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História da cidade do Porto

A batalha de Ponte Ferreira

Ano letivo:2018/2019

Diogo Costa
201706357

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Introdução
De forma a dar início ao trabalho da unidade curricular de História da Cidade do
Porto, sobre o qual o assunto a tratar é a batalha da Ponte Ferreira que se realizou no
âmbito das lutas liberais durante a guerra civil portuguesa (1832-1834). Nasci em
Campo, conselho de Valongo, onde ainda hoje mesmo vivo e desde pequeno que vejo
teatros sobre a batalha da Ponte Ferreira, no mesmo sítio onde esta se sucedeu, com isto
e de forma a juntar o útil ao agradável decidi fazer o meu trabalho desta unidade
curricular sobre este mesmo acontecimento que tanta curiosidade me proporciona.

A escolha deste tema como trabalho deve-se ainda ao facto de conhecer o


património local. Esta herança do passado lembrada com orgulho pelos habitantes
locais, localiza-se num ambiente rural, na qual existe uma ponte situada sobre o rio
Ferreira, com isto, posso assim associar e valorizar a história com o património local.

Ao longo deste trabalho vou procurar responder a questões do tipo como se


constituiu este episódio bélico, quem eram os grupos em confronto, os antecedentes
desta batalha e a batalha em si.

De forma a clarificar a leitura de quem lê o presente trabalho transmito que o


exército liberal e o exército absolutista vão sendo ao longo do trabalho tratados com
nomes diferentes, desta forma, referindo-me ao exército liberal tratarei também por:
exército constitucional, exército libertador, pedristas, tropas de D. Pedro e liberais, por
outro lado, o exército absolutista será tratado para além deste nome também por:
exército realista, tropas de D. Miguel, miguelistas e absolutistas.

Antecedentes históricos

De forma a conduzir este trabalho até à batalha em si, retrocedo alguns anos
atrás na história de Portugal para perceber como D. Pedro e Miguel se encontraram em
Ponte Ferreira.

D. João VI encontrava-se no Brasil, assim como toda a família real (devido às


invasões francesas), quando em 1820 se dá as revoltas liberais em Portugal. Desta forma
regressa ao país juntamente com a sua mulher D. Carlota Joaquina e o seu filho D.
Miguel, D. Pedro ficou no Brasil como príncipe regente. D. Miguel foi rapidamente
assumindo atitudes políticas cada vez mais definidas, na qual a sua corrente política era
o absolutismo, sendo executador de várias

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revoltas políticas de caracter absolutista, como a Vila-Francada e a Abrilada, golpes
estes que o levaram ao exilio.

D. Pedro, que como referi anteriormente, se encontrava no Brasil como príncipe


regente, foi responsável pela independência política deste mesmo país em 7 de setembro
de 1822. Com a morte do seu pai, D. Pedro é nomeado pela Infanta Isabel Maria de
Bragança, como sucessor da coroa portuguesa, porém abdicou desta entregando-a à sua
filha mais velha, D. Maria da Glória, que até então tinha 7 anos de idade, permanecendo
deste modo como rei do Brasil.

D. Pedro elaborou no ano da morte do seu pai, em 1826, uma carta constitucional, na
qual procurou conciliar as duas ideologias, a liberal e a absolutista, nesta carta o rei
exerce um poder moderado, mas com o direito de aprovar qualquer lei. Esta carta não
agradou a muitos, sendo que em 1828, a corte portuguesa proclama D. Miguel como
legitimo herdeiro do trono, não reconhecendo como legitimas as providências feitas por
D. Pedro, coroando deste modo, D. Miguel como D. Miguel I de Portugal.

Este acontecimento teve como consequências o retorno de D. Pedro a Portugal,


abdicando do trono do Brasil. Na recuperação do poder D. Pedro teve o apoio de outros
impérios como o do Reino Unido e o da França.

Os grupos em confronto, antecedentes e a batalha

Ainda na contextualização da batalha, sigo para o desembarque das tropas


liberais que ocorreu a 8 de julho de 1832 em Arnosa do Pampelido, na atual praia da
memória, situada a norte de Matosinhos, antes disto os liberais já tinham ocupado os
Açores e a Madeira sem retaliação por parte das forças de D. Miguel. O desembarque
teve como consequências o abandono do Porto por parte do exército miguelista, pois
este não era um bom sítio para se defenderem e também por estes não terem
conhecimento da quantidade de homens que o exército liberal continha bem como os
seus objetivos, (as tropas de D. Pedro rondavam os 8200 homens e as de D. Miguel
andava pelos 83000 homens), instalando-se desta forma em Vila Nova de Gaia. Quando
os liberais ocupam o Porto, este já abandonado pelo exército miguelista, encontram uma
cidade receosa, na qual os habitantes não se manifestavam.

Os liberais já instalados na cidade do Porto não tinham uma estratégia definida,


o que havia era muitas ideias do que se podia fazer, mas nada em concreto, levou-se

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mesmo dias para se definir o que se ia fazer, que foi avançar até Vila Nova de Gaia,
fazendo recuar as tropas miguelistas que se foram instalar em Grijó, dando chegada a
este mesmo sitio forças absolutistas provenientes de Vila do Conde e também de Leiria.

Hodges (comandante do exército liberal) disputou uma luta com os absolutistas


em Penafiel, que resultou num número incerto de mortos segundo as pesquisas
realizadas, mas sem dúvida que quem ficou mais prejudicado foi o exército liberal não
só pelos mortos, mas também por aqueles que dispersaram no confronto. Apesar do
exército miguelista ser significativamente maior que o liberal, estes retiraram-se para
Valongo, onde o coronel Hodges recebeu ordens para regressar ao Porto. Hodges
regressa então à cidade (que até então não tinha a alcunha de invicta) como lhe tinha
sido pedido e os miguelistas “durante a noite do dia 19, ocupam Penafiel e no dia 20
passam a ocupar as posições de Ponte Ferreira, estando assim próximos de Vallongo”. 1

Para fazer o reconhecimento do inimigo D. Pedro faz sair as suas tropas em


direção a Valongo, em que ao passar em Rio Tinto avistam guias do exército miguelista
no alto de Valongo, travando logo ali uma luta com perdas para ambos os lados, sendo o
exército liberal o mais prejudicado, para além disto, em número de homens era também
inferior ao exército absolutista. Neste combate deu-se o falecimento do tenente Narciso
Sá Nogueira do lado liberal sendo a primeira baixa sonante desta guerra. Como
consequência desta luta e de forma a animar as suas tropas, D. Pedro entrega a defesa do
Porto ao Governador Militar e avança com as tropas que estavam a sul do Douro para
Valongo.

D. Pedro caracterizado por ser um homem de sangue frio, que aspirava


confiança e que sem dúvida era uma pessoa que caminhava de braço dado com a paz,
possuía para além disto, grandes qualidades como soldado, e assim juntamente com os
restantes comandantes do exército libertador definiu uma estratégia que consistiu em
dividirem-se logo à saída do Porto, uns seguiram a estrada de S. Cosme (que leva a
Gondomar), outros avançaram pelo centro, ou seja, para Valongo através de Rio Tinto,
e a ala esquerda seguiu o caminho de Formiga (Ermesinde - Valongo), logo aqui nesta
ultima zona referida travou-se uma luta, que durou cerca de 7 horas, e sem uma vitória
clara para ambas as partes, o que resultou foi um grande número de mortos e feridos.

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Caetano Moreira P. P., A Batalha de Ponte Ferreira (Campo, Valongo, 1832): um processo memoralista
e de valorização patrimonial, 2012, p. 53

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As forças de D. Miguel estavam muito bem posicionadas e excelentemente
equipadas no lugar de Ponte Ferreira escolhendo estas posições antecipadamente, por
outro lado, os liberais iam avançando cautelosamente, nem D. Pedro nem os seus
oficiais sabiam a quantidade de homens que compunha o exército realista, mas mesmo
assim, e apesar do exército libertador partir em desvantagem para esta guerra, a força e
a bravura dos guerreiros liberais fazia não temer o inimigo.

O tão esperado combate entre liberais e absolutistas teve início pelas 11 horas da
manhã do dia 23 de julho de 1832, a coluna liberal que tinha progredido pelo centro,
tomava posições ofensivas no Monte do Calvário (São Martinho do Campo), do lado
absolutista “Santa Marta dispunha de tropas desde, a sua esquerda, nos montes que
flanqueiam a margem direita do rio Douro até à direita da zona de Ponte Ferreira” 2, o
batalhão liberal inglês e francês acompanhados por duas companhias do regimento 18
passaram a vau o rio, este ataque ao exército miguelista foi tão forte que consegui abalar
de forma sentida a ala direita deste mesmo exército, fazendo Santa Marta reforçar as
tropas da direita com as suas tropas da esquerda. Ao centro o combate era o mais
intenso possível, e apesar de estarem em inferioridade numérica, eram mesmo os
liberais que conseguiam avançar, com dificuldade, no terreno, os absolutistas para além
de terem um maior número de soldados tinham também mais artilharia que os liberais,
levando este combate a ser relatado como desigual. D. Pedro aconselhado pelos seus
oficiais, encontrava-se na retaguarda do combate, longe das balas, onde ali mesmo
permaneceu durante as oito horas de confronto. Entretanto os liberais receberam ordens
para passarem a ponte e aqui o fogo entre as duas fações tornou-se vivíssimo, mas
mesmo assim e apesar do grande número de mortos e feridos, quer para os pedristas,
quer para os miguelistas, os liberais conseguiram passar para o lado dos absolutistas. A
violência deste combate espelhava-se na quantidade de cadáveres presente ao longo do
percurso, tornando as calmas águas do rio Ferreira ensanguentadas durando mesmo dias
para se tornarem novamente limpas. O combate já entardecia e encontrava-se muito
duvidoso, com avanços e recuos para ambos os lados, até que com o cair da noite foi
avistado uma coluna miguelista em movimento, e assim os liberais apontando as suas
armas dispararam com êxito pondo o inimigo em fuga. Os liberais que já julgavam ter
perdido esta batalha, com este último ataque conseguiram lavar a sua honra, do outro
lado os absolutistas recuaram no terreno e foram até Baltar.
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Caetano Moreira P. P., A Batalha de Ponte Ferreira (Campo, Valongo, 1832): um processo memoralista
e de valorização patrimonial, 2012, p. 59

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As tropas de D. Pedro já muito desgastadas devido á duração e do próprio
combate em si, permaneceram nas suas posições em Ponte Ferreira, onde ali mesmo se
alimentaram, relato uma curiosidade que me chamou atenção que consiste no facto de,
os soldados deste mesmo exército se alimentarem dos cavalos mortos dos absolutistas,
onde até mesmo o imperador D. Pedro ceou no seu acampamento do campo de batalha.

Na noite do dia 23, a cidade do Porto encontrava-se num clima de grande tensão,
devido à especulação que se fazia sentir sobre o combate, algumas noticias eram
verdadeiras e outras eram falsas, mas mesmo não se sabendo da veracidade destas
noticias o que aconteceu foi que as pessoas ficaram num grande estado de nervosismo,
preocupação e tensão. Deste modo, de forma a acalmar os ânimos, o exército
constitucional regressou ao Porto no dia seguinte.

Esta batalha teve como terrível consequência o número de mortos, estes


existiram como foi referido anteriormente, para ambos os lados, sendo estes resultados
não oficiais, pelo que consegui apurar o número de realistas mortos chega aos 56 e
ainda com 212 feridos, o número de mortes existentes no lado dos liberais varia entre 19
e 51 e os feridos varia entre os 170 e 220.

Valongo terra de padeiros e de produção de pão (assim como nos dias de hoje),
cresceu com a panificação, com o comércio e com a relação próxima com o Porto.
Depois de os liberais regressarem ao Porto, Valongo foi novamente tomada pelos
realistas que ficaram a pensar que afinal não tinham perdido a batalha. Sendo o Porto
um mercado para Valongo, os absolutistas encarregaram-se de garantir que nenhuns
pães, entre outros alimentos, chegavam ao Porto apreendendo farinhas e inutilizando
fornos.

Conclusão

Todas as guerras marcam o fim e o inicio de algo, uma batalha, considero eu, ser
algo que nos leva para um fim e consequentemente para um novo inicio, e foi isso
mesmo que aconteceu em Ponte Ferreira, esta batalha não fez com que os liberais
ganhassem a guerra, aliás a guerra mesmo só viria a acabar em 1834 com a convenção
de Évora Monte, porém, foi uma das várias batalhas que se sucederam contra os
absolutistas e que o foram fragilizando cada vez mais.

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Uma batalha é um marco que pode ficar para sempre presente na história de um
país ou de uma cidade, ou por outro lado, também pode cair em esquecimento, estas
batalhas atravessam gerações, criam tradições e na maior parte das vezes tem grandes
repercussões. Nas gentes de Valongo, ou para ser mais específico, nas gentes de Campo,
penso eu estar bem viva a memória da batalha de Ponte Ferreira, e mesmo algumas
pessoas não sabendo ao certo o que aconteceu lá, sabem pelo menos que ali houve uma
batalha que envolveu o trono português.

Como referi no início deste trabalho, a batalha era algo que me suscitava
curiosidade e mesmo este não sendo um trabalho com grande aprofundamento, fiquei a
saber curiosidades, acontecimentos (alguns mais relevantes do que outros) e
testemunhos que me enriquecerem em termos de conhecimento do património local,
ficando assim deste modo satisfeito com este trabalho.

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Bibliografia

1. Monografia

Caetano Moreira, P. M. (2012). A Batalha de Ponte Ferreira (Campo, Valongo,


1832): um processo memoralista e de valorização patrimonial. Dissertação (Mestrado
em História e Património - Ramo de Estudos Locais e Regionais: Construção de
Memórias) - Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto.

2. Conferências

Augusto Dias, Manuel. As lutas no concelho de Valongo. Guimarães, 27 de


outubro de 2006.

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