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Trajetórias, "Identidades" e Formas de Resistências No Movimento Estudantil Ufac
Trajetórias, "Identidades" e Formas de Resistências No Movimento Estudantil Ufac
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Licenciada em História pela Universidade Federal do Acre; Especialista em História do Brasil pelo Instituto
Pro-Minas (UCAM) e Mestranda no Programa de Mestrado de Letras Linguagem e identidade –
Universidade Federal do Acre.
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Durante o regime ditatorial os governos empreendiam esforços para que
essa ocupação fosse efetivada, é quando temos uma política para o incentivo à
agricultura na região. A região passar a receber pessoas de outros estados
principalmente da região centro-sul, que ficaram conhecidos como “sulistas”, na
década de 60, o que continuou na década de 70, milhares de pessoas se
instalaram na região, pois,
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capital internacional, principalmente do norte-americano, onde a floresta era
vista como algo a ser vencido. (PAULA: 2005). O “progresso” representava a
retirada de uma parte da floresta, que era justificada pela necessidade de se
resguardar as fronteiras nacionais. O estado passa a ser o principal agente
nesse processo, onde
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Nesse cenário o então governador indicado pela ditadura Wanderley
Dantas, faz uma campanha publicitária no centro-sul, para atrair colonos para a
região, onde
O slogan “ Acre, a nova Canaã, um Nordeste sem seca, um sul sem geada,
invista no Acre e exporte para o pacífico. Tinha-se o objetivo da vinda dos
colonos do centro-sul para a região. A propaganda aparecia no rádio, em locais
públicos, em hotéis, aeroportos e rodoviárias. E esses atrativos trouxeram para
a região um grande número de “sulistas” que de acordo com Paula, adquiriram
cerca de cinco milhões de hectares de terras, sendo equivalente a um terço do
território do estado (PAULA: 2016).
Uma grande aliada dos seringueiros que resolverem resistir nos seringais
foi a igreja católica, com a Prelazia do Acre e do Purus, que “a partir da década
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de 70, havia optado por uma linha de ação pastoral identificada com as
orientações da ala mais progressista do clero na América Latina (PAULA, 2016,
p. 61) ”. É através das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que a igreja vai
defender os seringueiros, onde disseminará entre eles a ideias da resistência
pela terra, visto que muitos eram analfabetos, o que facilitava para os novos
proprietários, pois apareciam com um pedaço de papel se dizendo serem dono
das terras e muitos não dominavam a leitura para argumentar o documento.
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O movimento estudantil no estado começar a dialogar com questões do
universo amazônico, onde a partir da chapa Seringueira que concorrerá as
eleições para o Diretório central dos estudantes em 1977, que apesar das
pressões da reitoria, recebe boa porcentagem dos votos. Com a vitória da
chapa, questões da realidade Amazônicas começaram a ser discutidas,
debatidas e a prática de ação do ME passou também a representar anseios da
sociedade em que estava inserida, como a defesa da floresta, a luta pela
melhoria da educação, reinvindicação pelo aumento do número de vagas na
universidade, ao mesmo tempo que o movimento se preocupava com questões
regionais também dialogava com o contexto nacional, sendo que o ano de 77 foi
significativo pra o movimento estudantil no Brasil, sendo que as grandes
passeatas nas principais cidades do Brasil, influenciaram os jovens do Acre a
também reagirem.
Com nossa leitura de Chartier, pensamos que esses símbolos e discursos
presentes no movimento estudantil, são representações que se tornam coletivas,
representando o meio social a até natural de “localização social”, pois para o
autor;
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tentativa de reprodução do real por meio das narrativas. Sobro o conceito de
representação Chartier o toma de uma forma segundo ele “mais particular e
historicamente mais determinada”. Apresentando duas ordens de razões. A
primeira estaria ligada a noção que não seria estranha as sociedades do antigo
regime, onde ocupava um lugar central, onde as definições antigas do termo,
usando as definições do dicionário de Feretiére, manifestariam duas famílias de
sentindo. A primeira dessas famílias seria a representação como uma coisa
ausente, que seriam a distinção entre aquilo que representa e aquilo que é
representado. A segunda dessas famílias dentro dessa primeira ordem, seria a
representação como dando a ver uma exibição de uma presença, como a
representação pública de algo ou alguém. Fazendo distinção entre o primeiro e
o segundo sentindo, Chartier afirma que
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percursos formadores das identidades, bem como os conflitos sociais dela
decorrentes, ressaltando que “assim, cada um (sistema de representação) nos
situa como atores sociais e como membros de um grupo social em uma relação
particular com o processo e prescreve para nós certas identidades sociais
(HALL, 2003, p. 295).
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exercia um forte controle sobre os estudantes e qualquer movimento formado
dentro da universidade. O movimento estudantil no Acre surge, ainda no final da
década de 60, com a criação do centro acadêmico da Faculdade de direito,
porém se tornar mais organizado de uma forma mais abrangente em 1972, com
a criação do DCE. Desde a sua formação não há registro de manifestações
dentro no órgão, mas mesmo dentro desse clima de quietude, havia uma certa
vigilância por parte da direção da universidade para com os estudantes a criação
do diretório, não foi impedida pela administração da universidade, que era uma
“representação” do regime militar no Brasil. O Reitor da época professor Áulio
Gélio, que foi o primeiro reitor da universidade e ficou sobre sua administração
por quase 10 anos, mantinha o controle nos processos de eleição para o
diretório, chegando a indicar os candidatos que simpatizavam com ideais da
ditadura militar, e esses alunos sempre acabavam ganhando as eleições. O que
mostra o pôquer nos anos anteriores à 1977, as ações políticas não existirem
dentro do movimento estudantil acreano. É interessante ressaltar a fala do reitor
Áulio, em seu Livro intitulado “Criação do Ensino superior no Acre”, onde se
referindo aos estudantes fala que atuavam em movimentos “pacíficos” e em
defesa de sua classe. Em outra fala o reitor assegura que no Acre o que
importava aos estudantes é que fossem bons estudantes (SOUZA: 2006).
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possibilidade de reorganização, para que pudesse empreender uma luta mais
intensa e combativa contra a ditadura militar. Nesse momento de retorno ás ruas,
a grande imprensa brasileira exerce um papel essencial para que as grandes
passeatas tomem grandes proporções, e como resultado se juntam aos
estudantes outros segmentos sociais. É essa ampla divulgação por parte da
imprensa das manifestações estudantis em várias cidades do Brasil, com São
Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, que faz com que os estudantes acreanos
queiram participar desse momento que tomava a sociedade brasileira.
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acreano, passando a investir na formação de novos quadros e em novas
estratégias de combate. Importante ressaltar que na década de 1970, a
conjuntura política brasileira era caracterizada pelo bipartidarismo. A ARENA
(Aliança Renovadora Nacional) representava a direita militar e o MDB
(Movimento Democrático Brasileiro) que era o opositor “consentido” que
aglutinava os que não “simpatizavam” com a ARENA.
Referência Bibliográfica
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CHARTIER, Roger. A História Cultural: Entre Práticas e Representações. Trad.
de Maria Manuela Galhardo. 2ª Ed. Lisboa: Difusão Editora, 2002.
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