Você está na página 1de 118

®

OUTUBRO 2020

MODA
JARDINS
DE INVERNO
CELEBRAR

2
DE ELLE
3 ANOS
EM PORTUGAL
& 75 ANOS
DE ELLE
NO MUNDO O PODER
CURATIVO
DA MÚSICA
SEGUNDO
ROSALÍA
00383
NÚMERO 383 MENSAL €4,50 (CONT.)

603965 000105
5
UM REFÚGIO
DE SENSAÇÕES
AV. JOSÉ MALHOA - LISBOA
bookatable.lisbon@corinthia.com | 910 501 798 | @soulgarden.lisbon
46
88
P O R T U G A L

OUTUBRO 2020

26
ESTILO P38. MODA EM NOTÍCIA
P16. ACESSÓRIOS 123 O que há de novo este mês.
A carteira, os óculos de sol e o
relógio que qualquer guarda- ATUAL
roupa agradece este inverno. P40. LA ROSALÍA
É uma das mais recentes rainhas
P22. UMA DESPEDIDA COM ESTILO da pop mundial. Fomos conversar
Vários designers de moda, com esta jovem espanhola que 66
reconhecidos pelo seu enorme sabe há anos o que quer da
talento, optam por abandonar a música e da vida em geral.
indústria. Porquê?
P46. 75ª MARATONA ELLE P98. NEW NORMAL
P26. TENDÊNCIAS & SHOPPING Nascemos em 1945, em França. Quem disse que em fórmula
O eterno tartan, o conforto Antecipámos e acompanhámos vencedora não se mexe? Não
inigualável de um bom para todas as mudanças: sociais, foi a Caudalie, que conseguiu
de botas, blazers poderosos e políticas, estéticas, sexuais. melhorar uma linha que já era
estampados “casa da avó”. quase perfeita.
P30. DAS CAPAS DA ELLE MODA P100. MENU DE SOBREMESAS
PARA O MUNDO P66. GREEN ACRES Tarte é uma marca de
As top models que nós fomos Gostamos da cidade mas maquilhagem deliciosa que
descobrindo ao longo de anos. amamos o campo. E adoramos acaba de chegar a Portugal.
cores sólidas mas não vivemos
P34. OLHOS NOS OLHOS sem estampados.
A entrevista exclusiva com a LIFESTYLE
modelo Valentina Sampaio. P78. VOULEZ-VOUS? P102. ON TOP
A febre Disco dos anos 70 invade Finalizar uma decoração é
não só a nossa casa como saber escolher, a dedo, os
também o guarda-roupa. objetos pessoais que vamos
colecionando ao longo dos anos
BELEZA e que fazem parte da nossa
história de vida.
P88. VIAGEM NO TEMPO
Década a década, uma P110. CELEBRAR
retrospetiva da indústria da Peças divertidas que nos
beleza desde que a primeira lembram que tudo pode ser
ELLE foi lançada. motivo para festejar.
P94. O BATOM DA ESTAÇÃO P113. PRODUTO LOCAL
Faz parte da nova coleção É o eleito no restaurante do
efémera da Hermès. Conheça Alentejo Marmoris Hotel & Spa.
os tons da estação.
P96. YOU GLOW GIRL! RUBRICAS
FOTO DE CAPA Os iluminadores que não nos P009. Sumário
Rosalía com casaco podem mesmo faltar.
Carolina Strada, top S.R Studio. P010. Ficha técnica
La. Ca e brinco Yeprem. P97. AQUELA MÁQUINA P012. Editorial
MAQUILHAGEM: ROMY SOLEIMANI
CABELOS: PANOS PAPANDRIANOS STYLING:
Testámos o novo lançamento P112. Assinaturas
NATASHA ROYT FOTO: ZOEY GROSSMAN Foreo e é surpreendente. P114. Horóscopo
e l l e
DIRETORA EDITORIAL Soledad Lorenzo IMPRESSÃO E ENCADERNAÇÃO Rotimpres, S.A.
Carrer del Pla de l’Estany nº 5-10 – 17181 Aiguaviva – Girona
DIRETORA Sandra Gato
sandra-gato@rbarevistas.pt
ASSINATURAS Vasp Premium
DIRETORA DE ARTE Manuela Mendes Tel. (351) 214 337 036 | assinaturas@vasp.pt
manuela-mendes@rbarevistas.pt

ASSISTENTE DE DIREÇÃO Maria Rodrigues DISTRIBUIÇÃO


maria-rodrigues@rbarevistas.pt VASP – Distribuidora de Publicações, SA.
MLP – Media Logistic Park Quinta do Grajal 2739-511 Agualva-Cacém
REDAÇÃO Tel.: (351) 214 337 000
Moda: Vítor Rodrigues Machado | vitor-machado@rbarevistas.pt
Beleza: Carolina Adães Pereira | carolina-pereira@rbarevistas.pt
PREÇO NO CONTINENTE
(IVA incluído)
ELLE €4,50 | TRAVEL SIZE €2
COLABORADORES
Periodicidade: mensal
Texto: Carina Chocano, Dorothée Werner, Inês Aparício, Lauren Depósito legal nº 23 589/88
Cochrane, Michele Fitouli, Virginie Dolata. Fotografia: Alexandre ISSN 0873 – 3570
Tanbaste, Alice Springs, Bruce Anderson, Danilo Scaparti, Dominique Registo de Imprensa nº 113 288
Isserman, Emmanuelle Hauguel, Hans Feurer, Jean-Marie Perier, Tiragem média: 50 000
Jean Paul Goude, Jicky Dussart, Joaquin Laginge, Gilles Bensimon,
Marc Hispard, Nicole Heiniger, Oliviero Toscani, Otto Stupakoff, ESTATUTO EDITORIAL: elle.pt/lei-da-transparencia
Pedro Ferreira, Pedro Mascarenhas, Sunhye Shin, Zoey Grossman.
Moda: Carola Bianchi, Hyemi Lee, Natasha Boyt.
MARCA REGISTADA
ELLE® é uma marca registada da Hachette Filipacchi Presse,
uma subsidiária da Lagardère SCA.

DIRETORA-GERAL Teresa Vera Magalhães

Uma divisão da

PRESIDENTE Ricardo Rodrigo CEO: Constance Benqué


EDITORA Ana Rodrigo CEO Licenças Internacionais ELLE: François Coruzzi
DIRETOR-GERAL COORPORATIVO Joan Borrell SVP/Diretora ELLE Internacional: Valeria Bessolo Llopiz
SVP/Diretor das Licenças de Media Internacionais,
DIRETORA-GERAL Aurea Diaz
& Sindicação: Mickael Berret
ELLE Produções Internacionais
Editora de Moda: Charlotte Deffe
PROPRIETÁRIA | EDITORA Editora de Beleza e Celebridades: Virginie Dolata
Sede, Redação e Publicidade
ELLE Brand Management
RBA Revistas Portugal, Lda. Diretora de Marketing: Morgane Rohée
Rua Filipe Folque, 46, 4º – 1050-114 Lisboa Diretora Editorial: Trish Nagy Travieso Diretora de Arte: Marine Le Bris
Tel. (351) 213 164 200 | elle@rbarevistas.pt Gestora Sénior Projetos Digitais: Moda Zere
NIF 507 637 356 ELLE Sindicação
Licença de Hachette Filipacchi Presse Diretora Executiva: Marion Magis
Coordenadora: Ana Afonso
Gestora de Copyrights: Séverine Laporte
Gestor de Database: Pascal Iacono
CAPITAL SOCIAL €9000
www.ellearoundtheworld.com
CRC LISBOA nº 16.241
ACIONISTAS PUBLICIDADE INTERNACIONAL: LAGARDÈRE GLOBAL ADVERTISING
RBA Publicaciones, SL €5000 (55,5%) SVP/Publicidade Internacional Julian Daniel
RBA Revistas, SL €4000 (45,5%) jdaniel@lagarderenews.com

10 E L L E P T
editori

NÓS
2020 não é um ano dado a celebrações. Estão proibidos, tanto recordamos as grandes top models que marcaram a
por lei, grupos grandes de pessoas a divertirem-se. Os indústria da moda como fomos conhecer melhor uma
sorrisos estão escondidos e os abraços espontâneos são supermodelo dos dias de hoje. Recordamos-lhe algumas
coisa de um passado que parece mais distante do que na das capas (nacionais e internacionais) que vão ficar para
verdade é. Além de que não nos apetece celebrar. Não sempre na história do jornalismo (feminino) e oferecemos-
estamos no mood. As festas que não foram canceladas ou lhe uma entrevista exclusiva com a extraordinária
adiadas foram minimizadas, higienizadas, digitalizadas. Rosalía (a nossa capa) e uma sessão de fotos com ela que é
É assim 2020, o ano que todos vamos recordar por maus um ramo de flores. Para si, claro.
motivos. O ano em que aprendemos o verdadeiro Recuamos também até estilos que provocam hoje reações
significado da palavra distanciamento. entre o “Isto sim, era glamour!” e o “Como é que alguém
Mas mesmo em anos terríveis, o calendário permanece. vestiu isto alguma vez na vida?”. Mas, por outro lado,
Os dias sucedem-se e as datas especiais surgem, alheias a também a orientamos pelas peças e looks que o seu
pandemias e crises. E é assim que, de repente, estamos em guarda-roupa “pede” no inverno que aí vem.
outubro, o mês do nosso aniversário. Fazemos uns belos 32 Este ano a festa é intimista, menos para fora e mais para
anos de idade e, desta vez, juntamos a comemoração da dentro. A intenção está lá. A manifestação é que é contida.
chegada da ELLE a Portugal à do lançamento da ELLE no A felicidade de estarmos ao seu lado há 32 anos não é
mundo. São 75 anos de conquistas, vitórias, tendências, menos real por estarmos numa crise sem precedentes.
polémicas e avanços sociais que recordamos nesta edição E é precisamente porque a verdadeira essência se revela
especial. Mais do que um álbum daquilo que já foi, é a em tempos desafiantes que sabemos que vamos continuar
certeza que há muito caminho pela frente. E é por isso que juntas. Sempre. Tenha um excelente mês.
FOTO: PEDRO FERREIRA

SIGA-NOS EM... elle.pt Elle Portugal @elle_pt @elle_portugal


A HIDRATAÇÃO:
O SEGREDO DE UMA PELE BONITA
UM OÁSIS DE LUXO NO CORAÇÃO DA CIDADE

Avenida da Liberdade nº 164 | 1250-146 Lisboa


www.valverdehotel.com | +351 210 940 300
ELLE

estilo
RICHARD QUINN X MONCLER

I-KE-BA-NA
Se no Ikebana (a arte milenar japonesa) se procura desenvoler uma maior noção de beleza e harmonia através da
IMAXTREE

criação de arranjos florais, na moda tenta-se fazer o mesmo através da roupa. No caso, através das peças que
usamos diariamente e que nos desafiam a combinar novas cores, padrões e formas. Por Vítor Rodrigues Machado
ESTILO

A CARTEIRA
Depois de termos passado tanto tempo enfiadas em casa, quem é que quer passar despercebida na rua?
Esta carteira da Bulgari, desenhada por Yoon Ambush (que transforma por completo os modelos a que a
marca nos acostumou) vai definitivamente ajuda-la nessa tarefa. Não só pelo design, como pelo tom.
SISTEMA DE ASSENTOS WEST | DESIGN RODOLFO DORDONI
POLTRONAS LAWSON | DESIGN RODOLFO DORDONI

AGENTE CA’ D’ORO


T. 21 487 9129 - CADORO@CADORO.PT
SAIBA MAIS EM MINOTTI.COM/WEST
ESTILO

OS ÓCULOS
Marc Jacobs nunca foi soft. Aliás se existe algo que sabemos que podemos esperar do designer é que
todas as suas criações vão ser arrojadas (bastante, arrojadas) e estes óculos de sol não fogem a isso. E tem
tudo o que precisamos: cor, brilho e um formato que se encaixa na perfeição no rosto de qualquer pessoa.
a sua
carreira
na moda
começa
aqui

TORNE-SE A MELHOR
APRENDENDO COM OS MELHORES!
O aulas 100% online
O Cursos de curta duração e atribuição de diploma
O Aquisição de conhecimentos em moda, marcas e inovação
O Fazer parte de uma network imternacional
ESTILO

O RELÓGIO
Coco Chanel e o icónico modelo de relógio da marca (o J12), depois de um breve “rendez-vous” em 2017,
voltam a juntar-se para celebrar o 20º aniversário desta peça. Para isso, a Maison acrescentou-lhe
um pequeno amuleto na forma da sua fundadora e adornou-o com diamantes.
JA A VENDA

SIGA-NOS EM: e l l e d e c o ra t i o n — pt
CRIADORES

UMA
DESPEDIDA
COM
ESTILO
Nos últimos anos vimos grandes talentos deixarem
a indústria da moda. Mas o que será que lhes
aconteceu depois de terem feito a sua última vénia?

22 E L L E P T
ESTILO

Q
uando Pheobe Philo fez a sua última vénia
no final do desfile de FW 18/19 da Céline,
em 2018, poucos perceberam o motivo.
A designer britânica estava no auge da
sua carreira – diretora de design de uma
das marcas de moda mais desejadas do mundo. Ela era
a responsável por impulsionar todas as grandes tendên-
cias que saíam das passarelles para as ruas, era amada
pela imprensa, pelos clientes, e até chegou mesmo a ser
citada por Kanye West. Não havia nenhum designer
mais influente ou admirado ... Foi então que, do nada,
a designer, então com 44 anos, se afastou.
Não há duvidas quanto ao impacto que teve na indústria
e nas vendas – acredita-se que ela tenha triplicado os lucros
durante o seu reinado de 10 anos na Céline –, contudo, nos
bastidores, a história desenrolava-se de forma diferente: su-
pervisionava tudo (dos desfiles de moda ao design das lojas),
enquanto viajava entre Londres e Paris todas as semanas
para manter uma vida familiar estável com seu marido e
três filhos. Com esta azáfama toda, muitos questionaram-se
se, de facto, estar no topo seria algo bom para ela.
Nestes últimos anos temos assistido à saída de vários
nomes relevantes da indústria (de Christopher Bailey da
Burberry a Jenna Lyons da J.Crew), o que levanta então
a questão: será que a vida na indústria da moda se tornou
insustentável para os criativos que ajudaram a moldá-la?
Só na última década, além de Philo, a indústria perdeu
Jonathan Saunders, Francisco Costa da Calvin Klein,
Tomas Maier de Bottega Veneta e Alber Elbaz de Lanvin.
À medida que as marcas crescem e os papéis criativos
se tornam mais corporativos – com metas de crescimento
para atingir, taxas de social media a alcançar, campanhas
digitais a conceber e até uma lista de coleções e colabo-
rações para aumentar – os designers foram forçados a
tornarem-se em especialistas de marketing. Mas o que
acontece então quando alguém opta por sair da máquina
na qual é a engrenagem principal?
Leafy Hampstead não é exatamente um local de
referência para a moda, mas é onde podemos encontrar
a resposta para esta pergunta, porque é onde a designer
francesa Nicole Farhi agora está sediada. A mulher
outrora por trás de uma marca de prêt-à-porter de luxo
homónima – que faturava mais de €12 milhões por ano,
FOTO: GETTY IMAGES.

com mais de 4.000 funcionários e com lojas em todos os


Imagem do último lugares do mundo – trabalha agora cercada por impres-
desfile de Christopher sionantes esculturas de nus. A escultura é o tipo de arte
Bailey para a Burberry. que gosta de praticar em tempo integral desde que

E L L E P T 23
ESTILO

ALBER ELBAZ ANN DEMEULEMEESTER CHRISTIAN LACROIX CONSUELO CASTIGLIONI JONATHAN SAUNDERS
LANVIN MARCA HOMÓNIMA MARCA HOMÓNIMA MARNI DIANE VON FURSTENBERG
2001-2015 1985-2013 1975-2009 1994-2016 2016-2017

deixou sua marca em 2012, ao fim de 30 anos. Durante esse focado em certos elementos do negócio que são vitais, mas
tempo, Farhi trabalhou com o seu ex-sócio (Stephen Marks) mais desgastantes. Não era para mim».
transformando a marca numa potência internacional, mas Saunders – como Farhi e muitos outros – encontrou a
quando este decidiu vender a sua parte do negócio para uma sua saída na criação de uma empresa que se baseia menos
firma privada, em 2010, as coisas mudaram. em metas de vendas e análises. Em fevereiro 2020, depois
«O Stephen sempre fez questão que eu não fosse sobrecar- de um intervalo de dois anos, lançou uma linha de móveis.
regada com o peso da estrutura empresarial», recorda Farhi. O seu cunho pessoal de combinações de cores e elementos
«Ele nunca me incomodou com mudanças ou com o que as gráficos incomuns surgem agora em cadeiras e mesas (em vez
pessoas queriam. Quando estavam todos a fazer minissaias, de vestidos e casacos), produzidas ao ritmo mais lento que o
e eu não gostava delas, não era obrigada a fazê-las». Mas com design de homewear permite e que deixa que ele dê prioridade
uma nova equipa, o conforto de se poder focar na criatividade à parte do seu trabalho que ele mais gosta. «O que percebi é
enquanto outros cuidam da parte comercial acabou. «As que adoro desenvolver uma ideia e descobrir coisas novas»,
pessoas que compraram a empresa vinham com um pedaço diz ele. Saunders não descarta a possibilidade de desenhar
de papel a exigir: “Temos que fazer x vestidos e x casacos”. roupas novamente, no entanto afirma que dificilmente voltará
Sentia-me presa. Começar na moda nos anos setenta foi ma- a fazer parte daquele ciclo tradicional, «Isso, para mim, não
ravilhoso; tudo foi permitido e tudo foi possível. Mas com o funciona», conclui o designer.
passar dos anos o trabalho tornou-se stressante. Tinhas que
mostrar não duas, mas quatro coleções por ano, e depois fazer COMPREENDER A FORMA COMO O LADO COMERCIAL
uma segunda linha porque a primeira era muito cara. Era um funciona, em parceria com a criatividade, lado a lado, em
trabalho interminável...». Como já tinha a escultura como vez de isoladamente, foi sempre a chave para o sucesso da
hobby há anos, a ex-designer começou a sentir que esta era a indústria da moda. Mas esse fardo nem sempre foi colocado
saída mais apropriada para a sua criatividade. «Agora, acordo sobre os designers. Exemplo disso é Yves Saint Laurent que
e estou feliz porque sei que o estúdio está à minha espera», creditou o seu sucesso ao apoio permanente do sócio Pierre
afirma. «Estou a aproveitar a vida de uma forma mais intensa. Berge. Ou Valentino e o seu sócio Giancarlo Giammetti.
Não tenho que fazer nada que não quero fazer». Hoje, indiscutivelmente, os designers mais progressistas,
inovadores e criadores de tendências são aqueles que têm
O DESIGNER BRITÂNICO JONATHAN SAUNDERS TAMBÉM empresários de confiança ao seu lado: Miuccia Prada com o
procurou terminar a sua ligação com a indústria da moda marido Patrizio Bertelli, Marc Jacobs com Robert Duffy e
antes de se concentrar na sua jornada criativa alternativa. Demna Gvasalia da Balenciaga com o irmão Guram.
Saunders afastou-se de sua marca após 12 anos, em 2015, A caçadora de talentos da moda de luxo Floriane de Saint
no auge do seu sucesso. Os seus vestidos, adorados por ce- Pierre, contratada para encontrar designers para grandes casas
lebridades como Diane Kruger e Thandie Newton, faziam de moda (caso de Alessandro Michele na Gucci), diz que a
FOTOS: IMAXTREE (9) - PRESS/FOTOBANCO.PT (1)

com que as suas coleções fossem procuradas no Net-A- relação da moda com a criatividade mudou, e os designers
-Porter e em outros sites. No entanto, a carga de trabalho agora devem entender de mais assuntos do que apenas desenhar
intensificou-se muito rapidamente quando se mudou para roupas. «O conteúdo criativo faz a diferença agora», começa
Nova York, para assumir as rédeas criativas da Diane von por dizer, referindo-se à ênfase crescente no marketing criativo.
Furstenberg. A sua tarefa era supervisionar tudo, desde as «As marcas tornaram-se grandes fábricas de conteúdo que
instalações da loja à aprovação de um novo logo. E a parte criam o seu próprio valor e dos seus produtos, tendo ainda
do design – a área que ele gostava verdadeiramente – foi que entreter o público. A moda agora está, por isso, aberta a
deixada de lado. Desistiu ao fim de apenas um ano. «Eu talentos de outros campos criativos. O que importa é encontrar
afastei-me. Tu tens um papel que é mais de supervisão, a pessoa com talento que pode conseguir isso, quer venha do

24 E L L E P T
JEAN PAUL GAULTIER FRIDA GIANNINI TOMAS MAIER FRANCISCO COSTA PHEOBE PHILO
MARCA HOMÓNIMA GUCCI BOTTEGA VENETA CALVIN KLEIN COLLECTION CÉLINE
1982-2020 2006-2014 2001-2018 2003-2016 2008-2018

meio da moda ou não» (O estilista de roupas masculinas da modelo semelhante depois de “deixar” a indústria da moda
Louis Vuitton, Virgil Abloh, é um excelente exemplo: era com um final épico repleto de celebridades durante a Couture
conhecido como empresário antes de entrar para a Maison). Fashion Week, anunciando que, em vez disso, convidaria no-
Então, o que é que acontece com aqueles que têm capacidade vos designers para criar um coleção com o nome da Jean Paul
criativa mas nenhum desejo de gerir a parte do marketing? Gaultier, começando com a designer japonesa Chitose Abe, da
O que acontece com os designers quando eles desistem? Sacai.«Ficofelizporpoderdar-lheliberdadecompleta»disseele.
Não é só Saunders e Farhi que optaram por se comprometer Esta liberdade parece ser o segredo para prosperar hoje,
com outras atividades criativas. Helmut Lang, que abandonou como criativo, na indústria da moda. Marco Zanini, o desig-
a moda em 2005, agora é artista, Calvin Klein trabalha prin- ner que passou quase 20 anos a trabalhar em marcas como
cipalmente com design de interiores e Ann Demeulemeester Rochas e Schiaparelli, acredita que ganhou independência ao
dedicou-se à cerâmica. Todos eles adotaram uma abordagem retomar o controlo, operando de forma independente com o
diferente, para lá da indústria tradicional. lançamentodesuaprópriamarca.Deixouas
«Todos temos de evoluir, mudar e en- políticas de empresa e a pressão de trabalhar
contrar novos caminhos», afirma Christian «OS DIRETORES para um grande grupo quando se afastou
Lacroix, o designer francês cujo estilo ex- CRIATIVOS ESTÃO A de Schiaparelli, em 2014, tendo voltado à
travagante dominou as passerelles nos anos moda em 2019 com sua marca homónima,
80 e 90. Tal como Farhi, Sanders, Klein e
EXPLORAR MANEIRAS porque o «meu impulso criativo impôs-se
outros, Lacroix abandonou a sua marca em DIFERENTES DE a mim». A marca – uma coleção cuidado-
2009 depois de ter vendido o seu nome a TRABALHAR, EM samente editada com a opulência e riqueza
uma empresa do grupo LVMH, em 2005. que ele trouxe de experiências anteriores
«Elesqueriamfazerdomeunomeumamarca VEZ DE SEGUIREM – está à venda no Matchesfashion.com e
global. Eu nunca concordei com isso. Para O CAMINHO no Dover Street Market. «Trabalhar para
mim, a moda era uma forma de ser único, outra marca está no meu Top10 de coisas
diferente de todos os outros.» Então, após TRADICIONAL.» a não fazer», diz ele. «Quando as pessoas
sua saída, Lacroix canalizou suas energias NATALIE KINGHAM, me perguntam como estou agora, eu digo
para o teatro, criando cenários e figurinos MATCHESFASHION.COM “melhor do que nunca”».
fantásticos,sobonomedeXCLX.«Aminha Natalie Kingham, diretora de moda e de
verdadeira vocação em criança era a cenografia, mas o teatro buyers do Matchesfashion.com, diz: «As coisas estão a mudar.
era um meio difícil de alcançar nos anos 70». Os diretores criativos estão a explorar maneiras diferentes de
trabalhar, em vez de seguirem o caminho tradicional». Ela
NA PARIS FASHION WEEK DE SS20, FOI FEITO UM aponta como exemplo colaborações como as de Dries Van
anúncio surpresa na manhã do desfile Dries van Noten. O Noten e Lacroix, e também a independência de Zanini. «A
designer belga convidou Lacroix para colaborar na sua coleção inovação é a chave para avançar», diz ela. Designers como
que, embora tenha sido muito aclamada – e Lacroix tenha Lacroix, Zanini, Saunders e até Elbaz estão a lançar marcas
adorado – não fez com que tivesse ficado «triste por ter deixado independente, de maneiras diferentes e em meios alternativos.
este mundo. Foi maravilhoso, mas foi o meu último dia na Talvez Phoebe Philo também esteja – há muitos rumores de
moda.» Para Lacroix, esta foi simplesmente uma oportunidade que ela voltará à moda com uma marca independente slow,
de exercitar a sua arte, optando por oferecer a sua criatividade focada na sustentabilidade. Afinal, Philo já tinha voltado a
sem o fardo de ter de «gerir os resultados comerciais – fazer uma entrar na indústria depois de a abandonar duas vezes – quando
coleção para o desfile e outra para as lojas – e preocupar-me se saiu da Chloé em 2006, e depois da Céline. E todos nós sa-
vai vender ou não». Jean Paul Gaultier, também, revelou um bemos o ditado: à terceira é de vez. n L.C.

E L L E P T 25
ESTILO
ALEXANDER MCQUEEN

MICHAEL KORS

BURBERRY

RODARTE

MIU MIU

DIOR
TENDÊNCIAS
MARIA, RAINHA DA ESCÓCIA
Quem diria que o tartan, que começou a ser usado pelas famílias nobres
escocesas (sendo que cada uma tinha o seu próprio padrão), no início do
#DICAELLE:
PODE VESTIR século XVI, conseguiria sobreviver ao teste do tempo? Aliás, mais do que
O TARTAN DOS isso, que conseguiria tornar-se numa verdadeira tendência do século XXI?
PÉS À CABEÇA,
SIM, MAS TAMBÉM
M
O PODE CONJUGARR
COM OUTRO TIPO
DE PADRÕES.

1. Blazer, €2290,
Balmain.
2. Saia, Michael
Kors, preço sob
consulta.
FOTOS: IMAXTREE (9) - D.R.

3. Camisa, €290,
Burberry.
4. Calças, €1220,
Thom Browne.
1 2 3 4

26 E L L E P T
Botas, €1150, Botas, €992, Botas, €119,99, Botas, €535,
Miu Miu. Bottega Veneta. Mango. Paris Texas.

Botas, €1500, Botas, €780, Botas, €663, Botas, €1750,


Prada. Burberry. Elisabetta Franchi. Hermès.

SHOPPING
COM ALTURA
Nenhum outro tipo de calçado nos consegue trazer mais conforto
(assim que os dias de chuva e de frio se avizinham) do que as botas.
Se não se estiver a sentir muito ousada, aposte em cores neutras para
garantir um investimento seguro que pode ser usado ano após ano.

A COMBINAR
FOTO: INSTAGRAM @AMINAMUADDI - D.R.

Vestido,
€1399,99,
hi €450,
T-shirt, 5 Lionn of Lenço, €550
L €550, Camisola, Carteira, €1490,
Miu Miu. Porrches. Dior. €250, Pinko. Alexander McQueen.

E L L E P T 27
ESTILO

Blazer, €560, Victoria Blazer, €445, Blazer, €1657, Simone Blazer, € 1980,
Victoria Beckham. Max Mara. Rocha em Mytheresa.com. Gucci.

Blazer, €149,90, Blazer, €39,90, Blazer, €937, Vivienne Blazer, €1095,


Guess. Zara. Westwood Anglomania. Stella McCartney.

SHOPPING
U’R DOING AMAZING SWEETIE
O blazer é muito mais do que um simples casaco, é um símbolo visual de
poder (especialmente no mundo corporativo). Por isso, se quer subir na
hierarquia empresarial, esta peça – que esta estação se declina nas mais
variadas formas, cores e padrões – pode ser a sua maior aliada.

A COMBINAR
FOTO: INSTAGRAM @KIMKARDASHIAN - D.R.

Calças,
€120, Camisola, Óculos de sol, Top, €39,90, Carteira, €335,
Levi’s. €175 COS. €200, Persol. Intimissimi. Michael Kors.
MONCLER X RICHAR QUINN

ALEXANDER MCQUEEN
PACO RABANNE

MARINE SERRE

BALENCIAGA

LOEWE

TENDÊNCIAS
DO CASA DA AVÓ PARA O CORPO
Já perdemos conta ao número de vezes em que ouvimos alguém dizer “Essa
peça parece feita com os cortinados da tua avó”. Pois bem, que assim seja,
porque os padrões que encontramos nas paredes e sofás da matriarca da #DICAELLE:
OPTE POR PEÇAS
família transformam-se em peças incríveis que não vamos largar. EM QUE ESTES
ESTAMPADOS
DE INSPIRAÇÃO
VINTAGE SE
PINTAM DE
CORES VIVAS.

1. Vestido,
€600, Jason
Wu.
2. Carteira,
€100,
FOTOS: IMAXTREE (9) - D.R.

Bernadette.
3. Camisola,
€22,95, Zara.
4. Calças,
€1100, Gucci em
Mytheresa.com. 1 2 3 4

E L L E P T 29
ESTILO

DAS CAPAS DA

PA R A O M U N D O
Claudia Schiffer, Naomi Campbell, Carla Bruni, Elle Macpherson
ou até mesmo Monica Bellucci têm um denominador comum:
todas elas foram “descobertas” por Odile Sarron, a mulher
que foi diretora de casting da ELLE França ao longo de 40 anos.
Agora “Odilon” revela tudo, sem filtros.

ELLE: Pode nos contar como é que a sua que eu estive na sua origem. Comecei e fiz o casting para a ELLE Japão entre
aventura na ELLE começou? com uma modelo, duas modelos e as- outros, a pedido da maravilhosa Anne
ODILE SARRON: Comecei em 1966. sim por diante. Havia muito poucas Dussart, diretora adjunta da ELLE In-
Eu era tradutora de inglês e não tinha agências na altura para além da Elite. ternacional até 2000.
nenhum conhecimento de moda. Tive a Na altura, alguns fotógrafos (já agora, Quais eram os seus critérios d o casting?
sorte de fazer parte daquele momento da não necessariamente os melhores, mas O que me interessava era ver o potencial
ELLE ao lado da Madame Lazareff. Acho não vou citar nomes), queixavam-se e de uma rapariga, a sua elegância, a sua
que ela viu em mim algum potencial diziam: “Não temos as estrelas na ELLE, simplicidade, a sua naturalidade. Queria
porque me contratou para trabalhar com não conseguimos contratá-las”. Então, que elas viessem até mim de saias para
FOTOS: ALICE SPRINGS (1) - GILLES BENSIMON (1)

Claude Brouet, uma “grand dame” da naquele dia, eu disse a mim mesma: ver as suas pernas. E sem maquilhagem.
moda na altura. Depois disto, continuei vamos fazer delas estrelas! A Kate Moss, por exemplo, se passassem
a trabalhar durante anos sob a direção de Também contribuiu para o casting das por ela na rua sem maquilhagem, nin-
Anne-Marie Périer e depois de Valérie primeiras edições internacionais? guém parava para olhar para ela. Com
Torarian. Saí em 2004, depois de quase Sim, fui responsável pelas primeiras maquilhagem, ela torna-se mágica. Na
40 anos a trabalhar em produções. edições internacionais da ELLE. Fiz os verdade, não se trata de beleza. Gosto
Fazer castings às modelos era algo que castings para a ELLE USA a pedido de quando há aquela pequena falha. É o
já existia em 1966? Regis Paginez. Contratei Claudia Schif- segredo de uma pessoa fotogénica. Era
De alguma forma, sim, pode dizer-se fer para a ELLE Espanha, por exemplo, o que elas irradiavam que me inspira-

30 E L L E P T
va. Tinha a capacidade de ver além do
corpo, conseguia ver o que precisava de
ver. Era como um feitiço, impossível
de explicar. Só mesmo sentido.
Por que acha que elas se tornaram
supermodelos?
Elas chamavam a atenção e é por isso
que nos lembramos delas, são como
actrizes de cinema.
Ainda hoje fala com elas?
Converso regularmente com Monica
Bellucci. Também já encontrei a Naomi
Campbell em St. Tropez, que me pede
JANICE
sempre mais uma capa. É um doce.
DICKINSON
Há alguma modelo que lhe “escapou”?
«A primeira rapariga com quem
Talvez um arrependimento: Jenny Ho-
realmente comecei foi a famosa
warth. Fotografámo-la, mas foi em vão.
Janice Dickinson, que costumava RENÉE
Até que ela cortou o cabelo e o pintou de
colar a pastilha elástica debaixo
loiro, mas não para a ELLE! A Kate Moss SIMONSEN
do ouvido. Ela fez a sua primeira
também. Mas as pessoas com quem «Pedi-lhe que fizesse 16 páginas de
produção para a ELLE França em
eu trabalhava não queriam modelos rosto. E depois disso ela conseguiu
1975. Um dia, apresentou-se a
que tinham problemas de anorexia na fazer o anúncio da Ultra Brite.
mim, com apenas duas fotografias
revista. Ela não era o tipo de rapariga Isto foi uma mudança radical da
de passaporte a preto e branco.
que queríamos na ELLE na altura. era Twiggy, e dos anos 60 e 70. A
Estávamos a fazer uma capa de
Oqueachadasmodelosdehojeemdia? Twiggy era um pequena tábua,
YSL com Peter Knapp, o grande
Se anda pelas ruas e pergunta nomes sabe, toda lisa e sem formas. E
diretor de arte da ELLE. Fizemos
de modelos às pessoas, todas elas co- eu queria mulheres com curvas.
as fotografias e fui chamada pela
nhecem a Elle MacPherson, a Monica Mas os editores de moda às vezes
direção. A Janice era porto-riquenha,
ou a Laetitia que se tornaram atrizes, hesitavam porque era mais fácil
muito mais bronzeada do que
por sinal. Não tenho a certeza se daqui vestir uma rapariga muito magra.
uma nórdica, e por isso não se
a uns anos as pessoas se vão lembrar Senti que para as leitoras, mesmo
enquadrava bem nos critérios da
das modelos de hoje. No entanto, as que elas não o verbalizassem, era
época. As fotografias foram para o
atrizes de hoje em dia já se vingaram essencial uma modelo fazê-las
lixo. Quase me custaram o trabalho.
das modelos. Recuperaram o poder! sonhar. Alguém como Renée!»
Mas voltei a marcar com ela para
Vamos ver o que acontece no futuro...
fazer esta famosa capa do fotógrafo
Sacha. Ela tinha uma pele divina,
um corpo lindo».

«EU APOSTEI FORTE EM MUITAS RAPARIGAS LINDAS,


COMO MONICA OU EVA. NUNCA QUIS MENINAS COM MUITO
ESTILO, O QUE ME INTERESSAVA ERA... A SUA ALEGRIA,
O SEU SORRISO E A SUA ENERGIA PARA A VIDA.»

E L L E P T 31
ESTILO

MONICA
BELLUCI
«A Mónica só tinha quatro fotos
no seu portfólio. Ela também era
CARLA de uma agência muito pequena. LAETITIA
BRUNI Foi uma das poucas morenas que CASTA
«Quando vi a Carla, meu deus, que vendeu tanto como uma loira na «A Casta, a primeira vez que a vi,

FOTOS: DOMINIQUE ISSERMANN (1) - EMMANUELLE HAUGUEL (1) - GILLES BENSIMON (1) - HANS FEURER (2) - JEAN-MARIE PERIER (1) - MARC HISPARD (1) - OLIVIERO TOSACNI (1)
elegância. Imediatamente pensei em capa! Aos 51 anos de idade, ainda fez-me lembrar a Veronica Lake!
Audrey Hepburn, em Breakfast at é incrível. Escolhi-a sem sequer Que também era uma excelente
Tiffany’s. Ela era divina. Era incrível. a conhecer. Tinha visto as suas actriz. Apresentei-a ao Jean-Paul
Dava a sensação de que tudo aquilo fotografias e tinha sentido algo... Gauthier e ela acabou por se tornar
não era natural, mas era. Era assim Era qualquer coisa no seu rosto. a sua musa. Foi ele o primeiro a
que ela era! É muito inteligente e Chego ao set, olho para o peito mostrá-la ao mundo. Eu era um
meiga! Um dia, com o OK da revista, dela, e digo a mim mesma: “Que catalisador, uma caçadora de
eu estava a fazer o casting para os catástrofe, ela nunca vai caber na talentos em potência. Nem sempre
desfiles do Angelo Tarlazzi. Apenas roupa!”. Felizmente, o fotógrafo foi fácil, eu tinha que me afirmar,
uma rapariga, entre as 35 que lá era Oliviero Toscani. Ele começou de encontrar o meu lugar. Mas era
estavam, me ajudou a fazer as a provocá-la e, como ela é muito um trabalho muito criativo. Tive
sandes, foi a Carla!» inteligente, respondeu-lhe com a oportunidade de trabalhar com
humor. Ele adorou-a. Perguntou- pessoas talentosas. O talento pode
lhe se ela queria posar nua numa e deve ser partilhado!»
balança para o Lose Weight
Special, e ela respondeu que sim!»

CLAUDIA SCHIFFER
«Fazê-la trabalhar com o Walter Chin, não foi fácil. Na altura, ela não se parecia muito com
a Bardot. Decidimos fotografar uma produção só com peças em padrão Vichy. A grande
oportunidade que tive na ELLE foi poder revelar modelos como a Claudia, que eu achava
que tinham tudo a ver com a revista. E, por consequência, impô-las aos fotógrafos. Eles não
gostavam de principiantes, tinham de lhes mostrar como se pousava, era um processo longo
e difícil. Ninguém queria a Claudia, só eu! Foi fotografada só com um soutien. A capa foi um
sucesso! Foi uma das poucas que me enviou uma mensagem no dia em que saí da ELLE».

32 E L L E P T
EVA
HERZIGOVA
«Eu queria uma mulher com curvas,
peito, boa aparência, como a Eva
NATALIA Herzigova. Ela também tinha um NAOMI
VODIANOVA dom para a transformação. Fizemos CAMPBELL
«Vi a Natalia Vodianova a chegar uma produção maravilhosa em «Para mim, ela é a mulher negra
uma manhã (quando começámos torno do tema “o rio sem retorno”. Na mais linda do mundo. Basta
ela tinha 15 anos e meio) e, aí, senti- época, alguns dos editores viam as ver que, ela ainda está no ativo.
me emocionada com a beleza dela! modelos como cabides. Eu não! Para Talvez tenha uma personalidade
Nunca vi olhos assim. Que estrela, mim, uma modelo dá vida a uma semelhante ao de uma atriz, de
era sublime! Hoje, ela ainda faz os peça de roupa. Ela impõe-se com uma diva. Mas convém não a
anúncios publicitários de Guerlain. a sua personalidade. Eu sempre aborrecer! A Naomi chegava ao
Tinha-me sido enviada por uma disse: não é a leitora que olha para a estúdio com duas horas de atraso
pequena agência. O que me agradou imagem, é o oposto! É a modelo que e dizia: “Desculpem, o meu agente
foi encontrar uma pérola rara numa olha para si. Quem não se lembra do deu-me a hora errada”. Um dia,
agência tão pequena. As raparigas famoso anúncio da Wonderbra, com decidi fazer uma produção de
do Oriente eram muito profissionais. a Eva? Eu apostei forte em muitas beleza com ela. Nessa altura, não
E aprendiam muito rápido! Às 9h mulheres lindas, como a Monica havia muita maquilhagem para
eram principiantes, às 18h eram ou a Eva. Nunca quis meninas com mulheres negras. As fotos estavam
mulheres de negócios.» muito estilo, o que me interessava marcadas para as 9h da manhã,
era... a sua alegria, o seu sorriso e a meio-dia e nada. A editora liga-me:
sua energia para a vida. Em poucas “A Naomi está com dor de cabeça,
palavras: ELLE girls». quer um colar cervical! Vai comprar
um para ela ok?”. Uma hora e meia
depois, ela volta a ligar-me: “Estás
sentada? A Naomi agora quer ser
maquilhada no escuro”. Foi aí que
eu disse “Basta!”».

ELLE MACPHERSON
«Ah, “O” corpo! Quando conheci a Elle Macpherson, ela ainda não era ninguém. Mas,
desculpem lá, não a podia deixar escapar. Fez as suas primeiras oito páginas com o Hans
Feurer. Ela tinha um corpo perfeito, uma sensualidade, uma capacidade de transmitir
emoção... Depois, mandei-a para uma sessão fotográfica no Taiti, em 1982, com Gilles
Bensimon. A ELLE tinha 18 anos de idade. Mais tarde acabaram por casar».

E L L E P T 33
ESTILO

OLH
LHO
OS
NOS
OLHOS
Em exclusivo para a ELLE Portugal, a modelo Valentina Sampaio fala sobre a sua vida, a carreira
e a mensagem que procura passar a toda a comunidade transgénero. Por Vítor Rodrigues Machado

P
ouco devia passar das 14h50 quando abri a com os bichos, com a natureza. Até à minha adolescência vivi
janela de conversação do Zoom. A chamada aqui. Era como crescer numa grande família , porque é uma
tinha ficado marcada para as 15h (11h da ma- vila de pescadores tão pequenininha que todos se conhecem»,
nhã no Brasil), mas por precaução, ali estava começa por me contar. «Quando era pequena brincava muito
eu, a ler e reler todas as perguntas que tinha com a minha irmã, com a minha prima, com as minhas ami-
preparado. E a respirar fundo. Por norma fico sempre um gas. Gostava muito de desenhar, especialmente roupas para
pouco nervoso antes de uma entrevista – até porque nunca as minhas bonecas. Lembro-me que na altura nós morávamos
se sabe qual será o estado de espírito do entrevistado –, mas na casa da minha avó, e lá tinha uma árvore, junto à qual eu ia
bastou que às 15h01 Valentina Sampaio entrasse na conversa pintar e brincar com as florzinhas. Era um momento meu».
para os nervos se dissiparem. «É preciso ligar a câmara? Eu Talvez por ter crescido neste ambiente tão livre (em
não me preparei para uma chamada com vídeo» disse num tempo e em espaço) que desde muito pequena «Sempre
FOTO: NICOLE HEINIGER - STYLING: LUCAS BOCCALÃO

tom animado. Disse que se eu quisesse, o poderia fazer. E soube quem eu era. Sempre soube a minha identidade desde
assim foi: o cabelo estava preso, o seu rosto esboçava um que me entendo como pessoa. E não houve um momento
simpático sorriso, e os seus olhos de tom verde-claro (que em que me descobrisse Valentina. Mas há uma altura da
quase que faziam pandã com as várias palmeiras que tinha minha vida em que, por vivermos numa sociedade repleta
como pano de fundo) tornaram-se visíveis. de padrões que nos são impostos, percebemos que o mundo
Não consegui esconder a inveja, afinal de contas, aquele me vê como diferentes. Quando nascemos não sabemos o
cenário que parecia ter sido tirado do filme da Lagoa Azul que é de menina ou o que é de menino, isso é um padrão
(em que eu queria ter crescido), foi o que ela teve ao longo cultural. E é aí que percebo ‘mas eu não sou assim’, ‘eles
de grande parte da sua vida. Perguntei-lhe sobre então sobre estão-me a colocar numa categoria à qual não pertenço’.»
como foi essa fase. «Foi uma infância muito feliz, em contacto diz mudando o tom alegre e leve para outro, mais sério.

34 E L L E P T
ESTILO

Mais tarde percebi que a minha turma era mais aberta, e então
fui-me encaixando, e foi lá que conheci algumas pessoas que
trabalhavam no mercado de moda daqui do Ceará, e come-
çaram a surgir algumas oportunidades».
Esta seria a parte em que diria que foi aqui que a sua carreira
descolou, e nunca mais parou até chegar ao patamar em que está.
Mas essa não é a verdade. Até porque nada é assim tão fácil para
uma mulher transgénero. «No meu primeiro trabalho para uma
marca relevante daqui, eu lembro-me que estava pronta para
1 começar quando eles pediram a minha identificação e viram
que era trans. Disseram que não queriam continuar com a pro-
2 dução porque não sabiam o que a cliente iria pensar. Naquele
momento eu senti... eu morri de vergonha. Fiquei a sentir-me
como se eu é que tivesse errada para aquela situação». Mas isso
não a travou. Como verdadeira sagitariana que é correu atrás
dos seus sonhos: «Vi que não estava errada e fui atrás dos meus
direitos, abrindo e descobrindo novos caminhos para pessoas
que, como eu, vivem na sua verdade».
Depois disto sim, posso dizer que daqui em diante a sua
1. Valentina carreira levantou voo. Literalmente. Primeiro, até ao Rio de
Sampaio na
casa dos seus Janeiro para gravar o filme Berenice Procura (uma «experiência
pais, na zona completamente incrível, que me ajudou não só profissionalmente
do Ceará. como também no campo pessoal»), depois até São Paulo para
2. O papel que
interpetou no percorrer as passerelles da São Paulo Fashion Week, e conquistar
filme Berenice a sua primeira capa na versão brasileira da ELLE a qual recorda
Procura. como tendo sido «uma experiência incrível».
3. A sua
primeira capa Seguiram-se mais trabalhos, mais capas, mais momentos
de revista históricos trilhados por ela. Conquistou o lugar de primeira
(ELLE Brasil mulher transgénero a ser contratada pela Victoria’s Secret,
de Novembro
de 2016). desfilou para a Jean Paul Gaultier no último desfile desenhado
pelo fundador e, mais recentemente, aos 24 anos de idade,
tornou-se a primeira mulher transgénero a entrar dentro da
icónica edição de verão da Sports Illustrated. Todos estes
O MUNDO DA MODA acontecimentos, fizeram com que Valentina se tornasse num
Valentina foi crescendo nesta realidade e assim que termi- ícone da comunidade transgénero, mesmo não aceitando a
nou o secundário decidiu que dar continuidade aos estudos posição: «Não me vejo como um ícone, vejo-me como uma
especializando-se na área da moda seria o caminho certo para pessoa que tem estas oportunidades, pelas quais sou muito
si. Até porque, como a própria já contou, desde pequena que grata, mas que isso só é possível por causa de todas as pessoas
«Sempre me senti muito ligada a este universo da moda, que antes de mim, lutaram muito. E se hoje eu estou aqui, é
da criação. Desde criança que os meus primeiros desenhos por todas essas pessoas que tiveram de passar por muito coisa.
eram de vestidos, de bonecas e, para além disso, ainda tinha Não sou só eu. É uma luta conjunta. Eu sinto, sim, a respon-
o hábito de costumizar as minhas roupas. Até porque me sabilidade e a necessidade de poder passar uma mensagem
permitia mostrar um pouco mais da minha personalidade. para as pessoas e tentar abrir o coração educando e mostrando
Se a minha mãe me desse uns calções, eu cortava e fazia algo que somos pessoas iguais a todas as outras».
que ficasse mais a minha cara, porque eu olhava e via aquilo A sua posição e experiência fizeram com que o deixasse
FOTOS: D.R. (2) - GUI PAGANINI (1)

de menino e eu fazia virar mais de menina.» de sentir o preconceito com tanta frequência e intensidade
A entrada na Faculdade foi feita cuidadosamente, «Lembro- como no início, mas não foi o suficiente para que este desa-
-me que estava completamente assustada. Era a primeira vez parecesse da sua vida. «Lembro-me que quando cheguei em
que estava ali [na cidade grande] e, por isso, quando chegava Milão, o meu agente disse-me que algumas marcas seriam
à sala de aula eu não falava nada com medo das pessoas per- mais difíceis de alcançar, por ser trans. E chegou a aconte-
ceberem alguma coisa e me julgarem, e me descriminarem. cer, algumas vezes, o cliente ver o meu perfil, e gostar do

36 E L L E P T
«ESPERO QUE O MUNDO SE TORNE NUM SÍTIO COM MAIS AMOR E RESPEITO,
ONDE TODOS TENHAM O DIREITO DE SER LIVRES PARA VIVER E SER QUEM SÃO»

meu portfólio e depois, quando descobriu que eu era trans, trabalho digno quase não existem. Não vês uma trans a tra-
dizer que não tinha mais interesse em trabalhar comigo. balhar numa loja. Ao saíres à rua as pessoas olham-te de uma
Isso já aconteceu assim umas cinco ou seis vezes». E claro, maneira meio torta. Por várias vezes quando estava com as
nas redes sociais, onde o ódio é destilado gratuitamente, minhasamigas,aqui,vifamílias queestavam comumacriança
mas que decide ignorar: «Tenho uma cabeça mais forte, e tirá-la de perto, sem deixar que ela olhasse sequer para nós.
procuro sempre olhar mais para os pontos positivos e não Somos marginalizadas, vistas como algo imoral, como algo
olhar muito para as coisas negativas porque sei que não me que não é correto, como pecado. A minha simples existência
vai acrescentar nada. O que tenho que fazer é lutar por mim é tida como um pecado que tem que ser tratado. Na ideia de
e por todas as pessoas que são como eu, e poder levantar essa muitos eu só fiquei assim porque o meu pai não me bateu o
bandeira, tentando, de alguma forma, educar as pessoas» suficiente para me fazer ser um homem» diz num tom de voz
até porque o seu objetivo é «plantar uma semente de amor, intenso, acrescentando «Muitas pessoas pensam que é uma
de aceitação, e de respeito». escolha, como seescolhêssemos ser assim. Masnão escolhemos,
nascemos assim, e só queremos ser aceites, respeitadas, ter uma
TEMPOS DE PANDEMIA vida digna, ser vistas como um ser humano normal, e viver
O setor da moda, por não ser o de uma indústria de primeira como qualquer outra pessoa. Muitas das vezes nem somos
necessidade,foiumdosmaisafetadospelapandemiae,porisso, vistas como pessoas mas sim como algo descartável, como se
todosostrabalhosdamodelopararamfazendocomquequisesse não tivéssemos valor. Nós só queremos amor e respeito, temos
regressar ao seu país de origem. «Tenho feito algumas coisas sentimentos como todo mundo».
por aqui, mais relacionado com revistas... Tenho fotografado Mesmo que por vezes a luta no “país tropical, abençoado
algumas coisas que fazemos online e por Zoom, mas isto afetou por Deus” pareça não ter fim isso não faz com que Valentina
bastante o meio. Não tenho feito muito coisa desde o meu úl- perca a esperança de que tudo possa vir a mudar. Aliás, é
timo trabalho em março, que foi quando as coisas começaram precisamente essa a mensagem de esperança que tenta passar
a ficar muito ruins em Nova Iorque. Eu estava sozinha num a todas as jovens trans que entram regularmente em contacto
apartamento e decidi regressar para o Brasil. Na altura ainda com ela: «Espero que o mundo se torne num sítio com mais
estava tudo relativamente bem, com muitos poucos casos. Só amor e respeito, onde toda a gente tenha direito de ser livre
depois é que se tornou num dos lugares mais complicados» para viver e ser quem é». n
diz, acrescentado «acho extremamente importante termos o
apoio e o amor deles [da família], e eu sei que muitas pessoas
nesse mundo não tem esse suporte, e eu me sinto muito grata 3
de poder voltar para casa e ter a minha família».

SER TRANS NO BRASIL


Se até agora a nossa conversa foi pautada pelo som do vento
que vem da praia e das folhas das palmeiras, neste momento,
a música de fundo muda. O disco troca a canção para Balada
de Gisberta (escrita por Pedro Abrunhosa cantada por Maria
Bethânia), que me foi apresentada por Valentina nesta conver-
sa. Ainda que os números tenham baixado bastante, o Brasil
continua a ser o país que mais mata travestis e transexuais –
estima-se que seja uma a cada três dias. Infelizmente, esta é a
realidade do país e, por isso, não posso terminar esta conversa
sem falar sobre o tema com ela. Afinal de contas, como será
que uma pessoa trans se sente lá? «Quando era jovem preo-
cupava-me bastante em estudar porque queria mostrar que
tinha o mesmo valor que as outras pessoas. As trans aqui no
Brasil não tem grandes oportunidades. Ou trabalhas num
salão de beleza ou acabas na prostituição. As hipóteses de ter

E L L E P T 37
MODA E M N O T Í C I A

INVERNO
COM ESTILO
E CONFORTO
Esta estação fria a Calzedonia UNIVERSO
mostra-nos uma nova coleção DIGITAL
surpreendente, que mostra que A Tous decidiu
a imaginação não tem limites. finalmente lançar-se no
Para além de bodysuits em universo dos Active
renda, a marca apresenta ainda Watches. Para o fazer,
as suas leggings, onde o brilho apresentou ao mundo o
e os padrões animais reinam; seu Rond Touch, uma
as clássicas meias em algodão peça feita em aço
desportivas de que nunca nos inoxidável (disponível em
fartamos; e collants onde para diversos tons), que inclui
além das clássicas rendas várias funcionalidades
florais, temos ainda padrões como contagem de
geométricos e versões com quilómetros e calorias,
frases, com estrelas e com frequência cardíaca e
FOTOS: D.R.

aplicações de cristais nas quais alarme. Um aliado para


é impossível não focar o olhar. o dia a dia, portanto.

38 E L L E P T
COM NOVAS FORMAS
A Intimissimi acaba de aumentar a sua família de lingerie com a Linha
Vera. Vamos poder conhecer (e experimentar) os modelos de soutien Iris,
Mina, Mara ou Clara, que garantem um suporte extra às mulheres com
peito maior. Para a apresentar a marca italiana escolheu Júlia Palha.

MODA
SUSTENTÁVEL
É já no próximo dia
23 de outubro, na Academia das
Ciências, em Lisboa, que decorre
a Sustainable Fashion Business.
Uma conferência que reúne uma
série de marcas internacionais
(como Vivienne Westwood e
Tommy Hilfiger) que procuram
desenvolver novos modelos
de negócio mais sustentáveis.

COLEÇÃO
NON CÁPSULA
Em parceria com
MANON Sharon Cho,
Num tempo em que
vencedora do
pedimos, cada vez
YOOXYGEN
mais, que as marcas
Award de 2019, a
sejam transparentes
Yoox prepara-se
connosco surge a Non
agora para lançar
Manom. Uma marca
uma coleção
nacional, de produção
cápsula de
limitada, que revela ao
edição limitada
seu público todo o
construída
custo de produção das
de forma
peças bem como a
sustentável.
origem dos materiais.
Toda esta informação
está disponível na sua
página de Instagram.

E L L E P T 39
STARS

LA
ROSALÍA
Pode parecer que a artista espanhola apareceu do nada já com o título pop star global. Mas na
verdade, Rosalía está a preparar-se para isto há muito tempo. Falámos com a cantora antes de
nos fecharmos em casa e de ela fazer a banda sonora perfeita para este momento.

Fotografias de Zoey Grossman | Styling de Natasha Royt

muito nisso e que, em vez disso, colocaria a minha energia


e o meu coração a fazer algo pelos outros, por mim mesma.
Sei que o que faço como artista pode parecer dispensável –

C
para alguns será – mas para mim, ser capaz de fazer música
onheci Rosalía alguns dias antes de o mundo parar, é saúde mental (...). Espero que faça [as pessoas] sentirem-se
no início de março, quando as coisas começaram a um pouco melhor, como aconteceu comigo quando fiz isto”.
ficar estranhas. A cantora devia regressar a Espanha, Como Rebeca León, a sua agente, me contou mais tarde, o
onde a crise do COVID-19 estava a crescer, alguns plano original era lançar uma música diferente. Mas devido
dias depois do nosso encontro, mas o encerramento à pandemia, Rosalía decidiu mudar de direção. «Ela mos-
das fronteiras forçaram uma mudança repentina de planos. trou-me esta música e comecei a chorar quando a ouvi. É
Rosalía publica uma foto no Instagram e no Twitter, onde muito emocionante, e a reação que estamos a receber é muito
está a sorrir, cercada por equipamento de gravação, com a poderosa», diz León. «A música tem um poder incrível, não
legenda: “Monto o meu estúdio em qualquer lugar!”, seguido importa o que está a acontecer no mundo».
por um tweet com um emoji de rosto triste e de corações. Em janeiro, Rosalía cantou duas músicas na 62ª ceri-
A balada que estava a terminar, Dolerme, é sobre um mónia dos Grammy Awards. Alicia Keys apresentou-a
relacionamento fracassado, mas quando é lançada, no final como a “sensação espanhola que encantou o mundo”, e
de março, a imagem de capa é uma ilustração em tons de é verdade – há algo na sua música que chama a atenção.
azul de uma miúda semelhante a Rosalía, deitada numa Vestida com um bodysuit branco com franjas e ténis de
cama com um telefone, uma faca e um chihuahua com cara plataforma, Rosalía cantou uma versão eletrizante de Juro
de mau e uma máscara cirúrgica descartada ao lado dela no Que em frente a painéis espelhados, acompanhada por um
chão. Dirigindo-se aos fãs no dia do lançamento, a cantora guitarrista de flamenco. Seguiu-se Malamente, na qual a
escreveu nas redes sociais: “(...) Estou em quarentena e perdi cantora foi acompanhada por uma multidão de dançarinos
um pouco a noção do tempo porque decidi que não pensaria em macacões vermelhos. No início da noite, Rosalía

40 E L L E P T
Blazer e calças, ambos
Christopher John Rogers.
Colar, Bulgari.
STARS

ganhou o Grammy para Melhor Álbum de Rock Latino, pouco de seguidilla [uma dança tradicional espanhola em
Urbano ou Alternativo. A espanhola também foi nomeada tempo triplo], fez-me sentir muito grata, juro. Senti-me
para o prémio de Melhor Novo Artista, a primeira pessoa tão abraçada. Chorei no carro a caminho de todos os ensaios.
que canta apenas em espanhol a ser considerada para esta Não acreditava no que me estava a acontecer».
categoria (Billie Eilish saiu vencedora). Rosalía, cujo nome completo é Rosalía Vila Tobella, foi
«A experiência dos Grammys foi, tipo, uau», contou-me criada em Sant Esteve Sesrovires, uma pequena cidade no
enquanto comíamos sushi, depois de simpaticamente acei- nordeste de Espanha, na Catalunha, a cerca de 38 quiló-
tar tirar umas fotografias com duas mulheres que estavam metros de Barcelona. A sua mãe trabalhava numa empresa
de olho – e discretamente a filmar – a nossa mesa. «Foi familiar que fabricava placas de metal, e o seu pai na área da
algo muito importante para mim. Toda a minha vida vi os construção. A cantora e a sua irmã mais velha, Pilar, sempre
artistas que mais admiro a apresentarem-se naquele palco, foram incentivadas a serem criativas. Os pais passaram-lhe
sabes? E de repente, estar a cantar flamenco e a dançar um o amor pela música, incentivando-a a cantar desde muito

42 E L L E P T
«ESTUDEI FLAMENCO PORQUE O AMO, E TENTO FAZER
A MINHA MÚSICA A PARTIR DE UM LUGAR DE RESPEITO
POR UMA TRADIÇÃO DE QUE TANTO GOSTO».

atraíam trabalhadores da Andaluzia, e os seus filhos – colegas


de turma e amigos de Rosalía – apresentaram-na ao flamenco.
«Nunca tinha ouvido flamenco até aos 13 anos», lembra a
cantora. A música sempre teve uma função espiritual para
Rosalía, mas o flamenco tomou conta dela por completo. «É
uma das formas de música mais sinceras que existe», aponta a
artista espanhola. «A mais honesta, a mais apaixonada, a mais
visceral». Entretanto, começou a estudar canto flamenco, bem
como piano, o instrumento em que agora compõe.
Aos 19 anos, Rosalía foi admitida na Escola Superior de
Música de Catalunha para estudar com José Miguel Vizcaya,
conhecido como Chiqui de la Línea, um professor de flamenco
muito conceituado, que aceita ser mentor de apenas um aluno
por ano. Sem conexões na indústria, a cantora começou a apre-
sentar-se em bares e casamentos para mostrar o seu talento.
Apesar do sucesso lhe ter chegado cedo, Rosalía fez as
coisas com calma. «Nunca tive pressa para fazer o meu pri-
meiro álbum», revela a cantora. «Sabia que não faria algo até
saber exatamente o que queria que fosse». Aos 17 anos, um
empresário de um grande cantor espanhol propôs-lhe um
projeto muito pop, mas Rosalía recusou por não se identificar.
Esperar até os 22 anos para fazer o seu primeiro álbum – e
fazê-lo sozinha – deu-lhe tempo para estudar e absorver. A
cantora interiorizou muitas formas de música e sintetizou-as
de uma forma única e em camadas. «Quero que cada álbum
seja diferente, para me sentir viva», conclui.
Rosalía ainda estava na universidade em fevereiro de 2017
quando lançou o seu primeiro álbum, Los Ángeles, de forma
independente. Naquele verão, apresentou-se num teatro de
Vestido, Balmain.
Argolas, Suzanne Kalan.
flamenco em Madrid para um público de cerca de 50 pessoas,
entre elas Juanes, o cantor colombiano que a sua agora em-
presária, Rebeca Léon, representava. «Ele não é uma pessoa
dramática; não é exagerado», diz León sobre Juanes. Mas
nova. Há uma história, agora famosa, sobre como o seu pai quando o columbiano ouviu Rosalía cantar, «disse-me: “Eu
lhe pediu para cantar num evento familiar, tinha ela sete chorei! Esta é, provavelmente, a artista mais importante que
anos. Quando a cantora abriu os olhos, após o seu espetáculo veremos nos próximos 50 anos”», recorda León.
caseiro, os adultos choravam. Rosalía começou a aprender Poucos meses depois, Juanes convidou Rosalía para cantar
guitarra e solfejo – um método de leitura de partituras usado um dueto com ele no seu concerto em Madrid. Rebeca diz que
para desnvolver as capacidades auditivas e de tom – aos nove ficou surpreendida quando Rosalía sugeriu cantar um tango.
anos, e aos 10, já sabia que queria ser cantora. «Eu queria «Pensei “ela tem profundidade”», diz. «Nem todas as pessoas
estudar», afirma, «Queria aprender». optariam por um tango». Rosalía impressionou-a ainda mais
Flamenco, o género musical ao qual Rosalía é mais fre- quando chegou para fazer os testes de som e dominou o palco «a
quentemente associada, combina várias tradições folclóricas da maneira como dizia aos técnicos como queria os microfones no
Andaluzia, no sul da Espanha, e está intimamente associado ao seu ouvido e se movia no palco», diz León, «Foi uma loucura».
povo cigano. As fábricas existentes junto à cidade da cantora A empresária contratou-a no mês seguinte.

E L L E P T 43
STARS

León diz que a polémica é um sinal de que algo está a


funcionar. «A Rosalía vai deixar as pessoas desconfortáveis
porque está a mudar o paradigma», constata. «Hoje, qualquer
criança em qualquer sala em qualquer lugar do mundo tem
acesso a qualquer tipo de música. É possível alguém estar no
seu quarto na Índia a ouvir Justin Timberlake. Então, é válido
que ele seja uma influência para essa pessoa, porque é isso
que está a ouvir enquanto cresce. Não precisa de estar na sua
cultura para ser uma influência para a pessoa». Rosalía acha
O segundo álbum de Rosalía, El Mal Querer, lançado em que a parte mais importante de fazer música é que ela venha
novembro de 2018, começou por ser o seu projeto de fim de do coração. «Estudei este género musical porque o amo, e
curso. A ideia era fazer um álbum concetual sobre um relacio- tento fazer a minha música a partir de um lugar de respeito
namento tóxico: «Aquele relacionamento que sabes que vai por uma tradição que tanto amo», afirma.
acabar mal, mas mesmo assim, vais em frente com ele», diz. A cantora não se deixa abater pelas críticas. Quando reflete

TEXTO: CARINA CHOCANO - CABELOS: PANOS PAPADRIANOS - MAQUILHAGEM: ROMY SOLEIMANI - MANICURE: YVETT GARCIA - PRODUÇÃO: MICHELLE HYNEK - STYLING DE ADEREÇOS: ALI GALLAGHER
«Queria explorar a possessividade e o ciúme e falar de um amor sobre onde está hoje, a única palavra que consegue encontrar
[sombrio]». Esta sua visão estendeu-se aos videoclipes, cada para o descrever é «alucinante». E quando pensa em algumas
um sendo uma tour de force complexa e cheia de referências das pessoas que afirmam ser suas fãs, a artista espanhola não
vertiginosas. Por exemplo, no vídeo de Malamente, o primeiro consegue acreditar. «Tipo, não sei! Pessoas que fazem parte da
single deste trabalho, a mota que vemos a cantora a guiar re- cultura pop global! O David Byrne veio ao meu concerto em
presenta um touro, uma luta contra o seu Nova Iorque. E o Caetano Veloso. E o Frank
amante toureiro. Ocean. Quase tive um ataque cardíaco!».
Um dos motivos pelos quais Rosalía «O FLAMENCO A cantora lembra-se de como, quatro anos
está numa liga à parte é por ter ascendi- É UMA DAS FORMAS antes daquele espetáculo, partilhou um
do ao topo do pop global sem deixar de vídeo no YouTube. «O primeiro vídeo que
permanecer fiel às suas raízes. O jornalista DE MÚSICA MAIS pus no meu canal – ainda está disponível
Guillermo Alonso escreveu no jornal El SINCERAS QUE EXISTE. – e a única cover que fiz, é a Thinkin Bout
País, no ano passado, que ela se destacou You do Frank Ocean!». Isto ainda a sur-
entre as estrelas pop espanholas que alcan- A MAIS HONESTA, preende. Tudo isto. James Blake, músico
çaram fama mundial por «usar Espanha A MAIS APAIXONADA, e produtor, aponta a sua ética de trabalho
como a sua marca registada». Em outras como a chave do seu sucesso. Quando ele
palavras, «ela não canta em inglês, ela
A MAIS VISCERAL». e Rosalía colaboraram na música Barefoot
não usa produtores suecos, ela não tem in the Park, o músico deu à cantora espa-
que cantar com estrelas britânicas ou americanas e ela não se nhola «o conceito da música e ela fez o que quis. Percebi que
mudou para Miami», escreveu Alonso. ela é muito rápida e profissional... Superconcentrada, mas ao
Isto faz com que a polémica que a rodeou seja, no mínimo, mesmo tempo muito criativa e incrivelmente musical». León
surpreendente. Houve quem acusasse a cantora de se apropriar diz que é porque Rosalía estava preparada para este momento.
da cultura e do imaginário do flamenco e da Andaluzia. “Porque «Ela tem trabalhado nisto de maneira muito disciplinada há
é que a Rosalía – que fala como uma pija [uma menina beta anos», afirma a agente. «Uso sempre a metáfora de que ela é
de classe média alta] – quando canta, usa palavras ciganas e as como o Batman na caverna» referindo-se ao lugar onde Batman
pronuncia como uma andaluza?”, escreveu a ativista romani encontra a sua alma em Batman Begins. «Quando ele entra
Noelia Cortés no Twitter. “Se ela não achasse que estava a com os gurus e sai transformado em Batman. É ela. Ela foi
roubar algo, usaria o seu sotaque natural – e não se disfarçaria estudar flamenco com este guru, Chiqui, aos oito anos. Ela não
como algo que não é nem remotamente parecido com o seu saía à noite, não ia a festas, não tinha namorados. Ela não tinha
discurso normal”. Rosalía ficou surpreendida. O Flamenco vida. Tudo o que fez foi estudar flamenco e trabalhar duro.
foi uma parte essencial do seu tecido cultural enquanto cres- É por isso que ela está tão preparada. Ela não está a aprender
cia. «A cultura andaluza está presente na Catalunha porque com o tempo. Ela já está pronta. Mais do que qualquer outro
sempre houve imigrantes dessa região», afirma. «É assim que artista que alguma vez vi».
as coisas são. É um fato. O Flamenco está na Catalunha». O No final, Rosalía sabe que não pode controlar a forma como
flamenco em si é uma fusão de culturas (romani, sefardita, a sua música será recebida. «Com a música, nunca sabes o que
mourisca, espanhola) e os seus ecos podem ser encontrados vai acontecer», diz. «Não depende de ti. Mas se a fizeres a partir
em todos os tipos de música popular. do teu coração, da tua verdade, as pessoas vão perceber». n

44 E L L E P T
Casaco, camisa
e calças, tudo
S.R. Studio.
LA. CA.
THROWBACK

75 ª
ANIVERSÁRIO

MARATONA
FOTOS: JEAN PAUL GOUDE

ELLE
Jean-Paul Goude auto-convidou-se para os Jogos
Olímpicos de 1996 para uma competição de Haute Couture.

NO MOMENTO EM QUE FESTEJAMOS O 75º ANIVERSÁRIO DA PRIMEIRA


EDIÇÃO FRANCESA DA ELLE, RECORDAMOS EM PALAVRAS O
DESENVOLVIMENTO DO PAPEL DA MULHER COMO MEMBRO ATIVO NA
SOCIEDADE, E EM IMAGENS, A TRANSFORMAÇÃO DA INDÚSTRIA DA MODA.
THROWBACK

1945
O ANO DA MUDANÇA. A MULHER AINDA É MUITO
ASSOCIADA ÀS TAREFAS DOMÉSTICAS E À VIDA DE
SERVENTIA DA FAMÍLIA, MAS HÁ SINAIS DE MUDANÇA
E O NASCIMENTO DA ELLE (EM FRANÇA) É UM DELES.

revista é surpreendente. A ELLE é, antes de mais,


uma estrutura feminina fabulosa, que abrange os direitos das mulheres e a evolução
moral da sociedade. Há uma interligação histórica. Que teve o seu ritmo próprio.
Foram necessárias muitas lutas para as mulheres ganharem independência através dos
seus empregos e o controlo de seus próprios corpos. Foram travadas uma infinidade
de batalhas na tentativa de alcançar a igualdade e a liberdade prometidas. Em cada
etapa, a ELLE antecipou ou acompanhou a mudança, primeiro em França, depois um
pouco por todo o mundo. As injustiças contra as mulheres foram denunciadas pelo
poder da caneta. Os intelectos femininos expressaram os seus pensamentos sobre todos
os assuntos na revista. Nenhum dos grandes debates (como o aborto) foi esquecido.
Uma mistura esquizofrénica entre páginas de moda, secções de beleza e debate social?
Já foi dito de tudo. Em setenta e cinco anos, a ELLE terá tocado milhares de mulheres por
todo o mundo, de todas as esferas sociais e de todas as gerações, felizes por descobrirem a
cada semana, ou a cada mês, o que as indigna, o que as move. Essa emancipação foi uma
viagem sinuosa. Depois dos avanços tímidos dos anos 40 aos 60, do frenesim da década
de 70 e das supermulheres dos anos 80, parece ter havido um momento de resignação,
seguido de revolta. Um passo para frente, dois passos para trás. Entretanto, os movimentos
FOTOS: CHEVALIER(1)

que surgiram são radicais, mas engraçados, também. Na internet, a mensagem perpetuada
pelas jovens é de não quererem mais falsas promessas. Nunca as palavras “feminismo” ou
“empoderamento feminino” foram tão usadas nas nossas 45 edições da ELLE como nos
últimos dez anos. Apostamos que elas vão continuar a ser usadas por muito mais tempo.

48 E L L E P T
A ELLE sempre
foi um reflexo do
tempo presente
e, ao mesmo
tempo, um
questionar dos
esteriótipos
femininos.

E L L E P T 49
THROWBACK

O vestido Target
FOTOS: ARQUIVO ELLE (1) - JICKY DUSSART (1)

de Pierre Cardin
é o resultado
perfeito entre
a harmonia e
a precisação
geométrica.

50 E L L E P T
1960
BRIGITTE BARDOT FOI O ÍCONE DA ÉPOCA,
INCLUINDO PARA A ELLE. A REVISTA ERA
A PERSONIFICAÇÃO DA ATRIZ: DIVERTIDA,
COM UM SENTIDO DE ESTILO MUITO
PRÓPRIO E SEM RECEIO DE MARCAR POSIÇÃO.

ANOS 1945-55: DESAFIO LANÇADO


33% das mulheres francesas trabalhavam nesta época, assim como em quase toda a
Europa. Em 2020 são cerca de 75%. “Trabalhar não é apenas uma forma de ganhar
a vida, é abrir uma porta para o mundo”, escreveu Françoise Giroud, editora-chefe
da ELLE francesa, em 1946; o que se mais tarde foi confirmado: “Trabalhar é a única
garantia real de independência das mulheres”. Mas em 1954, segundo uma pesquisa, o
futuro das mulheres passaria sempre pela dedicação total ao casamento e à maternidade.
Em 1945, as mulheres francesas compareceram às urnas eleitorais. Giroud exortou-as:
«Senhoras, não fiquem em casa, votem!». As italianas também tiveram o direito a voto,
seguidas das espanholas, mas apenas as casadas. As mulheres americanas e inglesas
votavam desde a década de 1920. Mulheres finlandesas, norueguesas, dinamarquesas e
búlgaras obtiveram o direito de votar ainda mais cedo, enquanto as mulheres da Nova
Zelândia (1893) e australianas (1902) foram as pioneiras neste campo. “É a favor ou
contra a educação sexual?”, pergunta a revista em 1949. 50% das mulheres são frígidas?
O “médico da ELLE” é inflexível: “A emancipação económica e social das mulheres vai
garantir-lhes equilíbrio sexual”. Como vivem as mulheres australianas, americanas,
soviéticas ou portuguesas? Não muito melhor do que as mulheres francesas.

ANOS 1956-67: EM NOME PRÓPRIO


“Em 1956, a emancipação da mulher é a questão número um do nosso tempo”. Mas o
caminho é longo! “Apenas um marido em cem está feliz pela sua mulher ter um emprego”.
Paciência. Em 1965, a lei finalmente permitiu que as francesas trabalhassem sem

E L L E P T 51
THROWBACK

1970 AS MULHERES COMEÇARAM A DESPIR


PRECONCEITOS, LITERALMENTE. AS ROUPAS
FICARAM MAIS CURTAS E ARROJADAS E A PELE MAIS
À MOSTRA (E NÃO SÓ NAS CAPAS DAS REVISTAS).
O DIREITO DE VOTAR FOI CONCEDIDO, TAL COMO A
POSSIBILIDADE DE ABORTAR (EM CERTOS PAÍSES).

autorização do marido e pudessem abrir uma conta bancária em nome próprio. Uma reportagem
numa fábrica e outra num hospital (já) consagrava as “heroínas dos tempos modernos”: as operárias
e as enfermeiras. «Tenho 32 anos de idade. Estou à espera do meu sexto bebé. Estou desesperada»:
este é o desabafo de uma leitora em 1961, seis anos antes da lei Neuwirth, que legalizou a pílula em
França, uma data que ficou muito aquém da legislação britânica e americana. Nesse mesmo ano,
foi inaugurado o primeiro centro de planeamento familiar em França. Esta iniciativa é contra “a
saúde pública, a moral, a religião, a taxa de natalidade, sa ociedade?”. Não e não, responde a ELLE.

ANOS 1968-80 : AS ATIVISTAS


Maio de 68 foi o grande choque. A revista, contestada pela própria redação, ficou dividida.
FOTOS: OTTO STUPAKOFF (1) - OLIVIERO TOSCANI (1)

As jovens na redação começaram a usar calças, para desagrado de Hélène Lazareff, a funda-
dora. A sociedade mudava a uma velocidade vertiginosa. Por todo o mundo, incluindo em
Portugal: foi neste ano que foi atribuído o direito de voto a todas as mulheres, sem nenhuma
condicionante (com exceção da idade). O tom dos artigos é mais duro e inquisidor, como se
viu no acompanhamento do tema do aborto. A legalização tinha sido aprovada recentemente
no Reino Unido e nos E.U.A. Já em França, quase um milhão de mulheres arriscavam as suas
vidas, todos os anos, a fazer estes procedimentos de forma ilegal. Até a Lei do Véu ser aprovada
em 1975, a ELLE não diminuiu a pressão. Em 1972, foi a votação o princípio da igualdade
de remuneração. Para a sua implementação real, foi preciso esperar mais algumas décadas.

52 E L L E P T
A atriz e modelo
Vibeke Knudsen
num número
especial da
ELLE França. Os
anos 70 foram
ousados, tanto
na moda como
em termos
sociopolíticos.

E L L E P T 53
THROWBACK

1980
O ÍNICIO DO SONHO INTERNACIONAL. ESTA FOI
A DÉCADA QUE A FAMÍLIA AUMENTOU E ATRAVESSOU
OCEANOS E MUDOU O PARADIGMA DAS PUBLICAÇÕES
DE MODA PARA SEMPRE. A ELLE PORTUGAL
APARECEU QUASE NO FIM DA DÉCADA, EM 1988.
FOTOS: GILLES BENSIMON
Um brinde à
globalização!
Gilles Bensimon
reuniu todas
as grandes
topmodels da
época, vestidas
em Azzedine
Alaïa, numa
só fotografia.

E L L E P T 55
THROWBACK

1990
A MODA ALCANÇOU NOVAS DIMENSÕES E JOHN
GALLIANO (NA FOTO), CONSIDERADO O ENFANT
TERRIBLE DA MODA, FOI UM DOS MAIORES
PROTAGONISTAS DESTA MUDANÇA DE PARADIGMA.

Lutámos contra as violações de direitos. “Casamento, para quê?”, perguntámos. Em 1970,


as mulheres italianas finalmente têm o direito ao divórcio. As espanholas teriam que esperar
até 1981. Muitos os artigos fazem uma avaliação amarga sobre a presença significativa-
mente inferior das mulheres em cargos políticos. É difícil vingar num mundo machista.

ANOS 1980-90 : OS MESMOS DIREITOS


É a era das lutadoras, “daquelas que têm sucesso”. Finalmente as mulheres estão por todo o lado,
o número de empresárias aumenta a olhos vistos e a igualdade profissional é exigida. A estrutura
familiar também sofre alterações. Em 75% dos casos, “são as mulheres que pedem o divórcio”.
Fizemos as perguntas e demos as respostas sobre orgasmos, desejo e prazer. A RU 486, a pílula
do futuro, é finalmente autorizada em França. A ELLE faz campanha para a sua distribuição a
menores, mas a reação adversa acontece. Em 1990, um editorial dizia: “De volta ao início” e um
artigo questionava: “Feminismo: devemos pegar nas nossas armas novamente?”. As mulheres
GETTYIMAGES (2)

americanas podem ingressar na Marinha e Benazir Bhutto assume o poder no Paquistão. Uma
nova edição espanhola (1986) logo seguida por uma italiana (1987) e uma portuguesa (1988)
perpetuam a missão de dar voz às mulheres, um país de cada vez.

56 E L L E P T
Azzedine Alaïa
inventou o
conceito de
coleções em
parceria (com
a loja Tati, em
Paris) e mudou
a indústria
para sempre.

E L L E P T 57
THROWBACK

Novo ano, nova


década, novo
milénio! Em
Portugal, na
capa de Janeiro
de 2000,
falámos sobre
o futuro, tanto
da sociedade
como da moda.

FOTOS: DR (1) - PEDRO FERREIRA (1)


2000
ESTA DÉCADA FOI ESPECIAL PARA A ELLE PORTUGAL.
PARA ALÉM DOS MOTIVOS ÓBVIOS, ENTRÁMOS NA
MAIORIDADE A CELEBRAR A MODA NACIONAL COM OS
MODELOS PORTUGUESES MAIS CARISMÁTICOS.

ANOS 1990-2000: PERTO DO FUTURO


Os motivos para protestar são muitos, com a paridade no topo da lista. Em 1997, duas
reportagens expuseram os prós e os contras. Há sempre quem goste de proclamar “Que-
remos paridade, não caridade”! Com os números do desemprego a aumentarem, mandar
as mulheres de volta para casa não é a solução, de acordo com os títulos publicados. Mas
trabalhar quando se tem filhos continua a ser um pesadelo. Uma investigação de 1999
mostra que apenas 17% das mulheres entrevistadas não têm dificuldade em conciliar
as duas coisas. Aguarda-se ainda a divisão justa das tarefas domésticas. E o aborto ainda
é uma luta. O assédio sexual é o tema de denúncia do momento. Há neomachismo no
ar, anúncios sexistas, violência doméstica e abusos em geral. Ainda que as mentalidades
estivessem de facto a mudar. Artigos sobre bissexualidade, vida de solteira, swing, ponto
G, homossexualidade, pornografia e brinquedos sexuais confirmam uma liberdade que já
era tida como certa. Nas capas da ELLE Itália e Espanha fala-se de uma nova mulher e da
revolução feminina. Mas, infelizmente, esta mudança de mentalidades não se propaga a
todo o mundo. Burcas em Cabul, casamentos forçados em África, proibição do aborto na
Irlanda, mulheres abusadas em todos os lugares. 75% das vítimas de conflitos armados
são mulheres, segundo o Conselho de Segurança da ONU. A ELLE Tailândia, lançada
em 1994, mostra-se indignada com o turismo sexual, o flagelo do país. Na Índia, na sua
nova ELLE (1996), as mulheres também lutam pelos seus direitos e autonomia. Será que
vemos esperança ao fundo do túnel? Entrevistada na Casa Branca, em 1996, Hillary
Clinton já sonha com uma mulher presidente dos Estados Unidos. Na Rússia, pela
terceira vez, há uma astronauta feminina na estação de Mir, Elena Kondakova. O
bloco comunista entra em colapso e a ELLE Rússia é lançada.

E L L E P T 59
THROWBACK

2010
O INÍCIO DA LUTA PELA INCLUSIVIDADE COMEÇOU. AS
MULHERES COMEÇAM A PEDIR UMA SOCIEDADE MAIS
JUSTA, MAIS TOLERANTE E MAIS ABERTA À MUDANÇA.

ANOS 2000-10: NO CAMINHO CERTO


Estaremos a retroceder? Como podemos quebrar o teto de vidro? Igualdade a
que preço? Salário: a injustiça infligida às mulheres. Porque é que as meninas
não escolhem ciências na escola? Devemos feminizar os títulos profissionais?
Porque é que o direito ao aborto é contestado e os homens abusivos estão na
berlinda? A ELLE denuncia a violência contra as mulheres, apoia causas,
inclusive contra a burca, e lança uma petição para ser entregue ao Presidente
da República. Mas na política, é sempre um aborrecimento. «Onde estão as
mulheres ministras ou presidentes?». Além de Theresa May, chefe do Partido
Conservador britânico em 2002, Angela Merkel, chanceler da Alemanha em
2005, Cristina Fernandez de Kirchner, presidente da Argentina em 2007 e
Dilma Rousseff, presidente do Brasil em 2010, há poucas mulheres ministras
ou presidentes. O feminismo tornou-se um assunto do passado em 2009?
Nem por isso. De Cabul a Riade, do Irão à Indonésia, o mundo muçulmano
reflete imagens de mulheres oprimidas. Em 2001, numa capa agora icónica,
uma mulher em Chade com a sua filha retrataram o martírio das mulheres
afegãs às mãos dos Talibãs. A ELLE acolheu uma delegação de mulheres afe-
gãs no Parlamento Europeu. Em 2003, a advogada iraniana Shirin Ebadi é a
primeira mulher muçulmana a receber o Prémio Nobel da Paz. E em 2007,
nume referendo histórico, Portugal despenaliza o aborto.

ANOS 2010-20: PRESENTE


De França à Ucrânia, as iniciativas para promover tanto as oportunidades de
emprego como a criação de espaços de trabalho seguros para as mulheres mul-
tiplicam-se. Em termos da utilização de anticoncecionais em todo o mundo,
63% das mulheres entre os 15 e 49 anos usam-nos: 4% no Sudão e 88% na
Noruega. O acesso ao aborto, está a propagar-se, com 50 países a alterar as
suas legislações, embora 40% das mulheres estejam sujeitas a leis restritivas,
como na Polónia. Ser feminista não é uma luta do passado. Os jovens

60 E L L E P T
FOTOS: JUAN ALDABALDETRECU (3)

O quarto de
século da ELLE
Portugal foi
celebrado com
Sara Sampaio,
a modelo
portuguesa mais
internacional
de sempre.
THROWBACK

2020
O ANO EM QUE O MUNDO PAROU. FOI-NOS EXIGIDO
(E AINDA É) MAIS PACIÊNCIA, MAIS RESPEITO
E MAIS AMOR COM OS OUTROS E PELOS OUTROS.
ESTE TAMBÉM ESTÁ A SER O ANO DA REINVENÇÃO
E É COM EXPECTATIVA QUE VEMOS A INDÚSTRIA
DA MODA A ADAPTAR-SE AO NOVO NORMAL.

estão fazem campanha pelos direitos LGBTQI+ e contra a cultura da violação. Em


2016, Hillary Clinton não foi eleita para a presidência dos E.U.A.; no ano seguinte,
Angela Merkel foi reeleita por uma margem mínima. Apenas 21 mulheres chefes
de estado ou de governo lideram um dos 200 países do mundo (Bélgica e Grécia são
exemplos). Em 2017, as mulheres indianas muçulmanas não são mais vítimas do
divórcio instantâneo de três palavras, “o triplo talaq“, pronunciado pelo marido que
as repudia. Uma vitória memorável. Em novembro de 2019, mulheres vítimas de
abuso são capa de uma edição da ELLE França sobre violência doméstica. E, como
um raio inesperado, chega a hashtag #metoo após o caso Weinstein que, mais uma
vez, mudou o mundo. As denúncias sobre violência sexual, feminicídios, pedofilia, a
zona cinzenta do consentimento e do cyberstalking foram (d)escritas em diferentes
idiomas. “A hashtag colocou em palavras o que as mulheres não ousavam dizer”. A
ELLE está por dentro do tema e envolve-se no assunto, como não podia deixar de ser.
As mentalidades mudaram um ano depois de #metoo? 61% das meninas de 15 a 20
anos dizem que são feministas. Mas há espaço para crescer.
FOTOS: CARLOS TEIXEIRA (1) - RICARDO SANTOS (1)

Em abril de 2020, a epidemia do covid-19 à escala global revelou, mais uma


vez, as desigualdades gritantes e a prevalência da violência doméstica. Várias
edições internacionais dão destaque a negócios locais, gravemente afetados pela
pandemia e homenageiam enfermeiras mal remuneradas – como em quase todas as
profissões femininas, de acordo com um estudo realizado em 75 países. De acordo
com a Organização Internacional do Trabalho, que também indica que a maioria
dos empregos em regime de part-time são de mulheres, seriam necessários mais
75 anos para alcançar a igualdade de remuneração. Nessa altura, a ELLE estará a
celebrar o seu 150º aniversário. n M.F. E C.A.P.

62 E L L E P T
2020 é o ano em
que a máscara
de proteção
pessoal, para
além de ser
obrigatória,
é um fashion
statement.
@LISBOAFASHIONWEEK
7-11 OUTUBRO 2020
MODALISBOA.PT

ModaLisboa 2020 | Model: Isabella (Central Models)

Uma iniciativa conjunta

Parceiro Tecnológico Patrocínios +RWHORÀFLDO Apoio

Educational Partner Parceiros 7YRÀFLDO 5iGLRRÀFLDO Tv internacional Parceiro de Media


ELLE

moda

Blusa e saia em seda e


sandálias em lã, tudo Fendi.
FOTOS: SHIN SUN HYE - STYLING: LEE HYE MI

MOVIMENTOS CÍCLICOS
A melhor forma de encarar a moda é seguir o ensinamento da música de Raul Seixas (cantor brasileiro)
que diz: “prefiro ser essa metamorfose ambulante”. Assim sendo, podemos aproveitar um pouco da vida
no campo em Green Acres e, ao mesmo tempo, vibrar com a energia dos anos 70 em Voulez-Vous.
Deixamos a poluição das grandes cidades para trás e abraçamos a tranquilidade do campo. A mudança

E
E
E

C
A
G

R
R

N
também é drástica no estilo: trocamos grande parte das cores sólidas por peças repletas de estampados.
Fotografias Danilo Scarpati | Styling Carola Bianchi

em lã, Hermés.
Dolce&Gabbana.
Meias em lã, Isabel
em algodão, ambos

Marant Etoile. Manta


Capa em lã e calções
Gabardine em
algodão, Moncler
x Richard Quinn.
Gabardine em
tule (por baixo)
com aplicações
de flores, Simone
Rocha x Moncler.
Botas de borracha,
Hunter.
Gabardine em
algodão, Moncler
x Richard Quinn.
Gabardine em tule
(por baixo) com
aplicações de flores,
Moncler x Simone
Rocha. Chapéu em
algodão, Gucci.

E L L E P T 69
Blazer em lã
e camisa em
algodão, ambos
Etro. Colete em
caxemira, Alanui.

70 E L L E P T
Blazer em lã,
camisa e calças
em algodão, tudo
Etro. Colete em
caxemira, Alanui.
Botas de borracha,
Hunter. Lenço
em algodão,
Maria La Rosa.
Casaco em
algodão, camisola
e calções em
lã e camisa em
algodão, tudo
Maison Margiela.
Chapéu em
algodão, Gucci.
Lenço em algodão,
Maraia La Rosa.
Galochas de
borracha, Hunter.
Capa em algodão
e carteira em tela e
pele, ambos Hermès.
Lenço em algodão,
Maria La Rosa.
Casaco e vestido
em seda e chapéu
em algodão, tudo
Gucci. Botas de
borracha, Hunter.

74 E L L E P T
E L L E P T 75
Casaco em
algodão, MSGM.
Gabardine (por
baixo) em algodão,
H&M. Botas de
borracha, Hunter.
Casaco em algodão,
MSGM. Gabardine (por
baixo) em algodão,
H&M.

Modelo: Chiara Scelsi/


Women Management.
Maquilhagem:
Giulia Cigarini/
CloseUpMilano com
produtos Deciem.
Cabelo: Astro Hoxha /
CloseUpMilano.
Assitente de Styling:
Maria Vittoria Silvestri.

E L L E P T 77
VOULEZ-VOUS?
AH - HA! ATÉ PORQUE TRANSFORMAMOS AS NOSSAS SALAS EM PISTAS

Fotografias de Shin Sun Hye | Styling de Lee Hye Mi


Vestido e casaco
em seda e gancho
de cabelo em
metal, tudo Gucci.
Botas em pele,
Saint Laurent
by Anthony
Vaccarello.
Vestido em
jacquard, Miu Miu.
Brincos em
ouro, Cartier.
Camisa em
algodão, vestido
e meias em lã e
sapatos em pele,
tudo Prada.
Top em crochet
de lã, calças em
denim e botas com
pedras aplicadas,
tudo Gucci.
Vestido em seda,
Valentino. Anel e
brincos em ouro,
ambos Cartier.
Blazer e calças em
veludo, blusa em seda
e sapatos em pele,
tudo Saint Laurent by
Anthony Vaccarello.

Modelos: Jung
Ho Yoen / Saram
Enterteinment; Bay
Yoon Young/ YGKPLUS.
Maquilhagem: Lee Suk
Kyung. Cabelo: Choi
Eun Young. Assistente
de moda: Yu Ji Eun.
ELLE

O melhor iluminador
é sempre aquele que
beleza
é adaptável a cada
pessoa. Experimente
a paleta Météorites
Pearl Dust, €62.
Guerlain.

O FUTURO É BRILHANTE
A beleza, tanto como conceito e padrão social ou como indústria, está em constante mutação, quer tenha 32
IMAXTREE

ou 75 anos. Aqui, na ELLE, apenas nos divertimos a viver todas estas etapas com quem nos lê, seja a descobrir
novas marcas, lançamentos entusiasmantes ou produtos inovadores. Por Carolina Adães Pereira
BELEZA

TENDÊNCIAS

Na comemoração dos 75 anos de


ELLE no mundo, 32 dos quais com
uma versão portuguesa, fazemos
uma retrospetiva da indústria da
beleza ao longo das décadas.

ANOS 70
Vão para sempre ficar
conhecidos como a década
do estilo questionável
mas, no que diz respeito à
maquilhagem, o brilho intenso
foi uma lição valiosa. A cana
do nariz, o topo das maçãs do
rosto, o arco do cupido e os
ossos da sobrancelhas tinham
de estar iluminados! Aqui, as
Calendar Girl e Centerfold da
paleta Skin Deep, €55, Nars.

88 E L L E P T
E
m novembro de 1945, quando foi lançada a primeira Apesar de serem mães, as mulheres começam a querer explorar
edição da ELLE, a modelo Bettina Graziani, com o os seus desejos, muito por culpa de modelos como Graziani,
seu aspeto sério e reservado, era a personificação do Sophie Litvak e Sylvie Gélin. A noção de feminilidade estava
ideal de beleza. Agora, temos a voluptuosidade de bem viva e havia muito trabalho a fazer. Começou-se pela
Ashley Graham, por exemplo. E no tempo que as higiene: em 1951, Françoise Giroud publicou uma pesquisa
separa? São 75 anos de beleza na ELLE, que entre tendências escandalosa, “Será que a França está limpa?”. Na época, 30%
e modas, teve toda a história do empoderamento feminino das mulheres não usavam sabonete ou pasta de dentes. Seguiu-se
escrita nas suas páginas. Uma história que de fútil não tem o drama, o horror: “Em muitos círculos católicos, há muito
nada e onde tudo é mais do que uma questão de aparência. tempo que higiene é confundida com vaidade, e a primeira foi
Percebemos relativamente cedo que o ato de (se) cuidar é negligenciada em favor da segunda”. Algum conselho? “Lave
uma das formas das mulheres controlarem os seus próprios não só a parte superior dos braços, mas também a parte inferior!”.
destinos. É certo que existe um espaço temporal grande Com tudo isto dito, uma beleza “low cost”, a “rotina simples“
entre 1945 e 2020, mas as nossas jornalistas de beleza têm ou uma “maquilhagem minimal“ são pedidos frequentes das
desde sempre o mesmo papel de conselheiras especialistas/ leitoras da revista, tal como a abordagem de temas tabu – como
irmãs mais velhas e, a cada palavra, libertam as mulheres do é o caso da cirurgia estética, na altura.
sentimento de culpa e da superficialidade. «Encontrámos
uma maneira de contar as histórias da beleza num tom ale- ANOS 60: INDIVIDUALIDADE
gre, refrescante e empático, para decifrar este mercado que Os jovens são mais livres que nunca e aspiram a uma beleza
ficou saturado com o passar do tempo», explica Elisabeth menos contida, ao estilo da época do Swingin ‘London. A ELLE
Martorell, diretora de beleza da ELLE França. divide-se entre ensinamentos para mães e filhas se bronzearem
Com o passar do tempo, foi-se compondo a imagem da sem enrugar a pele e alertas de como os eyeliners e os pós estão
mulher ELLE: é apaixonada pela sua liberdade, é desinibi- a invadir kits pelo mundo fora, incluindo aqueles produtos de
da, recusa-se a dissociar a substância da forma e assume o culto como a primeira máscara de pestanas automática (a Long
controlo dos seus múltiplos desejos. E é isso precisamente Lash da Elisabeth Arden). Com a Twiggy e o seu cabelo curto
que os nossos arquivos mostram. Recorde tudo conosco. na capa, em 1967, a feminilidade é reinventada. No mesmo
ano, Marilyn Monroe é celebrada como “A mulher curvilínea
ANOS 45 | 50: O INÍCIO mais bonita do mundo”. E com a chegada da minissaia, de
A primeira edição da ELLE foi lançada em 1945: com o fim repente, sentimo-nos obrigadas a cuidar das nossas pernas –
da guerra, as mulheres só tinham um desejo: viver, votar “Como embelezar as pernas“, em 1969. Depois de maio de 68,
e ficar bonitas! A beleza é um luxo reservado à elite? Não um vento de rebelião sopra por todo o mundo da beleza: “Não
para Hélène Lazareff, a nossa fundadora. A revista assume-se peça permissão a ninguém para usar o seu cabelo comprido
como educadora, explicando como conseguir os looks das ou curto, escolha o que mais combina consigo”. Designers
estrelas da época, mas sempre com uma pitada de humor, como Yves Saint Laurent ou Emmanuel Ungaro foram dos
mesmo nos tópicos mais básicos. principais impulsionadores deste sentido de individualidade.

ANOS 70: BELEZA NATURAL


... Que demorou um pouco até chegar. «Os psiquiatras reabi-
litam a vaidade: querer ser bonita é uma necessidade vital»,
partilha a ELLE, em 1971, com alegria. Com direito à pílula
anticoncecional e ao aborto (em certos países), as mulheres
começam a cortar as amarras da opressão. A beleza foi democra-
tizada? A ELLE faz-nos acreditar que sim: “Viva perfeitamente
com os seus defeitos” em 1973, “Vamos sair hoje à noite?” e
“Seja linda à sua maneira” em 1978. Em 1972, a tendência
do topless nas praias faz com que as mulheres tivessem von-
FOTOS: D.R. (2) - CHEVALLIER (1)

tade de cuidar dos seios – “Seios, comprimidos e cirurgia“.


Serge Lutens, maquilhador de celebridades, diz, em 1975,
que “a maquilhagem não deve ser uma prisão guardada por
NOS ANOS 50 COMEÇARAM-SE A armas antiquadas”. No ano seguinte, celebramos os geniais
PUBLICAR SUPLEMENTOS DE BELEZA, inventores do anticabeleireiro (Maniatis e Jean-Louis David)
COM DICAS PERTINENTES. E AINDA HOJE
SÃO UMA PRÁTICA DA FAMÍLIA ELLE. e a alegria de deixar o cabelo secar naturalmente.

E L L E P T 89
ANOS 80
Os anos 80 trouxeram-nos muitas coisas: a chegada da ELLE Portugal, a genialidade e excentricidade de António Variações, os ombros
maiores que a própria vida das Doce (com cabelo a condizer)... e mostrou-nos que o batom vermelho é poderoso e o simbolo máximo de
feminilidade. Este é o lipgloss Chanel Rouge Coco no tom Chili, €32.

90 E L L E P T
BELEZA

ANOS 90
Cabelo perfeitamente liso,
crop tops e vestidos slip:
quase que podíamos estar
a falar da atualidade, mas
a inspiração é mesmo
da década de 90. Feliz
o momento em que as
ferramentas de calor se
tornaram uma realidade na
nossa vida. Aqui, a
placa Styler Platinum+,
€275, da GHD.
FOTOS: BRUCE ANDERSON (2)

E L L E P T 91
BELEZA

atriz afirma, com toda a razão: «Acho terrível sentir-me na


obrigação de ter que me justificar, como se tivesse que confes-
sar um erro». O assunto é cada vez mais debatido: “Cirurgia
estética: as 50 perguntas para se fazer antes de dizer sim”,
em 1997, ou “Devemos acreditar em milagres?” em 1999.
Linda, sim; ingénua, nunca.

ANOS 00: PARA TODAS


A globalização acelera a simbiose dos códigos de beleza.
A ELLE celebra a beleza nas suas diferentes formas, sem
exceções e defende implacavelmente o fim da ditadura da
ASHLEY GRAHAM, NA CAPA DA ELLE
UK EM 2018, REVOLUCIONOU O magreza: “O triunfo das curvas“ em 2003, “Curvas à mostra:
SIGNIFICADO DE ATIVISMO CORPORAL a nova atitude sexy“ em 2007, “Complexo Zero”. A revista
NA INDÚSTRIA DA MODA.
continua a quebrar tabus, às vezes chocando os leitores, até,
como aconteceu com a pesquisa sobre a depilação púbica:
“Integral, perfumada, colorida ... Os segredos da depilação
a cera“ em 2002. A questão da idade continua a ser tema:
ANOS 80: DONA DE SI “10 truques para parecer dez anos mais jovem“ em 2000,
As mulheres trabalham, divorciam-se, querem tudo... e tam- “Nem Botox nem cirurgia: estas mulheres estão bem com
bém querem continuar atraentes. Estão em perfeito controlo a sua idade” em 2007. Seguiu-se um boom de novidades:
das suas vidas, assim como da sua aparência. A mulher ELLE enzimas regeneradoras, o BB e o CC creme. «A beleza
trabalha, mas também é dinâmica, desportista e saudável. tornou-se uma indústria poderosa, impulsionada por um
Ela cuida do seu corpo no ginásio e tem o cabelo curto e marketing inteligente e apelativo», diz Martorell. A nossa
despenteado (de propósito) à la Dessange. As top models missão é ajudar as nossas leitoras a encontrarem o que lhe
são as novas heroínas: Elle MacPherson, Cindy Crawford, fica e faz bem sem cair em armadilhas.
Stéphanie Seymour e Yasmin le Bon lideram. A ELLE tor-
na-se uma marca internacional, aumentando o número de ANOS 10 | 20: PRESENTE
lançamentos em poucos anos: dos Estados Unidos (1985), a A ELLE defende a singularidade, a personalidade e o poder
Espanha (1986), depois Itália (1987), Portugal (1988) e Índia pessoal. A diversidade é cultural, sexual e geracional: Lauren
(1996). Os códigos de beleza são misturados com facilidade: Hutton, 70 anos, aparece com o título “Estas mulheres con-
a escultural Grace Jones foi entronizada na capa em 1983, vencem qualquer pessoa a envelhecer”; Liya Kebede partilha
algures entre Carla Bruni e Naomi Campbell. A beleza das os seus segredos de beleza, tal como Ashley Graham. Valentina
curvas é celebrada graças a Rosemary McGrotha no mesmo Sampaio, uma modelo transgénero, tornou-se o símbolo
ano. Na cosmética, os ácidos originários das frutas despertam do momento (mais na página 30). Resumindo, a mulher
o brilho da pele. E pela primeira vez na história da indústria, ELLE rejeita os ideais de perfeição e abraça a felicidade da
uma nova vida recomeça aos 40 ou 50 anos – “Cirurgia Plástica: realização pessoal. E as influências das pessoas que ocupam o
Com que idade e a que preço?”, em 1984. espaço mediático vão nesse sentido, desde o famoso rabo de
Kim Kardashian às mensagens de amor próprio de Beyoncé;
ANOS 90: FEMININA... OU NÃO algo que a ELLE impulsiona desde 2011 – “Anti-blues: as
Na procura por uma vida mais equilibrada, as mulheres recu- 12 dicas de beleza para se amar melhor“. Com o #MeToo, o
sam-se a ocupar os lugares sociais que lhes foram atribuídos feminismo renova-se e a hora da consciência verde, acelerada
e assumem uma identidade plural conforme os seus desejos pela crise do Coronavirus, instala-se. A beleza começa a pensar
FOTOS: BRUCE ANDERSON (1) - GILLES BENSIMON (1)

se manifestam: um dia um perfume sexy e inebriante, no dia numa lógica orgânica, local e vegan: «Desde 2010, estamos a
seguinte um perfume floral. Kate Moss, Linda Evangelista e estudar rótulos, a fazer comparações entre os produtos orgâ-
Claudia Schiffer eletrizam a década. A ELLE lança uma bomba: nicos e não orgânicos, a examinar os novos influenciadores, a
Laetitia Casta, com apoio de todas as edições internacionais. contar histórias sobre o aparecimento repentino de pequenas
As formas reais do corpo continuam a ser celebradas, mas a marcas eco, éticas e com conceitos muito fortes, tanto a nível
idade ou o combate aos sinais da idade são também tema. Aos de apresentação como de fórmulas», explica Martorell. «O
50 anos, a Rainha Catherine Deneuve confidencia: «Todas as luxo está em permanente inovação. O futuro? Uma indústria
mulheres que dizem que não se importam com a idade são da beleza ainda mais inclusiva, ainda mais responsável pelo
mulheres que mentem». A propósito da cirurgia estética, a meio ambiente e ainda mais divertida». n D.W.

92 E L L E P T
ANOS 2000
Este foi o momento em que
as unhas atingiram todo
o seu potencial. Desde a
manicure francesa, à forma
mais quadrada até às
primeiras expressões de nail
art, a primeira década do
milénio foi pioneira. Mas isso
não significa que as opções
mais clássicas tenham sido
esquecidas, pelo contrário.
Apenas começámos a viver
tempos em que (quase) tudo
começou a ser permitido. A
versão do “com preto, não me
comprometo” nas unhas é
o vermelho. Como este tom
Rouge, €27,20, Dior.
BELEZA

MAQUILHAGEM

O BATOM
DA ESTAÇÃO
Depois do grande lançamento de beleza do ano, a Hermès
volta a encantar com uma coleção efémera. Jérôme Touron,
diretor criativo de beleza, apresenta-nos os novos tons.
N
o início do ano, a maison fran- A PALETA DE CORES DOS BATONS
DESENVOLVIDOS POR JÉRÔME
cesa brindou-nos com um dos TOURON (À DIREITA) PARA
lançamentos mais celebrados A COLEÇÃO DESTA ESTAÇÃO
APRESENTA VARIAÇÕES DO
de 2020: a estreia do métier da TOM ROSA: ROSÉ NUI, ROSÉ
maquilhagem com a coleção de OMBRÉ E ROSÉ POMMETTE
(NA IMAGEM DA ESQUERDA, DE
batons – 24 referências e mais três tons FORA PARA DENTRO).
efémeros sazonais. Esta iniciativa vai ser
repetida todas estações, incluindo este
outonoeinverno.JérômeTouron,diretor
criativo de beleza da Hermès, apresen-
ta-nos a nova coleção Rouge Hermès e
revela-nos o seu processo de criação. batons,estasdeveriamobrigatoriamente totens multicolores para colecionar.
teromesmoníveldequalidadee de inten- Como é que se desenrola o processo do
A coleção de batons está perfeitamente sidade sensorial que os outros materiais seu desenvolvimento?
integrada no legado da marca. Como é da maison. Imaginei dois acabamentos O exterior das edições limitadas é pensa-
que se desenrola o processo de desen- queestivessememharmoniacom alguns do a partir de um tema, de uma história
volvimentoparagarantirestasimbiose? dos acabamentosdocouro. Assim sendo, de cores que se inspira principalmente na
O que mais me impressionou quando o acabamento mate é inspirado no couro arte. Para a temporada de outono-inver-
cheguei à Hermès, foi a criação de cores Doblis,comumatexturasuave, aveluda- no 2020, os objetos foram lacados a partir
quepareceserinfinita.Sãomaisde75000 da, quase na forma de pó. O acabamento de uma paleta de cores claras e escuras,
tons arquivados em Lyon só para a seda, e acetinado é inspirado no couro Box, com evocando a visão de um céu puro em
900 tons para o couro... Cada métier cria uma textura lisa, brilhante e luminosa. contraluz, o frio seco do exterior ou ainda
e enriquece esta gigantesca biblioteca de Levámos três anos a desenvolver estas o ambiente acolhedor de um interior
cores. Trata-se de uma criação coletiva texturas e cerca de uma centena de varia- quente… Nuances ora luminosas, ora
que dá vida à maison no seu todo. Aqui ções para ajustar, de forma perfeita, a sua sombrias, fazendo lembrar as cores de
é designada por “cozinha da cor”, tanto intensidadesensorial.Oacabamento mate Charles Sheeler ou ainda de Arduino
TEXTO: CAROLINA ADÃES PEREIRA - IMAGENS : MAUD REMY LONVIS (1); ALEXANDRE TABASTE (1); JOAQUIN LAGINGE(1)

pelapluralidadeegenerosidadequeacor tinha que ser extremamente confortável, Cantafora. Para os três tons de batons,
nos inspira, como pelo conhecimento e enquantooacabamentoacetinado deveria imaginei uma variação do tema da rosa:
extrema precisão que exige. No início deixar umapelícula finaeleve nos lábios. três rosas plenos de uma sensualidade
passámos muito tempo a selecionar e a Além da coleção de base, serão lan- intensa e envolvente, fazendo lembrar os
editarascores,principalmentenosarqui- çadas em todas as temporadas três rosas suaves e vibrantes de Yves Klein.
vosdeseda,mastambémnasamostrasde edições limitadas de batons. Como é Existe algum significado especial por
couro.Deseguida,começámosatranspor que surgiu esta ideia? detrás da seleção dos três tons para
todas estas cores para os materiais do ba- A ideia destas edições limitadas é suge- cada lançamento sazonal?
tom. Curiosamente, a escolha tornou-se rir, em paralelo às 24 cores intemporais, Na realidade, estes tons de batons contam
então mais simples, mais óbvia, quase propostasefémeras,pontuais,inesperadas. uma história. No interior dos objetos la-
imediata. Determinadas cores rapida- Creioqueissorefletemuitobem a relação cados a tons claros e escuros, pretendia
mentesedestacaram,comoporexemploo daHermèscomacor:tantoaideia de cores evocar, através destes três tons de rosa, uma
RougeCasaque,umvermelholuminoso, de assinatura, emblemáticas, compondo mente desperta, uma sensibilidade à flor
equilibrado, vibrante e suave ao mesmo umrepertóriodecores essenciais, intem- da pele, um coração a bater sob uma calma
tempo. Também estava interessado em porais, pensadas com precisão... como aparente. Sem muita definição, queria
reinterpretar o Rouge H, este vermelho a ideia de surpresa, de jogo, de criação esboçar uma certa ideia de feminilidade:
tão emblemático da maison, criado no iconoclasta em torno da cor, como um subtil, secreta, misteriosa e complexa.
fimdosanos20.Porfim,nãopoderíamos passo ao lado. Além dos tons dos batons, Suave e sofisticada ao mesmo tempo. n
deixardesertentadospelacaixalaranjada estacriaçãoefémeraconstituiigualmente
A nova coleção efémera de batons da Hermès
marca. O Orange Boîte é uma transposi- a oportunidade de reinventar o objeto, està à venda na loja da marca (no Chiado,
çãofieldessetom.Quantoàstexturasdos como uma série limitada de pequenos Lisboa) a partir de 21 de setembro.

E L L E P T 95
BELEZA

ESCOLHAS DA EDITORA

YOU GLOW, GIRL!


Como este mês é de celebração e muito brilho, não podiam
faltar os iluminadores. Temos sugestões de maquilhagem,
skincare e uma dose de inspiração. Por Carolina Adães Pereira

#ELLECRUSH
NAM VO
@NAMVO
Prepare-se para ficar
rendida ao movimento da
pele #dewydumpligs.
Rosie Huntington-Whiteley
e Kylie Jenner são apenas
duas das celebridades que
já foram iluminadas por esta
maquilhadora profissional. Com
mais de 320 mil seguidores no
Instagram, Nam Vo transformou
1 2 SHIMMERING 3 LES BEIGES o brilho intenso na sua
imagem de marca e partilha
> PAT MCGRATH SKIN PERFECTOR SHEER HEALTH com muita frequência nesta
rede social dicas de produtos
LABS > BECCA GLOW > CHANEL com pequenos clips das suas
Versão multifunções: COSMETICS Um fluido fácil de aplicar aplicações. Luz total.

o lado branco tem um Este é o produto que, – não precisa de pincéis ou


acabamento subtil, ao depois de o experimentar, esponjas – com um brilho
passo que o lado dourado convence qualquer delicado. Confere aquela
é impactante. Juntos são pessoa a começar a usar luz perfeita de quem está
incríveis! iluminador. descansada e feliz.
No tom Golden, €54,27, No tom Opal €41,50, No tom Pearly White,
Pat McGrath Labs Becca Cosmetics na €43, Chanel.
em net-a-porter.com. Sephora.

DESTAQUE DO MÊS
É suposto a maquilhagem ser divertida: testar diferentes produtos,
experimentar texturas, cores, tendências. Já o skincare deve ser eficaz.
E, no que diz respeito a esse ponto, a Filorga nunca nos deixa ficar mal.
Depois de começar a usar os produtos desta marca, é muito difícil deixá-los. Por isso, quando
surgem lançamentos que combinam o tratamento com uma particularidade que, normalmente,
associamos à maquilhagem, o entusiasmo é imenso. É isso que acontece com o Lift-Structure
Radiance. Este hidratante refirmante, que deve ser usado de dia, também tem propriedades
iluminadoras. Quando coloca o produto (bónus: a embalagem tem um pump), vai reparar que o
fluido tem uma tonalidade rosa, que é impercetível depois da aplicação. A única coisa que vai
D.R. (4) - INSTAGRAM: @NAMVO(1)

conseguir ver é um brilho natural, mas bonito, e uma tez uniforme, quase como se o produto
tivesse um filtro de blur. Com tanto entusiasmo com a parte do look, quase me esquecia de
falar da componente do tratamento a nível da firmeza. O complexo Fatores Lifting Plasmáticos
é constituído por ingredientes que promovem a tonificação da pele do rosto e que estimulam a
produção de colagénio e ácido hialurónico. Com uma pele mais firme e iluminada num só gesto,
precisamos de mais alguma coisa? Disponível em 50 ml, por €72.
BELEZA

TESTE

AQUELA
´
MAQUINA
Há lançamentos que deixam qualquer
pessoa chocada e este é um deles.
Spoiler alert: a Foreo superou-se. Outra vez.

T
udo o que envolva aparelhos, tecnologia e beleza faz-nos pon
muito bem antes de avançarmos para a compra. Especialmente
quando falamos de eletroestimulação, por dois motivos: o custo
e o medo de choques. Por isso ficámos tão felizes de conhecer o
Bear (na imagem), o novo aparelho de microcorrentes da Foreo, que
tem como propósito principal tonificar o rosto. As linhas de expressão
deixam de estar tão marcadas e a zona do maxilar e as maçãs do rosto
ficam mais definidas. É quase como uma sessão de três minutos intensos
de ginásio para o rosto. Três avisos: é obrigatório aplicar um sérum à
base de água (em pele limpa) para servir de condutor (nada de óleos!);
tem um sistema antichoque para não se sentir os impulsos elétricos
(sim, não sente mesmo nada; se sentir, significa que não colocou sérum ALÉM DA
VERSÃO EM CIMA
suficiente); como um extra, as pulsações T-Sonic otimizam a absorção (DISPONÍVEL POR
do produto (que dá para desligar, conforme preferir). €299), TAMBÉM HÁ
UMA VERSÃO MINI
Este aparelho também se conecta à app da Foreo, que tem um COM UM CUSTO
MAIS ACESSÍVEL
tutorial para aprender a fazer a rotina de utilização. Contudo, o Bear (€199). A MARCA
também funciona sem estar conectado. Com a utilização frequente, é ACONSELHA
A UTILIZAÇÃO
possível que consiga desenvolver alguma autonomia longe das ajudas DO SEU SÉRUM
SÉRUM SÉRUM,
telecomandadas e isso é ótimo. Em termos de resultados, as diferenças (DISPONÍVEL POR
€59 EM FOREO.
são notórias. De forma a conseguir seguir a sua evolução, tire uma selfie COM), MAS
antes e outra depois de usar o Bear para ter um termo de comparação. QUALQUER OPÇÃO
À BASE DE ÁGUA,
Vai ver que não se vai arrepender do investimento.QC.A.P É COMPATÍVEL.

E L L E P T 97
BELEZA

98 E L L E P T
ROSTO

NEWNORMAL
Segundo a Caudalie, em fórmula vencedora mexe-se, sim,
principalmente se for para alcançar resultados ainda melhores
na firmeza da pele. Por Carolina Adães Pereira

O
“ditado” diz que não devemos
voltar a um sítio onde já fomos
felizes. Por uma questão de ex-
pectativas, talvez. Desta forma,
não corremos o risco de manchar as boas me-
mórias que guardamos. No entanto, será que
devemos transportar esta teoria para a nossa
rotina de beleza? Quando encontramos um Normalmente, quando pensamos nesta
produto compatível com a nossa pele – e sabe- categoria específica de tratamento, há um
mosqueocaminhoatéconseguirmosencontrar ingrediente que está sempre presente nas fór-
algo que funcione connosco pode ser longo e mulas mas que não se encontra em nenhum
sinuoso – não será melhor guardá-lo e usá-lo produto da linha Resveratrol-Lift, o retinol.
diariamente? Isto porque os estudos realizados pelas equi-
Seguindo essa linha de pensamento, se é pas concluíram que a patente é mais eficaz do
uma das fiéis fãs dos produtos antienvelhe- que o retinol, aumentando cinco vezes mais
cimento Resveratrol-Lift da Caudalie, temos a produção natural de colagénio e duas vez
duas notícias para si. Começamos pela mais mais a de ácido hialurónico produzidos pela
impactante: a gama foi totalmente refor- nossa pele. O resultado não só é visível em
mulada, até as embalagens têm uma nova termos de firmeza, como também em termos
aparência. Mas calma, o motivo é (muito) deutilização. Aocontrário do retinol,apatente
bom: as fórmulas foram reforçadas com uma resveratrol+ácido hilurónico+potenciador de
nova patente, que permite que os produtos colagénio vegan não é foto sensível, podendo
sejam mais eficientes a combater os sinais de ser usado durante o dia sem problema.
envelhecimento. E, como já deve ter reparado, Mas,nomeiodetodasestasnovidades,aque
as embalagens assumiram agora uma paleta mais interesse nos despertou foi o colagénio
de tons rosa que é ainda mais apetecível. vegan. O ingrediente, que, normalmente, é
Depois de renovar a parceria com os labo- de origem animal, é extraído de uma árvore
ratórios da Universidade de Harvard, a marca chamada Khaya. Esta preferência não deve
francesa apostou numa nova patente na área surgir como uma surpresa, principalmente se
do antienvelhecimento: resveratrol+ácido tivermos em conta os princípios e a forma de
hilurónico + potenciador de colagénio vegan. estar da Caudalie enquanto marca. A utiliza-
O seu propósito é o de estimular a produção ção de químicos, silicones, microplásticos ou
natural de ácido hialurónico e de colagénio, qualquer tipo de ingrediente que possa ser pre-
tendo um impacto direto na firmeza da pele. judicialparaoserhumanoouqueasuaextração
seja irreversível para o meio ambiente não é
permitida. Até as embalagens são produzidas
da forma mais consciente possível. Estas ainda
têm mais um ponto positivo: ficam lindas na
ESTA GAMA – QUE CONTA COM UM SÉRUM,
CREME DE OLHOS, HIDRATANTE DE DIA E OUTRO DE
estante da casa de banho ou no toucador, quase
NOITE – JÁ ESTÁ DISPONÍVEL A PARTIR DE €38,60. como uma peça de decoração. n
BELEZA

MAKE UP

M
DE

SOBREMESAS
Não precisa de consultar a carta,
tomamos a liberdade de fazer
a seleção por si: hoje servimos
Tarte. A marca de maquilhagem
chega (finalmente) a Portugal,
com todos os produtos que
já ouviu falar e que vai querer
experimentar. Fomos descobrir
a marca antes do lançamento.

Por Carolina Adães Pereira

100 E L L E P T
O CORRETOR SHAPE
TAPE, O ÓLEO
DE MARACUJÁ E
A MÁSCARA DE
PESTANAS LIGHTS,
CAMERA, LASHES
4-EM-1 (UM DOS
FAVORITO DE
MAUREEN KELLY, À
ESQUERDA) SÃO TRÊS
DOS PRODUTOS MAIS
VENDIDOS DA MARCA.

S
ia que é vendido um corretor Shape Tape da Tarte a retribuir o sucesso apoiando causas e organizações que são
a 12 segundos em todo o mundo? Agora, vai ter a importantes para nós, como proteção a ambiental e animal.
ortunidade de perceber pessoalmente este fenómeno, Quais foram os principais desafios de criar uma marca
do que a marca chegou ao nosso país através da Sephora com ingredientes naturais há 20 anos, quando não havia
line e em loja). Falamos com Maureen Kelly, CEO e tantas opções nesta área?
fundadora da Tarte para conhecermos o propósito de uma das Quando estava a começar, o meu maior desafio eram os recursos
marcas mais faladas na comunidade da beleza e como este ano – a Tarte foi financiada com as minhas economias e cartões de
– que por coincidência é quando chega a Portugal – é especial. crédito pessoais. Também fiz de tudo, desde embalar sombras
até ligar para as lojas de retalho. Os primeiros anos foram os
Como surgiu a ideia de criar a Tarte? mais difíceis, mas não desisti e, no fim, tudo valeu a pena.
Criei a marca há 20 anos no meu apartamento, em Nova Iorque. O crescimento da marca tem sido gradual e agora, 20 anos
Pretendia que fosse uma linha de produtos multiusos, sem depois, chega a Portugal. O que os consumidores portu-
prescindir do glamour e dos resultados e, ao mesmo tempo, gueses podem esperar da marca?
que fossem bons para a pele e para o meio ambiente. Como O meu objetivo desde o primeiro dia era fazer produtos que
não sou maquilhadora profissional, queria algo que também mostrassem às pessoas que a maquilhagem não precisa de
fosse fácil de usar. Desconfiei que outras mulheres também estar cheia de ingredientes maus para ficar bonita e durar o
deviam sentir a mesma necessidade e assim nasceu a Tarte! dia todo. Não é suposto termos de adivinhar o que está nos
Este ano celebram o vosso 20º aniversário. Como tem sido nossos produtos de beleza favoritos, e também não devemos ter
o processo de criação e construção da marca? que comprometer a nossa pele com aquilo que lhe aplicamos.
Ainda não parece real quando ouço isso... 20 anos! É incrível Porque temos que escolher entre um produto que funciona
ver o quanto crescemos nas últimas duas décadas. Realizámos ou um saudável? A Tarte oferece o melhor dos dois mundos.
coisas incríveis e alcançámos mais de 200 países em todo o Aquilo com que formulamos é tão importante quanto o que
mundo. Expandir globalmente sempre foi um sonho meu, formulamos sem. A Tarte foi pioneira no uso de ingredientes
e estou tão animada que, com a ajuda da Sephora, já estamos naturais de alto desempenho – todos os nossos produtos são
em vários países e agora chegamos a Portugal também. formulados com uma mistura de ingredientes naturais e
Uma das coisas que mais me orgulha é a nossa organização outros ingredientes projetados para um bom desempenho,
sem fins lucrativos, a Heart to Tarte, que fundámos em como a argila da Amazónia – que equilibra a pele e ajuda a
2017. Retribuir sempre fez parte do ADN da Tarte, por isso que a maquilhagem dure o dia todo – ou o óleo de maracujá,
D.R.(4)

quando a marca começou a ganhar dimensão, queríamos supernutritivo e não gorduroso. Q

E L L E P T 101
LIFESTYLE

Em cima: Um recanto de objetos especiais em que se destaca um candeeiro Kalmar, um candelabro em bronze Minimalux, uma vela
Cire Trudon e um conjunto de pequenas árvores da The Conran Shop. Na página da direita: Um dos aspetos que marcaram o recente
FOTOS: DR

período de quarentena foi a necessidade de alterarmos (muito ou pouco) o espaço que habitamos. Aqui, tudo tem um significado para
a dona da casa: a manta acolchoada da coleção da mãe, a tapeçaria na parede, um livro datado de 1928...

102 E L L E P T
ELLE

lifestyle

ON TOP
O que colocamos em cima de prateleiras, topos de cómodas
e outros móveis – livros, objetos pessoais, candeeiros – é o passo
final da decoração e, muitas vezes, uma espécie de work
in progress. que vai evoluindo connosco e com os nossos gostos.
LIFESTYLE

Em cima: Numa altura em que temos de passar cada vez mais tempo em teletrabalho, as nossas casas tornaram-se também os nossos
escritórios. O que torna ainda mais necessária a existência de espaços pessoais, destinados a fazermos o que nos dá mais prazer. Neste
FOTOS: DR

recanto de leitura: poltrona Breton Brut, almofada com tecido vintage comprado num mercado de rua em Inglaterra, candeeiro redondo
Hay, jarra preta Noe Kuremoto, taça em metal H&M Home e candelabro Skultuna.

104 E L L E P T
Em cima: Esta cómoda vintage em madeira pintada – inglesa, de cerca de 1880 – “mora” na casa de uma mulher que viaja muito e que
define esta imagem como “Uma pequena curadoria de objetos que adquiri ao longo da minha vida”. Os lilazes (do jardim da casa)
adornam uma jarra art deco. O cristal foi um presente de aniversário, a jarra com flores, antiga, é Ceraudo e o candeeiro é originário
da República Checa. Segundo a dona da casa, o tom da parede “É um background neutro que faz sobressair qualquer peça”.

E L L E P T 105
FALSO
LIFESTYLE

FOTOS: DR

Em cima: Em cima da lareira da sala de estar os habitantes da casa optaram por colocar alguns dos seus objetos favoritos feitos à mão.
A parede está pintada com a tinta Fresco Blue Reef (Pure & Original). O tecido que se vê à esquerda é da Cloth House e as pequenas

106 E L L E P T
amostras de linho (à direita, dentro da moldura) – Sunset Linen, White e Green Tea – são Barbara Osorio. A samambaia (o vegetal
branco) destaca-se na sua brancura. A jarra alta é Hope in the Woods e a jarra mais larga é uma peça de Marta Bandeira.
LIFESTYLE

Em cima: Peças que nos remetem para a natureza são sempre a melhor forma de evasão. Transportam-nos para fora de casa mesmo
quando sair está fora de questão. Da esquerda para a direita: jarra de Matthias Kaiser (na Flow Gallery); jarro e pratos-bandeja do
FOTOS: DR

ceramista Kaori Tatebayashi; taça com textura, Akiko Hirai (Flow Gallery e Maud and Mabel); bola de pedra comprada num mercado
de rua em Tóquio; taça com pé de Malgorzata Bany (The New Craftsmen). Os moldes de pintura foram feitos pela proprietária da casa.

108 E L L E P T
Em cima: Prateleira de tesouros – uma jarra em cerâmica italiana, uma pedra apanhada no Lago Michigan, um jarro em cerâmica
orgânica vindo de Saigão, uma pequena vassoura de Seul e um bule de Quioto. Em baixo: Numa base branca: jarra transparente,
vaso negro (onde está a planta) e bandeja redonda preta, tudo H&M. Base para bolos da Tate Modern em cima da qual estão dois
porta-velas em mármore West Elm e um porta-velas redondo Designers Guild. Candelabro cúbico de Lassen (Skandium).
LIFESTYLE

01

DECOSH

CELEB
OPPING

Peças glam
e pequenas
orosas e div
RAR
ertidas par
alegrias qu a festejar e
e a vida sem m casa as g
pre nos dá. randes
P
or Maria
Rodrigue
s
04
02
03

05

06
6 07

08
09

12

11

10
0

1. Candeeiro de pé em policarbonato, Mirror Ball, Tom Dixon (tomdixon.net). 2. Champanhe Veuve Clicquot Tape (ed.limitada), Club del
Gourmet (elcorteingles.pt). 3. Tabuleiro em porcelana, Star Eye, Gucci (gucci.com). 4. Rádio sem fios e com bluetooth, Diner Jukeboox,
Crosley Radio (crosleyradio.com). 5. Tapete em poliéster, Lady on Carpet, Seletti (seletti.it). 6. Mesa de café em aço inoxidável, Flirt, Minotti
(minotti.com). 7. Prato decorativo em porcelana, Keith Haring, Ligne Blanche Paris (ligneblancheparis.com). 8. Decanter em porcelana,
Gin Rocket, Jonathan Adler ( jonathanadler.com). 9. Decanter em porcelana, Vodka Rocket, Jonathan Adler. 10. Vela Scimmie, Fornasetti
(poeiradesign.com). 11. Mesa com estrutura em alumínio, base em aço e tampo em vidro, Ovni Up, Roche Bobois (roche-bobois.com). 12 .Taça
em cristal, Denver, Reflections Copenhagen (reflections-copenhagen.com).
elle
Todos os meses: moda, beleza, shopping, viagens...
®

assine já
E RECEBA O SEU PRESENTE ESPECIAL
EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO

oferta
no valor de €139

Uma FOREO IRIS, dispositivo para o contorno ocular, aprovado por


oftalmologistas. Reduz visivelmente os pés de galinha,
olheiras e o inchaço dos olhos. Da FOREO.

U
UM ANO (12 EDIÇÕES)
COM A ELLE POR APENAS €25
C
214 337 036 ou assinaturas@vasp.pt
2
Os exemplares enviados não incluem eventuais ofertas de capa.
Oferta limitada ao stock existente e válida de 05.09.2020 a 07.10.2020
LIFESTYLE

HOTSPOT DO MÊS

PRODUTO
LOCAL
É tanto a pedra que dá nome
ao Alentejo Marmoris
Hotel & Spa como o que o
chef elege. Por Sandra Gato

P
assar uns dias em Vila Viçosa é
sempre uma boa ideia. Damos-
-lhe uma razão bem concreta – a
acrescentar a tantas outras – para lá
voltar rapidamente: conhecer a nova
carta do restaurante do Marmoris Ho-
tel (assinada pelo chef Pedro Mendes)
aproveitando, claro está, para passar
um noite num dos hotéis mais fora da
caixa do Alentejo onde, contrastando
com a frieza do mármore, a receção é
sempre calorosa.n alentejomarmoris.com

VISITA À PEDREIRA
PEÇA PARA IR
CONHECER A
PEDREIRA DE
MÁRMORE QUE
PERTENCE AOS
PROPRIETÁRIOS DO
HOTEL. ALÉM DE SER
UM ESPETÁCULO
NATURAL SEM
IGUAL, ESTÃO A SER
O MENU O CHEFE O HOTEL PENSADAS NOVAS
VALÊNCIAS PARA ESTE
No restaurante Narcissus Pedro Mendes sempre teve como O mármore cria o conceito central LOCAL, ONDE TUDO
COMEÇA.
Fernandesii privilegiam-se as inspiração maior o que de mais de um espaço onde se percebe
relações com os produtores locais, autêntico a terra onde se encontra como este material nobre – local,
o que resulta numa carta onde dá – já publicou, inclusive, um livro retirado das pedreiras vizinhas –
os sabores alentejanos são os de sobre a bolota. Neste caso, a terra pode ter inúmeros usos. No salão
sempre mas “vestidos” de forma em questão tem sotaque alentejano (na imagem), vocacionado para a
inesperada. É o caso dos pezinhos e dá-lhe excelentes enchidos, pão realização de eventos, predomina
de coentrada servidos dentro de do melhor, fruta doce... A tudo isso o rosa mas no spa as paredes em
uma cebola (na imagem) ou de ele acrescenta uma boa dose de pedra são memos polidas, mais
umas ostras deitadas num alho criatividade e técnica sem nunca naturais. Acima de tudo, o Alentejo
francês. E uma sobremesa inspirada perder de vista que o gosto tem Marmoris Hotel & Spa, é um recanto
nas laranjas de Vila Viçosa, claro... memória e cria memórias. nosso para onde é bom fugir.

E L L E P T 113
HORÓSCOPO

GÉMEOS
21 MAI | 20 JUN
Com pressa, tomamos
decisões sem pensar bem.
As próximas semanas vão
dar-lhe o tempo que não
teve antes e vão permitir-lhe
reexaminar algumas das
BALANÇA opções tomadas. Talvez seja
23 SETEMBRO | 22 OUTUBRO o momento de fazer umas
Apesar de se sentir feliz onde está agora sabe que vai ficar aborrecida daqui a uns trocas estratégicas...
meses e por isso está à procura de algo com mais potencial. Mas não é para já.
Outubro vai dar-lhe outra perspetiva, tem de esperar até cerca de dia 16 para tomar CARANGUEJO
uma decisão. E caso queira esperar mais tempo depois dessa data, tudo bem. 21 JUN | 22 JUL
Sente que está a ficar no
Por Bernard Fitzwalter
background enquanto outra
pessoa está no centro do
ESCORPIÃO decidir... vai encontrar em si se distraia com um pequeno palco. Será porque a vida é
23 OUT | 21 NOV reservas de energia que farão episódio romântico que vai assim ou sente-se usada,
A única forma de retirar um com que consiga fazer as duas acontecer em meados de injustiçada? E odeia mesmo
carro estacionado que ficou coisas ao mesmo tempo. outubro. É bom, mas tem de essa pessoa ou, na verdade,
“entalado” entre dois que se se focar no essencial. sente-se atraída por ela?
aproximaram demasiado é AQUÁRIO
andar para trás e para frente, 20 JAN | 19 FEV CARNEIRO LEÃO
aos poucos e devagar. É como Para si, uma relação é uma 21 MAR | 19 ABR 23 JUL | 23 AGO
se vai sentir este mês: à mercê parceria entre iguais. Títulos e Depois de meses e meses Assuntos que colocou de lado
de recuos que parecem anular rótulos não é algo que aprecie a tentar avançar, vê-se cresceram e tornaram-se
os avanços. Mas o progresso – ou queira. Por isso quando a agora obrigada a abandonar ameaçadores na sua mente.
existe e no final do mês dará luta de poder se instala sabe algumas opções e a defender Vendo que não os pode evitar
um bom passo em frente. que a relação não pode durar. certas escolhas com unhas e para sempre, decide enfrentá-
Tem de reescrever as regras: dentes. Pode parecer que está los. Mas, como verá, tanta
SAGITÁRIO quer proximidade emocional, a perder terreno mas não está. coisa mudou nos últimos
22 NOV | 21 DEZ mas precisa de autonomia. No final terá uma base sólida tempos, que esses problemas
Teve uma das suas grandes e uma direção bem definida perderam a validade e
ideias sagitarianas! Será PEIXES para se apoiar. É só vantagens. tornaram-se apenas banais.
apropriado, num ano tão difícil 20 FEV | 20 MAR
como este? Sim, por dois Um a um, os obstáculos que TOURO VIRGEM
motivos: porque ter grandes a impediam de fazer o que 20 ABR | 20 MAI 24 AGO | 22 SET
ideias é prova que é a pessoa deseja foram caíndo e tem Não é demasiado tarde para Embora gostasse de definir
que sempre foi e porque todos agora a oportunidade de salvar a relação. Ao contrário o futuro de uma relação,
precisamos de visionários. concretizar ambições. Não do que pensa, basta uma esperar uma resposta de sim
palavra sua para mudar o ou não é irrealista – e limitado.
CAPRICÓRNIO rumo da situação. Se optar Ao rotular sentimentos
22 DEZ | 19 JAN por não dizer nada, as coisas não deixa espaço para o
Qual é a sua prioridade: o não ficarão esclarecidas e crescimento pessoal de cada
trabalho ou a vida pessoal? ambos ficarão descontentes um e para a mudança. Dê um
Ambas estão a exigir-lhe com o resultado final. Tome as passo de cada vez e veja o que
A CARTEIRA, EM CIMA:
tempo e dedicação? É difícil COLEÇÃO HOROSCOPE – JUDITH LEIBER rédeas enquanto pode. acontece. Sem pressão.

114 E L L E P T
JÁ À
VENDA

A SUA REVISTA
de arquitetura e design

Você também pode gostar