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Doutoranda do Programa de Estudos de Cultura Contemporânea da UFMT. Bolsita CAPES;
alinewendpap@gmail.com
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Orientadora do trabalho. Professora Titular do Programa de Estudos de Cultura Contemporânea da
UFMT; luciahvp@hotmail.com
atravessou os séculos com sátiras – como as de teor político escritas por Rubens de
Mendonça (1978) –; com chistes; com teatro de comédia – cuja maior estrela foi Liu
Arruda, com seus marcantes personagens, mas que reinventa-se com “Nico & Lau”
(desde a década de 90, até hoje), com “As Fias de Mamãe” (1999) e em “Segredos de
Almerinda” (2001) –; em seções de jornais e revistas (destaque também para Liu Arruda
com a Comadre Nhara); também pelo rádio (Totó Bodega); pela TV – com Nico & Lau,
Comadre Pitú – e, mais recentemente pela internet.
O que se observava nos textos DE QUEM? era, geralmente, uma ironia fina
sobre o falar cuiabano, ou mesmo uma desfaçatez em relação a ele. Superado o
momento que Possari (2005) nomeou como “operação resgate” da cultura cuiabana –
em que os envolvidos estavam imbuídos em “fazer com que o linguajar e a cultura
musical dos cuiabanos fossem respeitados” (POSSARI, 2005, p. 171), no contexto
atual, o falar cuiabano continua a ter lugar privilegiado, embora não mais com sentido
de resgate, em audiovisuais, que buscam o riso, vide as inserções televisivas da dupla
“Nico & Lau”, que usam o risível (baseado especialmente no linguajar), para chamar a
atenção a assuntos de utilidade pública.
Sobre isto Braga (2004) difere sistema de retorno e sistema crítico. Para o autor,
o sistema de retorno refere-se às potencialidades críticas da sociedade, agindo
concretamente sobre a produção, seus processos objetivos e suas qualidades. O sistema
crítico, por sua vez, pode se efetivar pelo retorno. (BRAGA, 2004, p.63). Para ele os
retornos são a crítica do leitor a determinado tema/artigo; gosto ou não gosto por
determinada propaganda.
Vimos coletando, os textos, durante três meses, para compreensão, análise dos
mesmos, no que se refere à interatividade, possibilidades de o leitor atribuir outros
sentidos, para muito além do texto original. Da mesma maneira, acompanhamos a
interação, os comentários. Não que este último seja a razão, mas para a confirmação de
se a modificação no texto mesmo, em sua forma e conteúdo, possibilitou ao leitor
atribuir sentidos pretendidos, ou mesmo, outros sentidos, para o que foi modificado do
cânone (texto original).
A CULTURA CONTEMPORÂNEA
Entretanto, esta mesma via pode ser usada pelas culturas locais como fonte do
que resistência (GATTARI e ROLNICK 1996), ainda mais após o advento,
consolidação e expansão da internet. A evolução tecnológica fez com que os processos
interativos ganhassem mais potência, como já dissemos acima. Pois, antes da
informatização da sociedade, estes ficavam restritos muito mais, a pura e simples
interação. O que significa dizer que o indivíduo, somente recebia os conteúdos. E
mesmo que tivesse vontade de alterar o que era recebido, não lhe era oferecida essa
possibilidade, pois não detinha as condições de produção.
Fig.02 - http://acidcow.com/pics/10205-modern-
remakes-of-classic-paintings-45-pics.html
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Termo inventado pelo escritor de ficção cientifica William Gibson no romance Neuromancer de 1984.
Designa um espaço não físico ou territorial composto por um conjunto de redes de computadores através
das quais todas as informações (sob as suas mais diversas formas) circulam. Gibson o chama de “A
Matrix” e diz que é a mãe, o útero da civilização pós-industrial onde os internautas vão penetrar.
(LEMOS, 2013. p.127)
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A Criação de Adão foi pintada entre os anos de 1508 e 1510 pelo italiano Michelangelo Buonarroti.
<<http://noticias.universia.com.br/tempo-livre/noticia/2012/08/22/960448/conheca-criaco-ado-
michelangelo-buonarroti.html>>
http://acidcow.com/pics/10205-modern-remakes-of-classic-paintings-45-pics.html
leva “Alice5” a imergir no “País das Maravilhas” é extrapolada, uma vez que a completa
imersão do usuário não é mais necessária (embora ainda ocorra).
Como aponta Silva (2006, p. 28) “as bordas entre os espaços digitais e físicos,
aparentemente claras com a Internet fixa, se tornam difusas e não mais completamente
distinguíveis.” Portanto, torna-se difícil estabelecer onde começa a primeira realidade e
onde termina a segunda, porque elas estão imbrincadas. Tanto que Norval Baitello
Júnior (2004, p. 05) fala sobre a simbiose entre primeira e segunda realidade
(ciberespaço), que “interagem reciprocamente, em dupla mão de direção.” O autor
explica contudo, que mesmo uma sendo visceralmente plantada na outra, “o espírito
dual do nosso tempo” insuflou em cada uma delas a soberba da auto-referência
cindindo-as de maneira que nem a mobilidade e a fluidez do nosso tempo conseguissem
impedir (p.06).
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Personagem de Lewis Carroll recentemente adaptada para o cinema sob a direção de James Bobin
Uma das características mais recorrentes nos meandros da cultura participativa é
o humor. Os escritos sobre o assunto remontam a Antiguidade, com Aristóteles e outros
autores gregos, como Hipócrates e Sócrates, segundo Slavutzky (2008). Mas é possível
que ele estivesse presente, desde os tempos mais remotos da humanidade. A esse
respeito, a animação “Os Croods” produzida pela DreamWorks em 2013, mesmo sendo
uma obra de ficção apresenta de modo peculiar, como as narrativas, e porque não dizer
também, o humor começaram a ganhar representatividade na cultura humana.
Sobre os avanços tecnológicos é possível dizer que, nos últimos tempos, o ponto
crucial de mudanças ocorreu com a evolução da internet (tanto fixa, quanto móvel). Em
primeiro lugar, a transformação da Web 1.0 para a Web 2.0. Segundo Blattmann e Silva
(2007, p. 04) esta questão representa “uma revolução (...) na maneira de gerenciar e dar
sentido ou ofertar a informação on-line”, pois segundo os autores esta nova internet
“possibilita a criação de espaços cada vez mais interativos, nos quais os usuários
possam modificar conteúdos e criar novos ambientes hipertextuais” (p. 02).
Paralelamente a Web 2.0, a internet móvel (usada nos dispositivos móveis: celulares,
tablets, pages, etc.) também vem apresentando mudanças significativas. No presente
momento, esta última encontra-se em sua quarta geração, por isso recebeu o apelido de
Internet “4G”. Cardoso, Rodas e Andrade (2014) afirmam que a velocidade deste tipo
de conexão é “até dez vezes superior às redes atuais.” Estes autores pontuam que a
tecnologia “4G permitirá melhor acesso a conteúdos multimídia como vídeos em alta
definição, videoconferências e músicas diretamente da internet.”
Qualquer sociedade, que disponha de um sistema político, seja ele qual for,
nunca disporá de uma a situação completamente estável. Mesmo em regimes totalitários
ou absolutistas, forças contrárias ao poder se coadunam para ganhar vitalidade e tentar
derrubar o que está instaurado. Ou não é isso que vemos em Shakespeare e
Maquiavel?!? Entretanto, existem soslaios de tranquilidade. Na jovem democracia
brasileira, a relativa calmaria democrática foi quebrada a partir das manifestações de
junho de 20136.
Outro viés bastante explorado por este personagem, para a sua produção imagética e
audiovisual é a condição climática de Cuiabá. As altas temperaturas já se tornaram marca
registrada da capital mato-grossense para restante do país. Contudo, quando o frio aparece, ou
mesmo tenciona aparecer por aqui a produção e circulação de memes, piadas, chistes, etc. fica
pululante. Inclusive uma das produções de maior repercussão do “Xômano”, repassada em
vários grupos oriundos da baixada cuiabana no ano de 2015, que voltou à baila no inverno de
2016 foi o vídeo intitulado “Cuiabozen” (figura abaixo).
Título: “Cuiabozen”
Autor: Xômano que mora logo ali
Este vídeo é uma releitura da cena em que a personagem Elsa canta a música “Let it go”.
Que se tornou tão famosa e tão repetida nas casas e nas rádios, a ponto de os autores da
música pedirem desculpas publicamente aos pais de todo o mundo pela composição. A
referida cena é a mais famosa da animação “Frozen” produzida pela Disney em 2013 e se
tornou um clássico e febre sobretudo entre as crianças. Para o vídeo “Cuiabozen”, “Xômano”
utilizando-se da melodia original do filme escreveu uma nova letra para a canção, baseado na
situação climática vivida pelos residentes em Cuiabá no inverno de 2015. Neste vídeo apenas
a parte sonora sofre alterações, enquanto o quesito imagens permanece inalterado, exatamente
como se encontra no cânone original. Todavia, ainda que tenha sido alterado apenas a
sonoridade, a produção de sentidos abre tantas possibilidades, que não daríamos conta de falar
sobre todas elas neste artigo.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Nossos estudos continuam no cenário do que concebemos por cibercultura:
cultura contemporânea, marcada pelas tecnologias digitais. E, ainda, lugar
(ciberespaço), onde ficam armazenados temas diversos e que, a qualquer tempo,
pode ler lidos, relidos, reconstruídos.
Isto nos leva a pressupor que os atores sociais de múltiplas origens recebem e
ofertam sentidos a todos os textos disponibilizados.
REFERENCIAS
Bibliográficas
FALCHETTI, Maurício. Fan Film: a produção e a interação dos fãs na internet. 2011.
Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso, 2011.
GEERTZ, Clifford. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro. Zahar, 2000.
GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo. Cia das Letras, 2001.
POSSARI, Lúcia Helena Vendrúsculo. Falar e dizer cuiabanos na mídia: signos que se
renovam. In.: ALMEIDA, Manoel Mourivaldo Santiago; COX, Maria Inês Pagliarini.
(Org.) Vozes cuiabanas : estudos linguísticos em Mato Grosso. 1. ed. Cuiabá :
Cathedral Publicações, 2005. (Coleção Tibanaré de estudos mato-grossenses; vol. 5 /
organizada em dirigida por Mário Cezar Silva Leite).
RICCI, Raoni. Xômano que mora logo ali, humor inteligente e crítica social.
Notícias/Diversão e Lazer. Cuiabá. Olhar Conceito. 27 de janeiro de 2015. Disponível
em: <<http://www.olhardireto.com.br/conceito/noticias/exibir.asp?id=6619>> Acesso
em 09.06.2016.