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Os Justos Vão Diretamente para o Céu?
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Imagine as seguintes cenas: uma criança com o
rosto riscado de lágrimas lhe pergunta: “Onde está a
minha mãe?” Você a envolve nos braços e diz com a
voz embargada: “Ela está no céu”. Ou, numa visita a
uma irmã idosa que ficou viúva recentemente, você
fala das lutas físicas que o esposo dela enfrentou e
depois segura-lhe a mão e diz: “Ele está melhor ago-
ra. Está com Deus”. Será que essas afirmações sobre
o estado dos mortos estão teologicamente corretas?
Ou será que só refletem a crença de que esta vida
não é tudo o que há e que Deus cuida dos Seus.
Escrevendo aos coríntios, Paulo disse: “Estamos
em plena confiança, preferindo deixar o corpo e ha-
bitar com o Senhor” (2 Coríntios 5:8). Em sua epís-
tola aos filipenses, o apóstolo disse que ele estava
“constrangido, tendo o desejo de partir e estar com
Cristo, o que [era] incomparavelmente melhor” (Fi-
lipenses 1:22, 23). Será que devemos entender estas
duas passagens como uma forma de Paulo declarar
que desde a morte e ressurreição de Jesus, os justos
vão diretamente para o céu após a morte? Talvez,
devamos, outrossim, olhar para elas como uma lin-
guagem acomodativa1 — o mesmo tipo de lingua-
gem que usamos hoje.
Faz pouco tempo que tomamos conhecimento
de professores e pregadores que acreditam que o
propósito dessas duas passagens é introduzir uma
nova doutrina relativa ao estado dos mortos. Nosso
conhecimento da posição sustentada por essa cor-
rente é limitado, portanto, se deixarmos de abordar
alguns aspectos do assunto que o leitor julgar cru-
ciais, não o fizemos deliberadamente.
No material a que tivemos acesso, encontramos
uma variedade de passagens introduzidas na dis-
cussão que, ao nosso entender, nada têm a ver com
o tópico em questão. Aqui está uma amostra.
Hebreus 2:14. É dito que Satanás tinha poder so-
bre o hades antes de Jesus morrer. A prova textu-
al é Hebreus 2:14, que afirma que Satanás tem “o
1 O termo aqui se refere à linguagem ser “adaptada” à
terminologia correntemente em uso.
poder da morte”. Entretanto, o versículo nada diz a
respeito do diabo ter poder sobre o hades. Em vez
disso, é dito que Satanás tinha (e tem) o poder de
matar pessoas (por meio de agentes humanos). O
diabo jamais teve controle algum sobre o lugar para
onde vão os espíritos desencarnados depois que ele
(Satanás) mata o corpo.
Mateus 12:24–29. Quando Jesus foi acusado de
expulsar demônios pelo poder de Belzebu, parte de
Sua resposta foi: “...como pode alguém entrar na
casa do valente e roubar-lhe os bens sem primeiro
amarrá-lo? E, então, lhe saqueará a casa” (Mateus
12:29). A alegação se baseia em que esta é uma refe-
rência a Jesus entrar no hades (“a casa do valente”)
depois de morrer na cruz, retirando dali as almas
dos justos (“os bens” de Satanás). Essa interpretação
imaginativa nada tem a ver com o contexto da pas-
sagem. O versículo refere-se a expulsar demônios
de pessoas vivas2 (Mateus 12:24–29).
Efésios 4:8. Outro versículo usado é Efésios 4:8,
que cita Salmos 68:18: “Quando subiste em triunfo
às alturas, ó Senhor Deus, nosso Salvador, levaste
cativo muitos prisioneiros; recebeste homens como
dádivas” (NVI). Alegam, alguns, que os “prisionei-
ros” são os justos mantidos presos no hades por Sa-
tanás, libertos, porém, do hades para o céu quando
Jesus subiu ao Pai. Entretanto, não há indícios no
texto nem no contexto de que essa interpretação
fosse o propósito do autor. A ilustração é de um rei
fazendo uma entrada triunfal em sua cidade após
uma vitória importante (compare com 2 Coríntios
2:14–16). Os prisioneiros conduzidos nesse desfile
eram os inimigos conquistados pelo rei. O versículo
afirma de modo dramático que, na cruz, Jesus der-
rotou Seus inimigos. Por isso, Ele achou-Se qualifi-
cado para dar “dádivas” ao Seu povo. No contexto,
eram dádivas espirituais concedidas aos cristãos vi-
vos (Efésios 4:7–13).
Em última análise, dentre os principais textos
2 Veja breves comentários sobre Mateus 12:29 na página
40 da edição “A Vida de Cristo — Parte 4”.
1
usados por essa corrente, dois parecem ser os que
mencionamos acima: 2 Coríntios 5:8 e Filipenses
1:233. Será que não é possível harmonizar as afirma-
ções de Paulo sobre estar “com o Senhor” e “com
Cristo” após a morte com o conceito de um estado
intermediário dos mortos?4 O Novo Testamento en-
sina que já nesta vida os cristãos estão “com Cristo”.
Jesus disse que onde houver dois ou três reunidos
em Seu nome, ali Ele estará (Mateus 18:20), e prome-
teu: “Estarei convosco até a consumação do século”
(Mateus 28:20). Paulo orou: “O Senhor seja com to-
dos vós” (2 Tessalonicenses 3:16b), dirigindo-se aos
cristãos enquanto estes estavam vivos. Com certe-
za, o Senhor não deixará de estar “conosco” quando
morrermos. De fato, esperamos que o nosso relacio-
namento com Ele seja ainda mais íntimo desde que
morramos “no Senhor” (Apocalipse 14:13).
Analisemos o seguinte: A maioria, senão todos,
que acredita que os justos vão diretamente para o
céu também acredita que Lucas 16:19–31 descreve
corretamente o estado dos mortos antes da cruz.
Tendo isto em mente, vejamos Eclesiastes 12:7, em
que Salomão disse que, na morte, “o pó [o corpo fí-
sico] volt[a] à terra, como o era, e o espírito volt[a]
a Deus, que o deu”. Utilizando o raciocínio implíci-
to em 2 Coríntios 5:8 e Filipenses 1:23, poderíamos
concluir que mesmo antes de Jesus morrer na cruz,
os espíritos desencarnados bons iam diretamente
para o céu (onde Deus está). Se concluirmos que foi
usada uma linguagem acomodativa em Eclesiastes
12:7, não poderemos deduzir que Paulo usou esse
mesmo tipo de linguagem em 2 Coríntios 5:8 e Fili-
penses 1:23?
Como já mencionamos no artigo anterior, uma
objeção maior à idéia de que os justos vão direta-
mente para o céu é que isto invalidaria, em grande
escala, o ensino bíblico sobre o dia do juízo. Certo
indivíduo tentou eliminar esse problema sugerindo
que, em vez de um único Dia de Juízo na volta de
Cristo, todo homem enfrenta seu próprio “dia do
juízo”, na hora da morte. O espaço não nos permite
um estudo detalhado desse argumento, mas há al-
gumas passagens que devemos analisar:
1)  Á Bíblia fala do “Dia do Juízo” (Mateus 10:15;
3 Algumas idéias apresentadas no artigo anterior reapa-
recem aqui, mas os argumentos são diferentes. Compare os
dois artigos para compor uma exposição completa.
4 Escritores inspirados fizeram afirmações que, super-
ficialmente, parecem contraditórias. Geralmente eles não
se esforçaram para harmonizar suas afirmações. Ambas as
afirmações eram verdadeiras e eles evidenciaram isto. Por
alguma razão, o raciocínio ocidental não consegue descansar
enquanto não puder harmonizar essas afirmações.
2
11:22, 24; 12:36; 2 Pedro 2:9; 3:7; 1 João 4:17) e do “ju-
ízo do grande Dia” (Judas 6). Paulo disse que Deus
“estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo
com justiça, por meio de um varão que destinou e
acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os
mortos” (Atos 17:31). Jesus chamou esse dia especial
de “o último dia” (João 6:39, 40, 44, 54; 11:24; 12:48).
2)  O Dia do Juízo começará com a vinda de
Cristo “na sua majestade e todos os anjos com Ele”
(Mateus 25:31a). “Então, se assentará no trono da
sua glória” (Mateus 25:31b). Os mortos serão ressus-
citados, tanto os bons como os maus (João 5:28, 29;
veja Apocalipse 20:13a).
3)  Todos comparecerão diante do trono (Apo-
calipse 20:11, 12; veja Mateus 25:32a5), e todos serão
julgados (Apocalipse 20:12, 13). Isto inclui os justos.
Paulo, escrevendo a cristãos, disse: “Pois todos com-
pareceremos perante o tribunal de Deus” (Romanos
14:10; grifo meu). E tornou a escrever: “Porque im-
porta que todos nós compareçamos perante o tri-
bunal de Cristo, para que cada um receba segundo
o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo”
(2 Coríntios 5:10; grifo meu).
4)  Quando todos comparecerem diante do Seu
tribunal, Jesus...
...separará uns dos outros, como o pastor
separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ove-
lhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda;
então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita:
Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do
reino que vos está preparado desde a fundação
do mundo... Então, o Rei dirá também aos que
estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim,
malditos, para o fogo eterno, preparado para o
diabo e seus anjos... E irão estes para o castigo
eterno, porém os justos, para a vida eterna (Ma-
teus 25:32–46; veja Apocalipse 20:15; 21:1–4).
Você e eu podemos discordar quanto ao esta-
do atual dos mortos, mas espero que concordemos
com o fato de que haverá um grande Dia de Juízo.
“A vida na terra está caminhando em direção a um
acontecimento culminante.”6
No sermão “Onde Estão os Mortos?” admitimos
que essa pergunta pode ser feita do ponto de vista
que temos apresentado: “Se Lucas 16 descreve uma
divisão entre os salvos e os perdidos antes do Juí-
zo, qual é o propósito do Dia do Juízo?” Naquele
5 Alguns tentam desmentir o ensino de Mateus 25 e Apo-
calipse 20 dizendo que eles se referem a acontecimentos tem-
porais. Veja comentários sobre essas passagens nas edições
“A Vida de Cristo — Parte 11” e “Apocalipse — Parte 10”.
6 David Roper, “Apocalipse — Parte 10,” A Verdade para
Hoje, p. 21.
sermão e em outras exposições, sugerimos várias
possibilidades, incluindo estas duas: o propósito
principal do Dia do Juízo “mais do que identificar
os inocentes ou culpados, é mostrar justiça e emitir
a sentença”7. Também é possível que o estado feliz
ou infeliz de um espírito desencarnado resulte não
da determinação divina, mas do fato da pessoa ter
um discernimento seguro de sua condição espiritu-
al quando libertada do confinamento no corpo mor-
tal. Quaisquer que sejam as dificuldades levantadas
por acreditarmos num estado intermediário, cremos
que elas são menores comparadas com as dificulda-
des encontradas pelo ponto de vista de que os justos
vão diretamente para o céu. Segundo o que enten-
demos desse ponto de vista, ele afirma que as almas
vão primeiro para o céu, depois são retiradas do céu
7 David Roper, When the Books Were Opened (“Quando Os
Livros Forem Abertos”) (folheto). Pasadena, Tex.: Haun Pu-
blishing Co., s.d., p. 9.
Autor: David Roper
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TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
para comparecer diante do tribunal8, voltando por
fim para onde estavam antes.
Encerrando, voltamos a confessar que este é
um dos assuntos que não poderemos compreender
totalmente enquanto estivermos na carne. Na ver-
dade, não se trata de um assunto que deva nos pre-
ocupar demasiadamente. Quando cerrarmos nossos
olhos na morte, e os abrirmos no seio de Abraão no
paraíso, será emocionante. E se abrirmos os olhos
e nos vermos nos braços de Jesus no céu, não fica-
remos decepcionados. De fato, ambas as situações
serão motivo de gratidão! O importante é que você
e eu estejamos prontos para a morte, de maneira que,
independentemente do lugar para onde nossos espí-
ritos forem, nós estejamos “com o Senhor”! Amém
e amém.
8 Como já foi observado, alguns tentam evadir-se deste
cenário negando que não há um grande dia em que todos se-
rão julgados, mas nós cremos que a Bíblia afirma claramente
que haverá o Dia do Juízo.
“O CALVÁRIO DE GORDON” —
identificada por Charles Gordon em
1885 como o provável local onde Cris-
to foi crucificado, essa região norte de
Jerusalém é conhecida como o monte
da Caveira. Gordon concluiu que Je-
sus teria sido morto ao norte do altar,
assim como eram sacrificados os cor-
deiros no Antigo Testamento (Levítico
1:11). Ele ignorava que o local tradi-
cional (onde fica a igreja do Sagrado
Sepulcro) era fora dos muros que exis-
tiam nos dias de Jesus (John McKay,
Archaeology and the New Testa-
ment. Grand Rapids, Mich.:. Baker
Book House, 1991, pp. 211–12).