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Palhoça
2016
RAFAEL DA SILVEIRA CIOCHETA
Palhoça
2016
RAFAEL DA SILVEIRA CIOCHETA
__________________________________________________
Prof. e orientador Paulo Roberto dos Santos, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina
__________________________________________________
Prof. Antonio Carlos Vieira de Campos, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina
AGRADECIMENTOS
O presente estudo tem por objetivo identificar os quatro mais recorrentes tipos de ocorrência
aeronáutica e seus fatores contribuintes relativos à aviação agrícola nos estados de Mato
Grosso e Rio Grande do Sul entre os anos de 2013 e 2015, propondo medidas que podem ser
adotadas para mitigá-los. A escolha destes dois estados se dá pela relevância nacional neste
tipo de operação, compreendendo quase metade da frota brasileira de aviões agrícolas.
Caracteriza-se como uma pesquisa explicativa, com procedimento bibliográfico e documental
por meio de livros, manuais, regulamentos e relatórios de acidentes aeronáuticos. A
abordagem utilizada foi qualitativa e quantitativa. Ao analisar os dados estatísticos oficiais,
conclui-se que os quatro tipos de ocorrência identificados como mais recorrentes foram a
Perda de Controle em Voo, Perda de Controle no Solo, Colisão em Voo com Obstáculo e
Falha de Motor em Voo. O conhecimento teórico, que envolve conceitos básicos da
aerodinâmica dos aviões, as condições do ambiente operacional de emprego das aeronaves
agrícolas, aliada ao comprometimento e elevação do nível de consciência situacional de todo
o pessoal envolvido, desde a gerência até a ponta da linha, através do respeito aos limites da
aeronave, às normas vigentes, incentivo a uma cultura saudável de segurança operacional que
vise a preservação da integridade da vida humana e dos bens materiais são fatores essenciais
para o sucesso das operações em consonância com a prevenção de acidentes.
This study aims to identify the four most frequent aircraft occurrence categories and its
contributing factors relating to agricultural aviation in the states of Mato Grosso and Rio
Grande do Sul between the years 2013 and 2015, proposing ways that can be adopted to
mitigation them. The choice of these two states is given by the national relevance in this type
of operation, comprising almost half of the brazilian fleet of crop dusters. It is characterized as
an explanatory research with bibliographic and documentary procedure through books,
manuals, regulations and aircraft accident reports. The approach used was qualitative and
quantitative. By analyzing the official statistics, it is concluded that the four occurrence
categories identified as most frequent were the Loss of Control – Inflight, Loss of Control –
Ground, Low Altitude Operations and System/Component Failure or Malfunction –
Powerplant. Theoretical knowledge, which involves basic concepts of aircraft aerodynamics,
the operating environment conditions of the crop dusters use, combined with the commitment
and increased situational awareness level of all personnel involved, from management to the
end of the line, through respect to aircraft limits, the current rules, encouragement of healthy
operational safety culture aimed at preserving the human life integrity and material goods, are
key factors for the operations success in accordance with the accident prevention.
Gráfico 1 – Percentual de ocorrências por segmento da aviação entre os anos de 2013 e 2015
no Brasil. ................................................................................................................................... 19
Gráfico 2 – Percentual do número de aeronaves registradas no Brasil .................................... 20
Gráfico 3 – Percentual de acidentes na aviação agrícola no Brasil entre 2013 e 2015 ............ 21
Gráfico 4 – Tipos de ocorrências com a aviação agrícola entre 2013 e 2015 (MT e RS). ....... 27
Gráfico 5 – Fatores contribuintes dos acidentes com aeronaves agrícolas entre 2013 e 2015
(MT e RS) ................................................................................................................................. 29
LISTA DE SIGLAS
% por cento
nº número
º graus
C célsius
kt nós
m metros
ft pés
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14
1.1 O VOO AEROAGRÍCOLA ............................................................................................... 15
1.1.1 As Características do avião agrícola ............................................................................ 16
1.1.2 O Piloto agrícola ............................................................................................................ 17
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................................ 18
1.3 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 18
1.3.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 18
1.3.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 18
1.4 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 19
1.5 METODOLOGIA ............................................................................................................... 21
1.5.1 Natureza da pesquisa e tipo da pesquisa ..................................................................... 21
1.5.2 Materiais e métodos ....................................................................................................... 20
1.5.3 Procedimentos de coleta de dados ................................................................................ 22
1.5.4 Procedimentos de análise de dados .............................................................................. 22
1.6 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ................................................................................. 23
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 24
2.1 PREVENÇÃO DE ACIDENTES ....................................................................................... 24
2.1.1 Sistema de investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos (SIPAER) ............. 24
2.1.2 Sistema de gerenciamento da segurança operacional (SGSO) .................................. 24
2.2 CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES DE OCORRÊNCIAS AERONÁUTICAS............. 25
2.2.1 Acidente aeronáutico ..................................................................................................... 25
2.2.2 Incidente aeronáutico .................................................................................................... 26
2.2.3 Incidente aeronáutico grave ......................................................................................... 26
2.3 TIPOS DE OCORRÊNCIAS AERONÁUTICAS ............................................................. 26
2.4 INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES ................................................................................. 28
2.4.1 Fatores contribuintes ..................................................................................................... 28
2.4.1.1 Julgamento de pilotagem .............................................................................................. 29
2.4.1.2 Aplicação dos comandos .............................................................................................. 29
2.4.1.3 Supervisão gerencial ..................................................................................................... 30
2.4.1.4 Indisciplina de voo ....................................................................................................... 30
2.4.1.5 Condições meteorológicas adversas ............................................................................. 31
2.4.1.6 Planejamento de voo..................................................................................................... 31
2.4.1.7 Esquecimento do piloto ................................................................................................ 32
2.4.1.8 Manutenção da aeronave .............................................................................................. 32
2.4.2 Relatório final ................................................................................................................ 32
2.4.3 Suma de investigação..................................................................................................... 33
2.4.4 Recomendação de segurança ........................................................................................ 33
2.5 CONCEITOS DE AERODINÂMICA E TEORIA DE VOO DE AVIÕES ...................... 34
2.5.1 Forças que agem no avião em voo ................................................................................ 34
2.5.1.1 Considerações sobre sustentação .................................................................................. 35
2.5.1.2 Considerações sobre arrasto ......................................................................................... 35
2.5.1.3 Considerações sobre estol ............................................................................................. 36
2.5.2. Superfícies de comando e dispositivos hipersustentadores ....................................... 36
2.5.3 Considerações sobre o voo em curva ........................................................................... 37
2.6 HISTÓRICO E RESUMO DE RELATÓRIOS FINAIS E SUMAS DE INVESTIGAÇÃO
CLASSIFICADOS POR TIPO DE OCORRÊNCIA ............................................................... 38
2.6.1 Perda de controle em voo .............................................................................................. 38
2.6.1.1 Ocorrência com o PT-GQP........................................................................................... 38
2.6.1.2 Ocorrência com o PT-UAD .......................................................................................... 38
2.6.1.3 Ocorrência com o PT-UNB .......................................................................................... 39
2.6.1.4 Ocorrência com o PR-VAR .......................................................................................... 40
2.6.2 Perda de controle no solo .............................................................................................. 41
2.6.2.1 Ocorrência com o PT-UNC .......................................................................................... 41
2.6.2.2 Ocorrência com o PT-UCN .......................................................................................... 41
2.6.2.3 Ocorrência com o PT-WQV ......................................................................................... 42
2.6.3 Colisão em voo com obstáculo ...................................................................................... 43
2.6.3.1 Ocorrência com o PT-UVA .......................................................................................... 43
2.6.3.2 Ocorrência com o PT-UEQ .......................................................................................... 44
2.6.3.3 Ocorrência com o PT-UIP ............................................................................................ 44
2.6.4 Falha de motor em voo .................................................................................................. 45
2.6.4.1 Ocorrência com o PT-GPJ ............................................................................................ 45
2.6.4.2 Ocorrência com o PT-VUF........................................................................................... 46
3 APRESENTAÇÃO E DISCUÇÃO DOS RESULTADOS .............................................. 48
3.1 ANÁLISE DOS RELATÓRIOS FINAIS DOS QUATRO TIPOS DE ACIDENTES
AERONÁUTICOS MAIS RECORRENTES E SEUS RESPECTIVOS FATORES
CONTRIBUINTES .................................................................................................................. 48
3.1.1 Perda de controle em voo .............................................................................................. 48
3.1.1.1 Análise dos principais fatores contribuintes ................................................................. 48
3.1.1.1.1 Aplicação dos comandos ........................................................................................... 48
3.1.1.1.2 Julgamento de pilotagem ........................................................................................... 49
3.1.1.1.3 Supervisão gerencial ................................................................................................. 50
3.1.1.1.4 Indisciplina de voo..................................................................................................... 51
3.1.2 Perda de controle no solo .............................................................................................. 52
3.1.2.1 Análise dos principais fatores contribuintes ................................................................. 52
3.1.2.1.1 Julgamento de pilotagem ........................................................................................... 52
3.1.2.1.2 Aplicação dos comandos ........................................................................................... 53
3.1.2.1.4 Condições meteorológicas adversas ......................................................................... 53
3.1.2.1.3 Planejamento de voo ................................................................................................. 54
3.1.3 Colisão em voo com obstáculo ...................................................................................... 55
3.1.3.1 Análise dos principais fatores contribuintes ................................................................. 56
3.1.3.1.1 Julgamento de pilotagem e aplicação dos comandos ............................................... 56
3.1.3.1.2 Condições meteorológicas adversas ......................................................................... 56
3.1.3.1.3 Supervisão gerencial ................................................................................................. 57
3.1.3.1.4 Esquecimento do piloto ............................................................................................. 57
3.1.4 Falha de motor em voo .................................................................................................. 58
3.1.4.1 Análise dos principais fatores contribuintes ................................................................. 58
3.1.4.1.1 Julgamento de pilotagem ........................................................................................... 58
3.1.4.1.2 Manutenção da aeronave .......................................................................................... 59
3.1.4.1.3 Supervisão gerencial ................................................................................................. 60
3.2 AÇÕES MITIGADORAS DOS RISCOS PRESENTES NOS QUATRO TIPOS DE
ACIDENTES MAIS RECORRENTES.................................................................................... 61
4 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 66
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 68
ANEXO .................................................................................................................................... 72
ANEXO A – Contrato de cessão de direitos autorais .......................................................... 73
14
1 INTRODUÇÃO
A atividade aérea por si só já é uma atividade de risco. Com o passar dos anos e a
evolução tecnológica houve e ainda há uma constante busca por voos cada vez mais seguros.
O voo agrícola envolve muito mais riscos devido às suas características de operação com voo
à baixa altura, próximo a obstáculos, com constantes evoluções e aplicação manual
ininterrupta de comandos. E são exatamente estes riscos que o autor pretende abordar na
forma de apresentação e análise de alguns acidentes ocorridos envolvendo operações
aeroagrícolas entre os anos de 2013 a 2015 no Mato Grosso (MT) e Rio Grande do Sul (RS),
os dois estados com as maiores frotas, portanto maiores operadores, de aviões1 agrícolas no
Brasil. Buscando com isso, mais uma forma de ajudar aos pilotos e gestores na tomada de
decisões e aumentar a consciência situacional a fim de gerenciar e mitigar os riscos latentes
que envolvem este importante segmento da aviação.
A crescente demanda de alimentos no mundo alavanca o crescimento do
agronegócio. No Brasil, a safra de grãos em 2015 superou a do ano anterior em 1,4%, o que
representa um aumento de 2,8 milhões de toneladas e a área de plantio em 0,9%. As projeções
para 2016 são de um aumento de pelo menos 0,5% segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) (BRASIL, 2016f).
Este constante crescimento da agricultura, também impulsiona a aviação agrícola
no Brasil que vê o número de aeronaves agrícolas aumentar em média 11% ao ano (BRASIL,
2015i) e possui a segunda maior frota do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos da
América.
Além das características acima, uma aeronave agrícola ainda é dotada de alguns
equipamentos extras para seu emprego. O sistema de pulverização é constituído,
genericamente, de um tanque de carga, também chamado de hooper onde são armazenados os
produtos, distribuidores com bicos pulverizadores que podem variar conforme o tipo de
aplicação (sólidos ou líquidos) e uma bomba acionada eolicamente pelo vento relativo2 para
pressurizar o sistema de pulverização.
____________________________
1
Grupo motopropulsor “é o conjunto dos componentes que fornece tração necessária para o voo.” (HOMA,
2010, p. 38).
2
Vento relativo “[...] é o movimento do ar em relação a um corpo qualquer.” (HOMA, 2010, p. 6).
18
1.3 OBJETIVOS
____________________________
1
Banca examinadora da ANAC é um exame teórico a fim de verificar os conhecimentos dos candidatos a uma
determinada licença ou habilitação técnica concedida pela Agência Nacional de Aviação Civil.
19
1.4 JUSTIFICATIVA
1.5 METODOLOGIA
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Desde os primeiros voos realizados pelo ser humano sempre houve preocupação
com a prevenção de acidentes, embora no início a abordagem fosse pautada pela simples
apuração de responsabilidades e imposição de punições. Atualmente se busca a prevenção
através da identificação de condições latentes e riscos à segurança. (BRASIL, 2012a).
O Anexo 13 da Convenção de Aviação Civil Internacional, conhecida como a
Convenção de Chicago realizada em 1944 após a Segunda Guerra Mundial dando origem à
Organização da Aviação Civil Internacional, que trata dos assuntos referentes a investigação
de acidentes e incidentes aeronáuticos, norteia os países signatários a buscarem formas de
reduzirem os índices de acidentes. E com a evolução da filosofia em cima da investigação de
acidentes, verificou-se que a simples apuração da causa de um acidente e punição dos
responsáveis não era suficiente para reduzir o número de ocorrências. Efeitos positivos
somente ocorreram quando, nos anos 60, foi adotada a postura de identificar os fatores
contribuintes que levaram a uma ocorrência sem atribuição de culpa e punição, com o único
intuito de prevenir outros acidentes. Saiu-se então de uma cultura reativa para uma cultura
preventiva (SANTOS, 2014).
O termo Segurança de Voo, que foi sempre amplamente usado para tratar de
assuntos relativos a prevenção de acidentes, foi elevado ao nível de Segurança Operacional,
conforme trata a nova abordagem que amplia a questão da prevenção, não se restringindo
apenas ao nível das atividades relacionadas diretamente ao voo, atingindo e atribuindo
responsabilidade quanto a prevenção de acidentes aos níveis hierárquicos mais elevados de
uma organização.
Todos os setores da aviação brasileira, incluindo as empresas de aviação agrícola,
devem implantar um Sistema de Gerenciamento da Segurança Operacional. A Agência
Nacional de Aviação Civil é a responsável pelo estabelecimento de todas as diretrizes,
requisitos para a implantação e desenvolvimento do SGSO nas organizações da aviação civil,
através do Programa de Segurança Operacional Específico da ANAC (PSOE-ANAC).
Antes que se entre no assunto a respeito dos tipos de ocorrências dos acidentes e
incidentes, é preciso conhecer alguns conceitos a respeito de investigação de acidentes.
De acordo com a Norma do Sistema do Comando da Aeronáutica (NSCA) 3-13
(BRASIL, 2014a, p. 12) do COMAER, a definição de ocorrência aeronáutica é:
Ainda define que pelo menos uma das seguintes situações deve ocorrer para que
se caracterize o acidente:
a) uma pessoa sofra lesão grave ou venha a falecer como resultado de:
- estar na aeronave;
- ter contato direto com qualquer parte da aeronave, incluindo aquelas que
dela tenham se desprendido; ou
- ser submetida à exposição direta do sopro de hélice, de rotor ou de
escapamento de jato, ou às suas consequências.
b) a aeronave sofra dano ou falha estrutural que:
- afete a resistência estrutural, o seu desempenho ou as suas
características de voo; ou
- normalmente exija a realização de grande reparo ou a substituição do
componente afetado.
c) a aeronave seja considerada desaparecida ou esteja em local
inacessível. (BRASIL, 2014a, p. 9).
Sendo que “a diferença entre o incidente grave e o acidente está apenas nas
consequências.” (BRASIL, 2014a, p.10).
Gráfico 4 – Tipos de ocorrência com a aviação agrícola entre 2013 e 2015 (MT e RS)
Gráfico 5 – Fatores contribuintes dos acidentes com aeronaves agrícolas entre 2013 e 2015
(MT e RS)
Aplicação dos Comandos se refere à “inadequação no uso dos comandos de voo da aeronave
por parte do piloto”, e está dentre os Aspectos Operacionais inserido na área de abordagem
Fatore Humanos.
Este fator se refere a todo tipo de ação que o piloto executa nos comandos de voo
que leve a aeronave a um determinado comportamento inadequado e que indique que
contribuiu para uma ocorrência.
Este fator está presente quando é identificado que um piloto, ao conduzir uma
aeronave, tenha ignorado ou desconsiderado questões relativas à preparação e planejamento
do voo, deixando de tomar conhecimento de fatores que envolvem aspectos de navegação,
condições de pistas para decolagem ou pouso, dentre outros fatores importantes, que devem
fazer parte do planejamento pela importância de estar ciente e atualizado de todas as
informações antes de qualquer operação aérea.
____________________________
1
“Aviso que contém informação relativa ao estabelecimento, condição ou modificação de quaisquer instalações,
serviços, procedimentos ou perigos aeronáuticos, cujo pronto conhecimento seja indispensável ao pessoal ligado
às operações de voo” (BRASIL, 2016c).
32
O que deve ser enfatizado com relação ao relatório final é sua finalidade exclusiva
de prevenir novos acidentes sem buscar culpados. Sendo que “acusações e punições de erros
33
Para que seja possível o voo de um avião, quatro forças estão presentes segundo
Saintive (2011):
a) Peso: Força vertical no sentido do centro da terra exercida sobre todos os
corpos dentro do seu campo gravitacional.
b) Sustentação: Força aerodinâmica gerada pelas asas do avião a fim equilibrar
o peso e prover o voo propriamente dito.
c) Arrasto: Força aerodinâmica que gera resistência ao avanço de um avião,
tendendo a freá-lo.
d) Tração: Força produzida pelas hélices ou diretamente pelos motores para
contrabalancear o arrasto e prover o movimento do avião.
Nas diversas fases do voo estas forças são trabalhadas para que a aeronave tome
determinadas atitudes.
Quando todas essas forças estão em equilíbrio o voo é considerado como reto e
horizontal, permanecendo a aeronave na mesma altitude e com velocidade constante.
Figura 5 – Sustentação
Para Saintive (2011) o arrasto total pode ser dividido em dois grupos básicos que
são:
a) Arrasto Parasita: resistência ao avanço que não está associada a produção
de sustentação que teoricamente é equivalente à uma área plana em
deslocamento perpendicular no ar.
Para que seja possível que um avião voe controladamente são necessários que
superfícies atuem para comandar a aeronave em torno de seus três eixos imaginários.
____________________________
1
Fator carga “é a razão entre a sustentação e peso do avião.” (HOMA, 2010, p. 64).
37
Alegrete-RS, quando no regresso para pouso colidiu contra a água de uma barragem que fica
no prolongamento de uma das cabeceiras da pista. A aeronave teve danos substanciais e o
piloto saiu ileso.
____________________________
1
Sistema de posicionamento usado na aviação agrícola com precisão superior ao GPS convencional.
2
Ato, característico de avião com trem de pouso convencional, de encostar a hélice, motor, ou nariz da aeronave
no chão, podendo levar ao capotamento.
40
De acordo com o resultado das investigações, seria a primeira vez que a área de
pouso seria utilizada, não havendo qualquer tipo de reconhecimento prévio por parte do piloto
ou outros integrantes da empresa. A pista apresentava uma faixa de terreno arenoso que
imprimiu resistência à roda esquerda do trem de pouso, fazendo com que a aeronave viesse a
curvar para a esquerda e pilonar, culminado com o acidente. Os fatores contribuintes
identificados foram: Aplicação de Comandos, Julgamento de Pilotagem e Planejamento de
Voo.
passagem, durante a curva de reposicionamento a aeronave veio a colidir contra a rede elétrica
e em seguida contra o solo, este atenuado pela própria fiação da rede. A aeronave teve danos
substanciais e o piloto sofreu ferimentos leves.
acabou levando ao excesso de inclinação das asas fazendo com que o avião perdesse altura em
virtude da perda de sustentação.
Porém pilotos agrícolas costumam também usar o residual de energia cinética1 da
aeronave em subida a seu favor para fazer a curva de reversão, já que esta tem seu início
normalmente em subida, permitindo com que o piloto incline mais as asas para diminuir o
raio da curva perdendo pouca altura e rapidamente descer para nova aproximação e
pulverização. No caso do acidente com PT-GQP o piloto executou a curva sobrevoando
alguns eucaliptos o que aumentou consideravelmente o risco de que, no caso de uma
inadequada ou excessiva aplicação dos comandos, poderia resultar em perda de altitude e por
estar muito próximo às árvores não teria tempo hábil para corrigir e evitar o acidente.
O uso inadequado dos comandos de voo também é um fator muito comum neste
tipo de ocorrência.
O caso do PT-WQV mostra que durante a corrida de decolagem, a manutenção da
trajetória, mantendo-se a linha central da pista, é uma fase que requer atenção. A aeronave já
estava com mais de 40 kt (BRASIL, 2014d) quando, ao tentar corrigir um desvio para a
direita, o piloto achou necessário usar o freio diferencial, freando somente a roda esquerda,
quando na verdade somente o uso do leme de direção deveria ser suficiente para evitar que a
aeronave mantivesse aquele desvio à direita. O uso do freio diferencial, combinado com uma
velocidade considerável, colocou o avião em uma situação em que não foi possível mais a
correção da trajetória, ocasionando um demasiado desvio para a esquerda até que saísse da
pista, vindo a culminar com o acidente.
A correção da trajetória nas fases de decolagem ou pouso deve ser feita sempre de
maneira efetiva, porém sem movimentos bruscos e usando o leme de direção, evitando-se o
uso dos freios diferenciais que podem levar ao descontrole da aeronave.
possivelmente por uma rajada de vento pela direita, já que havia presença de nuvens
cumulunimbus1 nas vizinhanças do aeródromo.
Ventos de través, nas fases de pouso ou decolagem são os que demandam maior
atenção por parte dos pilotos, considerando ainda que aviões com trem de pouso do tipo
convencional sofrem maior influência dos ventos cruzado nestas fases.
____________________________
1
Tipo de nuvem que, de acordo com o site REDEMET (BRASIL, 2016d), “[...] é frequentemente acompanhada
por pesadas pancadas de chuva, raios, trovões e, às vezes, granizo, rajadas fortes de vento e tornados”.
55
sinalizados.
Através da análise, a seguir, dos principais fatores contribuintes presentes em
alguns relatórios finais e sumas de investigação, podemos identificar os maiores riscos
associados a este tipo de ocorrência.
O que se verifica no acidente com o PT-UVA, que colidiu o trem de pouso com
fios de energia, é que ao iniciar a transposição da linha, na última passagem de pulverizações,
o piloto perdeu momentaneamente o contato visual com a mesma, o que prejudicou seu
julgamento quanto à altura para necessária para passar sobre o obstáculo com segurança. Com
isso a aplicação nos comandos para cabrar o avião, não foi suficientemente efetiva
culminando na ocorrência. Dificilmente se vê as linhas de transmissões de energia na área
rural adequadamente sinalizadas, sendo assim, a consciência situacional do piloto ao operar
em áreas deste tipo deve estar sempre elevada.
No caso do PT-UIP, que colidiu a asa esquerda contra fios de alta tensão, também
se verifica que o piloto estava fazendo as curvas cada vez mais próximas às linhas de
transmissão após as passagens, demonstrando que o nível de consciência situacional do piloto
ao não considerar como um risco potencial o fato de estar se aproximando do obstáculo pela
provável influência do fator contribuinte a seguir.
Ainda no caso do PT-UIP, foi possível verificar, através das investigações e relato
do piloto, que havia um vento de razoável intensidade no momento do acidente que pode ter
contribuído significativamente para a ocorrência. Isso se verifica pelo registro dos dados do
DGPS da aeronave que mostrou uma trajetória de achatamento da curva (figura 27) nas
proximidades da linha de energia.
57
Verificou-se que no caso do PT-UVA, não havia uma supervisão por parte da
empresa quanto ao gerenciamento do risco de operar em áreas, principalmente, com presença
de redes de transmissão, e que contemplasse o controle das atividades operacionais e de
planejamento, ficando a cargo do piloto todas essas tarefas.
Este é mais um caso em que o nível gerencial não se compromete adequadamente
com a operação, praticamente ignorando como as operações estão sendo executadas, deixando
somente a cargo do piloto a tarefa de fazer a avaliação da área, quando esta deveria ser feita
em conjunto com uma equipe de trabalho que avaliaria a melhor forma de se executar o
serviço de pulverização.
Este fator contribuinte está presente no caso do PT-UEQ, que embora o acidente
tenha sido classificado com colisão em voo com obstáculo, a ocorrência se deu após uma
tentativa de decolagem, e merece considerações. Foi constatado que o freio de estacionamento
da aeronave estava aplicado, não permitindo que a mesma atingisse a velocidade para
58
____________________________
1
Lista de verificação.
59
Cabe ressaltar que o motor havia passado por inspeção a pouco mais de 40 horas
antes do acidente. As investigações avaliaram que o que levou ao surgimento da corrosão
pode ter sido a utilização de combustível, neste caso etanol, fora do especificado.
Pela operação aeroagrícola ocorrer em pistas improvisadas longe de pontos diretos
de abastecimento, é necessário que o combustível seja levado até os locais de operação, sendo
necessário que sejam seguidas uma série de medidas para prevenir que ocorram
contaminações que possam vir a modificar suas características.
A decolagem requer atenção por parte dos pilotos, ainda mais quando esta
operação envolve aviões com trem de pouso convencional, que são sabidamente mais
instáveis durante as fases de decolagem e pouso.
Os ventos de través são os que requerem maior atenção quando decolando ou
pousando. Os manuais de operação sempre trazem as limitações da velocidade do vento
cruzado para operações de pista que devem ser respeitadas.
Considerando que uma aplicação inadequada nos comandos pode levar a perda de
controle da aeronave, para fazer a manutenção da proa de decolagem, o uso constante do leme
de direção é fundamental. O uso dos freios para tentar corrigir a trajetória durante a
decolagem, dependendo da velocidade, poderá causar uma repentina guinada que poderá levar
ao descontrole da aeronave e dificultará sua retomada, além de criar uma resistência ao
avanço, diminuindo a aceleração do avião e podendo levar inclusive ao pilonamento.
A aplicação dos flapes com ângulos diferentes do especificado no manual de
operação das aeronaves, também, não deve ser uma prática aceitável para qualquer operador.
Seguir os procedimentos determinados pelo fabricante é extremamente importante para a
operação segura do avião. Somente o fabricante tem acesso a todas as informações e
características aerodinâmicas da aeronave para determinar as melhores condições de aplicação
de flapes nas diversas fases do voo. Todo esse processo se dá a partir da aplicação de
conhecimentos teóricos e exaustivos testes executados em práticas de voo.
Portanto, qualquer procedimento aplicado que seja diferente do previsto pelos
fabricantes pode levar a sérios risco e comprometer significativamente a segurança da
operação com a aeronave.
Uma ferramenta muito importante a ser considerada é o check list. A confecção e
o uso de check list deve ser amplamente incentivado, pois através dele a probabilidade de
execução errada ou esquecimento de algum procedimento imprescindível a uma determinada
fase de operação, cai drasticamente. Seu uso regular, ainda mais considerando que o piloto
agrícola está sempre sozinho na cabine, aumenta muito a consciência situacional quando da
realização dos procedimentos e verificações operacionais, e cresce de importância nas fases
críticas de decolagem e pouso.
Manobras acrobáticas e exibicionismos ao conduzir aeronaves agrícolas são
fatores que poderiam ser facilmente controlados pelos membros do escalão superior da
empresa aeroagrícola. Instruir o pessoal de apoio no solo a reportar ou questionar de forma
adequada qualquer tipo de manobra que fuja ao perfil de voo agrícola é um importante meio
de coibir que eventuais excessos possam vir a causar problemas para a segurança das
64
operações. Outra importante ferramenta é o DGPS a bordo das aeronaves que podem
precisamente verificar se os pilotos não estão deliberadamente cometendo abusos na
condução da aeronave. Claro que o uso destes dados deve ser feito de maneira semelhante ao
que é feito em programas como Garantia de Qualidade Operacional de Voo (FOQA) que visa,
juntamente com outros meios de prevenção, a garantia da qualidade operacional do voo,
visando exclusivamente a prevenção de acidentes.
A qualidade na manutenção é um fator essencial para a segurança e confiança de
toda a operação aérea. Considerando que a imensa maioria da frota aeroagrícola do país é
composta por aeronaves com mais de 10 anos, conforme dados do RAB (BRASIL, 2016g),
cresce de importância a atenção nos serviços realizados, de maneira alguma sendo permitido
ou aceito improvisos ou procedimentos em desconformidade com os manuais de manutenção
dos fabricantes sob pena de colocar em risco piloto e aeronave.
Quanto ao controle do combustível utilizado, além de seguir todas as normas e
recomendações para seu manuseio, é importante que antes de ser colocado na aeronave, seja
feito um teste de qualidade, e essencialmente seja feita a drenagem, tanto dos tanques da
aeronave quanto dos que armazenam o combustível, verificando se o combustível está livre de
algum tipo de contaminação, principalmente água, e sendo, portanto, seguro para uso na
aeronave.
menor que esta seja. Não somente pela aplicação do SGSO, que sendo correta e efetivamente
implantado ajuda na identificação e consequente mitigação de riscos e perigos, mas também
pela adoção de programas de conscientização que, juntamente com o incentivo ao uso das
ferramentas de prevenção e adequada capacitação técnica do pessoal de solo para auxiliar o
piloto na condução da operação, desde o planejamento até a execução, sem deixar de realizar
uma permanente e adequada supervisão dos processos, certamente contribuirão
significativamente para o aprimoramento da segurança operacional na atividade.
66
4 CONCLUSÃO
O presente estudo teve por objetivo identificar os quatro mais recorrentes tipos de
ocorrências aeronáuticas, e seus respectivos fatores contribuintes, presentes no segmento de
aviação agrícola, tomando como base os estados de Mato Grosso e Rio Grande do Sul entre
os anos de 2013 e 2015, buscando propor meios para mitigar os riscos potenciais identificados
que podem contribuir para a ocorrência de acidentes.
Para atingir o objetivo, a pesquisa se deu pelo levantamento de dados estatísticos
para exposição do problema, o ambiente operacional e meios envolvidos nas operações
agrícolas, compreensão de conceitos relacionados à prevenção de acidentes, investigação e
aerodinâmica de aviões que permitiram a análise de relatórios de acidentes ocorridos naquele
período em Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Com isso, foi possível propor e ratificar
medidas para diminuir a incidência de acidentes dos tipos perda de controle em voo, perda de
controle em solo, colisão em voo com obstáculo e falha de motor em voo, os quatro mais
recorrentes identificados.
Apesar da maioria dos relatórios ser bem resumida e não apresentar todos os
detalhes com precisão acerca dos acidentes, de uma maneira geral, através dos resultados
obtidos, foi possível verificar que os maiores riscos apurados estão muito relacionados ao não
cumprimento de normas específicas e não observância dos parâmetros de performance da
aeronave em operação, aliada à uma baixa consciência situacional diante de uma atividade
que requer atenção e respeito à característica operacional do voo aeroagrícola.
Fica visível que algumas empresas têm baixo índice de preocupação com a
segurança operacional, e, mesmo com a obrigatoriedade da implantação do SGSO, não
investem o suficiente em programas de treinamento e prevenção de acidentes, que
normalmente recaem sobre o piloto da aeronave.
A própria ANAC admite que tal fato acabe ocorrendo. “Para algumas empresas
aeroagrícolas – em especial aquelas que não adotaram a cultura de gerenciamento de risco – o
piloto é o principal responsável pelo aumento da produtividade em termos reais.” (BRASIL,
2010, p. 3).
Isso tudo não exime alguns pilotos que, por estarem operando afastados dos
órgãos de controle de tráfego aéreo, dentre outros fatores, abusam das suas próprias limitações
e das máquinas adotando procedimentos e atitudes que geram risco potencial à segurança,
sem contar a execução de manobras não previstas nem pelos fabricantes dos aviões e nem
pelas autoridades aeronáuticas.
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REFERÊNCIAS
______. Portal Brasil. Economia e Emprego: Safra 2015/2016 atingirá 210,5 milhões de
toneladas de grãos. 2016f. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-
emprego/2016/01/safra-2015-2016-atingira-210-5-milhoes-de-toneladas-de-graos>. Acesso
em 15 fev. 2016.
______. Presidência da República. Agência Nacional de Aviação Civil. RBAC 61 EMD 05:
Licenças, Habilitações e Certificados para Pilotos. Rio de Janeiro, 2014h.
______. Presidência da República. Agência Nacional de Aviação Civil. RBHA 137 EMD 00:
Certificação e requisitos operacionais: operações aeroagrícolas. Rio de Janeiro, 2012b.
DRESCHER, Marcelo. Manual do Piloto Agrícola. 1. ed. São Paulo: Bianch Pilot Training,
2012.
HOMA, Jorge M. Aerodinâmica e Teoria de Voo. 28. ed. São Paulo: Editora Asa, 2010.
SAINTIVE, Newton Soler. Teoria de Voo: Introdução à Aerodinâmica. 6. ed. São Paulo:
Editora Asa, 2011.
SANTOS, Paulo Roberto dos. Segurança da Aviação: livro didático. Palhoça: Unisul
Virtual, 2013.
ANEXO
73