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Este fato é explícito na cena em que todos os empregados do local onde os dois
sujeitos trabalham estão reunidos em uma sala, todos em volta de James, que está
contando piadas. Simon então entra na sala pedindo com certa urgência para o seu chefe
para eles conversarem mas não é bem recebido. Analisando essa cena pelo ponto de
vista supracitado de que Simon e James são a mesma pessoa, é possível interpretá-la
pelo fato de se tratar de uma crise psicótica vivenciada por Simon acerca do fenômeno
da nomeada síndrome do impostor. Simon então começa a gritar para o seu duplo que
ele é uma fraude e que não sabe nada da empresa, além de que as coisas que conquistou
não são mérito dele, ao passo que seu chefe o defende respondendo que ele é o melhor
funcionário do ambiente. Logo em seguida, todos os funcionários começam a olhar pra
ele em tom de reprovação e se juntam em volta dele com a intenção de o retirar da sala.
Simon então começa a gritar e falar para eles se afastarem, dizendo que James roubou o
seu rosto.
Freud, em seu texto Introdução ao narcisismo (1914), reflete que não seria de
admirar que houvesse uma instância psíquica que observasse o eu atual e o guiasse de
acordo com o ideal, assegurando em certo nível a satisfação narcísica inerente ao
sujeito. Porém, havendo tal instância seria impossível para nós descobri-la, “poderemos
apenas identifica-la e constatar que o que chamamos de nossa consciência moral tem
essas características”. Dessa forma, concluo que Simon apresenta uma crise quanto aos
seus valores morais e, como na cena anteriormente descrita, permite ser determinado
pelo seu superego, o qual é definido por valores externos ao sujeito e que o diz
constantemente que ele não é capaz de alcançar o seu ideal, ao mesmo que de certa
forma ele já havia se transformado em James – isso fica explícito na cena em que um
empregado da empresa fala que ele nunca existiu no sistema. Sendo assim, seu maior
momento de crise é quando ele pretende aniquilar o ideal que almejava alcançar para ter
sua existência validada socialmente, fato que reitera a afirmação lacaniana: “desejar é
desejar o desejo do outro”, de modo que para a personagem o ideal do eu é a posição
que o outro está mas que ele sente que nunca irá alcançar, caracterizando a síndrome
narcísica do impostor.