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Segundo Miguel Reale:

“Princípios são, pois verdades ou juízos fundamentais,


que servem de alicerce ou de garantia de certeza a um
conjunto de juízos, ordenados em um sistema de con-
ceitos relativos à dada porção da realidade. Às vezes
também se denominam princípios certas proposições,
que apesar de não serem evidentes ou resultantes de
evidências, são assumidas como fundantes da validez
de um sistema particular de conhecimentos, como seus
pressupostos necessários”. (REALE, Miguel. Filosofia
do Direito. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1986. p 60).

Nos dizeres de Luís Roberto Barroso:

"são o conjunto de normas que espelham a ideologia


da Constituição, seus postulados básicos e seus fins.
Dito de forma sumária, os princípios constitucionais
são as normas eleitas pelo constituinte como funda-
mentos ou qualificações essenciais da ordem jurídica
que institui." (BARROSO, Luís Roberto. Interpretação
e aplicação da Constituição: fundamentos de uma
dogmática constitucional transformadora. São Paulo,
Saraiva, 1999, pág. 147).

A doutrina de Ruy Samuel Espíndola:

[...] No Direito Constitucional é que a concepção de


fundamento da ordem jurídica como ordem global se
otimiza diante da teoria principialista do Direito. As-
sim, os princípios estatuídos nas Constituições – agora
princípios constitucionais -, ‘postos no ponto mais alto
da escala normativa, eles mesmos, sendo normas, se
tornam, doravante, as normas supremas do ordenamen-
to’ (ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princí-
pios constitucionais: elementos teóricos para uma for-
mulação dogmática constitucionalmente adequada. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. P. 74).

Por sua vez adverte Celso Antônio Bandeira de Mello, sobre


os efeitos de sua inobservância:

“Princípio - já averbamos alhures - é, por definição,


mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicer-
ce dele, disposição fundamental que se irradia sobre di-
ferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo
de critério para sua exata compreensão e inteligência,
exatamente por definir a lógica e a racionalização do
sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá
sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios
que preside a intelecção das diferentes partes compo-
nentes do todo unitário que há por nome sistema jurídi-
co positivo [...]. Violar um princípio é muito mais
grave que transgredir uma norma qualquer. A de-
satenção ao princípio implica ofensa não apenas a
um específico mandamento obrigatório, mas a todo
o sistema de comandos. É a mais grave forma de ile-
galidade ou de inconstitucionalidade, conforme o es-
calão do princípio atingido, porque representa insur-
gência contra todo o sistema, subversão de seus valo-
res fundamentais, contumélia irremissível a seu arca-
bouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isto
porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que os sus-
têm e alui-se toda a estrutura nelas esforçada”. (MEL-
LO, Celso Antônio Bandeira de, Curso de Direito Ad-
ministrativo. 12ª ed. – São Paulo : Malheiros, 2000, p.
747/748.) (grifou-se)

Desta feita, constata-se que os princípios carregam consigo al-


to grau de imperatividade, o que denota o seu caráter normativo, cogente,
impositivo de observância obrigatória cuja violação maculará de ilegalida-
de e/ou inconstitucionalidade o ato do poder público desconforme.

Em que pese constar na norma da Constituição Estadual a ex-


pressão “Os juízes auditores substitutos sucedem aos juízes auditores e
são equiparados, para todos os fins, aos magistrados estaduais de penúlti-
ma entrância.”, constata-se que o referido texto serviu exclusivamente ao
Interessado, então único titular do cargo de juiz auditor substituto.

Portanto a edição da norma em comento fere de forma flagran-


te o princípio da impessoalidade, eis que contrariando o comando genérico
e abstrato que se fundam as normas, em especial, as constitucionais foi edi-
tada de forma a somente a beneficiar o Interessado.

Conforme se pode constar no documento incluso aos autos,


quando da edição do referido ato normativo ora atacado, em que pese a
expressão estar no plural, “os juízes auditores militares substitutivos suce-
dem aos juizes auditores” tem-se a ocorrência do fenômeno da norma de al-
faiate em que a norma é elaborada sobre encomenda objetivando apenas a
atender, sob medida, interesse certo.

Afora a ofensa ao princípio da moralidade, a norma também


afronta o princípio da impessoalidade, o qual, segundo a lição de Celso
Antônio Bandeira de Mello, “traduz a idéia que a Administração tem que
tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas ou detri-
mentosas. Nem favoritismo nem perseguições são toleráveis” argumentan-
do que a impessoalidade nada mais é do que o “próprio princípio da igual-
dade”, previsto pelo art. 5º, caput, da Constituição Federal.

Ainda sobre o tema, Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma


que [...] a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou bene-
ficiar pessoas determinadas, uma vez que é sempre o interesse público que
tem que nortear o seu comportamento. (18 DI PIETRO, Maria Sylvia Za-
nella. Direito Administrativo. 20ª ed, São Paulo: Atlas, 2007, p. 62).

Assim, de acordo com os argumentos coligidos, havendo uma


norma que beneficia servidores em afronta a princípios basilares da Admi-
nistração Pública, como também viola norma constitucional que proíbe a
vinculação ou equiparação de vencimento, preceitos todos previstos pela
Constituição Federal, evidenciada é a sua inconstitucionalidade.
O princípio constitucional da impessoalidade está posto em
nível constitucional no artigo 5º, caput, parte inicial, onde consta que todos
são iguais perante a lei, sem qualquer distinção de qualquer natureza.

Tal assertiva é valida, também, à administração pública, à qual


é defeso infligir qualquer sorte de distinção restritiva ou privilégios, espe-
cialmente por força do caput do artigo 37, que reza que a administração pú-
blica direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Assim, tênue se apresenta a linha divisória entre o princípio da


impessoalidade e da moralidade.

Vejamos o sentido dado por Hely Lopes Meirelles à impessoa-


lidade:

"O princípio da impessoalidade, referido na Constitui-


ção de 1988 (art. 37, caput), nada mais é que o clássico
princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador
público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o
fim legal é unicamente aquele que a norma de direito
indica expressa ou virtualmente como objetivo do ato,
de forma impessoal.
....

Desde que o princípio da finalidade exige que o ato seja prati-


cado sempre com finalidade pública, o administrador fica impedido de bus-
car outro objetivo ou de praticá-lo no interesse próprio ou de terceiros.

Pode, entretanto, o interesse público coincidir com o de parti-


culares, como ocorre normalmente nos atos administrativos negociais e nos
contratos públicos, casos em que é lícito conjugar a pretensão do particular
com o interesse coletivo.
“O que o princípio da finalidade veda é a prática de ato ad-
ministrativo sem interesse público ou conveniência para a Administração,
visando unicamente satisfazer interesses privados, por favoritismo ou per-
seguição dos agentes governamentais, sob a forma de desvio de finalida-
de." (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 15 ed.,
São Paulo:Revista dos Tribunais, 1990, p. 81).

Enquanto a lição de Meirelles empresta ao princípio da impes-


soalidade a identificação com o princípio da finalidade, Celso Antônio
Bandeira de Mello estipula o caráter autônomo do princípio e o caracteriza
como sendo nada mais que o princípio da igualdade ou da isonomia, nos
exatos e seguintes termos:

"Nele se traduz a idéia de que Administração tem que


tratar a todos os administrados sem discriminações, be-
néficas ou detrimentosas. Nem favoritismo nem perse-
guições são toleráveis. Simpatias ou animosidades pes-
soais, políticas ou ideológicas não podem interferir na
atuação administrativa e muito menos interesses sectá-
rios, de facções ou grupos de qualquer espécie. O
Princípio em causa não é senão o próprio princípio da
igualdade ou isonomia (...).”

No texto constitucional há, ainda algumas referências a aplica-


ções concretas deste princípio, como ocorre no art. 37, II, ao exigir que o
ingresso em cargo, função ou emprego público depende de concurso públi-
co, exatamente para que todos possam disputar-lhes o acesso em plena
igualdade." (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Admi-
nistrativo. 8 ed., São Paulo:Malheiros Editora, 1996, p. 68).

Também comunga desse entendimento Juarez Freitas, em sua


obra O Controle dos Atos Administrativos e os Princípios Fundamentais
FREITAS, Juarez. O controle dos atos administrativos e os princípios fun-
damentais. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 64-65:

"No tocante ao princípio da impessoalidade, derivado


do princípio geral da igualdade, mister traduzi-lo como

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