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PREPARAÇÃO DE FILMES QUITOSANA/ARGILA PARA APLICAÇÃO EM

CURATIVOS
Albaniza Alves Tavares1
Pedro Henrique Correia Lima2
Túlio Galvão Apolônio3
Eduardo Luis Canedo4
Suédina Maria de Lima Silva5
PALAVRAS-CHAVE: quitosana; argila; ibuprofeno; intumescimento.
1 INTRODUÇÃO
A pele humana atua como uma barreira anatômica contra agentes patogênicos, mas
essa função pode ser prejudicada devido a processos físicos, químicos, térmicos e
cirúrgicos, causando uma ruptura na ligação normal do tecido, com a formação das
feridas. No processo de cicatrização espontânea das feridas pelo qual o próprio corpo
supera o dano tecidual, a taxa de cura é muito lenta e o risco de infecção bacteriana
é elevado [1]. Formas farmacêuticas semissólidas convencionais tais como pomadas,
géis e filmes poliméricos são utilizadas como curativos para feridas e queimaduras.
No entanto, a contaminação microbiana com uso dessas formulações também podem
resultar em complicações, destruição de tecidos ou até mesmo a disseminação da
infecção em outras áreas. Os materiais usados para esta finalidade devem dar
proteção contra micróbios, deve ser não alérgico, não tóxico, não aderente à lesão e
de fácil retirada [2]. A quitosana, um polímero natural biodegradável, tem despertado
grande interesse neste campo de aplicação em curativos, já que ela pode ser
empregada sob a forma de filmes de recobrimento ou membranas, microfibras,
micropartículas, gel, soluções coloidais ou esponjas [3]. Além de apresentar
propriedades como biocompatibilidade, capacidade antioxidante, antimicrobiana, anti-
inflamatória e cicatrizante. Este biopolímero tem uma boa miscibilidade com a argila,
material de origem natural, já muito usada desde os primórdios no âmbito da medicina
para curar feridas, aliviar irritações, etc. A quitosana intercala facilmente nos espaços
interlamelares, devido à sua natureza hidrofílica e policatiónica em meios ácidos. Essa
combinação favorece também a permeabilidade e a biodisponibilidade dos fármacos
pelo organismo [4]. Contudo, estudos sobre o desenvolvimento de híbridos
quitosana/argila carreados com o fármaco ibuprofeno para aplicação em curativos não
tem sido tão difundidos. Diante disso, o objetivo do trabalho foi preparar filmes de
quitosana/argila, pela técnica de evaporação de solvente para tal finalidade.

2 METODOLOGIA
O filme de quitosana (Q) com 92% de grau de desacetilação foi obtido a partir da
dissolução de quitosana em solução de ácido acético sob agitação magnética a
45°C/2 h. Em seguida, essa solução foi filtrada a vácuo e o filtrado foi vertido em
placas de Petri de Teflon e acondicionado a temperatura ambiente para formação do
biofilme. Para a preparação do filme de quitosana/argila seguiu-se a mesma
1
Doutoranda, Programa de Pós-Graduação de Ciência e Engenharia de Materiais, UFCG, Campina Grande
– PB, Brasil. E-mail: albaniza.alves@gmail.com
2,3
Graduandos, Unidade Acadêmica de Engenharia de Materiais, UFCG, Campina Grande – PB, Brasil. E-
mail: pdolima123@gmail.com, tuliogalvaoap@gmail.com
4,5
Doutores, Unidade Acadêmica de Engenharia de Materiais, UFCG, Campina Grande – PB, Brasil. E-
mail: ecanedo2004@yahoo.com, suedina.silva@ufcg.edu.br
metodologia descrita anteriormente, com a diferença que nesta etapa foi necessário o
ajuste do pH da solução de quitosana para 4,9, por meio da adição de uma solução
de hidróxido de sódio 1M, sob agitação; nesta etapa ainda se fez necessário a
preparação de uma dispersão da argila montmorilonita sódica comercial Cloisite® Na+,
codificada como “CL” com água destilada sob agitação mecânica a 50 °C/30 min. A
solução de quitosana foi adicionada à dispersão da argila, visando obter o filme na
proporção mássica de 20% de argila e mantida sob agitação mecânica (1200 rpm) a
50 °C/4 h. Em seguida a mesma foi vertida em placa de Petri de Teflon e seca a
temperatura ambiente até formação do biofilme (QCL20). Após a formação dos
biofilmes de quitosana e quitosana/argila, estes foram neutralizados com uma solução
de hidróxido de sódio a 1M por 30 min e em seguida submersos em água destilada,
até pH neutro e secos à temperatura ambiente novamente. Já a metodologia adotada
na preparação dos filmes de quitosana e quitosana/argila carreados com ibuprofeno
(substância ativa) - (C13H18O2), codificado como “IBU” foi a seguinte: o IBU foi
dissolvido em álcool etílico 99,8%, a uma concentração de 10% em relação à massa
de quitosana e adicionado as soluções de quitosana e quitosana/argila, que foram
mantidas sob agitação magnética por 24 h. Em seguida, vertidas em placas Petri de
Teflon, secas a temperatura ambiente até formação dos filmes (QIBU e QCL20IBU).
Para análise da propriedade de intumescimento dos filmes foi seguido a metodologia
da norma ASTM D 570 [5] com algumas adaptações. O ensaio foi realizado em
triplicata. Os filmes foram cortados com aproximadamente 1 cm2 e, em seguida,
pesados em balança analítica, para a obtenção da massa seca (Mseco) e
imediatamente foram imersos em Beckers contendo 50 mL de solução tampão fosfato
- PBS 0,1M (pH 5,5), mantidos em incubadora Shake modelo IKA-KS4000i a
temperatura de 37ºC e por diferentes intervalos de tempo pré-estabelecidos (2, 4, 6,
8 e 24 horas), os filmes foram retirados da solução, secos rapidamente em papel
toalha e pesados novamente para a obtenção da massa úmida (Múmido). Para o cálculo
do índice de intumescimento (I%) foi utilizada a Equação 1 [6]:

M sec o  M úmido
I (%)  x 100 (1)
M sec o

3 DISCUSSÃO E RESULTADOS
O índice de intumescimento, ou seja a capacidade de absorção dos filmes de
quitosana e quitosana/argila com e sem ibuprofeno diante uma solução tampão fosfato
de pH 5,5 (pH da pele) após 2, 4, 6, 8 e 24 horas de imersão estão apresentados na
Figura 1. É importante determinar esta propriedade a fim de analisar a capacidade em
absorver os exsudatos da ferida e devido ao fato da cicatrização acontecer com
sucesso em um ambiente úmido [2]. De acordo com os resultados é possível observar
que os filmes de quitosana e quitosana/IBU apresentaram um baixo índice de
intumescimento, porém com a adição da argila houve um aumento na absorção da
solução. A quitosana tem facilidade em absorver fluidos devido a presença dos grupos
hidrofílicos em sua estrutura (grupos hidroxilas e aminas), porém a sua interação com
outros grupos químicos de diferentes eletronegatividades, restringe a mobilidade da
quitosana, diminuindo a sua capacidade de absorção [2]. O filme de
quitosana/argilaIBU (QCL20IBU) apresentou um índice máximo de intumescimento
em 8 horas de imersão de aproximadamente 300%, fato que pode estar relacionado
a geração de poros no filme com a incorporação do fármaco, facilitando a difusão e
consequentemente a biodisponibilidade do IBU no sistema.
Figura 1- Índice de intumescimento em função do tempo dos filmes de
quitosana (a) e quitosana/argila (b) com e sem ibuprofeno

4 CONCLUSÃO
Filmes de quitosana e quitosana/argila sem e com o fármaco ibuprofeno foram
preparados com sucesso pela técnica de evaporação de solvente. A mistura de
montmorilonita com quitosana alterou o índice de intumescimento nos filmes,
evidenciando que essa combinação pode ser viável para uso como curativos.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 POURHOJAT, F. et al. Evaluation of poly ε-caprolactone electrospun
nanofibers loaded with Hypericum perforatum extract as a wound dressing.
Research on Chemical Intermediates, v. 43, n. 1, p. 297-320, 2017. ISSN
0922-6168.
2 KAMEL, N. A.; EL-MESSIEH, S. L. A.; SALEH, N. M. Chitosan/banana peel
powder nanocomposites for wound dressing application: Preparation and
characterization. Materials Science and Engineering: C, v. 72, p. 543-550,
2017. ISSN 0928-4931.
3 FERNANDES, L. L. Produção e caracterização de membranas de quitosana
e quitosana com sulfato de condroitina para aplicações biomédicas. 2009.
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
4 AGUZZI, C. et al. Solid state characterisation of silver sulfadiazine loaded on
montmorillonite/chitosan nanocomposite for wound healing. Colloids Surf B
Biointerfaces, v. 113, p. 152-7, Jan 1 2014.
5 ASTM. Annual book of ASTM standards. D570-98 Standard Test Method for
Water Absorption of Plastics. West Conshohocken, PA: ASTM International: 1-
4 p. 1998.
6 CAVALCANTI, O. A. et al. Polysaccharides as excipients for colon-specific
coatings. Permeability and swelling properties of casted films. Drug
development and industrial pharmacy, v. 28, n. 2, p. 157-164, 2002. ISSN
0363-9045.

AGRADECIMENTOS
UFCG, CNPq, CAPES e Nanopol.

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