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A produção de textos

A produção de textos constitui um outro momento fundamental no ensino


de Língua Portuguesa. Na sociedade, o aluno encontra variadas manifestações
linguísticas escritas e o conhecimento de cada uma delas é fundamental para a
formação de um produtor de textos competentes, atento à forma de
funcionamento de cada gênero textual, considerando-se aí a situação de
produção de cada um deles. Essa necessidade ainda não está de todo suprida
e Antunes (2003) expõe alguns problemas relacionados ao ensino da escrita na
escola, os quais esboçamos abaixo:
• uma prática de escrita que ignora a interferência do aluno na construção
e testagem de suas hipóteses de representação gráfica da língua;
• uma prática de escrita mecânica, centrada no desenvolvimento de
habilidades motoras do aluno e na memorização de regras ortográficas;
• uma prática de exercícios descontextualizados e artificiais,
• com palavras e frases que não correspondem à realidade dos usos da
língua em situações concretas de interação escrita;
• uma prática de escrita desprovida de funcionalidade, que não
desenvolve a competência do aluno para o exercício da autoria dos
textos, limitando-se à mera redação. Além disso, é uma prática de
escrita que não considera as condições de produção do texto, o gênero,
o suporte e os processos de reescritura inerentes a essa atividade, que
requer planejamento.

Além de todos os problemas apontados, ressalte-se ainda uma


abordagem do texto escrito centrado nas tipologias textuais – descrição,
narração, dissertação, explicação, injunção e exposição –, quer dizer, não há
uma preocupação com o fato de que nós nos comunicamos por meio de
gêneros de discurso/texto, que envolvem operações complexas do ponto de
vista linguístico e extraverbal.
Ao assumir uma dimensão sociointeracionista da língua, o professor de
língua portuguesa, conforme Antunes (2003), deve atentar para os seguintes
princípios básicos:
• a escrita, como toda atividade interativa, implica uma relação
cooperativa entre duas ou mais pessoas;
• a escrita, na diversidade de seus usos, cumpre funções comunicativas
socialmente específicas e relevantes;
• a escrita varia, na sua forma, em decorrência das diferenças de função
que se propõe cumprir e, consequentemente, em decorrência dos
diferentes gêneros em que se realiza;
• a escrita supõe condições de produção e recepção diferentes daquelas
atribuídas à fala;
• a escrita compreende etapas distintas e integradas de realização
(planejamento, operação e revisão), as quais, por sua vez, implicam da
parte de quem escreve uma série de decisões.
• A escrita, enquanto sistema de codificação, é regida por convenções
gráficas, oficialmente impostas.

Uma abordagem da escrita pautada por esses pressupostos acima traz


importantes implicações pedagógicas na instância do ensino. Apresentamos, a
seguir, de forma condensada e ainda com base em Antunes (2003), os
impactos dessa abordagem no ensino da escrita. Na visão da autora, é preciso
que, para a promoção de sujeitos competentes em sua língua escrita, a escola
desenvolva:

• uma prática de escrita em que os alunos se sintam sujeitos de dizeres,


isto é, em que eles se vejam autores daquilo que dizem e não meros
redatores de pontos de vista alheios acerca dos temas que circulam
socialmente;
• uma prática de escrita de textos efetivos, e não meros exercícios de
escrita de palavras e frases descontextualizadas, sem nenhum propósito
comunicativo;
• uma prática de escrita de textos socialmente relevantes, fundamentada
na perspectiva dos gêneros de discurso/texto, segundo a qual o sujeito
que escreve tem o que dizer, para quem dizer, como dizer, quando dizer
etc.;
• uma prática de escrita com auditório social definido, ou seja, o aluno
deve ter em vista seu interlocutor, real ou potencial;
• uma prática de escrita contextualmente adequada, em que não apenas a
gramática dite a forma de escrita, mas, sobretudo, as regras sociais de
utilização da língua presentes no espaço de circulação do texto;
• uma prática de escrita metodologicamente orientada, em que o aluno
tenha a oportunidade não apenas de escrever, mas também de planejar
e de revisar sua produção textual;
• uma prática de escrita que considere os aspectos textuais, como a
coesão, a coerência, a informatividade, a clareza e a concisão, por
exemplo, como elementos indispensáveis à organização e compreensão
do texto, e não apenas os aspectos linguísticos;
• uma prática de escrita que atente para os aspectos da apresentação do
texto em sua superfície, como os cuidados com a ortografia, a
acentuação gráfica, a pontuação, a organização em parágrafos etc.

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