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Da Autoridade, Engels (1446)
Da Autoridade, Engels (1446)
Friedrich Engels
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E S C R I T O S M I L I TA R E S
569 Em italiano no original. “Deixai toda a autonomia, vós que entrais”. Paráfrase do Canto III, verso
3, de Inferno, na Divina Comédia.
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DA AU T O R I DA D E
comissão a quem confiamos! Estes senhores julgam que quando mudam os nomes
das coisas eles mudam as próprias coisas. É assim que estes profundos pensadores
gozam de todo o mundo.
Acabamos de ver que, por um lado, certa autoridade, atribuída não importa
como, e, por outro lado, certa subordinação, são coisas que, independentemente
de toda a organização social, se impõem a nós devido às condições nas quais
produzimos e fazemos circular os produtos.
Vimos, além disso, que as condições materiais de produção e da circulação
se complicam inevitavelmente com o desenvolvimento da grande indústria e da
grande agricultura e tendem cada vez mais a estender o campo dessa autoridade.
É, então, absurdo falar do princípio da autoridade como de um princípio mau
em absoluto, e do princípio da autonomia como de um princípio bom em abso-
luto. A autoridade e a autonomia são coisas relativas cujos domínios variam nas
diferentes fases da evolução social. Se os autonomistas se limitassem a dizer que
a organização social do futuro irá restringir a autoridade aos limites nos quais as
condições de produção a tornam inevitável, poderíamos nos entender; em vez
disso, permanecem cegos perante todos os fatos que fazem a coisa necessária e
apaixonadamente lutam contra a palavra.
Por que é que os antiautoritários não se limitam a choramingar contra a
autoridade política, contra o Estado? Todos os socialistas concordam em que o
Estado político e com ele a autoridade política desaparecerão como conseqüência
da revolução social por vir, ou seja, que as funções públicas perderão o seu caráter
político e se transformarão em simples funções administrativas de proteger os
verdadeiros interesses sociais. Mas os antiautoritários pedem que o Estado polí-
tico autoritário seja abolido de um golpe, antes mesmo que as condições sociais
que o fizeram nascer tenham sido destruídas. Pedem que o primeiro ato da revo-
lução social seja a abolição da autoridade. Esses senhores alguma vez viram uma
revolução? Uma revolução é certamente a coisa mais autoritária que existe; é o
ato pelo qual uma parte da população impõe a sua vontade à outra por meio
das espingardas, das baionetas e dos canhões — meios autoritários como poucos;
e se o partido vitorioso não quer ter lutado em vão, deve manter o seu poder
pelo terror que as suas armas inspiram aos reacionários. A Comuna de Paris
teria durado um único dia se não tivesse feito uso da autoridade do povo armado
diante aos burgueses? Não devemos, pelo contrário, repreendê-los por não tê-la
usado livremente?
Assim, das duas uma: ou os antiautoritários não sabem o que dizem e, nesse
caso, só semeiam a confusão; ou o sabem e nesse caso estão traindo o movimento
do proletariado. Em ambos os casos, servem à reação.
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