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27/12/2021 03:36 13º Mundos de Mulheres & Fazendo Gênero 11 - Anais eletrônicos

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GÊNERO E TRABALHO: UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS CONFIGURAÇÕES DA
DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO NO RAMO DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO RIO DE
JANEIRO – RJ

Nathalya Royer1

Resumo: O presente trabalho pretende analisar como se configuram os horizontes da divisão sexual do trabalho,
levando em consideração o crescimento lento, embora contínuo, da inserção feminina no mercado de trabalho, nos
segmentos da construção civil, na cidade do Rio de Janeiro. Este estudo se orienta na busca de elementos que
evidenciam mudanças capazes de romper com as desigualdades, no que tangem as relações sociais de sexo inseridas no
mercado de trabalho, a partir de uma discussão acerca dos contornos, noções e limites que tratam sobre gênero e divisão
sexual do trabalho. Portanto, foi fundamental à pesquisa o desenvolvimento de entrevistas semi-estruturadas e
observações, pertinentes ao trabalho executado por mulheres que laboram no acabamento/ finalização das
obras, desempenhando, especialmente, as funções de azulejista, ceramista, pedreira e pintora. Assim, também foi
possível vislumbrar, através da ótica destas trabalhadoras, o significado da inserção da mão de obra feminina na
construção civil e quais as motivações que justificaram o deslocamento destas mulheres para este ramo.

Palavras-chave: Gênero, divisão sexual do trabalho, construção civil.

Introdução

Através de uma discussão acerca dos contornos, noções e limites da questão de gênero e da
divisão sexual do trabalho, o presente artigo analisa a inserção das mulheres em profissões
tradicionalmente concebidas como “masculinas”, no ramo da construção civil, nos canteiros de obra
da cidade do Rio de Janeiro - RJ.
Acerca das primeiras análises realizadas, por meio de entrevistas e observações, do trabalho
desempenhado por mulheres, que executam às funções de azulejista, ceramista, pedreira e pintora,
foi possível realizar algumas considerações, principalmente, entorno do “processo de feminilização”
que está despontando no setor de acabamento e finalização das obras.
Assim, através da ótica das trabalhadoras investigadas foi possível vislumbrar qual o
significado da inserção da mão de obra feminina na construção civil e quais as motivações que
justificam o deslocamento destas mulheres para este ramo. Além disso, também objetivou-se
encontrar elementos capazes de evidenciar transformações substanciais que rompam com as
desigualdades de gênero, no que tangem às relações sociais de sexo inseridas no mercado de
trabalho, nas profissões predominantemente masculinas.

1. Gênero e Divisão Sexual do Trabalho: contornos, noções e limites

1
Mestranda em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Graduada em Direito pela
Universidade Estadual de Maringá (UEM). Membro do Grupo de Pesquisa Configurações Institucionais e Relações de
Trabalho (CIRT-UFRJ). E-mail: nah_royer@hotmail.com.

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“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. Com esta frase, a filósofa francesa Simone de
Beauvoir (1967) teorizou em torno das desigualdades construídas em função da diferenças entre os
sexos, distinguindo dois conceitos: o sexo e o gênero. O primeiro, de uma forma simplificada, é
“dado” ao corpo, ou seja, um componente biológico. O segundo, seria fruto da construção social,
qual atribuiria determinados papéis na sociedade, orientados em função da biologia. Portanto, a
noção de ”feminilidade”, para a autora, nada mais é do que um código de regras comportamentais,
que visa relegar a mulher um lugar de subalternidade.
Quando se trata sobre gênero, subsistem referências a um conceito construído pelas ciências
sociais, nas últimas décadas, para analisar a trajetória sócio-histórica das identidades: masculina e
feminina (SCOTT, 1995). A teoria aduz que, dentre os elementos que fazem parte do sistema de
gênero, se mantém um discursos de legitimação ou ideologia sexual – patriarcal –, que reconhece
como autêntica a ordem estabelecida entre masculino e feminino, fundamentando a hierarquia dos
homens com relação as mulheres. São sistemas de crenças, que determinam o que é característico a
cada sexo e, a partir de então, indicam quais os direitos, os espaços, as atividades e os
comportamentos próprios a cada gênero (SALZNAM, 1992 apud PULEO, 2004).
Há vários discursos que legitimam as desigualdade de gênero. A mitologia é possivelmente
a mais antiga (MADRID, 1999 apud PULEO, 2004). Os mitos contavam que na Grécia, Pandora
abriu uma caixa que continham todos os males do mundo, devido à curiosidade própria do sexo
feminino e, por causa disso, as mulheres deveriam responder pelo desencadeamento das desgraças
mundanas. Outro discurso de legitimação, com mais relevância, é a religião. As religiões de maior
adesão têm justificado, no decorrer dos séculos, os comportamentos próprios de cada gênero. Eva,
que foi expulsa do paraíso após comer o fruto proibido, culpada pelos pecados terrenos, por
desobedecer as ordens de Deus, pode ser comparada à Pandora em um cenário judaico-cristão.
Nesse sentido, o enaltecimento da humildade e obediência da Virgem Maria, em um período auge
das sufragistas, teve como propósito limitar a força desse movimento (Wagner, 1991 apud PULEO,
2004).
Mas, não são apenas o mito e a religião, discursos que legitimam as desigualdades de
gênero: a divisão sexual do trabalho, categoria utilizada para indicar a determinação e a execução de
tarefas destinadas a homens ou a mulheres, contribui para a manutenção das desigualdades no
campo doméstico e profissional, gerando assim “uma diferenciação de funções, com distribuição
assimétrica do controle, da hierarquia, da qualificação, da carreia e do salário” (CRUZ, 2008) nas
relações de trabalho.

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O alicerce da divisão sexual do trabalho pauta-se em dois princípios organizadores : “o
princípio de separaçaõ (existem trabalhos de homens e trabalhos de mulheres) e o princípio
hierárquico (um trabalho de homem “vale” mais que um trabalho de mulher)”. Tais princípios saõ
concebidos como válidos para todas as sociedades, no tempo e no espaço. Estão sujeitos a um
processo especif́ ico de legitimaçaõ , a ideologia naturalista, que diminui o gênero ao sexo biológico
e limitam as práticas sociais a “papéis sociais”, que remetem ao destino natural da espécie
(HIRATA & KERGOAT, 2007).
Embora ambos princípios estejam presentes em todas as sociedades e sejam legitimados pela
naturalização, não significa que a divisão sexual do trabalho seja algo imutável. Longe disso, a
divisão sexual do trabalho tem uma capacidade de se modelar, já que suas modalidades variam no
tempo e no espaço. O que são sólidas, não são as situações, que evoluem sempre, mas a distância
entre os grupos de sexo (HIRATA & KERGOAT, 2007).
Quando se trata sobre divisão sexual do trabalho, subsiste na atualidade uma questão que
deve ser respondida: presencia-se o surgimento de uma nova divisão sexual do trabalho? De acordo
com HIRATA (2002-b), responder a tal indagação não é uma tarefa fácil, já que a crise econômica
que introduziu a reestruturação produtiva flexível, conduziu a implicações complexas para o labor
feminino, de maneira que os diversos aspectos diretamente correlacionados com este trajeto não
podem ser analisados isoladamente. Portanto, é imprescindível que o percurso do labor feminino
seja analisado a partir de questões relacionadas ao gênero. Salienta ainda que, não é correto falar
em uma nova divisão sexual do trabalho, mas sim, em novos contornos, uma vez que as mutações
decorrentes da acumulação flexível trouxeram novas implicações, novas características, que
reforçaram às desigualdades e a exploração, só que a base da divisão sexual do trabalho não se
alterou de fato.
Enquanto “forma de divisaõ do trabalho social decorrente das relações sociais entre os
sexos”, a divisão sexual do trabalho é um fator necessário para a sobrevivência da relaçaõ social
entre os sexos. Tal configuração “é modulada histórica e socialmente. Tem como características a
designaçaõ prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e,
simultaneamente, a apropriaçaõ pelos homens das funções com maior valor social adicionado
(polit́ icos, religiosos, militares etc.)” (HIRATA & KERGOAT, 2007). Portanto, atinge às
trabalhadoras do sexo feminino, em maior ou menor grau, gerando diferenciação nas funções,
distribuições assimétricas do controle, da carreira, do salário, da qualificação e da hierarquia.
A partir desta perspectiva, levando-se em consideração uma crescente participação das

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mulheres em setores majoritariamente masculinos, como é o caso da construção civil, que em pouco
mais de uma década triplicou o número de vagas ocupados por mulheres2 – tanto nas profissões que
carecem de nível superior (engenharia, arquitetura), como nos ofícios que não necessitam
(exemplo: azulegista, pedeira(o), rebocador(a), ceramista) –, verifica-se, tendências de
transformações que apontam para redesenhos da divisão sexual do trabalho no processo de
reestruturação produtiva.
Esta investigação, em essência, pode contribuir para a compreensão das tendências de
mutações na divisão sexual do trabalho e suas implicações para o labor feminino, no ramo da
construção civil. Permitindo, assim, tecer reflexões acerca das relações sociais de sexo e relações de
gênero, além de promover a visibilidade de mulheres inseridas em ramos profissionais que não lhes
prestigiam.

2. As mulheres na construção civil

O acesso das mulheres aos canteiros de obra, exercendo funções que não necessitam de
ensino superior, como por exemplo: das azulegista, pedeiras, rebocadoras, ceramista, deu-se,
sobretudo, pela falta da mão-de-obra, ocasionada pelo crescimento avançado da construção civil,
entre 2004 e 2013, devido o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o “Minha Casa,
Minha Vida”.
Ocorre que, as transformações no mercado de trabalho, aliadas à crescente presença das
mulheres no mercado de trabalho e ao acesso dessas às profissões tradicionalmente masculinas, naõ
significou a ruptura com as antigas formas de opressaõ e desigualdades que sempre estiveram
presentes na tradicional divisaõ sexual do trabalho (SANTANA, 2009). O deslocamento das
mulheres para a construçaõ civil, exercendo profissões e cargos que até então eram exclusivos aos
homens, reafirmou a reprodução de uma lógica que restringe às mulheres dentro de alguns setores
específicos, que exigem suas “habilidades naturais, como trabalhos manuais, ditos mais leves
(LOMBARDI, 2006).

2
“Do ano de 2000 a 2013, pouco mais de uma década, é possível verificar a evolução do emprego feminino na
construçao
̃ civil. Como comprovam os dados do MTE, RAIS, CBIC: 83,000 em 2000, 137,969 em 2008, 240,945 em
2011 e 276,588 em 2013. Estes dados demonstram um deslocamento das mulheres para este setor de modo constante e
significativo”(JORGE, 2015).

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As atribuições de tarefas e de lugares sociais destinados às mulheres e aos homens
continuam existindo, apesar das mulheres adentrarem às profissões masculinas, no interior destas
mesmas profissões, elas acabam ficando restritas às tarefas relacionadas a destreza, capricho e zelo.
Assim, mesmo com às transformações em curso – seja pelas polit́ icas de inserçaõ feminina
(mediadas pelos cursos de qualificaçaõ profissionais, devido à falta de maõ de obra do setor) e pelas
mudanças culturais promovidas pelo movimento feminista – , a lógica de que existem papéis
destinados aos homens e as mulheres continua sendo reafirmada nestes espaços, dentro dos novos
contornos que a divisaõ sexual do trabalho vai ganhando (JORGE, 2015).
Segundo às pesquisas desenvolvidas por Maria Aparecida Jorge (2015), que têm apontado
os paradoxos da divisão sexual do trabalho, apesar dos novos contornos mascados pelas mudanças
culturais conquistadas pelas mulheres, que ajudaram a promover a inserção feminina no mercado de
trabalho, levando-as também a assumirem profissões tradicionalmente masculinas, como é o caso
dos ofícios ligados a construção civil – um dos setores em que as (os) trabalhadoras(es) mais sofrem
com os avanços da precarização, principalmente nas funções de baixa qualificação, mostrando-se
claramente através da grande quantidade de trabalhadores informais, temporários, sem carteira
assinada, com baixa escolaridade, sem os direitos trabalhistas e previdenciários assegurados
(SANTANA & OLIVEIRA, 2004) –, ainda recai sobre estas trabalhadoras o peso das relações
patriarcais. Estas relações impõem às mulheres o trabalho doméstico, a exploraçaõ , os salários
inferiores, as desigualdades de tratamento e de oportunidades.
Apesar das dificuldades enfrentadas pelas mulheres ao adentrarem nos postos de trabalhos
majoritariamente masculinos, dos setores ligados a construção civil, alguns avanços significativos
devem ser mencionados, principalmente, no que tange à legislação. Alguns Municípios aprovaram
Projetos de Lei, com o intuito de reservar 5% das vagas de trabalho para mulheres, nas empresas de
construção civil privadas, que realizassem obras para a pela Prefeitura,, vejamos:

Mediante iniciativa do governo federal, por meio da Secretaria de Políticas Públicas para as
mulheres, em vários Estados e Municípios têm sido aprovados Projeto de Lei, que destina
5% de vagas para mulheres na construçao ̃ civil, em licitações estaduais e municipais. Estes
Projetos de Lei, obrigam o Poder Executivo, a incluir em seus editais de licitaçaõ em todos
os contratos diretos, uma cláusula com a exigência de reserva mínima e 5% das vagas de
emprego no setor, especificando que não são considerados os serviços de limpeza, faxina e
afins, bem como em funções administrativas. Em muitos Estados e Municípios esta medida
vem sendo estudada, por meios de projetos de lei que tramitam nas respectivas Assembleias
Legislativas e Câmaras Municipais (JORGE, 2014).

Neste sentido, no Município do Rio de Janeiro, o Projeto de Lei Complemenar n. 9, foi


proposto no dia 9 de janeiro de 2013, com o intuito de reservar vagas, no mesmo percentual

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supracitado, para trabalhadoras do sexo feminino, nas empresas de construção civil, que fossem
prestadoras de serviços para a Prefeitura. O projeto acabou sendo aprovado no dia 12 de março de
2015 e virou a Lei Complementar n. 150/2015. Na justificativa, da propositura do Projeto de Lei,
segue a seguinte redação, assinada pelo Vereador Marcelo Piuí (do PHS – Partido Humanista
Solidariedade, que encerrou seu mandato em 2016) :

É imprescindível que se garanta as oportunidades de empregos para as pessoas do sexo


feminino que hoje, muitas vezes, são elas as únicas provedoras da família. Dessa forma faz-
se necessário esta reserva de vagas para mulheres para que haja um aumento de ocupação
das mesmas , principalmente nas áreas onde emprego feminino é quase insignificante.
Na construção civil as mulheres vem ganhando espaço, no entanto são poucas as mulheres
empregadas nessa área que não fazem parte da equipe de limpeza e ou
administrativa.Importante ressaltar que já existem cursos profissionalizantes que preparam
mulheres para atuar na construção civil.
Devemos incentivar a produção de empregos, igualdade entre gêneros e a dignidade da
pessoa humana através do susutento e é importante que a administração pública municipal
exija das empresas de construção em obras públicas e na área privada, que reservem vagas
para as mulheres.
Pelo exposto, conclamo aos nobres pares desta Casa de Leis a aprovarem a presente
proposição legislativa. (BRASIL, 2013)

A entrada em vigor de tal dispositivo legal não garante que este seja necessariamente
efetivado, tampouco o direito ou as leis, por si só, têm o poder de transformar a realidade social.
Porém, tal legislação demonstra que o direito está em movimento, assim como as transformações
nas relações sociais de sexo. E ainda indica que, o direito, enquanto um produto social, está
tentando se moldar às necessidades sociais, que apontam para a necessidade da inserção da mulher
em profissões “masculinizadas”, para que assim, ocorram transformações significativas nos moldes
tradicionais da divisão sexual do trabalho. Através da inserção da mulher na esfera produtiva, nos
espaços majoritariamente masculinos, em especial, os possuam um forte valor social agregado; em
conjunto com a divisão das tarefas relacionadas ao trabalho reprodutivo; é que haverá uma
diminuição das opressões relacionadas às relações sociais de sexo no mercado de trabalho.

3. As configurações da Divisão Sexual do Trabalho no ramo da Construção Civil no Rio de


Janeiro – RJ

Na perspectiva de interpretar como se configuram os novos contornos da divisão sexual do


trabalho, no deslocamento da mulher para a construção civil e quais as semelhanças e divergências
com o plano geral e teórico exposto por diferentes autores da sociologia do trabalho, optou-se, para

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o estudo empírico3, a cidade do Rio de Janeiro, por ser pioneira na qualificação da mão de obra
feminina, no ramo da construção civil, com o Projeto Social, da engenheira civil Deise Gravina,
intitulado “Mão na Massa”4. Iniciado em 2007, destinou-se exclusivamente às mulheres de baixa
renda, beneficiárias dos programas sociais do governo, da cidade do Rio de Janeiro. Desde então,
tal projeto transformou o setor da construção civil, vindo a se espalhar por diversas capitais do país,
também por vários segmentos e associações, não com o mesmo nome, mas mantendo a sua ideia
original.
Para Deise Gravina, era o desejo de muitas mulheres atuarem na construção civil, devido a
possibilidade de obterem melhores salários, bem como adquirirem algumas garantias trabalhistas
oferecidas através do mercado formal de trabalho. Para isso, começaram a procurar os cursos de
capacitação para pedreira, eletricista, ceramista, pintora, ofertados através do projeto que por ela foi
idealizado. Desta forma, muitas mulheres que atuavam como empregadas domesticas, babás,
diaristas, migraram destas profissões em busca de mulheres salários. Ocorre que, desde 2015, o
setor da construção civil vem passando por uma crise sem precedentes, o que fez com que o número
de mulheres interessadas nestes cursos de capacitação diminuisse.
O perfil das trabalhadoras do sexo feminino entrevistadas, que laboram nos canteiros de
obras, da cidade do Rio de Janeiro, é o seguinte: mulheres negras; na faixa entária entre 18 a 45
anos; com baixa escolaridade; que recebem baixos salários, porém, apesar deste fato, alegam que
ganham mais do que no período em que desempenhavam suas antigas profissões/ atividade; a maior
parte destas mulheres migraram de trabalhos considerados “femininos”, ligados ao cuidado, limpeza
e carinho, como por exemplo: empregadas domésticas, babás, diaristas, entre outras.
Uma caracteristica bem marcante das profissões ligadas a construção civil, na cidade do Rio
de Janeiro, que atinge tanto os homens quanto às mulheres, é a informalidade dos contratos de

3
Além da pesquisa bibliográfica, para a compreensão de discussões e análises acerca dos termos e conceitos
fundamentais, que comportam o tema central do estudo, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, para a coleta de
dados nos canteiros de obras no Município do Rio de Janeiro. Tal modalidade combinou perguntas abertas e fechadas,
para possibilitarem ao entrevistado discorrer sobre o tema proposto. A vantagem desta técnica consiste no fato da
existência de respostas mais amplas, já que subsiste elasticidade quanto à sua duração, permitindo uma cobertura mais
profunda sobre o assunto. Outra vantagem diz respeito à dificuldade que algumas pessoas possuem em responder por
escrito. Assim, não houve nenhum problema com a existência de pessoas que não sabiam ler ou escrever. Ademais, este
tipo de entrevista possibilitou uma maior interação entre o entrevistado e o entrevistador, já que as respostas saíram
mais espontâneas (BONI, 2005). O artefato buscou identificar quem são estas mulheres que laboram na construção
civil, qual a idade que possuem, nível de escolaridade, trajetória profissional, de onde estão se deslocando, quais os
motivos que levaram essas mulheres a procurarem trabalhos vinculados à construção civil, qual o tempo que gastam
com o trabalho doméstico, se laboram na informalidade ou se possuem seus direitos trabalhistas assegurados, etc.
4
Até o final de 2015, mais de 600 mulheres participaram do programa de qualificação profissional para as funções de
Pedreira, Carpinteira, Encanadora, Eletricista e Pintora. Sendo que, através do banco de empregos, organizado e
monitorado pelo projeto, trezentos e trinta postos de trabalho foram conquistados.

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trabalho e a instabilidade destes postos de labor. Uma vez que, o emprego dura enquanto à obra
durar. Assim, caso a construtora não tenha outros empreendimentos para serem realizados ocorrem
dispensas em massa, no momento em que a obra cessa.
As relações de trabalho entre as pessoas do sexo feminino e masculino, que laboram no
ramo da construção civil, são permeadas por questões de gênero, perceptíveis através da divisão
sexual do trabalho. Pelos canteiros de obra, o que se escuta é que o trabalho desempenhado pelas
mulheres é mais organizado, cuidadoso e detalhado. Além disso, às trabalhadoras mulheres
desempenham funções correlacionadas, especialmente, ao acabamento e finalização da obra. Na
maior parte dos casos realizam os ofícios de azulejista, ceramista e pedreira.
Outrossim, são vários os entraves para as mulheres galguem ainda mais espaço nessa fatia
do mercado de trabalho, que vão desde dificuldades no processo de seleção (pois, algumas empresas
do ramo da construção civil não contratam mulheres, com medo destas sofrerem assédio sexual por
parte dos funcionários homens, vindo a empresa a sofrer uma ação trabalhista) até mesmo para a
manutenção dos seus empregos (nos tempos de crise, precebeu-se uma maior fragilidade do
emprego feminino do que do masculino, ainda que essas mulheres fiquem quase que
majoritariamente concentradas no setor de finalização da obra); implicações para galgarem papéis
de destaque nesse ramo; diferenciação com relação as funções desenvolvidas; diminuição do valor
atribuído as tarefas executadas pelas mulheres, por parte dos trabalhadores do sexo masculino.
Por fim, a ausência da compreensão da discriminação de gênero sofrida diariamente por
parte destas trabalhadoras, somada ao fator de desinteresse na promoção de programas que
fomentem a igualdade de gênero, dentro das empresas do ramo da construção civil, corroboram para
a manutenção da naturalização dos papéis sociais exercidos pelos homens e pelas mulheres, bem
como para o distanciamento dos grupos de sexo em setores específicos, apesar do aumento do
número de mulheres nestes espaços.

Conclusão

A divisão sexual do trabalho está constantemente se esculturando, posto que, as suas


modalidades sofrem metamorfoses através do tempo e do espaço. As situações nas relações de
trabalho, nas relações familiares e domésticas se modificam, não permanecem estáticas, já o
distanciamento entre os sexo continua algo bem solidificado, uma vez que existem “papéis sociais”
e características próprias vinculadas a noção de “feminilidade” e “masculinidade”.

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Nesse contexto, através do estudo de caso, no que tange a divisão sexual do trabalho,
verificou-se que, apesar dos novos contornos das relações de trabalho, com a entrada das mulheres
na construção civil, em profissões chamadas de “masculinas”, não houve profundas alterações na
tradicional divisão sexual do trabalho. Isso se deve ao fato de que às trabalhadoras do sexo feminino
estão localizadas, principalmente, nas funções de acabamento/ finalização da obra e desempenham,
na maioria das vezes, os cargos de: azulejista, ceramista e pedreira. A explicação para estarem
inseridas neste contexto é o de que, uma vez que estas trabalhadoras dispõem de dons e qualidades
femininas, como destreza, minúcia e paciência, por exemplo, seriam mais cuidadosas com os
detalhes que o acabamento final da obra necessita.
Por sua vez, os trabalhadores do sexo masculino que laboravam nas mesmas obras que às
mulheres entrevistadas, desempenhavam funções ligadas às características e as qualidades
atribuídas social e culturalmente aos homens, como por exemplo: força, coragem, virilidade, entre
outros. Assim, estes desempenhavam às profissões de pedreiros, mestre de obra, servente de
pedreiro, armador de ferro, carpinteiro, eletricista, entre outros.
Por fim, sobre o ponto de vista das trabalhadoras, o ramo da construção civil constitui-se um
desafio, no entanto, denota uma possibilidade de autonomia e reconhecimento social, por ser uma
atividade remunerada, exercida fora do âmbito doméstico. Esta realidade aponta para uma nova
configuração das relações no seio familiar, no qual as mulheres são cada vez mais chamadas à
contribuir no sustento familiar, sendo que, o número de lares onde as mulheres são as mantenedoras
cresce. Apesar disso, o número de horas despendidas para as atividades domésticas não diminuiu,
assim, elas gastam mais horas semanais do que os homens que desenvolvem a mesmas atividades
profissionais, levando em conta o tempo total de trabalho no âmbito doméstico e profissional.

Referências

ALVES, Ana Elizabeth Santos. Divisão sexual do trabalho: a separação da produção do espaço
reprodutivo da família. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S1981-77462013000200002. Acesso em 01 de novembro de 2015.

BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo: a experiência vivida, v.2. Rio de Janeiro: Nova
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de 2016.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
BRASIL. Projeto de Lei Complementar Nº 9, de 9 de janeiro de 2013. Rio de Janeiro – RJ, 2013.
Disponível em: http://mail.camara.rj.gov.br/APL/Legislativos/scpro1316.nsf/5d30a86363c9945c03
25775900523a3d /7bd588f69a4bde9e03257b250072fb4f?OpenDocument. Acesso em 13 de
setembro de 2016.

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http://www.fcc.org.br/bdmulheres/serie2.php?area =series. Acesso em 12 de setembro de 2016.

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GENDER AND LABOR: A CASE STUDY ON THE CONFIGURATIONS OF THE


SEXUAL DIVISION OF LABOR IN THE CONSTRUCTION INDUSTRY IN RIO DE
JANEIRO – RJ

Abstract: The present work intends to analyze how the horizons of the sexual division of labor are
configured, taking into consideration the slow but continuous growth of the female insertion in the
labor market in the segments of civil construction in the city of Rio de Janeiro. This study focuses
on the search for elements that evidence changes that are capable of breaking with inequalities, in
which they relate to the social relations of sex inserted in the labor market, starting from a
discussion about the contours, notions and limits that deal with gender and sexual division work. In
order to do that, it was necessary to develop semi-structured interviews and observations related to
the work done by women who work in the finishing / completion of the works, especially
performing the functions of tilemaker, potter, quarry and painter. Thus, it was also possible to
glimpse, through these worker’s optics, the meaning of working in the civil construction and which
are the motivations that justified the displacement for the women to this branch.

Keywords: Gender, sexual division of labor and construction.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

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