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Por se tratar de assunto recente – e relativamente delicado -, diversos

princípios constitucionais próprios da esfera comunicativa têm sido pouco explorados não
somente pela doutrina publicista, como também pelos demais Poderes Constituídos:
Executivo, Legislativo e Judiciário.

Nesse passo, o infundado receio de um “retorno à censura”, tão em voga na


imprensa brasileira, parece impedir a verdadeira proteção de bens constitucionais, como a
própria capacidade de emitir opiniões. Como consequência de uma inércia estatal, constata-se,
no ramo comunicativo pátrio, uma primazia do poderio econômico de determinados agentes
privados, capaz de esvaziar a liberdade de expressão – e, por conseguinte, outros direitos
fundamentais dela decorrentes – de grupos com “menor voz ativa”8.

Almeja-se, ao fim dessa tese, estabelecer a necessidade de uma atuação


positiva do Estado, com a finalidade de se preservar “uma igualdade de chances na esfera
comunicativa”, essencial ao funcionamento apropriado do regime democrático. Para tanto,
cuidar-se-á de demonstrar a postura que se julga adequada para um comportamento dos
Poderes Constituídos na busca de um equilíbrio entre as concepções libertária e democrática
da liberdade de expressão.

Quanto ao plano de trabalho, optou-se por dividir a obra em três partes bem
definidas: em primeiro plano, uma Parte Geral contendo as premissas teóricas a serem
desenvolvidas; em segundo, sob o influxo de uma concepção “libertária”, uma Parte que
aborda as hipóteses de colisão entre a liberdade de expressão e os demais bens
constitucionais; e, por fim, uma Terceira Parte a explorar a influência e possibilidade de
aplicação da concepção “democrática” no ordenamento jurídico brasileiro, ou seja, os
fundamentos hábeis a sustentar a restrição da liberdade da expressão (de minorias com maior

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FARACO, Alexandre Ditzel. Democracia e regulação das redes eletrônicas de comunicação: rádio, televisão
e internet. Op. cit., p. 43: “(...) Não é possível ignorar que a atividade de comunicação social se insere no escopo
de proteção de uma das liberdades mais caras à democracia: a liberdade de expressão. Mas ao se reconhecer que
a liberdade de expressão, associada a uma grande concetração do poder, distorce o processo democrático (e o
exercício da mesma liberdade por outras pessoas), não é admissível concebê-la em termos tão absolutos a ponto
de negar a possibilidade de regulação dos meios de comunicação social (o que acabaria por preservar estruturas
de poder antidemocráticas e privilegiar a expressão de algumas – poucas – vozes em detrimento de outras)”.
Adverte o autor, por outro lado: “(...) Mas a regulação e fixação de limites a esse poder devem ser pensadas de
forma a evitar que, sob a justificativa de proteger a democracia, se pretenda eliminar a independência que os
meios de ocmunicação devem ter em relação ao Estado (...)”.

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