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HISTÓRIA DA ARQUITETURA

A História da Arquitetura é uma subdivisão da História da Arte responsável pelo estudo da


evolução histórica da arquitetura, seus princípios, ideias e realizações. Esta disciplina, assim
como qualquer outra forma de conhecimento histórico, está sujeita às limitações e
potencialidades da história enquanto ciência: existiram diversas perspectivas em relação ao
estudo da arquitetura, a maior parte das quais ocidentais.
Segundo Jonathan Glancey, a História da Arquitetura conta o caminho do notável esforço
humano de conseguirmos um abrigo, de tentarmos dar ordem e sentido ao nosso mundo.

“A arquitetura é o momento em que um edifício é imbuído de uma magia


sábia que o transforma de mero abrigo em obra de arte consciente de si.”
JONATHAN GLANCEY

As primeiras grandes obras de arquitetura remontam à Antiguidade, mas é possível traçar as


origens do pensamento arquitetônico em períodos pré-históricos, quando foram erigidas as
primeiras construções humanas.
Para efeitos didáticos, traçamos uma cronologia da história da arquitetura iniciando com os
períodos pré-históricos, antiguidade e antiguidade clássica com as contribuições das primeiras
civilizações Grega e Romana, avançamos pela idade Média com as inesquecíveis catedrais e
alcançamos a idade Moderna e Contemporânea onde apreciamos as diversas produções
arquitetônicas dos dias atuais aliados a tecnologia e inovação.

1. Pré-História 4.5. O Islã


1.1. Arquitetura Paleolítica e Neolítica 4.6. O Gótico
2. Antiguidade 5. Idade Moderna
2.1 . Mesopotâmia 5.1. Renascimento
2.2 . Egito 5.2. Maneirismo
3. Antiguidade Clássica 5.3. Arquitetura Barroca
3.1. Grécia Antiga 5.4. Arquitetura neoclássica
3.2. Roma Antiga 6. Idade Contemporânea
4. Idade Média 6.1. Estilos do Século XIX
4.1. Estilos Medievais 6.2. Estilos do Século XX
4.2. Arquitetura Bizantina 6.3. Arquitetura Pós-Moderna
4.3. Os Mosteiros 6.4. Arquitetura Desconstrutivista
4.4. Estilo Românico 6.5. Arquitetura High-Tech
1 - Pré-História
1.1 - Arquitetura Paleolítica e neolítica

Durante a pré-História surgem os primeiros monumentos e o homem começa a dominar a


técnica de trabalhar a pedra. O surgimento da Arquitetura está associado à idéia de abrigo. O
abrigo, como sendo a construção predominante nas sociedades primitivas, será o elemento
principal da organização espacial de diversos povos. Este tipo de construção ainda pode ser
observado em sociedades não totalmente integradas na civilização ocidental, como os povos
ameríndios, africanos, aborígenes, entre outros. A presença do abrigo no inconsciente coletivo
destes povos é tão forte que ela marcará a cultura de diversas sociedades posteriores: vários
teóricos da Arquitetura, em momentos diversos da história (Vitrúvio, na Antiguidade, Alberti na
Renascença, Joseph Rykwert, mais recentemente) evocarão o mito da cabana primitiva. Este
mito, variando de acordo com a fonte, prega que o ser humano recebeu dos deuses a Sabedoria
para a construção de seu abrigo, configurado como uma construção de madeira composta por
quatro paredes e um telhado de duas águas.
No Paleolítico, quando do homem vivia uma vida nômade, o mesmo utilizava as caverna,
formações naturais nas rochas, para compor seu abrigo.
Quando o homem do paleolítico aprende a trabalhar a pedra, dominar o fogo e entender as
forças da natureza ele consegue produzir seu próprio alimento e domesticar seus animais. Dessa
maneira deixa a vida nômade para viver uma vida sedentária, formando raízes e construindo seu
próprio abrigo.
Os nuragues (figura 01) são os primeiros registros de construções de abrigos feitos pelos
homens. Edificações rústicas em formato de um semi-cone e que imitavam a aparencia das
cavernas do paleolítico. Eram construídos com pedras talhadas em formatos retangulares que
iam se encaixando umas sobre as outras, fechando o ambiente interno que serviria de moradia
para o homem neolítico.

Figura 01 – Nuragues – moradias construídas pelo


homem do Neolítico.
Além dos nuragues, os dólmens (figuras 2) também são representantes da arquitetura do
período pré-histórico.
Os dolmens são monumentos megalíticos tumulares coletivos. O nome deriva do Bretão dol =
mesa e men = pedra. Os dólmenes caracterizam-se por terem uma câmara de forma poligonal ou
circular utilizada como espaço sepulcral. A câmara dolménica era construída com grandes
pedras verticais que sustentam uma grande laje horizontal de cobertura. As grandes pedras em
posição vertical, denominadas esteios ou ortóstatos, são em número variável entre seis e nove.
A laje horizontal é designada de chapéu, mesa ou tampa. Existem câmaras dolménicas que
chegam a ter a altura de seis metros. Devido ao peso dessas pedras, suspeita-se que eles já
tinham conhecimento da alavanca.
Nas câmaras mortuárias dolménicas, além de restos de esqueletos, têm sido encontrados vários
objectos em pedra, cerâmica, ossos, armas e utensílios, como machados de pedra polida, pontas
de seta, micrólitos, vasos campaniformes, etc.
Os dólmens podem ser classificados em:
 Dólmens simples fechados: possuem a câmara dolménica fechada, não tendo à partida
nenhuma abertura, sendo necessária a remoção da tampa aquando de cada novo
enterramento;
 Dólmens simples abertos: possuem a câmara dolménica aberta na parte lateral da
câmara, por uma abertura que pode assumir várias formas;
 Dólmens de corredor: possuem um corredor ou galeria de acesso à câmara formado por
diversos esteios verticais, normalmente cobertos por lajes menores designadas por
tampas.

Figura 02 – Dolmens – estruturas megalíticas tumulares


Outro monumento megalítico, datado do período neolítico, foram os menires, grandes pedras
verticais cravadas no chão e que também tinham um sentido religioso e tumular. Quando o
homem primitivo aproximou dois menires percebeu que era possível a construção de uma
estrutura parecida com um portal ou trílito, uma sequência de trílitos compõe uma colunata
(figura 3). Mais tarde, já na cultura grega, esse princípio da coluna e arquitrave será presente na
arquitetura do templo grego.

Coluna Trílito Colunata


Figura 03 – Coluna, trílito e Colunata

A junção dos dolmens e menires organizados em círculos, elipses, retângulos ou semicirculos


deram forma aos Cromlech, estruturas megalíticas associadas ao culto dos astros e da natureza,
sendo considerado um local de rituais religiosos e de encontro tribal. O cromlech mais conhecido
é o de Stonehenge na Inglaterra (figura 4).

Figura 04 – Cromlech de Stonhenge – Inglaterra.


2 – ANTIGUIDADE
2.1 - Mesopotâmia

Em 8.000 a.C, grupos de caçadores – coletores do Oriente Médio começaram a tentar


domesticar plantas e animais. Um suprimento confiável de água localizado entre os rios
Tigre e Eufrates e que se estendia até o Delta do Rio Nilo era conhecido como Crescente
Fértil (figura 05) e proporcionava um ambiente favorável a agricultura. Nessas comunidades
estabelecidas por agricultores, as pessoas começaram a se especializar em ofícios e o
comércio prosperou, dando origem às primeiras cidades.

Figura 05 – Crescente Fértil – início das primeiras civilizações

A forma de organização social na Mesopotâmia começou com núcleos familiares formados


por camponeses, artesãos e pastores. O sistema de drenagem de pântanos, associado à
irrigação dos rios e à prevenção contra as enchentes, possibilitou aos povos mesopotâmicos
a criação de animais como ovelhas, porcos, cabras e gado. Esse último também era útil ao
transporte de mercadorias e à agricultura nos vales férteis.

As primeiras civilizações mesopotâmicas foram aquelas criadas pelos povos sumérios e


acádios por volta do final do quarto milênio antes de Cristo. Esses povos eram oriundos das
regiões do planalto iraniano. Os sumérios foram responsáveis pelo desenvolvimento do
sistema de drenagem dos pântanos e pela fundação de cidades como Eridu, Ur e Uruk, os
primeiros núcleos urbanos da Mesopotâmia.
As outras civilizações que se desenvolveram na Mesopotâmia foram os amoritas ou
babilônios, os assírios e os caldeus. Cada uma dessas civilizações destacou-se por constituir
impérios de grandes proporções na Mesopotâmia, tendo cada império organizado sua
administração de uma forma peculiar. Os babilônios notabilizaram-se, por exemplo, pelo
desenvolvimento de um sistema de código jurídico elaborado pelo rei Hamurabi, conhecido
como Código de Hamurabi (olho por olho, dente por dente).

De forma geral, as cidades-estado da Mesopotâmia possuíam um rei que era também chefe
militar e sacerdote religioso. O nome dado a quem possuía essas funções era Patesi. Na base
social das cidades da Mesopotâmia estavam os agricultores, os pastores e os escravos;
seguiam-se a esses os artesãos e comerciantes, e, por fim, estavam aqueles que
armazenavam, registravam e distribuíam as mercadorias. Associados ao rei, estavam, no
alto da hierarquia social, os escribas, que dominavam a técnica da escrita cuneiforme
(escrita em forma de cunha) – outra característica fundamental das civilizações
mesopotâmicas –, que era gravada em tabuletas de argila e utilizada para melhor organizar a
administração dos impérios.

Ademais, as civilizações da Mesopotâmia também desenvolveram grandes obras de


arquitetura e arte, como os templos conhecidos como Zigurates (figura 06). Os jardins
suspensos da Babilônia são considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo e uma
das obras arquitetônicas mais complexas da história.

Figura 06 – Zigurate – Templo da Mesopotâmia


O zigurate (pirâmide em degraus) era construído a partir de tijolos crus secados ao sol. Um dos
maiores e primitivos registrado pela história é o Zigurate de Urnammu, em Ur, na Suméria
(figura 7). A construção erguia-se acima de uma cidade de 35.000 pessoas como uma montanha
artificial. O acesso ao topo era feito por uma imponente escadaria. Esse grande templo era visível
por quilômetros na planície, um sinal para os fazendeiros das pastagens irrigadas ao redor que
seus sacerdotes estavam intervindo junto aos deuses a seu favor.

Figura 07 – Zigurate de Urnammu, Cidade de Ur, Suméria – 2.125 a.C

Das cidades que surgiram na Mesopotâmia, a Babilônia foi a primeira capital rigorosamente
planejada . Era uma cidade murada que se erguia às margens leste e oeste do Rio Eufrates e era
cruzada por uma ponte, parte de uma grande avenida processional que atravessava o templo
principal e o complexo palaciano. Era uma visão impressionante e colorida. (Figura 08).

Figura 08 – Cidade de Babilônia – Gravura artística


Além dos templos representados pelos zigurates, os palácios também representaram a
arquitetura praticada na Mesopotâmia. Através do grande primeiro império surgido no mundo, o
Império Persa, fundado por Ciro II, vimos surgir o Palácio de Persépolis. Sob a direção imperial e
com o empréstimo estilístico de outras civilizações com que os Persas tiveram contato, criou-se
um novo tipo de arquitetura, mais livre na forma, mais decorativa e mais leve.
O Palácio de Persépolis, iniciado por Dario I e finalizado por Artaxerxes I, foi construído em tijolo
pedra e terracota. O acesso ao palácio, erguido em uma imponente plataforma, era feito po ruma
grande elevação de degraus rasos flanqueadas por relevos representando imagens do povo e
guerreiros do novo império. O palácio era um complexo de vários edifícios, entre eles um harem
e o mais famoso, o Salão das Cem Colunas, uma sala de trono que media 68m² com teto de
madeira sustentado por uma floresta de colunas com capiteis em forma de touros e unicórnios
(figura 9 e 10).

Figura 09 – Escadaria do palácio de Persépolis e


capitéis decorados com touros.

Figura 10 – Salão das Cem Colunas – Sala do Trono do Palácio de


Persépolis.
2.2 – Egito
Situado ao nordeste da África (figura 11), o Egito, ao norte, é cercado pelo mar Mediterrâneo, ao
sul pelas cataratas do rio Nilo na Núbia (Sudão), a oeste pelo deserto da Líbia e ao leste faz
fronteira com o Mar Vermelho.
Esta é a localização que temos atualmente, mas, se conseguirmos imaginar que na antiguidade
não havia fronteiras demarcadas, as principais regiões do Egito formavam oásis fluviais no
deserto. Essas regiões eram o vale do Nilo, o delta e o Fayum. As outras regiões sofreram
mudanças de acordo com o período e os governos.
Observando a localização descrita acima, podemos verificar que o Egito ficava num local bem
protegido e provavelmente esse foi um dos motivos que permitiu seu desenvolvimento. O
isolamento geográfico permitiu que o país se estabilizasse e fortalecesse.

Figura 11 – Localização do Egito.

Os antigos egípcios aplicaram seus conhecimentos de matemática à extração, transporte e


assentamento dos enormes blocos de pedra utilizados em seus projetos arquitetônicos. Tinham
uma longa tradição no uso de tijolos e de vários tipos de pedra, tradição que remonta aos tempos
primitivos. Começaram a usar o pesado granito no início do III milênio antes da Era Cristã,
aplicando‑o nos pisos de alguns túmulos da I dinastia em Abidos. Durante a II dinastia,
empregaram o calcário na construção das paredes dos sepulcros.
Uma nova fase iniciou‑se na III dinastia. Trata‑se de um avanço de fundamental importância na
história da arquitetura egípcia: a construção da pirâmide em degraus de Saqqara – a primeira
edificação egípcia inteiramente em pedra –, que faz parte do imenso complexo funerário do rei
Zoser.
O arquiteto Imhotep, provavelmente vizir do rei Zoser (cerca de -2580), foi o construtor do
conjunto que inclui a pirâmide em degraus (Figura 12), onde, pela primeira vez, empregou a
pedra talhada. Os blocos eram pequenos e pareciam uma imitação, em calcário, do tijolo cru,
antes usado na arquitetura funerária. As colunas incrustadas e as traves de sustentação do teto
eram, igualmente, cópias em pedra dos feixes de plantas e das vigas utilizadas na construção
primitiva. Tudo indica, pois, que a arquitetura egípcia estava entre as primeiras a fazer uso da
pedra talhada em fiadas regulares .

Figura 12 – Pirâmide em degraus do Rei Zoser

O Egito desenvolveu uma grande variedade de formas arquitetônicas, das quais a pirâmide, sem
dúvida, é a mais característica. As primeiras pirâmides eram em degraus e somente a partir da IV
dinastia (cerca de -2300) foram tomando a forma triangular (figura 13). Desse período em
diante, os arquitetos abandonaram o uso das pedras pequenas da III dinastia, em favor dos
enormes blocos de calcário e de granito.

Figura 13 – Pirâmides de lados lisos – Planalto de Gizé.


Até a conquista romana, a arquitetura civil continuou a empregar o tijolo cru, mesmo nas
construções de palácios reais. Os edifícios anexos do Ramesseu, em Tebas, e as grandes
fortificações núbias nos dão uma boa ideia da versatilidade desse material. Podia ser usado com
muito requinte, como se pode observar no palácio de Amenófis IV, em Tell el‑Amarna, cujos
pavimentos e tetos foram decorados com pinturas (figura 14).

Figura 14 – Templo de Abu Simbel

Outra contribuição no campo da arquitetura é a criação da coluna, que, a princípio, era embutida
na parede e mais tarde tornou‑ se isolada. O meio ambiente influenciou fortemente o
desenvolvimento da arquitetura no antigo Egito. A ideia da coluna, por exemplo, foi inspirada na
observação de plantas silvestres, como o junco e o papiro. Os capiteis das colunas eram talhados
na forma da flor do lótus, do papiro e de outras plantas (figura 15), o que constitui uma outra
inovação arquitetônica. As colunas caneladas e os capiteis em forma de lótus, de papiro, e de
palma foram adotados pela arquitetura de outras culturas.

Figura 15 – Colunas com capitéis em forma de papiro


Uma construção de proporções tão magníficas é prova da habilidade arquitetônica e
administrativa dos antigos egípcios. A construção dos corredores ascendentes que conduzem à
câmara de granito do rei e a existência de duas aberturas ou respiradouros (nos lados norte e sul
da câmara real) que se estendem para o exterior de modo a assegurar a ventilação são dois bons
exemplos de sua engenhosidade.
As proporções, medidas e orientação exatas das câmaras e dos corredores das pirâmides (figura
16), sem falar no talhe e na ereção dos gigantescos obeliscos de pedra maciça, indicam uma
grande habilidade técnica, de raízes muito antigas.

Figura 16 – Galerias internas das pirâmides egípcias

Para o transporte e o assentamento dos blocos de pedra, os egípcios utilizavam alavancas, rolos e
travessas de madeira. Seus empreendimentos arquitetônicos, apesar das dimensões gigantescas,
empregavam apenas a força de braços humanos, sem o uso de quaisquer meios mecânicos além
do princípio da alavanca em suas diversas formas.
O conhecimento técnico adquirido pelos egípcios na construção e na irrigação – advindo da
escavação de canais e da construção de diques e barragens – manifestou‑se ainda em outros
campos relacionados à arquitetura. Por volta de -2550, tinham perícia suficiente para construir
uma barragem de pedra talhada num uadi próximo ao Cairo. Pouco tempo depois, seus
engenheiros abriam canais navegáveis nas rochas da Primeira Catarata, em Assuã. Pelo que tudo
indica, por volta de -1740 conseguiram erigir uma barragem no próprio Nilo, em Semneh, na
Núbia, para facilitar a navegação em direção ao sul. E, finalmente, durante o mesmo período,
construíram, paralelamente à Segunda Catarata, uma rampa sobre a qual faziam deslizar as
embarcações com o auxílio do limo fluido do Nilo. A rampa, predecessora do diolkos do istmo de
Corinto, tinha uma extensão de vários quilômetros e evitava que as corredeiras da Segunda
Catarata viessem a constituir um obstáculo à navegação.
A paisagística e o urbanismo são outros aspectos da arquitetura egípcia. Os egípcios apreciavam
os jardins. Mesmo os pobres procuravam plantar uma ou duas árvores no estreito pátio de suas
casas. Quanto aos ricos, seus jardins rivalizavam em tamanho e exuberância com as próprias
residências. Durante a III dinastia (cerca de -2800), era comum um alto oficial possuir um jardim
com mais de 1 ha sempre com uma piscina, traço distintivo dos jardins egípcios. O jardim era
organizado em torno de uma ou mais piscinas. Elas serviam como viveiros de peixes,
reservatórios de água e como fonte de ar fresco para a casa, que se situava nas proximidades.
Muitas vezes o dono da casa mandava construir um gracioso pavilhão de madeira junto da
piscina, onde pudesse respirar o ar fresco da noite e receber amigos para um drinque
refrescante.
Ocasionalmente, essas piscinas artificiais eram bastante grandes. O lago do palácio de Snefru
tinha dimensões suficientes para que seu dono pudesse navegar em companhia de jovens
remadoras levemente vestidas; Amenófis III dispunha de uma imensa piscina em seu palácio
tebano. Esse gosto egípcio por jardins‑ parque transmitiu‑se posteriormente aos romanos.
Ao que parece, o urbanismo não é invenção do gênio grego. Já em -1895, no reinado de Sesóstris
II, a cidade de Kahun foi construída no interior de um amuralhado retangular. Dispunha de
edifícios administrativos e residenciais. As casas destinadas aos trabalhadores, das quais
aproximadamente 250 foram reveladas pelas escavações, eram construídas em blocos ao longo
de ruas de 4m de largura, que corriam em direção a uma artéria central de 8 m de largura. Cada
casa ocupava uma área de terreno de 100 a 125 m2 e continha uma dúzia de aposentos em um
só nível. Em outra parte da cidade, localizavam‑se as casas dos dirigentes – casas que chegavam
a ter até setenta aposentos, ou habitações mais modestas, que, no entanto, eram
consideravelmente maiores do que as dos trabalhadores. Também eram construídas ao longo de
avenidas retas, paralelas aos muros da cidade. No centro dessas avenidas corria uma valeta de
escoamento.
As grandes fortalezas da Núbia seguiram esse mesmo modelo de construção. O mesmo
planejamento urbano foi adotado no Novo Império, notadamente em Tell el‑Amarna, onde as
ruas se cruzavam em ângulos retos, embora a própria cidade não apresentasse o mesmo rigor
geométrico de Kahun. Por certo seria arriscado sugerir que todas as cidades egípcias tinham uma
disposição semelhante à de Kahun ou Tell el‑Amarna, que foram construídas ao mesmo tempo e
sob as ordens de um único soberano (figura 17). Cidades que se desenvolveram aos poucos
deviam ter um aspecto menos regular. Mas o fato é que os planos geométricos da cidade e a
padronização das moradias revelam as tendências do planejamento urbano egípcio. E cabe aqui
uma pergunta: não seriam os egípcios os precursores do urbanismo helênico?

Figura 17 – Planta da cidade de Tell El-Amarna

Se, por um lado, é incontestável a importância da contribuição egípcia no domínio da


arquitetura, torna‑se difícil, por outro lado, avaliar a influência de um tal legado no plano
mundial. Arquitetos de diferentes culturas utilizaram – e ainda hoje utilizam – colunatas,
pirâmides e obeliscos que, inegavelmente, são de origem egípcia. Mas não terá havido, além
disso, uma influência mais remota que chegou até nós por intermédio dos gregos? É difícil não
reconhecer nas colunas fasciculadas de Saqqara e nas colunas protodóricas de Beni‑ Hassan os
ancestrais remotos das colunas da Grécia e, mais tarde, da arte clássica romana. Um fato, ao
menos, parece confirmado: as tradições arquitetônicas dos faraós penetraram na África através
de Méroe e, depois de Napata, que transmitiram formas – pirâmides e pilonos entre outras – e
técnicas – construção com pedras talhadas pequenas e bem modeladas.
3 – ANTIGUIDADE CLÁSSICA
3.1 - Gregos
Ao serviço da vida pública e da vida religiosa, a arquitetura grega pretendia a conjugação
harmoniosa de ambos os conceitos. A arte grega clássica foi uma arte racional, a expressão
da comunidade e do homem/cidadão. Conseguiu aliar estética e ética, política e religião,
técnica e ciência, realismo e idealismo, beleza e funcionalidade, servindo a vida pública. A
Arquitetura grega tinha as seguintes características :
 Considerada livre – valorizava o Homem;
 Inteligência humana era superior à fé;
 Retratos do dia a dia, natureza, mitologia e manifestações gregas;
 Busca da perfeição
A cultura grega desenvolve-se principalmente na península do Peloponeso, nas ilhas
próximas e na costa mediterrânea próxima à atual Turquia, durante o segundo e primeiro
milénios a.C. O período considerado o mais importante da cultura e da arquitetura grega é
aquele que se desenvolve entre o séculos VII a.C. e IV a.C. Concentra-se na arquitetura
religiosa – templos – com grande rigor de dimensões, estabelecendo proporções
matematicamente precisas; os templos são construídos de pedra (mármore). O Parthenon –
templo dedicado à deusa Atena (figura 18), na Acrópole de Atenas –, erguido entre 447 a.C. e
438 a.C., no governo de Péricles, é uma das mais conhecidas e admiradas construções do
período. Um traço marcante da arquitetura grega é o uso de colunas, estabelecendo "ordens"
características: dórica, jônica e coríntia. A arquitetura clássica tem como princípios a
racionalidade a ordem a beleza e a geometria.

Figura 18 – Templo de Parthenon


A arquitetura Grega tem no templo sua expressão maior e na coluna sua peculiaridade. A
coluna marca a proporção e o estilo dos templos (figura 19). Na arquitetura do período
geométrico, entre os anos 900 e 725 a. c., as casas consistiam num plano irregular e os
templos apresentavam planta ora longa e estreita, ora quase quadrada, com uma coluna
central (ou fila central de colunas) como arrimo. Os materiais de construção mais utilizados
eram o tijolo cru e a madeira, com alguma utilização da pedra no período arcaico (600 e 500
a. c.) a arquitetura desenvolve-se a partir de influências da cultura micênica e outras culturas
mediterrâneas.

Figura 19 – Planta básica e fachada do templo grego

Um sistema de ordens definiu as proporções ideais para todos os componentes da


arquitetura, de acordo com proporções matemáticas preestabelecidas. A ordem era baseada
no diâmetro de uma coluna, com outros elementos derivando dessa medida (figura 20).

Figura 20 – Gráfico das ordens gregas


A seguir, segue as características de cada ordem grega (figura 21):
• Ordem Dórica - A Ordem dórica teve início em finais do século VII a.C. As colunas (frente e
fundo do templo eram de 4 a 6 vezes mais altas do que o diâmetro do fuste) circundavam
cada lado. Cada coluna tinha vários tambores sobrepostos com 20 caneluras ou entalhes
verticais. Estes elementos proporcionavam coerência e unidade visuais, além de fluidez, às
colunas segmentadas. A forma do templo é chamada de "carpintaria petrificada" pois, ao
utilizarem a pedra, os gregos adaptaram técnicas usadas em construções de madeira. A
decoração do templo dórico dá ênfase à estrutura. Os pilares eram espessos e ligeiramente
salientes no meio, como se estivessem comprimidos pelo peso de sua carga. O formato
básico de um templo dórico fundamenta-se numa estrutura retangular de mármore, cercada
por uma fileira dupla de colunas, com um pórtico na frente e outro atrás. Eram em geral
baixos e maciços.
• Ordem Jônica - A característica principal da Ordem Jônica encontra-se na voluta presente
num capitel jônico. O fuste de cada coluna é 8 a 9 vezes maior do que seu diâmetro . Os
templos jônicos parecem geralmente mais delicados do que os robustos templos dóricos. As
ordens dórica e jônica lançavam mão de motivos abstratos ou semi-abstratos para
simbolizar a vida orgânica. O erectéion (421- 406 a .c.) é uma obra prima iônica sobre a
acrópole. Foi construído em homenagem aos deuses Atena e Posêidon. São famosas suas
cariátides, as seis estátuas de jovens mulheres esculpidas no mármore que dão sustentação
ao teto (pórtico das virgens). Entre os elementos arquitetônicos que mais o caracterizam
têm destaque os frisos que adornam a parte superior das fachadas frontal e dos fundos do
prédio. Projeto em 2 níveis, com 4 pórticos separados e colunas de diferentes alturas, e não
uma colunata contínua circundada por um peristilo.
• Ordem Coríntia - No período helenístico, os arquitetos passam a fazer uso de ornamentos
inspirados no acanto e outras plantas. Surgiu assim, a última ordem da arquitetura Grega, a
Coríntia, anunciada no templo de Apolo Epicuro, em Bassae, o qual se veu a popularizar a
partir de 334 a.c.. O fim do período clássico presenciou uma revitalização do estilo jônico,
por influência do arquiteto Píteas (túmulo de Mausolo, em Halicarnasso, 349 a.c.), que
abandonou a busca do refinamento em troca da monumentalidade. A marca do estilo
coríntio é o capitel característico, moldado como um sino invertido cercado por folhas de
acanto. As edificações associadas ao Helenismo produziram efeitos grandiosos e em escala
monumental.
Figura 21 – Acima o Templo de Poseidon
– ordem Dórica, abaixo e a esquerda o
Templo de Atena Nike – ordem Jônica e
abaixo e a direita o Templo de Zeus –
ordem Corintia.

A arte e arquitetura evoluiu em três períodos evidentemente definidos pelas suas


características estéticas e tecnológicas: O período arcaico, período clássico e o período
helenístico.
A arquitetura arcaica distinguia-se consoante a ordem arquitetônica. As diferenças estavam
bem patentes na coluna, cujo aspecto formal era a identidade estilística. O tipo de edifício
que mais contribuiu para a evolução arquitetônica foi o templo. Era concebido para ser a
morada dos deuses e derivava a partir do mégaro micénico. Era constituído por um telhado
de duas águas, duas colunas na entrada, e uma parte interior. dividida em três secções. A sua
evolução foi demarcada pela gradual uniformização numa planta retangular. O objetivo final
da arte era a procura da beleza, unidade, e harmonia universais, alicerçadas, é claro, por uma
filosofia que buscou a relação do Homem com o divino, com o mundo e a sua origem, com a
vida e a morte, assim como com a dimensão interior do próprio Homem. Hoje, a estes
valores designamos por Classicismo.
O farol de Alexandria (279 a.c.), foi o mais alto farol jamais construído, uma escultura de
mármore de 4 andares gradualmente afunilados (122m). (Entre os anos 300 e 100 a.c.), tal
tendência desapareceu e os arquitetos, acostumados a projetar novas cidades, buscaram o
complexo arquitetônico, que realizaram em sítios. Foi a época do desenvolvimento do
urbanismo: Os pórticos multiplicaram-se e as ruas cruzaram-se em ângulo reto,
frequentemente flanqueadas por colunatas. O plano das ágoras (praças) tornou-se regular,
com construções consagradas às reuniões populares, basílicas, termas públicas, ginásios,
estádios. O anfiteatro em Epidauro ainda está em uso. Consiste em 55 fileiras semicirculares
e assento de pedra para 14 000 espectadores (350 a.C.).
A acrópole é o principal ponto turístico da Grécia. Localizada no topo de uma colina, a cerca
de 100m de altitude, e coroada pelo Parthenon, pode ser praticamente vista de qualquer
ângulo da cidade. Sua área cobre cerca de 40km2 e reúne um considerável número de ruínas
remanescentes de obras de grandes artistas da Grécia antiga, como Ictinos, Fídeas e
Calícrates.
Além dos templos os gregos construíram também teatros para diversão e cultos e os e
estádios para esportes (figura 22).

Figura 22 – A esquerda o teatro de Dionísio e a direita o


estádio de Afrodisias

O Teatro Grego tinha um formato de semicírculo com um altar ou orquestra ao centro. Atrás
da orquestra ficavam o proscênio e os camarins (figura 23). A arquibancada onde os
expectadores sentavam ficavam no semi-circulo e eram construídas em um terreno com
declividade tal que acomodasse todos sentados e permitisse a visão do espetáculo. Ao centro
aconteciam os concertos e também os festejos e oferendas religiosas. Ao fundo da orquestra
o proscênio era o palco das tragédias gregas encenadas à época. Atrás do proscênio ficavam
os camarins utilizados pelos artistas antes para preparação dos espetáculos.

Figura 23 – Esquema do teatro Grego.


3.2 – Romanos
A arquitetura da Roma Antiga é um importante legado da civilização romana para o mundo
ocidental. Embora às vezes considerada como derivada da arquitetura grega, diferenciou-se
por características próprias. Alguns autores agrupam ambos os estilos designando-os por
arquitetura clássica.
São características da arquitetura romana:
 busca do útil imediato, senso de realismo;
 grandeza material, realçando a idéia de força;
 predomínio do caráter sobre a beleza;
 originais: urbanismo, vias de comunicação, anfiteatro, termas.
Alguns tipos de edifícios característicos do estilo clássico propagaram-se por toda a Europa,
nomeadamente o aqueduto, a basílica, uma grande rede de estradas, a domus (residência),
arcos do triunfo e o Panteão (Figura 24). Os monumentos romanos se caracterizam pela
solidez; aprenderam com os etruscos o emprego do arco, assim como a abóbada ou teto
curvo, que os gregos e egípcios não conheceram.

Figura 24 – Templo do Panteão.


A longevidade e a extensão do Império Romano explicam o porquê de monumentos e
edificações serem tão notáveis e numerosos em comparação com outras civilizações antigas.
Construções importantes foram executadas na época da República e do Império. O Panteão,
por exemplo, atravessou os séculos e chegou à atualidade em bom estado de conservação. O
local, cujo diâmetro da planta baixa é igual à altura da cúpula, erguido para servir de morada
dos deuses, representa um dos marcos da engenharia e arquitetura romanas.
As estradas construídas pelos romanos também revelam técnicas sofisticadas de construção.
É o caso da Via Appia (figura 25), a mais famosa das estradas que saíam de Roma. Outro
ponto de destaque da arquitetura da época são os aquedutos, exemplo da associação entre
construção e funcionalidade. Eles propiciaram o abastecimento das cidades antigas com a
chegada de água originária de colinas e montanhas a mais de 80 quilômetros de distância.
Algumas características da arquitetura da Roma antiga ainda hoje são usadas. Os aquedutos
continuam a fornecer água para algumas vilas modernas. As abóbadas instaladas desde os
tempos da Antiguidade Clássica pelos romanos ainda compõem alguns núcleos de casas. E o
cimento, que começou a ser usado na época da República de Roma, ainda é importante
elemento de construção.

Figura 25 – Via Ápia – liga Roma ao sul da Itália.


Os romanos constituíam uma sociedade em constante expansão, com grande contato com
outros povos e culturas, e portanto cosmopolita. Isso fez com que a cultura romana fosse
muito diversificada, sofrendo influências e incorporando as características dos locais pelos
quais passava e dominava. A arquitetura de Roma seguiu esta linha, sendo influenciada
principalmente pela arquitetura grega e etrusca.
A herança da Grécia se deu através das ordens dórica e jônica - nomes de regiões gregas
onde esses estilos eram mais empregados. Essas duas ordens correspondem, de forma geral,
às colunas dos templos. O dórico, usado sobretudo no exterior dos templos gregos, acabou
sendo mais frequente nas colônias gregas e no sul da península Itálica (a Magna Grécia). O
jônico, estrutura mais elaborada e usada em templos de devoção a divindades femininas,
esteve presente em maior quantidade na costa oeste da Ásia Menor e nas ilhas do mar Egeu.
Ambos os estilos, no entanto, coexistiram em alguns locais. Ainda foi usada como referência
para os romanos a ordem coríntia, uma variedade do jônico, porém mais trabalhada e
rebuscada.
Os elementos gregos estavam muito presentes nos traços romanos, principalmente as
concepções clássicas dos estilos jônico, dórico e coríntio. Contudo, esta apropriação não foi
intacta. Os romanos reinventaram estes elementos, criando novas ordens, ora a partir da
mistura entre características jônicas e coríntias, ora na retirada de estrias do corpo das
colunas (ordem toscana), que até então compunham o estilo dórico.
Os etruscos viviam ao norte da Itália, na região que hoje chamamos de Toscana. Deste povo,
os romanos herdaram o emprego do arco e da abóbada. Os templos, por exemplo, receberam
influências de ambas as culturas, grega e etrusca: planta retangular, teto de duas águas,
vestíbulo profundo com colunas livres e uma escada na fachada dando acesso ao pódio ou à
base.
Acredita-se que os etruscos ensinaram os romanos a construírem pontes, fortificações,
sistemas de drenagem e aquedutos. Muitos desses monumentos não resistiram ao tempo e,
por isso, não é possível assegurar o tamanho da influência etrusca. A própria figura da loba
que amamentou Rômulo e Remo, mito fundador da cidade de Roma, é provável que seja
resultado de uma mitologia etrusca, confirmando uma influência não só arquitetônica dessa
civilização.
A Porta Augusta de Perugia, um portão etrusco em forma de arco, foi uma das construções
que sobreviveram ao passar dos anos. A importância dela está no pioneirismo de unir o arco
a uma ordem arquitetônica. Os romanos desenvolveram, posteriormente, essa aliança entre
estilo de arquitetura e arcos. Das influências dos etruscos e dos gregos, emergiu uma
arquitetura romana própria, que foi disseminada pelo seu território.
Prova de que os romanos conseguiram imprimir suas próprias características na arquitetura
é a criação das ordens toscana e compósita. A primeira tem inspiração no estilo dórico,
porém mais simplificado. E a segunda busca a referência no coríntio e no jônico. O império
absorveu características regionais e as fundiu em um padrão comum estabelecido pela
cidade de Roma.
A arquitetura romana caracterizou-se pela forte influência dos modelos etrusco e grego, e
pode ser dividida em duas fases estilísticas: primeiro o estilo pré-imperial (republicano), e
posteriormente o estilo imperial. Enquanto o estilo republicano se consolidou
principalmente na arquitetura, como são exemplos o Teatro de Marcelo e a Basílica Júlia, o
estilo imperial se expandiu no domínio das artes.
Diferentemente da arquitetura grega, na romana o trabalho técnico dos engenheiros era
predominante. As soluções para novos modelos de construção são mais importantes que a
decoração artística, de forma que a funcionalidade sobressai. Ainda hoje temos exemplos
desse traço da arquitetura romana nas ruínas de vários edifícios, pontes, aquedutos e outras
obras, além das rotas que ligavam o Império Romano.
Entre as inovações técnicas, o período republicano destacou-se pelo uso de uma espécie de
cimento, composto por diferentes materiais, que permitiram um melhor desenvolvimento
das construções. Além das pedras e tijolos utilizados, o cimento romano permitia a formação
de uma liga na junção dos materiais, tornando as construções mais sólidas. A partir do século
II a.C., os arquitetos trabalhavam com dois novos materiais de construção: o opus
caementicium (concreto armado) e olatericium (ladrilho que tinha mais versatilidade que o
concreto). Com combinação dos dois novos materiais era possível construir obras de
enormes dimensões e ao mesmo tempo leves. Os principais materiais utilizados nas
construções eram pedra cortada em blocos regulares, tijolo de concreto, alvenaria, madeira,
gesso, mármore e azulejos.
Outra mudança ocorrida nas formas de construção e nos materiais utilizados foi a retomada
do uso do mármore no período da República Romana. A variedade de materiais antes
empregada, como a argila, o calcário e algumas pedras específicas, utilizadas pelos etruscos,
cedeu lugar ao mármore, apontando a forte influência grega neste período. Também as
abóbadas surgiram do projeto dos gregos, mas foram os romanos que conseguiram
empregá-las nas construções, expandindo o seu uso para os espaços externos dos edifícios.
Aperfeiçoando a forma, criaram as abóbadas em berço e as abóbadas de aresta,
transformando-a no elemento central da sua arquitetura.
Os arcos também são considerados característicos na arquitetura romana e é nos aquedutos
que o seu uso é mais perceptível. Os arcos sustentam a estrutura e transformam a
construção em obra de arte, tornando harmônica a obra. O exemplo mais surpreendente de
aqueduto romano ainda hoje é a Pont du Gard perto de Nîmes, na França. Os aquedutos
possibilitaram o uso mais abrangente da água, que por meio destes podia ser escoada para
as cidades e locais distantes da fonte.
As basílicas, outro exemplo da arquitetura romana, eram grandes edifícios construídos em
praça pública que abrigavam diversas funções: profanas, políticas, comerciais e judiciais.
Pela largura da construção, abrigavam todos os elementos arquitetônicos e artísticos da
época. Em geral o espaço alongado era sustentado por colunas em arco e as laterais
abrigavam abóbadas nos tetos.
Durante o período republicano outro aperfeiçoamento arquitetônico a partir do modelo
grego aconteceu no teatro. Mantendo o espaço aberto utilizado pelos gregos, os romanos, no
entanto, introduziram novas características. O teatro antes construído sobre uma depressão
para facilitar a localização da plateia passou a ser construído em solo plano. A divisão entre a
plateia e o palco é feito por uma linha reta, e constrói-se uma fachada ao fundo do palco,
inovando a dimensão espacial.
Na construção dos templos, os romanos empregaram os estilos de capitel grego nos adornos
das suas colunas, valorizando o estilo coríntio com folhas de acanto em favor do dórico e do
jônico, menos rebuscados.
PRINCIPAIS CONSTRUÇÕES ROMANAS
1 - TERMAS
As termas romanas eram edifícios para banhos públicos e constituíam um ponto de encontro
muito frequentado pelos romanos, principalmente no período imperial. Possuíam local
separado para vestiário, piscina, banho quente, frio e com temperatura intermediária, além
de locais para exercícios, jardins e até bibliotecas. Os primeiros edifícios termais datam do
século I a.C. As Termas de Caracala foram inauguradas em 216 d.C. e são consideradas a
maior construção do tipo.
2 – TEATROS E ANFITEATROS
Esse tipo de edificação começou a aparecer no fim do período republicano, instalada
preferencialmente no coração das cidades romanas. Para isso, eram construídas sobre uma
estrutura de pilares e abóbodas, uma diferenciação importante dos teatros gregos, que
utilizavam declives naturais. Os teatros romanos recebiam principalmente os combates
entre gladiadores ou entre gladiadores e feras. O mais antigo anfiteatro conhecido é o de
Pompeia (75 a.C.) e o maior e mais famoso é o Coliseu de Roma (70-80 d.C.) (figura 26) , que
tinha capacidade para pelo menos 45 mil espectadores sentados e mais cerca de 5 mil em pé.

Figura 26 – Coliseu Romano

3 - ESTRADAS
As estradas romanas eram um grande diferencial do império. Suas principais funções eram
na esfera militar e da comunicação, no serviço de mensageiros, de cuja rapidez dependia a
administração do extenso império. As estradas eram construídas com grandes pedras, com
traçado retilíneo e tipicamente alisadas. A Via Ápia foi a primeira e principal estrada romana,
construída em 312 a.C. para ligar Roma à cidade de Cápua.
4 - AQUEDUTOS
Os romanos desenvolveram um complexo e grandioso sistema de aquedutos (figura 27) para
abastecer as cidades com água. A cidade de Roma tinha a maior concentração de aquedutos:
construídos num período de 500 anos, eram 11 ao todo, somando 416 km de extensão.
Contudo, os aquedutos eram em grande parte subterrâneos – apenas 47 km eram elevados –,
o que os mantinha longe de carcaças de animais, e consequentemente de doenças, e ainda
evitava ataques inimigos. Os europeus mantiveram da herança romana a arte de canalizar a
água em aquedutos. Um exemplo dessa influência são os Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro,
construídos pelos portugueses.
Figura 27 – Aqueduto

5 – TEMPLO ROMANO
Os templos romanos seguiam principalmente o estilo jônico. Diferentemente dos templos
gregos, eles não possuíam abertura por todos os lados e sim uma entrada com degrau e
pórtico apenas na parte frontal. O Panteão é o mais importante templo da cidade de Roma e
se encontra até hoje em ótimo estado de conservação. Seu domo possui 43 metros de
diâmetro e 43 metros de altura, sendo o maior do mundo da sua época. Dedicado a todos os
deuses romanos, o Panteão foi construído em 27 a.C. por Marco Vipsânio Agripa, e depois
reconstruído em 125 d.C., graças a um incêndio que atingiu o templo. Foi preservado ao ser
transformado em igreja, no século VII, e continua conhecido hoje pelo nome de Igreja de
Santa Maria e Todos os Santos.
6 – ARCOS DO TRIUNFO
Foram os romanos quem introduziram este tipo de monumento arquitetônico. O arco do
triunfo (figura 28) era construído após vitórias em batalhas, para simbolizar e homenagear o
triunfo do exército romano. Os arcos eram feitos inicialmente de madeira e possuíam as
campanhas militares esculpidas nos baixos-relevos, além dos despojos dos vencidos.
Atualmente existem cinco arcos de triunfo em Roma, representando os triunfos de Druso,
Tito,Septímo Severo, Galiano e Constantino, todos em mármore.

Figura 28 – Arco do Triunfo Romano - Tito


7 - CASAS
A típica casa romana, a domus (figura 29), era mais modesta que os templos religiosos, mas
também possuía uma organização particular. No centro das casas ficava o atrium, uma
espécie de pátio interno, ao qual se acedia diretamente da rua pelo ostium. Compreendia o
impluvium, que armazenava a água da chuva por meio de calhas dirigidas para o interior da
casa. Como esse era localizado no centro da casa, os aposentos sociais ficavam nas laterais do
atrium, e atrás, oposto a entrada, ficava otablinium, espécie de escritório do chefe da casa.
Esse modelo de casa foi muito comum durante o período republicano, sendo encontrado
sobretudo nos vestígios arqueológicos de Pompeia. Além desse modelo, eram recorrentes
também as insulae (figura 30), que reuniam pequenas casas em um único prédio, como
edifícios de apartamentos.

Figura 29 – Domus da cidade de Pompéia

Figura 30 – Insulae da cidade de Herculano.

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