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Visões de Química

O Laboratorio Chimico no Campus


Biblioteca FCT–UNL | Campus de Caparica
Carbon is not the man...
... nor the salt nor water nor calcium.
He is all these, but is much more, much more.

John Steinbeck, Grapes of Warth, 1939

Je me suis remis à la chimie...


et je suis l´homme le plus heureux du monde.

Honoré de Balzac, La recherche de l'absolut, 1834


O Laboratorio Chimico no Campus

Na recta final das comemorações do Ano


Internacional da Química (2011), a Biblio-
teca do Campus de Caparica – Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade
Nova de Lisboa, lançou um repto ao Mu-
seu de Ciência da Universidade de Lisboa,
para, em co-curadoria, apresentar uma se-
lecção de peças e instrumentos de Química,
seleccionadas pela sua relevância científica
e também pela sua intrínseca beleza. Das
discussões preparatórias nasceu o desejo
de ir mais além e, para além da tradicional
exposição, foi pedido a artistas plásticos que
adoptassem algumas das peças e, de modo
livre, (re)criassem visões artísticas em torno
das peças. Sem constrangimentos de me-
todologias ou de representação, a ideia foi
indicar–sugerir outra(s) funcionalidade(s),
ou conferir àquelas que as peças possuem,
uma perspectiva artística. Dessa(s) novas
visões críticas e imaginativas surgiram
leituras contemporâneas do(s) objecto(s).
Encontrava-se, também assim, um mo-
mento para um diálogo entre a UNL e a UL,
e para trazer à ribalta, variações dos temas
expostos à luz da criatividade de artistas
plásticos, que “sentindo” as peças expôem
interpretações muito pessoais.
O que foi conseguido não seria possível
sem a generosa (disponível) colaboração
do Museu da Ciência da Universidade de
Lisboa (Prof. Ana Eiró, Doutora. Marta
Lourenço, Dra. Ana Romão) e a criatividade
da Arquitecta Teresa Nunes da Ponte que,
com todos os condicionantes dos tempos
que correm, imaginou o espaço (quase
José J. G. Moura cénico) da sala de exposições da Biblioteca,
Director da Biblioteca revalorizando-o e reinterpretando-o.
Fernando Santana
Director FCT
O Laboratorio Chimico da Escola Politécnica ca através dos seus equipamentos históri-
cos, por si só dignos de ser contemplados,
A Universidade de Lisboa possui um magní- a natural associação deste espaço expo-
fico Laboratorio Chimico oitocentista, inte- sitivo a manifestações artísticas a par da
grado no Museu de Ciência. Durante mais vontade de lançar novos desafios, levou-nos
de 150 anos, o laboratório foi utilizado por a desenvolver um projecto em parceria com
sucessivas gerações de estudantes, primeiro alguns artistas a quem as peças de química
da Escola Politécnica de Lisboa (1837-1911) pudessem trazer particular inspiração.
e depois da Faculdade de Ciências da Uni- E foi num ambiente quase místico da
versidade de Lisboa (1911-1998). Alvo de uma reserva visitável do Laboratorio Chimico
recente intervenção de restauro e musealiza- enquadrados por armários repletos de
ção, que recuperou a sua traça original do cadinhos, alambiques e retortas, objectos
final do século XIX, o Laboratorio Chimico manipulados por gerações de professores
está aberto ao público desde Maio de 2007. e alunos, que muflas, fornos, gasogéne-
A conclusão deste projecto de recuperação, os e balanças foram alvo da imaginação
neste ano de 2011, traz à fruição pública e criatividade dos artistas, trazendo um
todo o esplendor dos espaços oitocentis- olhar diferente sobre os instrumentos do
tas que tiveram na época uma importân- passado, promovendo pontes que ajudam
cia decisiva no ensino e serviço público a reflexão sobre o património.
no nosso país. Foi sobretudo a forma e a cor, mas tam-
Considerado por muitos um exemplar bém por vezes a funcionalidade da peça,
singular do património científico portu- que atraíram os artistas, uma abordagem
guês e europeu, o Laboratorio Chimico que estimula o nosso imaginário, com solu-
e o Anfiteatro anexo foram instalados ções técnicas e estéticas muito diversas que
e equipados a par dos melhores estabele- tornaram um desafio a organização desta
cimentos de ensino na Europa da época. exposição, estabelecendo novos diálogos
É a herança deste passado que encerra entre a ciência e as artes.
a colecção de química do Museu, testemu- Que esta abertura a outras visões sobre
nho de uma história de mais de um século, a colecção de química possa enriquecer
que pretendemos dar a conhecer. o nosso modo de olhar para o património,
Foi assim com grande satisfação que cruzando saberes e sensibilidades, numa
o Museu de Ciência da Universidade de colaboração que esperamos possa ser con-
Lisboa respondeu ao desafio feito pelo tinuada, contribuindo para a promoção da
Prof. José Moura, da Faculdade de Ciências diversidade cultural no seio das nossas Uni-
e Tecnologia da Universidade Nova de versidades.
Lisboa, para a realização de uma exposi-
ção conjunta, levando o Laboratorio Chi-
mico da Escola Politécnica ao Campus da
Caparica, no espaço da Biblioteca de que
é responsável.
Se a ideia inicial foi a de expor apenas Ana Maria Eiró
objectos da colecção, celebrando a quími- Museu de Ciência da Universidade de Lisboa
visões de química
objectos da colecção
do museu de ciência

© Paulo Cintra
CALORÍMETRO

Vaso de cobre utilizado para determinação de variações de temperatura em reacções químicas.


Século XIX.

Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa


Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL141
Dim. (87x37x31) cm
ALAMBIQUE PIANO DE REAGENTES

Aparelho utilizado para destilação de vinhos e rectificação de alcoóis, constituído por um depósito Suporte em madeira para armazenamento de reagentes destinados à realização de análises
central em latão sobre um tripé ajustável com inscrição por baixo das armas reais: " À SA MAJESTÉ químicas por reacções sistemáticas com alguns dos reagentes adequadamente ordenados
/ DON LUIZ 1er / ROI DU PORTUGAL / DÉSIRE SAVALLE / INGÉNIEUR/ PARIS 1875". (marcha geral de análise). Século XIX

Proveniência: Escola Secundária Patrício Prazeres, Lisboa Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL- DEP0157 Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL588
Dim. (130x110x64) cm Dim. (41x100x51) cm
ESTUFA MÁQUINA PNEUMÁTICA

Recipiente em cobre aquecido por circulação de água com quatro compartimentos com prateleiras Bomba aspirante de duplo êmbolo, constituída por dois tubos de vidro verticais no interior
intermédias. Utilizado para aquecimento e secagem de substâncias químicas e de equipamentos dos quais se deslocam os êmbolos que se movem verticalmente com movimento de uma
de vidro de laboratório. Weiesnege, Paris. Século XIX. manivela de dois braços. Utilizado para retirar o ar de recipientes de modo a obter baixas
pressões no seu interior. Deleuil, Paris. Século XIX.
Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL173 Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Dim. (60x70x24) cm Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL2430
Dim. (116x67x43) cm
BALANÇA BICOS DE BUNSEN

Instrumento de precisão de pratos suspensos de travessão apoiado no eixo central, com sistema Grupo de dezasseis bicos assentes num tubo com três entradas de gás com válvula de regulação
de travagem. Possui sistema de amortecedores pneumáticos para atenuar as oscilações de ar e uma torneira de regulação de gás. Utilizado como sistema de aquecimento. Século XX.
dos pratos e sistema de inserção de cavaleiros para ajuste nas pesagens. Cobos, 1957.
Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Proveniência: Escola Secundária Veiga Beirão Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL3106
Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL4429 Dim. (22x72x14) cm
Dim. (44x37x29) cm
FORNOS GASOGÉNEO

Recipientes em cerâmica refractária e metal. Utilizados para aquecimento de materiais Dispositivo para produção de água gaseificada artificial, constituído por dois depósitos de vidro
e substâncias químicas. Século XIX. elipsoidais protegidos por uma rede de fibras vegetais. Estes aparelhos (Alka Seltzer) acondiciona-
vam em câmaras separadas bicarbonato de sódio e ácido tartárico que, quando misturados
Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa no momento de consumo, produziam por reacção química a gaseificação. Foram depois
Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL2023; MCUL3316; MCUL1056; MCUL3317
substituídos pelos aparelhos de sifão em que se injectava dióxido de carbono sob pressão.
Dim. (25x18x18)cm; (23x15x15)cm; (49x28x25)cm; (14x12x12)cm
Briet, Paris. Século XIX.

Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa


Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL141
Dim. (87x37x31) cm
GASOGÉNEO PIPETA DE DOYÈRE

Dispositivo para produção de água gaseificada artificial, constituído por dois depósitos de vidro Dispositivo em vidro incolor utilizado para absorção e transferência de gases. Século XIX.
protegidos por uma rede de metal. Estes aparelhos (Alka Seltzer) acondicionavam em câmaras
separadas bicarbonato de sódio e ácido tartárico que, quando misturados no momento Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
de consumo, produziam por reacção química a gaseificação. Foram depois substituídos pelos Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL1500
Dim. (37x20x13) cm
aparelhos de sifão em que se injectava dióxido de carbono sob pressão. D. Fèvre, Paris. Século XIX.

Proveniência: Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa


Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, MCUL2014
Dim. (43x18x18) cm
Outras visões
um olhar de artistas
Ana Romana & Susana Anágua

Metal de Sacrifício, 2011 Ana Romana


Licenciada em Pintura (Faculdade de Belas Artes
Partindo do princípio químico do apare- da Universidade de Lisboa), com Pós-graduação
lho de produção de água gaseificada – o em Museologia e Património (Faculdade de
Alka-Seltzer – a fusão de dois elementos Ciências Sociais e Humanas da Universida-
resulta, um terceiro diferente. Metal de de Nova) e com Mestrado em Gravura (Royal
sacrifício é uma escultura/instalação com- College of Art). Expõe regularmente desde 1996
posta por um vídeo projetado numa chapa em Portugal (Fundação Calouste Gulbenkian,
de zinco suspensa e, debaixo desta chapa, Centro Cultural de Belém, CAV – Coimbra, So-
uma tina com solução liquida de sulfato de ciedade Nacional de Belas Artes, Centro Cultural
cobre. Nesta , onde o azul profundo remete Emmerico Nunes, Centro de Arte Manuel de Bri-
para o Chroma Key do cinema, é possível to...), Reino Unido, Japão, Brasil, Estados Unidos
ver os reflexos da chapa e, por consequên- da América, China e Finlândia.
cia, do vídeo projetado na chapa.
O zinco é utilizado em estruturas como me- Susana Anágua
tal de sacrifício, para preservar por exem- Formação académica 2008/9: MA Digital Arts,
plo o ferro da corrosão. Mas esta chapa Camberwell College of Arts, London. Tutor:
de zinco, que nos possibilita o acesso à Andy Stiff. 2003/04: Licenciatura em Artes
imagem vídeo, dissolve se mergulhar na Plásticas, na Escola Superior Arte e Design das
tina com sulfato de cobre, estando assim Caldas da Rainha.
em constante eminência o seu sacrifício. Exposições individuais: 2008, “Northless”, Centro
de Arte Moderna (CAMJAP) Gulbenkian, Lisboa.
(catálogo); “7 Maravilhas de Portugal”– Instalação
no Mosteiro Santa Maria da Vitória, Batalha; 2007,
“Natureza Mecânica – Episódio 3 – A queda do
Simulacro”, Arte Lisboa – Project Room, comis-
sariado de Isabel Carlos, Fil, parque Expo, Lisboa;
2007, “Natureza Mecânica- Episódio 2 – A deso-
rientação, parte II”, Galeria Presença, Lisboa.

Projeção vídeo,
chapa de zinco, tina com sulfato de cobre

Visões de Química — Novembro 2011 22 – 23


Ana Vasconcelos

A reflexão sobre a produção de cultura 2008, Doutoramento, título: Future Food. To-
material leva-nos à origem das coisas na wards a Sustainable Food Pattern, no Politéc-
sua forma mais elementar. A natureza é a nico di Milano, Italia. 1998, Mestrado, título:
fonte de todos os materiais possíveis de A contribuição tecnológica no habitat: electri-
serem trabalhados, entre eles a porcela- cidade e eficiência doméstica na Faculdade de
na, os metais, o vidro e a cestaria; mas a Arquitectura da Universidade do Porto e licen-
natureza reveste-se também de valores se- ciatura em Design de Equipamento pela Facul-
dimentados ao longo dos tempos. A peça dade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
Alka Seltzer foi interpretada recorrendo ao Actualmente é professor auxiliar na Faculdade
barro, material natural acessível e mesmo de Belas Artes da Universidade de Lisboa, onde
arcaico, como símbolo da necessidade de desenvolve trabalho de investigação em design
retorno à natureza. Conceptualmente, a para a sustentabilidade e inovação social. 1988,
peça reporta à natureza do lugar, palco exposição individual: Cerâmica, Clube 50, Lisboa
das relações holísticas que interferem na e colaborou em várias exposições colectivas de
reflexão sobre a produção material. Neste cerâmica e design.
espaço confluem o património cultural e
social com o ambiente – entender estas
redes significa saber preservá-las. O papel
do lugar é aqui compreendido como o pa-
norama que intercruza os aspectos socio-
culturais com a natureza, onde a relação de
identidade faz-nos sentir como parte inte-
grante do cenário. O lugar da natureza que
queremos preservar e valorizar é também
a paisagem, onde as histórias dos lugares
suportam o sentimento de inclusão. A na-
tureza, como espaço apropriado, é lugar
de sentimentos, de memórias e de poesia.
Peças de cerâmica
Medidas da peça: 60 x 200 x 200
Material: Barro vermelho
Peso: 40 kg

Visões de Química — Novembro 2011 24 – 25


Enrique Williams

Inspirado nos fornos de cerâmica refractá- 1994, Estudos de escultura com Alfredo Williams
ria usados para aquecimento de materiais (Licenciado em artes visuais Instituto Nacional
e substâncias químicas, em exposição, de Arte). 1992, Curso de desenho e pintura com
esta peça é uma proposta de um “forno” Maria José Digiacomo (Professora de Belas Artes
/ reactor, conduzindo reacções “mágicas e na Escuela Previliano Puyrredon). 1985, Curso de
fumegantes”, como que um ser extra-ter- Decoração de Interiores pela Escuela Panameri-
restre/monstro que se alimenta de matéria cana de Arte. Buenos Aires, Argentina. 1982, Cur-
orgânica e inorgânica. Somos transporta- so de Artes Gráficas pela Escuela Panamericana
dos para um mundo alquímico em que a de Arte, Buenos Aires, Argentina.
transformação da matéria em “vil metal”
nos remete a ligações com o poder econó- Exposições (selecção): 2010, Mostra individual,
mico e político. ISCTE, Lisboa. 2010, Mostra individual Espaço
Docas em Lisboa. 2010, Mostra individual, Fá-
brica Braço de Prata, Lisboa. 2010, Mostra indi-
vidual na Biblioteca da FCT, Campus de Caparica.
2009, Obra seleccionada para a Bienal Europeia
de Montijo. 2008, Mostra colectiva “ARTE PELA
PAZ”, Horta – Açores. 2007, Mostra colectiva
“PORTO ARGENTINO”, Porto. 2007, Mostra in-
dividual, Casa da América Latina, Lisboa

Medidas: altura 1,20 mts., base 1,00 x 1,00


Materiais: Cobre, Bronce, Madeira,
Palha do aço, Poliuretano expandido
Peso: 6 Kg.

Visões de Química — Novembro 2011 26 – 27


Helena Abrantes

Jardim de Bunsen 1987, Inicia os seus estudos em cerâmica


no ArCo. 1990, Estágio em NCAD, National
Escolhi como referência para este trabalho College of Art & Design – Dublin. 1990, Está-
um objecto de laboratório do Séc. XIX em gio no School of Arts Institute of Chicago, USA
exposição no Museu da Ciência, os bicos 1991, Simpósio de Cerâmica em Caraguatatuba,
de Bunsen, que imediatamente me suge- São Paulo, Brasil.
riram flores.
Assim iniciei um processo de desconstru- Exposições (selecção): 1988, Alunos do ArCo –
ção da forma, isolando os elementos que Museu Nacional do Azulejo. 1991, ArCo Bolsei-
me interessavam para a nova construção ros – Sociedade Nacional de Belas Artes. 1992,
e nasceu a ideia do jardim de bunsen, um 7ª Bienal Internacional de Vila Nova de Cervei-
objecto que poderá funcionar como jarra. ra. 1994, ArCo Cerâmica – Oficina da Cultura,
Utilizei o grês chamotado como material Almada. 1996,Unge Kunstreres Samfund – Oslo,
e como técnicas o rolo, a lastra e a mode- Noruega. 1998, 3 Anos de Cerâmica no ArCo,
lação. Após secagem os elementos foram Museu Nacional do Azulejo. 2004, Oficinas de
submetidos a uma chacota de 1120º C e Cerâmica do ArCo 1987 –2004 – Museu Nacional
depois vidrados com uma suspensão de do Azulejo. 2006, Artistas.com – 9arte, Lisboa.
Feldspato de Potássio, Carbonato de Cál- 2011, Colectiva Pintura e Cerâmica – Oficina da
cio e Dolomite par ser cozida novamente Cultura, Almada.
a 1200º, obtendo assim uma superficie
branca mate sedosa. Exposições Individuais: 2002, Emoções – Museu
Os elementos de encaixe, as “flores”, fo- de Cerâmica das Caldas da Rainha. 2010, Do ar-
ram vidrados a 1000º C. dim ou de um outro lugar, Centro de Artes e Cul-
Adorei fazer este trabalho, foi um desafio tura de Ponte de Sor. 2011, Momento, Faculdade
muito interessante que a meio do processo de Ciências e Tecnologia, Caparica.
desencadeou no meu trabalho pessoal uma
nova linguagem formal.
Como dizia Bruno Munari, Das coisas nas-
cem coisas...

Peça de cerâmica

Visões de Química — Novembro 2011 28 – 29


Miguel Faro

Blowing Doyère , 2011 Miguel Faro trabalha e habita em Lisboa, Por-


tugal. Estudou Engenharia Física no Instituto
Blowing Doyère apresenta um plano e uma Superior Técnico, Arquitectura na Faculdade de
Pipeta de Doyère encastrada. Em cada face Arquitectura da Universidade de Lisboa, frequen-
do plano é projectado um vídeo distinto, tando actualmente o último ano da licenciatura
resultante de uma mesma acção, produto de Arte e Multimédia (ramo de Performance e
da intervenção do autor sobre a pipeta. Instalação) da Faculdade de Belas Artes da Uni-
É apresentado um objecto, uma Pipeta de versidade de Lisboa.
Doyére. Este foi preparado para ser exibi- Trabalhando essencialmente com vídeo, fotogra-
do. Carrega em si uma série de significados fia e instalações, opera com questões de iden-
resultantes de mecanismos físicos, men- tidade. O uso do seu corpo, da imagem deste e
tais e sociais que levaram à sua produção, da relação de ambos com estados psicológicos
utilização, conservação e exibição. são temas recorrentes. O dual é elemento qua-
Operando fisicamente sobre o instrumen- se universal no seu trabalho que, muitas vezes,
to, o autor apresenta uma série de relações surge de operações autobiográficas que aliam
duais que actuam em diferentes níveis. A de um modo não científico modelos retirados
relação entre objecto e a sua imagem. A re- da mecânica quântica e a prática de skateboar-
lação entre dois elementos indissociáveis: ding para explorar relações entre o corpo, a sua
o resultado visível de um mecanismo e o imagem e diferentes tipos de espaços (físicos,
funcionamento do mesmo. Uma interacção, emocionais e/ou psicológicos).
entre duas imagens do autor, que está na
base da criação de um novo mecanismo. Exposições (selecção): Valgus Festival 2008 (Tallin,
Uma relação entre esse novo mecanismo, Estónia com curadoria de Indrek Leht e Veronika
de cariz intimista e de representação do eu e Valk); Skyway Festival 2009 (Torun, Polónia com
os mecanismos de uma sociedade científica, curadoria de Mário Caeiro) e Lisboa como metáfo-
produto do colectivo, inerentes à apresenta- ra 2010 (Galeria Quadrum, Lisboa, Portugal com
ção de um instrumento laboratorial. Desta curadoria de Antónia Gaeta). Foi o vencedor do
forma, a relação inicial entre os diferentes prémio BPI 2009/ 2010.
mecanismos associados ao objecto é alte-
rada e reestruturada. Desta operação, em si
mesma um mecanismo, resultam novas re- Instalação-vídeo, dupla projecção, pipeta de Doyère
lações entre objecto, mecanismo e imagem. Formato: 16x9

Visões de Química — Novembro 2011 30 – 31


Miguel Palma

MY DAILY LIFE, 2011. Vive e trabalha em Lisboa. Expõe regularmente


desde os finais dos anos 80.
Uma balança de alta precisão farmacêutica Exposições individuais (selecção):
afere o equilíbrio entre a vida exterior e a 2011, Linha de Montagem, comissariado por Isa-
vida interior do homem contemporâneo. bel Carlos, Centro de Arte Moderna – Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal;
2009, COMMA 01: MIGUEL PALMA (OSMOSIS),
comissariado por Graham Gussin e Sacha Cra-
ddock, Bloomberg Space, Londres, Reino Unido;
2007, Miguel Palma / O Mundo às Avessas, comis-
sariado por Miguel Wandschneider, Culturgest,
Lisboa, Portugal, 2007;
2000, Miguel Palma, Museu de Arte Contempo-
rânea de Serralves, Porto, Portugal;
1997, Traject, Centre de Creation Contemporain
(CCC), Tours, France.

Balança de alta precisão de farmácia dos anos 40,


imagem do artista, co aprovel 150 mg irbesartan/
hicdroclorotiazida, Zolpidem Actavis 10 mg, Tranxene
5 mg Clorazepato dipotássico, Omeprazol 20 mg
Dimensões: 52 x 50 x 25 cm.

Visões de Química — Novembro 2011 32 – 33


MOOV
António Louro, José Niza e João Calhau

Blower Vac MOOV é um estúdio de arte e projecto sedeado


em Lisboa. A sua abordagem adisciplinar procura
A máquina pneumática é um objecto me- explorar novos campos de actuação gerados pela
cânico que tem como função criar vácuo, intersecção da arquitectura com outras áreas do
através da sucção de ar do interior de uma conhecimento, sejam elas criativas ou técnicas.
campânula de vidro, para a realização de Os projectos do estúdio tanto podem ser sinó-
experiências químicas. Interessou-nos esta nimo de uma performance, de uma instalação
propriedade do objecto em criar vazio, urbana, de um filme ou um edifício.
de estarmos perante uma máquina cujo Na área da arquitectura destacam-se entre ou-
principal objectivo era produzir ausência tros o projecto Habitats Abertos vencedor do
Blower Vac é uma instalação que utiliza o ar Concurso Internacional de Ideias Galápagos –
como matéria de transformação do espaço Latitude 0 integrado na XV Bienal Internacional
e como detonador da mensagem através Panamericana de Arquitectura (2006) e o pro-
da sua presença ou ausência. O público jecto Forwarding Dallas, vencedor do Concurso
é convidado a interagir com um dispositvo Internacional de Ideias RE:Vision Dallas (2009).
eléctrico transformado que aspira ou so- No campo artístico, os MOOV têm desenvolvido
pra ar. Essa movimentação alternada de ar várias instalações urbanas para eventos nacionais
provoca o enchimento ou esvaziamento de e internacionais, dos quais se destacam a instala-
duas bolsa de tecido que incorporam em si ção/performance Seta Amarela apresentada em
duas mensagens distintas que só podem ser diversas cidades entre 2004 e 2008 tais como
visualizadas uma vez efectuado o respecti- Lisboa, Coímbra e São Paulo; a instalação urbana
vo processo de insuflação ou desinsuflação. DEMO_Polis apresentada na Luzboa’06 Bienal
Internacional da Luz; a instalação Long Streets
for Short Stories criada para o Valgus Festival
em Tallin, Estónia; e a instalação urbana Soap
Catharsis Wall desenvolvida para o Skyway’09
em Toruń, Polónia.

Material: Aspirador eléctrico, tecido elástico


Objecto quimico interpretado: Máquina Pneumática
Dimensões: 110 x 100 x 50cm

Visões de Química — Novembro 2011 34 – 35


VISÕES DE QUÍMICA
O Laboratorio Chimico no Campus
um projecto conjunto FCT-UNL e MCUL
Coordenação
José J. G. Moura
Ana Alves Pereira
em colaboração com
Sílvia Reis e Isabel Carvalho
CuradorES
José J. G. Moura
Ana Maria Eiró
em colaboração com
Ana Romão e Marta Lourenço
Arquitectura
Teresa Nunes da Ponte
em colaboração com
Sónia Antunes e Bruno Terra da Motta
Fotografia
Claudia Schweizer
Luís Tirapicos
Mário Sousa
Paulo Cintra
Vasco Teixeira
Design gráfico da exposição
Camy
CONSULTORIA
Mário Caeiro
Design Gráfico do catálogo

Francisca Monteiro e Rosa Quitério para:


Palavrão, Associação Cultural. Chancela. Núcleo de Edição
IMPRESSÃO
Textype, Artes Gráficas, Lda.
Depósito Legal: 336624/11
Helena Abrantes | Susana Anágua | Miguel Faro | MOOV
Miguel Palma | Ana Romana | Ana Vasconcelos | Enrique Williams

José J. G. Moura | Ana Maria Eiró (CURADORES)

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