Você está na página 1de 46

FACULDADE EVANGÉLICA DE GOIANÉSIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

DIEIMES PEREIRA DA SILVA


JÉSSICA DA SILVA OLIVEIRA

ANÁLISE DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS


DEVIDO AO RECALQUE DIFERENCIAL DAS
FUNDAÇÕES

PUBLICAÇÃO N°: 09

GOIANÉSIA / GO
2018
DIEIMES PEREIRA DA SILVA
JÉSSICA DA SILVA OLIVEIRA

ANÁLISE DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS


DEVIDO AO RECALQUE DIFERENCIAL DAS
FUNDAÇÕES

PUBLICAÇÃO N°: 09

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO SUBMETIDO


AO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA FACEG.

ORIENTADOR: MSC. IGOR CEZAR SILVA BRAGA

GOIANÉSIA / GO: 2018


SILVA, DIEIMES PEREIRA DA
OLIVEIRA, JÉSSICA DA SILVA

Análise das manifestações patológicas devido ao recalque diferencial das fundações.

45P, 297 mm (ENC/UNI, Bacharel, Engenharia Civil, 2017).

TCC – Faculdade Evangélica de Goianésia

Curso de Engenharia Civil

1. Patologia
2. Recalque diferencial
3. Manisfestação patológica

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SILVA, D. P; OLIVEIRA, J. S. Análise das manifestações patológicas devido ao recalque
diferencial das fundações. TCC, Curso de Engenharia Civil, FACEG – Faculdade
Evangélica de Goianésia – GO, 45P. 2018.

CESSÃO DE CRÉDITOS
NOME DOS AUTORES: Dieimes Pereira da Silva e Jéssica da Silva Oliveira.
TÍTULO DA DISSERTAÇÃO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO:
Análise das manifestações patológicas devido ao recalque diferencial das fundações.
GRAU: Bacharel em Engenharia Civil ANO: 2018
É concedida a FACEG a permissão para reproduzir cópias deste TCC e para emprestar
ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. Os autores
reservam outros direitos de publicação e nenhuma parte deste TCC pode ser reproduzida
sem a autorização por escrito dos autores.

_________________________________ __________________________________
Dieimes Pereira da Silva Jéssica da Silva Oliveira
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradecemos a Deus por nos guiar até aqui, dando-nos força para
superar os obstáculos que encontramos pelo caminho.
Aos nossos familiares, em especial, aos nossos pais, que sempre nos incentivaram
e apoiaram em todos os momentos.
Ao orientador, Igor Cezar Silva Braga, pelo incentivo, paciência e apoio durante
todo o trabalho.
Aos nossos professores, pela sabedoria e conhecimento transmitido e que
tornaram realidade esse sonho.
RESUMO

As manifestações patológicas, devido a problemas nas fundações, podem ter origem em


etapas variadas da vida útil de uma construção, como: caracterização do comportamento
do maciço de solo, análise do projeto, execução e ações posteriores a conclusão das
fundações bem como a degradação dos materiais constituintes. Desta forma, o presente
estudo pretende analisar as principais manifestações patológicas existentes bem como
seus mecanismos deflagradores, em especial o recalque diferencial nas fundações. Para
isso, foi realizada uma pesquisa teórica e investigativa sobre dois dos principais exemplos
de manifestações patológicas oriundas do recalque diferencial em fundações: a Torre de
Pisa e os prédios da Orla de Santos. Desta forma, foram feitos um levantamento e uma
análise detalhada de ambas situações, procurando identificar a origem do problema bem
como as soluções corretivas adotadas, afim de conhecer toda a situação e confrontar os
resultados obtidos como o referencial teórico apresentado. Após a análise individual de
cada obra foi realizado um comparativo com o intuito de enfatizar as diferenças e
semelhanças entre os objetos de estudo. Chegou-se à conclusão da extrema importância
de conhecer, não apenas o solo onde a edificações serão apoiadas, mas também, diversas
outras características como a tipologia de fundação ideal para a situação e a região ao
redor da área da edificação, procurando prever efeitos como a sobreposição de tensões e
consequente recalque diferencial.

Palavras-chave: Patologia, recalque diferencial, manifestação patológica.


ABSTRACT

Pathological manifestations, due to problems in foundations, can be originate in various


stages of the life of a building, such as: characterization of soil mass behavior, project
analysis, execution and post-completion of foundations as well as degradation of the
constituent materials. In this way, the present study intends to analyze the main
pathological manifestations as well as their causes, especially the differential settlement
in foundations. For that, a theoretical and investigative research was carried out on two
of the main examples of pathological manifestations originating from differential
settlement in foundations: the Tower of Pisa and the buildings of the Border of Santos. In
this way, a survey and a detailed analysis of both situations were made, trying to identify
the origin of the problem as well as the corrective solutions adopted, in order to know the
whole situation and to compare the obtained results as the theoretical reference presented.
After the individual analysis of each situation, a comparison was made with the intention
of emphasizing the differences and similarities between the objects of study. At the end
of the research, we came to the conclusion of the extreme importance of knowing not
only the soil where the buildings will be supported, but also several other characteristics
such as the ideal foundation typology for the situation and the region around the area of
the building, trying to predict effects such as the overlapping of tensions and consequent
differential settlements.

Key words: Pathology, differential settlement, pathological manifestation.


LISTA DE FIGURAS

Figura 2. 1 - Fundação superficial .................................................................................. 13


Figura 2. 2 - Exemplo de tipos de fundação superficial. ................................................ 14
Figura 2.3 - Fundação profunda. .................................................................................... 15
Figura 2. 4 - Tipologias de fundação profunda. ............................................................. 16
Figura 2. 5 - Recalque em elemento de fundação........................................................... 17
Figura 2. 6 - Configuração das falhas devido ao recalque em pilares intermediários. ... 20
Figura 2. 7 - Configuração das falhas devido ao recalque em pilares de canto.............. 20
Figura 2. 8 - Torre de Pisa, Toscana, Itália..................................................................... 21
Figura 2. 9 - Prédio inclinado na Orla de Santos, São Paulo, Brasil. ............................. 21
Figura 2. 10 - Exemplo de plano de sondagem e respectivos cortes. ............................. 24
Figura 2. 11 - Exemplo de investigação geotécnica com profundidade insuficiente. .... 25
Figura 2. 12 - Adoção errada do perfil do solo devido a falha na investigação do
subsolo. ........................................................................................................................... 26
Figura 2. 13 - Exemplo de adoção otimista do perfil do terreno. ................................... 27
Figura 2. 14 - Exemplo do efeito de sobreposição de tensões. ....................................... 27
Figura 2. 15 - Exemplo da adoção deliberada de tipos diferentes de fundações. ........... 28

Figura 3. 1 - Torre de Pisa .............................................................................................. 31


Figura 3. 2 - Edifício Núncio Malzone - Bloco A .......................................................... 32

Figura 4. 1 - Camadas de solo abaixo da Torre de Pisa.................................................. 33


Figura 4.2 - Contrapeso de chumbo na face norte da Torre de Pisa. .............................. 34
Figura 4. 3 - Disposição dos tubos para a escavação subterrânea. ................................. 35
Figura 4. 4 - Variação do nível de água abaixo da Torre de Pisa. .................................. 36
Figura 4. 5 - Sistema de drenagem utilizado na Torre de Pisa. ...................................... 37
Figura 4. 6 - Perfil do solo da orla santista. .................................................................... 38
Figura 4. 7 - Representação da sobreposição de tensões no solo sobre o Edifício Núncio
Malzone. ......................................................................................................................... 39
Figura 4. 8 - Vigas de transição Virandeel. .................................................................... 40
LISTA DE TABELAS

Tabela 2. 1 - Classificação de fissura, trinca e rachadura............................................... 19


Tabela 2. 2 - Problemas típicos decorrentes da ausência de investigação do subsolo. .. 23
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11

1.1 Objetivos .......................................................................................................... 11

1.1.1 Objetivos Específicos ............................................................................... 12

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO ................................................................................ 13

2.1 Fundações ........................................................................................................ 13

2.1.1 Fundação Superficial ................................................................................ 13

2.1.2 Fundação Profunda ................................................................................... 14

2.1.3 Parâmetros para a escolha do tipo de fundação ........................................ 16

2.2 Recalque em fundação ..................................................................................... 17

2.2.1 Tipos de recalque ...................................................................................... 17

2.2.2 Danos causados por recalque diferencial.................................................. 18

2.3 Patologias em fundações .................................................................................. 18

2.3.1 Principais manifestações patológicas com origem na fundação ............... 19

2.3.1.1 Fissuras, trincas e rachaduras ............................................................ 19

2.3.1.2 Desaprumo da edificação .................................................................. 20

2.3.2 Origem das patologias em fundações ....................................................... 21

2.3.2.1 Caracterização do comportamento do maciço .................................. 22

2.3.2.2 Análise e projeto de fundações.......................................................... 26

2.3.2.3 Execução de fundações ..................................................................... 29

2.3.2.4 Ações pós-conclusão das fundações ................................................. 29

2.3.2.5 Degradação dos materiais constituintes das fundações ..................... 30

3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 31

3.1 Torre de Pisa .................................................................................................... 31

3.2 Edifício Núncio Malzone – Santos/SP............................................................. 32


4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................ 33

4.1 Caso 1 – Torre de Pisa ..................................................................................... 33

4.1.1 Análise do problema ................................................................................. 33

4.1.2 Soluções corretivas adotadas .................................................................... 34

4.2 Caso 2 – Prédios da Orla de Santos ................................................................. 37

4.2.1 Análise do problema ................................................................................. 37

4.2.2 Soluções corretivas adotadas .................................................................... 39

4.3 Comparativo entre os casos ............................................................................. 41

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 42

5.1 Sugestões para pesquisas futuras ..................................................................... 43

6 REFENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 44


11

1 INTRODUÇÃO

Devido ao crescimento populacional, principalmente nos grandes centros urbanos,


houve-se a necessidade da verticalização das edificações dos mais diversos tipos:
residenciais, industriais e comerciais. Como consequência deste fato, as cargas
provenientes deste tipo de edifício também aumentaram consideravelmente, se fazendo
necessário um estudo mais aprofundado e complexo na área das fundações e dos solos, a
fim de evitar o surgimento de manifestações patológicas.
Segundo Milititsky, Consoli e Schnaid (2015), as manifestações patológicas
podem ter origem em etapas diferentes da vida útil de uma construção, como:
caracterização do comportamento do maciço de solo, análise do projeto de fundação,
execução das fundações, ações posteriores à conclusão das fundações e, também, a
degradação dos materiais constituintes.
De acordo com Milititsky, Consoli e Schnaid (2015), a escolha equivocada do tipo
de fundação para determinado projeto ou, também, negligência na análise do solo, pode
causar manifestações patológicas na edificação dos mais variados níveis de
complexidade, desde uma pequena fissura até um desaprumo da edificação, como é o
caso da Torre de Pisa, na Itália, e o edifício Núncio Malzone, na cidade de Santos-SP.
Dentre todas as causas das manifestações patologias, a que ocasiona os problemas
mais difíceis e complexos de serem solucionados é o recalque diferencial, que segundo
ABNT NBR (6122:2010) é definido como movimento vertical descendente ocasionado
pelas cargas da estrutura apresentado em magnitudes diferentes em pontos distintos da
edificação. Desta forma, o presente estudo pretende analisar as principais manifestações
patológicas existentes bem como seus mecanismos deflagradores, em especial o recalque
diferencial nas fundações.

1.1 Objetivos

Identificar e analisar as principais causas de manifestações patológicas devido ao


recalque diferencial, bem como os efeitos causados pelas mesmas na edificação.
12

1.1.1 Objetivos Específicos

• Conhecer os tipos de fundações existentes, bem como seu funcionamento;


• Identificar as causas das manifestações patológicas em fundações;
• Identificar os efeitos causados na edificação devido ao surgimento recalque
diferencial nas fundações;
• Analisar as causas e medidas corretivas adotadas para a correção de problemas
em fundação da Torre de Pisa e do Edifício Núncio Malzone, situado na orla
santista.
13

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1 Fundações

De acordo com a ABNT NBR (6122:2010), as fundações são elementos


estruturais cuja principal finalidade é transmitir ao terreno as cargas provenientes da
estrutura de uma edificação. Para este fim, as fundações necessitam possuir resistência
adequada para que possa suportar todas as tensões atuantes na mesma.
Além disso, é importante destacar que o solo onde se apoiará a fundação deve ter
resistência e rigidez suficientes para que o mesmo não sofra ruptura e que não apresente
deformações excessivas ou diferencias, as quais poderiam ocasionar grandes problemas
à estrutura da edificação.
Ainda de acordo com a ABNT NBR (6122:2010), as fundações são divididas em
duas tipologias: superficial (direta) e profunda (indireta).

2.1.1 Fundação Superficial

Define-se fundação superficial como elemento de fundação onde a carga pontual


advinda do pilar é transmitida ao terreno pela base da fundação de maneira distribuída,
conforme a Figura 2.1 abaixo. Além disso, a profundidade de assentamento deste tipo de
fundação se dá a uma cota inferior a duas vezes a menor dimensão do elemento de
fundação utilizado, assim como enuncia a ABNT NBR (6122:2010). Desta forma, é
possível dizer que a camada de solo resistente se encontra nas primeiras camadas do solo
onde será executada a edificação.
Figura 2. 1 - Fundação superficial

Fonte: Barros (2011).


14

A ABNT NBR (6122:2010) divide as fundações superficiais em cinco tipos:


• Sapata isolada: elemento de fundação de concreto armado dimensionado de
maneira que as tensões de tração existentes sejam resistidas pela armadura
empregada neste elemento;
• Sapata associada: elemento de fundação dimensionado da mesma forma que a
sapata isolada, porém este tipo de fundação é comum a mais de um pilar, por isso
sendo designada como sapata associada;
• Sapata corrida: elemento de fundação sujeito a ação de uma carga distribuída
linearmente ou de pilares que seguem um mesmo alinhamento;
• Bloco: elemento de fundação de concreto que é dimensionado de maneira que as
tensões de tração atuantes sejam resistidas pelo próprio concreto, sem a
necessidade da utilização de armadura;
• Radier: elemento de fundação que recebe todos, ou parte, das cargas da edificação
e as transmite sobre uma grande área de solo.
A Figura 2.2 apresenta alguns dos exemplos citados acima.
Figura 2. 2 - Exemplo de tipos de fundação superficial.

Fonte: Velloso e Lopes (2004) – Adaptado pelas autoras.

2.1.2 Fundação Profunda

A ABNT NBR (6122:2010) define fundação profunda como elemento de


fundação que transmite a carga da estrutura para o terreno tanto pela base quanto pela
superfície lateral do elemento. A resistência gerada pela base deste elemento de fundação
é chamada de resistência de ponta enquanto que a lateral é denominada de resistência de
fuste ou atrito lateral, conforme mostra a Figura 2.3. A profundidade de assentamento das
fundações profundas se dá a uma profundidade superior ao dobro da menor dimensão do
elemento de fundação, como no mínimo 3 metros de profundidade.
15

Figura 2.3 - Fundação profunda.

Fonte: Barros (2011).

A ABNT NBR (6122:2010), classifica as fundações profundas em dois tipos:


• Estaca: elemento de fundação executado por equipamentos e ferramentas sem que
haja a necessidade da descida de um operário. Neste tipo de fundação, a parcela
de resistência lateral é superior à resistência de ponta. Dentre os vários materiais
possíveis a serem utilizados nas estacas, pode-se citar: concreto moldado no local,
concreto pré-moldado, aço, madeira ou através da combinação dos materiais
anteriores. Além disso, as estacas podem ser agrupadas em três subgrupos
referente à maneira como são executadas: escavada, quando há a retirada do solo
para a sua execução; cravadas, onde não há a retirada do solo para a execução da
estaca e sim uma compactação; e as injetadas, onde as estacas são perfuradas por
rotação enquanto há a injeção de concreto na parte inferior do fuste.
• Tubulão: elemento de fundação onde é necessário que haja a escavação do terreno
de maneira que permita a descida de uma pessoa para que a mesma possa realizar
o alargamento da base do tubulão. Para permitir a descida do operário, o tubulão
precisa de um fuste com, no mínimo, 70 cm de diâmetro. Neste tipo de fundação
profunda a transferência de cargas para o solo se dá predominantemente pela base
do tubulão. Além disso, o tubulão pode ser divido em duas categorias: ao ar livre
e a ar comprimido, sendo o segundo utilizado, principalmente, quando há a
presença de água.
16

A Figura 2.4 abaixo apresenta as tipologias acima citadas.

Figura 2. 4 - Tipologias de fundação profunda.

Fonte: Adaptado de Velloso e Lopes (2004).

2.1.3 Parâmetros para a escolha do tipo de fundação

Segundo Velloso e Lopes (2004), quatro variáveis devem ser levadas em


consideração antes de se adotar uma determinada tipologia de fundação, que são:
• Análise da topografia da área, que consiste em verificar a necessidade de cortes e
aterros, levantamento de dados sobre taludes e encostas próximas e dados sobres
erosões;
• Características do maciço do solo, etapa que visa investigar o subsolo através do
processo de sondagem, procurando identificar a variação das camadas de solo,
bem como a resistência e a profundidade de cada uma delas. Além disso, nesta
etapa ainda é verificada a existência de matacões e a posição do nível de água;
• Dados da estrutura a ser construída, etapa em que são definidos o tipo e o uso da
edificação que será construída, sistema estrutura a ser utilizado, bem como o
sistema construtivo empregado e, ainda, estudo das cargas atuantes;
• Dados sobre as construções vizinhas, nesta etapa procura-se conhecer a estrutura
de edificações vizinhas, bem como a quantidade de pavimentos, a existência de
subsolos, identificação de danos já existentes na construção e, também, procura
prever quais seriam as possíveis consequências provocadas pelas escavações e
vibrações da obra a ser construída.
Após verificar todos os dados é possível determinar a tipologia de fundação que melhor
se encaixaria nas especiações do terreno garantindo tanto a integridade da nova obra
quanto das obras vizinhas.
17

2.2 Recalque em fundação

De acordo com a ABNT NBR (6122:2010), o recalque é a deformação que ocorre


no solo quando o mesmo está submetido a determinados carregamentos, resultando em
um movimento vertical descendente, conforme representado na Figura 2.5. A
movimentação da fundação pode causar diversos danos a estrutura da edificação onde,
dependendo da intensidade, estes danos podem ser irreversíveis.

Figura 2. 5 - Recalque em elemento de fundação.

2.2.1 Tipos de recalque

Do ponto de vista do elemento de fundação, Milititsky, Consoli e Schnaid (2015),


o recalque é classificado em dois tipos:
• Recalque absoluto: é o recalque que ocorre em um elemento de fundação isolado.
• Recalque diferencial: ocorre quando um elemento de fundação desloca e outro
não, ou quando ambos são deslocados, mas com intensidades diferentes. Este tipo
de recalque deve ser sempre evitado, uma vez que sua aparição pode ocasionar o
aparecimento de manifestações patológicas e, em casos mais graves, pode causar
danos difíceis e onerosos de serem reparados.
Quanto à deformação sofrida pelo solo, Rebello (2008) as classifica o recalque em
três tipos:
• Recalque elástico ou imediato: assim como o próprio nome diz, é aquele que
ocorre imediatamente após a aplicação da carga no solo, sendo maiores em solos
não coesivos;
18

• Recalque por escoamento lateral: essa deformação trata-se da migração do solo


da região mais solicitada para a menos solicitada, ou seja, do centro para as
laterais, acontecendo predominantemente em solos não coesivos;
• Recalque por adensamento: esse recalque ocorre devido à diminuição do volume
aparente do solo devido ao fechamento dos vazios deixados pela água intersticial
que foi expulsa pela pressão exercida pelas cargas advindas da estrutura

2.2.2 Danos causados por recalque diferencial

Como visto anteriormente, a ocorrência de recalque nos elementos de fundação


pode ocasionar diversos danos à edificação. Velloso e Lopes (2004) classifica os danos
oriundos do recalque da fundação em três grupos:
• Danos estruturais: são danos causados aos elementos estruturais que compõem os
edifícios, tais como pilares, vigas e lajes. A extensão desse dano pode ocasionar
efeitos mais simples, como o aparecimento de pequenas fissuras nos elementos
estruturais, ou até os efeitos críticos, podendo ocasionar o colapso da estrutura;
• Danos arquitetônicos: são os danos causados a estética da edificação como o
aparecimento de fissuras e trincas em paredes e acabamentos. Estes danos causam,
principalmente, um desconforto visual, mas nem por isso devem ser
menosprezados.
• Danos funcionais: são danos que afetam a funcionalidade do edifício, ocasionando
refluxo ou ruptura do sistema de esgoto, empenamento das esquadrias, desgaste
de elevadores. Estes danos estão ligados ao desaprumo do edifício causado pelo
recalque excessivo da fundação.

2.3 Patologias em fundações

A palavra patologia em grego significa: páthos – doença, e logos – ciências. De


acordo com Souza e Ripper (2009), no âmbito da engenharia civil a patologia consiste no
estudo dos problemas causados às edificações, procurando identificar as modificações
ocorridas nas mesmas e descobrir a origem destes sintomas a fim de erradica-los.
Desta forma, Oliveira (2012) destaca a importância da distinção de manifestação
patológica e patologia. A manifestação patológica é o sintoma em si, é uma expressão
resultante de um mecanismo de degradação, enquanto patologia é a ciência que estuda as
origens e possíveis métodos para eliminar tais manifestações patológicas.
19

2.3.1 Principais manifestações patológicas com origem na fundação

De acordo com Milititsky, Consoli e Schnaid (2015), as principais manifestações


patológicas oriundas de problemas nas fundações são: fissuras, trincas, rachaduras e
desaprumo da edificação.

2.3.1.1 Fissuras, trincas e rachaduras

Segundo Oliveira (2012), as fissuras, trincas e rachaduras são manifestações


patológicas que podem ocorrer principalmente em alvenarias, lajes, pilares vigas e pisos,
podendo interferir na estética, durabilidade e no desempenho estrutural da edificação.
Este tipo de manifestação patológica surge quando os elementos citados anteriormente
são submetidos a tensões superiores às resistentes pelos materiais que os constituem.
A ABNT NBR (9573:2003) diferencia fissuras, trincas e rachaduras com base na
abertura apresentada por esta manifestação patológica, como pode ser visto na Tabela 2.1
abaixo.
Tabela 2. 1 - Classificação de fissura, trinca e rachadura.

Classificação Abertura – e (mm)


Fissura < 0,50
Trinca 0,50 ≤ e < 1,00
Rachadura 1,00 ≤ e < 1,50
Fonte: Adaptado de ABNT NBR (9573:2003).

Milititsky, Consoli e Schnaid (2015) destacam que o aparecimento de fissuras,


trincas e rachaduras, não se devem exclusivamente a problemas nas fundações. Essas
manifestações patológicas podem ocorrer, também, devido a sobrecargas na estrutura,
deformação excessiva da estrutura, alterações químicas, variações térmicas e por
movimentação higroscópica.
Segundo Milititsky, Consoli e Schnaid (2015), as fissuras, trincas e rachaduras
apresentam determinados padrões quando tem origem nas fundações. Essas falhas
geralmente ficam inclinadas a 45 graus e a parte mais alta da falha aponta para o lado da
edificação que está sofrendo a deformação, assim como mostra as Figuras 2.6 e 2.7
abaixo.
20

Figura 2. 6 - Configuração das falhas devido ao recalque em pilares intermediários.

Fonte: Milititsky, Consoli e Schnaid (2015)

Figura 2. 7 - Configuração das falhas devido ao recalque em pilares de canto.

Fonte: Milititsky, Consoli e Schnaid (2015)

2.3.1.2 Desaprumo da edificação

De acordo com Milititsky, Consoli e Schnaid (2015), o desaprumo da edificação


tem como principal origem o recalque diferencial dos elementos de fundação. Essa
manifestação patológica afeta desde a estética do edifício até a distribuição de cargas no
edifício, que por consequência acaba aumentando gradativamente o esforço nos
elementos de fundação gerando um acréscimo de recalque que, atingindo valores
exorbitantes, pode ocasionar o colapso total do edifício, tornando-o insegura a edificação.
A olho nu, o desaprumo ocasiona o desalinhamento do edifício, causando
desconforto visual e habitacional. Dentre os principais casos de desaprumo devido a
problemas na fundação, pode-se citar a Torre de Pisa na cidade de Toscana, Itália, e os
21

prédios da orla de Santos, São Paulo, Brasil. Esses casos podem ser observados nas
Figuras 2.8 e 2.9 abaixo, respectivamente.

Figura 2. 8 - Torre de Pisa, Toscana, Itália.

Fonte: Dicas de Arquitetura - http://dicasdearquitetura.com.br/por-que-a-torre-de-pisa-e-inclinada/.


Acesso em 30 de novembro de 2017.

Figura 2. 9 - Prédio inclinado na Orla de Santos, São Paulo, Brasil.

Fonte: Massa cinzenta - http://www.cimentoitambe.com.br/predios-tortos-de-santos-como-eles-estao-


hoje/. Acesso em 30 de novembro de 2017.

2.3.2 Origem das patologias em fundações

De acordo com Milititsky, Consoli e Schnaid (2015), na ocorrência de


manifestações patológicas deve-se identificar suas origens e possíveis mecanismos
deflagradores a fim de eliminar tais problemas. No entanto, Carvalho (2010) afirma que
22

a análise deste tipo de patologia não é simples nem imediato, podendo provocar
interrupção das funções exercidas pela edificação.
Segundo Carvalho (2010), uma vez conhecidas as causas que originam as
patologias nas fundações, é possível adotar um conjunto de medidas a fim de erradicar
tais problemas, como por exemplo, reforço estrutural da edificação ou, também,
modificações das propriedades geotécnicas do terreno.
Conforme Milititsky, Consoli e Schnaid (2015), é possível classificar a origem
dos problemas nas fundações em cinco grupos:
• Caracterização do comportamento do maciço;
• Análise projeto de fundações;
• Execução de fundações;
• Ações pós-conclusão das fundações;
• Degradação dos materiais constituintes das fundações.

Desta forma, é possível perceber que os problemas oriundos das fundações podem
ocorrer desde antes o início das obras e até mesmo após sua conclusão, sendo necessário
grande estudo com a finalidade evitar e mitigar tais problemas.

2.3.2.1 Caracterização do comportamento do maciço

Conforme Carvalho (2010), dentre as causas mais frequentes de problemas nas


fundações pode-se citar a ausência e a insuficiência nas investigações do subsolo no qual
a obra será realizada. A importância do levantamento correto do maciço do solo é de vital
importância para o bom funcionamento de um edifício, uma vez que esse maciço é o meio
de suporte para todas as cargas advindas da edificação.
Segundo Milititsky, Consoli e Schnaid (2015), a ausência de da investigação do
subsolo é um problema tipicamente encontrado em obras de pequeno e, até mesmo, médio
porte. Dentre as principais justificativas para a não realização desta investigação pode-se
citar a questão econômica.
De acordo com Carvalho (2010), devido ao fato do solo ser um material
heterogêneo e de natureza errática, é de extrema importância a investigação do maciço
com o intuito de conhecer e identificar o tipo de solo, para que desta maneira seja possível
indicar a melhor tipologia de fundação para cada caso.
A Tabela 2.2 abaixo apresenta os principais problemas decorrentes da ausência da
investigação do subsolo nos tipos de fundações existentes.
23

Tabela 2. 2 - Problemas típicos decorrentes da ausência de investigação do subsolo.

Tipo de fundação Problemas típicos decorrentes


Tensões no solo excessivas, incompatíveis com as
características reais do solo, resultando em
assentamentos inadmissíveis ou ruptura.
Fundações em solos/aterros heterogéneos,
provocando assentamentos diferenciais.
Fundações em solos compressíveis sem estudos
sobre os possíveis assentamentos, resultando em
grandes
Fundações superficiais
deformações.
Fundações apoiadas em materiais de
comportamentos muito diferentes, sem junta, o que
origina assentamentos diferenciais.
Fundações apoiadas numa camada dura que esta
sobreposta sobre solos moles, sem análise de
assentamentos, ocasionando ruptura ou grandes
deslocamentos das fundações.
Estacas inadequadas ao tipo de subsolo, geometria
inadequada, comprimento ou diâmetro inferiores
aos necessários.
Fundações profundas Estacas apoiadas em camadas resistentes sobre
solos moles, com assentamentos inaceitáveis.
Ocorrência de atrito negativo não previsto,
reduzindo a carga admissível adoptada para a
estaca.
Fonte: Milititsky, Consoli e Schnaid (2015).

Por outro lado, o fato de realizar as investigações subsolo por si só não garante
que não haverá erros. De acordo com Carvalho (2010), a execução de um número
insuficiente de sondagens para uma área determinada do terreno ou, também, uma
profundidade insuficiente dos ensaios pode causar tantos problemas quanto a ausência
das próprias investigações.
A Figura 2.10 abaixo mostra um exemplo de investigação insuficiente do solo.
Segundo Carvalho (2010), é possível perceber que a área que não foi investigada
apresenta solo firme a uma profundidade maior que a região analisada ao lado e como as
fundações são definidas e projetadas tendo em conta os dados resultantes das sondagens,
uma sapata executada na linha do corte A-A não teria funcionamento pleno, uma vez que
de um lado ela estaria se apoiando em solo firme e do outro em um solo não resistente.
De acordo com Milititsky, Consoli e Schnaid (2015), o principal problema nesta situação
apresentada seria o aparecimento de recalque diferencial, podendo ocasionar diversos
problemas como os citados no tópico 2.3.1 do presente estudo.
24

Figura 2. 10 - Exemplo de plano de sondagem e respectivos cortes.

Fonte: Milititsky, Consoli e Schnaid (2015).

O outro ponto citado por Carvalho (2010) é a profundidade insuficiente alcançada


na investigação geotécnica, que por sua vez não acaba identificando camadas mais
profundas de comportamento distinto e que ainda são solicitadas pela estrutura.
A Figura 2.11 abaixo mostra um exemplo desta situação. Milititsky, Consoli e
Schnaid (2015) mostra que o carregamento advindo do edifício afeta o solo até uma
determinada profundidade que não foi alcançada pela investigação do sobsolo. Neste caso
apresentado, a camada mais baixa possui resistência menor que a última camada analisada
e desta forma o maciço não irá se comportar como esperado, uma vez que a atuação da
carga no solo mole ocasionará grandes deformações, ocasionando o recalque fundação
25

que em situações mais graves poderá ocasionar o colapso total da estrutura caso o mesmo
não seja combatido.
Figura 2. 11 - Exemplo de investigação geotécnica com profundidade insuficiente.

Fonte: Milititsky, Consoli e Schnaid (2015).

Além dos exemplos mencionados, outro ponto é levantado por Milititsky, Consoli
e Schnaid (2015), que é falha na execução e na interpretação de estudo de investigação
do solo. Ainda de acordo com Milititsky, Consoli e Schnaid (2015) este processo pode
ocorrer, por exemplo, quando são encontrados matacões, que são blocos de rocha com
elevada resistência. Dessa forma, em uma interpretação errônea o responsável pela
investigação pode admitir que naquele local já existe a camada resistente do solo e enviar
ao responsável pelo projeto de fundações, que por sua vez irá projetar a fundação da
edificação com base neste laudo.
De acordo com Carvalho (2010), dentre os principais problemas que podem
acontecer podem-se citar a perda da estabilidade do matacão, uma vez que o mesmo é
apenas um trecho resistente e não uma camada e desta forma pode ocasionar recalques
26

diferenciais na edificação, causando o desaprumo do edifício e o aparecimento de fissuras


no mesmo.
A Figura 2.12 abaixo mostra de maneira simples a falha na interpretação dos
resultados do processo de investigação do maciço de solo.
Figura 2. 12 - Adoção errada do perfil do solo devido a falha na investigação do subsolo.

Fonte: Milititsky, Consoli e Schnaid (2015).

2.3.2.2 Análise e projeto de fundações

Após a definição do tipo de solo e esforços solicitantes da edificação, parte-se para


a escolha da tipologia de fundação a ser utilizada e o seu dimensionamento. Milititsky,
Consoli e Schnaid (2015) citam cinco problemas que podem acontecer nesta esta da vida
da fundação.
O primeiro problema é relativo ao solo. De acordo com Sdwirck (2005) um
exemplo típico nessa situação é a adoção de um perfil geológico otimista, ou seja,
superestimando as características do solo. Na Figura 2.13 abaixo Milititsky, Consoli e
Schnaid (2015) cita como exemplo quando o responsável decide desconsiderar de
maneira deliberada a existência de trechos importantes do solo, adotando
deliberadamente um perfil de solo diferente do perfil real encontrado. Segundo Carvalho
(2010), esta consideração errônea pode ocasionar o aparecimento de manifestações
patológicas no edifício, como por exemplo o aparecimento de fissuras devido ao recalque
ocasionado pelo assentamento da camada de solo desconsiderada.
27

Figura 2. 13 - Exemplo de adoção otimista do perfil do terreno.

Fonte: Milititsky, Consoli e Schnaid (2015).

O segundo ponto apresentado por Milititsky, Consoli e Schnaid (2015) está


relacionado ao mecanismo de iteração solo-estrutura, como por exemplo a transferência
de cargas para o solo. Para Carvalho (2010) quando uma fundação é pensada e projetada
considerando-se que a mesma realiza a transferência de cargas ao solo de maneira isolada.
No entanto, quando há outros edifícios ao redor da nova estrutura que está sendo
projetada, as mesmas também transmitem seus respectivos carregamentos ao maciço.
Desta forma, Milititsky, Consoli e Schnaid (2015) diz que a consideração de ação isolada
se torna inadequada pois devido à proximidade destas edificações há efeito da
sobreposição de tensões, como apresentado na Figura 2.14 a seguir. Como consequência
da sobreposição de tensões, pode acontecer o assentamento do solo que por sua vez o
recalque diferencial, responsável pelo desaprumo do edifício e aparecimento de fissuras.
Um exemplo típico desta situação são os prédios da orla de Santos, São Paulo.

Figura 2. 14 - Exemplo do efeito de sobreposição de tensões.

Fonte: Milititsky, Consoli e Schnaid (2015) – Adaptado pelas autoras.

O terceiro problema está relacionado ao desconhecimento do comportamento das


tipologias de fundações por parte do responsável. Segundo Milititsky, Consoli e Schnaid
(2015), cada tipo de fundação transfere as cargas e sofre deformações de maneira
28

especifica causando efeitos distintos no desempenho da estrutura que as mesmas


suportam. Como exemplo Milititsky, Consoli e Schnaid (2015) cita o exemplo da adoção
de diferentes tipos de fundações para o mesmo edifício, em virtude das profundidades das
camadas resistentes do subsolo, dificuldades executivas e, também, pela magnitude das
cargas atuantes. Caso essa adoção seja feita de maneira deliberada, ou seja, sem a
consideração da compatibilização das deformações sofridas pelos tipos de fundações
adotados, essa adoção pode dar origem ao recalque diferencial, causando o aparecimento
de diversas manifestações patológicas. A Figura 2.15 exemplifica de maneira simples este
caso.
Figura 2. 15 - Exemplo da adoção deliberada de tipos diferentes de fundações.

Fonte: Milititsky, Consoli e Schnaid (2015).

O quarto problema citado por Milititsky, Consoli e Schnaid (2015) é relativo à


estrutura da fundação. Como exemplo deste erro é possível citar a falha determinação das
cargas atuantes na fundação, desconsideração de sobrecargas e erro no dimensionamento
dos elementos estruturais nas fundações. Segundo Carvalho (2010), as falhas citadas
acima geralmente estão relacionadas a falta de experiência do responsável pelo projeto,
que por sua vez acaba não levando em consideração ações de grande importância no
dimensionamento das fundações, fazendo com que diversas vezes as mesmas sejam
subdimensionadas.
O quinto e último problema apontado por Milititsky, Consoli e Schnaid (2015)
está relacionado às especificações construtivas. Neste ponto é definida a grande
29

importância da presença das especificações utilizadas para o dimensionamento do


projeto. De acordo com Carvalho (2010), isso permite que caso seja necessário fazer
alguma alteração no projeto o novo responsável será capaz de identificar as considerações
levantadas pelo projetista original, minimizando a propagação de erros no projeto.

2.3.2.3 Execução de fundações

De acordo com Milititsky, Consoli e Schnaid (2015), as falhas de execução


constituem o segundo maior responsável pelos problemas relacionados ao
comportamento das fundações. Milititsky, Consoli e Schnaid (2015) ainda salienta que
estes problemas são diferentes quando se compara a fundação superficial com a profunda.
Ao se tratar da execução de fundações superficiais, é possível separar os
problemas relativos tanto ao solo quanto a estrutura da fundação em si. Como problemas
envolvendo o solo, Schwirck (2005) cita a execução de fundações assentes em solos de
diferentes comportamentos e principalmente a substituição do material do solo por outro
material não apropriado e com comportamento distinto. Já em relação aos problemas no
elemento estrutural da fundação Milititsky, Consoli e Schnaid (2015) apresentam como
principais pontos a qualidade inadequada dos materiais utilizados, ausência da
regularização da vala, execução de fundações com dimensões diferentes das definidas em
projeto e, também, a insuficiente ou má disposição da armadura no elemento de fundação.
Tratando de fundações profundas, Milititsky, Consoli e Schnaid (2015) afirmar
que são diversos os problemas relacionados a esta tipologia. Como exemplo, pode-se citar
o erro de locação de estacas, desvios devido ao aparecimento de obstruções, substituição
do tipo da estaca, concreto com características inferiores às consideradas no projeto e
entre outras.

2.3.2.4 Ações pós-conclusão das fundações

De acordo com Carvalho (2010), este grupo refere-se ao aparecimento de


manifestações patológicas após a conclusão da execução a das fundações, ou seja,
admitindo-se que as mesmas funcionem de maneira correta para a qual foram projetadas,
mas devido a ações realizadas após sua conclusão as mesmas perdem seu funcionamento
ideal.
Dentre os principais pontos levantados por Milititsky, Consoli e Schnaid
(2015)pode-se citar: a alteração no carregamento da estrutura, quando há uma
30

modificação da função para qual a estrutura foi inicialmente projetada; movimentos do


solo oriundo de ações externas, problemas que são associados escavações vizinhas e
rebaixamento do nível do lençol freático por exemplo;e, também, vibrações e choques
devido equipamentos industriais que produzem vibrações excessivas, cravação de estacas
e, também, o emprego de explosivos para desmonte de rocha.

2.3.2.5 Degradação dos materiais constituintes das fundações

Segundo Schwirk (2005), para todo e qualquer projeto da área de engenharia que
possui elementos em contato direto com o solo e água ou estão enterrados, faz necessário
levar em consideração os efeitos causados aos materiais constituintes devido a ação dos
elementos naturais anteriormente citados.
De acordo com Milititsky, Consoli e Schnaid (2015), as ações nocivas destes
elementos devem ser previstas tanto na fase de investigação do subsolo quanto na fase e
projeto, com a finalidade de garantir o melhor desempenho e a maior vida útil do material
empregado.
Dentre os principais materiais empregados em estruturas de fundações pode-se
citar o concreto, aço e a madeira. Conforme apresentado por Milititsky, Consoli e Schnaid
(2015), cada um destes materiais possui comportamentos distintos perante a ação destes
elementos estruturais. A presença do solo e da água pode ocasionar diminuição da
durabilidade em concreto através de ataques químicos, no aço o principal problema
apresentado é a corrosão e no caso da madeira é a perda da integridade física do material
e consequente perda da capacidade resistente do mesmo.
31

3 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho possui caráter teórico e investigativo.


Inicialmente será realizada uma pesquisa bibliográfica em artigos, dissertações e
livros acerca do tema, a fim de aprofundar as discussões sobre temas como fundações,
patologias, manifestações patológicas e recalque.
Concluída a fase de revisão bibliográfica, a etapa seguinte consistirá em um estudo
sobre obras que apresentaram manifestações patológicas devido a problemas na fundação
destes edifícios. Para tal, dois casos famosos foram escolhidos: os prédios da Orla de
Santos-SP, mais especificamente o Edifício Núncio Malzone, e a famosa Torre de Pisa,
na Itália.
Após esta etapa, realizou-se uma nova consulta à bibliografia para compreender
os fatores que desencadearam os problemas nas obras supracitadas. Foram consultados
livros, laudos e monografias.
Após a compreensão das principais causas destes problemas, discutiu-se caso a
caso, confrontando com a literatura sobre o tema.

3.1 Torre de Pisa

A Torre de Pisa, situada em Pisa (Itália), teve sua construção iniciada no ano de
1173 com conclusão no ano de 1370, sendo realizada em três etapas distintas: 1173-1188,
1272-1278 e 1360-1370. O edifício tem formato circular com diâmetro externo de 15,40
metros e altura de aproximadamente 56 metros, conforme mostra a Figura 3.1.
Figura 3. 1 - Torre de Pisa

Fonte: Baza Construtora - http://www.construtorabaza.com.br/index.php/blog-home/item/47-por-que-a-


torre-de-pisa-e-inclinada. Acessado em 11 de mar. de 2018.
32

A torre de Pisa é bastante conhecida devido a sua inclinação, que na época mais
crítica chegou a 5,5 graus e um desaprumo horizontal de quase 4,50 metros. De acordo
com Santos (2014), a Torre começou a inclinar durante o segundo estágio da construção
em 1272 a partir da construção do quarto andar. Desde então, o desaprumo apresentado
pela Torre continuou aumentando até atingir o ponto supracitado.

3.2 Edifício Núncio Malzone – Santos/SP

Os prédios da orla santista começaram a ser construídos desde meados da década


de 1940. A verticalização das edificações foi uma consequência direta do processo de
urbanização que ocorria em todo o país. Atualmente, a orla santista é composta por
diversos prédios com alturas variadas, e grande parte destes apresentam desaprumo por
recalque diferencial.
Um dos principais exemplos deste problema é o edifício Núncio Malzone,
composto por dois blocos (A e B) com 17 pavimentos cada e altura aproximada de 55
metros, conforme mostra a Figura 3.2. De acordo com Sayegh (2001), o desaprumo do
bloco A começou a aparecer juntamente com sua construção em 1967, chegando a valores
de 2,10 metros de desaprumo na sua situação mais crítica em 1999.
Figura 3. 2 - Edifício Núncio Malzone - Bloco A

Fonte: Dias (2010).


33

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Caso 1 – Torre de Pisa

4.1.1 Análise do problema

Como relatado, a manifestação patológica apresentada pela Torre de Pisa foi o


desaprumo de aproximadamente 4,50 metros no caso mais crítico, onde o mecanismo
deflagrador de tal problema foi o recalque diferencial de 1,80 metros apresentado, sendo
o recalque da região norte de 1,20 metros e o da região sul de 3,00 metros.
De acordo com Santos (2014), o solo sobre o qual a Torre este assentado apresenta
camadas alternadas entre areia e argila, conforme a Figura 4.1. Além disso, Cintra et al
(2013) ressalta que o maciço onde a torre está apoiada possui comportamento
heterogêneo, apresentando maior deformabilidade na região sul, situação essa que não foi
percebida antes do início da construção.
Figura 4. 1 - Camadas de solo abaixo da Torre de Pisa.

Fonte: Burland, Jamiolkowski e Viggiani (2009) – Adaptado pelas Autoras.

O tipo de fundação utilizado foi superficial, indicada para região em que o solo
resistente está nas primeiras camadas de terra. Conforme Burland, Jamiolkowski e
Viggiani (2009), a tensão média aplicada no solo era de 500 kPa distribuída de maneira
uniforme. No entanto, como a porção sul do terreno era mais deformável o recalque nessa
região se tornou mais acentuado, que por sua vez gerou a inclinação da torre.
Em uma análise computadorizada, Burland e Potts (1994, apud Santos, 2014)
constataram que a após a inclinação a tensão solo-estrutura no lado sul da torre era de
34

aproximadamente 1000 kPa, enquanto que no lado norte era praticamente nula. Desta
forma, um colapso estrutural era eminente, visto que a tensão aplicada era o dobro para a
qual a fundação foi projetada.
Desta forma, com base nos dados acima, percebe-se que a causa deste problema
foi a ausência da caracterização do comportamento do maciço de solo antes da construção
da obra em questão. Com a ausência deste dado importante, acabou sendo adotada uma
tipologia de fundação incompatível com a situação real do maciço de solo, onde
Milititsky, Consoli e Schnaid (2015) confirmam que a ausência da caracterização do
terreno levou a aplicação de tensões excessivas no solo, causando o assentamento
diferencial no local da obra.

4.1.2 Soluções corretivas adotadas

Segundo Burland, Jamiolkowski e Viggiani (2009), após várias análises foi


constado que a inclinação da Torre de Pisa estava aumentando gradativamente com o
passar dos anos. De acordo com Santos (2014) o problema mais agravante é a
instabilidade da inclinação da Torre devido à sua rigidez e não mais devido a capacidade
de carga do solo.
No ano de 1993, o comitê italiano resolveu adotar uma medida temporária para a
estabilização da Torre. De acordo com Burland, Jamiolkowski e Viggiani (2009), a
estratégia adotada foi a colocação de pesos de chumbo com um total de 600 toneladas ao
redor do lado norte da torre, conforme a Figura 4.2. A tática utilizada foi um sucesso e
permitiu uma redução na inclinação da torre e no momento atuante na fundação.

Figura 4.2 - Contrapeso de chumbo na face norte da Torre de Pisa.

Fonte: Burland, Jamiolkowski e Viggiani (2009)


35

Segundo Santos (2014), o comitê responsável decidiu substituir os pesos de


chumbo por tirantes conectados ao anel de concreto localizado abaixo dos pesos de
chumbo. Contudo, essa medida não obteve sucesso devido aos artifícios utilizados que
ocasionaram um aumento no recalque sofrido pela estrutura. Ao final desta tentativa
falha, foi necessário aumentar os pesos de chumbo de 600 para 900 toneladas, com a
finalidade de controlar a rotação da torre.
Temendo o pior, o comitê italiano procurou uma solução definitiva para o
problema. Segundo Burland, Jamiolkowski e Viggiani (2009), o processo adotado para
estabilizar a torre foi retirar parte do solo situado abaixo da fundação da parte norte
através de escavação subterrânea, que de acordo com Santos (2014) consiste na em
instalar tubos de extração de solo compostos por uma hélice continua para que o solo
possa ser coletado.
O processo de extração do solo mencionado por Burland, Jamiolkowski e Viggiani
(2009) teve início no ano de 1999. Inicialmente foram feitas extrações preliminares com
o intuito de comprovar a eficácia do método aplicado. Este processo possibilitou uma
redução de 1,33 graus na inclinação da Torre. Verificada então a eficácia e do método
adotado, novas escavações foram feitas. Segundo Santos (2014) ao final do ano de 1999
foram instalados 41 tubos para a extração do solo, conforme a Figura 4.3, espaçados entre
si em 50 cm e a escavação teve início já em fevereiro do ano 2000.

Figura 4. 3 - Disposição dos tubos para a escavação subterrânea.

Fonte: Burland, Jamiolkowski e Viggiani (2009)

Com o sucesso do procedimento utilizado, os pesos de chumbo foram sendo


retirados gradativamente até fevereiro de 2001 que eles foram removidos por completo.
Como resultado do processo de estabilização a inclinação da Torre passou a ser de 0,5
graus.
36

O outro ponto levantado anteriormente foi relativo ao nível da água. De acordo


com Santos (2014), o comitê italiano responsável pela recuperação da torre constatou que
a variação do nível da água foi responsável pelo desaprumo sofrido pela Torre. Segundo
Burland, Jamiolkowski e Viggiani (2009), os dados do comitê italiano mostram que o
nível de água da parte sul era até 30 cm mais profundo que a parte norte, conforme a
Figura 4.4, devido a concentração de cargas na porção sul da torre que acabava
“expulsando” a água presente debaixo da fundação. Desta forma, em época de fortes
chuvas o nível da água se elevava com maior intensidade no lado norte, que por
consequência causava um aumento considerável na rotação da Torre no sentido sul.

Figura 4. 4 - Variação do nível de água abaixo da Torre de Pisa.

Fonte: Burland, Jamiolkowski e Viggiani (2009)

Com o intuito de reduzir o efeito causado pela variação piezométrica foi


necessário implantar um sistema de drenagem eficiente. De acordo com Burland,
Jamiolkowski e Viggiani (2009) foram utilizados três poços subterrâneos (Well A, B e
C) dispostos de forma radial no lado norte da Torre e outros poços com o intuito de
conduzir a água drenada dos outros poços até o sistema de drenagem principal da cidade,
conforme apresenta a Figura 4.5. A implantação deste sistema de drenagem possibilitou
uma redução do poro-pressão, que por sua vez garantiu uma rotação da torre para a
direção norte, reduzindo seu desaprumo.
37

Figura 4. 5 - Sistema de drenagem utilizado na Torre de Pisa.

Fonte: Burland, Jamiolkowski e Viggiani (2009)

4.2 Caso 2 – Prédios da Orla de Santos

4.2.1 Análise do problema

O prédio escolhido para ser tratado no presente trabalho foi o edifício Núncio
Malzone Bloco A, doravante chamado de NM-A, que conforme citado anteriormente teve
um desaprumo de 2,10 metros.
Segundo Dias (2010), o NM-A utilizou fundações superficiais do tipo sapata,
assentadas a uma profundidade de 1,50 a 2,00 metros, ligadas entre si por vigas de eleva
rigidez. O principal fato para utilização de fundações superficiais se deve ao fato da orla
santista apresentar como a primeira camada de solo uma areia medianamente compacta,
com características e resistências adequadas para esta utilização.
No entanto, o que os construtores da época não esperavam eram as camadas
abaixo do horizonte de areia. De acordo com Sayegh (2001), o solo da orla santista é
formado pela camada superficial de areia, seguida de uma extensa camada de argila
marinha mole e bastante compressível, uma segunda camada de areia até o encontro da
rocha de elevada resistência, conforme Figura 4.7. Desta forma, a alta compressibilidade
da camada de argila apresenta grande deformabilidade que por consequência acarreta na
38

diminuição do volume do solo, ocasionando um rebaixamento no nível das fundações do


edifício, ou seja, o recalque.

Figura 4. 6 - Perfil do solo da orla santista.

Fonte: Melhor de Santos - http://www.melhordesantos.com/2011/12/predios-tortos-de-santos.html.


Acessado em 24 de mar. de 2018. – Adaptada pelas autoras.

Segundo Sayegh (2001), um fator que agravou a situação dos prédios da orla
santista em geral foi a proximidade entre os mesmos. Essa proximidade faz com que haja
uma sobreposição do bulbo de tensões dos edifícios, conforme descrito no tópico 2.3.2.2
do presente trabalho. Esta sobreposição faz com que a tensão no solo entre dois prédios
se eleve, ocasionando um maior recalque nesta região que por consequência faz com que
os prédios sofram desaprumo. A Figura 4.7 abaixo representa essa situação que ocorreu
no NM-A.
39

Figura 4. 7 - Representação da sobreposição de tensões no solo sobre o Edifício Núncio Malzone.

Fonte: Engenheiro Caiçara - http://engenheirocaicara.com/desmistificando-por-que-os-predios-de-santos-


sao-tortos/. Acessado em 24 de mar. de 2018.

4.2.2 Soluções corretivas adotadas

De acordo com Sayegh (2001), a primeira tentativa de estabilizar o recalque


sofrido pelo NM-A foi em 1978, nove anos após o início da sua construção. A ideia
proposta para esta correção foi a execução de estacas raiz com 25 cm de diâmetro com
profundidade de 50 metros no lado mais recalcado da edificação. Entretanto, esta primeira
tentativa só apresentou sucesso nos primeiros meses, onde a partir deste período o prédio
voltou a recalcar.
Em 1995, uma comissão de obras foi formada pelos moradores do NM-A com o
intuito de erradicar o problema apresentado pelo prédio. A solução optada pela comissão
foi a do engenheiro Carlos Eduardo Moreira Maffei, cujo o objetivo era interromper o
recalque e reaprumar o edifício.
Segundo Dias (2010), a primeira etapa do processo foi a execução de estacas
escavadas com o auxílio de lama betonítica com profundidade média de 57 metros. Ao
40

todo foram executadas 16 estacas com diâmetro variando entre 1,00 e 1,40 metros, sendo
oito estacas em cada lado do edifício e executando primeiramente no lado mais recalcado.
Sayegh (2001) ainda ressalta a necessidade do remanejamento das redes hidráulica,
elétrica e telefônica para a execução das fundações, tornando mais dispendioso todo o
processo.
A etapa seguinte, de acordo com Dias (2010), teve início com a execução de oito
vigas de transição do tipo virandeel, que são vigas formadas por barras horizontais e
verticais funcionando como um quadro rígido de ligações enrijecidas, com
aproximadamente 4,50 metros de altura, conforme Figura 4.8, cuja principal função era
receber os esforços dos pilares do edifício e transmiti-los às novas fundações.
Primeiramente foi executada a viga da frente do edifício e as demais de maneira
intercalas, enquanto as vigas longitudinais de travamento foram executadas logo após ao
termino das vigas principais.
Figura 4. 8 - Vigas de transição Virandeel.

Fonte: Novo Milênio - http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0236f.htm. Acessado em 24 de mar. de


2018.

A terceira etapa, conforme apresenta Sayegh (2001), consistiu na utilização de 14


macacos hidráulicos acionados por seis bombas que foram colocados entre as vigas de
transição e os novos blocos de fundação, cuja principal função era a de reaprumar o
edifício. Dias (2010) completa dizendo que foi necessário construir pilaretes dos dois
lados de cada macaco para a colocação de calços com o intuito de garantir a segurança
do edifício e, também, servir de apoio para as vigas enquanto cada macaco era rebaixado
uma vez que o prédio foi levantado cerca de 80 cm para garantir seu reaprumo.
41

Segundo Dias (2010), a quarta e última etapa foi a escavação do terreno, retirando
cerca de 200 toneladas de terra que dificultavam o nivelamento do edifício e as sapatas
deixaram de estar em contato com o terreno. Deste modo, o NM-A passou a transmitir
suas 6,50 mil toneladas para o solo através das estacas profundas.
Dias (2010) ressalta o cuidado necessário para a execução das obras, uma vez que
todo este reparo ocorreu sem que os moradores desocupassem seus imóveis.

4.3 Comparativo entre os casos

Mesmo ocorrendo em locais distintos, o caso da Torre de Pisa e dos prédios da


orla santista, mais precisamente o edifício Núncio Malzone, apresentam peculiaridades
especificas.
O principal ponto que pode ser levantado em relação aos dois casos apresentados,
pode-se dizer que é a identificação equivocada ou inexistente do perfil do solo onde a
obra se apoia. No caso da Torre de Pisa o principal problema foi a heterogeneidade não
identificada do plano de solo onde a obra se apoia, que por consequência ocasionou
recalque diferencial além do admissível. Já no caso dos prédios da orla santista foi a
presença de um solo mole de alta compressibilidade abaixo de uma camada de areia que
passava a falsa impressão de segurança para a execução de fundações superficiais.
Outro fator a ser levado em consideração é que em ambos os casos estudados
foram utilizadas fundações do tipo superficial, admitindo que as camadas superiores do
solo fossem resistentes o suficiente para suportar toda a tensão solicitante.
Outro ponto que pode ser ressaltado é a taxa de ocupação do local. Pode-se dizer
que a Torre de Pisa é um edifício isolado, onde a porção de solo em que a mesma se apoia
recebe somente sua carga, diferentemente do caso dos prédios da orla de santos onde
existentes vários edifícios próximos uns aos outros. Desta forma pode-se dizer que a causa
do recalque da Torre de Pisa é consequência direta da falta de conhecimento sobre o solo
a qual se apoia, enquanto que os prédios da orla santista apresentaram recalque diferencial
devido a não consideração a da porção de solo compressível, sendo agravado pela
sobreposição de tensões devido à proximidade dos edifícios.
42

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho procurou analisar e compreender como são originados os


recalques diferencias nas edificações, bem como as manifestações patológicas causadas
por este fenômeno, como, por exemplo, o desaprumo.
Após toda a pesquisa e o estudo realizado foi possível perceber que o recalque
diferencial pode ser ocasionado por diversas maneiras, como por exemplo, a sobreposição
de tensões, como no caso dos prédios da orla Santista, e também a falta ou a má
caracterização do horizonte de solo onde a obra será construída, como o caso da Torre de
Pisa e uma das causas principais nos prédios em Santos.
Com os resultados obtidos na pesquisa, foi possível perceber o quão importante é
a caracterização do solo antes da construção de uma edificação. Em ambos os casos
analisados, a negligência no momento da caracterização do solo foi a principal causa de
todas as manifestações patológicas apresentadas nas edificações, ou seja, o desaprumo
devido ao recalque diferencial.
Além disso, outro ponto que pode ser obtido através da análise dos resultados é a
importância da consideração dos arredores no projeto de fundação de um edifício. Esse
caso foi observado principalmente no edifício Núncio Malzone, onde a sobreposição de
tensões devido as cargas das construções próximas, juntamente com a consideração
equivocada das camadas mais profundas de solo, aumentando o desaprumo do edifício.
Mesmo apresentando situações semelhantes, como o desaprumo nos dois casos
(4,50 metros na Torre de Pisa e 2,10 metros no Edifício Núncio Malzone), a solução
corretiva adotava para cada edifício foi diferente uma da outra, mostrando que não existe
apenas uma maneira de solucionar um caso, devendo ser considerado outras causas que
acabaram contribuindo para o problema e, também, as limitações existentes para a
aplicação da medida corretiva.
Assim sendo, devido à complexidade apresentada nas obras analisadas pelo estudo
de caso, a correção das manifestações patologia causadas pelo recalque diferencial exigiu
grande dispêndio de tempo para a elaboração da estratégia corretiva a ser utilizada, bem
como os altos custos para a correção dos problemas apresentados.
Desta forma, é possível reafirmar o pensamento de Milititsky, Consoli e Schnaid
(2015) que mostra o recalque diferencial como a manifestação patológica de maior
complexidade corretiva e de elevado custo.
43

Sendo assim, é de extrema importância conhecer não apenas o solo onde a


edificações será apoiada, mas, também, diversas outras características como a tipologia
de fundação ideal para a situação e a região ao redor da área da edificação, procurando
prever efeitos como a sobreposição de tensões e consequente recalque diferencial.

5.1 Sugestões para pesquisas futuras

Como sugestão para trabalhos futuros tem-se:


• Realizar acompanhamento detalhado da evolução do recalque em determinado
estudo de caso;
• Análise da influência do nível do lençol freático no projeto de fundações.
44

6 REFENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, J. R. Levantamento das Manifestações Patológicas em Fundações e


Estruturas nas Edificações, com até dez anos de idade, executadas no estado de
Goiás. 2009. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2009.

ARANHA, P.M.S. Contribuição ao estudo das manifestações patológicas nas


estruturas de concreto armado na região amazônica. 1994. Dissertação (Mestrado).
Universidade Federal do Rio grande do Sul, Porto Alegre, 1994.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e


execução de fundações. Rio de Janeiro, 2010.

_____. NBR 9573: Vermiculita expandida – Temperatura inicial e final de


amolecimento – Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2012.

BARROS, C. Apostila de fundações. Pelotas: Instituto Federal do Rio Grande do Sul,


2011.

BURLAND, J. B.; JAMIOLKOWSKI, M. B.; VIGGIANI, C. Leaning Tower os Pisa:


behaviour after stabilization operations. International Journal os Geoengineering, 01
julho 2009. 156-169.

CARVALHO, D, M. Patologias das fundações: fundações em depósitos de vertente na


cidade de machico. 2010. Dissertação (Mestrado). Universidade de Madeira, Funchal,
2010.

CINTRA, J, C, A; AOKI, N; TSUHA, C, H, C; GIACHETI, H, L. Fundações: Ensaios


estáticos e dinâmicos. 1 ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2013.

DIAS,M. S. análise do comportamento de edifícios apoiados em fundação direta no


bairro da Ponta da Praia na cidade de Santos. 2010. Dissertação (Mestrado).
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

DICAS DE ARQUITETURA. Por que a Torre de Pisa é inclinada?. 2015. Disponível


em: <http://dicasdearquitetura.com.br/por-que-a-torre-de-pisa-e-inclinada/>. Acesso em
29 de out. de 2017.

ENGENHEIRO CAIÇARA. Desmistificando: Por que os prédios de Santos são


tortos?. Disponível em: <http://engenheirocaicara.com/desmistificando-por-que-os-
predios-de-santos-sao-tortos/>. Acessado em 24 de mar. de 2018.

MATOS. A. Patologia das Fundações: estudo caso do edifício centro de ciências


humanas e da educação. 2010. Dissertação (Mestrado). Universidade do Estado da
Santa Catarina – UDESC, Florianópolis, 2010.

MELHOR DE SANTOS. Prédios tortos de Santos. Disponível em:


<http://www.melhordesantos.com/2011/12/predios-tortos-de-santos.html>. Acessado
em 24 de mar. de 2018
45

MILITITSKY, J. CONSOLI, N. C. SHNAID F. Patologia das Fundações. 2ª ed. São


Paulo: Oficina de Textos, 2015.

NOVO MILÊNIO. Histórias e lendas de Santos. Disponível em:


<http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0236f.htm>. Acessado em 24 de mar. de 2018.

OLIVEIRA, A. M. Fissuras, trincas e rachaduras causadas por recalque diferencial


de fundações. 2012. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização). Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.

REBELLO,Y. C. P. Fundações: guia prático de projeto, execução e dimensionamento.


4 ed. São Paulo: Zigurate Editora, 2008.

SANTOS, A. Prédios tortos de Santos: como eles estão hoje?. 2015. Disponível
em:<http://www.cimentoitambe.com.br/predios-tortos-de-santos-como-eles-estao-
hoje/>, Acesso em 29 de out. de 2017.

SANTOS, G, V. Patologia devido ao recalque diferencial em fundações. Centro


Universitário de Brasília – UniCEUB, Brasília, 2014.

SAYEGH, S. Efeito Solo. Techné PINI, 2001. Disponível em: <


http://techne17.pini.com.br/engenharia-civil/51/artigo285197-1.aspx>. Acessado em 24
de mar. de 2018.

SOUZA, V. C. M. RIPPER, T. Patologia, Recuperação e reforço em estruturas de


concreto. 5 ed. São Paulo: PINI, 2009.

SCHWIRCK, I. A. Patologia das Fundações. Universidade do estado de Santa


Catarina – UDESC, Joenvile, 2005.

VELLOSO, D. A. LOPES, F. R. Fundações, critérios de projeto – investigação do


subsolo. São Paulo: Oficina dos Textos, 2004.

VERÇOZA, Ê. J. Patologia das Edificações. Porto Alegre-RS: Sagra. 1991. Disponível


em:<http://equipedeobra.pini.com.br/construcaoreforma/41/artigo239476-1.aspx>,
Acesso em nov. de 2017.

Você também pode gostar