
sobrecarga) ou abaixo de 60% (o que indicaria uma intensa ociosidade),
suscitando a necessidade de redimensionamento do tamanho do
investimento26.

4.5 Quadro de estimativas de gastos com materiais


Além do quadro de receitas, é fundamental a descrição dos gastos atuais e previstos para a
atividade. Referidos gastos são detalhados em diferentes quadros, começando por aquele que
trata especificamente da necessidade de materiais, sejam matérias-primas, materiais
secundários, materiais auxiliares ou embalagens.
O quadro de gastos com materiais é bem semelhante ao quadro de receitas, no
sentido que também deve ser detalhado em diferentes itens, agrupados ou não. Além disso,
deve-se associar unidades, preços, quantidades necessárias caso a empresa opere no máximo
de sua capacidade produtiva, bem como o uso da capacidade produtiva em cada ano de
atividade, desde o ano atual até o ano de estabilização.
Quanto aos preços, salienta-se ainda que estes devem considerar não somente o
valor do material adquirido, mas também todos os gastos necessários para sua aquisição,
como frete e impostos irrecuperáveis27. Portanto, todos os gastos envolvidos nessa compra
devem ser contabilizados como custo de aquisição do material.

25
Por exemplo, o projeto de implantação de uma fazenda produtora de mangas deve considerar que não haja
receitas nos dois primeiros anos de atividade, já que ainda não será possível efetuar colheitas. Apenas no terceiro
ano é que as fruteiras começarão a produzir, assim mesmo com uma produtividade tímida. Nesse caso, somente
no Ano 5 é que a produção da mangueira, e portanto sua receita, costuma alcançar seu nível de estabilização.
26
Ainda assim, há muitos casos em que é possível justificar a utilização de percentuais menores que 60% de uso
da capacidade produtiva, sobretudo em projetos agropecuários, comerciais e de serviços. Por exemplo, imagine o
projeto de uma consultoria que tem capacidade para realizar 1.200 contratos/anos, mas, por ainda ser pouco
conhecida no mercado, não prevê realizar efetivamente mais que 600 contratos no primeiro ano de atividade.
Nesse caso, o uso da capacidade produtiva estará em 50%, contando-se com uma justificativa plausível para
demostrar tal percentual.
27
Impostos irrecuperáveis são aqueles cuja empresa não poderá descontar quando a venda do produto final for
realizada. São impostos diferentes do ICMS, por exemplo, cujo valor pago na aquisição de insumos pode ser
deduzido do valor devido ao se efetuar a venda do produto final. Portanto, um imposto irrecuperável, a exemplo
do Imposto de Importação, não permite o desconto posterior de seu valor gasto, de forma que deve entrar no
cálculo do custo de aquisição do material.
61

Um exemplo de quadro de estimativas de gastos com materiais é disponibilizado


no Apêndice E. Além disso, é importante ressaltar algumas práticas normalmente utilizadas
por instituições locais de financiamento:

• Assim como no quadro de receitas, não é comum considerar a inflação nas


projeções de gastos;
• As projeções de gastos também costumam ser feitas somente até o ano de
estabilização, geralmente o Ano 3;
• Os percentuais de uso da capacidade produtiva devem estar coerentes com
aqueles descritos no quadro de estimativas de receitas.

4.6 Quadro de estimativas de gastos com mão de obra


Após discriminar os gastos com materiais, deve-se detalhar custos e despesas com mão de
obra. Assim, não só profissionais que trabalham e trabalharão diretamente no processo
produtivo serão listados (o que configuram custos), mas também pessoas envolvidas na
estrutura administrativa do negócio (cujas remunerações são caracterizadas como despesas).
O quadro de gastos com mão de obra deve relacionar todos os cargos ou funções
na organização, o nível de instrução requerido em cada caso, sua remuneração, a quantidade
de profissionais necessária se a empresa operasse no máximo de sua capacidade produtiva,
bem como o uso da capacidade produtiva em cada ano de atividade, desde o ano atual até o
ano de estabilização. Cada cargo/função deve ser classificado em mão de obra fixa (cuja
quantidade de profissionais independe do nível de produção), mão de obra variável (cuja
quantidade varia de acordo com o nível de produção e geralmente diz respeito ao custo com
mão de obra direta) e diretoria (em que normalmente recebe honorários, em vez de salário, e
tem quantidade fixa em relação ao nível de produção).
Quanto à remuneração em cada cargo/função, deve-se considerar não somente seu
salário, mas também férias, décimo terceiro, auxílios e tributos. Em geral, as instituições
locais de financiamento consideram que o valor gasto em salários deve ser acrescido em 80%,
referentes a todos os encargos sociais. Particularmente a encargos da diretoria, esse percentual
corresponde a somente 20%.
Vale observar que é possível, em certos casos, relacionar um mesmo cargo/função
como mão de obra fixa e como mão de obra variável ao mesmo tempo. Esse é o caso de
alguns projetos industriais que podem demandar certa quantidade fixa de operários,
62

independentemente do nível de produção, e ter outra parcela variável de acordo com o uso da
capacidade produtiva.
Além disso, é importante reforçar que o preenchimento desse quadro segue a
mesma lógica empregada nos quadros de receitas e gastos com materiais, indicando-se as
quantidades necessárias no máximo da capacidade produtiva, algo que deve se alterar quando
se compara as situações antes e após a realização do investimento.
Um exemplo de quadro de estimativas de gastos com mão de obra é
disponibilizado no Apêndice F. Além disso, é importante ressaltar algumas práticas
normalmente utilizadas por instituições locais de financiamento:

• Novamente, não é comum considerar a inflação nas projeções;


• As projeções se restringem até o ano de estabilização, geralmente o Ano 3;
• Os percentuais de uso da capacidade produtiva devem estar coerentes com
aqueles descritos no quadro de estimativas de receitas.

4.7 Quadro de estimativas de gastos com depreciação, manutenção e seguros


Outra importante estimativa a descrever refere-se a gastos particularmente associados ao ativo
imobilizado da organização. Nesse aspecto, sabe-se que o uso de construções civis,
instalações, equipamentos, veículos, móveis etc., não é infinito, depreciando-se até o final de
suas vidas úteis. Então, os gastos com depreciação, mesmo que não exijam desembolsos de
fato, precisam ser registrados porque irão refletir na evolução do ativo existente na
organização. Por sua vez, quanto aos gastos com manutenção e seguros, estes de fato exigem
desembolsos, justamente para pagar serviços de assistência técnica, adquirir de peças de
reposição, bem como cobrir eventuais sinistros.
Ressalta-se que, neste quadro, não se faz dissociação entre custos e despesas, mas,
como comentado anteriormente, a abordagem da análise de custos distingue esses gastos caso
a depreciação incida, por exemplo, sobre algo que faça parte da linha de produção (essa
depreciação, portanto, seria configurada como custo) ou sobre algo que componha a estrutura
organizacional do negócio (o que se classificaria como despesa). A depreciação de um veículo
usado no frete de entrega de produtos finais, por exemplo, deve ser computada como despesa.
Por simplificação, leva-se em conta que a depreciação anual ocorra de maneira
linear até o final da vida útil, sendo calculada como um percentual do valor do ativo na época
de sua aquisição. Por exemplo, se a vida útil de um equipamento de informática corresponde a
63

cinco anos, então sua taxa anual de depreciação corresponderá a 20% a.a., pois 1⁄5 = 0,2.
Assim, se o valor de aquisição desse equipamento for R$ 10 mil, então a depreciação será de
R$ 2 mil a cada ano, até que seu valor seja completamente exaurido no final dos cinco anos de
vida útil.
Em análises mais criteriosas, pode-se calcular o percentual de depreciação sobre a
diferença entre o valor de aquisição e o valor de sucata, avaliado no final de sua vida útil. A
partir do mesmo exemplo, se for possível vender o equipamento de informática no final de
sua vida útil por 15% do valor inicial, ou seja, por R$ 1.500 mil, então o valor depreciado
anualmente já seria R$ 1.700/ano, pois 0,2 ∙ (10.000 − 1.500) = 0,2 ∙ 8.500 = 1.700.
Um exemplo de quadro de estimativas de gastos com depreciação, manutenção e
seguros é disponibilizado no Apêndice G. Ressalta-se que o quadro é dividido em gastos que
devem incidir sobre o ativo existente e aqueles que incidirão sobre os itens que irão compor o
investimento projetado. Além disso, destacam-se os seguintes parâmetros normalmente
utilizados por instituições locais de financiamento:

• A vida útil de construções civis é avaliada em 25 anos, de forma que sua


taxa de depreciação é computada como 4% a.a.;
• A vida útil de instalações e equipamentos é avaliada em 15 anos, de forma
que sua taxa de depreciação é computada como 6,7% a.a.;
• A vida útil de móveis e utensílios é avaliada em dez anos, de forma que
sua taxa de depreciação é computada como 10% a.a.;
• A vida útil de veículos e equipamentos de informática é avaliada em cinco
anos, de forma que sua taxa de depreciação é computada como 20% a.a.;
• O percentual de gastos com manutenção geralmente é avaliado como 1,5%
a.a., calculado com base no valor do ativo;
• O percentual de gastos com seguros geralmente é avaliado como 2,5%
a.a., calculado com base no valor do ativo;
• Especificamente para veículos, o percentual de gastos com seguros
geralmente é avaliado como 4% a.a.

4.8 Quadro de estimativas de gastos com demais CIF


Como já discutido, os custos são gastos relacionados à produção e são classificados em
diretos ou indiretos. Os custos diretos são dissociados em materiais diretos, já descritos no
64

quadro de estimativa de gastos com materiais; e mão de obra direta, contemplados no quadro
de mão de obra. Quanto aos custos indiretos, há exemplos já dispostos em outros quadros,
como materiais indiretos (ou seja, materiais secundários e materiais auxiliares), descritos no
quadro de materiais; mão de obra indireta (como gerentes de produção), contemplados no
quadro de mão de obra; e gastos com depreciação, manutenção e seguros de itens utilizados
na linha de produção. Contudo, é possível que outros custos indiretos de fabricação (CIF) não
tenham espaço nos demais quadros, o que suscita a inclusão de um quadro específico que
contemple isso.
Um exemplo de quadro de estimativas de gastos com demais CIF é
disponibilizado no Apêndice H. Nesse aspecto, este quadro permite lançar estimativas
associadas a gastos não descritos anteriormente, como aluguel, gás, energia, água, serviços
terceirizados (como limpeza, segurança e comunicação), desde que todos sejam
particularmente incidentes no ambiente de produção. Por exemplo, se uma organização conta
com dois prédios, sendo um escritório administrativo e uma fábrica, o aluguel da fábrica é
considerado um CIF, enquanto o aluguel do escritório deve ser classificado como despesa.

4.9 Quadro de estimativas de gastos com tributos


Outra categoria de gastos especificamente detalhada diz respeito a tributos, o que inclui
impostos, taxas e contribuições, exceto Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e
Imposto de Renda (IR), que serão discriminados no último quadro.
Conceitualmente, impostos são tributos gerados por eventos independentes da
atuação estatal, como IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores), IPTU
(Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana), ITR (Imposto Territorial Rural),
ICMS (Impostos sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), ISS (Impostos sobre Serviços
de Qualquer Natureza), IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), II (Imposto sobre
Importação28), IE (Imposto sobre Exportação), IOF (Impostos sobre Operações Financeiras) e
IR (Imposto de Renda). Há diversos outros exemplos, mas aqui são ilustrados aqueles que
geralmente incidem sobre as organizações.
Por sua vez, taxas são tributos gerados por eventos estatais específicos, como a
Taxa de Emissão de Documentos e a Taxa de Licenciamento Veicular29. Apesar da

28
Vale lembrar que, especificamente, o II não deve entrar no quadro de gastos com tributos, visto que deve
incidir sobre a aquisição de insumos importados e, portanto, já deve estar inclusos no quadro de gastos com
materiais.
29
Geralmente, esses exemplos não são especificados no projeto de maneira detalhada, podendo-se agregar tais
gastos.
65

semelhança, contribuições são tributos gerados para a formação de fundos de finalidade


específica, como a Contribuição para Iluminação Pública, a Contribuição Sindical, a CSLL
(Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), a Contribuição para o FGTS (Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço30), a Contribuição para o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social 31),
o COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social), a Contribuição para o
PIS (Programa de Integração Social) e a antiga CPMF (Contribuição Provisória sobra a
Movimentação Financeira).
Vale também citar a existência do SIMPLES (Sistema Integrado de Pagamento de
Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), programa
concebido para facilitar o recolhimento de tributos, tendo em vista a diversidade de
instrumentos de arrecadação estatal vigentes no país. O documento único do SIMPLES
abrange tributos como IR, CSLL, COFINS, PIS, IPI, ICMS, ISS e INSS, mas não inclui
tributos como ITR, II, IE, IOF e FGTS.
Um exemplo de quadro de estimativas de gastos com tributos é disponibilizado no
Apêndice I. Como se pode observar, deve-se informar a alíquota do tributo e a base de cálculo
cujo percentual irá incidir. Por exemplo, se houver incidência de ISS, deve-se indicar sua
alíquota (geralmente equivalente a 5%) e sua base de cálculo (que é o total das receitas com
serviços). Por outro lado, se houver incidência de ICMS, deve-se também indicar sua alíquota
(geralmente 17%) e sua base de cálculo (que é o total das receitas com a venda de produtos).
Assim, se uma empresa tem R$ 500 mil em receitas anuais, em que R$ 300 mil decorre da
venda de produtos e R$ 200 mil da venda de serviços, então o gasto com ISS deve
corresponder a R$ 10 mil (= 0,05 ∙ 200.000), enquanto o gasto com ICMS deve ser de R$ 51
mil (= 0,17 ∙ 300.000).
Além disso, deve-se perceber que ICMS e IPI são impostos recuperáveis, ou seja,
é possível descontar valores pagos quando da aquisição de insumos. Por exemplo, tratando-se
do caso do IPI, se uma indústria de fios de alta tensão compra mensalmente R$ 100 mil em
cobre, então pagará R$ 5 mil em IPI na aquisição desse insumo (considerando-se uma
alíquota de 5%), valor que será usado como crédito no cálculo do IPI a ser pago na fabricação
dos fios. Então, se a receita com os fios corresponde mensalmente a R$ 600 mil, o IPI devido
será calculado como 0,05 ∙ 600.000 − 5.000 = 30.000 − 5.000 = 𝑅$ 25.000, ou seja, em
vez de pagar R$ 30 mil em IPI, a indústria descontará os R$ 5 mil que pagou na aquisição de

30
Vale lembrar que, especificamente, a Contribuição para o FGTS não deve entrar no quadro de gastos com
tributos, visto que já deve estar incluso no quadro de mão de obra, particularmente a encargos.
31
Assim como a Contribuição para o FGTS, a Contribuição para INSS também já deve estar incluso no quadro
de mão de obra, não compondo o quadro de tributos.
66

seus insumos. Essa mesma lógica se aplica ao ICMS, lembrando-se apenas que as alíquotas de
ICMS mudam de acordo com a origem dos insumos e o destino dos produtos.

4.10 Quadro de estimativas de gastos totais


Como se pode observar, os quadros anteriores de estimativas de gastos cobrem todos os
possíveis custos e boa parte das despesas32 que a organização irá apresentar. Nesse sentido, no
presente quadro de estimativas de gastos totais, procura-se sintetizar as informações dos
demais quadros e ainda dar espaço à inclusão de outras despesas que possam existir.
Um exemplo de quadro de estimativas de gastos totais é disponibilizado no
Apêndice J. Salienta-se que o espaço dedicado às despesas pode incluir gastos com
combustível usado no frete de vendas, aluguel de um escritório administrativo, viagens de
trabalho e outros não relacionados com a atividade-fim da organização33. O quadro ainda
inclui uma margem para gastos diversos, colocado como um percentual dos gastos totais, em
que geralmente se considera 5%, no máximo.

4.11 Quadro de reposição de dívidas existentes


Visto que as instituições de financiamento são um dos agentes interessados na apresentação
de um projeto, o detalhamento de dívidas deve ser um dos itens especialmente detalhados no
documento, sobretudo com o intuito de verificar o quanto essas dívidas irão comprometer o
orçamento da empresa.
Começando pelas dívidas existentes, um exemplo de quadro é disponibilizado no
Apêndice K. Como se pode observar, o quadro deve descrever todos os financiamentos já
tomados pela organização e que ainda estejam em processo de liquidação. Dessa maneira, em
cada caso, deve-se informar o saldo devedor remanescente, a quantidade de parcelas mensais
que ainda restam, a quantidade de meses de carência (caso ainda se aplique) e a taxa de juros
cobrada. Todas essas informações permitirão gerar as estimativas de gastos com juros e
amortizações associadas a todas as dívidas já contratadas.

32
Nesse aspecto, o quadro de gastos com materiais inclui despesas com materiais secundários e materiais
auxiliares; o quadro de mão de obra inclui despesas com profissionais ligados à estrutura organizacional, como
remuneração e encargos de profissionais das áreas de vendas, contabilidade, recursos humanos, direção etc.; o
quadro de depreciação, manutenção e seguros aborda não só gastos com ativos relacionados com a produção,
mas também com aqueles usados na administração da organização; e o quadro de tributos essencialmente trata
de gastos classificados como despesas (um exemplo de tributo tipificado como custo seria o pagamento de IPTU
de um prédio fabril).
33
As únicas despesas que ainda não serão tratadas neste quadro referem-se a juros e amortizações decorrentes de
financiamentos (isso será apresentado nos dois quadros posteriores), além de IR e CSLL (calculados no último
quadro, que detalhará os resultados da organização).
67

4.12 Quadro de reposição de dívidas projetadas


No mesmo sentido do quadro anterior, este é voltado ao detalhamento do volume e das
condições de financiamento específicas para a aquisição dos itens listados no quadro de
orçamentos, ou seja, com relação ao investimento projetado.
O mesmo exemplo do Apêndice K pode ser aplicado neste quadro. Novamente,
este deve descrever as linhas de financiamento que serão utilizadas, o saldo devedor, o tempo
em meses até a liquidação da dívida, a quantidade de meses de carência (caso se aplique) e a
taxa de juros cobrada. Todas essas informações permitirão gerar as estimativas de gastos com
juros e amortizações associadas a todas as dívidas que serão contratadas a partir do projeto.
Na maioria dos casos, o prazo de pagamento gira em torno de cinco anos (60
meses), havendo carência no primeiro ano (12 primeiros meses). O período de carência refere-
se a um prazo inicial em que não se exige o pagamento de amortizações, de forma que apenas
os juros devem ser pagos, normalmente em parcelas trimestrais. Contudo, esses prazos
dependem do entendimento entre a empresa e a instituição de financiamento. Por exemplo, é
possível que um projeto exija um prazo de pagamento e/ou de carência maior, visto que
poderá levar mais tempo até começar a apresentar receitas consistentes.
Quanto às taxas de juros, as principais linhas de financiamento utilizadas para
investimento produtivo costumam considerar remunerações subsidiadas, próximas à taxa de
juros de mercado, acrescida da taxa esperada de inflação. Essa informação sempre deve ser
conferida junto à própria instituição de financiamento, mas é provável que não se distancie
muito da taxa de remuneração dos títulos Selic prefixados.

4.13 Quadro de resultados, capacidade de pagamento e fluxo de caixa


O último quadro a ser incluído no plano financeiro consolida todas as informações lançadas
nos demais quadros. Basicamente, trata-se da projeção do DRE (Demonstrativo do Resultado
do Exercício) e do Fluxo de Caixa, desde o período atual até o final da vida útil da
organização, mas o quadro também aborda o comprometimento das dívidas sobre a
capacidade de pagamento da organização. Um exemplo deste quadro é disponibilizado no
Apêndice L.
O resultado do exercício é encontrado a partir da receita bruta da organização,
informação extraída do quadro de estimativa de receitas. A partir desse valor, são deduzidos o
IPI e o montante de abatimentos e devoluções, o que permite calcular a receita líquida.
Posteriormente, deduzindo-se os demais gastos (exceto IR e CSLL), encontra-se o lucro
68

tributável. É a partir desse lucro tributável que se permite calcular as estimativas de gastos
com IR e CSLL. Após tais deduções, encontra-se então o resultado do exercício.
Esse valor corresponde praticamente ao próprio fluxo de caixa corrente da
organização (exceto no Ano 0, visto que este será o ano de realização do investimento
projetado), já que o fluxo de caixa é a diferença entre todas as entradas (receita bruta) e todas
as saídas (todos os gastos com investimentos, custos e despesas – notar que os investimentos
não entram no cômputo do resultado do exercício). O valor do fluxo corrente, bem como o
fluxo acumulado (este é dado pela soma do fluxo corrente com o fluxo acumulado do ano
anterior) servirão de base para a análise de diversos indicadores de viabilidade e risco.
No mesmo quadro, deve-se ainda medir o comprometimento das dívidas (juros e
amortizações dos financiamentos existentes e projetos) sobre a capacidade de pagamento da
organização. Nesse sentido, a capacidade de pagamento é dada pela disponibilidade de caixa
da organização, que é praticamente o mesmo que o resultado do exercício, mas
desconsiderando os gastos com depreciação, já que estes não exigem desembolsos de fato.
Assim, da disponibilidade de caixa, calcula-se o peso relativo a juros e a amortizações, o que
se conhece como uso da capacidade de pagamento34.
É dessa maneira que as instituições de financiamento observam o quanto as
dívidas comprometem a disponibilidade de caixa da organização. Por um lado, se a soma de
juros e amortizações representam mais de 50% da disponibilidade, então interpreta-se que as
condições de financiamento são muito restritivas, penalizando a organização. Nesses casos, as
instituições tendem a alongar o prazo para liquidação do saldo devedor. Por outro lado,
quando o uso da capacidade de pagamento é calculado abaixo de 30%, interpreta-se que as
condições de financiamento são excessivamente brandas, indicando que a organização poderia
liquidar a dívida em menos tempo.
Por esses motivos, as instituições de financiamento observam este último quadro
não só para verificar as estimativas de resultado do exercício e de fluxos de caixa, sobretudo
sua evolução esperada, mas também para criticar situações em que o uso da capacidade de
pagamento se situe fora do intervalo entre 30% e 50%, com o intuito de dimensionar as
condições de financiamento de uma maneira mais apropriada.

34
Vale lembrar que o percentual de uso da capacidade de pagamento não costuma ser avaliado no período de
carência, cujos percentuais encontrados costumam ser reduzidos.
69

5 CRITÉRIOS DE ANÁLISE DE VIABILIDADE E RISCO

A presente seção aborda conceitos e métodos utilizados na conclusão do plano financeiro,


sendo particularmente um processamento das informações apresentadas nos quadros tratados
na seção anterior. Os critérios de análise passam por indicadores de viabilidade (VPL, TIR,
Payback etc.) e risco (análise de sensibilidade, modelo probabilístico etc.), mas antes é
recomendável recordar alguns conhecimentos do campo da matemática financeira, com o
objetivo de fundamentar o conceito de valor do dinheiro no tempo.

5.1 Antecedentes
A primeira e essencial consideração sobre o valor do dinheiro no tempo diz respeito ao juro.
Trata-se de um dos conceitos mais importantes da matemática financeira: é o preço do
dinheiro, o aluguel pago por um capital financeiro emprestado, a quantia que remunera o uso
do capital por certo período.
Então, o juro (𝐽) é a diferença entre o capital final (𝐹) e o capital inicial (𝑃) de
uma operação: 𝐽 = 𝐹 − 𝑃. Por exemplo, se foi aplicado R$ 20.000 e resgatado R$ 20.200 no
mês seguinte, então 𝐽 = 𝐹 − 𝑃 = 𝑅$ 20.200 − 𝑅$ 20.000 = 𝑅$ 200, sendo este o juro
recebido na operação, um valor monetário com medida absoluta.
Nesse aspecto, é mais comum a utilização de uma medida relativa, computada
𝐽
como taxa unitária de juros: 𝑖 = 𝑃. A taxa unitária 𝑖 calcula o juro recebido a cada R$ 1,00
𝑅$ 200
investido, em certo prazo. No exemplo, essa taxa equivale a 𝑖 = 𝑅$ 20.000 = 0,01 ao mês, o
1
que equivale a uma taxa percentual de juros de 𝑖 = 0,01 = 100 = 1% ao mês.

Note-se que não se identifica prazo ao juro absoluto (𝐽), mas isso sempre deve ser
feito para a taxa de juros (𝑖), associando-a a períodos como dias (% ao dia ou % a.d.), meses
(% ao mês ou % a.m.), semestres (% ao semestre ou % a.s.), anos (% ao ano ou % a.a.) etc.
Os conceitos de juro e taxa de juros são fundamentais para o entendimento do
valor do dinheiro no tempo. Como se percebe através do exemplo, se uma instituição promete
rendimento de 1% a.m., então, na ótica de quem investe, seria indiferente dispor de R$ 20 mil
na data atual, ou R$ 20,2 mil daqui a um mês. Isso ocorre porque, havendo essa opção de
aplicação, se a pessoa dispor de R$ 20 mil hoje, esse valor poderá facilmente convertido em
R$ 20,2 mil daqui a um mês.
Obviamente, esse cenário é válido quando não há incidência de tributação ou
inflação. Quanto aos tributos, deve-se lembrar que há diferenças entre a taxa bruta de juros
70

(𝑖𝐵 ) e a taxa líquida (𝑖𝐿 , aquela que deduz todos os encargos incidentes sobre a operação), de
forma que 𝑖𝐿 = 𝑖𝐵 ∙ (1 − 𝑡), em que 𝑡 corresponde à alíquota de tributação incidente. Por sua
vez, com relação à inflação, deve-se lembrar que há diferenças entre a taxa nominal de juros
(𝑖𝑁 ) e a taxa real (𝑖𝑅 , aquela que mede o rendimento avaliado pela variação no poder de
(1+𝑖𝑁 )
compra), dado que (1 + 𝑖𝑅 ) = (1+𝜋)
, em que 𝜋 diz respeito à taxa de inflação observada no

período da operação. Por simplificação, os próximos apontamentos consideram que não há


incidência de tributos e inflação sobre as operações.
Além dos conceitos de juro e taxa de juros, é essencial abordar a definição de
capitalização, que é o ato de adicionar juro ao capital aplicado na operação. Este é o princípio
que distinguirá os regimes de juros simples e juros compostos, pois afetará no processo de
geração de juros. O regime de juros simples não prevê capitalização, de forma que, a cada
período de remuneração do capital, o juro é calculado como um percentual do valor aplicado
no início da operação. Assim, se a operação durar 𝑛 períodos, de forma que haverá 𝑛 gerações
de juros, cada juro é calculado como 𝐽 = 𝑖 ∙ 𝑃.
Dessa maneira, na primeira geração de juros, pode-se notar que 𝐹1 = 𝑃 + 𝑖 ∙ 𝑃 =
𝑃 ∙ (1 + 𝑖). Enquanto isso, se a aplicação fosse resgatada no segundo período, a quantia
obtida seria 𝐹2 = 𝐹1 + 𝑖 ∙ 𝑃 = 𝑃 ∙ (1 + 𝑖) + 𝑖 ∙ 𝑃 = 𝑃 ∙ (1 + 2 ∙ 𝑖). Por sua vez, na terceira
geração de juros, tem-se que 𝐹3 = 𝐹2 + 𝑖 ∙ 𝑃 = 𝑃 ∙ (1 + 2 ∙ 𝑖) + 𝑖 ∙ 𝑃 = 𝑃 ∙ (1 + 3 ∙ 𝑖).
Seguindo esse raciocínio, no final de 𝑛 períodos, 𝑭 = 𝑷 ∙ (𝟏 + 𝒏 ∙ 𝒊).
Por outro lado, a capitalização é algo previsto no regime de juros compostos, de
forma que, a cada geração, o juro é calculado como um percentual do valor acumulado até o
período imediatamente anterior, ou seja, 𝐽𝑡 = 𝑖 ∙ 𝐹𝑡−1. Nesse sentido, na primeira geração de
juros, tem-se que 𝐹1 = 𝑃 + 𝑖 ∙ 𝑃 = 𝑃 ∙ (1 + 𝑖). Por sua vez, no segundo período, a quantia
obtida seria 𝐹2 = 𝐹1 + 𝑖 ∙ 𝐹1 = 𝐹1 ∙ (1 + 𝑖) = 𝑃 ∙ (1 + 𝑖) ∙ (1 + 𝑖) = 𝑃 ∙ (1 + 𝑖)2 . Já no
terceiro período, 𝐹3 = 𝐹2 + 𝑖 ∙ 𝐹2 = 𝐹2 ∙ (1 + 𝑖) = 𝑃 ∙ (1 + 𝑖)2 ∙ (1 + 𝑖) = 𝑃 ∙ (1 + 𝑖)3 . Dessa
maneira, no final de 𝑛 períodos, 𝑭 = 𝑷 ∙ (𝟏 + 𝒊)𝒏 .
É justamente esta equação que fundamenta o conceito do valor do dinheiro no
tempo. Dada uma certa taxa de juros 𝑖 de referência da operação (que pode ser interpretada
como uma taxa de desconto da operação); dado um intervalo 𝑛, relativo ao tempo da
operação; e dado um valor em determinado instante, como 𝐹 (um valor futuro); não é difícil
computar seu valor equivalente 𝑃, mas avaliado no tempo presente. Isso ocorre porque a
𝐹
identidade permite calcular 𝑃 = (1+𝑖)𝑛.
71

Assim, por exemplo, considere que uma empresa tenha uma duplicata a receber
daqui a dez meses, no valor nominal35 de R$ 50 mil, mas pretende antecipar seu recebimento
para hoje. Nesse caso, se a empresa costuma obter 1% a.m. em suas aplicações, ela seria
indiferente entre receber os R$ 50 mil daqui a dez meses ou receber R$ 45.264,35 hoje, visto
𝐹 50.000
que 𝑃 = (1+𝑖)𝑛 = (1+0,01)10 = 45.264,35.36 Em outras palavras, diz-se que R$ 45.264,35 é o

valor atual dos R$ 50 mil esperados a receber daqui a dez meses, ou seja, é o valor futuro
avaliado na data presente.
Obviamente, em uma longa série de capitais, torna-se difícil calcular seu valor
atual, a exemplo de um valor atual que represente uma sequência de boletos para liquidar uma
dívida ou uma sequência de recebimentos de duplicatas. Por exemplo, imagine que uma
empresa tenha sido contratada e foi acertado o pagamento em 18 parcelas mensais iguais a R$
50 mil, a começar daqui a um mês, o que configura uma série uniforme postecipada. Se, em
vez disso, a empresa ofertasse uma condição de pagamento à vista, considerando remuneração
1 2 𝐹 18 𝐹 𝐹
de 1% a.a., o valor atual da série seria calculado como 𝑃 = (1+𝑖) 1 + (1+𝑖)2 + ⋯ + (1+𝑖)18 =

50.000 50.000 50.000


+ (1+0,01)2 + ⋯ + (1+0,01)18 .
(1+0,01)1

Pode-se perceber que, quanto maior o horizonte da série, mais difícil calcular seu
𝑃𝑟 1
valor atual, pois este é dado pelo somatório 𝑃 = ∑𝑛𝑡=1 (1+𝑖)𝑡 = 𝑃𝑟 ∙ ∑𝑛𝑡=1 (1+𝑖)𝑡, em que 𝑃𝑟

representa cada uma das parcelas ou prestações da série uniforme postecipada (𝑃𝑟 = 𝐹1 =
1
𝐹2 = ⋯ = 𝐹𝑛 ). Vale notar que ∑𝑛𝑡=1 (1+𝑖)𝑡 é uma soma de progressão geométrica que pode ser
1−(1+𝑖)−𝑛
substituída pelo chamado fator de valor presente, dado por 𝑎𝑖|𝑛 = . Assim, o valor
𝑖
𝟏−(𝟏+𝒊)−𝒏
atual de uma série uniforme postecipada pode ser calculado como 𝑷 = 𝑷𝒓 ∙ .
𝒊
1−(1+0,01)−18
Seguindo o exemplo, 𝑃 = 50.000 ∙ = 819.913,43. Em outras
0,01

palavras, seria indiferente receber R$ 819.913,43 à vista ou 18 parcelas mensais de R$ 50 mil,


a começar no próximo mês. Ressalta-se que isso é válido ao se considerar que a remuneração
requerida pela empresa seria 1% a.m.37

35
Valor nominal é o valor de face de um capital, ou seja, o valor nominalmente expresso no boleto ou no título.
36
Vale notar que não seria vantajoso antecipar por R$ 45 mil porque, aplicando-se esse valor a 1% a.m., o valor
alcançado daqui a dez meses seria inferior a R$ 50 mil, pois 𝐹 = 𝑃 ∙ (1 + 𝑖)𝑛 = 45.000 ∙ (1 + 0,01)10 =
49.707,00. Em outro exemplo, recebendo R$ 46 mil hoje, isso já seria vantajoso, pois o valor alcançado no final
de dez meses seria superior a R$ 50 mil, já que 𝐹 = 𝑃 ∙ (1 + 𝑖)𝑛 = 46.000 ∙ (1 + 0,01)10 = 50.812,62.
37
Ressalta-se que, caso seja necessário converter taxas anuais em taxas mensais ou efetuar quaisquer tipos de
𝑚𝐴
conversão, basta usar a seguinte identidade: (1 + 𝑖𝐴 ) = (1 + 𝑖𝐵 ) ⁄𝑚𝐵 , em que 𝑖𝐴 e 𝑖𝐵 são taxas de juros e 𝑚𝐴 e
𝑚𝐵 são seus prazos de referência, respectivamente, todas em uma mesma unidade. Assim, se for desejado
72

A título de exercício, pode-se verificar que, se a empresa decidisse investir R$


819.913,43 na data atual, em um título cuja remuneração equivale a 1% a.m., então, ao efetuar
retiradas mensais de R$ 50 mil a partir do próximo mês, o fundo será justamente exaurido em
18 meses. Então, não importaria à empresa receber os R$ 819.913,43 à vista ou receber 18
parcelas de R$ 50 mil a partir do próximo mês.
Além das séries uniformes postecipadas, também é importante citar as séries
uniformes antecipadas, cuja diferença é somente o instante da primeira parcela, que se dá já
no mês atual, em vez de iniciar no próximo mês. Nesse aspecto, basta observar que, ao aplicar
a fórmula com os mesmos parâmetros das séries postecipadas, a série seria avaliada no
instante imediatamente anterior ao período atual. Assim, no caso de séries antecipadas, seu
𝟏−(𝟏+𝒊)−𝒏
valor atual é obtido multiplicando-se (1 + 𝑖), de forma que, 𝑷 = 𝑷𝒓 ∙ (𝟏 + 𝒊) ∙ , com
𝒊

𝑃𝑟 representando cada uma das parcelas da série uniforme antecipada.


Obviamente há outras séries relevantes no campo da matemática financeira, sejam
séries de capitais variáveis, séries gradientes lineares, séries gradientes geométricas e diversos
tipos de séries perpétuas. Contudo, para efeito de revisão aplicada às análises de viabilidade e
risco, seria suficiente o entendimento das expressões que permitem calcular os valores atuais
de séries uniformes, sejam postecipadas ou antecipadas.
Uma última questão recomendável a ser recordada, inserida no campo da
matemática financeira, diz respeito aos sistemas de pagamento, visto que facilitará a
compreensão de características das previsões de despesas com juros e amortizações,
decorrentes das dívidas existentes e/ou projetadas, caso existam.
Nesse aspecto, mesmo reconhecendo a existência de certa variedade de sistemas,
como o sistema de pagamento único38 e o sistema americano39, o mais comum é que as
instituições de financiamento ofertem particularmente dois sistemas mais difundidos: o
sistema de amortizações constantes, conhecido como SAC; e o sistema de prestações
constantes, também conhecido como sistema francês ou Price (em homenagem a Richard
Price, idealizador de sua tabela).

6
converter 1% a.m. em uma taxa semestral, por exemplo, basta calcular (1 + 𝑖𝐴 ) = (1 + 0,01) ⁄1 ∴ 𝑖𝐴 =
1,0615 − 1 = 0,0615 = 6,15% a.s. Por sua vez, se for desejado converter 6,15% a.s. em uma taxa anual, basta
12
calcular (1 + 𝑖𝐴 ) = (1 + 0,0615) ⁄6 ∴ 𝑖𝐴 = 1,1268 − 1 = 0,1268 = 12,68% a.a.
38
Nesse caso, o pagamento de juros e amortizações é feito em uma só parcela, em determinada data previamente
contratada.
39
O sistema americano é uma espécie de sistema de juros constantes, já que o devedor apenas pagará juros
periódicos ao longo do prazo de financiamento, amortizando todo seu saldo devedor em apenas uma parcela,
justamente no final do prazo contratado.
73

No sistema de amortizações constantes, mais comum em operações de


financiamentos produtivos, a amortização (𝐴𝑡 ) será paga periodicamente e assumirá sempre
𝑆𝐷0
um mesmo valor, dado por 𝐴𝑡 = , em que 𝑆𝐷0 é o saldo devedor no período atual e 𝑛 é o
𝑛

número de prestações que serão efetuadas. A cada amortização realizada, o saldo devedor do
período será reduzido, de forma que 𝑆𝐷𝑡 = 𝑆𝐷𝑡−1 − 𝐴𝑡 . Por sua vez, o juro (𝐽𝑡 ) será calculado
como o produto entre a taxa de juros da operação e o saldo devedor do período imediatamente
anterior, ou seja, 𝐽𝑡 = 𝑖 ∙ 𝑆𝐷𝑡−1. Assim, cada prestação pode ser obtida como 𝑃𝑟𝑡 = 𝐴𝑡 + 𝐽𝑡 .
Por fim, no sistema de prestações constantes, mais comum em operações de
financiamentos imobiliários, a prestação (𝑃𝑟𝑡 ) será paga periodicamente e assumirá sempre
𝑖
um mesmo valor, dado por 𝑃𝑟𝑡 = 𝑆𝐷0 ∙ 1−(1+𝑖)−𝑛 , o que equivale a 𝑃𝑟 na expressão que

calcula o valor atual de séries uniformes postecipadas. Dessa maneira, a partir do valor
calculado de 𝑃𝑟𝑡 e do cômputo do juro (𝐽𝑡 = 𝑖 ∙ 𝑆𝐷𝑡−1 ), pode-se calcular o valor da
amortização, visto que 𝐴𝑡 = 𝑃𝑟𝑡 − 𝐽𝑡 . Assim, no primeiro período, tem-se que 𝐽1 = 𝑖 ∙ 𝑆𝐷0 , de
𝑖
forma que 𝐴1 = 𝑃𝑟1 − 𝐽1 = 𝑆𝐷0 ∙ 1−(1+𝑖)−𝑛 − 𝑖 ∙ 𝑆𝐷0 . Então, é possível também calcular o

saldo devedor (𝑆𝐷𝑡 = 𝑆𝐷𝑡−1 − 𝐴𝑡 ) no primeiro período, dado por 𝑆𝐷1 = 𝑆𝐷0 − 𝐴1 . A partir
desses valores, pode-se então calcular, para o segundo período, seu juro (𝐽2 = 𝑖 ∙ 𝑆𝐷1 ), sua
𝑖
amortização (𝐴2 = 𝑃𝑟2 − 𝐽2 = 𝑆𝐷0 ∙ 1−(1+𝑖)−𝑛 − 𝑖 ∙ 𝑆𝐷1 ) e seu novo saldo devedor (ou seja,

𝑆𝐷2 = 𝑆𝐷1 − 𝐴2 ). Esse processo pode ser repetido até o final do prazo de pagamento (𝑛),
quando o saldo devedor será enfim liquidado.

5.2 Valor presente líquido


A partir da revisão de conceitos do campo da matemática financeira, é possível facilmente
deduzir um dos principais indicadores de viabilidade de projetos, o cálculo do valor presente
líquido (VPL). Sua proposta é simplesmente avaliar o valor atual da série de fluxos de caixa
esperados para o negócio.
Como discutido, dado um valor F (um valor futuro), em determinado instante, não
é difícil computar seu valor equivalente 𝑃, que é avaliado no tempo presente. Isso se dá pela
expressão que representa o regime de juros compostos, 𝐹 = 𝑃 ∙ (1 + 𝑖)𝑛 , que permite calcular
𝐹
𝑃 = (1+𝑖)𝑛.

Portanto, não é difícil avaliar o valor atual de um fluxo de caixa esperado para
𝑡𝐹
qualquer período 𝑡, pois 𝑃 = (1+𝑖)𝑡 . Por exemplo, considere que uma empresa tome uma taxa
74

de juros de 15% a.a. como remuneração de referência, e que se espere a obtenção de um lucro
de R$ 400 mil no quinto ano (trata-se de um fluxo de caixa positivo). Então, esse valor, ao ser
5 𝐹 400.000
avaliado na data atual, equivale a 𝑃 = (1+𝑖)5 = (1+0,15)5 = 198.870,69. Em outras palavras,

na ótica da empresa, tanto faria dispor de R$ 198.870,69 hoje, ou dispor de R$ 400 mil daqui
a cinco anos, visto que R$ 198.870,69 aplicados hoje, a 15% a.a., permitiria resgatar
justamente R$ 400 mil daqui a cinco anos.
Esse mesmo princípio pode se aplicar a uma série de fluxos de caixa esperados, de
𝐹 𝐹 𝐹 𝐹
1
forma que 𝑃 = (1+𝑖)1
2
+ (1+𝑖) 2
𝑛
+ ⋯ + (1+𝑖)𝑛
= ∑𝑛𝑡=1 (1+𝑖)
𝑡
𝑡
, em que: 𝐹𝑡 é o valor esperado para

o fluxo de caixa em determinado instante 𝑡; 𝑖 é a taxa de juros usada como remuneração de


referência para a organização (também conhecida como taxa mínima de atratividade ou
TMA); e 𝑛 corresponde à vida útil do negócio.
Por exemplo, se a TMA da empresa corresponde a 15% a.a. e é esperado que os
fluxos de caixa correspondam a R$ 100 mil no primeiro ano, R$ 200 mil no segundo ano e R$
400 mil do terceiro ano em diante, até o final da vida útil de dez anos, então o valor atual dos
𝐹 100.000 200.000 400.000
fluxos de caixa esperados corresponde a 𝑃 = ∑𝑛𝑡=1 (1+𝑖)
𝑡
𝑡 = (1+0,15)1 + (1+0,015)2 + (1+0,015)3 +

400.000 400.000
+ ⋯ + (1+0,015)10 = 1.595.409,15. Nesse sentido, se for desejado avaliar o valor
(1+0,015)4

atual de toda a série de fluxos de caixa esperados, tem-se que este corresponde a R$
1.595.409,15.
A partir desse resultado, não é difícil avaliar a viabilidade desse negócio, pois
bastaria confrontar o valor atual da série de fluxos esperados com o valor do investimento
realizado na data atual. Se o valor investido fosse R$ 2 milhões, por exemplo, estaria claro
que o negócio seria inviável do ponto de vista de quem investe, pois todo o lucro gerado a
partir desse investimento, avaliado na data atual, seria inferior aos R$ 2 milhões aplicados.
Mais especificamente, haveria um prejuízo avaliado em R$ 404.590,85, que é a diferença
entre o valor atual da série de fluxos esperados e o valor do investimento realizado.
Por outro lado, se o valor investido fosse R$ 1 milhão, o negócio seria vantajoso,
pois esse valor aplicado geraria fluxos esperados avaliados em R$ 1.595.409,15 na data atual,
o que significa um valor presente líquido de R$ 595.409,15.
Nesse sentido, o valor presente líquido é simplesmente a diferença entre o valor
atual da série de fluxos de caixa esperados e o valor do investimento realizado na data atual.
Em outras palavras, é o valor presente dos fluxos, líquido do investimento efetuado. Assim:
75

𝑛 𝐹𝑡
𝑉𝑃𝐿 = −𝐼 + ∑ 𝑡
𝑡=1 (1 + 𝑇𝑀𝐴)

A rigor, o próprio valor investido (𝐼) é um fluxo de caixa no Ano 0, avaliado


como negativo porque se trata de um gasto, ou seja, uma saída de recursos. Assim, não seria
𝐹
um equívoco descrever a expressão simplesmente como 𝑉𝑃𝐿 = ∑𝑛𝑡=0 (1+𝑇𝑀𝐴)
𝑡
𝑡
, enfatizando-se,

porém, que esta não é uma fórmula convencionalmente difundida.


Caso a série de fluxos esperados seja representada por uma série uniforme
postecipada (por exemplo, se for esperado que o negócio obtenha lucros anuais de R$ 100
mil, constantes do Ano 1 até o Ano 10), então não é difícil verificar que a expressão pode ser
1 1−(1+𝑖)−𝑛
adaptada para 𝑉𝑃𝐿 = −𝐼 + 𝑃𝑟 ∙ ∑𝑛𝑡=1 (1+𝑖)𝑡 ∴ 𝑉𝑃𝐿 = −𝐼 + 𝑃𝑟 ∙ , em que 𝑃𝑟
𝑖

representa o fluxo esperado anual (no exemplo, 𝑃𝑟 seria substituído por R$ 100 mil). Porém,
vale salientar que é raro que isso aconteça, sendo mais frequente a expectativa de ocorrência
de fluxos variáveis ao longo do tempo.
Como se pode observar, o VPL é um indicador simples que traz uma informação
muito relevante: mede o lucro gerado pelo investimento. Trata-se, portanto, do valor criado
por esse investimento, avaliado na data da tomada de decisão do investimento. Caso esse
indicador se mostre positivo, interpreta-se que o projeto deve ser aceito, visto que esse
investimento criará valor para a organização. Caso contrário, deve-se rejeitar o projeto, pois
seria melhor investir em uma alternativa mais vantajosa.
Ressalta-se que tal alternativa é representada pela taxa mínima de atratividade
(TMA), pois esta é a taxa de juros usada como referência de remuneração. Nesse aspecto, a
TMA reflete aquele rendimento mínimo exigido por quem investe. Imagine que uma pessoa
disponha de R$ 2 milhões e pretenda investir esse valor. Dentre suas opções, considere que
sua melhor alternativa seja investir em um título que renda 10% a.a. Aparentemente, esta já
seria a TMA, mas esse não é o caso, pois o investimento em um negócio deve pagar não só
esse custo de oportunidade, mas também os riscos de empreender. Trata-se de uma medida
subjetiva, pois alguém pode se satisfazer com um acréscimo de 1% a.a. (isso significa uma
renda extra de R$ 20 mil/ano, ou seja, 1% dos R$ 2 milhões investidos) e outra pessoa pode
exigir mais 5% a.a. (o que significa um acréscimo de R$ 100 mil/ano) para assumir as
vicissitudes do negócio.
76

De forma geral, pode-se definir que a TMA é a taxa de juros real livre de risco
(que seria a taxa de juros de mercado, descontada da inflação esperada) somada à taxa de
juros de prêmio pelo risco do projeto (que seria o acréscimo que exigido por quem investe).
Como referência para a taxa de juros real livre de risco, pode-se usar a parte fixa dos títulos
Tesouro-IPCA. Vale perceber que, ao considerar a taxa de juros real na estipulação da TMA,
justifica-se a exclusão da hipótese de variação de preços (inflação) no preenchimento dos
quadros de estimativas de receitas e gastos do negócio, conforme pontuado na Seção 4.

5.2.1 Vida útil e valor residual


Outra importante observação diz respeito à vida útil do projeto. Em geral, toma-se o Ano 10
como limite, mesmo que alguns projetos considerem mais ou menos horizontes de existência.
A justificativa para isso seria a tentativa de padronização do resultado do indicador,
possibilitando-se confrontar o VPL calculado para diferentes projetos. Com efeito, entre dois
projetos, deve-se optar por aquele que apresenta maior VPL. Contudo, considerar
simplesmente uma mesma vida útil não seria suficiente para efetuar comparações de projetos
com tempos distintos de existência.
Ao comparar projetos com diferentes vidas úteis, em vez de supor a mesma vida
útil de dez anos, uma possível recomendação é que se considere um mínimo múltiplo comum
e uma sequência hipotética de reinvestimentos. Por exemplo, imagine dois projetos: (A) um
projeto que requer um investimento de R$ 400 milhões, gerando fluxos de caixa uniformes de
R$ 150 milhões/ano até o quarto ano, que corresponde a sua vida útil; e (B) um projeto com
investimento de R$ 600 milhões, fluxos uniformes de R$ 145 milhões/ano, mas com vida útil
de seis anos. A partir dessas informações e tomando-se a hipótese de uma TMA equivalente a
5% a.a., percebendo-se que ambos os projetos têm fluxos esperados uniformes, tem-se que
1−(1+0,05)−4 1−(1+0,05)−6
𝑉𝑃𝐿𝐴 = −400 + 150 ∙ = 131,9 e 𝑉𝑃𝐿𝐵 = −600 + 145 ∙ = 136,0.
0,05 0,05

Em outras palavras, o investimento no projeto A geraria um VPL de R$ 131,9 milhões,


enquanto o projeto B geraria R$ 136,0 milhões. Assim, a princípio, interpreta-se que o projeto
B seria a melhor alternativa, pois criaria mais valor que a opção A.
Contudo, dado que os projetos ilustrados contam com vidas úteis distintas, pode-
se considerar a hipótese de ciclos de reinvestimentos. Seguindo o exemplo, tomando-se o
mínimo múltiplo comum entre quatro e seis anos, o qual resulta em 12 anos, pode-se
considerar que o projeto A tenha reinvestimentos no quarto e no oitavo ano, enquanto o
projeto B apresente um reinvestimento no sexto ano.
77

Projeto A (R$ mi)


Período
Investimento Entradas esperadas Fluxo de caixa Valor presente
Ano 0 400 0 -400 -400,0
Ano 1 0 150 150 142,9
Ano 2 0 150 150 136,1
Ano 3 0 150 150 129,6
Ano 4 400 150 -250 -205,7
Ano 5 0 150 150 117,5
Ano 6 0 150 150 111,9
Ano 7 0 150 150 106,6
Ano 8 400 150 -250 -169,2
Ano 9 0 150 150 96,7
Ano 10 0 150 150 92,1
Ano 11 0 150 150 87,7
Ano 12 0 150 150 83,5

Projeto B (R$ mi)


Período
Investimento Entradas esperadas Fluxo de caixa Valor presente
Ano 0 600 0 -600 -600,0
Ano 1 0 145 145 138,1
Ano 2 0 145 145 131,5
Ano 3 0 145 145 125,3
Ano 4 0 145 145 119,3
Ano 5 0 145 145 113,6
Ano 6 600 145 -455 -339,5
Ano 7 0 145 145 103,0
Ano 8 0 145 145 98,1
Ano 9 0 145 145 93,5
Ano 10 0 145 145 89,0
Ano 11 0 145 145 84,8
Ano 12 0 145 145 80,7
A partir dessas hipóteses e somando-se o valor presente de cada um dos fluxos de
caixa esperados40, tem-se que, nesse outro critério de cálculo, o VPL de A corresponde a R$
329,7 milhões, enquanto o VPL de B equivale a R$ 237,4 milhões, resultado que pesaria
fortemente a favor do projeto A.
Outro critério recomendável seria a inclusão da hipótese de valor residual do
projeto, que seria o valor do negócio ao final de sua vida útil, ou seja, ao se desfazer de todo o
seu ativo. Essa é uma hipótese particularmente conveniente quando se usa uma vida útil
padronizada em dez anos, pois minimiza problemas na comparação de projetos com tempos
distintos de existência. Por exemplo, caso um projeto tenha vida útil acima de dez anos, pode-
se estimar o valor da empresa neste décimo ano, com base em seu ativo, em seus fluxos
esperados para os anos seguintes (em valores avaliados para o Ano 10), bem como na
mensuração de bens intangíveis, como sua marca e sua reputação. Não obstante a
conveniência de se utilizar o valor residual no cálculo de VPLs, esta não é uma prática

40 𝐹𝑡
Lembrando-se que cada valor presente pode ser obtido por 𝑃 = .
(1+𝑇𝑀𝐴)𝑡
78

comum em documentos submetidos a instituições de financiamento, justificando-se o fato de


ser difícil a mensuração desse valor residual de maneira confiável.

5.2.2 Projetos de tamanhos distintos


Mais uma observação a ser feita sobre o VPL refere-se à comparação de projetos que exigem
diferentes volumes de investimento. Por exemplo, suponha que uma indústria esteja diante de
duas alternativas de redução de custos: (A) um projeto de automação, que requer investimento
de R$ 20 milhões e pode reduzir os custos em R$ 3,1 milhões/ano; e (B) um projeto de
semiautomação, que requer apenas R$ 9,5 milhões investidos, mas permite reduzir os custos
em R$ 1,8 milhões/ano. Em ambas as propostas, considera-se que a vida útil seja de dez anos,
que não há valor residual e que a TMA é de 6% a.a.
Nessas condições, percebendo-se novamente que ambos os projetos têm fluxos
1−(1+0,06)−10
esperados uniformes, tem-se que 𝑉𝑃𝐿𝐴 = −20 + 3,1 ∙ = 2,82, enquanto
0,06

1−(1+0,06)−10
𝑉𝑃𝐿𝐵 = −9,5 + 1,8 ∙ = 3,75. Portanto, enquanto o investimento no projeto de
0,06

semiautomação geraria um VPL de R$ 3,75 milhões, a automação geraria R$ 2,82 milhões,


situação que indicaria a preferência pelo investimento na semiautomação.
Contudo, pode-se argumentar que houve um equívoco no cálculo, pois a resolução
não leva em conta o investimento incremental. Colocado de outra forma, se a empresa dispõe
de R$ 20 milhões para investir na automação, mas resolve investir R$ 9,5 milhões no
processo de semiautomação, o que fará com os R$ 10,5 milhões remanescentes? Nesses
casos, pode-se considerar que o valor não investido no processo seja investido na taxa de
juros real livre de risco, que seria a TMA subtraída do prêmio pelo risco.
Ao se considerar que os R$ 10,5 milhões sejam reinvestidos, por exemplo, a 4,5%
a.a. (de forma que o prêmio pelo risco seja 1,5% a.a., já que a TMA é 6% a.a.), então 𝑉𝑃𝐿𝐵 =
1−(1+0,06)−10 10,5∙(1+0,045)10
−20 + 1,8 ∙ + (1+0,06)10
= 2,35. Então, em vez de R$ 9,5 milhões, o VPL
0,06

na opção de semiautomação também é calculado com investimento de R$ 20 milhões, assim


como feito para o cômputo do VPL na alternativa de automação. Além disso, observa-se que
o investimento incremental de R$ 10,5 milhões foi aplicado em um título que rende 4,5% a.a.,
sendo esse valor resgatado no final da vida útil do projeto. Por isso, o cálculo do VPL
considera o termo 10,5 ∙ (1 + 0,045)10, que seria o resgate do investimento incremental, e
divide esse valor por (1 + 0,06)10, o que traz o valor do resgate avaliado para a data atual,
por meio da TMA.
79

Colocado dessa maneira, implica-se outra interpretação relativa à comparação de


projetos com volumes distintos de investimento. Seguindo o exemplo, por esse método, em
vez de optar pela semiautomação, pode-se justificar o investimento no processo de
automação, já que seu VPL corresponde a R$ 2,82 milhões, enquanto o VPL na
semiautomação corresponde a R$ 2,35 milhões quando se considera o investimento
incremental em seu cálculo.
Vale observar, porém, que é discutível a hipótese de atualização do resgate do
investimento incremental usando a própria TMA, já que não haveria risco na aplicação dessa
10,5∙(1+0,045)10
parte do investimento. No exemplo, pode-se então discordar do cálculo de (1+0,06)10
, de

forma que parece mais consistente assumir (1 + 0,045)10 no denominador, em vez de


(1 + 0,06)10 , já que a taxa livre de risco é 4,5% a.a.
10,5∙(1+0,045)10
Ao se considerar (1+0,045)10
, contudo, nada seria alterado no resultado
1−(1+0,06)−10 10,5∙(1+0,045)10
inicialmente obtido, de forma que 𝑉𝑃𝐿𝐵 = −20 + 1,8 ∙ + (1+0,045)10
= 3,75.
0,06

Então, não parece ser um equívoco avaliar que o investimento na semiautomação é mesmo
preferível ao investimento na automação.

5.2.3 Taxa mínima de atratividade e interseção de Fischer


Como se pode notar, mesmo sendo um indicador muito pertinente, o VPL deve ser utilizado
com cuidado e sob hipóteses consistentes. Nesse aspecto, outra questão relevante diz respeito
à possibilidade de assumir a TMA variável no tempo. Com efeito, a hipótese de uma TMA
constante parece pouco consistente, mas também não seria fácil obter estimativas confiáveis
da evolução da TMA até o final da vida útil do negócio, em geral algo estendido. Por isso, em
geral, as instituições de financiamento consideram a TMA constante. De toda forma, se for
1 𝐹
desejado considerar diferentes TMAs, basta considerar 𝑉𝑃𝐿 = −𝐼 + (1+𝑇𝑀𝐴 +
) 1

𝐹2 𝐹3 𝐹𝑛
+ (1+𝑇𝑀𝐴 + ⋯ + (1+𝑇𝑀𝐴 .
(1+𝑇𝑀𝐴1 )∙(1+𝑇𝑀𝐴2 ) 1 )∙(1+𝑇𝑀𝐴2 )∙(1+𝑇𝑀𝐴3 ) 1 )∙(1+𝑇𝑀𝐴2 )⋯(1+𝑇𝑀𝐴𝑛 )

Além disso, é preciso fundamentar adequadamente a escolha da TMA, pois esta é


capaz de definir a decisão entre dois projetos. Por exemplo, considere que uma empresa avalie
as seguintes alternativas, com vida útil de dez anos: (A) um projeto com investimento de R$
1,5 milhão, gerando fluxos anuais uniformes de R$ 280 mil; e (B) um projeto de R$ 1 milhão,
gerando fluxos de R$ 200 mil/ano. Ao se considerar uma TMA de 9% a.a., tem-se que
1−(1+0,09)−10 1−(1+0,09)−10
𝑉𝑃𝐿𝐴 = −1.500 + 280 ∙ = 296,9 e 𝑉𝑃𝐿𝐵 = −1.000 + 200 ∙ =
0,09 0,09
80

283,5, de forma que o projeto A seria preferível a B. Contudo, com uma TMA de 10% a.a.,
1−(1+0,10)−10 1−(1+0,10)−10
𝑉𝑃𝐿𝐴 = −1.500 + 280 ∙ = 220,5 e 𝑉𝑃𝐿𝐵 = −1.000 + 200 ∙ =
0,10 0,10

228,9, passando-se a interpretar que B seria preferível a A.


Como visto, a escolha da TMA implicará na decisão do melhor projeto. Nesse
exemplo, sabe-se que há uma TMA entre 9% a.a. e 10% a.a. capaz de tornar indiferente a
escolha entre os projetos A e B. Para mensurar isso, basta calcular a TMA capaz de tornar
1−(1+𝑇𝑀𝐴)−10 1−(1+𝑇𝑀𝐴)−10
𝑉𝑃𝐿𝐴 = 𝑉𝑃𝐿𝐵 , isto é, −1.500 + 280 ∙ = −1.000 + 200 ∙ . Porém,
𝑇𝑀𝐴 𝑇𝑀𝐴

dada a dificuldade para se encontrar tal solução algebricamente, pode-se recorrer a uma
interpolação linear, conforme detalhado no Apêndice M. Através desse artifício, encontra-se
que, se TMA for 9,6% a.a., então os VPLs se aproximam de R$ 250 milhões. Dessa maneira,
se a análise considerar uma TMA maior que 9,6% a.a., o projeto B será preferível a A. Do
contrário, A será preferível a B. Esse ponto, cuja TMA equivale a 9,6% a.a. é conhecido como
interseção de Fischer, isto é, trata-se da TMA que permite igualar os VPLs de dois projetos
que se deseja comparar.

A partir dessas observações, percebe-se que, dada a taxa de juros real livre de
risco, deve-se ter bastante cautela na definição da taxa de juros de prêmio pelo risco. No
exemplo, se a taxa de juros real livre de risco for 7% a.a., então estar em dúvida entre um
prêmio de risco de 2% a.a. ou 3% a.a. implicará diretamente na escolha do melhor projeto.
81

5.2.4 Valor presente líquido integrado


Todas as observações colocadas até aqui recaem sobre a eventualidade de se comparar
projetos de investimento, de forma que essas críticas sobre o VPL parecem marginais quando
o indicador é usado com o intuito de decidir especificamente se um projeto é viável ou não. É
por esse motivo que instituições de financiamento utilizam e prestigiam esse indicador em
suas análises41. Como colocado inicialmente, se o cálculo do VPL apontar para um valor
positivo, pode-se interpretar que o investimento analisado é viável. Do contrário, se o VPL
resultar em um valor negativo, o projeto pode ser considerado inviável do ponto de quem
pretende realizar o investimento.
Contudo, um último comentário a respeito do VPL refere-se ao uso dos lucros
obtidos com o investimento, o que suscita uma versão do VPL conhecida como valor presente
líquido integrado (VPLI). Essa abordagem, apesar de importante, costuma ser negligenciada
por analistas de projetos, mas também pode interferir na escolha entre opções de
investimento. De fato, uma questão relevante que pode ser levantada diz respeito a como os
fluxos de caixa decorrentes do investimento serão aplicados. Seriam simplesmente divididos
entre as pessoas que investiram? Seriam reinvestidos em títulos?
Para ilustrar esse problema, considere um projeto cujo investimento é de R$ 150
milhões e os fluxos de caixa esperados são uniformes e equivalentes a R$ 40 milhões/ano,
entre o Ano 1 e o Ano 10, que seria sua vida útil. A análise levará em conta uma TMA de
10% a.a. e que a taxa de juros real livre de risco equivale a 6% a.a.
Imagine que os fluxos resultantes sejam investidos em um título que renda 6% a.a.
e que todas as aplicações sejam resgatadas no Ano 10. Nesse caso, por exemplo, os R$ 40
milhões esperados para o Ano 1 serão aplicados durante nove anos, resgatando-se R$ 67,6
milhões no Ano 10.42 Por sua vez, os R$ 40 milhões esperados para o Ano 2 serão aplicados
durante oito anos, proporcionando um resgate de R$ 63,8 milhões no Ano 10.43 Esse mesmo
cálculo pode ser feito para os demais fluxos de caixa esperados, de forma que o resgate total
no Ano 10 será 𝐹1 ∙ (1 + 𝑖)10−1 + 𝐹2 ∙ (1 + 𝑖)10−2 + ⋯ + 𝐹10 ∙ (1 + 𝑖)10−10. Vale perceber
que esse resgate pode ser representado como ∑𝑛𝑡=1 𝐹𝑡 ∙ (1 + 𝑖)𝑛−𝑡 .

41
Ainda mais porque as instituições de financiamento não costumam comparar projetos para decidir qual deve
ser contemplado com recursos. Em geral, não há considerável concorrência por financiamentos para que seja
preciso decidir por um ou outro projeto especificamente. Então, conforme as empresas demandam
financiamentos, as instituições somente analisam se cada projeto é viável ou não, o que justificará a concessão
ou não dos recursos para investimento.
42
A partir da identidade que representa o regime de juros compostos, encontra-se que 𝐹 = 𝑃 ∙ (1 + 𝑖)𝑛 ∴ 𝐹 =
40 ∙ (1 + 0,06)9 = 67,6.
43
Nesse caso 𝐹 = 𝑃 ∙ (1 + 𝑖)𝑛 ∴ 𝐹 = 40 ∙ (1 + 0,06)8 = 63,8.
82

O valor presente líquido integrado (VPLI) simplesmente calcula o valor atual do


resgate previsto, descontado pela TMA, e subtrai o investimento inicialmente realizado:

∑𝑛𝑡=1 𝐹𝑡 ∙ (1 + 𝑖)𝑛−𝑡
𝑉𝑃𝐿𝐼 = −𝐼 +
(1 + 𝑇𝑀𝐴)𝑛

A partir do exemplo, dado que a TMA é 10% a.a. e a taxa de reinvestimento (𝑖) é
40∙(1+0,06)10−1 +40∙(1+0,06)10−2 +⋯+40∙(1+0,06)10−10
6% a.a., tem-se que 𝑉𝑃𝐿𝐼 = −150 + (1+0,10)10

67,6+63,8+⋯+40
𝑉𝑃𝐿𝐼 = −150 + (1+0,10)10
= −150 + 26,1 + 24,6 + ⋯ + 15,4 = 53,3. Através desse

resultado, pode-se interpretar que o projeto é viável, pois seu VPLI é positivo e corresponde a
R$ 53,3 milhões, que é a estimativa da criação de valor decorrente do investimento.
Fluxo de caixa Resgate no Ano 10 Valor presente
Período
(R$ milhões) (R$ milhões) (R$ milhões)
Ano 0 -150,0 - -150,0
Ano 1 40,0 67,6 26,1
Ano 2 40,0 63,8 24,6
Ano 3 40,0 60,1 23,2
Ano 4 40,0 56,7 21,9
Ano 5 40,0 53,5 20,6
Ano 6 40,0 50,5 19,5
Ano 7 40,0 47,6 18,4
Ano 8 40,0 44,9 17,3
Ano 9 40,0 42,4 16,3
Ano 10 40,0 40,0 15,4
Vale ressaltar a recomendação de se utilizar a taxa de juros livre de risco como
taxa de reinvestimento, pois esta seria a remuneração de referência para alternativas de
aplicação. Nesse aspecto, deve-se lembrar que a TMA é a soma da taxa de juros livre de risco
com a taxa de prêmio pelo risco de empreender, de forma que não faz sentido que os
reinvestimentos dos fluxos de caixa sejam remunerados a uma taxa maior que a taxa de juros
livre de risco, senão o próprio cômputo da TMA estaria equivocado.
Usando os mesmos dados do exemplo, imagine agora que a taxa de
reinvestimento seja equivalente à TMA, ou seja, 10% a.a. Nesse caso, tem-se que 𝑉𝑃𝐿𝐼 =
40∙(1+0,10)10−1 +40∙(1+0,10)10−2 +⋯+40∙(1+0,10)10−10
−150 + (1+0,10)10
= 95,5. Colocado de outra maneira,
∑𝑛
𝑡=1 𝐹𝑡 ∙(1+𝑇𝑀𝐴)
𝑛−𝑡
ao considerar a taxa 𝑖 equivalente à TMA, tem-se que 𝑉𝑃𝐿𝐼 = −𝐼 + (1+𝑇𝑀𝐴)𝑛

𝐹
𝑉𝑃𝐿𝐼 = −𝐼 + ∑𝑛𝑡=1 𝐹𝑡 ∙ (1 + 𝑇𝑀𝐴)−𝑡 ∴ 𝑉𝑃𝐿𝐼 = −𝐼 + ∑𝑛𝑡=1 (1+𝑇𝑀𝐴)
𝑡
𝑡,
cuja expressão é a

mesma do VPL.
83

Portanto, o VPL nada mais é que o VPLI sob a hipótese de que os fluxos
esperados sejam reinvestidos a uma taxa equivalente à TMA, o que parece ser uma conclusão
surpreendente. Com efeito, ao se calcular o VPL, observando que os fluxos de caixa
1−(1+0,10)−10
esperados são uniformes, tem-se que 𝑉𝑃𝐿 = −150 + 40 ∙ = 95,5. Então,
0,10

reforça-se que o VPL é uma medida que considera a hipótese discutível de que os fluxos
esperados sejam reinvestidos e remunerados pela TMA. Trata-se de uma forte crítica que
recai sobre o VPL, no sentido que, como já discutido, é aconselhável utilizar a taxa de juros
livre de risco como taxa de reinvestimento.
Portanto, de tudo que se apresentou até aqui, recomenda-se cautela quanto ao uso
do VPL, dando-se preferência para a análise do VPLI com taxa de reinvestimento equivalente
à taxa de juros real livre de risco. Além disso, deve-se ter cuidado a respeito da definição de
parâmetros como TMA, vida útil e valor residual do negócio. Por fim, ao se comparar dois ou
mais projetos, deve-se ter ainda mais atenção ao definir as hipóteses utilizadas no cálculo, sob
pena de se direcionar escolhas equivocadas ao se considerar critérios inadequados.

5.3 Taxa interna de retorno


Como já discutido, a escolha da TMA interfere diretamente no resultado alcançado para o
VPL ou para o VPLI, já que a TMA é justamente a taxa mínima de remuneração almejada por
quem investirá no negócio. Assim, a TMA definirá o julgamento a respeito da viabilidade do
investimento.
Voltando a um exemplo, considere um projeto cujo investimento é de R$ 150
milhões e os fluxos de caixa esperados são uniformes e equivalentes a R$ 40 milhões/ano,
entre o Ano 1 e o Ano 10, que seria sua vida útil. A análise levará em conta uma TMA de
10% a.a. Nessas condições, observando que os fluxos de caixa esperados são uniformes, tem-
1−(1+0,10)−10
se que 𝑉𝑃𝐿 = −150 + 40 ∙ = 95,5, de forma que é possível interpretar que o
0,10

projeto é viável, pois seu VPL é positivo e corresponde a R$ 95,5 milhões, que é a estimativa
da criação de valor decorrente do investimento.
Contudo, outras questões podem ser colocadas. Por exemplo, esse investimento
seria vantajoso se o mínimo exigido por quem investe fosse 23% a.a.? Nesse caso, com TMA
1−(1+0,23)−10
= 23% a.a., o cálculo do VPL resultaria em 𝑉𝑃𝐿 = −150 + 40 ∙ = 1,9708, um
0,23

valor bem mais próximo que zero, mas que ainda indicaria para a viabilidade do investimento.
84

Mas se fosse considerado que TMA = 24% a.a.? Nessas condições, observa-se
1−(1+0,24)−10
uma inversão de sinal, já que 𝑉𝑃𝐿 = −150 + 40 ∙ = −2,7257. Então, pode-se
0,24

interpretar que o investimento projetado não seria capaz de cobrir esse mínimo exigido.
A partir desse exemplo, observa-se que o investimento não é capaz de remunerar
24% a.a., mas certamente permite remunerar um pouco a mais que 23% a.a. Em outras
palavras, existe uma TMA entre 23% a.a. e 24% a.a. que anularia o VPL, tornando indiferente
a escolha entre investir ou não. É justamente este o conceito da taxa interna de retorno (TIR),
é a taxa de remuneração que o investimento projetado irá proporcionar.

Portanto, calculada a TIR, tal valor deve ser comparado em relação à TMA. Se
𝑇𝐼𝑅 > 𝑇𝑀𝐴, interpreta-se que o investimento é viável. Por outro lado, se 𝑇𝐼𝑅 < 𝑇𝑀𝐴,
indica-se para a inviabilidade do investimento, recomendando-se que este não seja realizado.
Algebricamente, a TIR pode então ser representada como:

𝑛 𝐹𝑡
0 = −𝐼 + ∑ 𝑡
𝑡=1 (1 + 𝑇𝐼𝑅)

Essa expressão busca calcular a taxa (TIR) capaz de tornar 𝑉𝑃𝐿 = 0. Porém, dada
a dificuldade para se encontrar tal solução algebricamente, pode-se recorrer a uma
interpolação linear, conforme detalhado no Apêndice N. Através desse artifício, encontra-se
que, se TIR for 23,4% a.a., então o VPL se aproxima de zero. Dessa maneira, se a análise
85

considerar uma TMA maior que 23,4% a.a., o projeto será considerado inviável. Do contrário,
se a TMA exigida for inferior a 23,4% a.a., interpreta-se que o investimento é vantajoso.
Vale lembrar que, assim como o VPL, a própria TIR é um indicador que requer
cautela quanto a seu uso, sobretudo quanto a premissas como vida útil, valor residual e nível
de TMA que se pretende comparar. Até mesmo para confrontar duas ou mais opções de
investimentos, o uso da TIR pode ser um critério inadequado44, ainda que provavelmente não
o seja na maioria das situações.
Outra observação diz respeito à hipótese de uso dos lucros obtidos com o
investimento, aplicados à taxa de juros livre de risco, o que suscita o cálculo do valor presente
líquido integrado (VPLI) e de sua respectiva taxa interna de retorno integrada (TIRI).
Assim como o VPLI, a TIRI costuma ser negligenciada por analistas de projetos, mas é
recomendável dar preferência a sua utilização como indicador, em lugar da TIR, tomando-se a
taxa de juros real livre de risco como taxa de reinvestimento.
Analogamente à TIR para o VPL, a TIRI é a taxa que anula o VPLI, ou seja:

∑𝑛𝑡=1 𝐹𝑡 ∙ (1 + 𝑖)𝑛−𝑡
0 = −𝐼 +
(1 + 𝑇𝐼𝑅𝐼)𝑛

A partir do exemplo colocado anteriormente, dada uma taxa de reinvestimento (𝑖)


40∙(1+0,06)10−1 +40∙(1+0,06)10−2 +⋯+40∙(1+0,06)10−10
de 6% a.a., pode-se calcular 0 = −150 + (1+𝑇𝐼𝑅𝐼)10

67,6+63,8+⋯+40 527,2 527,2
150 = (1+𝑇𝐼𝑅𝐼)10
∴ 150 = (1+𝑇𝐼𝑅𝐼)10 ∴ (1 + 𝑇𝐼𝑅𝐼)10 = ∴ (1 + 𝑇𝐼𝑅𝐼)10 = 3,515 ∴
150
1⁄
1 + 𝑇𝐼𝑅𝐼 = 3,515 10 = 1,1339 ∴ 𝑇𝐼𝑅𝐼 = 1,1339 − 1 = 0,1339 = 13,39%. Através desse
resultado, interpreta-se que o projeto é viável somente se a TMA for inferior a 13,39% a.a.
Como se pode notar, ao considerar a taxa de juros real livre de risco como taxa de
reinvestimento (𝑖), o cálculo da TIRI (no exemplo, 13,39% a.a.) resultará em um valor menor
que a TIR (23,4% a.a., como calculado anteriormente), de forma que o uso da TIRI é um
critério mais austero. Colocado de outra forma, se essa análise considerar uma TMA de 15%
a.a., por exemplo, o cálculo da TIR aceitará a viabilidade do projeto, enquanto a TIRI indicará
para a inviabilidade. Com efeito, a partir dessas hipóteses, pode-se calcular que 𝑉𝑃𝐿 =

44
Por exemplo, ao se observar o gráfico exposto no tópico 5.2.3, que trata da interseção de Fischer, pode-se
notar que o projeto A possui TIR em torno de 13% a.a., enquanto a TIR do projeto B encontra-se em torno de
15% a.a. Isso significa que B seria preferível a A? Não necessariamente, pois, como discutido naquele tópico,
essa resposta dependerá da TMA escolhida (abaixo de 9,6% a.a., o projeto A seria preferível a B, já que A
proporcionaria maior VPL).
86

40 40 40
−150 + (1+0,15)1 + (1+0,15)2 + ⋯ + (1+0,15)10 = 50,75, um valor positivo; enquanto 𝑉𝑃𝐿𝐼 =
40∙(1+0,06)10−1 +40∙(1+0,06)10−2 +⋯+40∙(1+0,06)10−10
−150 + (1+0,15)10
= −19,68, o que não recomendaria a

realização do investimento.

5.4 Tempo de retorno


Outro tradicional indicador de viabilidade é o tempo de retorno, também conhecido pelo
termo em inglês, Payback ou PBS (Payback simples). Seu objetivo é medir o tempo
necessário para que o valor investido seja recuperado pelos fluxos de caixa esperados. Em
outras palavras, se é desejado que um investimento gere retornos, deve-se esperar que os
fluxos estimados se acumulem até um instante que compense o valor investido. E quanto mais
rápido isso ocorrer, mais interessante será esse investimento, algo que pode ser calculado por
meio do Payback.
Para medir o tempo de retorno, é então fundamental prever os fluxos de caixa do
negócio. Por exemplo, considere um projeto cujo investimento é de R$ 150 milhões e os
fluxos de caixa esperados são uniformes e equivalentes a R$ 40 milhões/ano, entre os Anos 1
e 10. A partir disso, pode-se calcular o fluxo acumulado esperado. Para tanto, basta somar o
fluxo do ano corrente ao fluxo acumulado do ano anterior. No exemplo, o fluxo corrente do
Ano 0 seria R$ –150 milhões, visto que foi o instante da realização do investimento. Por sua
vez, no Ano 1, o fluxo corrente seria de R$ 40 milhões, enquanto o fluxo acumulado
corresponderia a R$ –110 milhões (= –150 + 40). Na sequência, dado que o fluxo corrente
seria uniforme em R$ 40 milhões/ano, tem-se que o fluxo acumulado seria de R$ –70 milhões
(= –110 + 40) no Ano 2; R$ –30 milhões (= –70 + 40) no Ano 3; R$ 10 milhões (= –30 + 40)
no Ano 4; R$ 50 milhões (= 10 + 40) no Ano 5; e assim por diante.
Pode-se perceber que o fluxo acumulado chegaria a zero entre o Ano 3 e o Ano 4.
Por meio do artifício de interpolação linear (detalhado no Apêndice O), o tempo de retorno
será exatamente 3,75 anos, ou seja, três anos e nove meses. Em geral, as instituições de
financiamento costumam comparar esse tempo ao horizonte de pagamento previsto na
negociação de crédito. Caso o Payback se mostre muito abaixo do prazo para liquidação da
dívida, tende-se a reduzir esse horizonte concedido.
Outro indicador utilizado com a mesma finalidade é o Payback descontado
(PBD), que considera no cálculo o valor presente dos fluxos de caixa, dada uma determinada
TMA. A partir do exemplo, ao se considerar uma TMA de 10% a.a., os fluxos de caixa
87

𝐹𝑡
descontados (dado por ) seriam de R$ –150 milhões no Ano 0; R$ 36,4 milhões no
(1+𝑇𝑀𝐴)𝑡

Ano 1; R$ 33,1 milhões no Ano 2; R$ 30,1 milhões no Ano 3; R$ 27,3 milhões no Ano 4; R$
24,8 milhões no Ano 5; e assim por diante. Então, para os fluxos acumulados, pode-se
calcular R$ –113,6 milhões no Ano 1 (= –150 + 36,4); R$ –80,6 milhões no Ano 2 (= –113,6
+ 33,1); R$ –50,5 milhões no Ano 3 (= –80,6 + 30,1); R$ –23,2 milhões no Ano 4 (= –50,5 +
27,3); R$ 1,6 milhões no Ano 5 (= –23,2 + 24,8); e assim por diante.
A partir disso, observa-se que o fluxo acumulado chegaria a zero um pouco antes
do Ano 5. Por meio do artifício de interpolação linear, pode-se calcular que o PBD equivale a
4,93 anos, ou seja, pouco mais de quatro anos e 11 meses. Nesse sentido, deve-se ressaltar que
o PBD é uma medida mais rigorosa que o PBS (com os mesmos dados, o payback simples foi
equivalente a apenas 3,75 anos).

5.5 Outros indicadores de viabilidade


Há uma grande diversidade de medidas que podem auxiliar analistas a averiguar a viabilidade
de investimentos. Em sua maioria, entretanto, conduzem a interpretações muito semelhantes
ao que se obtém por meio dos demais indicadores já citados.
Um exemplo é o índice de lucratividade (IL), que simplesmente calcula a razão
entre o valor presente dos retornos esperados e o valor do investimento, ou seja:

𝐹𝑡
[∑𝑛𝑡=1 ]
(1 + 𝑇𝑀𝐴)𝑡
𝐼𝐿 =
𝐼

Dessa maneira, através de seu cálculo, aponta-se para a viabilidade do


investimento quando IL > 1, ou seja, quando o valor presente dos retornos esperados
(numerador) é maior que o valor investido (denominador). Do contrário, se IL < 1, não se
recomenda a realização do investimento. Como se pode perceber, respectivamente, essas
interpretações correspondem aos resultados de VPL > 0 e VPL < 0. Contudo, o IL
complementa a análise de viabilidade no sentido que permite computar um resultado que é
proporcional ao valor investido. Assim, geralmente, ao se comparar dois investimentos com
VPLs semelhantes, pode-se recomendar a realização daquele caracterizado por maior IL.
Outro indicador muito semelhante diz respeito ao retorno sobre o investimento
(ROI), que simplesmente divide o valor calculado pelo VPL em relação a seu valor de
88

investimento45. Dessa maneira, se ROI > 0, aponta-se para a viabilidade do negócio, algo que
não é recomendado quando ROI < 0.

𝑛 𝐹𝑡
𝑉𝑃𝐿 −𝐼 + ∑𝑡=1 (1 + 𝑇𝑀𝐴)𝑡
𝑅𝑂𝐼 = =
𝐼 𝐼

Por sua vez, vale mencionar o indicador de valor presente líquido anualizado
(VPLA), que pode ser interpretado como uma prestação anual uniforme gerada pela atividade.
Nesse sentido, deve-se recordar da expressão que calcula o valor atual de uma série uniforme
1−(1+𝑖)−𝑛
postecipada, em que 𝑃 = 𝑃𝑟 ∙ , conforme tratado no tópico 5.1. Assim, tomando-se
𝑖

𝑃 = 𝑉𝑃𝐿, 𝑃𝑟 = 𝑉𝑃𝐿𝐴 e 𝑖 = 𝑇𝑀𝐴, com 𝑛 = vida útil do negócio, tem-se que:

𝑇𝑀𝐴
𝑉𝑃𝐿𝐴 = 𝑉𝑃𝐿 ∙
1 − (1 + 𝑇𝑀𝐴)−𝑛

Então, pode-se recomendar a realização do investimento se VPLA > 0, enquanto


VPLA < 0 é um resultado que aponta para a inviabilidade. Observa-se que a interpretação do
VPLA é praticamente idêntica ao próprio VPL, mas auxilia na percepção dos ganhos que o
investimento pode trazer em uma dimensão anualizada.
O valor futuro líquido (VFL) também traz interpretações praticamente idênticas
ao VPL, no sentido que VFL < 0 indicaria um investimento inviável. Mas, em vez de medir o
lucro do negócio e avaliá-lo no tempo presente, como feito no VPL, o VFL avalia esse valor
no tempo futuro, mais especificamente no final da vida útil do negócio (ou seja, em 𝑛):

𝑛
𝑉𝐹𝐿 = 𝑉𝑃𝐿 ∙ (1 + 𝑇𝑀𝐴)𝑛 = −𝐼 ∙ (1 + 𝑇𝑀𝐴)𝑛 + ∑ 𝐹𝑡 ∙ (1 + 𝑇𝑀𝐴)𝑛−𝑡
𝑡=1

Enfatiza-se que é possível adaptar esses indicadores e incorporar hipóteses mais


convenientes, a exemplo da possibilidade de reinvestimento dos fluxos de caixa gerados ou da
incorporação de valor residual nos cálculos, seja do IL, do ROI, do VPLA, ou mesmo do

45
Não confundir o ROI com o indicador de retorno sobre o capital social, conhecido como return on equity
(ROE), que mede a relação entre o lucro líquido de uma empresa sobre seu capital social, que é o volume de
recursos aplicados por seus acionistas. Referido indicador é uma importante ferramenta de análise na gestão
financeira dos negócios, mas não costuma ser utilizado em análises de viabilidade de investimentos.
89

VFL. Em todo caso, porém, ressalta-se que tais adaptações não costumam ser utilizadas por
analistas de instituições de financiamento.

5.6 Análise de risco


As estimativas inseridas no projeto consideram um ambiente de certeza parcial. Mesmo que o
estudo se fundamente em hipóteses sólidas, é aconselhável definir limites em cenários
pessimistas e otimistas46. A análise de risco busca justamente ponderar isso, pois, na
construção do fluxo de caixa, costuma-se utilizar valores esperados que se encontram em
determinado intervalo de possíveis resultados. Portanto, a análise de risco procura mensurar o
estado de incerteza ou a provável dispersão em torno dos valores esperados.
Nesse sentido, a princípio, uma interessante ferramenta é o modelo probabilístico
de análise de risco, que busca medir a probabilidade de ocorrência de um VPL negativo, ou
seja, a chance de o investimento ser considerado inviável segundo este critério. Para ilustrar
esse tipo de análise, considere um projeto cujo investimento é de R$ 150 milhões e os fluxos
esperados são uniformes e equivalentes a R$ 40 milhões/ano (cenário mais provável), entre os
Anos 1 e 10, mas com limites de R$ 10 milhões/ano no cenário mais pessimista, e R$ 50
milhões/ano no cenário mais otimista. O estudo considera uma TMA de 10% a.a.
Visto que o exemplo trata de fluxos de caixa uniformes (𝐹𝐶1 = 𝐹𝐶2 = ⋯ = 𝐹𝐶𝑛 ),
ao se calcular os VPLs nos três cenários, pode-se obter que 𝑉𝑃𝐿𝐸𝑠𝑝𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 = 𝑉𝑃𝐿𝐸 = −150 +
1−(1+0,10)−10 1−(1+0,10)−10
40 ∙ = 95,8, 𝑉𝑃𝐿𝑃𝑒𝑠𝑠𝑖𝑚𝑖𝑠𝑡𝑎 = 𝑉𝑃𝐿𝑃 = −150 + 10 ∙ = −88,6 e
0,10 0,10

1−(1+0,10)−10
𝑉𝑃𝐿𝑂𝑡𝑖𝑚𝑖𝑠𝑡𝑎 = 𝑉𝑃𝐿𝑂 = −150 + 50 ∙ = 157,2. Esses resultados serão utilizados
0,10

para a mensuração de média (𝜇) e variância (𝜎 2 ), considerando uma distribuição triangular47,


cujo cenário mais provável é quatro vezes mais influente que os demais cenários, ou seja, 𝜇 =
𝑚𝑎́ 𝑥+4∙𝑚𝑒́ 𝑑+𝑚𝑖́ 𝑛 𝑚𝑎́ 𝑥−𝑚𝑖́ 𝑛 2 𝑉𝑃𝐿𝑃 +4∙𝑉𝑃𝐿𝐸 +𝑉𝑃𝐿𝑂
e 𝜎2 = ( ) . Portanto, pode-se calcular que 𝜇 = =
6 6 6

157,2+4∙95,8+(−88,6) 𝑉𝑃𝐿𝑂 −𝑉𝑃𝐿𝑃 2 157,2−(−88,6) 2


= 75,3 e 𝜎 2 = ( ) =( ) = 1.678.
6 6 6

46
Como já discutido, há estimativas que afetam consideravelmente os indicadores de viabilidade, de forma que
mensurações equivocadas podem implicar na rejeição de um investimento viável ou no acolhimento de algo
insatisfatório. Exemplos dessas estimativas são o prazo de análise (deve ser suficiente para captar todas as
estimativas de receitas e gastos, inclusive levando em conta o ciclo de vida do produto/serviço), o investimento
inicial (deve considerar todos os gastos, inclusive frete, seguro, instalação, treinamento etc.), o valor residual
(deve-se adotar estimativas realistas, inclusive sobre o cálculo da depreciação), as receitas e os gastos (deve
considerar riscos como mudanças nas preferências, nas condições de crédito e outros fatores conjunturais) e a
TMA (como já discutido, deve-se ter cautela sobre sua escolha).
47
Trata-se de uma distribuição comumente empregada em situações de ausência de dados suficientes para adotar
distribuições mais adequadas.
90

Em seguida, a técnica faz a normalização do VPL, tomando-se por referência seu


desvio em relação ao ponto crítico, ou seja, em torno de 𝑉𝑃𝐿∗ = 0 (já que 𝑉𝑃𝐿 < 0 rejeitará a
𝑉𝑃𝐿∗ −𝜇 0−75,3
viabilidade). Trata-se, portanto, da variável 𝑍 = = = −1,8382. Como 𝑍 é uma
𝜎 √1.678

variável padronizada, pode-se então utilizar a tabela da distribuição normal-padrão para


concluir que, nesse exemplo, há uma probabilidade de somente 3,3% para que a organização
obtenha um retorno inferior ao investimento, algo praticamente desprezível.
Salienta-se que esse modelo considera hipóteses frágeis, mas é interessante no
sentido de introduzir técnicas probabilísticas de mensuração de risco. Para perceber suas
limitações, basta considerar outros parâmetros nas expressões da média e da variância, o que
altera substancialmente os resultados alcançados. Além disso, é possível utilizar outros
indicadores como critério, a exemplo do VPLI.
Outra técnica de análise de risco diz respeito à matriz ou árvore de decisão, cujo
procedimento também leva em consideração a proposição de cenários e é apropriado para
guiar a escolha entre diferentes opções de investimento. Por exemplo, considere uma empresa
agrícola que deve decidir o cultivo de certa área entre três opções: as culturas A, B ou C. Para
cada cultura, três cenários de receita foram traçados de acordo com as condições climáticas:
Receitas (R$ mil)
Cultura
Cenário bom Cenário médio Cenário ruim
A 95 75 40
B 70 60 55
C 90 85 30
Avaliadas as receitas em cada cenário, pode-se então definir critérios de decisão.
Uma opção é a chamada regra do pessimista, que observa a máxima receita no cenário ruim
(no exemplo, segundo esse critério, a escolha seria a cultura B). Há também a regra do
otimista, que considera a máxima receita no melhor cenário (nesse caso, A seria a cultura
escolhida). Outro exemplo é a regra de Hurwickz, que pondera graus de otimismo e
pessimismo para calcular o valor esperado da receita (por exemplo, ao considerar pesos de
20% para o cenário bom, 50% para médio e 30% para ruim, a cultura C seria a escolhida48).
Por sua vez, a regra de Laplace também calcula o valor esperado da receita, mas atribui pesos
idênticos a cada cenário (nesse caso, A seria a cultura escolhida49). Por fim, há ainda a regra
do mínimo arrependimento, que privilegia a alternativa que oferecer menor diferença entre os

48
Para a cultura A, a receita esperada equivaleria a 0,2 ∙ 95 + 0,5 ∙ 75 + 0,3 ∙ 40 = 𝑅$ 68,5 mil. Por sua vez,
para a cultura B, a receita esperada seria de 0,2 ∙ 70 + 0,5 ∙ 60 + 0,3 ∙ 55 = 𝑅$ 60,5 mil. Por fim, para C, a
receita esperada seria de 0,2 ∙ 90 + 0,5 ∙ 85 + 0,3 ∙ 30 = 𝑅$ 69,5 mil, o maior valor obtido.
49
Para A, a receita esperada seria de (95 + 75 + 40)⁄3 = 𝑅$ 70 mil. Para B, tem-se que (70 + 60 + 55)⁄3 =
𝑅$ 61,7 mil. Enquanto isso, para C, tem-se que (90 + 85 + 30)⁄3 = 𝑅$ 68,3 mil.
91

máximos possíveis em cada cenário (como mostra a tabela a seguir, segundo esse critério, a
cultura A seria a escolhida, dado o menor arrependimento proporcionado):
Arrependimento (R$ mi)
Período
Cenário bom Cenário médio Cenário ruim Total
A 95 – 95 = 0 75 – 85 = –10 40 – 55 = –15 0 – 10 – 15 = – 25*
B 70 – 95 = –25 60 – 85 = –25 55 – 55 = 0 – 25 – 25 – 0 = – 50
C 90 – 95 = –5 85 – 85 = 0 30 – 55 = –25 – 5 – 0 – 25 = – 30
Obviamente, em vez de cenários de receitas, é possível aplicar essa técnica com
outros indicadores, como o próprio VPL ou o VPLI. Nesses casos, tem-se a vantagem de se
incorporar o investimento como informação para fundamentar a decisão.
Mesmo sendo recomendável a realização da análise de risco, as instituições de
financiamento não costumam levar em consideração esta etapa. Contudo, técnicas simples e
intuitivas como a análise de sensibilidade trazem informações preciosas ao projeto. Nesse
método, procura-se medir a sensibilidade de indicadores como VPL e TIR, diante de
variações em receitas, gastos, TMA e outros parâmetros. Empiricamente, costuma-se
simplesmente considerar reduções de 10% e 20% sobre os fluxos de caixa esperados.
Por exemplo, dado um projeto cujo investimento é de R$ 150 milhões e os fluxos
esperados são uniformes e equivalentes a R$ 40 milhões/ano, entre os Anos 1 e 10, com TMA
1−(1+0,10)−10
de 10% a.a., tem-se que 𝑉𝑃𝐿 = −150 + 40 ∙ = 95,8. Por sua vez, se os fluxos
0,10

diminuírem em 10%, passando para R$ 36 milhões/ano, tem-se que 𝑉𝑃𝐿−10% = −150 + 40 ∙


1−(1+0,10)−10 1−(1+0,10)−10
(1 − 0,10) ∙ = −150 + 36 ∙ = 71,2. Por fim, se a redução for de
0,10 0,10

20%, com os fluxos esperados passando para R$ 32 milhões/ano, encontra-se que 𝑉𝑃𝐿−20% =
1−(1+0,10)−10 1−(1+0,10)−10
−150 + 40 ∙ (1 − 0,20) ∙ = −150 + 32 ∙ = 46,6. Nesse sentido,
0,10 0,10

mesmo considerando quedas de 20% sobre os fluxos esperados, percebe-se que ainda assim é
recomendável a realização do investimento50.
Para complementar a análise de sensibilidade, vale citar o ponto de equilíbrio
(PE), mesmo que este não seja propriamente um indicador de análise de risco, sendo uma
ferramenta mais apropriada para a gestão financeira, particularmente no campo da análise de
custos. Seu objetivo é mensurar o nível de produção a partir do qual o lucro começa a ocorrer
no negócio. Assim, para cada segmento de produto/serviço, deve-se calcular sua função lucro
(Π), dada pela diferença entre suas receitas (𝑅) e seus gastos (𝐺), ou seja, Π = 𝑅 − 𝐺.
50
Para descobrir o percentual que redução que levará à condição de inviabilidade, basta considerar que
1−(1+0,10)−10 150
𝑉𝑃𝐿−𝑥% = −150 + 40 ∙ (1 − 𝑥) ∙ = 0 ∴ 245,8 ∙ (1 − 𝑥) = 150 ∴ (1 − 𝑥) = = 0,6103 ∴
0,10 245,8
𝑥 = 1 − 0,6103 = 0,3897 = 38,97%. Dessa maneira, o investimento seria considerado viável mesmo que os
fluxos esperados caíssem em até 38,97%.
92

Quanto às receitas, estas podem ser calculadas simplesmente como 𝑅 = 𝑝 ∙ 𝑞, em


que 𝑝 representa o preço do produto/serviço (ou ticket médio, ou seja, a média de receita por
atendimento realizado) e 𝑞 é o nível de produção (ou vendas efetuadas).
Por sua vez, quanto aos gastos (𝐺), deve-se lembrar que uma parcela destes é
facilmente atribuível ao produto/serviço, a exemplo dos custos com materiais diretos e mão de
obra direta. Porém, é necessário estabelecer algum critério de rateio para atribuir o quanto dos
custos indiretos de fabricação e das despesas efetuadas se relaciona com aquele determinado
produto/serviço51. Posteriormente, deve-se ainda segregar os valores entre gastos fixos (𝐺𝐹) e
gastos variáveis (𝐺𝑉), lembrando que os gastos variáveis podem ser colocados em função do
nível de produção, ou seja, 𝐺𝑉 = 𝑔 ∙ 𝑞, em que 𝑔 representa uma espécie de preço médio dos
fatores de produção empregados. Portanto, tem-se que 𝐺 = 𝐺𝐹 + 𝐺𝑉 = 𝐺𝐹 + 𝑔 ∙ 𝑞.
A partir dessas definições, o ponto de equilíbrio é o nível crítico de produção (𝑞 ∗ )
sob a condição de lucro nulo (Π = 0). Assim, se o nível de produção previsto para o negócio
for maior que o ponto de equilíbrio, espera-se a obtenção de lucros. Por outro lado, se esse
nível for menor, espera-se a ocorrência de prejuízos.
Então, o ponto de equilíbrio (𝑃𝐸 = 𝑞 ∗ ) pode ser obtido como Π = 𝑅 − 𝐺 ∴ Π =
𝑝 ∙ 𝑞 − (𝐺𝐹 + 𝑔 ∙ 𝑞) ∴ 0 = 𝑝 ∙ 𝑃𝐸 − (𝐺𝐹 + 𝑔 ∙ 𝑃𝐸) ∴ 0 = (𝑝 − 𝑔) ∙ 𝑃𝐸 − 𝐺𝐹, ou seja:

𝐺𝐹
𝑃𝐸 =
𝑝−𝑔

Recomenda-se que o ponto de equilíbrio seja calculado como um complemento


para a análise de risco, sobretudo porque permite observar o quanto o lucro da organização
pode ser afetado diante de variações de mercado. Por exemplo, pode-se avaliar o quanto o
nível de produção projetado para o Ano 1 (ou outros anos) se distancia de seu ponto de
equilíbrio. Nesse aspecto, se esses valores estiverem muito próximos, pequenas variações
podem causar prejuízos, sejam por mudanças nos preços dos produtos/serviços ofertados ou
no preço médio dos fatores produtivos empregados. Assim, é recomendável que os níveis de
produção esperados considerem folgas em relação a seu ponto de equilíbrio calculado.

51
Nesse sentido, recomenda-se a departamentalização das atividades da empresa e observar o quanto cada
segmento de produto/serviço exige desses departamentos. Dessa forma, ao levantar os custos indiretos e as
despesas associadas a cada departamento, pode-se facilmente ratear tais gastos segundo cada tipo de
produto/serviço ofertado.
93

APÊNDICE

Apêndice A: exemplo de quadro de orçamentos


% COBERTURA
VALOR VALOR TOTAL
DISCRIMINAÇÃO UNID. QTDE. RECURSOS DE TERCEIROS RECURSOS PRÓPRIOS
UNITÁRIO (R$) (R$)
REALIZADO A REALIZAR REALIZADO A REALIZAR
Obras civis - - - - - - - -
- - - - - - - - -
- - - - - - - - -
Instalações - - - - - - - -
- - - - - - - - -
- - - - - - - - -
Máquinas e equipamentos - - - - - - - -
- - - - - - - - -
- - - - - - - - -
Equipamentos de informática - - - - - - - -
- - - - - - - - -
- - - - - - - - -
Veículos - - - - - - - -
- - - - - - - - -
- - - - - - - - -
Móveis e utensílios - - - - - - - -
- - - - - - - - -
- - - - - - - - -
Outros itens - - - - - - - -
Treinamento - - - - - - - -
Estudos e projetos - - - - - - - -
Investimentos pré-operacionais - - - - - - - -
- - - - - - - - -
SUBTOTAL - - - - - - - -
Capital de giro Verba 1 - - - - - -
TOTAL DO PROJETO - - - - - - - -
94

Apêndice B: exemplo de quadro de cronograma de desembolsos

DISCRIMINAÇÃO Mês 0 Mês +1 Mês +2 Mês +3 Mês +4 Mês +5 Mês +6 Mês +7 Mês +8 Mês +9 Mês +10

Obras civis - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
Instalações - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
Máquinas e equipamentos - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
Equipamentos de informática - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
Veículos - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
Móveis e utensílios - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
Outros itens - - - - - - - - - - -
Treinamento - - - - - - - - - - -
Estudos e projetos - - - - - - - - - - -
Investimentos pré-operacionais - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - -
SUBTOTAL - - - - - - - - - - -
Capital de giro - - - - - - - - - - -
TOTAL DO PROJETO - - - - - - - - - - -
95

Apêndice C: exemplo de quadro de usos e fontes


EXISTENTE
ITEM PREVISTO TOTAL
ANTES DO PROJETO DENTRO DO PROJETO TOTAL
FONTES - - - - -
Recursos próprios - - - - -
Recursos de terceiros - - - - -
USOS - - - - -
Obras civis - - - - -
Instalações - - - - -
Máquinas e equipamentos - - - - -
Equipamentos de informática - - - - -
Veículos - - - - -
Móveis e utensílios - - - - -
Outros itens - - - - -
Capital de giro - - - - -

Apêndice D: exemplo de quadro de estimativas de receitas


QTDE. A 100% DA
ANO 0 ANO +1 ANO +2 ANO +3
CAP.PROD.
PREÇO
DISCRIMINAÇÃO UNID. UNIT.
ANTES DO APÓS O
(R$) % UTILIZ. QTDE. R$ % UTILIZ. QTDE. R$ % UTILIZ. QTDE. R$ % UTILIZ. QTDE. R$
PROJETO PROJETO

- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
TOTAL - - - - - - - - - - - - - - - -
96

Apêndice E: exemplo de quadro de estimativas de gastos com materiais


QTDE. A 100% DA
ANO 0 ANO +1 ANO +2 ANO +3
CAP.PROD.
PREÇO
DISCRIMINAÇÃO UNID. UNIT.
ANTES DO APÓS O
(R$) % UTILIZ. QTDE. R$ % UTILIZ. QTDE. R$ % UTILIZ. QTDE. R$ % UTILIZ. QTDE. R$
PROJETO PROJETO

Materiais primários - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
Materiais secundários - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
Materiais auxiliares - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
Embalagens - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
TOTAL - - - - - - - - - - - - - - - -
97

Apêndice F: exemplo de quadro de estimativas de gastos com mão de obra


QTDE. A 100% DA
ANO 0 ANO +1 ANO +2 ANO +3
CAP.PROD.
SALÁRIO
DISCRIMINAÇÃO MENSAL
ANTES DO APÓS O
(R$) % UTILIZ. QTDE. R$ % UTILIZ. QTDE. R$ % UTILIZ. QTDE. R$ % UTILIZ. QTDE. R$
PROJETO PROJETO

Diretoria - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
Mão de obra fixa - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
Mão de obra variável - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - -
Encargos - - - - - - - - - - - - - - -
Sobre honorários - - - - - - - - - - - - - - -
Sobre mão de obra fixa - - - - - - - - - - - - - - -
Sobre mão de obra variável - - - - - - - - - - - - - - -
TOTAL - - - - - - - - - - - - - - -
98

Apêndice G: exemplo de quadro de estimativas de gastos com depreciação, manutenção e seguros


DEPRECIAÇÃO MANUTENÇÃO SEGUROS
DISCRIMINAÇÃO BASE DE CÁLCULO
% R$ % R$ % R$
Existente - - - - - - -
Obras civis - 4,0 - 1,5 - 2,5 -
Instalações - 6,7 - 1,5 - 2,5 -
Máquinas e equipamentos - 6,7 - 1,5 - 2,5 -
Equipamentos de informática - 20,0 - 1,5 - - -
Veículos - 20,0 - 1,5 - 4,0 -
Móveis e utensílios - 10,0 - 1,5 - - -
Projetado - - - - - - -
Obras civis - 4,0 - 1,5 - 2,5 -
Instalações - 6,7 - 1,5 - 2,5 -
Máquinas e equipamentos - 6,7 - 1,5 - 2,5 -
Equipamentos de informática - 20,0 - 1,5 - - -
Veículos - 20,0 - 1,5 - 4,0 -
Móveis e utensílios - 10,0 - 1,5 - - -
TOTAL - - - - - - -

Apêndice H: exemplo de quadro de estimativas de gastos com demais CIF


QTDE. A 100% DA
ANO 0 ANO +1 ANO +2 ANO +3
CAP.PROD.
PREÇO
DISCRIMINAÇÃO UNID. UNIT.
ANTES DO APÓS O
(R$) % UTILIZ. QTDE. R$ % UTILIZ. QTDE. R$ % UTILIZ. QTDE. R$ % UTILIZ. QTDE. R$
PROJETO PROJETO

- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - - - - - -
TOTAL - - - - - - - - - - - - - - - -
99

Apêndice I: exemplo de quadro de estimativas de gastos com tributos


BASE DE CÁLCULO ANO 0 ANO +1 ANO +2 ANO +3
INCIDÊNCIA ALÍQUOTA
DISCRIMINAÇÃO BASE DE BASE DE BASE DE BASE DE
(S OU N?) (%) TIPO % DO TIPO TOTAL (R$) TOTAL (R$) TOTAL (R$) TOTAL (R$)
CÁLCULO (R$) CÁLCULO (R$) CÁLCULO (R$) CÁLCULO (R$)
ICMS N - - - - - - - - - - -
Créditos (sobre insumos recup.) - - - - - - - - - - - -
Fora da UF - 12,0 Insumos 80,0 - - - - - - - -
Dentro da UF - 18,0 Insumos 20,0 - - - - - - - -
Débitos (sobre receitas) - - - - - - - - - - - -
Fora da UF - 12,0 Receitas 10,0 - - - - - - - -
Dentro da UF - 18,0 Receitas 90,0 - - - - - - - -
IPI N - - - - - - - - - - -
Créditos (sobre insumos recup.) - 5,0 Insumos - - - - - - - - -
Débitos (sobre receitas) - 5,0 Receitas - - - - - - - - -
OUTROS - - - - - - - - - - - -
ISS N 5,0 Receitas 100 - - - - - - - -
PIS N 1,65 Receitas 100 - - - - - - - -
COFINS N 7,6 Receitas 100 - - - - - - - -
Simples N 10,0 Receitas 100 - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - -
- - - - - - - - - - - - -
TOTAL - - - - - - - - - - - -

Apêndice J: exemplo de quadro de estimativas de gastos totais


DISCRIMINAÇÃO ANO 0 ANO +1 ANO +2 ANO +3
Custos (exceto mão de obra, depreciação, manutenção e seguros) - - - -
Materiais - - - -
Demais CIF - - - -
Mão de obra - - - -
Depreciação, manutenção e seguros - - - -
Tributos (exceto CSLL e IR) - - - -
Despesas (exceto mão de obra, depreciação, manutenção e seguros, tributos, juros e amortizações) - - - -
- - - - -
- - - - -
- - - - -
Gastos diversos (% do total) - - - - -
TOTAL - - - -
100

Apêndice K: exemplo de quadro de reposição de dívidas


DISCRIMINAÇÃO OPERAÇÃO FINALIDADE CARÊNCIA (MESES) ENCARGOS (% A.A.) PRAZO TOTAL (MESES) SALDO DEVEDOR (R$)

Investimento FNE-Industrial Implantação 12 4,50 60 -


- - - - - - -
- - - - - - -

Apêndice L: exemplo de quadro de resultados, capacidade de pagamento e fluxo de caixa


DISCRIMINAÇÃO REFERÊNCIA ANO 0 ANO +1 ANO +2 ANO +3 ANO +4 ANO +5 ANO +6 ANO +7 ANO +8 ANO +9 ANO +10
Receita bruta A - - - - - - - - - - -
IPI sobre faturamento B - - - - - - - - - - -
Abatimentos e devoluções C - - - - - - - - - - -
Receita líquida D=A-B-C - - - - - - - - - - -
Materiais E - - - - - - - - - - -
Mão de obra F - - - - - - - - - - -
Depreciação, manutenção e seguros G - - - - - - - - - - -
Tributos (exceto IPI, CSLL e IR) H - - - - - - - - - - -
Demais CIF I - - - - - - - - - - -
Juros e amortizações J - - - - - - - - - - -
Demais despesas e gastos diversos K - - - - - - - - - - -
Lucro tributável L=D-E-F-G-H-I-J-K - - - - - - - - - - -
CSLL (%) 9,00 M - - - - - - - - - - -
IR (%) 15,00 N - - - - - - - - - - -
Resultado do exercício (DRE) O=L-M-N - - - - - - - - - - -
Depreciação P - - - - - - - - - - -
Disponibilidade de caixa Q=O+P - - - - - - - - - - -
Disponibilidade acumulada Soma com ano anterior - - - - - - - - - - -
Juros de financiamentos R - - - - - - - - - - -
Amortizações de financiamentos S - - - - - - - - - - -
Uso da capacidade de pagamento T = (R + S)/Q - - - - - - - - - - -
Entradas (receita bruta) U - - - - - - - - - - -
Saídas (investimentos, custos e despesas) V - - - - - - - - - - -
Fluxo corrente W=U-V - - - - - - - - - - -
Fluxo acumulado Soma com ano anterior - - - - - - - - - - -
101

Apêndice M: exemplo de interpolação linear para interseção de Fischer


Ao comparar dois projetos de investimento, A e B, a interseção de Fischer é o ponto cuja
TMA permite igualar os VPLs de ambos os projetos, ou seja, satisfazendo 𝑉𝑃𝐿𝐴 = 𝑉𝑃𝐿𝐵 . Por
1−(1+𝑇𝑀𝐴)−10
exemplo, a partir de 𝑉𝑃𝐿𝐴 = −1.500 + 280 ∙ e 𝑉𝑃𝐿𝐵 = −1.000 + 200 ∙
𝑇𝑀𝐴
1−(1+𝑇𝑀𝐴)−10
, deve-se calcular a TMA capaz de igualar esses VPLs, ou seja, 𝑉𝑃𝐿𝐴 = 𝑉𝑃𝐿𝐵 ∴
𝑇𝑀𝐴
1−(1+𝑇𝑀𝐴)−10 1−(1+𝑇𝑀𝐴)−10 1−(1+𝑇𝑀𝐴)−10
−1.500 + 280 ∙ = −1.000 + 200 ∙ ∴ −500 + 80 ∙ =
𝑇𝑀𝐴 𝑇𝑀𝐴 𝑇𝑀𝐴
50
0 ∴ 1 − (1 + 𝑇𝑀𝐴)−10 − ∙ 𝑇𝑀𝐴 = 0.
8

Dada a dificuldade para resolver algebricamente essa última equação, recorre-se


ao artifício da interpolação linear. Para tanto, deve-se considerar duas TMAs hipotéticas que
convenientemente alterem o sinal da equação. Por exemplo, ao se calcular previamente que A
é preferível a B quando se assume uma TMA de 9% a.a., enquanto o contrário ocorre quando
a TMA é de 10% a.a., então essas duas taxas podem ser testadas no artifício de interpolação.
50
Com efeito, ao se considerar TMA de 9% a.a., 1 − (1 + 𝑇𝑀𝐴)−10 − ∙ 𝑇𝑀𝐴 =
8
50
1 − (1 + 0,09)−10 − ∙ 0,09 = 0,01509. Por outro lado, ao se considerar TMA de 10% a.a.,
8
50
tem-se que 1 − (1 + 0,10)−10 − ∙ 0,10 = −0,01054.
8

Pode-se ainda considerar uma margem ainda mais limitada. Por exemplo, com
50
TMA de 9,5% a.a., 1 − (1 + 0,095)−10 − ∙ 0,095 = 0,00274. Por outro lado, ao se
8
50
considerar TMA de 9,75% a.a., tem-se que 1 − (1 + 0,0975)−10 − ∙ 0,0975 = −0,00379.
8

A partir desses dois últimos pontos observados, (𝑥0 ; 𝑦0 ) = (0,095; 0,00274) e


(𝑥1 ; 𝑦1 ) = (0,0975; −0,00379), deseja-se encontrar (𝑥 ∗ ; 𝑦 ∗ ) = (𝑇𝑀𝐴∗ ; 0), o que pode ser
𝑥 ∗ −𝑥0 𝑦 ∗ −𝑦0
obtido pelo artifício de interpolação linear, em que 𝑥 =𝑦 .
1 −𝑥0 1 −𝑦0

𝑇𝑀𝐴∗ −0,095 0−0,00274


Substituindo-se esses valores, tem-se que = −0,00379−0,00274 ∴
0,0975−0,095
𝑇𝑀𝐴∗ −0,095 −0,00274 𝑇𝑀𝐴∗ −0,095
= −0,00653 ∴ = 0,4196 ∴ 𝑇𝑀𝐴∗ − 0,095 = 0,4196 ∙ 0,0025 =
0,0025 0,0025

0,00105 ∴ 𝑇𝑀𝐴∗ = 0,00105 + 0,095 = 0,09605 = 9,605%.


De fato, ao se considerar uma TMA de 9,605% a.a., 𝑉𝑃𝐿𝐴 = −1.500 + 280 ∙
1−(1+0,09605)−10 1−(1+0,09605)−10
= 250, enquanto 𝑉𝑃𝐿𝐵 = −1.000 + 200 ∙ = 250. Nesse
0,09605 0,09605

sentido, na hipótese de uma TMA de aproximadamente 9,6% a.a., a escolha entre os projetos
A e B torna-se indiferente, pois ambos criariam o mesmo valor sobre o investimento efetuado.
102

Apêndice N: exemplo de interpolação linear para TIR


A TIR é a taxa de remuneração que o investimento projetado irá proporcionar. Seu cálculo
𝐹
pressupõe encontrar a taxa que anula o VPL, ou seja, 0 = −𝐼 + ∑𝑛𝑡=1 (1+𝑇𝐼𝑅)
𝑡
𝑡. Por exemplo,

ao se considerar um projeto cujo investimento é de R$ 150 milhões e os fluxos de caixa


esperados são R$ 40 milhões/ano, uniformes entre o Ano 1 e o Ano 10, tem-se que 0 =
40 40 40 40
−150 + (1+𝑇𝐼𝑅)1 + (1+𝑇𝐼𝑅)2 + (1+𝑇𝐼𝑅)3 + ⋯ + (1+𝑇𝐼𝑅)10 . Já que os fluxos esperados são
1−(1+𝑇𝐼𝑅)−10
uniformes, também seria possível considerar que 𝑉𝑃𝐿 = −150 + 40 ∙ = 0, o que
𝑇𝐼𝑅
15
se pode desenvolver até que 1 − (1 + 𝑇𝐼𝑅)−10 − ∙ 𝑇𝐼𝑅 = 0.
4

Dada a dificuldade para resolver algebricamente essa última equação, recorre-se


ao artifício da interpolação linear. Para tanto, deve-se considerar duas TMAs hipotéticas que
convenientemente alterem o sinal do VPL. Por exemplo, pode-se calcular previamente que
1−(1+0,23)−10
𝑉𝑃𝐿 = −150 + 40 ∙ = 1,9708 quando TMA = 23% a.a; enquanto 𝑉𝑃𝐿 =
0,23

1−(1+0,24)−10
−150 + 40 ∙ = −2,7257 quando TMA = 24%.
0,24

A partir desses dois últimos pontos observados, (𝑥0 ; 𝑦0 ) = (0,23; 1,9708) e


(𝑥1 ; 𝑦1 ) = (0,24; −2,7257), deseja-se encontrar (𝑥 ∗ ; 𝑦 ∗ ) = (𝑇𝐼𝑅; 0), o que pode ser obtido
𝑥 ∗ −𝑥0 𝑦 ∗ −𝑦0
pelo artifício de interpolação linear, em que 𝑥 =𝑦 .
1 −𝑥0 1 −𝑦0

𝑇𝐼𝑅−0,23 0−1,9708 𝑇𝐼𝑅−0,23


Substituindo-se esses valores, tem-se que = −2,7257−1,9708 ∴ =
0,24−0,23 0,01
−1,9708 𝑇𝐼𝑅−0,23
∴ = 0,4196 ∴ 𝑇𝐼𝑅 − 0,23 = 0,4196 ∙ 0,01 = 0,0042 ∴ 𝑇𝐼𝑅 = 0,0042 +
−4,6965 0,01

0,23 = 0,2342 = 23,42%. De fato, ao se considerar uma taxa de 23,42% a.a., 𝑉𝑃𝐿 =
1−(1+0,2342)−10
−150 + 40 ∙ ≅ 0. Nesse sentido, pode-se interpretar que o negócio irá
0,2342

remunerar o equivalente a 23,42% a.a.

Apêndice O: exemplo de interpolação linear para tempo de retorno


O tempo de retorno (Payback) mede o tempo necessário para que o valor investido seja
recuperado pelos fluxos de caixa esperados. A partir de um exemplo cujos fluxos acumulados
equivalem a R$ –30 milhões no Ano 3 e a R$ 10 milhões no Ano 4, tem-se dois pontos
observados, (𝑥0 ; 𝑦0 ) = (3; −30) e (𝑥1 ; 𝑦1 ) = (4; 10). Assim, deseja-se encontrar (𝑥 ∗ ; 𝑦 ∗ ) =
𝑥 ∗ −𝑥0 𝑦 ∗ −𝑦0
(𝑃𝑎𝑦𝑏𝑎𝑐𝑘; 0) através do artifício de interpolação linear, em que 𝑥 =𝑦 .
1 −𝑥0 1 −𝑦0
103

𝑃𝑎𝑦𝑏𝑎𝑐𝑘−3 0−(−30) 𝑃𝑎𝑦𝑏𝑎𝑐𝑘−3 30


Substituindo-se tais valores, tem-se que = 10−(−30) ∴ = 40 ∴
4−3 1

𝑃𝑎𝑦𝑏𝑎𝑐𝑘 − 3 = 0,75 ∴ 𝑃𝑎𝑦𝑏𝑎𝑐𝑘 = 0,75 + 3 = 3,75. Portanto, nessa situação, o


investimento seria completamente recuperado em 3,75 anos, o que equivale a três anos e nove
meses (= 0,75 ∙ 12).

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