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30/10/2021 17:48 Restaurando o coração

Restaurando o coração
A obra de Deus na intimidade do coração humano.
Cristian Cerda

“Enganoso é o coração mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? ...
Examine-me, Oh Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus
pensamentos; e vê se há em mim caminho de perversidade ... Cria, em mim, Oh Deus, um
coração limpo, e renova um espírito reto dentro de mim” (Jer. 17:9: Sal. 139:23-24; 51:10)

A experiência de Pedro
Atos capítulo 10 relata a experiência de Pedro quando tem um êxtase e vê um lençol que desce
do céu. Para ele, aquilo foi algo difícil de olhar. O que havia ali? «Todos os quadrúpedes
terrestres e répteis e aves do céu» (V. 12), animais que, para um judeu, eram imundos.

Também ouve uma voz, que provavelmente era o que não queria ouvir: «Levanta-te, Pedro,
mata e come» (V. 13). E Pedro reage tal como reagiria um judeu de caráter, dizendo: «Senhor,
não; porque nada comum ou imundo jamais comi» (v. 14). Como é o nosso coração!

«Tornou a voz a segunda vez: O que Deus limpou, não o chames tu comum» (v. 15). Essa era uma
palavra forte. Hoje, nós, como Pedro, temos julgamentos no coração para algo que consideramos
comum ou imundo, crendo que isso é o que Deus também vê. Conseguimos captar a complicação
do apóstolo? Seu coração foi confrontado nessa visão, pondo-o em aperto.

O Senhor lhe mostra esta visão três vezes, porque ele é paciente com os seus servos. E quando
conclui a cena, vem buscar a Pedro para levá-lo a casa de Cornélio. Quando o apóstolo entra ali
onde o Senhor o levou um pouco forçado, as suas primeiras palavras a todos os que tinham vindo
para ouvi-lo como alguém que vem da parte de Deus, foi: «Vós sabeis o quão abominável é para
um varão judeu juntar-se ou aproximar-se de um estrangeiro» (v. 28).

Isto é tão impressionante, porque nós não conhecemos o nosso coração. Jeremias o declara de
maneira evidente: «Enganoso é o coração mais do que todas as coisas, e perverso; quem o
conhecerá?» (Jer. 17:9). Não são palavras muito agradáveis. Nem nós mesmos podemos chegar a
nos conhecer cabalmente.

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Davi em uma hora crítica


Agora, no segundo livro de Samuel capítulo 11, vemos a hora mais trágica na vida de Davi,
quando todos foram para a guerra e ele ficou no palácio. O rei vê a Bate-Seba, mulher do heteu
Urias, e a toma para si. E em seguida, ao dar-se conta de seu horrível ato, seguindo a voz de seu
coração para ocultar aquilo, manda chamar Urias e o envia para a sua casa com a sua esposa.

Urias era um homem íntegro, como mostram as Escrituras. Ele não acata o que o rei lhe diz, mas
passa a noite fora, pois, como ele, sendo um general, enquanto todos estavam na batalha, ia
descansar e dormir com a sua mulher? E não dormiu ali. Aquilo chegou aos ouvidos do rei.

Então Davi escreve a um dos seus oficiais importantes e lhe ordena que, quando a batalha
aumentar, ponham Urias no fronte e o abandonem. Urias morre, e então o rei toma a Bate-Seba
como sua esposa. Ninguém viu, ninguém soube, e tudo estava ficando dentro de uma margem
adequada.

Então vem o profeta Natã e relata algo em relação ao qual Davi devia julgar. «Havia um homem
rico que possuía muitas ovelhas, e outro que tinha apenas uma. E aquele homem rico a tirou do
que tinha uma só». Natã tinha claro o que ia dizer, mas também é evidente que Davi sabia o que
tinha feito. «Então se acendeu o furor de Davi em grande maneira contra aquele homem, e disse
a Natã: Vive Jehová, que o que o tal fez é digno de morte» (2 Sam. 12:5). O coração deve ser
corrigido. «Então disse Natã a Davi: Tu és aquele homem» (v.7).

Um grito de angústia
Depois dessa experiência, Davi escreve o Salmo 51, um grito angustiante do seu coração. O título
diz: «Arrependimento, e súplica pedindo purificação. Salmo de Davi, quando depois que se
achegou a Bate-Seba, veio a ele Natã o profeta».

«Eis que, tu amas a verdade no íntimo, e no secreto me tem feito compreender a sabedoria» (v.
6). É óbvio que ele estava vivendo uma hora angustiante depois de ser descoberto, mas ele está
assimilando aquilo, e diz: «No secreto me tens feito compreender sabedoria».

«Esconde o teu rosto dos meus pecados, e apaga todas as minhas maldades. Cria, em mim, Oh
Deus, um coração limpo, e renova um espírito reto dentro de mim» (V. 9-10). Quando Pedro teve
essa experiência entre os gentios, Deus estava também tratando com o que havia no coração do
apóstolo. «Examine-me, Oh Deus, e conhece o meu coração… e vê se há em mim caminho de
perversidade» (Sal. 139:23-24).

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Na casa de Cornélio ocorreu algo extraordinário. Enquanto Pedro estava falando, todos os que
estavam presentes foram cheios do Espírito Santo. Mais tarde, em Jerusalém, o apóstolo
declara: «Quem era eu que pudesse estorvar a Deus» (Atos. 11:17). Apesar da estupidez de
Pedro, Deus operou soberanamente. Quem pode impedir que Deus derramasse o seu Espírito
sobre toda carne? Quem pode impedir que ele fizesse uma obra além do nosso entendimento?

Deus não está limitado ao que eu entenda ou ao que eu julgue, porque os seus pensamentos são
mais altos que os nossos. Ele tratará a intimidade do nosso coração, e ele o fará por meio
daquilo que ele vê e do que ele fala.

Os entendimentos de Deus
«Escreve ao anjo da igreja em Tiatira: O Filho de Deus, que tem olhos como chamas de
fogo» (Apoc. 2:18). Sabemos que o Senhor se apresenta a cada igreja de uma maneira diferente,
mesmo que no final sempre diz: «Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz», não a
aquela igreja, mas «às igrejas». A Tiatira, o Senhor se revela como «aquele que tem olhos como
chamas de fogo».

«...e dei-lhe tempo para que se arrependesse; e ela não quer arrepender-se da sua prostituição.
Eis que a lanço num leito de dores, e numa grande tribulação os que cometem adultério com
ela, se não se arrependerem das obras dela;e ferirei de morte a seus filhos, e todas as igrejas
saberão que eu sou aquele que esquadrinha os rins e os corações; e darei a cada um de vós
segundo as suas obras» (Apoc. 2:21-23).

Eis aqui a ação dos olhos como chama de fogo. Certamente, o Senhor não o faz para nos expor
publicamente. Que enorme misericórdia e bondade é a sua, porque, com tudo o que sabe de nós,
apesar disso, não deixa de nos chamar seus filhos; e mais ainda, apesar disso, não nos impede de
lhe chamar Pai.

Deus esquadrinha a nossa mente e coração com a intenção de nos libertar de nós mesmos, de nos
cuidar daquilo que nos trará dor ou desventura. Ele quer nos libertar de coisas que ele vê, e que
talvez nós não vemos. Mas, para isso, nos avalia primeiro com os seus olhos como chama de fogo.

Lembro-me de uma experiência de um tempo atrás. Um irmão me chamou, me dizendo: «Há


uma vizinha no hospital que está numa situação muito delicada. Tem um tumor, e eu lhe disse
que você a visitaria». Quando cheguei à sala onde estava a doente deitada, a vi e pensei: «meu
Deus, com um tumor, e grávida!».

Então, fiz uma observação inoportuna. «Não sabia que você estava grávida». Ela me olhou e me
disse: «Não, isto é o tumor. Faz anos, não era mais que um grãozinho de lentilha; mas ninguém o
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detectou. E começou a crescer e a crescer. E agora, essa lentilha que cresceu não me deixa
respirar, e está me matando».

Nesse momento, o Senhor me deu um entendimento. O que não detectaram os médicos, Deus
sabia. Ele nos conhece em espírito, alma e corpo. E quando ele nos vê no íntimo, não o faz com
o fim de censurar o que somos, ou de nos falar de maneira irada, porque somos seu especial
tesouro.

O Senhor tem a intenção de nos libertar, porque se ele não o fizer isso nos trará aflição. Não falo
dos sofrimentos que o Senhor quer que experimentemos. Como disse um irmão da antiguidade:
«Uma só coisa temo: Não ser digno dos sofrimentos que o Senhor põe diante de mim».

Não estou falando do que Paulo menciona: «Cumpro na minha carne o que resta das aflições de
Cristo por seu corpo, que é a igreja» (Col. 1:24). Não. Estou tratando de coisas que o Senhor
conhece, e que por meio dessas aflições e desse conhecimento que ele tem, quer que aquilo não
esteja em nós – salvo caso o nosso coração já seja perfeito.

Um Deus que consola


A segunda epístola aos Coríntios é uma carta tão linda de ler. Paulo a inicia em um nível de tanta
confiança com aquela igreja tão conflitiva. Mas ele não tem problema em dizer: «Bendito seja o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai de misericórdias e Deus de toda consolação» (2 Cor.
1:3).

É notável poder saber que temos um Deus de todo consolo. Que experiência podemos viver, que
ele não possa consolar? Há alguma? Provavelmente, para nós, pode ser que sim. Mas é porque nos
falta conhecer o consolo que ele tem para nós. «…o qual nos consola em todas nossas
tribulações, para que possamos também consolar aos que estão em qualquer tribulação» (v. 4).

Paulo não fala como faz o irmão C. S. Lewis em seu livro «Um Luto em Observação». Quando a
sua esposa falece, ele escreve: «Vêm alguns para me dizer: Não vá aos lugares que visitou com
ela; não faça as coisas que fez com ela. Eles não têm ideia do que significa a perda. Porque não
é estar em um lugar; não é deixar de fazer certas coisas; porque o luto não está ali, mas aqui, no
coração».

«Porque da maneira que abundam em nós as aflições de Cristo, assim abunda também pelo
próprio Cristo a nossa consolação… Porque irmãos, não queremos que ignoreis a respeito da
nossa tribulação que nos sobreveio na Ásia; pois fomos afligidos sobremaneira além de nossas
forças, de tal modo que até perdemos a esperança de conservar a vida» (vs. 5, 8). Aquilo
ultrapassou; sua inteligência e sua capacidade ficaram anuladas.Normalmente, as pessoas
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pensam: «Se me acontecer tal coisa, posso fazer outra; se ocorrer aquilo, posso tomar esses
recursos». Mas o que acontece se não ficar para nós nenhuma possibilidade? «Fomos afligidos
sobremaneira além das nossas forças, de tal modo que até perdemos a esperança de conservar a
vida». Uma experiência extrema; mas no meio dela, Paulo pôde iniciar esta carta dizendo que
Deus é Pai de misericórdias e Deus de toda consolação.

Confiando só em Deus
«Mas tivemos em nós mesmos a sentença de morte…» (v. 9). O terrível destas palavras tem um
sentido, um propósito: «…para que não confiássemos em nós mesmos». No exemplo do grãozinho
de lentilha que só Deus via, é como se ela tivesse um nome: «Confiança em ti mesmo». Tudo o
que o apóstolo estava vivendo era para que ele identificasse esta pequena coisa em seu coração
chamada «Confiança em si mesmo».

Graças ao Senhor pelos servos que podem descrever as experiências que vivem na intimidade
com o Senhor, porque elas nos consolam e nos trazem refrigério. A experiência era «para que
não confiássemos em nós mesmos, mas em Deus que ressuscita os mortos».

Só de nosso Deus se pode dizer: ele ressuscita os mortos. Por isso, quando Abraão pega a faca
para sacrificar Isaque, havia algo ali que ninguém via, mas que Deus estava vendo. «Pensando
que Deus é poderoso para levantar até de entre os mortos» (Heb. 11:19).

Nossa confiança não está em nós, mas em Deus que ressuscita os mortos. Que confiança mais
maravilhosa! A morte é a experiência mais dura e crua que nos cabe viver. Mas que gloriosa
confiança: Deus nos ressuscitará dos mortos!

Um peso de glória
Paulo descreve a aflição de maneira que nos deixa impactados. Nós não gostaríamos de viver
uma coisa assim. Mas agora diz: «portanto, não desmaiemos; ainda que este nosso homem
exterior se vai desgastando, o interior não obstante se renova de dia em dia. Porque esta leve e
momentânea tribulação produz em nós cada vez mais excelente e eterno peso de glória» (2 Cor.
4:16-17). Quer dizer, por aquela terrível circunstância que coube a Paulo enfrentar, há um peso
de glória em seu coração, porque ele tinha confiança em que Deus o ia resgatar.

Se considerarmos o peso de glória que Deus colocou em nós, que é Cristo em nós, então podemos
ver a distância do mais terrível que possamos ter vivido, e vê-lo como leve e momentâneo. Deus
nos consola, porque ele é o que ressuscita os mortos e nos deu uma esperança verdadeira, «não

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olhando nós para as coisas que se veem, mas para as que não se veem; pois as coisas que se
veem são temporais, mas as que não se veem são eternas» (v. 18).

Quando o Senhor nos olha, faz com amor, com o propósito de nos dar vida, tirar aquilo que está
oculto em nosso coração e nos libertar do que nos causaria dano. Liberta-nos com o seu olhar, e
também com a sua Palavra. «Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante que toda
espada de dois fios; e penetra até dividir a alma e o espírito, as juntas e os tutanos, e discerne
os pensamentos e as intenções do coração» (Heb. 4:12).

Restaurando o coração
Deus faz essa obra preciosa em nosso coração, que agora é um coração de carne. Lucas 4:18 nos
fala sobre o ministério do Senhor Jesus, «enviado para curar os quebrantados de coração».
Quando ele faz essa restauração e vai avançando em nós, também vai colocando a sua vontade
em nós.

O livro de Neemias, em relação à restauração do templo e da cidade de Jerusalém, mostra-nos


um sinal muito significativo a respeito da participação deste servo de Deus naquela obra.
Vejamos: «Cheguei, pois, a Jerusalém, e depois de estar ali três dias, levantei-me de noite, eu e
uns poucos varões comigo, e não declarei a homem algum o que Deus tinha posto em meu
coração que fizesse em Jerusalém» (Nee. 2:11-12). A última frase indica a ação de Deus.

Toda a obra de Neemias, do capítulo 1 aos 6, tem este selo: «o que Deus tinha posto em meu
coração». Foram dispostos os recursos, somaram-se as vontades, foram resolvidos os conflitos, e
de maneira extraordinária, levantou-se o muro em cinquenta e dois dias. E qual foi o ponto de
partida dessa obra dos primeiros capítulos de Neemias? Deus encontrou um coração disposto para
a Sua vontade.

Deus quer restaurar os nossos corações, para que possamos atender a sua voz, e ele possa pôr
algo seu em nós, «para que habite Cristo pela fé em vossos corações» (Ef. 3:17).

Como está o teu coração? É provável que tenha uma resposta clara. Mas há uma questão mais
profunda: Como o Senhor vê o teu coração?

O Senhor tenha misericórdia de todos nós. Ele pode curar, salvar, restaurar e consolar o nosso
coração, aquilo que está na intimidade e que talvez nós não conhecemos, mas que ele conhece.
Podemos orar, sabendo que a Sua graça e o Seu poder estão a nosso favor.

Que assim seja, Senhor.

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Síntese de uma mensagem oral ministrada em Temuco (Chile), em novembro de 2017.

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