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COMENTÁRIO

Afrodite e o plano de Zeus


Isabella Albuquerque
Resumo Durante a Guerra de Tróia há um conflito entre os deuses uma vez que estão
divididos entre os exércitos gregos e troianos defendendo seus guerreiros diletos. Mas ainda
acima dos deuses parece haver uma vontade, um plano maior que determina os caminhos e o
destino da guerra: o plano de Zeus que parece ser elaborado muito tempo antes da guerra e
que inclui deuses e mortais. Ao longo desse plano acontecem muitos eventos que seriam de
certa forma parte das atribuições de Afrodite, o que discutimos aqui é qual o papel de
Afrodite no plano de Zeus e como ela é levada agir.

Palavras-chave: Afrodite; Guerra de Tróia; Plano de Zeus.

Zeus, o mais poderoso dos deuses


Segundo os versos da Ilíada “(...) Nenhum homem poderia frustrar o pensamento de
Zeus, por mais forte que fosse, pois ele é ainda mais poderoso.(...)” (Ilíada VIII, 143-144
2013, p.274) e “Eu é que não quereria que nós, os outros, lutássemos contra Zeus crônida,
pois ele é de longe o mais forte.” (Ilíada VIII, 210-211, 2013, p.276)1– não pode ser vencido.
Hesíodo também apresenta Zeus como um deus que, mesmo sendo enganado algumas vezes
– como no episódio de Prometeu – é inteligente para se vingar e dele nenhum deus ou mortal
pode escapar: “Assim, de modo algum pode-se escapar à inteligência de Zeus.” (Os
trabalhos e os dias, 212, 2012, p.105). Mas como Zeus teria, não sendo um dos deuses mais
antigos alcançado o status de rei dos deuses?
Zeus é – na Teogonia – uma vontade que governa o universo, é por sua vontade que
sua irmã Héstia se torna a filha mas jovem de Crono enquanto ele se torna o primogênito.
Como o filho que vence o pai e salva os irmãos e o mais velho de todos seu reinado está
justificado e a ele cabe o governo dos céus e de todos os seus irmãos e filhos. Na Teogonia,
apesar de ser um deus da terceira geração, Zeus é exaltado como o mais poderoso dos deuses.

O plano de Zeus
A Guerra de Tróia remete sempre a um episódio anterior: o julgamento de beleza ou
julgamento de Páris que, aparentemente, é que desencadeia o encontro entre Páris e Helena e

1
Hera propõe a Possêidon, por causa da proibição de tomar parte na Guerra de Tróia, formar com outros deuses uma
coalizão contra Zeus. Possêidon recusa dizendo que Zeus é mais forte que eles. (SISSA; DETIENNE, 1990, p.282)
o início da guerra. Mas há ainda uma possível origem mais anterior da Guerra de Tróia, desse
outro outro ponto de vista, o julgamento de beleza seria um dos episódios de um plano maior
arquitetado pelo rei dos deuses: o plano de Zeus.
Gaia, a Terra, cansada do peso dos homens pede a Zeus que alivie seu fardo2. Zeus
deve realizar o desejo de sua avó uma vez que foi ela quem tornou possível que ele escapasse
da morte, derrotasse o pai Crono e se tornasse o rei dos deuses3. Fazer o que a deusa
primordial pede é também uma forma de garantir que ela apóie seu reinado4. Zeus decide
dizimar os humanos. Mas desta vez não fará como fez com Deucalião5 ao eliminar os homens
de forma deliberada, o plano não deve ser concretizado repentinamente, exige astúcia e será
arquitetado pelo mais estratégico dos deuses.
Um dos episódios mais importantes que antecedem a guerra e pode até ser
considerado como origem do conflito é o julgamento de beleza que ocorre durante o
casamento entre Tétis e Peleu. Desse casamento - aparentemente arquitetado por Zeus contra
a vontade de Tétis6 - nasce Aquiles, guerreiro que gerará uma verdadeira carnificina durante a
Guerra de Tróia. É nesse mesmo casamento que tem lugar um episódio envolvendo Afrodite:
Éris surge e lança a discórdia entre Afrodite, Atena e Hera: as deusas procuram saber qual das
três é a mais bela para receber a dádiva de Éris, para tanto Páris-Alexandre é eleito juiz dessa
disputa.
Scholiasts of the twentieth century have come up with their own accounts of Zeus'
plan and the origin of the Trojan War. Particularly compelling is Laura Slatkin's
reading of the marriage of Thetis as the closing chapter in the struggle for divine
succession. Prophecy foretold that her son would be mightier than his father, so
instead of marrying her himself, Zeus gives her to a mortal, thereby stabilizing the
order of heaven by displacing strife onto the earth. (MAYER, 1990, p.2)
O casamento de Tétis, que dará origem a Aquiles, é um episódio chave que desencadeia o
julgamento de beleza e, consequentemente, a Guerra de Tróia.

2
Zeus pities the overburdened Earth and therefore calls the Trojan War into being in order to relieve her of excess
population. (MAYER, 1996, p.1)
3
Quando Reia, que tinha visto todos os seus filhos serem sucessivamente devorados por Crono, ficou grávida de Zeus, foi
consultar Geia e Urano para lhes pedir que salvassem o filho que ia nascer. Geia e Urano, então, revelam-lhe o segredo dos
Destinos e ensinam-lhe como enganar Crono. Foi deste modo que Zeus nasceu e escapou à voracidade do pai. (GRIMAL,
2005, p.182)
4
Zeus havia derrotado seu pai Cronos, vencido uma guerra contra os titãs e se tornado o soberano no cosmos, mas sendo um
deus de uma geração mais jovem é menos poderoso que os deuses ancestrais e é importante ser apoiado pelos deuses mais
antigos.
5
Filho de Prometeu e Clímene. Quando Zeus decidiu pôr um fim à idade do bronze, ele e sua esposa Pirra construíram um
barco de madeira que equiparam com provisões, para se salvar do dilúvio. (GRIMAL, 2005, p.117-118)
6
Para um deus ou deusa é sempre degradante se unir a um mortal. “E assim ela própria, Afrodite que ama o pênis,/Nunca
diria entre os deuses, vangloriando-se/com um doce sorriso, que já/havia unido tanto os deuses às mulheres mortais,/que
deram aos imortais filhos mortais,/como também uniu as deusas aos homens mortais. (Hino Homérico à Afrodite, 47-52,
2010, p.98 e 100)
No canto II da Ilíada, há uma passagem – quando Zeus engana Agamenon através de
um sonho – que parece sugerir que plano Zeus intenta cumprir através dessa estratégia:
Pois pensava ele poder naquele dia tomar a cidade de Príamo,
insensato!, que não conhecida os trabalhos que Zeus planejava.
Na verdade era sua intenção impor sofrimentos e gemidos
tanto a Troianos quanto a Dânaos, no decurso de combates renitentes.
(Ilíada, II, 37-40, 2013, p.132)
Zeus está humilhando Agamenon a pedido de Tétis, mas não deixa de ser um episódio em
que fica claro que a vontade de Zeus é fazer com que os dois exércitos igualmente sofram.

O julgamento de Páris
Alexandre não parece ser escolhido ao acaso uma vez que, ao nascer, um oráculo já
previra que ele seria o causador da ruína de Tróia:
(...) Filho mais novo de Príamo e Hécuba. Um prodígio precedeu seu nascimento: já
no termo da gravidez, a mãe sonhou que dava à luz uma tocha que punha fogo à
cidadela de Tróia. Príamo pediu a explicação desse sonho a Ésaco (nascido de uma
mulher chamada Arisbe), que afirmou que a criança que ia nascer causaria a ruína
de Tróia e aconselhou-o a eliminá-la à nascença. (GRIMAL, 2005, p.355)
Mais um motivo que nos leva a crer que a escolha do troiano foi arbitrária é o fato de que não
são as deusas que elegem Páris-Alexandre como juiz, é o próprio Zeus7: as três deusas são
conduzidas por Hermes - enviado por Zeus - até o monte Ida onde Páris se encontra, e ali tem
lugar o julgamento. Depois de ser seduzido pelos presentes8 oferecidos por cada uma das
deusas, Páris escolhe Afrodite, ou melhor, Helena. No livro Os deuses gregos, há uma
passagem (retirada e traduzida de Cantos Cíprios) que diz o seguinte:
Zeus delibera com Têmis sobre a forma de provocar a Guerra de Tróia. Sobrevem
Éris, quando os deuses festejavam as núpcias de Peleu. Éris consegue que uma
discussão coloque em confronto Atena, Hera e Afrodite, para saber qual das três é a
mais bela. Zeus ordena que Hermes as conduza a Páris-Alexandre, habitante do Ida,
para se determinar a vencedora. Exaltado pela perspectiva de desposar Helena,
Alexandre dá preferência a Afrodite. Em seguida, ouvindo os conselhos de
Afrodite, constrói uma flotilha (...); Alexandre dirige-se para a Lacedemônia, onde é
recebido como hóspede pelos filhos de Tíndaro; e a seguir, para Esparta, onde
Menelau o recebe. Durante o festim, Helena ganha presentes de Alexandre. Em
seguida, Menelau ruma a Creta, depois de recomendar a Helena que trate dos
visitantes até que se despeçam. É então que Afrodite lança Helena nos braços de
Alexandre. (PROCLES apud SISSA; DETIENNE, 1990, p.75)

7
Zeus confers with Themis about the Trojan war. AS the gods are feasting at the wedding of Peleus, Strife appears and
cause a dispute about beauty among Athena, Hera and Aphrodite. On Zeus struction, Hermes conducts them to Alexander on
Ida for adjudication. <They promise to Alexander gifts: Hera said that if she were prefere she would give him kingship over
all, Athena promise victory in war and Aphrodite union with Helen>. Alexander, excited by the prospect of union with
Helen, chooses Aphrodite. (WEST, 2003, p.69)
8
As dádivas dadas pelos deuses a humanos são, em muitos casos, ambíguas como o toque dourado de Midas, a caixa de
Pandora e a própria Helena. No final da Guerra de Tróia, Páris – que recebeu o presente de Afrodite – termina morto
enquanto Helena continua viva. Davies observa o seguinte: Folk-tale 'helpers', especially female helpers, can be ambivalent
in other ways, offering advice or aid that seems beneficial at the outset, but is in the long run destined to bring the hero
ruin. (DAVIES, 2003, p.36-37)
A real disputa não é sobre quem é a mais bela entre as deusas, mas sobre quem é mais
poderosa, quem possui o maior poder de sedução – aí está a vantagem de Afrodite que tem
como um de seus dotes exatamente a sedução e as palavras doces –, Alexandre, na verdade, é
apenas um joguete, um simulacro de juiz. Páris talvez seja o escolhido também por seu
caráter, Zeus provavelmente já sabe que Páris escolheria da paixão em lugar da razão. Se em
seu lugar estivesse Heitor não sabemos se ele faria a mesma escolha uma vez que parece, em
alguns aspectos, ser o oposto do irmão9:
One cannot fail to be reminded of the antithetical attitudes to life summed up in the
folk-tale's contrasting pairs of brothers, or its scenes of a decisive heroic choice
of life. At any rate, Hector's successive encounters with his mother, sister-in-law,
and wife provide more convincing evidence than any yet cited, outside of Iliad,
that Homer was acquainted with the tradition of the Judgement of Paris. The
circumstances that distinguish the tripartite encounters of Paris and Hector neatly
symbolize the contrast between the two and their ways of life. The goddesses
come to Paris simultaneously while he is sitting alone on Mt. Ida with his sheep
(the passive life). Hector, on the other hand (the active life), meets successively
the three women who most matter to him because he goes to encounter them,
moving with purposeful speed through Troy. Characteristically, in the second of
the three scenes, Hector finds Paris seated in his chamber (Ilíada 6.336).
(DAVIES, 2003, p.39)

No julgamento de Páris falta-lhe sabedoria para prever o que sua escolha acarretará
para a humanidade, Davies mostra a escolha de Páris em oposição à escolha feita pelo rei
Salomão, personagem bíblica que tendo recebido de Deus a oportunidade de escolher a
dádiva que preferisse, escolhe sabedoria. Mas enquanto Salomão primeiro escolhe um estilo
de vida para só depois participar de um julgamento mais importante, a Páris os doi
julgamentos acontecem ao mesmo tempo: ele escolhe seu prêmio e isso determina como será
toda a sua vida:
(...) In this, God appears to the hero in a dream and bids him 'Ask what I shall give
thee.' On being asked for wisdom (which is granted) God praises Solomon
because he has not requested such superficially more alluring benefits as (i) long
life; (ii) riches; (iii) the life of his enemies. (As reward he includes (ii) into the
bargain and promises (i) also, 'if thou wilt walk in my ways'.) In other words,
from the two directly juxtaposed episodes in the early career of Solomon, there
emerge most of the elements we have already come to recognize in the life
choices of Paris and Heracles, only they are organized slightly differently. Paris
and Heracles encounter a plurality of women who variously embody different
types of lifestyle: the two heroes make their choices between them, for good or
ill. By contrast, Solomon makes his choice of type of life first (in intimate
communion with God). Only then does he encounter the two relevant women

9
(...) The notion of two opposed styles of life embodied in two antithetical characters is reminiscent of that other dichotomy
beloved of folk-tale and fairy-story: the two contrasting Brothers. Amphion and Zethus, Cain and Abel,Eteocles and
Polyneices, all personify this antithesis, as, originally, did Hector and Paris. (DAVIES, 2003, p.33)
whose request for a decision between them gives him the opportunity to
manifest externally the fruits of the choice he has already made. In the Greek tales
the choice between women is (also) the choice of an abstract quality, a good or
vicious lifestyle. The Old Testament episodes present in succession elements that
the two Greek stories present simultaneously. (DAVIES, 2003, p.41-42)

O que está em jogo nesse episódio não é a beleza de uma divindade, mas o extermínio
humano planejado por Zeus. Zeus sabe que o prêmio de Afrodite é mais atrativo que os dotes
oferecidos pelas outras deusas e que não é passível de recusa para um humano: Helena é
irresistível10.
O que vem a ser, nessa história o julgamento (krisis) de um moço? O desejo, que o
comanda, é apenas cúmplice das intenções de Zeus. O deus sabe que os dons de
Afrodite valem mais que os atrativos do poder militar e da soberania. Basta oferecer
Helena a um mortal para que sua reação esteja garantida. Assim, as estratégias dos
deuses apóiam-se, às vezes, nas paixões dos homens. (SISSA; DETIENNE, 1990,
p.76)
Dessa forma, o julgamento fica eternamente irresoluto por não ter uma questão real ou um
juiz justo. Escolhendo Afrodite, Páris recebe como prêmio Helena, uma mulher casada,
rainha com a qual ele deve fugir da Esparta de Menelau. Quando Helena é levada por Páris, a
humanidade recebe uma sentença de morte: a partir desse momento não é mais possível
impedir que a Guerra de Tróia aconteça. Afrodite não é apenas a deusa que une casais, no
caso de Helena ela é também a que promove a separação entre a bela mortal e seu primeiro
marido Menelau.
É interessante perceber que Hermes é um dos deuses olímpicos mas parece ser sempre
sempre colocado nas narrativas como um mensageiro ou um deus que fica relegado ao
segundo plano. No plano de Zeus, Hermes tem um papel que, embora não seja de
protagonista, parece ser essencial: é Hermes quem conduz, por ocasião do casamento de Tétis
e Peleu, Páris-Alexandre até as três deusas para que tenha lugar o julgamento de beleza.
Hermes parece ser o filho no qual o rei dos deuses mais confia para auxiliá-lo no
cumprimento de suas vontades. Entre os versos 117 e 129 do Hino Homérico à Afrodite,
Afrodite – ao explicar a Anquises como foi levada até ele – cita o nome de Hermes
(Argeifonte) três vezes. Porque Afrodite escolhe exatamente esse deus e não outro para
personagem de sua história? Seria Hermes um deus que continuamente participaria desse tipo
de episódio – transportar deuses ou humanos de um lugar a outro?

10
Páris é chamado para o julgamento de beleza durante as bodas dos pais de Aquiles, Aquiles então seria bem mais jovem
que Páris. Quando Helena é prometida a Páris não sabemos onde ela se encontra, nem ao menos sabemos se ela já nasceu e
se já é esposa de Menelau. Temos aí uma questão temporal porque Aquiles ainda deve nascer e crescer para só depois lutar
na Guerra de Tróia então entre o julgamento de beleza e o rapto de Helena decorre certo espaço de tempo.
Zeus parece conduzir os deuses para lados pré determinados na guerra de forma que
ela seja mais sangrenta, destrutiva e mortal: três das deusas escolheram seus lados após o
julgamento de beleza: enquanto Afrodite fica do lado troiano, Hera e Atena além de ficarem
do lado grego11, parecem ter feito a Menelau uma promessa a qual elas se referem no Canto V
da Ilíada:
Ah, Atritona, filha de Zeus detentor da égide!
Na verdade será vã a palavra que prometemos a Menelau –
– que regressaria para casa, tendo saqueado Ílion de belas muralhas –,
se permitirmos que campeie Ares maligno. (Ilíada, V, 714-717, 2013, p.225)
As deusas prometeram a vitória aos gregos mas temem que ela não se concretize se Ares,
aliado de Afrodite e dos troianos, intervier.
As deusas temem não poder concretizar sua promessa porque não conhecem o plano
de Zeus, plano esse (...) Concebido por Zeus sem consultar quem quer que seja, o plano da
guerra, é, pois, um segredo não só para os olímpicos, mas sobretudo para as tropas
humanas. (SISSA; DETIENNE, 1990, p.132). Se Zeus permitisse que os deuses
interferissem na guerra de forma consciente, talvez o número de mortes fosse maior em
menor tempo e a guerra terminasse mais rápido, mas ele não teria como prever os
acontecimentos e controlar a guerra de acordo com seu plano. Sendo assim, Zeus opta por
estar sempre um passo à frente dos outros deuses e proibir seus pares de interferirem no
conflito:
Ouvi-me vós, ó deuses todos e deusas todas,
para que vos diga o que o coração me impele a dizer
Que não tente feminina deusa alguma ou deus viril
desobedecer às minhas palavras, mas aquiescei todos vós,
para que rapidamente eu faça cumprir esses trabalhos.
Quem eu observar separado dos deuses com intenção
de quer aos Troianos, quer aos Dânaos, prestar auxílio,
golpeado e de forma ignominiosa regressará ao Olimpo.
Ou então agarrarei nele para o lançar no Tártaro sombrio,
para muito longe, para o abismo mais fundo sob a terra,
onde os portões são de ferro e o chão é de bronze,
tão longe sob o Hades como sob o céu está a terra.
Sabereis então que sou eu o mais forte de todos os deuses.
(ILÍADA VIII, 5-17, 2013, p.269)
Dessa forma, garante que rapidamente cumprirá os trabalhos (verso 9) – a morte de muitos
guerreiros – e reafirma seu poder sobre os outros deuses (verso 17).
No livro Os deuses gregos, encontramos uma passagem que reforça a ideia de que
Zeus seria causador da guerra e estaria controlando o conflito de perto:

11
(...) when Paris gave his judgement that Aphrodite had won, the other two goddesses naturally felt his words to be
hostil (...) (DAVIES, 1981, p.57)
O campo de batalha encontra-se na terra dos homens, às margens do Escamandro,
porém os deuses estão mais do que envolvidos na contenda: dirigem-na, atiçam-na,
obstinados. Tomam as decisões e as armas. A Guerra de Tróia lhes pertence. Quem
arranca os exércitos da inércia, da tensão imóvel, da espera oca, nas quais anos
inteiros se escoram em vão? Quem fixa a estratégia dos memoráveis dias de
arremetidas, emboscadas, assaltos e duelos? É o pai dos deuses e dos homens, é
Zeus quem quebra a monotonia do cerco, no instante em que responde à queixa de
uma deusa ferida na pessoa do filho. É Zeus quem decide a que hora ordenar a
resolução e o dia do conflito. (SISSA;DETIENNE, 1990, p.29)

Afrodite
Afrodite foi colocada na guerra muito antes do início do conflito: Zeus, sabendo do
poder de Afrodite e de como ele seria necessário à concretização de seu plano, encontra uma
forma de atrelá-la à guerra de modo que ela não possa se desvencilhar. Falkner diz que o
Hino Homérico à Afrodite é sobre a relação entre Zeus a Afrodite:
Frangeskou has suggested that the poem is concerned essentially with the divine
relationship between Zeus and Aphrodite rather than the juxtaposition of mortal and
immortal, a story which illustrates that, “if for a while the gods oppose one another,
in the end concord and mutuality prevail.” (FALKNER, 2008, p.3)
Apesar de não ser apresentada como uma divindade guerreira ou ameaçadora, Afrodite é a
única deusa capaz de subjugar até mesmo Zeus em algumas ocasiões:
Ela conduz até mesmo a razão de Zeus, que se compraz em lançar o raio,
ele, que é o maior, que na partilha a maior parte das honras;
mesmo esse espírito sábio, quando ela quer, ela engana,
fanzendo-o facilmente unir-se às mulheres mortais (...)
(Hino Homérico à Afrodite, 2010, 36-39, p. 98)
É por esse motivo que Zeus deve encontrar formas de prendê-la à trama para que não seja por
ela subjugado (Hino Homérico à Afrodite, 2010, 45-50, p. 98).
Zeus – empregando uma estratégia similar à usada com Tétis – mais uma vez faz com
que uma deusa se una a um mortal para cumprir a sua vontade. Dessa vez é Afrodite que se
une – contra a sua vontade – a um mortal. Como é possível que Afrodite, a que engana o
coração alheio e controla até mesmo Zeus, seja enganada? Zeus faz com que Desejo
(hymeros) subjugue Afrodite (Hino Homérico à Afrodite, 53, 2010, p.100). Desejo
juntamente com Eros é, na Teogonia, um deus que já existia antes de Afrodite e, quando ela
nasce, passa a acompanhá-la. Por ser uma divindade mais antiga, Desejo parece ter o poder
de enganar Afrodite. A deusa é levada a unir-se a Anquises e gerar Enéias, guerreiro que seria
importante para o exército troiano durante a guerra e que manteria Afrodite de alguma forma
presa ao conflito.
Depois, para mim haveria sempre, entre os deuses imortais e de parte a parte,
um grande ultraje por tua causa;
os que antes por meio de minha doce conversa e astúcia
com as quais, todos imortais a mulheres mortais, uni,
temo. Todos os meus projetos foram vencidos
Agora minha boca não mais proferirá esse nome
entre os imortais, visto que cometi uma enorme falta,
terrível de suportar, que não se pode nomear; errei longe da razão, (...)
(Hino Homérico à Afrodite, 247-253, 2010, p.114 e 116)

Essa união é uma humilhação para Afrodite12, ela reconhece que através desse engano que
sofreu se torna menos poderosa frente aos outros deuses porque foi, de alguma forma,
derrotada por seu próprio poder e vencida por Zeus. Afrodite não poderá mais se gabar de
unir deuses e mortais a seu bel prazer sem que se lembre que também caiu nessa armadilha.
Afrodite é decisiva em alguns episódios da Guerra de Tróia, um dos mais curiosos é
mostrado no canto XIV da Ilíada quando ela empresta seu cinto/fita à Hera para que Zeus
seja seduzido e enganado. Para conseguir o auxílio de Afrodite Hera mente sobre suas
intenções, mas é difícil acreditar que a deusa da persuasão seria enganada por Hera, ela
parece ceder ajuda consciente do que está fazendo. Mas qual seria o motivo de Afrodite
auxiliar uma deusa que se encontra em oposição a ela na guerra? Uma das explicações seria
uma vingança em relação a Zeus que a enganou de forma similar para que ela se unisse a
Anquises. É interessante também que os dois episódios de engano, tanto o de Zeus quanto o
de Afrodite, têm lugar no monte Ida.
Desde o episódio do julgamento de Páris – ou julgamento de beleza – Afrodite é
ligada a Páris e Helena13. Se voltarmos ainda mais nas histórias sobre Afrodite que antecedem
a Guerra de Tróia, podemos chegar à conclusão de que talvez ela passe a fazer parte do plano
de Zeus no momento em que gera Enéias, guerreiro que lutará em Tróia e que ela mesma diz
que se tornará rei de Tróia14.
Para salvar Páris e Enéias, Afrodite intervém na guerra: “Lorsque Pâris se trouve en
difficulté face à Ménélas, Aphrodite intervient pour le mettre à l’abri. De même, lorsque son
fils Énée risque de tomber sous les coups de Diomède, Aphrodite accourt pour le sauver.”

12
After the union, a great deal of attention is openly paid to Aineias’ future. Apart from the explicit prophecy of his birth at
verses 196–97, Aphrodite mentions him as the result of her union with a mortal in verses 252–55. That Aphrodite’s love
affair with Anchises and the resulting birth of Aineias are an embarrassment to the goddess is no reason to doubt that the
poet is honouring a family of Aineiadai, as Smith argues. Thetis is not happy with her marriage to the mortal Peleus, but this
does not affect the honour of Achilles. Similarly, Zeus is embarrassed about his affairs with mortals (a fact that this poem
–expands upon), but his offspring (e.g., Heracles, Sarpedon) are all still extraordinary mortals with great honour. The point is
that Aineias comes from divine stock, whether Aphrodite is shamed amongst the gods or not. (FALKNER, 2008, p.7)
13
Helena, durante a guerra, parece se entristecer pelas mortes causadas mas não escolhe em momento algum um
dos lados.
14
Afrodite parece de alguma forma conhecer o futuro do filho quando prediz, ao falar com Anquises, que ele será rei: “Tu
terás um filho amado, que reinará sobre Tróia (...)” (Hino Homérico à Afrodite, 196, 2010, p.110)
(Pironti, 2007, p.210). Ao salvar Páris-Alexandre, Afrodite impede que a guerra termine, se
Menelau vencesse Páris o conflito terminaria naquele momento. Na Ilíada, Afrodite parece
agir de acordo com o que seria o plano de Zeus para que a guerra fosse estendida e mais
heróis fossem mortos. O que fica clara é apenas a intenção de Afrodite de salvar seu
protegido, não há uma alusão explícita à vontade de Zeus nesse episódio. Também em outro
episódio, quando Enéias enfrenta Diomedes, Afrodite não pensa duas vezes antes de intervir
e proteger o filho.
E agora teria perecido Eneias soberano dos homens,
se arguta não tivesse apercebido a filha de Zeus, Afrodite,
sua mãe, que o concebeu para Anquises quando ele tratava do gado.
Em torno do filho amado lançou ela os alvos braços, estendendo
à frente dele uma prega de sua veste resplandecente como barreira
contra os projéteis, não fosse algum dos Dânaos de rápidos poldros
arremessar-lhe bronze contra o peito e roubar-lhe a vida.
Levou ela então o filho amado para longe da guerra. (Ilíada V, 311-319, 2013,
p.211)
Quando vê a filha ferida por Diomedes Zeus – ao invés de se condoer com seu sofrimento – é
duro com Afrodite e diz:
A ti, querida filha, não te são dados os esforços guerreiros;
ocupa-te antes com os esforços do desejo no casamento:
Que estas coisas digam respeito ao célere Ares e a Atena (Ilíada V, 428-430, 2013,
p.215)
Analisando essa fala, Zeus parece insensível ao sofrimento de Afrodite, mas na verdade essa
insensibilidade pode ser lida também como um descontentamento de Zeus por Afrodite ter
desobedecido às suas ordens e salvado a vida do filho, um guerreiro que talvez estivesse
marcado para morrer naquele dia. Quem acaba por salvar Enéias é Apolo quando Afrodite é
ferida, mas Apolo nem é mencionado por Zeus e não lhe é dada, nesse episódio, maior
importância uma vez que ele é um deus guerreiro.
Ao fim da guerra, Afrodite não consegue proteger Páris da morte ou salvar a cidade,
mas seu filho permanece vivo.
(...) A proteção de Afrodite não pode impedir a queda de Tróia e a morte de Páris.
Apesar disso, conseguiu salvar a raça troiana e foi graças a ela que Enéias, com
Anquises, seu pai, e Iulo (ou Ascânio), seu filho, levando consigo os Penate de
Tróia, conseguiu escapar-se da cidade em chamar e procurar uma terra que fosse a
sua nova pátria (...) (GRIMAL, 2005, p.11)
Segundo o canto XX da Ilíada, em um diálogo entre Hera e Posêidon, Enéias fica vivo
porque Posêidon permitiu:
(..) e agora será a Força de Eneias a reger o Troianos,
assim como os filhos de seus filhos, que de futuro nascerão”
A ele respondeu Hera rainha com os olhos de plácida toura:
“Sacudidor de Terra, decide tu próprio em teu coração
a respeito de Eneias, se o salvarás, ou se permitirás
que ele pelo Pelida Aquiles seja subjulgado, valente embora seja.(...)
(Ilíada, XX, 307-312, 2013, p.566-567)
Após esse diálogo, Eneias é mais uma vez salvo: Posêidon retira-o da batalha com Aquiles e
adverte-o para que ele jamais lute com esse guerreiro novamente para que continue vivo
(Ilíada, XX, 332-339)
Essa profecia feita por Possêidon em relação a Eneias – (...) e agora será a Força de
Eneias a reger os Troianos, / Assim como os filhos de seus filhos que no futuro nascerão.
(Ilíada, XX, 307-308, 2013, p.566) – é também feita por Afrodite a Anquises no hino
homérico: Tu terás um filho amado que reinará sobre Troia / e continuamente filhos nascerão
de seus filhos. / Enéias será seu nome, (...) (Hino Homérico à Afrodite, 196-197, 2010,
p.110). Ao fim da Guerra de Tróia Páris, o protegido de Afrodite, morre enquanto Eneias fica
vivo: para que a profecia se cumpra e Eneias um dia seja o rei dos troianos, a família real de
tróia deve ser eliminada.

Helena e Aquiles
Helena é um instrumento forjado por Zeus: antes da Guerra de Tróia ou mesmo do
julgamento de beleza, o deus já havia se unido à princesa Leda para assegurar o nascimento
de Helena, o motivo da guerra. Bettany Hughes em seu livro Helena de Tróia deusa, princesa
e prostituta, diz que
(...) Segundo os mitos mais antigos mitos gregos, Helena vinha de boa família, mas
sua origem era violenta. O pai, Zeus, era o chefe no panteão do Monte Olimpo.
Helena era sua filha querida, e a única mortal. Sua mãe, Leda, mulher de Tíndaro,
rei de Esparta, era famosa por sua beleza. Um dia, quando se banhava nas margens
do Eurotas, o caudaloso rio que banha a planície espartana, Zeus viu a jovem rainha
e sentiu-se enlevado. Decidido a possuí-la transformou-se em cisne e a estuprou.
(HUGHES, 2009, p. 65)
Helena está, de certa forma, ligada a Aquiles que, apesar de não entrar em contato
direto com ela ao longo da Ilíada, é uma arma de destruição também forjada por Zeus.
Enquanto Zeus gera ele próprio Helena, se encarrega de realizar uma união que gerará
Aquiles: o casamento entre Tétis e Peleu. Zeus se une a uma mortal para criar a mulher mais
bela do mundo e - por não poder se unir a Tétis15 – faz com que a deusa una-se também a um
mortal gerando um grande guerreiro que, posteriormente, escolheria a glória de ser famoso e

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(...) Zeus e Pósidon pretenderam conquistá-la até o dia em que o oráculo de Témis revelou que o filho que nascesse de
Tétis seria mais poderoso que o pai. Os dois grandes deuses não insistiram e apressaram-se a entregá-la a um mortal.(...)
tornada inacessível para os deuses, Tétis apenas podia desposar um mortal. (GRIMAL, 2005, p.445)
lembrado pela eternidade como um dos valentes da Guerra de Tróia em lugar de uma vida
longa e sem glórias.
A primeira personagem mencionada na Ilíada é Aquiles, de quem as musas cantam a
cólera. Cólera essa, gerada pela disputa de poder com Agamenon que roubou de Aquiles seu
espólio de guerra. O texto homérico não diz, mas é possível que Agamenon tenha sido
influenciado por uma divindade a se apossar do que era de Aquiles, visto que muitos
episódios decisivos da guerra contam com a participação direta ou indireta de divindades. No
canto IX da Ilíada, Aquiles diz o seguinte:
Totalmente ele me enganou e ofendeu. Nunca mais
Me seduzirá com palavras. Chega! Que sossegado encontre
a destruição, visto que o juízo lhe tirou Zeus, o conselheiro.
(Ilíada, IX, 375-377, 2013, p.301)
Aquiles fora do campo de batalha significa uma guerra mais lenta – porque dá aos troianos a
chance de vencer durante algum tempo – e mais mortes para o exército grego. Do ponto de
vista dessa hipótese, o plano de Zeus teria sido sucedido. Na Ilíada há uma divindade que não
se afasta dos guerreiros e constantemente pode ser encontrada nos campos de batalha:
Iguais cabeças tinha a batalha e atiravam-se uns aos outros
como lobos. A Discórdia plena de gemidos alegrou-se com tal visão.
Pois era a única dos deuses que estava ao lado dos combatentes.
Os outros deuses não estavam com eles, mas descansados
se sentavam nos seus palácios, lá onde para cada um
fora construída uma bela casa nas faldas do Olimpo.
Todos culpavam o Cronida, senhor da nuvem azul, (...)
(Ilíada, XI, 72-78, 2013, p.337)
Éris, a Discórdia, não é punida por Zeus nem censurada por atuar na guerra talvez porque
esteja cumprindo a vontade do rei dos deuses.
Aquiles e Agamenon discutem sobre estratégias de guerra, mas mais que isso
procuram mostrar quem é o melhor guerreiro e melhor estrategista. Agamenon não é um
igual de Aquiles, embora seja o rei que comanda todos os aqueus, Aquiles é filho de uma
deusa e reconhecidamente o guerreiro mais letal da guerra. Em comparação a essa relação
estabelecida entre Aquiles e Agamenon, temos Helena e Menelau. Menelau, apesar de um
grande guerreiro e rei de Esparta não é páreo para a sua esposa Helena: filha de um deus,
verdadeira rainha de Esparta16 e a mulher mais bela do mundo que poderia conseguir o que
quisesse através de seu poder de sedução.

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Helena é filha de Tíndaro, rei de esparta. É apenas depois de se casar com Helena – depois de ser por ela escolhido dentre
os outros pretendentes – que Menelau se torna rei de Esparta.
Aquiles e Helena, mesmo não se encontrando durante os episódios narrados na Ilíada,
têm seus destinos unidos pelo plano de Zeus: essas duas personagens que estão na fronteira
entre a mortalidade e a imortalidade são, cada um à sua maneira, promotores de mortes
incontáveis. Eles são o núcleo da Guerra de´Tróia Essas duas personagens e mantêm a guerra
viva. Eles são os catalisadores da guerra, sendo Helena a responsável pela dimensão e
Aquiles pela letalidade. Helena é o rosto que fez zarpar mil navios e levou uma nação a
atravessar o mar, enquanto Aquiles é o guerreiro que determina com sua participação qual
dos lados vence a batalha: quando ele luta, os gregos vencem e quando ele se recusa a lutar,
os troianos superam os gregos. A diferença entre eles está no fato de que Helena, sendo filha
de Zeus e objeto de desejo dos dois lados da guerra, termina a Ilíada viva e ainda aparece na
Odisséia, enquanto Aquiles – que parece ter sido criado unicamente para destruição – morre
na guerra.
Durante o julgamento de beleza, Helena é colocada como um objeto de desejo: ela é
prometida a Páris como poderia ser prometido um objeto qualquer e não é consultada sobre
essa união com o príncipe troiano. Enquanto Aquiles decide ir para a guerra e até recebe uma
espécie de previsão sobre seu destino, Helena é colocada na guerra aparentemente contra sua
vontade e lá permanece como o prêmio pelo qual os dois exércitos se exterminam ao longo de
dez anos.
Helena poderia ser vista como um duplo de Afrodite, ela não é deusa mas parece
passar pelos mais diversos episódios intocada, enquanto Afrodite é ferida por Diomedes ao se
intrometer na guerra, Helena, por se manter de certa forma afastada da guerra e não procurar
participar, permanece imune à destruição: ela não é morta, não se torna escrava e nem mesmo
há registros de que ela tenha sido castigada quando os troianos venceram.

À guisa de conclusão
Em algumas ocasiões nos deparamos com episódios em que a vontade de Zeus parece
ter sido frustrada ou desencaminhada, muitas vezes por sua divina esposa Hera: em um
episódio Hera adia o nascimento de Héracles e em outro usa a fita de Afrodite para seduzir
Zeus. Nesse segundo episódio, ao seduzir Zeus para que os gregos vençam a guerra, Hera
“vence” Zeus, mas essa vitória poderia ser vista também como parte do plano de Zeus: os
guerreiros troianos estão vencendo já que Aquiles se recusa a lutar, essa alternância de quem
domina a guerra é, de certa forma mais letal e coincidiria com a vontade de Zeus de
exterminar o maior número de guerreiros. Davies observa que no poema homérico nada é
realizado pelos homens sem a influência dos deuses e Zeus, rei dos deuses, é quem controla
os acontecimentos.
No significant mortal action in Homer's poems occurs by chance or without
divine prompting, from Achilles' summoning of the assembly and his checking of
the impulse to kill Agamemnon in Book i onwards. Zeus is king of the gods,
and it may be said of the activities at the end of the epic, as of those foreshadowed
in its poem (...) (DAVIES, 1981, p.59)

O plano de Zeus está, de certa forma, mais aparente na Ilíada – uma vez que é nessa
epopéia que se narra a Guerra de Tróia e que os deuses olímpicos são descritos mais
detidamente – que no segundo poema homérico: a Odisséia é um reflexo, uma consequência
da guerra. Mas é interessante notar que, mesmo depois de cessado o conflito, assistimos à
morte de muitos guerreiros no mar, desse ponto de vista, o plano de Zeus é duplamente bem
sucedido porque muitos dos homens que escapam da morte durante a guerra morrem no
caminho de volta - como os acompanhantes de Odisseu - ou ao chegar em casa - como
acontece com Agamenon. A sede sanguinária de Zeus não é saciada na guerra, Odisseu ainda
assiste à muitas mortes antes de alcançar Ítaca e reencontrar Penélope. Desse ponto de vista,
podemos nos perguntar: quando é que o plano de Zeus é realmente cumprido?
A guerra é funesta tanto para os gregos quanto para os troianos: os gregos vencem
mas essa vitória – após dez anos de guerra – parece conter algo de trágico. Pátroclo, Heitor,
Aquiles, Páris e muitos outros grandes guerreiros morrem em decorrência da guerra. O que
assistimos é uma verdadeira carnificina digna de uma tragédia grega, mas sangrenta de mais
para ser representada no palco.

Referências

DAVIES, Malcolm. The Judgement of Paris and Iliad Book XXIV, Journal of Hellenic
Studies, 101, 1981, p. 56-62.
__________. The judgements of Paris and Solomon, The Classical Quarterly, 53, 2003, pp.
32-43.
FAULKNER, Andrew. The legacy of Aphrodite: Anchises' offspring in the Homeric
Hymn to Aphrodite, American Journal of Philology, 129, p. 1-18, 2008.
GRIMAL, Pierre. Dicionário de mitologia grega e romana. Tradução de Victor Jabouille.
Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2005.
Hinos homéricos. Organização por W. A. Ribeiro Jr. Tradução, notas e estudo E. B. da Rosa,
F. B. dos Santos, F. R. Marquetti, M. C. C. Dezotti, M. L. G. Massi, S. M. S. de Carvalho e
W. A. Ribeiro Jr. São Paulo: UNESP, 2010.
HESÍODO. Os trabalhos e os dias. Edição, tradução, introdução e notas Alessandro Rolim
de Moura. Curitiba: Segesta, 2012.
__________. Teogonia. Estudo e tradução Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995.
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2013.
__________. Odisséia. Tradução por Christian Werner. São Paulo: Cosac Naify, 2014.
HUGHES, Bettany. Helena de Tróia deusa, princesa e prostituta. Tradução de S. Duarte.
Rio de Janeiro: Record, 2009.
MAYER, Kenneth. Helen and the ΔΙΟΣ ΒΟΥΛΗ. American Journal of Philology, 117, p.
1-5, 1990.
PIRONTI, Gabriella. Entre le ciel et la guerre. Liège: Centre International d’Étude de la
Religion Grecque Antique, 2007.
SISSA, Giulia; DETIENNE, Marcel. Os deuses gregos. Tradução de Rosa Maria
Boaventura. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
WEST, Martin L. Greek Epic Fragments. Cambridge and London: Harvard University
Press, 2003.

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