O filme nos apresenta à personagem de Andrea que, como primeiro
emprego após o término da sua graduação, aceita trabalhar como assistente da Editora Chefe (Miranda Priestly) da mais conceituada revista de moda americana. A primeira coisa a chamar atenção no primeiro contato entre as duas personagens por ocasião de uma entrevista de emprego, é o total despreparo de Andrea para a entrevista e para o cargo pretendido. A personagem de Miranda, de modo muito perspicaz, percebe e expõe, durante a própria entrevista, que Andrea 1) não lia a revista; 2) não a conhecia - mesma ela sendo uma figura pública de muito prestígio; 3) não tinha um estilo definido ao se vestir; e 4) não tinha qualquer noção de moda. Tivesse Andrea se preparado, minimamente para a entrevista, não teria sido assim exposta já no primeiro contato com a sua chefe. Mas os problemas não paravam por aí: nota-se durante o primeiro mês de trabalho que Andrea apresentava uma atitude infantil mediante a função que lhe cabia desempenhar. E pra piorar, o ambiente de trabalho cobrava um altíssimo padrão de qualidade dos seus funcionários, o que aumentava a pressão e a cobrança por resultados. Acontece que Andrea, superando às próprias dificuldades e adaptando- se às condições de trabalho, passa a dedicar-se quase que integralmente ao trabalho, deixando de lado a sua vida pessoal: família, amigos e namorado. Acompanhamos, então, a personagem tornar-se mais e mais isolada de todos e dedicar-se obstinadamente às metas e exigências do trabalho. Cabe, aqui, uma observação da mais alta relevância: o status da revista e da editora chefe, como as conhecemos, nos remete a uma história própria e singular, construída com personalidade e autenticidade por Miranda Priestly. E uma vez que o reconhecimento e o prestígio vieram em resposta à criatividade das edições, a personagem entendeu que dispunha de um método de trabalho que lhe garantia sucesso. A partir daí ela passa a impor esse “método” de trabalho a todos os seus funcionários (projeção), e os funcionários, por sua vez, desejosos de fruir o que a sua chefe aparentava ter – dinheiro, glamour, prestígio e poder – se enquadram no método (identificação) visando replicar o sucesso da editora. Contudo, mesmo a “bem sucedida” Miranda Priestly, carregava, também a sua sombra: um relacionamento amoroso disfuncional e uma maternidade ausente. Ou seja, a sua dedicação ao trabalho implicava numa ausência da sua vida pessoal e familiar. Acontece que, como esse circuito se retroalimenta (projeção- identificação) os seus funcionários passam a, gradualmente, apresentar os mesmos “sintomas” que Miranda experiencia em sua vida particular: relacionamentos disfuncionais ou a ausência deles, e um “desmoronamento” – pra me valer da expressão de Nigel – dos aspectos de suas vidas particulares. Além disso, a fim de se perpetuar no lugar de poder, Miranda Priestly recorre a atitudes que põem em cheque a sua ética profissional. Pois ela não pensa duas vezes se entende que o modo de se preservar é prejudicando, diretamente, um de seus colaboradores mais fiel (Nigel). De modo que ela, praticamente impõe o mesmo modus operandi a Andrea que acaba aceitando beneficiar-se sobre a insatisfação da sua colega de trabalho (Emily). Mas ao entrar em contato com a própria sombra que coincide com a sombra da sua chefe, ela precisa fazer uma decisão ética e decide abandonar o trabalho. Num diálogo emblemático, Andrea e Miranda se revelam: – Mas e se isso não for o que eu quero? E se eu não quiser viver a minha vida como você? - Não seja ridícula, Andrea. Todo mundo quer isso. Todo mundo quer ser como nós. E, ali, fica evidente a razão da fala recorrente de que muitas pessoas dariam tudo para estar no lugar de Andrea. Contudo, o objeto do desejo alheio, é justamente aquilo que se encontra sob os holofotes do glamour, desconhecem, todos, a contraparte sombria que constitui a imagem de sucesso da celebridade.