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HOULGATE, Stephen. Introduction. In: HEGEL, G. W. F.. Outlines of the philosophy of right.

Oxford, Nova Iorque: Oxford University Press, 2008. 32p.

Hegel’s Life and Political Sympathies


Para Hegel, a filosofia afirma a possibilidade de se entender a estrutura fundamental do ser a
partir da análise do seu conceito e não da observação da natureza ou sociedade. – xv – Ideia é
o nome que Hegel dá ao processo racional de livre autodeterminação pelo qual passa o Ser ao
mesmo tempo que a Ideia é o Ser como um todo. Outras formas particulares de ser também
são Ideia, como a vida, pois também são autodeterminadas e movidas por ai. Nessa linha, a
filosofia do Espírito Objetivo examina as formas objetivas da liberdade humana, como o Direito
e a História. A filosofia do Direito, portanto, revela o que é ser livre – xvi – e mais
objetivamente quais as instituições e estruturas necessárias pela natureza de tal liberdade. A
Filosofia do Direito é, portanto, um estudo filosófico do significado da liberdade. - xvii

Hegel traz uma apresentação normativa, e não descritiva, dessa liberdade, mas não um
normativismo utopista. Não se trata da liberdade que deveria existir em um mundo ideal, mas
a liberdade na sua liberdade, pela natureza do seu conceito conforme realizado na História.
Para isso, Hegel começa com a liberdade na sua forma mais pura e abstrata: a liberdade de
abstrair do que nos é dado. A partir desse mínimo, Hegel torna explícito o que está implícito.
Essa é a tarefa do filósofo. – xviii – Trazer para a frente o que está imanente no conceito ao
invés de trazer elementos externos para corrigir defeitos das formas existentes.

Esse, porém, não é um processo histórico no sentido de que formas anteriores da liberdade
seriam abstratas e hoje teríamos formas concretas. O processo de passagem de uma para
outra é um processo lógico, ainda que a liberdade se realize na história. - xix

Freedom
Hegel parte da liberdade negativa: a capacidade do homem de abstrair de tudo (§5). Essa é
uma habilidade inerente à capacidade de pensar. Do lado positivo, a liberdade permite que eu
me dê um conteúdo e um objeto particulares, ou seja, que afirme um impulso ou desejo como
sendo meus (§6). Essa não é um desejo imposto pela natureza, mas algo que escolhi e que,
portanto, posso abandonar a qualquer momento (§7). Essa é a livre escolha, aquele que a
qualquer momento pode(ria) ser diferente. – xx – Mas essa liberdade não é tão livre assim,
pois seus alvos lhe são apresentados externamente e não escolhidos por si. É apenas a
capacidade formal de escolher entre desejos já dados (§15A). Essa arbitrariedade não é
acidental, mas um elemento essencial dessa forma de escolha. - xxi

Implicitamente nessa afirmação de um desejo já dado está já presente a afirmação da


liberdade de escolha. Ou seja, em cada escolha está implícita a afirmação da vontade livre de si
mesma e da sua liberdade. A vontade livre precisa tomar a si como objeto explícito da sua
afirmação, deixando de ser vontade abstrata (§23, §27). Seu conteúdo e objeto é si mesma e
não mais um objeto que lhe é apresentado. Uma vontade livre que se relaciona com nada
além de si própria. Uma vontade verdadeira. – xxii

Para Hegel, o direito é nossa liberdade entendido como objeto da nossa vontade. O direito é a
existência objetiva [Dasein] da nossa liberdade (§29). É algo sagrado para a vontade livre e que
deve ser por ela afirmado (§30). “It should be clear why Hegel introduces this idea of right at
this point in his account of freedom: for the free will that has its own freedom as its object,
and that must will and affirm its freedom if it is to be truly free, necessarily regards its freedom
as its right.” O direito é nada além da “freedom-that-requires-recognition.” Com isso, a
filosofia da liberdade se torna uma filosofia do direito. - xxiii

Right
A primeira forma é o direito abstrato, aquele que pertence à pessoa pelo simples fato de ser
um ser livre. É o direito de ser tratado como um portador de direitos, como uma pessoa (§36),
e inclui: direito de adquirir propriedade (§45); de trocar essa propriedade com outros e entrar
em contrato (§72); o direito de não sofrer danos ou ser escravizado (§48R). A liberdade de
escolha aqui começa a encontrar limites, já que não posso tomar como propriedade algo que
já pertence a alguém (§50). – xxiv – Caso contrário, temos um crime que deveria ser tratados
pelas cortes, mas como essas ainda não existem, a anulação do crime apenas é possível
através da vingança (§102). Isso não é uma defesa da vingança, mas uma afirmação da justiça
da punição.

Com a punição, a autoridade do direito é restabelecida. Sua prioridade sobre a vontade


individual. “When this priority is explicitly recognized and internalized by the individual will
itself, the latter becomes a moral [moralisch] will (PR § 104). Moral freedom is thus the next
form of freedom that we encounter in the Philosophy of Right.” Na moral, a vontade
reconhece a primazia do direito e também se considera uma encarnação e atualização do
direito e da liberdade. Liberdade não é igual a mais à imediaticidade da pessoa, mas agora com
a atividade autodeterminante, a subjetividade (§106). – xxxv – Porém, não existe nenhum
princípio objetivo e independente de ação.

É a consciência individual que constitui a objetividade (§140R). Ou seja, posso justificar


qualquer ação que quiser. Pode tomar qualquer mal como se fosse um bem para si. Porém, ao
fazer isso, reconhece implicitamente que existe algo universal e objetivo que constitui o
bem/bom (§141). Isso permite o próximo passo: a vontade que reconhece explicitamente que
o bem é objetivo, a vontade ética [sittlich]. - xxvi

Ethical Life
A distinção entre liberdade moral e liberdade ética é fundamental. A liberdade ética não se
limita à voz da consciência interna. Ela entende que a liberdade e o bem se realizam no mundo
objetivo através das leis e instituições da vida ética (§142, §144). Ou seja, somos livres na
medida em que participamos, e respeitamos, a instituições da sociedade civil e do estado. –
xxxvi – Não devemos interpretar isso como um chamado à obediência cega à lei, afinal nem
toda instituição ou lei é ética do ponto de vista hegeliano, ou seja, nem toda instituição ou lei
merece nosso respeito. A vida ética é o conceito de liberdade como ele se desenvolve no
mundo existente (§142).

Isso exige estruturas e instituições específica que promovam a liberdade: vida familiar fundada
no amor (§158); uma sociedade civil na qual pode buscar a ocupação de sua escolha e onde se
pode trocar e ter propriedade (§182); cortes de justiça públicas que decidem com base em leis
publicadas (§215, §219); corporações e uma autoridade pública que protegem os membros da
sociedade (§230, §252); e um estado monárquico com poderes executivo e legislativo (§273,
§300). Tudo isso considerando seus membros seres humanos com base na sua humanidade e
não caracteres pessoais, como religião ou nacionalidade (§209R) e almejando a felicidade dos
cidadãos (§265A). – xxvii

A vontade ética não decide o que é o bem por si própria, como a vontade moral, mas aceita a
bondade objetiva das instituições sob e nas quais vive. Aceita a autoridade das leis e
instituições (§137, §147). Vê-las como o ambiente necessário e suficiente para que os
indivíduos possam florescer. Por isso a vontade (verdadeiramente) livre segue as leis e regras.
“In states that are not truly ethical and free (such as the French state during the revolutionary
Terror), trust in government will be inappropriate and, indeed, impossible. In such states,
Hegel notes, ‘suspicion’—rather than trust—‘is in the ascendant’.” (PH, 1956, p. 450) – xxviii –
O Estado, por isso, inclui também o debate público dos assuntos públicos (§314). Na verdade,
nenhum Estado existente possuiria todos os elementos da vida ética, mas esses elementos
poderiam ser encontrados em alguns estados modernos, daí a famosa fase de Hegel sobre o
racional e o atual. – xxix

“He clearly suggests, however, that the way to avoid overproduction—and, therefore, poverty
—is to preserve the institutions called ‘corporations’. These are not individual companies, but
guild-like associations of traders and manufacturers. They were abolished in France during the
Revolution, but Hegel thinks that they are essential elements in a truly free society. Their role
is twofold: first, to foster an explicit concern for the welfare of others in the same trade, and
second, to regulate—and, if necessary, limit—the production of goods (PR § 252). In this way,
economic activity becomes genuinely cooperative and overproduction is avoided. Poverty thus
ceases to be a necessary consequence of free economic activity.” – xxx (…) – Essa seria
também uma foram de evitar a exploração do empregado pelo empregador, se quisermos
pensar em um problema posteriormente destacado por Marx. Através da organização de
comerciantes e trabalhadores em corporações informadas pelo senso de cidadania comum de
membros de um Estado. A pobreza seria evitada através de uma preocupação ética explícita.

“War remains a structural—and therefore necessary—possibility, since its possibility is built


into the very fabric of the unregulated relations between sovereign states. The necessary
possibility of war thus reveals the essential fragility of freedom in the state—a fragility of
which Hegel had been made personally aware in Jena in 1806.” - xxxiii

Excerpts from T. M. Knox’s Foreword


(i) The thought [Gedanke] of a thing
Pensamento é o produto do ato de pensar. Objetivamente , é universal, mas abstrato. “The
universal is a forma, and its contente, the particular, stands contrasted with it.” Se não
passamos do pensamento sobre a coisa, estamos ainda no plano do universal abstrato, no
nível ainda do entendimento [Verstand], da reflexão. Um pensar formal e abstrato, como nas
ciências empíricas ou na matemática.

(ii) The concept


A falta do entendimento é, apesar de corretamente distinguir formal de conteúdo, mante
esses elementos como opostos não sintetizáveis. Separados, são abstrações. Mas a essência
do pensamento é a concretude. O pensamento concreto é o conceito. – xxxiv – A filosofia se
ocupa, portanto, da correta síntese dessas duas abstrações e não com elas em separado.
Momento do todo orgânico. - xxxv

(iii) The Ideia [Idee]


“Just as the thought of a thing, when viewed concretely, is the concept, so the concept, viewed
concretely (i.e. in its truth, in its full development, and so in synthesis with the content which it
gives to itself), is the Idea. The Idea is the concept in so far as the concept gives reality and
existence to itself. To do this, the concept must determine itself, and the determination is
nothing external, but is the concept itself, i.e. it is a self-determination. The Idea, or reason, or
truth, is the concept become concrete, the unity of subject and object, of form and content.” -
xxxv

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