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Assilvestrar
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Índice
Prefácio.............................................................................................. 9
O Liberalismo do presente é o Socialismo do futuro ............... 14
O Meio é a Mensagem................................................................... 20
Uma sociedade sem classe............................................................ 27
O colapso de quê? .......................................................................... 34
Teocracia e Escravatura ................................................................ 44
Uma mera formalidade................................................................. 53
O Supositório Arco-Íris ................................................................. 58
Em Busca de uma Identidade Impossível .................................. 69
Apatia Mortal ................................................................................. 81
A Apologia da Ignorância ............................................................ 97
Sorriso de Raposa ........................................................................ 104
Maio de 68 .................................................................................... 112
Progresso tecnológico e Globalismo ......................................... 118
O Problema da Fundação ........................................................... 129
O Nacionalismo não é necessário, nem suficiente .................. 146
O Papel das Mulheres ................................................................. 156
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O Elefante Tecnológico ............................................................... 169
Informar o Público ....................................................................... 182
A Caverna ..................................................................................... 185
A supremacia da excepção ......................................................... 192
Feira ............................................................................................... 195
Ser Humano .................................................................................. 197
Paradoxos ..................................................................................... 201
Protestar ........................................................................................ 207
José Mário ..................................................................................... 219
Contar a história certa ................................................................. 225
Comunismo e capitalismo .......................................................... 233
Uma derrota concedida .............................................................. 247
O Trigo e o Joio ............................................................................ 251
Uma Fábula .................................................................................. 257
O Novo Sagrado .......................................................................... 260
Prisioneiros de Guerra ................................................................ 264
Religiões Seculares ...................................................................... 271
Existe sistema ‘pós-industrial’? ................................................. 277
Progressistas somos nós todos, desde pequenos* ................... 283
Bolas e Doces ................................................................................ 297
O Espírito Lusitano...................................................................... 304
O Culto do Microscópio.............................................................. 309
6
A Política à luz da Técnica ......................................................... 320
A Abordagem Conspiratória ..................................................... 336
A Cidade nas Escrituras ............................................................. 343
A Civilização e as suas consequências ..................................... 359
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8
Prefácio
***
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apresentada, pois tal é inevitável quando se inicia e even-
tualmente conclui uma investigação.
***
10
(quem não quer castrar os seus filhos é transfóbico e
quem quer manter a sua terra ancestral é certamente ra-
cista!). E mais uma vez vem da esquerda. Talvez fosse
interessante investigar isto, mas por entre estes textos, e
nas análises que se encontram sobre o mundo moderno e
contemporâneo, pode-se já adivinhar porquê. Mesmo
sem o explicar explicitamente, continua a ser verdade.
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sores). Por necessidade, portanto, as críticas aqui encon-
tradas serão provavelmente rotuladas como de direita e
serão mais hostis ao que, hoje, se considera de esquerda.
***
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«No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Ver-
bo era Deus.»
João 1:1
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O Liberalismo do presente é o Socialismo do futuro
14
Por isso os liberais no mundo anglo-saxónico tiveram de
encontrar uma nova forma de se designar. A designação
escolhida foi Libertarianismo – curiosamente um termo
que era originalmente usado para a vertente pacifista do
Socialismo, talvez numa tentativa de vingança ou justiça
poética pelo facto da Esquerda lhes ter roubado a palavra
Liberalismo. Outras designações não tiveram uma
aderência significativa, e apesar de manterem o seu nicho
militante (como outras designações de Comunismo), os
liberais passaram maioritariamente a designar-se a eles
mesmos como Libertários.
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é, em ambos os casos (e como os liberais identificam no
caso dos comunistas) apenas retórica para evitarem a
realidade.
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dem essencialmente ser explicadas pela alta ou baixa pre-
ferência temporal – a plebe tem uma alta preferência
temporal, vive obcecada com o presente e com a satis-
facção dos seus desejos imediatos em detrimento da sua
existência futura, enquanto que a elite tem uma baixa
preferência temporal e é capaz de controlar os seus dese-
jos presentes em prole da sua existência futura. Algures
no meio, está a classe média. Um homem nascido na ple-
be com uma preferência temporal baixa, e se o nível de
socialismo na sua sociedade for tolerável, não fará para
sempre parte dessa classe. Um homem nascido na elite
mas com uma preferência temporal alta, tenderá a esban-
jar a herança que lhe deixaram e a abandonar a elite.
17
destruirão a sua vida, a dos filhos e a da comunidade. E,
através da Democracia, destruirão também o país.
18
Pelo que a plebe, vergada pela sua incapacidade de auto-
moderação, votará em respostas iatrogénicas (socialismo)
para tratar os resultados da ausência de valores funda-
mentais a que foi entregue. E com o tempo, o Estado Li-
beral transforma-se, pela rotatividade das eleições de su-
frágio universal, numa sistemática e virulenta rejeição da
ideia de propriedade privada. De Direita, nada restará.
19
O Meio é a Mensagem
20
difícil dizer se os blogs têm alguma mensagem indepen-
dente do que aconteceu no próprio dia.
21
acções do governo encaixam em meia dúzia de categori-
as, pelo que o teor dos comentários é sempre o mesmo.
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geral houvessem acções governamentais que sejam pro-
dutivas, e ainda por cima publicitadas nos jornais)?
Quantas vezes é preciso apontar que a Esquerda em geral
é um cancro para a sociedade e a exemplificação da do-
ença mental em forma política? Quantas vezes é preciso
apontar a impotência da Direita, ou a sua capitulação
perante as ideias sociais da Esquerda, que são afinal as
mesmas que as da plutocracia? Quantos posts são neces-
sários para condenar a barbárie do Islão?
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Agora, para ilustrar o meu argumento, vou ter de efectu-
ar um comentário sobre o atentado de Manchester. O que
salta à vista sobre o atentado em primeiro lugar é o seu
carácter banal. Não há nada de excepcionalmente surpre-
endente no acontecimento, nem nas reacções à direita ou
à esquerda. O barbarismo do Islão não é notícia, é rotina.
O autismo da Esquerda não é só expectável como natu-
ral. A reacção ambígua e amoral das falsas elites políticas
também é par for the course.
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As crianças morreram às mãos dos bárbaros porque a
plutocracia permitiu que eles entrassem nas nossas soci-
edades. Mas, mesmo que não se tivesse permitido a sua
entrada, a cultura moderna no Ocidente continuaria a ser
moral e intelectualmente degenerada. As vidas das crian-
ças que morreram teriam sido salvas, mas não as suas
almas. Porque as elites modernas continuariam na sua
demissão, na sua cobardia, abandonando qualquer insis-
tência em padrões artísticos e morais – ou sequer na sim-
ples rejeição da sexualização das crianças. A degeneração
continuaria a ser promovida pela Esquerda, e à direita
continuaria o silêncio gritante de quem não os tem no
sítio para chamar os bois pelos nomes.
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Esquerda. Em suma, ao aderir ao meio da Esquerda (ape-
lar ao público) a Direita transforma-se na Esquerda.
26
Uma sociedade sem classe
27
facto de que o comunismo e a social democracia são ape-
nas variações da mesma ideia). O peso da inclusão ou
exclusão destes termos, ou até da importância efectiva de
uma constituição numa República é discutível, mas efec-
tivamente a referência aos termos originais foi retirada.
28
É nesta milagrosa conversão que se funda a revisão cons-
titucional e o abandono do objectivo da ‘sociedade sem
classes‘. A partir daí, Portugal seria uma Democracia com
D grande e concretizaria a ambição ocidental iniciada
com as revoluções liberais de uma sociedade com classes,
mas sem classe.
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be (a maioria), a Democracia constitui um passo para o
abismo, uma descida ao mínimo denominador comum
civilizacional – da mesma forma que o Comunismo (em
si uma ideia democrática) constitui uma descida ao mí-
nimo denominador comum económico.
30
superioridade moral e cultural (não só pela sua capaci-
dade monetária), deveria liderar.
Julgo não dar novidade a ninguém ao dizer que os ‘no-
bres’ de hoje só se distinguem dos plebeus pela quanti-
dade de dinheiro que têm para gastar. E gastam-no não
numa cultura elevada, mas na mesma cultura dos ple-
beus. Em muitos casos, não só consomem essa cultura
como a produzem. E portanto, são incapazes de liderar
coisa alguma.
31
E convém salientar que o menino Sobral não é dos casos
mais aberrantes. Apesar da sua vulgaridade intelectual e
da sua fraca figura, o rapaz até é simpático e relativamen-
te educado. Já os inúmeros membros das classes altas
(por família ou por ascensão social) que regularmente
participam na cultura plebeia nos seus expoentes mais
crassos e repugnantes, sem qualquer vergonha ou arre-
pendimento, não têm qualquer característica que os re-
dima. Abra-se uma revista ‘de sociedade‘ para confirmar.
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uma claque de futebol, é que os membros de Bullingdon
têm dinheiro para não se meterem em sarilhos pela sua
conduta boçal e selvática.
O Comunismo nunca conseguiu eliminar as diferenças
entre classe, afinal existe sempre uma elite de governan-
tes que vive como sultões e um círculo exterior limitado
de membros do Partido que obtém algumas regalias pela
sua posição, que distinguem, não só economicamente
mas também em termos culturais e intelectuais, estas du-
as classes da classe geral dos proles – a ironia suprema do
Comunismo na prática – e que, sendo classes efectiva-
mente separadas, exercem uma influência na classe abai-
xo de si. A Democracia, porém, conseguiu eliminar quase
completamente as diferenças essenciais entre as elites e o
povo, entre quem governa e quem é governado, entre
quem deve dar o exemplo e quem o deve seguir. Como
uma rã cozida lentamente, a população de um regime
democrático morre lentamente sem dar por isso.
33
O colapso de quê?
34
com algumas das novas causas da Esquerda, é um mal
menor. E no entanto, continua a ser verdade que se con-
corda, mais ou menos, nos problemas sociais que exis-
tem, na medida em que se pode ter a discussão. Atingi-
mos, porém, um ponto da discussão em que, dos partidos
às escolas passando pelos meios de comunicação e pelas
universidades (os vários tentáculos do mesmo monstro),
não só não se concorda sobre as soluções, não se mantém
sequer qualquer pretensão (em nenhuma das facções) de
haver um ‘ideal’ social.
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punição (na essência, o único pecado é não acreditar e
não agir em conformidade com a RSD-LFI). Por fim é
Democrática porque é o único sistema político onde é
possível pôr em prática a trindade da LFI, e a partir da
qual se promovem as características salvíficas da mesma.
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da espécie. Para isso, olhemos para o problema do declí-
nio populacional.
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do indivíduo, e ainda melhor se não tiver qualquer cultu-
ra comum ou apego à terra em que vive. O objectivo é ter
eleitores/consumidores ignorantes, que permitam a con-
tinuação do sistema, que mantenham uma situação de
caos (que “requer” uma vigilância constante) na rua, mas
não possuam a capacidade de abstracção e organização
que os povos Europeus possuíam (e, imagina-se, pos-
suem ainda em potência) para contestar os planos dos
líderes da RSD de controlo total. Embora, admita-se, haja
algumas indicações de que a situação talvez não seja as-
sim tão simples, e que dadas as décadas de propaganda
da RSD-LFI a que o Ocidente foi sujeito, talvez seja mes-
mo entre as populações mais primitivas que se encontre
alguma resistência. É possível que a esperança, como es-
creveu Orwell, esteja mesmo nos proles, embora no pa-
norama global os proles sejam, não o estrato mais baixo
da sociedade, mas as culturas mais primitivas, precisa-
mente por serem mais primitivas e, logo, menos sus-
ceptíveis de engolirem a propaganda da RSD.
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(afinal, a Igualdade é um dos seus dogmas). Mas que cul-
tura na realidade existe na Europa? O consumismo? A
licensiosidade? A tolerância suicida? O poder popular? O
que existe, então, de bom para conservar? E se não existe
nada, como argumentar contra esta solução? Os que rejei-
tam a Islamização ou Africanização da Europa em defesa
da cultura do presente (que é uma cultura da RSD) não
estão a defender nada a não ser um suicídio lento. ‘Dei-
xem-nos morrer em paz na nossa vacuidade; deixem-nos ir para
o Inferno ao nosso ritmo‘ – é, na essência, a sua posição.
Uma posição em concordância com os dogmas da RSD –
a ‘oposição controlada’.
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peia está perdida. Em termos evolucionários, é uma ex-
periência falhada. Mas que experiência?
A experiência é a RSD-LFIC.
40
voltar ao início do texto, a RSD substituiu o ideal antigo
pelo seu avesso. E as consequências eram previsíveis.
41
onde a distinção entre governantes e governados é clara e
largamente inalterável. O cientismo/secularismo, em vez
de libertar o homem do fanatismo e promover o pensa-
mento livre, construiu gerações e gerações de IYIs (Inte-
llectual Yet Idiot), confundindo as sombras pela realida-
de; e, no panorama da plebe, criou uma intolerância pe-
rante qualquer crítica ou julgamento em que já não é pos-
sível inquirir se existe alguma diferença entre a sombra
na parede e a realidade reflectida – em suma, numa acei-
tação sem escrutínio de todos os vícios e pecados, e com
isso uma imparável tendência para degeneração moral e
física. A igualdade e a fraternidade, em vez de harmoni-
zarem as diferentes naturezas e capacidades, ao ignorá-
las criaram antagonismos ferozes que resultam numa
guerra de todos contra todos (filhos contra pais, mulheres
contra maridos, alunos contra professores, funcionários
públicos contra privados) e que em termos geopolíticos
resulta na guerra total (lembrar que o único regime a la-
nçar uma bomba atómica foi exactamente aquele que re-
presenta o auge e a consagração da RSD). Em nenhum
outro tópico, no entanto, isto é tão óbvio como na relação
entre os sexos. O pináculo da RSD é a incapacidade dos
seus aderentes de se reproduzirem.
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(apesar de, em certa medida, não serem naturais e reque-
rerem esforço e cuidado). A aberração da RSD é apenas
uma pequena intermissão. Como na história de Sodoma e
Gomorra, as sociedades controladas pela RSD serão des-
truídas por força maior (quer se ache que é justiça divina
ou simples consequência da sua irracionalidade, ou como
eu, se ache que ambas são essencialmente a mesma
coisa). Salvar-se-á quem repudiar e abandonar a RSD.
Quem olhar para trás, porém, arrisca-se a transformar-se
numa pilha de sal.
43
Teocracia e Escravatura
44
Bem sei que a origem da palavra é grega, e que o original
theos significa Deus. Mas visto que não distingue entre
falsos e verdadeiro, a palavra aplica-se: a história moder-
na (democrática) é nada mais nada menos que a incessan-
te adoração de falsos deuses, promovidos pela classe teo-
crática através do Estado. A Teocracia em que vivemos é
baseada em falsos deuses (o poder popular, a igualdade,
o hedonismo e por aí for a), e promove esses falsos
deuses com a mesma assertividade com que teocracias
passadas afirmavam e promoviam outros, ou Aquele.
45
aplica-se a exemplos concretos e económicos, não à natu-
reza religiosa do poder do Estado. As empresas de facto
infiltram-se no Estado Democrático para retirar dele be-
nefícios (que surpresa!), mas não são as empresas que
definem, por exemplo, os currículos escolares, as leis an-
ti-discriminação ou a posição do Estado em relação ao
aborto – ou seja, os elementos religiosos. Curiosamente, e
em grande parte por causa da captura, as empresas aca-
bam, sem serem necessariamente obrigadas, a criar e
aplicar dentro das suas próprias estruturas as mesmas
regras religiosas (quem já trabalhou numa empresa de
tamanho relativamente apreciável, pense, por exemplo,
em todas as campanhas internas pela diversidade, in-
clusão, apoio aos refugiados, etc). Por isso temos de pro-
curar o nosso clero noutro sítio. As empresas são os aris-
tocratas modernos, mas não são eles quem detém o ver-
dadeiro, e último, poder.
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versidades nos últimos quinze. Da próxima vez que vir
um professor catedrático, faça-lhe uma vénia. Está peran-
te um soberano.
47
ro, é mau. Não por causa do sistema, que é inevitável (e o
que não tem remédio, remediado está), mas por quem o
dirige: o nosso clero educativo além de prepotente (o
que, admita-se, vem um pouco com a função), não é lá
muito educado – o que acaba por se notar na sociedade
que produz e dirige.
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esquecer que a Escravatura não é uma estrada de sentido
único. A escravidão tem obrigações, mas também tem
contrapartidas. O lorde oferecia ao servo terra e materiais
para trabalhá-la, oferecia-lhe protecção e ordem, não o
podia vender a outro lorde – embora pudesse libertá-lo
ou vender-lhe a sua liberdade – e não o podia agredir
indiscriminadamente – embora pudesse puni-lo no caso
de cometer um crime. O dono do escravo oferecia-lhe
casa, comida, saúde e instrução básica (e ao contrário do
que é popularmente acreditado, a violência indiscrimi-
nada era usada muito raramente – e por razões óbvias,
afinal, só um idiota destrói a sua propriedade, e só um
idiota maior destrói a sua propriedade quando a sua ri-
queza depende dela). Em alguns casos, o escravo era
formalmente libertado e ascendia à condição de assala-
riado. E não podemos deixar de mencionar que o lorde e
o dono de escravos, também eles, eram sujeitos a sub-
missão (ao Rei ou ao Parlamento), e também eles tinham
as suas obrigações e contrapartidas – as Teocracias que se
sobrepunham a um e a outro eram, no entanto, bem me-
nos destrutivas que a presente.
49
democracia). A principal diferença entre o cidadão e o
escravo é que, ao contrário dos donos de escravos de ou-
trora, o nosso dono (o Estado e a plutocracia associada)
não tem grande incentivo em manter-nos saudáveis, ou
em instruir-nos de forma a aumentar a nossa capacidade
de trabalho, e além disso são precisamente os que menos
contribuem que recebem a maior quantidade de regalias.
Apesar de tudo, podia ser pior. Mas como dizia o velho
anarquista, um homem não é menos escravo por poder
escolher o seu dono de tantos em tantos anos.
Convém igualmente desconfiar sempre que alguém pro-
mete libertações (as libertações resultam precisamente
nos exemplos acima). Quase todos os terroristas se cha-
mam a si mesmo libertadores. E as consequências, mes-
mo quando se considera o ideal como moralmente indis-
cutível, nem sempre são as mais desejadas. A história
está cheia de exemplos, da Revolução Francesa à desco-
lonização, em que a libertação acabou por ser pior (no
momento e no futuro) que a servidão que se aboliu. Pior
a emenda que o soneto, como se diz. Às vezes parece que
a iatrogenia é a constante na história política humana. O
que só torna mais trágico o facto de quase ninguém saber
do que se trata.
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condição executiva ou de teocrata). À superfície, isto po-
de parecer uma vantagem. Mas, analisando a questão em
teoria como na prática, o resultado não se recomenda
mais do que a Escravatura clássica, e menos ainda que a
servidão feudal.
E, não tendo essa noção, o seu dono nunca lhe virá a ofe-
recer a oportunidade de se libertar mas pelo contrário, a
sua viagem é para baixo, o seu nível de servidão vai au-
mentando, sem influência apreciável no processo, com
umas migalhas atiradas para o chão em forma de recom-
pensa – ignorando o que as migalhas representam. O fac-
to de o seu dono mudar a cada quatro ou cinco anos, só
acelera e aprofunda o processo – o dono temporário, ao
contrário do dono permanente, não tem qualquer interes-
se em manter a qualidade da sua propriedade (o ci-
dadão). Pelo que a qualidade de vida, estabilidade e se-
gurança do cidadão (e por consequência da sociedade em
geral) vão se deteriorando. Ao mesmo tempo, o seu dono
continua a assegurar-lhe que é livre através da instrução,
cada vez menos relevante e construtiva, que lhe oferece.
E, para confundir ainda mais o pobre escravo e atiçando
51
a natureza ínvia do homem, apresenta-lhe a possibilida-
de de subir à posição temporária de dono, apaziguando a
sua tendência para se rebelar se, por acaso, notar que as
condições de submissão estão cada vez piores para si, e
melhores para o dono.
52
Uma mera formalidade
53
com os seus propósitos particulares completamente des-
ligados dos interesses dos nativos e dos imigrantes, está
permanentemente investida num exercício de gaslighting
da população sem precedentes. A cada atentado, a Es-
querda (que inclui a imprensa, as universidades, o go-
verno, os think thanks, etc.) jura-nos que o Islão é uma
religião de paz, que os atentados nada têm a ver com a
importação desta cultura para a Europa, que criticá-la é
ser xenófobo e que, em última instância, encontrar um
padrão em todos estes eventos apenas demonstra o quão
odiosos são os críticos. Perante isto, a Direita arranca pa-
ra a refutação de todas as permissas da Esquerda, e assim
permite que ela dite o tom e o conteúdo do discurso.
54
a convidar bárbaros para as suas nações, a dar-lhes casa,
comida e abrigo. Nenhuma outra raça tão apática que
após cada atentado defende as suas causas e que conti-
nua a insistir em convidá-los. Quantos dos que morreram
em Espanha apoiavam os ‘refugiados’? Quantos não
apoiando ficaram calados? Quantos permitiram ou esti-
veram-se a marimbar para o facto de as suas crianças so-
frerem lavagens cerebrais na escola para que os aceitem?
55
tamente indiferente se bárbaros estrangeiros matam os
seus compatriotas, violam as suas mulheres e crianças ou
destroem as suas cidades. A sua lealdade é direccionada
apenas para o seu prazer imediato. Pelo que até os críti-
cos do Islão e da sua entrada na Europa estão simples-
mente focados na sua remoção e julgam que, uma vez
removido o elemento Islâmico, a Europa pode continuar
na sua depravação hedonista e tudo correrá pelo melhor.
56
rrubará as muralhas, por mais altas que sejam e por muito que
pensem que vos protegem seguramente.» (Deuteronómio
28:45-52)
57
O Supositório Arco-Íris
58
Esta história dos comprimidos era aceitável quando só
havia dois (o vermelho e o azul), mas agora que já passou
a fase da lua de mel e se criam outros para identificar
nuances, tornou-se idiota. Era, admito, uma boa forma de
sumarizar o processo em que um homem passa a perce-
ber o que há de errado com o mundo. Hoje, ser redpilled
pode significar simplesmente que se gosta de Donald
Trump e se critica o Islão por não ser compatível com os
“valores ocidentais” (que significam tudo e o seu contrá-
rio, e por isso não existem). E convém lembrar que a ter-
minologia vem de um filme razoável, mas que tem duas
sequelas absurdas e que os seus autores entretanto deci-
diram ser transsexuais, por isso o seu julgamento da rea-
lidade não é por certo o mais adequado.
59
que se dizem à Direita, esta apatia perante um dos prin-
cipais flagelos do nosso tempo, não deixa de ser ainda
mais preocupante.
60
pre para a Esquerda. E é como se não tivesse qualquer
princípio basilar na sua filosofia, a não ser a defesa do
status quo e a liberdade económica.
61
homens. Entre os homens heterossexuais apenas 25
% tiveram relações com mais de 10 mulheres.
Claro que perante estes factos teremos um coro infindá-
vel de vozes da Esquerda a assegurar-nos que a origem
destas atitudes claramente disfuncionais se deve, única e
exclusivamente, à discriminação de que estas pessoas são
alvo pela sociedade normal. Mas parando um pouco para
pensar, não há instituição que não se vergue para lhes
fazer a vontade, e se por um acaso alguém decidir criticá-
los, as tais instituições serão bem sucedidas em destruir a
vida de quem teve a audácia de questionar os dogmas
sodomitas.
62
defensores (e praticantes) costumam ser ateus e darwinis-
tas, isto deveria ser visto como uma desvantagem – mas
não alimentemos ilusões. A um homem com a cabeça no
sítio não custa a perceber que deste facto salutar nasce
quase toda a disfunção desta ‘comunidade’, mas para
quem tomou o supositório, tudo isto não passa de ódio
latente. Aliás, quem critica os homossexuais deve ser se-
cretamente homossexual – uma lógica brilhante segundo
a qual os ateus que odeiam a religião são secretamente
devotos.
63
Não me parece que a Direita ignore pelo menos algumas
destas realidades. E no entanto, nem um pio sai da sua
boca para condenar a ‘comunidade’, a sua causa ou a sua
desejabilidade numa sociedade sã.
64
rante e destrutivo, que é nada menos que sacrifício hu-
mano ritual, é não só permitido mas, muito pior, celebra-
do.
65
para o cometer. Podem-me dizer que o homicídio é pior
que a sodomia, no vácuo, e eu concordo. Mas não há na-
da inerente ao pecado do homicídio que leve à formação
de ‘comunidades’ secretas de homicidas por prazer, que
tenham o objectivo de dominar as instituições e propagar
a sua ideologia homicida. Pelo contrário, os homicidas
por prazer em geral são lobos solitários. Mas os sodomi-
tas organizam-se e recrutam (a história das últimas déca-
das prova-o). Mais: a sua propensão é para a sociabilida-
de e portanto para propagar a sua disfunção. Um homi-
cida não vai criar uma ideologia para justificar os seus
homicídios, enquanto que os sodomitas fazem-no há sé-
culos para racionalizar a sua disfunção. E essa racionali-
zação, claro, não será no sentido de uma sociedade ordei-
ra, comunitária e recta, mas no sentido de individualismo
extremo – visto que o acto em que se baseia é puramente
masturbartório, sem qualquer benefício para a comuni-
dade que não o prazer imediato de quem o pratica.
66
Além disso, a propagação da sua ideologia destrói as li-
gações naturais de amizade e lealdade entre os homens,
obrigando-os a temer sempre que um outro homem olhe
para eles como um receptáculo para o seu sémen. E a au-
sência destas relações de lealdade tornam a sociedade
mais fraca e mais sujeita a subversão interna ou invasão
externa, algo que podemos observar em todas as socie-
dades ocidentais.
67
te de forma irremediável. É simples: como Cristo, deve-
mos exigir que se arrependam e que parem de praticar a
sua actividade destrutiva.
68
Em Busca de uma Identidade Impossível
69
das acções humanas e de uma inveja mal escondida pelo
sucesso. Hoje, ninguém adere a essas ideologias por ra-
zões económicas. Em 90% dos jovens, de um lado ou do
outro da barricada, a ideologia económica é a mesma:
uma economia mista, onde o pior do comunismo e o pior
do capitalismo se encontram numa apoteose brilhante de
mediocridade. Nenhum membro dos Antifas é animado
realmente pela tomada dos meios de produção. Aliás,
produzir é a última coisa que querem. Querem destruir.
E esperam que a sua destruição criativa gere frutos. É
uma identidade que procuram nessa destruição, iludidos
de que ainda existe algo para destruir enquanto espezi-
nham as ruínas do que foi o Ocidente.
70
procuram uma identidade onde ela não existe. Acabam a
dar a volta ao círculo e, numa divina ironia, advogar algo
semelhante ao pan-Africanismo. Ora, África nunca teve
nações nem nacionalidades. Teve e tem grupos (muitos
deles ainda lutando violentamente pelo controlo das en-
tidades políticas criadas pelos Europeus para extermina-
rem ou escravizarem os outros grupos dentro das suas
fronteiras), mas nada que se assemelhe às nacionalidades
que surgiram na Europa. Não por acaso, e tal como a Eu-
ropa previamente com o Cristianismo, há outro verda-
deiro unificador no horizonte para África: o Islão. Sendo
um sistema total, de crenças ontológicas até às políticas, o
Islão oferece um ponto de convergência que a raça, por si
só, não oferece.
71
que essa identidade nunca esteve ligada a considerações
étnicas e que não nasceu da procura de uma identidade –
e que se a razão para aderirem é essa procura, nunca a
vão concretizar. Há uma expressão para o fenóme-
no: LARPing, versão curta de Live Action Role Playing.
Não digo que não sejam sinceros. Até podem ser. Mas os
meios utilizados não vão gerar os efeitos desejados.
72
permite o acesso a espaços e tempos distantes, mas o en-
quadramento político acompanhou a tecnologia e não
oferece qualquer entrave a esse acesso – esse era um dos
objectivos afinal de contas. O 25 de Abril foi feito para
podermos beber Coca-ColaTM e ver o Marlon Brando so-
domizar a rapariga com a ajuda da manteiga. Longe vão
os tempos em que a música, os filmes, a culinária ou a
religião de terras distantes era largamente inacessível, e
em especial ao cidadão comum. A procura adapta-se tan-
to à oferta como a oferta se adapta à procura. Talvez na
época fosse impossível de antever, mas hoje é possível
observar, os efeitos dessa abertura.
73
tas – enquanto que as classes médias e baixas eram fe-
chadas entre si. Podia dizer-se que as classes altas eram
cosmopolitas, e mais semelhantes culturalmente entre si
do que às classes baixas dos seus respectivos países. É
importante mencionar de passagem que as aristocracias
Europeias tinham laços de sangue partilhados, e eram
igualmente mais próximas umas dos outras geneticamen-
te do que das plebes nacionais. O nacionalismo clássico,
de há cem anos atrás, provou ser um movimento demo-
crático precisamente por isso: a identificação da classe
governativa com a classe governada.
74
pois está ainda até certo ponto ligada aos alimentos pro-
duzidos ou importados, que por sua vez ainda estão li-
gados à tradição do país. Mas estão apesar de tudo num
estado retardado de actualização, e adivinha-se, tendo
em conta que já há muito que todos os países têm acesso
a alimentos de todo o mundo a qualquer momento, que
também aí as diferenças continuem a esbater-se. Não me
lembro da última vez que vi, numa carta de sobremesas,
a expressão ‘fruta da época’. Porque a época já não im-
porta para a disponibilidade da fruta.
75
outro dia que os putos holandeses agora falam todos com
os maneirismos linguísticos adoptados dos Árabes, uma
forma de holandês degenerado. Se pessoas da minha ge-
ração disserem que nunca usam as palavras ‘bué‘ ou ‘ya‘,
estão a mentir. Ou então essa abstenção é produto de
uma auto-censura, de um esforço. Não só já não estamos
orgulhosamente sós, não somos sequer nós, orgulhosa ou
envergonhadamente.
76
dos soldados, das famílias, do povo em geral, contribuí-
ram para a derrota em África. Por outras palavras, o espí-
rito do tempo impregnou a identidade nacional de dúvi-
da sobre a aventura africana, e votou-a à derrota. Um
exército que não acredita nas razões para lutar não vence
guerras.
77
No outro dia estava a ver um documentário sobre o Cas-
caisJazz, em 1971, que ilustra bem o argumento. Nele
aprende-se que alguns dos músicos – e apesar da presen-
ça das polícias – fizeram homenagens aos movimentos de
‘libertação’ Africanos, saudados com grandes aplausos e
cantos pela ‘liberdade’. As consequências não foram mui-
tas, apesar da inicial ameaça de repercussões, o que pro-
vou a abertura do regime aos apoiantes, mas sobretudo
provou aos detractores a sua fraqueza. Daí até à abertura
completa, foi um piscar de olhos.
78
lywood), ou cultura descentralizada (como a Internet). A
ausência de fronteiras culturais cria um mundo onde as
fronteiras reais se tornam irrelevantes. Este argumento é
frequentemente avançado pela Esquerda, para justificar a
sua defesa de fronteiras abertas, e criticado pela Direita.
Mas, mais uma vez, é a Direita quem não está a ser logi-
camente consistente.
A verdade é que a Direita pretende fronteiras fechadas
na prática, mas fronteiras culturais completamente aber-
tas, ignorando que a abertura cultural leva, inevitavel-
mente, à abertura real. O consenso geral de que devemos
deixar entrar pessoas de todo o mundo para ‘enriquece-
rem’ a nossa cultura não nasceu do vácuo, foi um proces-
so gradual, e não é produto de uma conspiração. É ape-
nas o resultado natural da exposição continuada a cultu-
ras estrangeiras, que leva à perda de identidade e cultura
nacional. O ‘enriquecimento’ só é possível, e só faz senti-
do, porque se perdeu a base. Se a própria cultura é uma
mistura indiscriminada de influências, não há razão lógi-
ca para que a população o não seja. Em última instância,
só encorajamos a entrada de outras culturas porque per-
demos a nossa.
79
tir. O nacionalismo nos seus parâmetros clássicos é im-
possível e é difícil antever o que se segue. Mesmo que
Portugal, como entidade política reganhe a soberania –
algo bastante duvidoso quando nem o partido nacionalis-
ta, único, postula a possibilidade – não vem daí o regres-
so automático da identidade portuguesa perdida. Se D.
Sebastião aparecer do nevoeiro, provavelmente volta pa-
ra ele pois não reconhece as gentes e pensa que se enga-
nou na saída. Mas não é caso para desespero porque,
lembremos, a maioria das antigas nacionalidades Euro-
peias não era politicamente delineada. Viveu e sobrevi-
veu sob jugo político externo. Portugal, com os seus 900
anos de independência política, é uma excepção nesse
respeito. Nada indica que exista um Portugal politica-
mente unificado no futuro, mas isso não impede a criação
de uma ou várias identidades.
80
Apatia Mortal
Introdução
Apesar de na grande maioria dos países Europeus não se
poder manter estatísticas criminais discriminadas por
etnia, é um segredo mal guardado que a criminalidade
violenta é um ofício praticado em grande parte por indi-
víduos de origem não-Europeia.
81
Há essencialmente duas narrativas referentes a estes cri-
mes: os meios de comunicação tradicionais têm a narrati-
va globalista, muitas vezes ocultando (ou tentando ocul-
tar) as origens étnicas e religiosas dos prevaricadores –
quando não é possível ignorar os crimes; os média alter-
nativos (blogs, canais de youtube, alguns jornais online)
avançam a narrativa nacionalista, salientando o carácter
de invasão, de que estes crimes são cometidos não por
nativos, mas sim por elementos estranhos à sociedade em
que são perpetrados, racial e culturalmente. A narrativa
que nunca vejo avançada, ou sequer mencionada, é nem
nacionalista nem globalista (embora claramente mais
simpatizante com a nacionalista, pelo menos em termos
de objectivos), e é a narrativa moralista, que é a que ve-
nho apresentar aqui hoje.
82
macos providenciados e na ausência de escapes adequa-
dos para jovens direccionarem a sua energia.
Por isso vamos rever alguns dos casos mais famosos (ou
mais macabros) e evidenciar este problema que raramen-
te é mencionado, ou sublinhado, nos artigos que nos
apresentam as histórias ou nos comentários que se fazem
a eles.
O Escândalo de Rotherham
Este escândalo foi de tal forma grande que nem os meios
de comunicação tradicionais o puderam ignorar quando
rebentou, e consiste no abuso sexual de raparigas meno-
res, ao longo de vários anos, por parte de grupos de Pa-
quistaneses. Tais abusos foram facilitados pela reluctân-
cia das autoridades em investigar os homens envolvidos
por estes serem de uma minoria étnica (a BBC refere-se a
eles como ‘asiáticos’, mas as fotos desfazem a confusão
sobre a que parte da Ásia eles pertencem). O medo de
serem acusados de racismo foi maior do que a vontade
de descobrir a verdade sobre estes abusos, daí que eles
tenham decorrido durante vários anos.
83
Este episódio teve um precedente, raramente menciona-
do, em que um ‘casal’ de sodomitas que tinha adoptado
vários rapazes abusava frequentemente das crianças e
usava o sistema de adopção (e a apatia dos serviços de
adopção) como forma de acesso a rapazes para violar. Tal
como em Rotherham, as autoridades não investigaram
aquilo que era uma situação mais do que suspeita por
medo de serem acusados de homofobia. Ao contrário de
Rotherham, não houve grande publicidade ou agitação
nos média (tradicionais ou alternativos). E usando este
caso podemos apontar as causas óbvias, materialistas: a
cobardia dos serviços de adopção, a falta de investigação
sobre quem quer adoptar. Mas mais importante é apon-
tar, a meu ver, uma sociedade que permite e encoraja a
adopção de “casais” do mesmo sexo, e o próprio facto de
que tantas crianças Europeias são concebidas fora do ca-
samento e dadas para adopção. Ou seja, sublinha a exis-
tência de um problema moral, social, muito antes de ser
um problema policial.
84
– e é precisamente esta parte seguinte que é frequente-
mente ignorada, mas que é talvez ainda mais ilustrativa.
85
com a mãe, e apenas com a mãe, e com 3 irmãos. A mãe
tinha dois trabalhos e sempre que tentava impedir a filha
de ir com os seus violadores ela reagia violentamente,
pois queria as drogas que eles providenciavam. Diz ela
‘eu tive 15 homens a puxar-me para fora de casa dos bra-
ços da minha mãe, mas eu odiava-a’.
86
Um dos casos mais recentes foi o de Pamela Mastropiero,
uma rapariga de 18 anos encontrada morta e desmem-
brada dentro de malas de viagem. O primeiro homem
acusado pelo crime foi um Nigeriano de 29 anos, já co-
nhecido das autoridades por ser um traficante de droga.
Haxixe foi encontrado na sua casa. A rapariga, entretan-
to, era drogada e acabara de sair da clínica de reabilitação
– a sua morte ocorrendo no dia seguinte.
87
uma dose? E seria este destino melhor só porque a sua
morte seria mais lenta, consentida, e com a ajuda de um
Europeu, em vez de um Africano?
88
intactas, com um sentido de identidade e comunidade, se
este crime, ou mais especificamente, as circunstâncias
que levaram ao crime, poderiam ter acontecido. Não só a
rapariga de 15 anos (!) entrou numa relação amorosa (e,
deduz-se, sexual) com um emigrante Afegão, como a fa-
mília aceitou essa relação abertamente, convidou o futuro
assassino para sua casa e, por fim, a rapariga decidiu
terminar o namoro (algo que é cada vez mais comum
entre as mulheres ocidentais, seja nas suas relações com
Europeus ou não-Europeus).
89
desligada de valores e normas de comportamento decen-
tes que perpetuariam o ciclo de degeneração.
90
que levaram a uma coisa levaram também a outro. E
mesmo que se resolva um dos problemas, mantém-se o
problema original que levou à sua existência.
91
Três raparigas adolescentes e um rapaz encontram-se
para uma festa num apartamento nos arredores de Esto-
colmo.
Conclusão
Note-se que não mencionámos absolutamente nada (pois
já muito se disse noutras paragens) sobre a política e os
políticos, as decisões judiciais e os seus decisores, os or-
ganismos oficiais e instituições, etc, que vão maioritaria-
mente no sentido da leniência para com os criminosos, de
abertura das fronteiras e de apoio aos ‘refugiados’ a to-
92
dos os custos. E também não mencionámos os atentados
terroristas que são paralelos a estes outros crimes pontu-
ais. Estes outros resultados são causados, ou no mínimo
facilitados, pela mesma apatia para que chamamos a
atenção.
93
história, sem a qual o problema migratório não existiria
em primeiro lugar, nem é passível de ser entendido e lo-
go, de ser resolvido, satisfatoriamente e de uma vez por
todas.
94
O episódio mais grotesco, e ao mesmo tempo mais icóni-
co, é o da mulher Italiana a ter relações sexuais com um
‘refugiado’ africano em cima de uma pilha de lixo.
Orwell escreveu há umas décadas atrás que se quisésse-
mos uma imagem do futuro que imaginássemos uma
bota a pisar um rosto, para sempre. Orwell, no entanto,
provou ser extremamente ingénuo. Acho que podemos
actualizar a frase e dizer, que se querem uma imagem do
futuro Europeu imaginem um ‘refugiado’ a ter sexo com
uma Europeia sobre uma pilha de lixo, para sempre. En-
quanto não mudarmos o ímpeto na alma Europeia de se
rebaixar a tal forma, de se destruir tão ilustrativamente,
não podemos mudar nada.
95
O nosso suicídio não será menos estrondoso, nem menos
trágico, se for consumado apenas entre Europeus. Sem
uma mudança estrutural, não só política, mas espiritual
(sem a qual a política não pode suceder), sem retornar à
tradição Cristã, ao patriarcado que o Ocidente rejeita mas
que o Islão, bem ou mal, representa, o Ocidente não tem
salvação. A luta não será sequer uma luta. A sociedade
patriarcal vai vencer. Será simplesmente uma questão de
saber se será a nossa, ou a deles.
96
A Apologia da Ignorância
97
Abril, e que através das suas estruturas propagam a sua
estirpe especial de ignorância disfarçada de sabedoria.
Apenas mais uma das mentiras torpes que o regime no-
vo, fundado na rejeição do antigo, é obrigado a perpetuar
para se justificar. Consultando os dados sobre literacia e
analfabetismo, tal como de investimento na educação,
durante o Século XX em Portugal, vemos claramente um
esforço e uma conquista da parte do governo do Estado
Novo em remover o grosso do analfabetismo e em pro-
mover a educação básica aos seus cidadãos. E no entanto,
apesar da descida do analfabetismo ter continuado até
praticamente ser zero nos nossos dias, os mitos sobre o
Estado Novo permanecem contra toda a evidência, fun-
dados numa ignorância voluntária da maioria da popula-
ção. Se pensarmos que esta ignorância não se encontra
somente nas classes mais baixas, desinteressadas do es-
tudo e das questões da governação, a quem não aquece
nem arrefece questões abstractas e intelectuais como os
destinos do país, mas também – e com grande ênfase –
nas camadas intelectuais, naquelas cuja vocação é preci-
samente congeminar, analisar, escrever e propagar ideias,
vemos ilustrado o abismo entre as pretensões democráti-
cas do votante informado e a realidade crua da natureza
humana.
98
ausência de capacidade crítica, a disposição para aceitar
todos os lugares comuns do seu tempo sem nunca os
questionar, e conclua-se que educação e ignorância não
são mutuamente exclusivos. A ignorância é o estado na-
tural do Homem. Independentemente das ferramentas
que se lhe oferecem, o cidadão comum vai continuar
agrilhoado na Caverna, interpretando as sombras como
realidade, mesmo tendo as chaves dos grilhões na mão e
um manual de fuga na outra. Isto sem se falar na outra
fatia populacional de quem não se espera qualquer afron-
tamento teórico abstracto, mas a quem a doutrina demo-
crática também atribui responsabilidade na sua liberta-
ção. Os democratas esperam que uma vaca toque piano e
surpreendem-se quando ela é incapaz de sequer perceber
para que servem as teclas – mas se por acaso produzir
meia dúzia de sons desconexos, tomam-no como evidên-
cia de que as vacas, de facto, podem ser pianistas. A pou-
co mais que isto se resume o sistema eleitoral de sufrágio
universal.
99
ruir. Daí nasce a obrigatoriedade da escolaridade muito
para além do necessário ao desempenho da maioria das
funções requiridas para o funcionamento da sociedade,
primeiro até ao nono ano, depois até ao décimo segundo,
e eventualmente, dada a parvoice progressiva do nosso
sistema, até à licenciatura. Este estado de coisas só pode
advir das duas origens que mencionámos, pois é por de-
mais óbvio que a extensão da obrigatoriedade, ao invés
de elevar o conhecimento e o pensamento crítico dos ci-
dadãos, rebaixa a relevância e profundidade do ensino,
reduz a motivação e dedicação dos professores, forçados
a lidar com miúdos sem interesse no que lhes estão a ten-
tar ensinar, e necessariamente faz cair as exigências de
conhecimento para que a promoção deste novo patamar
não resulte em inúmeras desistências do salto, ou em sal-
tos que não elevem o atleta à altura desejada. A isto se
chama reduzir ao mínimo denominador comum, tarefa
que nenhum outro sistema concretiza com tamanha mes-
tria como o democrático.
100
sempre a mundividência dos simples. No entanto, em
grande parte, convence-os de que têm agora capacidade
para compreender e opinar sobre assuntos que de facto
não compreendem e cujas opiniões não são, na verdade,
suas, mas regurgitadas em segunda mão com origem em
figuras de autoridade – para mais, em muitos casos, ca-
racterizados por uma arrogância natural e uma aversão a
trabalhos manuais para os quais serão, na verdade, mais
dotados. Mostrem-nos um ignorante orgulhoso, e nós
desvendamo-vos um universitário moderno. Mas o igno-
rante convencido da sua sabedoria continuará, na verda-
de, mais interessado na baixa cultura do seu tempo, cren-
te sem crítica nas convenções que lhe colocam à frente
dos olhos como verdadeiras, ingenuamente interpretan-
do as notícias e os seus veículos como fidedignos, ouvin-
do os seus professores como autoridades, incapazes de
entender que eles foram e são como eles – ignorantes
que, na verdade, não dão para muito mais.
101
semos, só pode ser produto de ingenuidade ou de male-
volência. E como tal, prescrevemos um sistema que leve
em conta esta realidade, um sistema que não finja que
todos podem e devem ser filósofos-reis, quando a maio-
ria não serve para bobo da corte. Consideramos uma
aberração que se peça opiniões e se exijam decisões sobre
o mundo real, a quem só o conhece pelas sombras reflec-
tidas nas paredes.
102
país e o mundo. Porque, repetimos, não é capaz de mais,
e é um ultraje, uma irresponsabilidade e uma violência
exigir-lhe mais. Mas exige-se, com resultados atrozes.
103
Sorriso de Raposa
104
Malcolm X conclui que a Esquerda é muito mais perigosa
para os negros do que a Direita.
105
ticas. (…) À direita, o vazio ideológico e a fraqueza política,
aceitou-se a ditadura do politicamente correto. novo paradigma
de revolução social. (…) a direita, jótica ou degenerada, aban-
dona o combate cultural e adopta o niilismo relativista da es-
querda. A direita socializou-se. Os valores passaram a ser ro-
dapés de discursos eleitorais. Os políticos de direita aplaudidos
pelos média são os que defendem o liberalismo de costumes,
ainda que militem num partido democrata-cristão…».
Os tradicionalistas observam esta capitulação da Direita
mainstream àquilo que chamam de ‘marxismo cultural’ e,
até certo ponto, apontam-na como uma traição, para a
qual não existe grande explicação fora da respeitabilida-
de profissional e da promoção pessoal. Eu considero no
entanto que há um mal de raiz na matriz bipolar da Di-
reita moderna, e que, apoiando o liberalismo económico,
é apenas lógico e natural que apoiem o liberalismo social.
São os Liberais com visões sociais tradicionalistas que
estão em grave contradição.
106
originais, o termo deveria ser ‘liberalismo cultural’ (o
termo que prefiro, no entanto, é simplesmente ‘relativis-
mo’). ‘Marxismo cultural’, apontando o epíteto dos seus
promotores originais, esconde o veículo pelo qual ele se
perpetua com sucesso. É inegável que os revolucionários
culturais que deram origem à teoria se designavam como
marxistas, mas foi no país mais liberal do mundo e prin-
cipal baluarte dessa ideologia económica que a semente
encontrou terreno fértil.
107
Não observamos também que, nas sociedades que esta-
vam fechadas ao capitalismo global, as mesmas ideias,
promovidas agressivamente pelo sistema político, não
medraram ao longo de décadas da mesma forma que se
infiltraram, pela calada, nos países liberais? Como expli-
camos que os países de Leste, sujeitos a ditaduras marxis-
tas agressivas, sejam hoje os únicos onde ainda existe al-
guma identidade nacional, rejeição da imigração de mas-
sas e dos ‘estilos de vida alternativos’ e onde o Cristia-
nismo ainda é relevante, não só na vida comunitária, mas
nos destinos nacionais? A explicação é simples: ao con-
trário do Ocidente, o Leste esteve insulado do capitalis-
mo global e, portanto, da lenta subversão dos valores
tradicionais, que só a riqueza e o conforto conseguem
promover e enraizar com extrema facilidade. A tragédia
para estes países é que caso não tomem medidas para
limitar as consequências económicas da globalização, as
suas sociedades, tornando-se mais prósperas, vão con-
trair o vírus do relativismo liberal e acabar por destruir
aquilo que cem anos de comunismo não conseguiram
destruir.
108
nossos compatriotas, as nossas famílias, os nossos filhos?
Que muito antes de ser legalmente enquadrado pelo Es-
tado, o relativismo moral e cultural foi propagado atra-
vés da sociedade de consumo massificado e da globaliza-
ção?
109
sumidores (a única categoria que lhe interessa) e sendo
que a eficiência na obtenção desses consumidores é de
suprema importância para a maximização dos seus lu-
cros, a promoção de valores anti-tradicionais é inevitável,
mais, é uma necessidade: a uniformização cultural, naci-
onal e racial (através da plebeização da cultura, da pro-
moção do internacionalismo e da imigração de massas) e
a atomização do indivíduo (através da promoção de ‘esti-
los de vida alternativos’) são os veículos pelos quais se
obtém o consumidor perfeito, ou seja, que se maximiza o
lucro. O sonho do Internacionalismo Comunista só é con-
seguido, paradoxalmente, através do capitalismo liberal.
110
lentamente, sem se aperceber, e portanto, muito menos
susceptível de se revoltar.
111
Maio de 68
112
anti-capitalismo, a rejeição do sistema usurário internaci-
onal ou a oposição à sociedade de consumo. As ideias
que saíram vitoriosas, e que tomaram conta da sociedade,
foram as culturais: o relativismo moral e a liberdade ab-
soluta do hedonismo que o acompanha. O JCE considera
isto uma vitória, sem ironia. Mais, ele próprio admite
que, sem a democracia e o capitalismo, essas ideias teri-
am sido impedidas de medrar: «a verdade é que, devido a
essa vitória da “oligarquia burguesa”, as ideias libertárias de
Maio de 68 puderam continuar a ser livremente defendidas —
o que evidentemente não teria acontecido se tivesse ocorrido a
revolução comunista.»
113
res tradicionais, que envenena as relações naturais entre
homens e mulheres, que idolatra a sodomia e os sodomi-
tas, que esbate a coesão e identidade nacionais, que im-
porta milhares de alógenos do terceiro mundo, que eleva
o hedonismo e a ‘realização pessoal’ à razão de viver e ao
objectivo a que todos devemos almejar. O JCE considera
as concessões feitas em 1968, e por consequência os seus
resultados, como algo que devemos aplaudir. Salvámos a
democracia e o liberalismo, salvámos a pureza ideológi-
ca, e o resto que se lixe. Aqui aproxima-se mais dos ideó-
logos dogmáticos do Comunismo original, indiferentes
aos resultados que a sua ideologia produz, do que do
pragmatismo racional que é suposto representar.
114
decadência total da república em questão, explica com a
mesma cegueira os distúrbios proletários de Maio de
1968. Num caso como no outro, a Direita ignora ou me-
nospreza as origens do fenómeno com a iniquidade ou
ineficiência das soluções promovidas, como se não hou-
vessem razões profundas para a revolta. Em 68 tinham-se
passado mais de 20 anos desde a grande reorganização
ideológica da indústria no mundo moderno, em que a
capacidade produtiva Europeia se começava a exportar
para a Ásia e América do Sul, e em que a inflação usurá-
ria se fazia sentir sobre o poder de compra e sobre a qua-
lidade de vida que os trabalhadores podiam dar às suas
famílias. A sua estratégia era errada e as suas alianças
ignorantes, mas as suas preocupações eram válidas.
115
ra ainda não percebeu a grande traição daqueles que lhes
prometeram protecção e que em vez disso lhes deram
hedonismo. Na última década, as novas gerações das
classes trabalhadoras, já sem nada que reivindicar, sem
famílias para proteger, sem trabalhos para manter, junta-
ram-se a eles, preferindo o hedonismo. Mas não os cen-
suremos demais, pois de um lado e do outro não houve
quem lhes oferecesse nada de melhor e da plebe não se
pode, nem deve, esperar mais. O trágico é que, defen-
dendo o contrário, os Comunistas percebiam este truís-
mo. Os liberais acharam que, sem pressões sociais, os
valores tradicionais da plebe se manteriam intactos pe-
rante a grande subversão relativista que o seu sistema
permitia.
116
nação de mercado livre internacional e relativismo moral
é a força mais destrutiva dos valores tradicionais, sobre-
tudo pelo seu carácter progressivo e gradual, que não
facilita a identificação do fenómeno e que essa combina-
ção é absolutamente inevitável. Mas nem precisamos de
ficar presos à teoria. Observando o trajecto das democra-
cias liberais, bem como o trajecto paralelo que os países
comunistas efectuaram, só uma boa dose de vaidade e
dissonância cognitiva podem fazer com que não se admi-
ta o erro.
117
Progresso tecnológico e Globalismo
118
Este argumento pode ser rejeitado por várias razões, al-
gumas económicas e outras de cariz moral: a mais impor-
tante, a meu ver, não tem absolutamente nada que ver
com economia, e baseia-se no princípio moral de que
uma população deve manter a integridade étnica (e logo,
cultural) da sua nação ancestral. Acontece que este prin-
cípio, embora moralmente justificado, para ser aplicável
na realidade, obriga a que se façam considerações de or-
dem técnica. Podemos achar, e com razão, que os argu-
mentos e intenções dos globalistas são iníquos, mas te-
mos de concordar que o seu raciocínio não é totalmente
disparatado, sobretudo se quisermos manter ou aumen-
tar o nível de riqueza presentemente existente. Tendo em
conta o índice de fertilidade dos nativos Europeus, a Se-
gurança Social e semelhantes sistemas de transferência de
rendimentos de jovens para idosos é insustentável. Já o é
há várias décadas, e a combinação de declínio populacio-
nal e políticas inflacionárias promete destruir o sistema
por dentro, seja através da impossibilidade de o Estado
cumprir com os compromissos para com os beneficiários
ou de os cumprir para com os credores a quem se endi-
vidou para pagar aos beneficiários. É um problema ina-
movível e que exige uma solução.
119
tituição não implica uma reposição qualitativa, mas sim
quantitativa, que os imigrantes que invadem o Ocidente
não têm a mesma capacidade intelectual e produtiva dos
nativos, que uma boa parte deles adicionam custos em
vez de benefícios ao sistema, e que a economia mundial
necessita de cada vez menos mão de obra não-
especializada dada a automatização e o avanço tecnológi-
co (algo que já afecta as classes baixas e médias do Oci-
dente) as considerações conspiratórias ganham alguma
validade. Pelo que a Direita identitária rejeita obviamente
esta solução, tanto moral como economicamente, e em
contraposição diz que não precisamos de imigrantes,
precisamos somente de mais automatização e progresso
tecnológico. Com a automatização e o progresso tecnoló-
gico vem racionalidade económica, maior produtividade
e logo a libertação de recursos sem se sacrificar a produ-
ção de riqueza, permitindo, em princípio manter o siste-
ma de pensões mesmo perante uma população envelhe-
cida e uma diminuição da população activa. A automati-
zação permite já, e permitirá cada vez mais, a realização
de inúmeras tarefas de forma menos dispendiosa do que
a prévia necessidade de se empregar as classes baixas e
médias, aumentando o nível geral de riqueza. O argu-
mento é ilustrado sucintamente neste video. Ao contrário
da Direita moderada e dos globalistas, a Direita identitá-
ria pode apontar para sociedades onde a sua solução já
está a ser praticada.
120
Para os identitários, o Japão funciona como o exemplo a
seguir. Uma sociedade envelhecida, sim, mas que, apesar
disso, continua a prosperar economicamente, cada vez
mais tecnologicamente avançada e que se mantém ainda
etnicamente homogénea, e logo largamente livre do cri-
me violento ou de propriedade, ao ponto de a polícia não
ter o que fazer. No entanto, penso que é algo ingénuo
olhar para o Japão como uma história de sucesso, quando
essa história pode ser mais correctamente descrita como
uma tragédia. Se as afirmações acima sobre a sociedade
Japonesa são verdadeiras, é preciso no entanto olhar para
o abismo social e moral em que o país caiu – não apesar
delas, mas por causa delas. Neste mini-documentário,
vemos a profundidade da decadência para lá dos núme-
ros, aquela que não podendo ser quantificada, pode ser
observada e sentida. Esta é uma sociedade altamente dis-
funcional, um pesadelo kafkiano de hotéis capsula,
de homens herbívoros, de hikikomoris, em que homens e
mulheres não têm interesse no sexo oposto, em que a fi-
gura do funcionário ideal da corporação se realiza na
sua mais assustadora representação – e mesmo isso não
sendo suficiente para satisfazer as necessidades de uma
sociedade altamente competitiva – em suma: o cúmulo
da sociedade materialista. O desenvolvimento tecnológi-
co que tornou o Japão numa história de sucesso económi-
co foi o mesmo que tornou os seus cidadãos meros autó-
matos ultra-materialistas, desligados da sua humanidade
e, logo, do próximo. E, sem alógenos violentos que, pelo
seu barbarismo, os lembrem da realidade pura e dura da
121
vida, têm liberdade e paz para adormecer num torpor
estéril de conforto. Não admira que uma tal sociedade
não produza progenitura. Para quê trazer crianças ao
mundo quando o mundo é um vazio absoluto? Os Japo-
neses são um retrato aterrador do futuro que a automati-
zação trará ao resto do mundo – se o permitirmos. No
fundo são uma ilustração humana da fossa comporta-
mental observada por John B. Calhoun na sua experiên-
cia com roedores. E na verdade, mesmo em países relati-
vamente atrasados (em comparação com o Japão), obser-
vamos já as mesmas consequências.
122
vão resolver o problema, mas sim complicá-lo. Quanto
mais removidas as pessoas estiverem das realidades da
natureza, quanto mais conforto e alienação, quanto mais
artificiais forem as suas vidas, mais fácil será subverter os
seus valores e destruir a sua humanidade.
123
Eu costumava partilhar da ideia que a tecnologia era so-
cialmente neutra, isto é, que eram os homens e as suas
disposições que imprimiam a uma particular tecnologia
uma faceta benéfica ou maléfica. E até certo ponto é ver-
dade. Mas é preciso entender que a tendência natural no
Homem é para o mal devido à sua natureza caída. Como
diziam os antigos: a carne é fraca. E é igualmente impor-
tante compreender que não é tanto uma tecnologia em
particular que constitui o problema, mas o rápido e ex-
ponencial avanço da mesma, que leva à introdução de
uma ou outra ferramenta na sociedade sem que haja uma
consideração prévia das suas consequências para a socie-
dade. Os últimos 250 anos no Ocidente, quase sem excep-
ção, foram de ditadura científica e tecnológica – sob um
ou outro sistema político, a constante foi a primazia deste
progresso sobre todas as outras considerações e o con-
comitante desprezo por qualquer preocupação levantada
em relação a essa primazia. Salazar não prezava o ‘imobi-
lismo’ português, como os seus detractores o apelidavam,
nem o protegeu institucionalmente por uma questão de
pequenez provinciana, mas sim porque sabia que o pro-
gresso tecnológico veloz levava a uma igual revolução
nas estruturas sociais.
124
uma minoria. Esta realidade, no entanto, só tem conse-
quências sociais graves quando a tecnologia atinge um
ponto de sublimação – ou seja, quando se torna generali-
zada.
125
masse em família nuclear, que a educação das crianças
deixasse de ser um trabalho do bairro, da vila ou da al-
deia. Isto para ilustrar que até uma tecnologia que toma-
mos como garantida, tem implicações para a organização
social e enfraquece normas tradicionais de comunidade.
126
as pessoas se instruírem, adquirirem novas capacidades,
criarem novas obras de arte, etc. Na realidade, o que vai
acontecer e acontece sempre é que as pessoas vão usar
esse tempo para ver pornografia, reality shows, tirar sel-
fies e jogar jogos de computador. Da mesma forma
que gostavam de imaginar que a Internet seria usada pa-
ra expandir o conhecimento e erudição do cidadão co-
mum, quando na verdade a maioria usa-a para satisfazer
impulsos primários e alienar-se do vácuo da vida mo-
derna através de entretenimento.
E repare-se que nem mencionámos os perigos que a Inte-
ligência Artificial e a modificação genética apresentam
para a humanidade, problemas distintos em natureza
daqueles que falámos acima, e que são o produto do pro-
gresso tecnológico exponencial quando não existem en-
traves institucionais, ou sequer considerações sérias so-
bre as consequências desse progresso.
127
identitários gostam muito de falar nas práticas disgénicas
da nossa sociedade, mas nunca mencionam o factor que
permite esta disgenia generalizada: o progresso tecnoló-
gico. Pelo contrário, paradoxalmente encontramos entre
eles alguns dos seus mais ávidos defensores. Nenhuma
outra força permite numa escala tão grande a sobrevi-
vência dos fracos, nem promove com a mesma ferocida-
de a complacência dos fortes. O avanço tecnológico é um
sedativo gradual que leva ao equivalente social de um
corpo vegetativo ligado a uma máquina.
128
O Problema da Fundação
129
Nenhum movimento sobrevive sem unidade e em espe-
cial sem unidade filosófica. Sem uma mundividência par-
tilhada, a tendência será sempre para a luta interna e,
eventualmente, para a cisão. E um movimento com cisões
é incapaz de levar a cabo as suas aspirações. Mas ainda
mais importante é que essa fundação seja sólida, pois
apenas sobre ela se pode construir um edifício resiliente.
Aqui pretendo defender que só a mundividência Cristã
pode providenciar esta fundação para a ampla e ainda
vaga afiliação de vozes que, tendo em conta os objectivos
expressos, podemos considerar da ‘Direita Dissidente’, e
demonstrando que as outras fundações são insuficientes,
prejudiciais e, em alguns casos, incoerentes com as con-
sequências prescritivas a que são associadas.
130
sência de fundação é observada maioritariamente nos
nacionalistas/identitários, em que não só não existe uma
mundividência base que seja partilhada, mas ainda mais
grave, em alguns casos não existe uma preocupação em
expor ou estabelecer essa mundividência. Há um imedia-
tismo neste grupo que, embora tenha os seus méritos,
põe de lado a questão fundacional e se preocupa somente
em reagir a eventos, notícias ou ideias da modernidade.
Nessas reacções está necessariamente subjacente uma
visão do mundo, premissas antropológicas e ontológicas
– mas estas nunca são explicitamente apresentadas ou
explicadas, e não é claro que sejam reconhecidas pelos
seus promotores. Em alguns casos, por serem inconscien-
temente professadas, acabam mesmo por ser contraditó-
rias com as prescrições, dependendo da manifestação
particular de texto para texto.
131
Antes de entrarmos a fundo na análise, observemos al-
gumas dicotomias absolutamente absurdas que ilustram
o vazio fundacional. Há quem seja ardentemente pró-
Israel, e quem ache que o mundo é controlado por um
cabal judaico (sendo o Cristianismo a maior conspiração
de todos os tempos) – ambas as posições, a meu ver, de-
monstrando uma ignorância (ou malícia) risível. Vamos
assumir que não é malícia, mas simplesmente ignorância.
Os blogs (supostamente Cristãos) ardentemente pró-
Israel e pró-Judeus fazem uma crónica ininterrupta dos
males do Islão, nunca abrindo a boca sobre o papel dos
Judeus na promoção da invasão Islâmica do Ocidente, as
atrocidades cometidas pelos Israelitas ou as circunstân-
cias históricas em que o Estado se formou, a influência do
Sionismo e dos judeus na propagação do relativismo no
Ocidente, ou sequer reconhecendo as razões mais pro-
fundas, morais, da invasão islâmica que tanto criticam.
Ou seja, proclamando-se Cristãos, são na prática meros
materialistas e, na sua ardente defesa dos Judeus dos
nossos dias, revelam que nunca leram a Bíblia com aten-
ção. Os blogs anti-Israel, por seu turno, vivem obcecados
com os judeus de tal forma que lêem o Novo Testamento
(assumindo que o leram) e acham que Jesus de Nazaré
foi um Sayanim da antiguidade, enviado para enganar os
gentios. Ambas as posições são patentemente absurdas.
No entanto, ambos os lados são considerados parte deste
mesmo movimento – seria interessante ouvir um debate
entre os representantes, mas isso é outra história – e a
razão para o serem é porque concordam com prescrições
132
específicas para problemas concretos (sobretudo, a oposi-
ção à imigração). Termino este parágrafo dizendo apenas
que tanto os partidários da teoria de que o Cristianismo é
uma conspiração judaica como os Cristãos que são arden-
temente pró-Israel estão para lá de qualquer razão ou
argumento – e digo isto por experiência. A insanidade
dos anti e o sabujismo dos pró tolda-lhes a visão. Aos
segundos, custa-me não atribuir também segundas inten-
ções ou malícia, mas não importa muito explorar o fenó-
meno neste texto.
133
uma ou outra forma de monoteísmo), se pode mostrar
que na verdade não existe equivalência, e que estas não
são manifestações diferentes da mesma ideia, mas ideias
distintas, com distintas consequências teóricas e práticas.
Antes de apontar aquilo que distingue estas concepções
da concepção Cristã, convém salientar que não disputa-
mos a ideia de que as várias culturas e tradições religio-
sas chegaram a algumas conclusões práticas semelhantes
– da mesma forma que as várias vozes dissidentes do
nosso dia chegam também às mesmas conclusões apesar
das suas fundações metafísicas distintas. Assim, por
exemplo, quase todas as tradições religiosas, sobretudo
aquelas que fundaram civilizações dignas desse nome,
foram patriarcais, reconheciam a propriedade privada e
restringiam a liberdade sexual. São Paulo, falando aos
Pagãos Romanos, afirma: «Com efeito, quando há gentios
que, não tendo a Lei, praticam, por inclinação natural, o que
está na Lei, embora não tenham a Lei, para si próprios são lei.
Esses mostram que o que a Lei manda praticar está escrito nos
seus corações, tendo ainda o testemunho da sua consciência tal
como dos pensamentos que, conforme o caso, os acusem ou de-
fendam.» (Romanos, 2:14-15). Ou seja, Deus imprimiu em
todos os homens a capacidade de discernir formas de
conduta e de organização social desejáveis. Mas dizer
que a Lei é discernível não remove a necessidade da sua
revelação, tal como o facto de sabermos que moderar a
velocidade é benéfico não remove a necessidade de co-
nhecer o Código da Estrada.
134
O monoteísmo do Zoroastrismo e o monoteísmo do ‘mo-
tor imóvel’ não são iguais ao monoteísmo Bíblico, e as
diferenças são logo encontradas na fundação. A antiga
religião Persa afirma uma concepção divina, ontológica e
antropológica dualista, em que o Bem e o Mal são forças
equivalentes em constante fricção e à procura de equilí-
brio – e em que tanto o ‘deus bom’ como o ‘deus mau’
existiam previamente à Criação: «Ahura Mazda spake unto
Spitama Zarathushtra, saying: I have made every land dear (to
its people), even though it had no charms whatever in it: had I
not made every land dear (to its people), even though it had no
charms whatever in it, then the whole living world would have
invaded the Airyana Vaeja. The first of the good lands and
countries which I, Ahura Mazda, created, was the Airyana
Vaeja, by the Vanguhi Daitya. Thereupon came Angra
Mainyu, who is all death, and he counter-created the serpent in
the river and Winter, a work of the Daevas.» (Vendidad, Far-
gard 1:1-2). Por cada coisa boa que Ahura Mazda (o deus
bom) cria de benéfico, o seu contraparte maléfico, Angra
Mainyu, cria o seu oposto: «The second of the good lands
and countries which I, Ahura Mazda, created, was the plain
which the Sughdhas inhabit. Thereupon came Angra Mainyu,
who is all death, and he counter-created the locust, which
brings death unto cattle and plants. The third of the good lands
and countries which I, Ahura Mazda, created, was the strong,
holy Mouru. Thereupon came Angra Mainyu, who is all death,
and he counter-created plunder and sin.» (Vendidad, Far-
gard 1:4-5).
135
Algo completamente distinto é-nos contado na história
da Criação Bíblica, em que Deus Cria ex nihilo (isto é, na-
da existia antes além Dele), e em que o mal é simples-
mente a rebelião de seres criados contra a sua autoridade.
O Mal, portanto, não tem existência ontológica no Cristi-
anismo, mas é simplesmente a ausência do Bem – e o
Homem não foi criado com duas naturezas, mas com
uma: uma natureza que a sua desobediência corrompeu.
Isto pode parecer insignificante mas não é: na concepção
Zoroastra o Mal já existia, e é uma de duas escolhas pos-
síveis; na concepção Cristã existe obediência ou desobe-
diência à Lei, adesão ou não-adesão ao Bem. Voltando à
analogia do Código da Estrada, o Zoroastrianismo diz-
nos que, na génese, há dois Códigos, o bom e o mau – e
que devemos seguir o ‘bom’ porque gera boas conse-
quências e evitar o ‘mau’ por gerar as más; no Cristia-
nismo existe apenas um Código, o Bem, e é da nossa de-
sobediência que surgem as más consequências, o Mal.
136
thing which moves it. And since that which moves and is
moved is intermediate, there is something which moves without
being moved, being eternal, substance, and actuality.» (Me-
taphysics, Book 12, Part 7). Mas se Deus não é pessoal
nem a Criação é o produto da sua acção, a Lei não existe
como algo transcendente que nos foi revelado – mas tor-
na-se um mero artifício humano, uma heurística, desen-
volvida pelos mecanismos naturais derivados do primei-
ro movimento.
Pode questionar-se a relevância destas considerações pa-
ra as questões mais concretas com que nos deparamos,
mas a fundação determina não só a resiliência do edifício
mas também a forma que esse edifício toma. Estas noções
de ‘equilíbrio’ entre Bem e Mal (existente nas concepções
orientais do divino tão promovidas no Ocidente moder-
no) e do ‘motor imóvel’ (de que a teoria do Big Bang é
um exemplo) são partes importantes da mundividência
maçónica/gnóstica que tomou conta do Ocidente nos úl-
timos séculos, e é sobre elas que as nossas sociedades são
erigidas. Não admira, pois, que o edifício esteja a ruir.
Ambas as fundações, embora na aparência monoteísticas,
levam directamente ao relativismo. A abertura da teolo-
gia Cristã a estes conceitos antagónicos, numa tentativa
de ‘ecumenismo’ e ‘sincretismo’, foi uma das principais
razões para esta degeneração fundacional na civilização
Ocidental. Não é um acaso que quando a consciência da
fundação Cristã, da Criação ex nihilo e da Lei como reve-
lação, foi apagada no Ocidente, se deixou de prestar tri-
137
buto à dignidade humana inerente e se começou a achar
que todas as formas de viver são certas.
138
tão comum nos nossos dias, seja da boca de anti-Cristãos
como dos próprios Cristãos, é simplesmente falsa, e sur-
ge simplesmente de ignorância.
139
antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele fazia suas re-
feições na companhia dos gentios; todavia, quando eles chega-
ram, Pedro foi se afastando até se apartar dos incircuncisos,
apenas por temor aos que defendiam a circuncisão. E os outros
judeus de igual modo se uniram a ele nessa atitude hipócrita,
de modo que até mesmo Barnabé se deixou influenci-
ar. Contudo, assim que percebi que não estavam se portando de
acordo com a verdade do Evangelho, repreendi a Pedro, diante
de todos: “Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não con-
forme a tradição judaica, por que obrigas os gentios a viver co-
mo judeus?”» (Gálatas 2:11-13). E também nas visões de S.
João o ethnos surge como parte da providência eterna de
Deus para a humanidade: «Em seguida, olhei, e diante de
mim descortinava-se uma grande multidão tão vasta que nin-
guém podia contar, formada por pessoas de todas as nações,
tribos, povos e línguas. Estavam em pé, diante do trono do
Cordeiro, vestidos com túnicas brancas, empunhando folhas de
palmeira. E proclamavam com grande voz: “A Salvação perten-
ce ao nosso Deus, que se assenta no trono e ao Cordeiro!”»
(Apocalipse 7:9-10).
Tendo em conta que os identitários reconhecem o valor
da tribo e procuram uma ordem social que a sirva, e que
o darwinismo social, quando levado à sua conclusão ló-
gica, impossibilita qualquer forma de lei que não a da
simples sobrevivência, o próprio facto de terem a tribo
como valor e postularem uma ordem social é contraditó-
ria com essa fundação. Para ilustrar este ponto, pensemos
no seguinte: várias vezes li identitários a aplaudir as ra-
ças do Oriente Extremo como ‘superiores’, querendo com
140
isso dizer que exibem em grande quantidade as caracte-
rísticas que consideram de valor (quase todas fundadas
no facto de terem QIs relativamente altos – com as conse-
quências societais derivadas desse facto). Podemos con-
cluir então que a nossa tribo merece, a bem da sobrevi-
vência e da evolução, ser conquistada e substituída por
Chineses e Japoneses. Não são eles ‘superiores’? Se to-
marmos o darwinismo social como fundação filosófica,
temos de responder que sim (lembremos que o título
completo do famoso livro de Darwin é On the Origin of
Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of
Favoured Races in the Struggle for Life), embora claramente
os identitários respondam que não. E se se pudesse pro-
var que a miscigenação criaria uma raça biologicamente
superior, seriam os identitários darwinistas a favor desse
destino? Obviamente que não. Mas porquê? Porque valo-
rizam a sua tribo acima da sobrevivência do ‘mais forte’ e
acima da evolução, e é nessa premissa que se funda a sua
mundividência – por muito que erroneamente conside-
rem que a fundam no darwinismo. Por outras palavras, a
sua mundividência funda-se no amor ao próximo. E o
próximo não é qualquer um, é aquele que está próximo.
Porquê amar o próximo como a nós mesmos? Porque o
próximo é como nós. É parte de nós. A concepção Cristã,
a original, não é antagónica à identidade tribal: o ethos e
o ethnos complementam-se. Perdendo-se um, perde-se o
outro.
141
O facto de, aos olhos de Cristo, sermos todos iguais não
significa que não existam diferenças entre nós, nem que
essas diferenças não devam ser observadas por Cristãos
(se assim fosse, Deus não teria, por exemplo, ordenado a
submissão terrena da mulher ao homem, porque a famo-
sa passagem Gálatas 3:28 diz que em Cristo ‘não há mascu-
lino nem feminino‘). Os Cristãos são comandados a obser-
var tais diferenças, e o que Cristo observa é a nossa obe-
diência. E o que é que Cristo requer de nós? «Mestre, qual
é o grande mandamento na lei? E Jesus disse-lhe: Amarás o
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e
de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande manda-
mento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próxi-
mo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a
lei e os profetas.» (Mateus 22:36-40).
142
o ethnos, estão mais perto da Verdade do que aqueles que
o desprezam, dizendo-se Cristãos.
143
lugar, e inconscientemente aceitaram que o ethos tem de
preceder ao ethnos.
144
que substituiu a fundação absolutista fundada na Criação
revelada na Bíblia. Sem rejeitarmos as várias fundações
erróneas, não temos meio de rejeitar os seus resultados. E
sem aceitarmos a fundação certa, não temos meios de
obter os seus benefícios.
145
O Nacionalismo não é necessário, nem suficiente
146
nalismo opera da mesma forma no plano político. É desta
mentalidade que surge a defesa do Nacionalismo.
Pretendemos aqui argumentar que o Nacionalismo não
pode constituir a base para o movimento, pois mesmo
para os objectivos que pretende concretizar não é neces-
sário, nem suficiente. Para isso temos primeiro de o defi-
nir, para que se saiba aquilo a que apontamos a nossa
crítica. Como todas as ideologias, pode dizer-se que é
tudo e mais alguma coisa, por isso tentaremos cingir-nos
a uma definição que tenha em conta, ao mesmo tempo, a
História da ideologia e a sua presente manifestação. O
Nacionalismo é uma ideologia política Republicana e
Democrática saída da Revolução Francesa, que postula a
preservação da Nação enquanto entidade política (o Es-
tado-Nação), a defesa de território delineado por frontei-
ras terrestres, da tradição e coesão linguística, cultural e
étnica contra processos de destruição identitária ou trans-
formação. Quando digo que o Nacionalismo não pode
constituir a base, quererá isto dizer que sou contra os
seus objectivos individuais postulados acima? Não. Mas
quer dizer que estas ideias em si mesmas não garantem
aquilo que pretendem garantir, e em particular a forma-
lidade da ideologia (a identificação da nacionalidade com
o estado-nação) não é necessária, nem suficiente.
147
de as árvores pela floresta, e esquece que há factores me-
tafísicos que o Nacionalismo por si mesmo não contradiz,
que não só permitem mas promovem esta situação. Sen-
do uma invenção moderna saída do próprio Liberalismo,
o Nacionalismo tem a mesma fundação no Materialismo
Iluminista e sofre dos mesmos problemas insolúveis. O
Nacionalismo, por mais benéficas que sejam as suas in-
tenções, acaba a longo prazo na mesma situação que
qualquer outra ideia democrática. Isto é, acaba na des-
truição daquilo que pretende defender. Tal como o Libe-
ralismo é a longo prazo incapaz de defender a Liberdade,
o Nacionalismo é incapaz de defender a Nação.
O caso Português, com as suas fronteiras e unidade polí-
tica com quase mil anos, não é dos melhores exemplos
para se perceber o argumento que fazemos aqui. Mas por
outro lado, o facto de ser uma absoluta raridade na His-
tória Europeia, acaba por ilustrar ainda assim o ponto
acima. As nacionalidades de Leste, por exemplo, ofere-
cem um perfeito exemplo de como a coesão étnica e cul-
tural de um povo não dependem de uma entidade políti-
ca equivalente, ou seja, não precisam de Nacionalismo. E
em alguns casos, observa-se que muitos grupos étnicos
estavam mais bem servidos sob uma entidade política
mais larga do que quando obtiveram os seus estados-
nação. O Império Austro-Húngaro, a Jugoslávia de Tito,
ou até a França pré-Revolucionária – onde, lembremos,
existiam várias nacionalidades, entretanto extintas preci-
samente pelo Liberalismo – ou até a Rússia moderna, são
bons exemplos de como o Nacionalismo não é necessário.
148
Na maioria dos casos foram precisamente os poderes Li-
berais e a ideia da auto-determinação dos povos que de-
sagregaram ou destruíram nacionalidades (como no caso
Francês ou, em menor escala, na centralização nacionalis-
ta da Itália ou da Alemanha). Sob um ou outro império
várias nacionalidades sobreviveram sem Nacionalismo, e
com Nacionalismo destruíram-se várias nacionalidades e
identidades.
149
uma ferida de bala, e sendo uma ideia em grande parte
contraditória, como demonstrámos, acaba por ser utili-
zada amiúde pelas elites globalistas para fomentar o caos
e destruir a sociedade tradicional. Obviamente, o Nacio-
nalismo pode ser, sob determinadas circunstâncias, uma
força contrária aos planos globalistas, sobretudo centenas
de anos depois da destruição da ordem monárquica, mas
é preciso nunca esquecer que o próprio Nacionalismo foi
uma ideia promovida pelas elites maçónicas da época
com o objectivo de destruir as sociedades que existiam,
tal como hoje promovem o Globalismo para destruir as
que existem. Como a História demonstra, o Nacionalismo
não é uma condição necessária para a defesa da naciona-
lidade mas sobretudo não é suficiente – algo que é ilus-
trado perfeitamente no Nacionalismo dos nossos dias.
150
particular anti-Islão, e que predicam a sua oposição na
defesa de valores modernos completamente antagónicos
à coesão nacional. Os exemplos são demasiado numero-
sos, tanto dos partidos e movimentos, como das ideias
que partilham com os globalistas, para que se ignore esta
tendência. A sua manifestação mais gritante é na oposi-
ção ao Islamismo. É um óbvio ululante que nos devemos
opor ao Islamismo como ideologia, e ainda mais à imi-
gração massiva de proponentes dessa ideologia para a
Europa, mas há boas e más razões para o fazer. E, infe-
lizmente, a maioria dos nacionalistas opõe-se ao Islamis-
mo pelas razões erradas. A maioria das críticas feitas pe-
los nacionalistas são às ideias que caracterizam como ‘re-
trógradas’ e que contrastam com as ‘liberdades’ ociden-
tais: a submissão da mulher ao homem e a intolerância
dos desviantes sexuais, em particular, comprazem a
grande maioria das críticas. Nelas está subjacente a defe-
sa da insubmissão e liberdade femininas e da tolerância
dos desviantes sexuais. Ou seja, atacando o Islamismo
por estas coisas, os Nacionalistas atacam igualmente
qualquer sistema político e social que incorpore es-
tes princípios. Isto demonstra que estes Nacionalistas são
infelizmente ignorantes, tanto da História Ocidental co-
mo da História universal, pois todas as civilizações dig-
nas desse nome impuseram regras sociais estritas, e em
particular, a submissão da mulher ao homem e a remo-
ção dos desviantes sexuais (aquelas que, com o tempo,
deixaram de o fazer acabaram na mesma decadência em
que a nossa se encontra hoje); e demonstra igualmente
151
que são antagónicos à organização social Cristã que do-
minou a Europa durante pelo menos 1500 anos, e que foi
paralela ao florescimento da Europa como força domi-
nante em todos os aspectos em que normalmente se ava-
liam as civilizações. Ou seja, pretendendo defender o
Ocidente, a maioria dos Nacionalistas defende as ideias
que perverteram a nossa civilização e nos trouxeram ao
ponto actual. O bem comum, a coesão social, a unidade
nacional, requerem necessariamente determinados sacri-
fícios de liberdade individual. Ao elevarem essa liberda-
de ao princípio base da sua visão do Ocidente, estes Na-
cionalistas plantam a própria semente que germinará na
disfunção política, social e económica que cria o proble-
ma migratório em primeiro lugar.
152
valor principal. E é a isto que nos referimos quando di-
zemos que o Nacionalismo descura o aspecto metafísico,
pois é incapaz de perceber que a situação migratória é
uma consequência da perda de valores tradicionais na
sociedade, não é um assunto separado que possa ser re-
solvido sem se resolver este outro.
153
bem comum da Nação é muito mais do que o bem indi-
vidual dos seus membros, e subscrevem assim uma for-
ma ou outra de individualismo, que é radicalmente anta-
gónico ao objectivo que pretendem alcançar.
154
perseguir uma ilusão, mas ainda mais importante, não
podem ser considerados como aliados. Pelo que é de ex-
trema importância que se entenda que o movimento tem
de rejeitar todos os pontos do liberalismo, e ser muito
mais radical do que o simples Nacionalismo.
155
O Papel das Mulheres
156
das as sociedades que foram além do mais básico primi-
tivismo a reconheceram e aplicaram. Excepções sempre
as houve, mas como se costuma dizer, servem apenas
para confirmar a regra. E a regra existe com razão. Uma
mulher como a Ayn Rand, por exemplo, fez muitíssimo
bem em nunca ter tido filhos e ser dona de casa e, em vez
disso, dedicar-se ao trabalho intelectual, produzindo
ideias de indiscutível valor e originalidade (a avaliação
última dessas ideias é uma questão demasiado complexa
para discutirmos aqui). Mas também por essa razão, uma
vez chamaram-lhe ‘o homem mais corajoso na América’. Por
certo que os que pretendem que as mulheres tenham a
liberdade de participar no movimento no mesmo pata-
mar que os homens não quererão que elas se transfor-
mem em meras imitações dos homens. E no entanto,
quando o fazem, é precisamente nisso que se transfor-
mam.
157
do mais fundamental da organização humana: das dife-
renças salutares entre homens e mulheres.
158
pação em demonstrações e debates e, deduz-se, nas bata-
lhas campais em que muitos dos eventos se transformam
e eventualmente nas trincheiras de uma potencial guerra
civil.
159
do homem, e deve a ele ser submissa. Repare-se nas se-
guintes passagens:
«
Submetei-vos uns aos outros, no respeito que tendes a Cristo:
as mulheres, aos seus maridos como ao Senhor, porque o mari-
do é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da
Igreja – Ele, o salvador do Corpo. Ora, como a Igreja se subme-
te a Cristo, assim as mulheres, aos maridos, em tudo.» (Efésios
5:21-24)
160
tras de virtude, a fim de ensinarem as jovens a amar os maridos
e os filhos, a serem prudentes, castas, boas donas de casa e dó-
ceis aos maridos, de modo que a palavra de Deus não seja difa-
mada.» (Tito 2:3-5)
161
Quando se advoga a participação das mulheres no mo-
vimento, não como esposas, mães e companheiras, mas
como equivalentes intelectuais e físicas dos homens, ob-
viamente que se tem em mente muitos casos recentes
que, admita-se, angariaram indiscutivelmente um grande
número de novos convertidos à causa identitária, à defe-
sa do Ocidente e à tentativa de o ressuscitar do torpor
terminal em que se encontra depois de ter sido vergado
às forças igualitárias e relativistas do Iluminismo.
162
that epitomized this newfound hate for the young on the right,
it was Republican consultant Rick Wilson’s infamous… decla-
ration that Trump supporters were “childless, single losers
who masturbate to anime.” Guilty as charged. Well, except I
don’t masturbate to anime characters. I dress up like them and
guys masturbate to me.» Se isto não demonstra que a me-
nina Southern sabe perfeitamente qual é o seu papel –
uma softcore camwhore para nerds políticos – não sei o
que demonstra.
163
actividades são aquelas que coincidem com o papel tra-
dicional da mulher na sociedade: ser uma esposa, uma
mãe, providenciar acompanhamento emocional e intelec-
tual nos primeiros anos de vida das crianças, manter um
lar estável e saudável para a sua progenitura.
164
Depois é preciso considerar algo que já foi mencionado
noutros textos: primeiro, que o meio é a mensagem. E
depois que atrair as pessoas erradas, e sobretudo os ho-
mens errados, é contraproducente. Neste caso, o meio é
muitas vezes o de ter mulheres a ditar a homens aquilo
em que devem acreditar e porquê. Psicologicamente, isto
resulta em homens castrados. A verdade é que a popula-
ridade de Lauren Southern, bem como de raparigas se-
melhantes, vem da percepção óbvia, mas perniciosa, de
que o mesmo tema quando apresentado em conjunção
com um decote ou uma carinha laroca tem automatica-
mente mais audiência. E note-se que a menina Lauren,
em termos de beleza, será no máximo um 6.5. Tire-se a
maquilhagem e desconfio que se encontra um 4 ou no
máximo um 5. Será que queremos conquistar uma audi-
ência de homens sexualmente frustrados que se perdem
de amores por uma rapariga de aspecto banal com quem
concordam politicamente?
165
na, encontrava-se na possibilidade de pagar duzentos e
cinquenta dólares por 15 minutos (!) de sessão de Skype
privada com a menina Southern. Não sei de ciência certa,
mas apostaria que uma prostituta de luxo levaria menos
de mil dólares à hora – em carne e osso, não por sessão
de Skype. Isto ilustra tanto o empreendedorismo (por
assim dizer) da menina Southern, como a sede de atenção
feminina e a total efeminação dos homens brancos mo-
dernos, obcecados com a sua ‘namorada virtual’ ao ponto
de pagarem a peso de ouro a oportunidade de fazerem
parte do seu ‘círculo íntimo’ (quão grande é esse círculo,
nunca saberemos). Entretanto a menina Southern apagou
esta opção do seu site (depois de algumas críticas) e ficou
apenas a opção ‘Exclusive’, em que pagando cem dólares
por mês, obtêm um livestream particular entre os subs-
critores dessa opção e, cereja no topo do bolo, ela segue-
os no Twitter (não estou a gozar!). Não só não queremos
estes homens ao nosso lado numa batalha, mas perpetuar
este tipo de atitude é absolutamente contraproducente.
Podemos ter um exército de milhões, mas se forem mi-
lhões como os que dão dinheiro à menina Southern, se-
remos derrotados por trezentos inimigos duros, como na
mítica história.
166
únicas mulheres do movimento que os têm são muito
mais recatadas, trabalham com os seus maridos e, por
essa razão, não obtêm o mesmo nível de atenção mascu-
lina (nem é esse o seu objectivo). Mas não podemos cul-
par apenas as raparigas. Quem devemos culpar são os
homens fracos que as promovem e lhes sustentam o esti-
lo de vida. Espero estar enganado, mas suspeito que ne-
nhuma dessas raparigas vai casar e ter filhos enquanto a
sua beleza relativa e juventude lhes permitirem ter hor-
das de frustrados a patrocinar as suas viagens e ‘aventu-
ras’. Para quê dedicarem-se a um homem, quando po-
dem ter a atenção de milhares, senão milhões?
167
leis estabelecidas contra a religião, perguntou ao Patriar-
ca de Moscovo o que iria acontecer à Igreja quando a úl-
tima avó morresse. O Patriarca respondeu-lhe que have-
ria outra geração de avós para as substituir. Palavras pro-
féticas, sobretudo se se considerar que a maioria das avós
russas de hoje eram apenas crianças ou nem sequer nas-
cidas quando estas palavras foram proferidas, e que a
Igreja manteve-se ao longo de toda a animosidade comu-
nista e retomou o seu lugar (e continuou a crescer) logo
após a queda do regime.
168
O Elefante Tecnológico
169
acompanhamento inevitavelmente benéfico, mas como
panaceia para os problemas criados pelos outros tabus –
e ainda mais estranhamente, esta visão salvífica é princi-
palmente mantida pelo lado direito da barricada.
170
distinções e disparidades e portanto é incapaz de enten-
der a génese do problema.
171
outro deixaram de existir. Não vêem todos os mesmos
programas de televisão, usam os mesmos smartphones
com as mesmas aplicações, conduzem os mesmos carros,
praticam as mesmas profissões seguindo os mesmos mé-
todos, bebem as mesmas bebidas, comem nos mesmos
restaurantes, partilham da mesma ideologia? E qual é o
instrumento que, não só lhes permite fazê-lo hoje, mas
que destruiu as suas prévias ligações nacionais, locais,
comunitárias? Só há uma resposta válida: o progresso
tecnológico.
172
queira participar na sociedade. Isto acontece no plano
individual como no plano comunitário, local, regional e
nacional. O rebelde que em meados do Século XX dizia
que nunca iria conduzir ou utilizar meios de transporte
automatizados, torna-se obrigado a usá-los quando todos
à sua volta e a própria organização do seu meio envol-
vente o obriga a tal, se quiser ter uma participação ainda
que ínfima na sociedade e obter o seu próprio sustento.
Ou o empresário que pretende manter os seus emprega-
dos pois é ideologicamente contra a automatização ou
simplesmente porque tem uma relação extra-económica
com eles, eventualmente terá de automatizar os seus pro-
cessos, cada vez mais, para acompanhar as outras empre-
sas e manter a sua rentável. Em alternativa, declara falên-
cia, despede os seus funcionários e torna-se ele mesmo
um funcionário de outrem, sempre com o cutelo da au-
tomatização a pairar sobre a sua cabeça, ameaçando o seu
posto de trabalho e a sua capacidade de se sustentar. E
também o país que rejeita os avanços tecnológicos que
vão ocorrendo noutras paragens torna-se vulnerável à
conquista por países tecnologicamente mais avançados, e
sofre pelo menos a pressão do seu próprio povo para
emular estes países pela informação que chega de fora
sobre as maravilhas trazidas pelos desenvolvimentos
tecnológicos.
173
rapidamente, se torna uma necessidade. A adesão aos
seus serviços deixa de ser uma escolha e passa a ser uma
obrigação para todos – e o preço a pagar pela não-adesão
cada vez maior quanto maior o desfasamento entre um e
outro grupo. E claro que este processo sempre ocorreu,
mesmo em sociedades primitivas, mas sempre de forma
muito limitada. Com a Revolução Industrial o espectro
de influência e a velocidade com que sucede, tornou-se
inescapável para qualquer povo, em qualquer parte do
mundo.
174
mais díspares as combinações, mais geneticamente fraco
será o produto. No entanto, através do progresso tecno-
lógico, estas fraquezas são atenuadas – e, eventualmente,
resolvidas. Qual é, nesse caso, o argumento contra, se a
tecnologia nos permite solucionar os problemas causados
pela exogamia? Torna-se num argumento meramente
cultural e sentimental. E aí voltamos aos parágrafos ante-
riores sobre a contaminação e unificação cultural levada a
cabo pelo progresso tecnológico.
175
nunca apontar a mira ao mecanismo que não só possibili-
tou a destruição de toda a ordem social que considera
valiosa, mas tornou essa destruição uma inevitabilidade.
176
munitárias, por sua vez, desapareceram, visto que o ciclo
de continuação foi abruptamente parado; nas cidades, os
indivíduos atomizados aderem, pois, necessariamente à
cultura urbana, cosmopolita e desligada de qualquer raiz,
pois é a única que existe e que pode existir.
177
E reparem que não referimos as consequências
dos malefícios do progresso tecnológico, que em geral só
são descobertos tarde demais, como por exemplo a des-
truição do meio natural pela poluição industrial ou a con-
taminação dos nossos corpos por partículas tóxicas, como
comprovadas regularmente em estudos que chegam à
conclusão de que os avanços tecnológicos têm, afinal,
também prejuízos. Estamos a falar das consequências,
não dos malefícios, mas dos benefícios do progresso tecno-
lógico. Estes benefícios, que são inegáveis, como o au-
mento da esperança de vida ou a relativa facilidade na
produção de alimentos, têm em si mesmos contrapartidas
nefastas, sobretudo de um ponto de vista de direita. Que
os vários avanços tecnológicos tenham algumas conse-
quências materiais negativas é óbvio para todos com o
passar do tempo, mas que as consequências materiais
positivas trazem os seus próprios problemas – e que não
são problemas pontuais e circunscritos, mas problemas
civilizacionais, de paradigma – não é tão fácil de ver, ou
de admitir. Se o fosse teriamos muito mais vozes na direi-
ta a expressar preocupações com este fenómeno, e a ver-
dade é que não temos.
Inúmeros outros exemplos podem ser dados daquilo que
era natural e necessário numa sociedade tradicional, mo-
no-cultural e mono-racial, e que se torna acessório, opci-
onal ou até desvantajoso com a introdução de tecnologia
moderna. Aqueles que lutam a favor de um retorno sem
criticar o sistema tecnológico, estão a lutar contra uma
sombra numa parede – e quem dá murros contra pare-
178
des, não só magoa a mão, como não fere o inimigo. A
modernidade pode ser uma doença espiritual, mas é en-
quadrada em parâmetros físicos. Todas as sociedades
Europeias, no continente ou na diáspora, estão afectadas
e infectadas por esta doença. Será que o problema é, en-
tão, especificamente Europeu? Não, a razão para as soci-
edades Europeias (e logo a seguir as do extremo Oriente)
serem as mais afectadas é que são as que há mais tempo
convivem com a tecnologia moderna, que lideram os
seus avanços e sofrem primeiro as consequências da sua
introdução. A existência de grupos como os Quakers, os
Amish ou os Menonitas, que rejeitam a tecnologia mo-
derna e, não por acaso, mantêm comunidades tradicio-
nais, mono-culturais e mono-raciais, prova a origem do
problema.
179
nações, não as separa simplesmente em termos geográfi-
cos, mas retira-lhes a ferramenta, a linguagem comum,
que era a condição principal para a sua afronta a Deus. A
mesma lição existe na história da desobediência humana
no Jardim do Éden, em que o novo conhecimento precipi-
ta a decadência de toda a criação. Aqueles que encolhem
os ombros e vêem esta admonição como irrelevante ou
até contraproducente, estão presos numa visão progres-
sista do mundo, a mesma da Esquerda, de que o progres-
so é um bem em si mesmo, trazendo novos amanhãs que
cantam, e que a estabilidade é uma anomalia. Daí verem
o progresso tecnológico, não como destrutivo, mas como
libertador. Mas piores são aqueles que, entendendo a li-
ção Bíblica, ainda assim fecham os olhos à sua manifesta
e óbvia encenação contemporânea, o progresso tecnoló-
gico e as suas consequências para a saúde moral dos ho-
mens e das suas sociedades. Ambos, porém, ao ignora-
rem ou apoiarem o progresso tecnológico, passado, pre-
sente e futuro, estão a lutar sem saberem contra si mes-
mos, em contradição absoluta.
180
males que correctamente identifica no mundo, tem de ser
necessariamente céptica de avanços tecnológicos e favo-
recer um retorno, não só aos aspectos exteriores da socie-
dade tradicional, mas às condições tecnológicas que as
tornavam possíveis e salutares.
181
Informar o Público
182
rem até essa camada da informação disponível, algo que
em si já é duvidoso.
183
profunda do que a mera informação sobre o clima políti-
co e social. E pelas minhas observações, são os que mais
precisam dessa educação, que mais avessos são a ela,
pois é o antídoto para a desordem na qual estão viciados.
184
A Caverna
185
nais são comprados por um grupo heterogéneo de pesso-
as, que nada têm em comum a não ser o consumo.
186
A identidade nacional não pode ser construída pelo topo,
e como tal não foi destruída pelo topo, mas pela base.
187
Primeiro foi o carro, que nos levou do bairro familiar on-
de toda a gente se conhecia para o bairro dormitório em
que ninguém se conhecia apesar de todos virem de sítios
e situações semelhantes. O próprio bairro dormitório não
tem zonas comunitárias que não estejam ligadas ao con-
sumo, e assim que as lojas fecham, as praças ficam deser-
tas, ficando só os adolescentes a fumar charros – até isso
ligado ao consumo. Na praça do bairro velho, as pessoas
juntavam-se para falar umas com as outras sem precisar
de um objecto de consumo que as ligasse dada a rede
complexa de outras ligações que ali existiam; as velhotas
ficavam o dia todo à janela, a fazer conversa ou a vender
os seus serviços dos mais variados tipos, mas todos com
o propósito de reparação. O Centro Comercial, pelo con-
trário, representa a mudança deste modo de pensar as
coisas: nada se repara, tudo se substitui. Por novo, maior,
mais vistoso. Até as igrejas destes bairros dormitórios
não oferecem na maioria um local de confraternização
exterior à liturgia, algo que era dado como garantido, e
em vez disso servem um propósito único e que, sem o
que o rodeia, perde uma grande parte do seu sentido e
apelo.
188
as pessoas que lá trabalham moram a horas de distância e
não vão manter esses trabalhos muitpo tempo. Já não há
velhotas às janelas, só estabelecimentos comerciais, es-
planadas, e lojas de ‘artesanato’ português, vindas do
Norte e do Sul e do Centro, completamente desligados do
seu contexto. O bairro antigo já não é um bairro, é a uni-
dade comercial número X, e o bairro dormitório não é um
bairro, é a unidade habitacional número Y. Se mudassem
as pessoas e os estabelecimentos, como mudam frequen-
temente, não se mudava nada. A sua verdadeira identi-
dade é a ausência de identidade. E como tal, que diferen-
ça faz para o habitante do dormitório se no apartamento
ao lado está um português ou um angolano: a um como a
outro só vai dizer bom dia, se disser, e nada vai saber da
sua vida, nem ele da dele. Ambos se poderão encontrar
no centro comercial, com os mesmos objectivos de con-
sumo, e igualmente desligados de qualquer ligação pro-
funda.
189
tentar qualquer identidade nacional, a não ser de uma
narrativa fictícia ligada a eventos histórios longínquos (e
mesmo isso está a ser apagado, porque não tem mais ra-
zão de ser mantido) ou a representações fúteis (como o
futebol).
190
da utilidade e do comercialismo global, primazia que
levou à destruição das identidades que sustentavam a
identidade étnica.
191
A supremacia da excepção
192
margem – mas ambos existem nos seus lugares, sem
nunca se confundirem. Há dias específicos para celebrar
a margem, e depois volta-se ao normal (como o Carna-
val). O que a modernidade fez foi, sucessivamente, afir-
mar o absolutismo do centro, ou da margem, rotativa-
mente.
193
centro expurgando as margens, mas por sua vez essa
procura por pureza surgiu de uma erupção das margens,
e por aí adiante, numa questão que acaba por ser como a
da galinha e do ovo.
194
Feira
195
cipa-se até certo ponto, satisfazem-se os demónios mais
fracos, para no resto do tempo se evitarem os mais fortes.
A vida depois volta ao normal.
196
Ser Humano
197
lado, dizem-nos que somos mera carne, talvez mente,
mas só na medida em que a mente é o software a correr
no hardware do cérebro. E por outro, sabemos que têm
um conceito do que é agir ‘humanamente’. Mas que é
isso, numa visão materialista?
198
Continuo a achar que até o mais convicto ateu diria que
não – se fosse rigoroso, diria que sim, mas só dentro dos
parâmetros estabelecidos, que não incluem a compaixão
pelo outro como critério. Será que essa definição tão limi-
tada nos serve? Talvez para a medicina, para a química e
outras ciências naturais. E se a mantivermos nesse domí-
nio, sem querer daí extrapolar uma visão completa do
mundo, tudo está bem.
199
No primeiro capítulo do primeiro livro das escrituras,
Deus cria o mundo pela Palavra. Diz: haja Luz, e haja
animais, e por aí fora. Mas na criação da humanidade,
Deus diz: Façamos. E toda a gente se foca no plural, mas
não no verbo.
200
Paradoxos
201
tros. E é necessário admitir que é aos Cristãos que cabe o
trabalho de pregar decente e adequadamente; e que essa
tarefa foi negligenciada durante séculos, em particular
aos Europeus, por se julgar que o trabalho estava feito. A
verdade é que os Cristãos se demitiram de pregar aos
convertidos, como quem se esquece de pôr mais lenha na
fogueira – e eventualmente ela apaga-se, ou fica tão fraca
que é preciso muito trabalho para a reacender.
202
Quando São Paulo foi pregar aos Atenienses não come-
çou por dizer-lhes o quão errados estavam, que eram
burros, que a sua religião ancestral era uma falsidade e
apresentado Cristo como uma novidade e uma ruptura.
Não quis deitar tudo abaixo e construir sobre os escom-
bros – construiu sobre as pedras firmes que já estavam
lançadas, e deixou cair as que tinham fundação duvidosa.
Pegou no que de bom havia neles, e partiu daí. Vendo
que os Atenienses eram religiosos e observando os seus
objectos de culto, encontrou um altar que dizia ‘ao Deus
desconhecido’ e, em vez de lhes dizer que vinha pregar
um Deus novo, disse-lhes que lhes vinha dar a conhecer
Aquele que até então lhes era desconhecido.
203
Virando-me agora para outro lado, o mais curioso nas
oposições ao Cristianismo, é que elas são paradoxais, por
vezes vindas de lados opostos, mas até do mesmo lado.
204
Os críticos têm alguma razão. As acusações são verdadei-
ras, até certo ponto. O Cristianismo é, de facto, parado-
xal. E é aí que reside a sua veracidade. Porque o Homem
é paradoxal. Não é pois o Cristianismo que acusam, mas
a própria natureza humana. Não é num extremo nem no
outro que se encontra a virtude, mas no meio. E Cristo
veio apontar-nos esse caminho, para que não pecássemos
por um lado nem pelo outro, como tinha sucedido com
todas as culturas e religiões até à sua vinda.
205
dos opostos começou a ser quebrada, não foi só a prima-
zia que se destruiu, mas os próprios opostos morreram
uniformizados.
206
Protestar
207
tamente aparente que o seja, mas só depois de a percorrer
um bocado, ou até mesmo só depois de chegar ao destino
errado se percebe. E depois o retorno é igualmente de-
morado, tem de se percorrer a estrada toda até ao cruza-
mento onde se tomou a esquerda, em vez da direita (me-
táfora usada não aleatoriamente, claro).
208
Antes de continuar, devo dizer que não aprecio antago-
nizar Cristãos protestantes, não os considero menos Cris-
tãos por isso, e que se critico é por amor, e por achar que
é absolutamente necessária – mas não me é agradável.
Mas o facto é que vejo o erro dos nossos tempos como
um resultado directo do Protestantismo, que é em si um
resultado do materialismo – um obstáculo que se coloca
sobre os olhos, mas que em vez de atenuar a luz para não
sermos cegados, se assemelha mais a um telescópio ou
microscópio, que assegura a cegueira. É o erro da extre-
ma proximidade bem como da extrema distância. De
uma forma ou de outra, não se vê o que está à frente dos
olhos.
209
tantes aderem. Aderindo ao Novo Testamento, aderem já
à Tradição, dizendo rejeitá-la. Mas sem a orientação da
hierarquia, o que sucede é que se utiliza o microscópio ou
o telescópio, e focando-se num ponto mais longínquo ou
num ponto mais próximo, se é incapaz de ver o todo. Daí
que do Protestantismo tenha nascido o Capitalismo e o
Comunismo. Aqueles focam-se na parábola dos talentos
esquecendo-se que Jesus nos diz quão difícil é a um rico
entrar no Reino de Deus; os outros focam-se exactamente
no contrário. Ambos estão certos em relação aos particu-
lares, mas errados em relação ao todo.
210
simples de Bíblias em várias línguas, a fé Cristã só pode-
ria ser transmitida por meio da Tradição e das hierarqui-
as estabelecidas, como até aí tinha sido feito.
211
É essa mesma mentalidade que leva outros críticos a di-
zer que o Cristianismo, sendo a realização da Tradição
judaica, é incompatível ou externo aos Europeus. E por
isso uns e outros pecam pelos extremos: há aqueles que
se focam na tradição judaica, e os que se focam na tradi-
ção Europeia. Em vez de se focarem em Cristo e na sua
Igreja, separar o trigo do joio e viver numa sociedade
equilibrada.
212
amos de religião. Por vezes penso que os Protestantes
nem sequer entendem que a nossa natureza caída signifi-
ca que fomos desligados do Divino e precisamos que nos
voltem a ligar, e que portanto o sufixo ‘re’ em religar pa-
ra um Protestante não está lá a fazer nada.
213
demónio, eventualmente seriam levados ao conhecimen-
to do bem e do mal, pelo simples facto de que o raio da
serpente estava sempre a tentá-los – veriam claramente
que existia o mal, e que consistia na desobediência ao
mandamento divino e à vontade de sermos iguais a
Deus, sem nos juntarmos a Ele. Mas Adão e Eva caíram, e
sendo confrontados com esse conhecimento imprepara-
dos, ficaram aterrorizados. A razão porque não se mos-
tram certas imagens a crianças de certa idade, e eventu-
almente se lhas revelam, é a mesma. O Protestante diz:
mostremos tudo de uma vez, ou nunca mostremos. Este
padrão do tudo e nada, dos extremos sem o equilíbrio do
meio, é o que o define – e essa sua influência é a que de-
fine os nossos tempos como resultado da mentalidade
protestante.
214
atingir um determinado significado – e esse significado
tem de vir de fora – e ou vem assente na hierarquia e na
Tradição, ou leva às heresias do Comunismo, do Capita-
lismo, do Anarquismo, e todos os outros ismos. Não é
por acaso que todas essas ideologias revolucionárias nas-
ceram no Ocidente. O Zen Budista ou o misticismo Hin-
du são menos distantes de Cristo do que os proto-
comunistas de Munster. Os dois primeiros são meramen-
te incompletos, o segundo uma inversão.
215
Cristianismo’ dos primeiros anos e das diferenças entre
este e o Catolicismo organizado dos anos posteriores, não
se percebe o carácter histórico do próprio Cristianismo. É
óbvio que o Cristianismo dos primeiros séculos não foi
igual aos seguintes, mas da mesma forma que a fundação
de uma casa é diferente da casa depois de ter sido com-
pleta, não faz da casa outra coisa que não uma casa, nem
da fundação algo para ser usado em si mesmo, mas uma
mera fase na construção da casa.
216
O problema é precisamente que os Ocidentais abandona-
ram o pensamento místico, e deixaram-no ser tomado
pelos inimigos do Bem. Se queremos derrotá-los, temos
de o reincorporar na nossa mundivisão – ou melhor, vol-
tarmos a perceber como é impossível separá-lo. Tentei
explicar anteriormente, por exemplo, que o pôr-do-sol,
entendido literalmente, não existe – e mostrar com isso
que o literalismo é uma parvoice. Talvez seja essa realiza-
ção inconsciente que leve ao abuso da palavra ‘literal-
mente’ na língua inglesa. O literal é muito menos impor-
tante do que o figurativo. É no figurativo que nós existi-
mos a maior parte do tempo. Mas a única forma de o fa-
zer sem cair em distorções, sem achar que é a nossa von-
tade em vez da Sua, a ser realizada na terra e no céu, é
através da Tradição, as práticas, a sua arte e as suas for-
mas, para que possamos compreender e recuperar esse
mundo perdido das mãos daqueles que o usam apenas
para o subverter.
217
nós abandonamos as histórias, os símbolos, e como tal,
legamos o seu poder elucidativo ao inimigo.
218
José Mário
219
a forma, o meio é a mensagem, e uma canção medieval
sobre o proletariado é menos de esquerda do que um rap
sobre Deus. Até mesmo numa peça de cariz eminente-
mente político e social, como o icónico FMI, que ainda
hoje me arrepia em certos momentos de cada vez que a
oiço, consegue-se descobrir uma complexidade e hones-
tidade que não se limita aos lugares comuns do marxis-
mo.
220
que nos diz muito mais do que o velho cínico sugere,
nem que seja pela enorme quantidade de gente que fez o
mesmo percurso.
221
guir os seus interesses. O agnosticismo sobre que interes-
ses seguir, é o vazio de onde depois surgem tiranias, às
quais os niilistas liberais e democráticos reagem com cara
de Pikachu surpreendido. Quem poderia ter previsto que
a visão tecnocrática do homem, sem passado nem futuro,
poderia ter gerado todos os ismos? Quem poderia imagi-
nar que a incapacidade ou indisponibilidade do mundo
tecnológico e científico em colocar perguntas de ordem
maior, não iria impedir que elas se pusessem na mesma,
sob formas distorcidas e perniciosas?
222
solutismo da ideologia de género, dos identitarismos (de
um lado e de outro), e todos os outros ‘aparelhos para
pensar’ que oferecem uma narrativa, ainda que incom-
pleta, ou mesmo completamente idiota. Mas aparente-
mente é preferível uma narrativa idiota ou incompleta à
ausência de narrativa, que só produz suicídio, infantiliza-
ção, demissão.
223
mos apenas porque a sua abolição deixou explícito o va-
zio da sua ausência.
224
Contar a história certa
225
depois talvez seja mais relevante dizer-lhe para não co-
mer as miúdas todas da turma. Adapta-se a história ao
contexto, às necessidades de compreensão e acção do
contexto presente. O escritor político e social tem pois de
analisar a sociedade em que vive, e determinar que deta-
lhes são relevantes para contar a história do seu tempo,
para convidar os seus leitores a pensar, mas sobretudo
convidá-los a pensar sobre os temas relevantes.
226
de classes e que o proletariado vai, inexoravelmente, to-
mar o poder, abolir as classes e depois o Estado. O mais
provável é não só ignorarem Marx, mas ignorarem-no
por nunca o terem lido. Pelo contrário, a extrema-
esquerda é pós-Marxista da mesma forma que o Ocidente
é pós-Cristão. E a extrema-esquerda é hoje conivente (e a
maior defensora) do capitalismo monopolista, por este
avançar as suas novas causas de libertinismo sexual e
criação de identidades mercantis, que por sua vez contri-
buem para o lucro e consolidação da classe monopolista –
num círculo e ciclo vicioso. Se a nova esquerda presta
homenagem e usa os símbolos da velha esquerda, é por
mera conveniência, estilo e anacronismo – da mesma
forma que a direita homenageia e enaltece figuras e idei-
as das quais deveria ter vergonha (como Thatcher e o
‘conservadorismo’ que nada conserva). E é extremamente
cómico quando os vejo lembrar a putos com camisetas do
Che Guevara que o velho comunista odiava pretos e exe-
cutava sodomitas com prazer – cómico porque o Che é
um símbolo, não uma tese, e só a mente materialista da
direita moderna pode pensar que vai chegar a algum la-
do lembrando esse facto à nova esquerda – que para o
nosso mal ainda é capaz de pensar, e usar, símbolos efici-
entemente.
227
o problema será exactamente esse). Na Europa, e sobre-
tudo na Europa Ocidental, é uma perda de tempo e de
energia. Toda a gente passível de ser instruída sobre esse
particular problema já o foi – e o problema hoje é mani-
festamente outro. Ninguém, a não ser os velhos apoiantes
e os velhos detractores, se animam com o assunto.
228
Estado, mas dos monopólios de capital multinacional,
dos seus inúmeros tentáculos ‘não-lucrativos’, de concep-
ções individualistas e não colectivistas, da extrema licen-
ciosidade e não da extrema repressão: isto é, vêm do libe-
ralismo, não do comunismo.
229
relação às questões sociais que envenenam as sociedades
do Ocidente, e ainda assim, com a sua abertura e incor-
poração na esfera liberal e no capitalismo mundial, esse
atraso está a ser rapidamente aniquilado, com as conse-
quências que já conhecemos, porque as vivemos aqui no
Ocidente há várias décadas.
230
qualquer Cristão devia ter e levar a sério, e não só isso,
estar na vanguarda da sua defesa, porque a sua centrali-
dade para as questões morais é impossível de ignorar.
231
que tenha olhado para o liberalismo que proclamava, e
que aí tivesse encontrado não só problemas, mas sobre-
tudo os problemas mais prementes do nosso tempo. Es-
pero que os velhos escribas que lutaram contra o comu-
nismo consigam perceber que o inimigo foi vencido, e
que agora temos outro, igualmente perigoso ou, pela sua
natureza camaleónica e gradual, talvez até mais perigoso
– e apontar para aí as suas críticas, com a mesma feroci-
dade e clareza com que o fizeram outrora contra o comu-
nismo.
232
Comunismo e capitalismo
233
Uma das razões pode ser que não me consideram apto
para falar de coisas tão importantes como o paraíso, e
apenas de coisas menos importantes como o parlamento
– uma justa avaliação da situação. Mas se isso é verdade,
confesso que a minha aptidão para falar sobre política
também não é digna de recomendação. Só nos últimos
três ou quatro anos mudei várias vezes de opinião, ou
refinei opiniões, sobre esse tema e todos os que andam à
sua volta. Pelo que as minhas palavras devem ser vistas
como um ‘crescer em público’, como se usa dizer.
234
envolvimento tem na saúde mental e até física de quem
nele se deixa capturar. Parte da razão para o ter deixado
de fazer foi precisamente essa – porque a minha sanida-
de, e a vossa, estava em jogo, ao falar constantemente da
última manifestação de decadência da nossa civilização.
235
Antes de ter escrito sobre homens de saias, tinha escrito
sobre as ocasiões e locais na sociedade tradicional onde o
invertido se podia manifestar – sem represálias, até enco-
rajado, mas sempre com o entendimento que era uma
inversão. A Câmara Municipal lançou um tweet em que
dizia que homens de saias não eram novidade, usando D.
Afonso Henriques como exemplo. Um mau exemplo.
Mas podia ter usado o bom exemplo das feiras medie-
vais, porque de facto aí se permitiam os homens de saias.
A diferença é que se permitia também que nos ríssemos
dos mesmos, por se entender que se tratava de uma in-
versão. Hoje não se entende, nem se permite – muitos
observam já que a comédia está a morrer por esta mesma
razão. Quando todos os lugares se tornam palco do in-
vertido, o invertido deixa de ter palco. Como uma piada
sobre cancro num hospital. Por alguma razão a ‘comuni-
dade’ LGBT se apropriou da palavra ‘queer’ (estranho).
Ora, não se pode ser estranho e normal ao mesmo tempo.
Para haver uma excepção tem de haver uma regra.
236
cioso é uma espécie de vício, e somos puxados para ele
para nos sentirmos melhor connosco mesmos. Ao vermos
o degredo, lembramo-nos de quão melhores nós somos.
237
ou não se importa com os produtos da sua reprodução,
que mata uma enorme quantidade dos seus filhos no
ventre e dos seus pais nas camas de hospital, com altas
taxas de suicídio, de uso de drogas, entretenimento e
qualquer outra distração que lhes permita alienar-se do
mundo – ou seja, que directa ou indirectamente, rápida
ou lentamente, se mata a si mesma. Mas por muitas críti-
cas que a esquerda ou a direita façam ao mundo mo-
derno do capitalismo tecnocrático, não conseguem con-
ceber um melhor sistema. E esse sistema, que consideram
superior, é aquele que eleva a capacidade humana de se
levantar a si mesma pelas suas próprias mãos. Mas se
observamos alguma coisa na sociedade moderna é que a
capacidade humana levanta muitas coisas, mas não se
levanta certamente a si mesma, pelas razões apontadas
acima, e onde quer que essa concepção de sociedade se
estabeleça, no Ocidente ou no Oriente, a Norte ou a Sul,
nesta ou naquela cultura, os mesmos fenómenos são ob-
servados. Afinal, se fosse capaz de se levantar a si mes-
ma, não teria necessidade de levantar todas as outras
coisas, de perseguir melhorias materiais com a voracida-
de com que o faz. Estaria em paz, não em constante revo-
lução. Se Deus no comunismo é agressivamente negado,
no capitalismo é um pensamento secundário – os seus
sucessos são precisamente os meios pelos quais co-
meçamos a pensar que não precisamos de Deus.
238
E que outro nome podemos dar a essa propensão para a
independência, a essa convicção de que o homem se pode
levantar a si mesmo, sem Deus? Satânico. É importante
pois clarificar o que esta palavra realmente significa, de
onde vem, e como se manifesta – pois também aí a nossa
percepção foi distorcida.
239
Olhando para as capas destes dois discos, ambos de 1986,
qual diriam ser mais satânico? Se responderam o da es-
querda, estão errados (escolhi o álbum dos Candlemass
especificamente porque, além do nome da banda ser ex-
plícito, a capa mostra uma caveira demoníaca a ser perfu-
rada por uma cruz – imagética mais clara era impossível).
O álbum da Madonna teve inclusivamente um dos seus
maiores sucessos, intitulado ‘Papa don’t preach’, cuja
letra é sobre uma adolescente a contemplar abortar o seu
filho e, segundo Madonna, sobre rejeitar a autoridade
patriarcal, seja do Pai ou do Papa. Enquanto que no ál-
bum dos Candlemass temos letras sobre pecadores e o
destino que os espera no inferno e no single, ‘Solitude’,
uma letra sobre o desespero e o desejo de morrer em paz,
longe da falsidade do mundo moderno, e cujo refrão é
uma paráfrase bíblica: ‘Earth to earth, ashes to ashes, and
dust to dust’.
240
de luz’, que é um sedutor, e que Lucifer era precisamente
o mais belo ser criado por Deus – e talvez por isso tenha
ficado tão enamorado por si mesmo e concluído que po-
dia ele mesmo ser deus.
241
forças humanas não se valem a si mesmas, que um paraí-
so na terra sem Deus é, na verdade, o inferno. Só mesmo
em países capitalistas é que tanta gente se poderia enga-
nar sobre o inferno do comunismo – em si mesmo, uma
bela ilustração do problema, não do comunismo, mas do
capitalismo. E daí não ser particularmente surpreendente
que a ideologia do comunismo tenha nascido no Ociden-
te, da filosofia alemã, da sociologia francesa e da econo-
mia inglesa. É uma ideologia que nasce de sociedades
corruptas, e a corrupção que a gera é a corrupção da au-
tossuficiência.
242
prisão na Sibéria, mas não o encontraria num centro co-
mercial.
243
três dias depois ressuscitaria. Pedro chamou-o à parte e co-
meçou a repreendê-lo: “Deus o não permita, Senhor! Isso não te
há de acontecer!” Mas Jesus, voltando-se para ele, respondeu:
“Vai para trás de mim, Satanás! És um motivo de escândalo
para mim. Vês as coisas do ponto de vista humano e não do
ponto de vista de Deus.»
Incluí todos estes versos porque é importante reparar no
seguinte: Pedro afirma a divindade de Jesus, algo que
leva Jesus a edificar a sua Igreja sobre ele e a dizer-lhe
que ele terá as chaves do paraíso. Pouco depois chama-
lhe Satanás. É difícil imaginar uma reversão mais radical,
e convém então entendermos porquê. Pedro reconhece a
divindade de Jesus e depois tenta afastá-lo da cruz, da
morte necessária para o mundo. Jesus não chamou Sata-
nás a nenhum dos outros que se enganaram sobre a sua
pessoa, mas só àquele que, estando certo, o tentou afastar
do sofrimento terreno necessário para a glória divina, o
sacrifício necessário da morte para o mundo e o nasci-
mento para Deus, dizendo-lhe que ele vê as coisas do
ponto de vista humano (mais uma vez, a exaltação do
humano independente do Divino). Não é pois surpreen-
dente que, negando a cruz, Pedro viesse eventualmente a
negar o conhecimento de Cristo. Melhor descrição da
evolução tecnocrática ocidental não poderia ser feita. Se
alguma vez se questionarem a razão para a irreligiosida-
de do mundo moderno, é esta: erradicamos a necessidade
da cruz, da mortificação, da negação das nossas paixões,
do sofrimento. Sem isso, a nossa afirmação de Cristo vai
ao sabor da conveniência e quando encostados entre a
244
espada e a parede, vamos negá-lo. Ou como o monge
Seraphim Rose o colocou uma vez: “o anticristo não é en-
contrado nos que negam a Cristo, mas nos que o afirmam timi-
damente e apenas com os lábios”.
Uma última alegoria: se vos perguntarem qual destas
duas drogas é mais perigosa, a canábis ou a heroína, o
mais provável é responderem a segunda. Afinal de con-
tas, a heroína é claramente destrutiva para o corpo e a
mente, os sinais da destruição são óbvios e rápidos, e por
isso rapidamente um heroinómano se torna incapaz de
funcionar em sociedade, tendo de ser internado para se
curar. Eu diria que essa característica de extrema potên-
cia é a sua condição mais salvífica. Um utilizador regular
de canábis pode atravessar a vida com relativa facilidade
sem nunca ter consequências tão graves e tão súbitas que
o façam reavaliar o seu uso, e é aí que está o seu maior
potencial destrutivo.
245
humanidade se poder salvar a si mesma – e aí reside o
seu enorme potencial destrutivo.
246
Uma derrota concedida
247
O que salta à vista, no post e nos comentários, são as as-
sumpções silenciosas dos pais, demonstrando que estes
abandonaram definitivamente a ideia de que devem ser
eles, e não corporações através de meios tecnológicos,
que devem educar os seus filhos.
248
que têm qualquer responsabilidade no crescimento psico-
logicamente saudável dos seus filhos.
249
E lembremos que estamos a falar de um dos mais impor-
tantes pilares de uma sociedade, a instrução infantil. Que
os pais abandonem assim a sua responsabilidade não é
novo, mas é uma boa ilustração de como, na nossa era
materialista, a vitória já foi concedida antes da batalha
começar. Qualquer inovação tecnológica é imediatamente
aceite sem protesto, e qualquer negociação da nossa li-
berdade é feita nos termos propostos por ela. E pior, os
pais que tentam esta negociação fútil e impotente, são
uma pequena minoria. Para a maioria, é aceitar e calar.
Ou, muitas vezes, celebrar.
250
O Trigo e o Joio
251
Os eventos recentes relacionados com o Coronavírus só
têm aberto mais este fosso, para o bem ou para o mal. No
meu entender, o pior daquilo que estava latente no mo-
vimento Nacionalista está a vir ao de cima, em particular
a exultação da Ciência, da Tecnocracia e do Autoritaris-
mo (que, num contexto de tecnologia moderna, é Totali-
tarismo).
252
para destruir a Europa e os Europeus. Seria expectável
que houvesse um pouco de cepticismo nem que fosse por
este mero facto. Mas não há porque, como Chesterton o
disse uma vez, quem não acredita em Deus acaba por
acreditar em tudo. E no caso do movimento nacionalista,
essa fé é colocada na Ciência (C grande), como se fosse
uma entidade independente, que não é, pelas razões
apontadas acima.
253
seu apoio à União Europeia. A conclusão deprimente é
que, precisamente os que concordam comigo sobre as
fundações, isto é, o Cristianismo, ou pelo menos um en-
tendimento moral do ser humano como base, são absolu-
tamente cegos em relação à incompatibilidade dessa fun-
dação com o mundo tecnológico e o sistema industrial.
Esse sistema irá sempre navegar numa única direcção,
que é a abolição do ser humano à imagem de Deus, resul-
tará sempre na subjugação do espírito humano à necessi-
dade técnica, e o seu potencial destrutivo só pode ser,
temporariamente, minimizado através de regulação da
liberdade humana – e quanto mais complexa a rede de
tecnologia, mais controlo é necessário, seja da parte do
Estado ou de outras organizações vastas, às actividades
humanas. Para um exemplo concreto, olhemos para as
medidas draconianas aplicadas pelos putativos Estados
‘Cristãos’ na Europa da Hungria e da Polónia, tão fre-
quentemente apontados como os raios de luz modernos
contra a degeneração étnica e moral, mas que, para mal
dos nossos pecados, não passam de meros espantalhos, e
agora completamente vergados à ditadura ‘científica’, e
em breve, como já previmos aqui, completamente subju-
gados ao mesmo globalismo que os hipócritas ou enga-
nados Cristãos que nos juraram ser neles que se encon-
trava a resistência ao sistema. Seria risível, se não fosse
triste, censurável e absolutamente fantasioso.
254
Repita-se: este totalitarismo, cujo jugo está prestes a tor-
nar-se ainda mais pesado, é a consequência natural do
sistema industrial. E não há salvaguardas políticas que o
possam atenuar. Os Cristãos, em particular, serão em
breve confrontados com uma escolha que adiaram há
pelo menos dois séculos: entre rejeitar o mundo moder-
no, incluindo as “benesses” tecnológicas, ou ser fiéis ao
Deus que professam. Até agora pudemos viver na Torre
de Babel figurativa do sistema industrial, fingindo que
rejeitávamos a sua fundação, sem nunca rejeitarmos as
várias camaddas erigidas sobre ela. Esta hipocrisia será,
finalmente, desmascarada. No fundo, e finalmente, os
Cristãos serão obrigados a escolher, explicitamente, entre
os confortos terrenos ou a sua fé em Cristo. E não é parti-
cularmente surpreendente, tendo em conta que desde a
fundação do sistema industrial foram muito poucos os
Cristãos (incluindo as suas instituições) que se insurgi-
ram contra a sua implementação violenta, opressiva e
coerciva; também nada disseram quando essa mesma
violência, opressão e coerção foi exportada para fora da
Europa, quando o seu conforto passou a depender de
trabalho escravo, e muitas vezes infantil, no terceiro
mundo. Poucas vozes Cristãs se levantaram contra isto. E
as que se levantaram preferiram viver na ilusão de que se
podia reformar o sistema, o mesmo sistema que subjugou
e destruiu as formas de vida ancestrais e tradicionais do
mundo inteiro.
255
Era uma ilusão voluntária, saída do desejo de conforto.
Essa ilusão está prestes a ser impossível.
‘Aquele que ama a sua vida, a perderá; aquele que odeia sua
vida neste mundo, a preservará para a vida eterna.’
256
Uma Fábula
257
M torna-se mais e mais exigente, sufocante, tem de levar
sempre a sua avante, quer controlar todos os aspectos da
vida de H, que começa a ponderar se a sua união total
com M foi uma boa ideia. Mas é tarde demais: H está iso-
lado, toda a sua vida está, de uma forma ou de outra, li-
gada a M, pois M só lhe permite uma vida na medida em
que é ligada a si. M alienou todos os seus amigos, alguns
até ao ponto de apagar os seus contactos. H já não pode
dar a sua opinião sem temer atiçar a ira de M.
***
258
O leitor foi levado a pensar que a história acima é sobre
um homem e uma mulher. Mas está errado: é sobre o
Homem e a Máquina.
259
O Novo Sagrado
260
unidade, a sua ausência é fragmentação. ‘Legião é o meu
nome, porque somos muitos’, dizem os demónios. Não
consigo pensar numa melhor descrição para a nossa era.
261
ma’ Protestante dessacralizou a Igreja tendo a Bíblia co-
mo base, e nesse preciso instante tornou a Bíblia o objecto
e símbolo último do sagrado, e a autoridade que antes
pertencia à Igreja passou a estar puramente nas Escritu-
ras. A Ciência dessacralizou a Bíblia e tornou-se ela
mesma sagrada e o lugar onde se procura o significado
da vida e do mundo; e a tecnologia, ao dessacralizar a
natureza, elevou-se ao estatuto de sagrado e substituiu a
natureza como o substrato da existência, aquela a que o
homem tem de se adaptar para sobreviver e cujos desíg-
nios o homem é impotente para mudar.
262
e também o que promete transcendência. Nenhum dos
cultos modernos concebe um mundo sem os avanços téc-
nicos dos últimos 200 anos, apesar da humanidade ter
vivido sem eles durante a grande maioria da sua história.
Não só não concebem, como se confrontados com tal
possibilidade reagem da mesma forma que um qualquer
outro religioso reagiria à proposta de um mundo sem a
sua forma de sagrado: escândalo e ofensa. Perguntem a
um libertário ou a um fascista, a um comunista ou a um
social democrata, a um Cristão ou um ateu, a um nacio-
nalista ou a um imigracionista, e por aí fora. Todos reagi-
riam da mesma forma, instintivamente. E é apenas natu-
ral, pois essa é a fé do nosso tempo. A fé última sobre a
qual todas as outras fés modernas assentam.
263
Prisioneiros de Guerra
264
progresso. Numa tal situação, até as contraofensivas do
lado derrotado sublinham a sua derrota – e das mais va-
riadas formas, o lado derrotado insiste em sublinhar a
sua derrota tentando argumentar contra o poder, como se
o poder ouvisse argumentos, em vez de a reconhecer e
andar em frente.
265
de que a acusam seja uma coisa natural e saudável. E as-
sim, no preciso momento em que protesta a ordem vigen-
te, fá-lo de forma que confirma a validade dessa ordem.
266
propagandeados nos meios de comunicação, tal como
aceita que estas e outras ideias, do inimigo, sejam ensi-
nadas às suas crianças nas escolas. E por aí fora. E não
importa que seja aceite por fé nesses dogmas, ou por me-
do de represálias. Se for por fé, é um convertido; se for
por medo, é um conquistado. E todos estamos, numa par-
te ou noutra, numa medida ou noutra, convertidos ou
conquistados.
267
perguntas: tem cuidado ao expressar certas opiniões em
público, com colegas de trabalho, na vida real ou sob o
seu nome civil na internet? Se tais opiniões fossem públi-
cas, perderia o seu emprego, ou perderia clientes e cola-
boradores? Seria ostracizado por vizinhos, conhecidos,
amigos e até família? Será que sofreria represálias e ata-
ques da comunicação social e veria o seu nome vilificado
nas redes sociais? Seria atacado na rua por populares,
organizados ou não, sem qualquer esperança de recurso
ou simpatia pública? Será que o Estado o protegeria dos
populares, da difamação e ostracismo? Será que o perse-
guiria através do aparelho burocrático? Seria condenado
em praça pública pelas mais altas figuras do Estado?
268
Mas é da decomposição do presente que vem a fertilida-
de do futuro, numa metáfora agrícola escolhida proposi-
tadamente. As metáforas em que vivemos alteram com-
pletamente não só o nosso pensamento, mas a nossa ac-
ção. Neste momento, os dissidentes vivem ainda sob a
metáfora da máquina: é preciso consertar ou substituir as
partes que funcionam mal (as escolas, as redes sociais, o
governo, etc) e olear as que funcionam bem; se não hou-
ver conserto, então substitui-se a máquina por outra. Mas
a máquina pertence ao inimigo, só funciona para os ob-
jectivos do inimigo. Esta é uma metáfora de soberba, de
imediatismo e revolução, do poder do homem sobre o
seu próprio futuro, do seu desejo de supremacia sobre a
ordem natural e, em última instância, sobre Deus. É, na
verdade, a metáfora do inimigo, mas aplicada selectiva-
mente a uma ou outra dimensão da vida. Mas a consis-
tência ganha e o inimigo é consistente: se a metáfora e a
premissa são aptas para uma dimensão, são aptas para
todas.
269
existirão sempre em oposição absoluta. A tradição vem
sempre do campo, a revolução sempre da cidade. E se
queremos rejeitar a revolução, sobretudo quando está
consumada, então só nos resta rejeitar a cidade e abraçar
a ruralidade, onde as virtudes defendidas pela dissidên-
cia podem florescer, porque é aí que são cultivadas.
270
Religiões Seculares
271
Estas religiões seculares dominaram o Século XX como a
religião Cristã havia dominado antes delas – naturalmen-
te, sendo falsas, a sua permanência, longevidade e estabi-
lidade não se compara à original e verdadeira. E apesar
de ainda se encontrar por aí religiosos deste tipo, ambas
as religiões morreram de vez. Mas se ambas haviam
substituído o Cristianismo, o que as veio substituir a
elas?
272
últimas, nem de objectivos particularmente consonantes
– excepto um, de ambos os lados, que revelaremos mais à
frente. Nem o racismo nem a libertação sexual, nem os
seus opositores do outro lado, cujas bandeiras se poderi-
am dizer formarem pelo menos dois sistemas totalizantes
e unificados, o são de facto. Dentro dessas caixas, há uma
multiplicidade de divindades e objectivos, isto é, uma
multiplicidade de cultos: das várias identidades raciais,
das várias identidades sexuais e das várias identidades
de consumo (desde a comida até ao entretenimento).
273
acomodava às condições naturais, agora são as condições
naturais que se acomodam. A natureza já não oferece
qualquer oposição ou disciplina, e a posição suprema que
ocupava nos paganismos antigos é nos nossos tempos
ocupada pelo sistema industrial. É esse o substrato ines-
capável, a força à mercê da qual os homens têm de viver,
e cujos desígnios têm de obedecer, o poder último do
qual a sua sobrevivência e continuidade dependem. Re-
sistir ao avanço tecnológico nos nossos dias é o equiva-
lente à resistência contra uma cheia, um terremoto ou um
incêndio nos tempos antigos: aquele que desafia o último
sagrado, em vez de respeitar os seus desígnios, paga o
preço da destruição. Mas o seu poder é tão inescapável
que a submissão acaba por ser inevitável. O homem nada
podia fazer contra a cheia e o terremoto, tal como agora
nada pode fazer contra o smartphone ou a bomba atómi-
ca. Do outro lado da moeda, a natureza providenciava
sustento em todas as áreas da vida, e como tal, exigia o
respeito máximo e o temor resultante que as suas bênçãos
sejam interrompidas por ofensa ao seu supremo. Onde
antes havia a seca ou a praga, agora há o corte da electri-
cidade ou a disrupção do abastecimento dos supermer-
cados. À mercê do sistema, e sem um Deus acima desse
sistema, o homem moderno não tem como senão pros-
trar-se em reverência.
274
dustrial, tanto na sua vertente destrutiva como na sua
vertente salvífica. E é nesse ponto que todos convergem:
definidos por raça ou por sexo ou por qualquer outro
identificador, todos os grupos almejam simplesmente
estar dentro das bênçãos do sistema industrial. Os grupos
são marginais na medida em que não participam, ou que
não os deixam participar, no frenesim de consumo, nas
bênçãos providenciadas pelo sistema industrial. Estes
cultos, sejam pelo lado direito ou pelo lado esquerdo, têm
como mal último a exclusão desse sistema. E se do lado
esquerdo querem incluir o Africano ou o Transsexual, do
lado direito querem evitar a exclusão do Europeu e o He-
terossexual. Daí que da esquerda queiram trazer todos os
povos fora do sistema para dentro dele, seja pelo ‘desen-
volvimento’ do terceiro mundo ou pela imigração em
massa; e da direita queiram assegurar a manutenção do
sistema com o mínimo de atrito, e assim emular por
exemplo as sociedades distópicas mas estáveis do Este
Asiático. Para a direita é uma luta de manutenção: vêem
o homem Europeu a perder as bênçãos do sistema indus-
trial, e pretendem mais uma vez cair nas suas graças; pa-
ra a esquerda é uma luta de acesso: vêem todos os grupos
marginais excluídos do festival orgiástico de consumo e
querem incluí-lo, mesmo que isso signifique aboli-los
como grupos distintos.
275
munhão com o divino industrial e as suas bênçãos de
consumo: por um lado, os homens Europeus e heterosse-
xuais; e pelo outro, os ‘globalistas’, os Judeus ou os Mu-
çulmanos. O bode expiatório funciona da mesma forma
para os dois lados, e o seu objectivo último é, na verdade,
o mesmo. Em ambos os casos, o mal supremo é a exclu-
são do sistema industrial, do sustento que ele providen-
cia, do conforto que facilita. Mesmo que oferecessem a
oportunidade aos cultistas de salvarem o seu grupo atra-
vés da rejeição do supremo tecnológico, não o fariam,
porque o seu culto final não é o grupo, mas o acesso do
grupo ao divino da máquina.
276
Existe sistema ‘pós-industrial’?
277
ção. Por isso a economia de serviços não é pós-industrial.
É apenas outra industria.
278
nada no seu modo de vida precisa de mudar, porque não
vêem os seus efeitos, sentidos do outro lado do mundo.
279
terciária ajuda a mascarar o problema, e continuamos a
consumir os produtos sem ter à nossa frente os custos
humanos e naturais desse modo de produção, mas os
custos permanecem os mesmos.
280
incompatível com a dignidade humana que os Cristãos
têm o dever de defender.
281
cos e idealistas como o presente escriba, tanto à direita
como à esquerda, são aceites. É o preço do progresso.
282
Progressistas somos nós todos, desde pequenos*
283
Se o sagrado é intocável por definição, o mito é inquesti-
onável por definição. Na nossa sociedade questionar o
mito do progresso está fora do reino das possibilidades, o
mito é impermeável à realidade. E se um problema surge
dentro do sistema, a solução progressista nunca é voltar
atrás, mas ‘resolver’ o problema. Isto é a atitude esquer-
dista por natureza. Por exemplo, quando Marx observou
a decadência e desumanização causada pelo sistema fa-
bril, não rejeitou o sistema, mas propôs em vez disso con-
trolá-lo, dar-lhe uma direcção diferente. O resultado, co-
mo se sabe, foi terrível.
284
para sempre a composição geológica do planeta. Haverá
algum conservador que se pergunte se isto é bom ou
mau? Segundo o mito do progresso, que o conservador
subscreve, a natureza existe como recurso para ser explo-
rado. Como já explicámos, antes do mito do progresso se
tornar o mito definitivo da nossa civilização, a natureza
era o substrato e a técnica o recurso. Mas o mito do pro-
gresso alterou a dinâmica: a natureza é o recurso, e a téc-
nica o substrato. Tudo o que pode ser feito, deve ser feito
– e a única coisa inquestionável é a técnica. A técnica tem
de ser obedecida, a natureza subjugada em nome dela. A
própria designação de ‘combustíveis fósseis’ nos diz o
que a nossa civilização pensa sobre o assunto: explora-
ção. É esta a nossa relação com a natureza: consumir.
Porque precisamos de carros, e de máquinas, de motores.
E claro, nunca sequer nos perguntámos que outras coisas
destruíamos com a utilização destas máquinas. Nem de-
mos meia volta quando começámos a ver os efeitos:
quando vimos o carro destruir comunidades, afastando
famílias, criando bairros dormitórios; ou quando vimos
as máquinas destruírem a capacidade de homens susten-
tarem as suas famílias e destruir o equilíbrio entre os se-
xos; ou quando vimos os motores encherem as nossas
ruas de poluição dos mais variados tipos. Nada disto foi
reconsiderado, porque o progresso não é negociável. Não
podemos parar, muito menos voltar atrás. As famílias e
comunidades destruídas pelo progresso terão de se adap-
tar, porque o progresso é o mais importante. Tudo o resto
que se quilhe. E surpreendentemente, o conservador con-
285
corda. Só quer ir mais devagar, por contraste ao esquer-
dista, que quer ir em força e rápido.
286
mos mais, mais rápido, mesmo sob pena de destruir o
ciclo natural e ancestral, e de criar um beco sem saída de
desperdício. Hoje sabe-se que os tractores (para além dos
altíssimos custos humanos e sociais da sua produção e da
produção do seu combustível) compactam o solo de for-
ma a exterminarem a vida que lá existe e que é necessária
para as plantações; sabe-se também que aos fertilizantes
químicos faltam micronutrientes importantes (para além
dos custos humanos e sociais da sua produção) e que
deixam vestígios nas colheitas que depois afectam a saú-
de humana. Mas nada disto importa, porque é preciso
mais, mais rápido, mesmo sob pena da própria saúde das
pessoas e do meio natural. E quando as consequências
surgirem, logo inventamos novas soluções. Voltar atrás é
que não, nunca. Porque o progresso não pode parar, é
inquestionável.
287
seus acólitos. Até entre Católicos – outrora dos maiores
críticos da revolução industrial – as estruturas modernas
são inegociáveis.
288
maior. E não importa aqui se isso é verdade ou não – a
verdade é que, apesar do ritmo mais lento do que Ingla-
terra ou França, o Estado Novo não regrediu, nem estag-
nou, pelo contrário. E talvez aí esteja, da perspectiva anti-
progressista, o seu maior erro. Salazar, em particular, era
muito consciente dos perigos do avanço tecnológico, es-
pecialmente dos perigos para a estabilidade social, para a
moralidade, para a coesão da família e a manutenção da
comunidade. Mas não era, infelizmente, totalmente anti-
progresso. Mas a única coisa que ocorre ao conservador
dizer quando um esquerdista critica Salazar é que é men-
tira, Salazar na realidade avançou muito o país, escolari-
zou muita gente, pavimentou muitas estradas e criou
muitas centrais eléctricas. É a tristeza de acreditar no mi-
to do progresso, mas sem o saber ou admitir. O único
erro do Salazar foi não ser ainda mais progressista, diz o
moderno conservador.
289
tico cuja colheita estamos agora a provar. O mérito da
Igreja medieval foi precisamente atrasar o progresso, não
foi ajudá-lo; foi impedir que certos desenvolvimentos se
dessem, não foi dar-lhes a sua bênção mais tarde. Foi
desse esforço hercúleo de estabilidade que nasceram na-
ções e sociedades equilibradas. E foi do seu desleixo nes-
sa tarefa fundamental que nasceram os monstros que ho-
je conhecemos tão bem.
290
Já ouvimos muitas vezes dizer que os progressistas de
hoje são os conservadores de amanhã. Mas é irónico que
esta acusação venha dos conservadores mais ‘extremos’,
acusando os conservadores mais moderados de, no futu-
ro, irem defender qualquer dos progressismos esquerdis-
tas (como hoje vemo-los defender a ‘liberdade’ de auto-
destruição sexual, por exemplo), quando os conservado-
res mais extremos defendem hoje as estruturas (como o
mercado, o governo republicano e democrático, ou o sis-
tema industrial) que foram promovidos pelos inimigos
da sociedade tradicional precisamente para a destruir.
291
esquerda estão logicamente correctos. O grosso do que
constituía um homem e uma mulher no passado já foi
alterado. Não há qualquer razão lógica para não apro-
fundar essa mudança, essa redefinição, dentro da pre-
missa do mito do progresso. O credo de hoje na auto-
determinação do “género” é apenas a vanguarda da au-
todeterminação da carreira ou do consumo que os con-
servadores hoje abraçam de forma impensada como uma
das posições inalteráveis do seu conservadorismo. O abo-
licionismo da normatividade sexual da feminista univer-
sitária de cabelo azul tem origem no seu pai conservador
consentir que ingresse na faculdade.
292
da sua mundivisão não está a tradição, e não está prepa-
rado para, nem consciente da, necessidade de a aplicar na
prática. No fundo da sua mundivisão está o progresso, e
“voltar atrás” é para si um pecado tão grande como é
para o mais convicto esquerdista.
293
Ao conservador só lhe ocorre apelar à liderança que im-
ponha padrões de moral, sem compreender que a moral
nunca foi imposta pela liderança. A liderança das socie-
dades tradicionais impõe as condições para que a moral
floresça naturalmente. Sem essas condições, todas as im-
posições das mais altas autoridades são em vão. Daí a sua
obsessão em ‘recapturar as instituições’. Será que ocorre
ao conservador o porquê de as ter perdido? Claro que
não, porque se ocorresse percebia que nunca foram suas,
que nunca estiveram de acordo com os valores que pre-
tende conservar.
294
ra inculcar nas mentes jovens a propaganda do sistema e
perpetuarem-no como indispensável para uma vida sa-
lúbre e feliz; e para treinar as novas gerações para acatar
as necessidades técnicas do sistema. Quando o conserva-
dor afirma que ‘tem de enviar os filhos para a escola’ (e
sobretudo ‘para a faculdade’) para que possam ‘ter um
bom emprego’, o que está a dizer é que a única coisa que
antevê para os filhos é que se tornem escravos do siste-
ma, no mínimo, e escravos felizes na maior parte das ve-
zes. Por isso em vez de garantir que filhos e filhas estão
orientados para casar e formar família, garante que este-
jam orientados para cumprir uma função económica que
seja adequada ao sistema (‘a empregabilidade’) e em vez
de poupar para ajudar os jovens filhos nos primeiros
anos de casamento, para que possam ir formando as suas
próprias famílias enquanto não têm estabilidade e matu-
ridade, poupa para os mandar para as faculdades onde
irão receber uma lavagem cerebral contra os pais, e con-
tra a própria instituição da família – se não directamente,
sob as disciplinas pseudo-sociológicas, pelo menos cola-
teralmente através da orientação da vida para a função
económica. A esta forma de escravatura e alienação, o
conservador chama sem ironia de educação, e pior, con-
sidera-a ‘necessária’. E bom, será necessária para algu-
mas coisas, mas não para qualquer um dos putativos
propósitos conservadores.
295
O conservador pensa, sem qualquer base na realidade,
que consegue impingir valores tradicionais em estruturas
necessariamente progressistas, seja a escola, o mercado,
as redes sociais ou qualquer outra estrutura do nosso
mundo fundada no mito do progresso. Da mesma forma
que a quinta familiar funcionava organicamente (e não
pode funcionar de outra forma sob pena de deixar de o
ser), a família tradicional, a coesão étnica e cultural, o
papel das mulheres e dos homens na sociedade, a sexua-
lidade e tudo o resto de que os conservadores se queixam
no mundo moderno dependem desse mesmo funciona-
mento orgânico, dependem de um mundo necessaria-
mente pré-moderno. Não há uma possibilidade intermé-
dia de manter as estruturas do mundo moderno e ter va-
lores tradicionais. O mito do progresso é a antítese do
mito de estabilidade que o precedeu, e que é a base de
todas as sociedades tradicionais. Todas as sociedades
pré-industriais têm valores tradicionais e todas as socie-
dades industriais sofrem da perda desses mesmos valo-
res, independentemente da geografia, da genética e da
cultura. Isto é tão observável que só mesmo o poder de
um mito pode cegar o observador.
296
Bolas e Doces
297
Poderíamos dizer que o segundo miúdo não conhece o
primeiro, e que como tal não tem um exemplo a seguir
para obter a bola, e não consegue raciocinar quais os pas-
sos a seguir para concretizar o objectivo. Mas hipotetica-
mente digamos que os miúdos se conhecem na escola, e
que o primeiro partilha a sua estratégia com o segundo,
mas este continua a comprar doces, em vez de poupar a
mesada para comprar a bola.
298
E se eu vos dissesse que existe, hoje, um grupo (compos-
to por vários sub-grupos relacionados) de Europeus que,
ao contrário de todos os outros grupos Europeus, conse-
guem consistentemente alcançar os quatro objectivos
principais? E ainda mais surpreendente, conseguem al-
cançá-los sem os terem como objectivo primário – eles
surgem quase como consequência colateral. Talvez não
acreditem, mas a verdade é que existe. Antes de revelar-
mos o seu nome, vamos explorar os factos concretos so-
bre este grupo e a sua relação com os quatro objectivos
nacionalistas.
299
mundo (todas elas, com esta excepção, em países de ‘ter-
ceiro mundo’).
300
dos pais e a maioria das filhas tem como actividade prin-
cipal o cuido da casa e dos filhos. Divórcio, homossexua-
lidade, estilos de vida ‘alternativos’, drogas e suicídio são
inexistentes.
301
que rejeitam totalmente a electricidade, veículos motori-
zados ou água canalizada, e os que os utilizam em apli-
cações específicas (mesmo assim uma minoria). Nenhum
dos sub-grupos permite televisões ou computadores –
alguns permitem telefones (antigos) em contexto de tra-
balho, mas não de lazer. Em última instância, cada tecno-
logia, a sua introdução e o seu uso são decididos pela
liderança de cada grupo – geralmente um conselho de
anciãos – e são avaliadas pela perspectiva única de ajudar
ou prejudicar a estabilidade da comunidade e dos seus
valores, e a manutenção dos mesmos. Em geral, a avalia-
ção é que as tecnologias modernas não só não são propí-
cias à saúde dos valores da comunidade, como são em
geral detrimentais. E claro, as comunidades obedecem
sem questionar as decisões dos seus líderes sobre estas
questões.
302
condição principal que faz com que os Amish sejam ca-
pazes de cumprir os tais objectivos.
303
O Espírito Lusitano
escrito no dia das eleições Americanas de 2020
304
Do outro lado não é melhor – também pensam que faz
alguma diferença. Não importa salientar as ligações al-
tamente duvidosas do putativo salvador às outras faces
plutocratas e os planos das mesmas (igualmente perigo-
sos e diabólicos), mas nada disso importa para gente ob-
cecada com a política. Tal como de nada serve lembrar
que passaram quatro anos, e o mundo ficou pior e todas
as más tendências se agravaram – como se esperava que
ficasse e se agravassem, ganhasse quem ganhasse o con-
curso de popularidade. ‘Mas a culpa é dos outros’. Sendo
ou não, o putativo salvador foi e é impotente, ou nunca
foi suposto mudar o curso da história e pela primeira vez
pôr o mundo no caminho certo. Como dizia o outro: se as
eleições pudessem mudar alguma coisa não eram permi-
tidas.
305
Aqui convém lembrarmo-nos do que uma certa passa-
gem Bíblica (Lucas 4:5-8) nos diz sobre como a política
realmente funciona, quem realmente manda nela, e qual
deve ser a nossa atitude perante a mesma:
306
tro. Não podem servir a Deus e ao dinheiro.
É por isso que eu vos digo: Não andem preocupados com o que
hão de comer ou beber, nem com a roupa de que precisam para
vestir. Não será que a vida vale mais do que a comida e o corpo
mais do que a roupa?
Olhem para as aves do céu, que não semeiam, nem colhem, nem
amontoam grão nos celeiros. E no entanto, o vosso Pai dá-lhes
de comer. Não valem vocês muito mais do que as aves?
Qual de vós, por mais que se preocupe, poderá prolongar um
pouco o tempo da sua vida?»
307
escrito e sublinhado nos corações dos portugueses mes-
mo antes de o serem. Oxalá ainda possamos recuperar
essa sabedoria dos antigos.
308
O Culto do Microscópio
309
imaculada, puramente racional, objectiva – isto é, científi-
ca. E, deduz-se, com tal propósito, não a retirar do co-
mando das decisões, mas mantê-la lá – só que pura. Se a
ciência, a verdadeira, a pura, extraída como néctar da
prodigiosa fruta que é o método também ele sagrado, nos
conduz a alguma conclusão, então há que restruturar a
sociedade segundo a mesma. O uso aqui da metáfora da
fruta não é um acaso, tal como não foi um acaso que
Adão tenha dado a primeira dentada. O apelo é e sempre
foi grande. O conhecimento é poder, e se acedermos a ele,
acedemos ao poder, tornamo-nos como deuses, senhores
do destino, capazes de tudo. Orgulhosos como o demó-
nio.
310
tendo a ciência, a verdadeira, a pura, posto em causa e
desvirtuando tudo o que era antes sagrado, que mais co-
locar no lugar mais alto senão o martelo que destruiu as
fundações do anterior edifício?
311
através da razão intuída sobre essa revelação. O primeiro
ponto pode parecer aplicar-se apenas à Bíblia como a pa-
lavra revelada de Deus, mas aplica-se também às teorias
científicas e de muitas outras formas.
312
acreditar – sem qualquer prova – no conhecimento e infa-
libilidade (ou próximo dele) das pessoas que pertencem a
essas classes. E, em adição, acreditar na idoneidade e
neutralidade dos financiadores de ambas as operações.
Por outras palavras, a maior parte do que sabemos sobre
o mundo baseia-se, unicamente, na autoridade.
313
Embora este não seja um ponto de vista contraditório
para os Cristãos, que não colocam a fé no método cientí-
fico como meio de obtenção de uma verdade última, é
extremamente contraditório para as pessoas que elevam
a Ciência (aquela com o sinistro C maiúsculo) à fonte úl-
tima da verdade tal como revelada pelo método científi-
co. Em primeiro lugar porque as suas críticas e descren-
ças da história Cristã vão todas dar ao mesmo argumen-
to, de ausência de ‘provas’ e de confiança na narrativa
dada por outrem. Mas é, pelo menos no vácuo, uma críti-
ca válida. Pelo menos até os confrontarmos com a areia
movediça das suas próprias crenças.
314
crédulos como um homem que confia na revelação de
Deus, mas menos honestos a esse respeito, e a sua posi-
ção requer uma fé muito mais cega.
315
Por isso é necessária a segunda parte: razão intuída. De-
vemos aplicá-la a todas as revelações, para não sermos
tão ingénuos e perdidos como o homem moderno. Ago-
ra, vale a pena notar que muitos Cristãos parecem depo-
sitar mais fé nas autoridades científicas do que na revela-
ção de Deus. Isso apenas confirma que os Cristãos mo-
dernos sofrem dos mesmos condicionamentos que a mai-
oria dos moderados, não significa que, ao nível da mun-
dividência, esses dois paradigmas sejam reconciliáveis.
Embora a aplicação do método científico a pormenores
seja perfeitamente compatível com ser Cristão e, portan-
to, acreditar na revelação de Deus, a crença dogmática na
força omnisciente e omnipotente do método para forne-
cer uma cosmologia, e a autoridade e revelação dos seus
praticantes não o é. Assim, para o Cristão, as descrições
científicas, teorias e “provas” (colocadas entre aspas por-
que a mesma estrutura de crença explicada acima se lhes
aplica, ou seja, a sua classificação como aceitável, prova
objectiva pelo público é baseada na autoridade) devem
ser consideradas à luz da revelação Bíblica e dos Santos e
Pais da Igreja, e não o contrário, como parece ser tão co-
mum para os Cristãos fazer hoje em dia.
316
narrativa Bíblica não muda, mas a científica deve, por
necessidade, ser pelo menos possível de mudar. Por esta
razão, o cientismo é uma falsa doutrina, uma vez que a
ciência, embora útil, nunca pode ser a base para uma vi-
são coerente do mundo e da vida.
317
compreender sequer a distinção mais básica entre mapa e
realidade – e isto aplica-se tanto à sua leitura da Bíblia
como às descrições científicas, com a excepção de que ele
tende a pensar que as palavras na Bíblia não descrevem
nada de real, enquanto que as palavras dos jornalistas e
dos cientistas são as mesmas que a realidade que estão a
tentar descrever.
318
O mesmo, na verdade, se aplica às descrições científicas
do mundo e sobretudo de eventos de enorme magnitude
e profundidade – mas infelizmente, nunca veremos os
crentes na ciência colocarem a sua racionalidade a funci-
onar e colocar o proverbial grão de sal nas descrições que
lêem dos seus sacerdotes de microscópio e telescópio.
O universo surgiu sozinho e os homens vêm dos maca-
cos. Não é preciso nenhuma interpretação, tudo isto é
claro como a manhã – se vier de uma bata branca.
319
A Política à luz da Técnica
320
fervorosos) é porque as causas não são totalmente espú-
rias, mesmo que as soluções que propõem sejam ou insu-
ficientes ou absolutamente contraproducentes (como ve-
remos mais à frente).
321
O entendimento político comum, tanto à esquerda como
à direita, considera os grupos acima referidos e as suas
causas como sendo, em grande parte, impossíveis de re-
conciliar. Mas isto não é verdade. Todas estas queixas, e
outras igualmente legítimas, têm uma coisa em comum,
que é o seguinte: os grupos que se preocupam com elas
rejeitam, ou nem sequer consideram, a origem dos pro-
blemas que querem solucionar e, portanto, não conside-
ram também a eliminação dessa causa original como a
única solução para os seus problemas: o sistema indus-
trial. Cada grupo considera cada problema de forma iso-
lada. Podem resolver o seu problema sem se verem livres
das fundações industriais do nosso mundo, ou mais fre-
quentemente, utilizando o poder do próprio sistema, que
depois causam outros problemas, mas geralmente de ou-
tro lado da cerca, com algum outro grupo a ser vitimiza-
do, algo que o originador e defensor da solução não vê,
ou não se importa.
322
massa e onde quer que os seus tentáculos alcancem, e
quanto mais território conquista, seja ele físico ou mental,
mais graves se tornam.
323
queza, a rápida deterioração da independência económi-
ca do homem comum e os exércitos em massa de trabal-
hadores, incluindo mulheres e crianças, cuja única opção
de sobrevivência era trabalhar nas fábricas, e que opção
horrível e empobrecida era. Foi também o industrialismo
que criou efectivamente um mercado internacional to-
talmente interdependente, e subjugou todos os povos à
especulação monetária. Enquanto o trabalhador de escri-
tório moderno no mundo “desenvolvido” não sofre os
efeitos fisicamente destrutivos das fábricas do século XIX,
ele está sob uma série de outros efeitos físicos e psicoló-
gicos. A única solução para a queixa comunista de explo-
ração económica é rejeitar o sistema industrial, sob o qual
esta exploração é inevitável, independentemente da ges-
tão – como a União Soviética ou a China Maoista atestam.
324
debate educado, uma cultura saudável não pode ser
mantida, ou originada, num sistema industrial liberal. As
externalidades negativas das ideias e imagens perturba-
doras têm uma capacidade exponencial de propagação e
crescimento, deixando assim ao conservador a escolha
entre a censura ou a aceitação dos efeitos degenerativos
destas ideias ou imagens. Por outro lado, a natureza mer-
cantilista do capitalismo liberal tem uma tendência natu-
ral para a vulgaridade e para a homogeneização da cultu-
ra para o menor denominador comum – a sensualidade
vende, e se vende, será vendida. Assim, as operações na-
turais do mercado, e o poder expansivo da produção in-
dustrial, provocam necessariamente uma decadência na
moral pública, decência e debate.
325
truição da natureza que sustenta a vida. Mas as civili-
zações pré-industriais tinham muito menos oportunidade
para escapar, e durante tanto tempo, às consequências
naturais da sua exploração. O motor a vapor libertou pe-
la primeira vez a humanidade desta dinâmica disciplina-
dora natural ao fornecer uma fonte de poder indepen-
dente e impermeável à estação do ano, ao clima e à geo-
grafia. O que se seguiu à racionalização e aplicação da
máquina a vapor (não realmente da sua invenção em si
mesma, já que isto se deu no Egipto Romano no século I
depois de Cristo) foi uma capacidade cada vez maior de
subjugar e explorar processos naturais, invadindo cada
vez mais a natureza selvagem e permitindo que quase
nenhuma parte dela permanecesse selvagem, mas sim
trabalhar para benefício imediato do homem, e para o
lucro imediato, sem quaisquer preocupações de conser-
vação e sem as pressões naturais a que a ausência dessas
preocupações levaria. Para usar a expressão angla, o sis-
tema industrial permitiu e permite chutar a lata ao longo
da rua. Como a nível individual é possível, por causa da
medicina moderna, sobreviver muito mais tempo do que
seria natural a alguém que se auto-destrua, a sociedade
industrial pode sobreviver muito mais tempo às conse-
quências da sua destruição da natureza. A história da
sociedade industrial é, em grande medida, uma história
de destruição ambiental sem as consequências que, em
tempos pré-industriais, equilibravam essa destruição,
sem a disciplina que essas consequências trazem, não
deixando nenhum lugar intocado, nenhuma margem por
326
conquistar, destruindo para sempre a natureza selvagem
tal como era entendida por todos os nossos antepassados
antes de o malabarismo industrial a destruir para a efi-
ciência e para o lucro. E, note-se, esta destruição na Eu-
ropa é praticamente total (não admira que a Europa seja
vista como ‘aborrecida’ de um ponto de vista de beleza
natural, em contraste com outras partes do mundo onde
a natureza selvagem ainda existe), mas a destruição pelo
mundo fora continua – e só parará quando o sistema co-
lapsar ou quando não houver mais nada para destruir e o
mundo todo for um parque de estacionamento. A preo-
cupação com a natureza selvagem, com a sustentabilida-
de das actividades humanas em termos naturais, com a
proporção correcta do uso humano da natureza, não são
causas inerentemente esquerdistas – e é de uma tristeza
enorme que a direita as tenha abandonado. O Cristão em
particular deve lembrar-se que a natureza, tal como nós,
é criação de Deus, enquanto que as obras das nossas
mãos não são, e que foi-nos ordenado que sejamos cui-
dadores e não exploradores. E enquanto a nível indivi-
dual podemos fazer esforços para reduzir a nossa parti-
cipação na exploração, quer beneficiemos dela directa ou
indirectamente, também não devemos ser cegos ao carác-
ter destrutivo do próprio sistema, tentar convencer os
outros da sua iniquidade e rezar pelo seu desaparecimen-
to.
327
Da mesma forma que a sociedade industrial destrói a
biodiversidade e os ecossistemas não humanos, também
destrói a biodiversidade e os ecossistemas humanos. Em-
bora as migrações de povos, e por vezes povos muito
díspares, tenham ocorrido ao longo de toda a história, o
seu alcance, dimensão e velocidade não foram nada em
comparação com as migrações modernas, mesmo se ex-
cluirmos o tipo de migração intermédia da era colonial.
As migrações de massa do mundo pós-moderno são um
fenómeno único e particular. A sociedade industrial, com
o seu foco único na eficiência, faz uso dos seres humanos
como qualquer outro recurso e, assim, deslocará popu-
lações para realizar uma miríade de objectivos, e devido
às suas capacidades técnicas, pode permitir a migração
humana sem quaisquer barreiras naturais. Um bom exe-
mplo disto é a importação de Africanos para a Escandi-
návia, que depois necessitam de suplementos de vitami-
na D para sobreviver à baixa quantidade de luz solar
numa latitude tão elevada à qual não estão adaptados. Os
objectivos não são apenas económicos, mas também mili-
tares, culturais e sociais. A sociedade industrial de uma
inclinação liberal – que é o seu viés natural – beneficiará
se as populações e culturas homogéneas forem desfeitas,
se as alianças etno-religiosas forem destruídas e substi-
tuídas por uma cultura mercantil comum. Mais uma vez,
se se quiser manter o sistema industrial e evitar a perda
da pátria e a migração em massa, é necessário um contro-
lo ditatorial sobre os meios industriais e uma perda de
produtividade e de competitividade, permitindo assim
328
que o resto do mundo industrial liberal acabe por con-
quistar os países cuja indústria foi regimentada para fins
fora da própria eficiência – tal como as ditaduras de
Hitler e Estaline foram conquistadas pelo mundo liberal.
329
de regular o seu movimento. O trânsito automóvel, no
entanto, ou é regulamentado ou resulta num cenário caó-
tico e destrutivo – não só pelo seu movimento, mas pela
sua poluição do ar e sonora. Esta mesma dinâmica pode e
aplica-se a todas as áreas da vida, ligada a todas as dife-
rentes tecnologias, tal como acontece no mundo mo-
derno. Pode ser resumida da seguinte forma: quanto
mais complexo for o nexo económico e tecnológico, quan-
to mais dependência houver de grandes sistemas de so-
brevivência, menos liberdade cada indivíduo tem no seu
interior, menos autonomia tem para decidir o que fazer
com a sua propriedade – ou, caso a liberdade e a auto-
nomia lhe seja permitida, uma enorme quantidade de
externalidades negativas as seguem, prejudicando a vida
e a liberdade de outrem.
330
muito mais degradante e perigosa. Em primeiro lugar, é
de notar que as condições de um operário fabril no início
da era industrial eram de longe mais degradantes, des-
trutivas, insalubres e antinaturais do que a maioria dos
escravos ao longo da história tinham vivido, incluindo os
Africanos escravizados nas plantações do continente
Americano. Uma análise da ingestão calórica e da saúde
geral dos pobres industriais e dos escravos americanos e
revelou que, em comparação com os pobres industriais,
os escravos tinham uma vida significativamente melhor –
mesmo no domínio da liberdade e autonomia, os pobres
industriais eram pelo menos tão vinculados e sem opções
como o escravo oficial. Mas a escravatura do sistema
criado pelo mundo ocidental vai muito mais além desta
mera comparação, e de facto faz parte da sua concepção
escravizar a todos em todos os aspectos – e a verdadeira
razão para abolir a escravatura ‘tradicional’ não foram
sensibilidades morais (pois essas já eram argumentadas
há vários séculos), mas sim a observação de que a escra-
vatura ‘tradicional’ era menos eficiente que esta nova
forma de escravatura industrial. Hoje já não é um grupo
de pessoas a escravizar outro, ou a cultura de um grupo a
dominar a de outro: é a própria sociedade técnica e as
suas estruturas, que se forçam sobre todos os povos, es-
cravizando-os a todos na sua maquinaria, não só no cor-
po, mas também na mente e no espírito, criando uma cul-
tura que separa cada pessoa individualmente e cada gru-
po colectivamente de qualquer forma natural de comuni-
dade e identidade, conforme necessário para a sua
331
própria continuação e avanço. Os Europeus podem ter
sido os iniciadores deste processo, mas foram também as
suas primeiras vítimas (os pobres industriais), e conti-
nuaram a sê-lo de outras formas, tal como o resto da hu-
manidade. Assim, a Esquerda tem a intuição certa quan-
do sente repulsa perante a visão da modernidade, peran-
te a sua sistematização prepotente e a sua exploração e
regimentação de povos “subdesenvolvidos”. Apenas a
percebem erroneamente em termos pré-industriais, como
um grupo definido explorando e destruindo outro, en-
quanto que a exploração actual não é particularmente
sobre uma ou outra etnia, ou sobre um ou outro grupo
económico (embora também o seja), mas sobre todo o
edifício do industrialismo consumindo a humanidade no
seu avanço.
332
nidade ao interesse comum mundano (bandas, séries, etc)
e um tipo específico de violência observada particular-
mente nos centros urbanos (que são a vanguarda do sis-
tema).
333
mais tecnicamente poderosos. A tendência natural desses
meios não é a moralidade, nem sequer a imoralidade,
mas sim a amoralidade. A técnica não tenta quebrar as
normas morais, mas acontece que quebrá-las é benéfico
para o seu funcionamento eficiente, e como tal é isso que
sucede. E a única forma de, pelo menos temporariamen-
te, controlar essa natureza caótica, é implementar uma
arregimentação extrema de todos os aspectos da comuni-
cação e da vida comunitária. Mas mesmo isso é uma ba-
talha perdida no contexto da sociedade industrial: quanto
mais fácil e expansiva for a tecnologia de comunicação,
mais dura e menos capaz será a censura. E assim, o tradi-
cionalista moral está numa batalha perdida contra a na-
tureza dos próprios meios técnicos. Há uma razão pela
qual todas as sociedades tradicionais pré-industriais têm
normas morais sexuais muito semelhantes – há alguns
pormenores, e alguns exemplos individuais de contra-
dição e mesmo de inversão, mas poucos e de longe. E
sabemos que são sempre minoritários pois caso contrário
a sociedade teria colapsado – sem medicina e tecnologia
moderna, as consequências naturais desses comporta-
mentos desviantes mantêm-nos em cheque. A sociedade
industrial não elimina as normas morais, apenas torna
inútil a sua razão prática, a sua necessidade para a sobre-
vivência. Numa sociedade em que apenas o quantificável
é valorizado, em que considerações não técnicas são ig-
noradas e em que o homem é libertado das pressões na-
turais, com múltiplos suplementos para evitar conse-
quências para os seus actos, a moralidade tradicional
334
deixa de ter qualquer coisa a oferecer. Não tem uma apli-
cação prática na sociedade industrial, na qual apenas as
aplicações práticas são motivo de preocupação.
335
A Abordagem Conspiratória
336
Tal como podemos encontrar inúmeras declarações sobre
os objectivos da classe dominante nos nossos dias, po-
demos encontrar vários exemplos de industrialistas do
século XVII e XVIII a declararem claramente as suas in-
tenções maliciosas na implementação do sistema indus-
trial. Mas o argumento contra esse sistema – que é, na
verdade, a origem do que existe hoje – não pode nem
deve fundar-se nessas intenções, nem mesmo parcial-
mente. A abordagem conspiratória acaba por não ser de
todo uma crítica, já que pelo seu próprio foco em perso-
nagens e intenções leva à conclusão, explícita ou implíci-
ta, que com diferentes personagens e melhores intenções
o mesmo conjunto de circunstâncias e pressões conduzi-
ria a diferentes, e bons, resultados.
337
as invenções que produziram foram sujeitas a considera-
ções éticas e teológicas e só quando consideradas benéfi-
cas a partir destas perspectivas, e não a partir da perspec-
tiva da técnica em si, é que prosseguiram com a realiza-
ção das suas invenções. Em alguns casos a sua produção
era permitida, mas não a sua difusão fora dos mosteiros,
devido às mesmas preocupações. No entanto, e em últi-
ma análise, as suas boas intenções não impediram que
algumas das suas invenções causassem danos irrepará-
veis na sociedade e mudassem a perspectiva e o foco do
homem de Deus e da ordem natural para o mundano e o
artificial, do eterno para o temporal, e do ético e teológico
para o puramente técnico.
338
mem sobre o próprio tempo e removeu o seu olhar da
eternidade para a existência mundana.
339
que conduzem a resultados igualmente maus, como os
proponentes e financiadores da revolução industrial. Mas
mesmo as suas más intenções foram ajudadas e permiti-
das pelas invenções de pessoas bem-intencionadas que
vieram antes deles, sem que essas pessoas tivessem qual-
quer poder contra as implicações do que criaram. Portan-
to, não nos ajuda muito, ou de todo, investigar as moti-
vações e personagens no que diz respeito ao desenvolvi-
mento tecnológico e às suas implicações morais, sociais,
económicas e políticas. Tal como não nos diz nada sobre
a engenharia social que é um tema tão falado nos nossos
dias. A verdade que passa por entre os pingos da chuva é
que essa engenharia é o produto de meios técnicos cujas
implicações são largamente independentes das intenções
e personagens que estão por detrás delas.
340
no fundo a mesma conclusão, mas em relação a outras
coisas, como por exemplo o sistema tecnológico. Pois a
abordagem conspiratória leva-os a concluir que o pro-
blema é a má utilização ou má gestão e que o sistema
tecnológico não constitui um problema em si mesmo. O
que por sua vez leva também a vias de pensamento mui-
to perigosas, sobretudo para os Cristãos. Se se considerar
realmente que o desenvolvimento tecnológico é neutro, e
que apresenta um problema de má utilização ou gestão e
não em si mesmo, para permanecer consistente, é preciso
aceitar que existe algo como um uso apropriado de con-
traceptivos, fertilização in-vitro ou a bomba atómica. E
sem dúvida que algumas seitas ‘cristãs’ modernas acei-
tam e apoiam parte ou a totalidade do edifício moderno –
mas a ênfase dessas seitas está na modernidade, não em
Cristo.
341
cidades e os seus representantes no Antigo Testamento, o
tratamento de Cristo das cidades no Novo e a rejeição de
Cristo pelos fariseus – uma vez que o legalismo é apenas
mais uma manifestação do culto da técnica.
342
A Cidade nas Escrituras
343
celhos, ainda há cem anos largamente campestres, são
agora dormitórios, centros industriais e comerciais, par-
ques de estacionamento. Lugares onde as pessoas se
amontoam umas por cima das outras, e cuja vida é quase
completamente dependente do centro, da Lisboa – mate-
rial, cultural e espiritualmente. Como um cancro que vai
infectando mais e mais partes do corpo, a Cidade vai
conquistando mais e mais território e colocando-o ao seu
serviço. E tal como nivela montanhas e abate florestas no
seu caminho expansionista, fá-lo igualmente com as al-
mas humanas que encontra no seu caminho. Através de
ferramentas cada vez mais sofisticadas, de comunicação e
transporte, a Cidade consegue inclusive infectar a mente
e a alma dos que estão longe dela, criando urbanos de
espírito, mesmo sem o serem fisicamente. Afinal, quem
hoje em dia consegue fugir à cultura, que é sempre criada
na Cidade?
344
‘outro’ religioso demonstra uma certa atitude da parte da
Igreja Romana, algo que será interessante manter em
mente para o resto deste texto.
345
A primeira cidade é construída por Caim em oposição
directa a Deus – e esta estabelece o precedente para todas
as cidades (na Escritura, e se formos crentes, fora dela
também). Depois de matar o seu irmão, Caim recebe uma
maldição, mas também lhe é oferecida protecção por
Deus. Mas num momento decisivo, ele rejeita a protecção
divina, e a sua rejeição toma a forma da construção de
uma cidade. A cidade que ele constrói chama-se Enoque
– o mesmo nome do seu filho primogénito – nome que
significa “inauguração”. Isto é significativo por duas
razões: primeiro, Caim considera a cidade como o seu
legado, comparável ao seu filho primogénito, e note-se
que a importância do filho primogénito era incompara-
velmente maior do que é presentemente; e segundo, o
que Caim inaugura é um mundo à parte de Deus, uma
protecção feita por ele próprio para rivalizar com a pro-
tecção de Deus, um lugar à parte que pode sobreviver
por si só sem a necessidade de Deus – a inauguração em
oposição à Criação, a oposição artificial ao natural.
346
cidade técnica e força; e descendente em termos de
iniquidade, imoralidade, pecado. E, em particular, vio-
lência. Devido a esta espiral descontrolada de iniquidade,
Deus envia o dilúvio, salvando Noé e a sua família.
347
construção de cidades, e uma afronta directa ao decreto
paternal.
348
O padrão continua na história de Sodoma e Gomorra: a
cidade como um lugar de iniquidade, tão desprovido de
caridade e bondade que o único destino aceitável é a des-
truição. E Ló, a quem é permitido escapar, não era da
cidade, é um estrangeiro, um recém-chegado – e é consi-
derado como tal pelos habitantes da cidade («como se
atreve este estrangeiro a julgar as nossas acções?» – e nos nos-
sos tempos não ouvimos o mesmo coro sob uma forma
diferente: como é que o Cristão se atreve a julgar o cos-
mopolita?). Ló acaba por oferecer as suas próprias filhas
virgens aos sodomitas, para que não corrompessem os
anjos (o primeiro de uma série de más decisões), mas
mesmo assim, ao contrário dos restantes habitantes, ele
não é irreversivelmente corrompido pela cidade. Mas ele
deve fugir, deve deixar a cidade à sua destruição, e nunca
olhar para trás. Quando Ló diz à família (aos genros) que
Deus destruirá a cidade pela sua iniquidade irrepreensí-
vel e irredimível, a família pensa que ele está a gozar.
Quem já teve uma conversa parecida com a sua própria
família, reconhecerá a reacção.
349
montanha, talvez algum infortúnio se apodere de mim e eu
morra. Há uma certa cidade próxima, para a qual posso fugir; é
uma cidade pequena, e serei salvo nela. Não será uma cidade
modesta, e a minha alma não viverá?”». Não conseguimos
ouvir os pedidos semelhantes nos nossos próprios tem-
pos? “Vamos desligar-nos do sistema… mas só um boca-
dinho”.
350
para a cidade com nostalgia, e assim nos tornássemos
uma pilha de sal. Mas também não devemos cometer o
erro contrário, de levar as coisas demasiado longe dema-
siado cedo, de pecar pelo lado do orgulho e pensar que
não fomos permanentemente afectados pela Cidade e
que podemos girar sem esforço 180 graus. Apesar de
Deus lhe garantir que a cidade mais pequena (Zoar) seria
segura por enquanto, Ló decide abandoná-la por medo (e
contra a garantia Divina) de que também ela seja des-
truída, e em vez disso vai imediatamente com as suas
duas filhas para uma caverna, impreparado. Neste caso, a
sua impreparação é, em particular, não encontrar novos
maridos para as filhas, e elas, invertendo o padrão dado
antes em que Ló as ofereceu para serem violadas pelos
sodomitas, agora acreditando erroneamente que são as
únicas pessoas que restam, embebedam-no e violam-no
para procriar, o que por sua vez resultará na fundação de
dois reinos vindos da descendência de cada uma das
filhas. Reinos, que, como sempre, são centrados em cida-
des.
351
qual não havia mais Revelação ou Profecia, e que pode-
ríamos dizer que os tornou orgulhosos e os levou a rejei-
tar o Messias, há uma linha que liga todos estes eventos,
todas estas manifestações de rebelião contra Deus. E essa
linha é a Cidade.
352
Testamento são extremamente duras. A cidade na Escri-
tura é o exemplo primordial da rebelião do homem – por
orgulho, claro – e também o lugar do avanço tecnológico,
tal como sempre foi e ainda é. A única forma de com-
preender as duras palavras de Deus contra as cidades
naqueles tempos antigos, onde as cidades ainda eram
uma mera extensão do campo, é que Deus está a avisar
não contra o que elas eram, porque eram apenas um
início, mas contra aquilo em que a cidade plenamente
desenvolvida se tornaria – aquilo que vemos agora. Mul-
tidões, ruído, poluição, distracção, degradação, imorali-
dade, alienação, violência. Deus estava a dar-nos uma
profecia sobre o produto final das nossas mãos: a metró-
pole, no seu culminar satânico.
353
roupas de saco e cobrindo-se com cinzas. Mas digo-vos que será
mais tolerável para Tiro e Sidon no dia do juízo do que para
vós. E vós, Cafarnaum, que arrogas subir aos céus, sereis leva-
dos para o inferno; porque se as obras poderosas que foram fei-
tas em vós tivessem sido feitas em Sodoma, teria ela permaneci-
do até este dia. Mas eu digo-vos que será mais tolerável para a
terra de Sodoma no dia do juízo do que para vós. ”»
354
porque dentro do mundo da técnica que a cidade repre-
senta, só as maravilhas, isto é, os milagres, podem rivali-
zar com as maravilhas técnicas. Assim, dentro da cidade,
Cristo faz todos os seus milagres. Não fala. Deus criou o
mundo através da Palavra, mas na cidade, criação do
homem para ser separado de Deus, a Palavra feita carne
não pode proferir quaisquer palavras, pois elas são inú-
teis. Apenas milagres – porque o homem foi sempre
mesmerizado pela magia, e no mundo de hoje é mesme-
rizado pela tecnologia, porque não sabe como ela funcio-
na, e como tal ela é, de certa forma, mágica. O homem
comum dos nossos dias olha para o smartphone da forma
como o homem antigo olhava para os feitiços. E, no en-
tanto, Cristo não tem sucesso contra a cidade nos seus
próprios termos, ele deve levar as pessoas para fora da
cidade para lhes poder falar. É notável que tantas pessoas
ainda pensem que podem ter sucesso onde Cristo falhou,
que pensem que possamos usar a Cidade e as suas estru-
turas para os propósitos de Deus, que podemos domar
este monstro. Não, a única opção apontada pelas Escritu-
ras é seguir Cristo para fora da Cidade.
355
Ele, elas não adorariam a Ele, mas às coisas em si – tal
como o “evangelho da prosperidade” faz no nosso tem-
po, mas também a adoração da ciência e da tecnologia, e
todos os benefícios terrenos que trazem, apesar do seu
custo espiritual. Não, Cristo deve sofrer e morrer, e ven-
cer o mundo através do sofrimento e da morte. Qualquer
outra coisa, o paraíso na terra, é obra de forças malignas.
356
do Império Romano demonstra. Nenhuma das estruturas
da Cidade existe para servir o Bem, e quando assim o
parece estamos na melhor das hipóteses num período
transitório, em que as trevas se reorganizam pela calada –
e na pior, é precisamente nesse momento, que acabamos
por corromper e trair os princípios que tentámos defen-
der. E por isso de certa forma é extremamente benéfico
que as forças do mal se revelem tão claramente, pois as-
sim já não é possível manter a ilusão. Se na Idade Média
era possível achar que a Cidade podia estar do lado de
Deus, os séculos mostraram-nos quão errónea era essa
consideração, e quão corruptora é a sua influência mes-
mo, ou especialmente, para os defensores do Bem. Será
por isso assim tão estranho que a Igreja Romana, tendo
tomado as rédeas do que restava do Império, tenha usa-
do a palavra pagão (cujo significado original, como vi-
mos, era camponês) para designar os seus inimigos? Um
detalhe significativo na história do seu erro fatal – o erro
de querer tomar a Cidade para servir a Deus, quando
Cristo nos havia mostrado que tal caminho era votado ao
fracasso, até para Ele, e quanto mais para nós.
Até ao triunfo Divino final, rejeitar a Cidade, física e espi-
ritualmente, deve ser o objectivo de todos os Cristãos,
não apenas para a nossa segurança física, mas sobretudo
para a nossa saúde espiritual.
***
357
«Desejo que, nestes tempos conturbados, nesta atmosfera dele-
téria em que vivemos nas cidades, vós retorneis à terra assim
que possível. A terra é saudável, a terra ensina a conhecer
Deus, a terra reaproxima de Deus, ela equilibra os tempera-
mentos, os caracteres, ela incentiva as crianças ao trabalho. E
se necessário, vós próprios fareis a escola dos vossos filhos. Se
as escolas corrompem os vossos filhos, o que vão fazer? Entre-
gá-los aos corruptores? Àqueles que ensinam práticas sexuais
abomináveis na escola? Às escolas “católicas” de religiosos e
religiosas onde o pecado é ensinado, sem mais nem menos? Na
prática, ao ensinar isso às crianças, eles corrompem-nas desde
cedo. E vós aceitais isso? É impossível! Melhor será que os vos-
sos filhos sejam pobres, melhor será que os vossos filhos vivam
longe de toda esta ciência aparente do mundo, mas que sejam
bons filhos, filhos cristãos, filhos católicos, filhos que amem a
sua santa religião, que amem rezar e que amem trabalhar, que
amem a natureza que o bom Deus fez.»
358
A Civilização e as suas consequências
359
conquistados? Dos conquistados não reza a história, so-
bretudo dos que não se dedicaram também eles a es-
crevê-la, mas apenas a vivê-la, como pobres selvagens.
Nada, ou quase nada, saberíamos dos Lusitanos, fora os
artefactos que sobreviveram, se os Romanos não nos ti-
vessem dito quão pobres e selváticos eram (e, sejamos
justos para os Romanos, quão corajosos e hábeis eram os
seus opositores na arte da guerrilha). E, naturalmente,
podemos confiar totalmente nas suas descrições pois
nunca se lembrariam de mentir ou exagerar, por mais
absurdas e impensáveis que sejam as descrições, como
aquelas que dizem que os nossos antepassados arremes-
savam os seus bebés contra os soldados Romanos. Estes
selvagens não só não tinham qualquer respeito pela sua
descendência, como não eram sequer espertos o suficien-
te para entender que bebés são armas fracas contra exér-
citos organizados. Ou assim nos conta a história – escrita,
por alguém, e neste caso foi pelos Romanos, contra os
que a não escreveram, os Lusitanos.
360
Aí está a palavra: civilizados. Civilização. Hoje, e há mui-
to tempo, civilização tornou-se sinónimo de bom. E como
não? Os civilizados dedicam-se à escrita, e como tal, es-
crevem que ser civilizado é bom. Porque haveria a civili-
zação de argumentar contra si mesma?
361
2. conjunto dos conhecimentos e realizações das sociedades hu-
manas mais evoluídas, marcadas pelo desenvolvimento intelec-
tual, económico e tecnológico
A primeira definição é tão vaga que não se distingue uma
civilização de qualquer cultura não-civilizada. Todas as
sociedades têm instituições, técnicas, costumes e crenças
– e se essa é a definição de civilização, então todas as so-
ciedades são civilizadas, da vila tribal ao gigante império.
Claramente, não é uma definição útil. Isto é, sobre as es-
truturas e implicações especificas da Civilização, o que a
distingue de outros tipos de sociedade, não nos diz nada.
362
‘desenvolvimento’, ‘progresso’ e ‘complexidade’. Mas, ali
no meio, encontramos pelo menos uma coisa verdadei-
ramente específica – o uso extensivo de registos, incluin-
do a escrita. Assim já podemos distinguir entre as socie-
dades civilizadas e as outras. E voltamos ao problema
inicial, de que a história é escrita por quem a escreve, re-
gistada por quem a regista. E como tal, há uma parciali-
dade inescapável nos próprios registos.
363
destes necessita também que lhe providenciem as outras
coisas que ele próprio não produz. É também deduzível
que os que providenciam os materiais necessários para
fazer roupa e habitação, também tenham eles de ser pro-
videnciados com alimento, roupa e habitação. Quem di-
ria que para rabiscar umas simples linhas a favor do im-
pério, fosse necessária tanta complexidade e organi-
zação?
364
tensivo, a sua sistematização, um nível de complexidade
e especialização que requer uma organização social, eco-
nómica e política que desliga uma grande parte da popu-
lação das necessidades básicas da vida humana. As tribos
Germânicas (os bárbaros assim designados pelos civili-
zados Romanos), por exemplo, tinham escrita, simples-
mente não a usavam extensivamente – usavam-na, como
referido acima, sobretudo para registar os seus mitos, e
como os mitos não mudam, a sua actividade escrita não
era extensiva. E não a usando extensivamente, a organi-
zação e complexidade descrita acima é desnecessária e o
nível de especialização requerido muito menor – isto é,
não estamos na presença de uma Civilização, mas sim-
plesmente de uma sociedade. A sua divisão em tribos,
em vez de uma entidade política unificada, aponta para a
mesma conclusão.
365
necessários quando as necessidades básicas são importa-
das) são, num sentido muito estrito, nem produtivas nem
transformativas, mas ‘intelectuais’, não requerem o es-
paço físico necessário para a transformação, e ainda me-
nos para a produção, que as necessidades básicas reque-
rem. E como tal, a Cidade é sempre um amontoado de
gentes, vivendo umas sobre as outras, e todas elas de-
pendentes desse sistema chamado Civilização.
366
a conversão de algumas das terras circundantes em quin-
tas de agricultura e pecuária intensiva – actividades em si
mesmas destrutivas da terra e que não seriam necessárias
caso não houvesse uma população citadina para alimen-
tar e vestir. E em segundo lugar, o processo não é pacífico
para todas as pessoas que têm o azar de viver nas ime-
diações da Cidade, pois em vez de trabalharem para a
sua sobrevivência, serão recrutadas, em geral pela força,
para o sustento dos urbanos.
367
lá surgiram, a desertificação persiste até hoje – e na Eu-
ropa começa a sentir-se.
368
complexa e elegante – será que podemos dizer, uma vio-
lência mais civilizada?
369
ral, que sustenta a vida não só da Civilização, mas tam-
bém a vida da qual a Civilização depende. Quando essa
devastação atinge um determinado nível, resultante da
expansão urbana, os sistemas naturais que permitem a
manutenção da vida começam a desaparecer, a integri-
dade (e com ela a fertilidade) do solo diminui ou extin-
gue-se, dada a ausência de floresta a seca ou as cheias (e
em geral ambas em épocas diferentes) começam a ser
frequentes, afectando a produção de alimentos pois torna
a agricultura e pecuária intensiva mais difícil ou impos-
sível e como tal colocando ainda mais pressão para ex-
pandir essas actividades ainda mais para áreas ainda flo-
restadas, aumentando o impacto. Outro ciclo vicioso: a
exploração desregrada do meio natural torna necessária
ainda mais exploração para manter a população corrente.
O resultado é a fome e a doença – e com a fome e a
doença vem o conflicto e a desintegração dos sistemas
sociais e hierarquias. Com a disrupção do abastecimento
alimentar, todas as profissões e especializações urbanas
se tornam supérfluas, e a sua manutenção impossível –
palácios deixam de ser construídos, estátuas deixam de
ser esculpidas, registos deixam de ser feitos e leis deixam
de ser aplicadas. Por sua vez essa desintegração coloca
todos os que dependiam para o seu sustento desses sis-
temas e hierarquias numa posição em que a sua lealdade
ao sistema já não traz qualquer benefício, dando-lhe mais
um golpe e acelerando ainda mais o colapso da ordem
que reinara outrora, pondo a nu a insustentabilidade do
sistema e sublinhando, por fim, que toda a sofisticação
370
civilizacional era afinal mantida através do trabalho dos
bárbaros campestres.
371
(como no colapso da Idade do Bronze, ou a queda do
Império Romano).
372
Se tudo isto soa familiar podemos pelo menos consolar-
nos com o facto de não termos de imaginar como se sen-
tiria um Ateniense, um Romano, um Egípcio ou um Ma-
ya, aquando da queda das suas respectivas civilizações.
Tudo o que temos de fazer é olhar em volta.
373
acompanha todas as civilizações e assim será capaz de se
perpetuar indefinidamente. Eu sou da opinião contrária.
Todas as civilizações se consideram acima dessa possibi-
lidade, e é precisamente no auge da sua arrogância que
começam a cair. Como nos diz famosamente o livro dos
Provérbios ‘a soberba precede a ruína’. E a nossa é uma
civilização soberba, palavra que curiosamente designa ao
mesmo tempo orgulho e grandiosidade. Ambas as coisas
estão inexoravelmente ligadas.
374
tar a Civilização e a Cidade, viver uma vida mais sim-
ples, em harmonia com a natureza, a humana e a outra. O
ganho de um ponto de vista materialista (já que o ponto
de vista espiritual abordámos no texto anterior) é garan-
tido seja qual for o futuro que se realize: se o sistema im-
plementar o totalitarismo absoluto, ao menos durante
algum tempo, por mais mínimo que seja, aquele que vi-
ver fora ou o mais fora possível do sistema, será o último
a ser integrado, escravizado e aniquilado – é melhor ser
livre por pouco tempo do que por tempo nenhum, afinal
de contas; e se o sistema colapsar, serão as pessoas fora
das cidades, a viver uma vida mais simples e mais autó-
noma, que melhores chances terão de sobreviver e conti-
nuar.
***
I Tessalonicenses, 4:11.
375
376