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A.M.

MODENESI 1/6/2022

III – 1º VARGAS (1930-45)

Marcelo Abreu

Sinopse
1) Crise cambial: i) 3º Funding Loan (1931); ii) controles (1931-4 e 1937-9)
2) Controvérsia: impacto anti-cíclico da valorização do café
3) Endossa Furtado: i)impacto reduzido da Crise; ii)rápida recuperação; iii)ISI:
desenvolvimento voltado para dentro
4) Projeto industrializante: embrião da intervenção estatal

 Revolução de 1930: Washington Luís (SP) rompe “Pacto Café com Leite” 
Governo Provisório.

 República Velha: alternância de Presidentes de SP e Minas Gerais (“Pacto do Café


com Leite”)

 Disputa eleitoral: (1) Júlio Prestes (SP): candidato oficial e vence eleições; (2)
Oposição: i) Aliança Liberal (“cabeça de chapa”), Partido Republicano de SP,
militares, PA, MG, RS; ii) Vargas (Presidente do RS) e João Pessoa (PA).

 Assassinato de João Pessoa  revolta militar  deposição de Prestes  Governo


Provisório: Vargas.

I – Governo Provisório (1930-34)

1. Crise cambial: [i) demanda café  colapso preço café   receita exportação
  saldo comercial; ii)paralisação entrada de capitais  conta de capitais;
iii)elevadas remessas: a)governo (serviço da dívida); b)capitais particulares;
c)emigrantes; iv)manutenção das importações essenciais]  deterioração saldo
BP  [iii)desvalorização  encargos dívida externa]  impossibilidade de

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manter o serviço  {(I)[3º Funding Loan (1931): i)suspensão (negociada) parcial


dos pagamentos (2 anos); ii)novo empréstimo]; (II)[controle cambial (1931-34):
BB monopólio de compra/venda cambiais: 1)cambiais de exportação
compulsoriamente vendida para BB; 2)BB vendia cambiais à taxa oficial
(sobredesvalorizada: fixada acima do extinto mercado livre) em ordem de
prioridade: i)compras governo e serviço dívida; ii)importações essenciais;
iii)outros]  [1)oferta; 2)racionamento () demanda divisas]  re-equilibrar
mercado cambial.

Tabela III.1 – Preço de Importação do Café nos EUA (US$ centavos/libra-peso):


1925-1945

Ano Preço Ano Preço


1925 22,3 1936 7,7
1926 21,6 1937 8,9
1927 18,5 1938 6,9
1928 21,3 1939 6,9
1929 20,4 1940 6,2
1930 13,1 1941 7,9
1931 10,1 1942 12,0
1932 9,1 1943 12,4
1933 7,9 1944 12,5
1934 8,8 1945 12,7
1935 7,6 1946 17,2
Fonte: Delfim Netto (1973) in Sae set al (1997)

Tabela III.2 – Taxa de Câmbio (Mil réis/US$) – Brasil: 1928-1933


Livre Oficial
1928 8,360 -
1929 8,470 -
1930 9,230 -
1931 13,660 16,020
1932 - 14,140
1933 - 12,690

“Em setembro de 1931, a situação tornou-se insustentável, os pagamentos relativos à


dívida pública externa foram suspensos, reintroduzindo-se o monopólio cambial do Banco

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do Brasil. A venda de cambiais de exportação ao Banco do Brasil era obrigatória e a


distribuição de câmbio devia atender a critérios de prioridade(...)” (p. 75).

“A crise cambial que atingiu o Brasil a partir de 1929-30 tornou inviável a continuação
do pagamento integral da dívida pois tal pagamento envolveria uma proporção excessiva
do saldo comercial. Além disso, a depreciação do mil réis aumentou a carga do serviço
da dívida pública sobre os orçamentos nos três níveis de governo(...). Os reajustes dos
pagamentos efetivos à capacidade de pagar foi gradual, sendo um Funding Loan parcial
‘negociado’ em 1931 por três anos(...)” (p. 75-6).

“A rápida deterioração na relação de trocas, juntamente com a paralisação da conta de


capitais, fizeram com que nos anos de depressão se reduzisse bruscamente a receita de
cambiais no país. A continuidade, por outro lado, dos pagamentos da dívida externa, além
das necessidades cambiais para remessas de rendimentos de capitais particulares, remessas
de imigrantes, e sobretudo, para as importações essenciais, ocasionaram em 1931, profundo
desequilíbrio no mercado de câmbio. A solução adotada visou muito mais à limitação da
procura(...). (...)em setembro de 1931, iniciou o governo negociações para a realização de
um novo acordo para a consolidação da dívida externa, cujos pagamentos tiveram que ser,
em parte, suspensos a partir de agosto, dadas as dificuldades cambiais. Procurava então o
governo aliviar o mercado cambial de seu mais pesado encargo, recebendo para isso um
novo empréstimo de 18 milhões de libras(...). Mesmo nessas novas bases, porém, o
pagamento da dívida externa fazia antever a continuação das dificuldades cambiais, pois as
condições do comércio com o exterior não apresentavam perspectiva de melhora” (Villela e
Suzigan, p. 307).

“(...)em setembro de 1931, o controle do mercado cambial; foi dado ao Banco do Brail o
monopólio da compra e venda de cambiais, que seria exercido pelo banco durante os três
anos seguintes. Pelo sistema então introduzido, as exportações só eram permitidas quando
as cambiais resultantes fossem previamente vendidas ao Banco. De posse destas o
Banco passaria a atender às dificuldades do mercado à taxa oficial e segundo a seguinte
ordem de prioridade: 1)compras do Governo e dívida externa; 2)importações

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essenciais; 3)procura de cambiais para outros fins, inclusive a remessa de rendimentos de


capitais particulares para o exterior” (Villela e Suzigan, p. 307-8).

 Villela e Suzigan (teoria dos choques adversos): controle cambial  dificultou


importações (notadamente não essenciais)  proteção indústria doméstica 
favoreceu ISI indiretamente (fase espontânea): objetivo era equilibrar o BP.

“Essas medidas evidentemente visavam ao equilíbrio do balanço de pagamentos.


Indiretamente, porém, inibindo e dificultando as importações menos essenciais,
favoreciam a indústria interna, já beneficiada pela contínua desvalorização cambial; ao
mesmo tempo, a fixação da taxa oficial acima da taxa de mercado livre diminui os efeitos
sobre a rentabilidade do setor exportador da queda dos preços do café” (Villela e Suzigan,
p. 308).

 CNC – Conselho Nacional do Café (1931): i)imposto proibitivo sobre novas


plantações; ii)novo imposto sobre exportações; iii)mudança radical: queima dos
excedentes (dramaticidade situação); iv)governo federal reassume o programa
(financiamento).

Tabela III.3 – Destruição de Café pelo Governo Federal e Produção Nacional


(toneladas): 1931-1945
Ano Café Destruído Produção Total % Café destruído
1931 169.547 1.301.670 13,03
1932 559.778 1.535.745 36,45
1933 821.221 1.776.600 46,22
1934 495.947 1.652.538 30,01
1935 101.587 1.135.872 8,94
1936 223.869 1.557.046 14,20
1937 1.031.786 1.460.959 70,62
1938 480.240 1.404.143 34,20
1939 211.192 1.157.031 18,25
1940 168.964 1.002.062 16,86
1941 205.370 961.552 21,36
1942 138.768 829.879 16,72
1943 76.459 921.934 8,29
1944 8.127 686.686 1,18
Total: 1931-44 4.692.855 17.403717 26,96

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“Com muito expediente e determinação, o governo federal tomou duas decisões


imediatamente. Primeiro, adquirir, através de expansão do crédito doméstico, os
estoques de café remanescentes que ainda não haviam sido comprados pelo Instituto
Paulista(...). Um imposto proibitivo sobre novas plantações foi estabelecido e um novo
imposto sobre exportação foi criado para ajudar a financiar o programa de defesa.
Segundo, a decisão dramática foi tomada de começar a destruir o café acumulado, como
única maneira de evitar uma deterioração contínua dos preços no exterior” (Bacha, p.
59-60).

 DNC – Departamento Nacional do Café (1933): Controlado pelo governo federal

 Financiamento: [i)crédito do Banco do Brasil; e ii) imposto sobre exportação] 


impacto reduzido sobre o crédito doméstico líquido: atenuou o caráter anti-cíclico
proposto por furtado.

“A política cafeeira do Governo Provisório baseou-se na compra de estoques pelo


governo federal financiada por créditos do Banco do Brasil e por taxação das
exportações” (Abreu, p. 78).

2. Controvérsia sobre impacto anti-cíclico (keynesiano) da valorização do café


(Furtado): (1)Peláez discorda diametralmente: estoques financiados com o imposto
sobre exportação  [transferência de recursos dentro do setor cafeeiro 
impacto reduzido sobre o crédito líquido]  inexpressivo; (2) Fshilow: ameniza
respaldado por Villela & Suzigam, Abreu e Bacha: [i)demanda inelástica;
ii)poder mercado]  parte do imposto transferida para o consumidor
estrangeiro: o imposto não era mera transferência intersetorial de recursos 
impacto anticíclico foi menor do que o sugerido por Furtado.

“O programa de ajuda ao setor cafeeiro pelo Governo Federal, após a Revolução de 1930,
teve desde o início o apoio do Banco do Brasil. Em Dezembro de 1931, a Carteira de

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Emissão e Redesconto do Banco do Brasil foi autorizada a aumentar seu fundo de


operações(...). Ao mesmo tempo se autorizava a carteira a descontar os títulos do Conselho
Nacional do Café, com base no imposto(...). Posteriormente, o Conselho passou a depositar
toda receita daquele imposto no Banco do Brasil. Em 31 de dezembro de 1932, o total do
empréstimo do Banco do Brasil ao Conselho era de 258,6 mil contos. Ao mesmo tempo, o
Tesouro havia concedido um crédito de 250 mil contos. Nota-se que a compra e destruição
dos estoques de café foram financiadas basicamente por novos impostos sobre as
exportações. Os empréstimos pelo Banco do Brasil e pelo Tesouro não podem ser
considerados estritamente como criação de moeda, de vez que eram resgatados
mensalmente com as receitas do imposto sobre as exportações, daí não parecem
procedentes algumas opiniões, como a de Celso Furtado(...). Todavia Albert Fishlow
argumenta com propriedade que esse imposto sobre a exportação não era uma mera
transferência dentro do setor cafeeiro(...) [pois] a maior parte foi transferida para o
comprador estrangeiro devido à inelasticidade da demanda e a posição dominante do
Brasil no mercado mundial. Conclui, então, dizendo que apesar de a política do café não
ter sido provavelmente de importância capital(...) como Celso Furtado afirmou, (...)
ela não foi tão insignificante como achou Peláez” (Villela e Suzigam, p. 178).

“Pelaez procura opor-se a esta tese [de Furtado] com o argumento de que o governo de
Vargas teria prejudicado a retomada do nível de atividade econômica porque as políticas
fiscais e cafeeiras teriam sidos ortodoxas(...). (...)ele sugere que as despesas com a
aquisição da produção excedente foram financiadas com impostos à exportação e não pela
via de expansão do crédito doméstico. Contudo, Fishlow (1972),(...) mostra que um terço
das despesas com a compra do café entre meados de 1931 e início de 1933, e uma
proporção ainda maior em 1933 e 1934, foram financiadas com expansão do crédito
doméstico. (...). Mas o ponto mais importante de Fishlow (1972) é que, em vista da
inelasticidade da demanda externa do café, os impostos de exportação são tipicamente
pagos pelos consumidores através de preços mais altos. Desse modo, quando o governo o
governo taxa as exportações de café, está de fato aumentando os preços de exportação sem
reduzir muito a quantidade vendida no exterior, assim aumentando a renda nacional em
comparação com uma situação em que os impostos não são aumentados e todo o café

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disponível é ou vendido a custos marginais ou deixado apodrecer nos cafezais” (Bacha,


62).

“Esta revisão embora qualifique marginalmente a interpretação tradicional, conflita com a


evidência apresentada pelo próprio Peláez, como mencionado por Fishlow” (Abreu, p. 79).

“A análise da política fiscal do governo, isto é, abarcando os gastos e receitas


agregadas, também indica não haver base real para revisões radicais, especialmente
após o final de 1931. (...). Embora os esforços revisionistas quanto à natureza e
implicações da política econômica do Governo Provisório sejam em grande medida
desmentidos pela análise da evidência econômica disponível para o período como um
todo, é inegável o sucesso que teve em atenuar a força dos argumentos furtadianos
relativos à intensidade das políticas expansionistas adotadas a partir de 1930” (Abreu,
p. 79-80).

 Abreu critica Peláez: i)se baseou, em parte, nas intenções dos gestores;
ii)multiplicador do orçamento equilibrado:  gastos mesmo finanaciado por 
impostos tem efeito expansionista sobre a renda.

“A revisão proposta por Peláez baseia-se, em parte no estudo das intenções dos gestores
da política econômica e não, como deveria ser, na análise das características da política
econômica efetivamente implementada e de seus resultados concretos” (Abreu, p. 80).

“O maior nível de gastos do governo, mesmo que financiado por taxação, tem influência
benéfica sobre o nível de atividade dadas as hipóteses mais usuais do ‘teorema’ do
orçamento equilibrado (Silber, 1977)” (Abreu, p. 79).

 Bancos comerciais resistiram bem à crise: CAMOB – Caixa de Mobilização


Bancária (1932)  maior liquidez ao sistema.

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“Em contraste com a experiência de países desenvolvidos, como a Alemanha e os Estados


Unidos, os bancos comerciais brasileiros resistiram bem à crise, amparados pelas
políticas acomodadoras adotadas apartir de 1930 que buscavam reforçar a confiança no
sistema bancário. A Caixa de Mobilização Bancária, criada em 1932, introduziu
reservas obrigatórias mínimas e a obrigatoriedade de depósito no Banco do Brasil de
reservas excessivas de tal modo que bancos com carteiras de baixa liquidez pudessem ser
financiados. Foi permitida a inclusão das apólices do Reajustamento Econômico entre os
títulos aceitos como garantia de empréstimos de longo prazo da CAMOB aos bancos. Além
disso, a Caixa financiou as necessidades do Tesouro Nacional e do Departamento Nacional
do Café, atuando de forma complementar à Carteira de Redescontos do Banco do
Brasil(...)” (p. 81).

 Política econômica: incentivo à indústria.

“(...) Vargas adotou políticas econômicas que tenderam a favorecer a indústria” (p. 78).

“O governo Provisório, não obstante suas declarações de intenções, aumentou a


proteção à produção doméstica(...)” (p. 82).

3. Endossa Furtado: i)impacto reduzido da Crise: duração intensidade menor do


que resto do mundo; ii)rápida recuperação (a partir de 1932; intensificada em
1934): utilização da capacidade ociosa; iii)ISI e deslocamento do centro
dinâmico: atividades voltadas para o mercado interno (consumo e investimento) se
tornam predominantes na determinação dos níveis renda/emprego (crescimento
voltado para dentro); iv)  exportações algodão.

Tabela III.4 – Taxa de Variação (%) da Produção Industrial e do PIB – Diversos Países: 1929-32

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País Produção Industrial PIB


Áustria - 34,3 - 22,5
Bélgica - 27,1 - 7,1
Dinamarca - 5,6 4,0
Finlândia - 20,0 - 5,9
França - 25,6 - 11,0
Alemanha - 40,8 - 15,7
Itália - 22,7 - 6,1
Holanda - 9,8 - 8,2
Noruega - 7,9 - 0,9
Espanha - 11,6 - 8,0
Suíça - 11,8 - 8,9
Reino Unido - 11,4 - 5,8
EUA - 44,7 - 28,0
Tchecoslováquia - 26,5 - 18,2
Hungria - 19,2 - 11,5
Polônia - 37,0 n.d.
Romênia - 11,8 n.d
Fonte: Aldcroft (1993)

Tabela III.5 – Taxa de Variação (%) da Produção Industrial e do PIB – Brasil: 1929-
39
Ano Produção Industrial PIB
1928 7,0 11,5
1929 -2,2 1,1
1930 -6,7 -2,1
1931 1,2 -3,3
1932 1,4 4,3
1933 11,7 8,9
1934 11,1 9,2
1935 11,9 3,0
1936 17,2 12,1
1937 5,4 4,6
1938 3,7 4,5
1939 9,3 2,5
Fonte: Abreu (1990)

 1) programa valorização café [sustentação (relativa) dos preços  viabilização


colheita  manutenção renda cafeeira]  manutenção renda agregada (efeito anti-
cíclico/keynesiano).
 2) crise cambial  [desvalorização  encarecimento importados (proteção indústria
doméstica]  deslocamento demanda doméstica para importados

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(1)+(2)  [ rentabilidade produção industrial vis à vis produção cafeeira  


investimentos industriais]  endogenização da dinâmica do crescimento: deslocamento
centro dinâmico.

Gráfico III.1 – Participação dos Setores no Valor Adicionado: 1928-1945

60

50

40

30

20

10

0
1928-29 1930-34 1935-39 1940-45

Outros Governo Indústria Agricultura

Fonte: Haddad (1978) in Gremaud et al (2004)

“Os dados disponíveis mostram que o impacto da depressão sobre o produto real foram
modesto, sua queda não excedendo 5,3% em 1931(...). A recuperação do nível de
atividade da economia foi singularmente rápida se comparada à experiência de outros
países, especialmente os desenvolvidos” (p. 78).

“(...)o produto industrial cresceu 10% ao ano entre 1932 e 1939. A participação das
importações na oferta total (a preços de 1939) caiu de 45% em 1928 para 25% em 1931 e
20% em 1939. Exceto no caso de bens de capital, consumo durável e intermediários do
gênero elétrico, a produção doméstica correspondia, em 1939, a mais da metade da oferta;
no caso de bens de consumo não duráveis, a mais de 90% da oferta (Fishlow, 1972). Esta
evidência quanto ao crescimento industrial na década de 1930 torna inconsistente a
revisão proposta por Dean, excessivamente entusiasmado com sua tese – correta na

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República Velha – de que o desempenho da indústria dependia crucialmente do café” (p.


82).

“O desempenho medíocre da agricultura contrasta com o dos demais setores, em


particular com o da indústria. Enquanto o produto agrícola cresceu pouco mais de 2% ao
ano em 1934-37, o produto industrial cresceu mais de 11% ao ano” (p. 85). “(...) a partir de
1934, a importância das exportações de café declinou, resultado da queda dos preços de
café e, em especial da notável expansão das exportações de algodão” (p. 89).

II Interregno Democrático – (1934-37)

 i) Constituição de 1934; ii) eleição (voto indireto) de Vargas

 Processo de liberalização cambial (1934): (1)[i)mercado livre: bancos operavam


cambiais provenientes fontes diferentes das exportações (mercado negro); ii)BB
mantém monopólio demais operações (compra de cambiais de exportadores e
venda para importadores/remetentes à taxa oficial)]; (2)[i)liberdade para venda de
cambiais oriundas de todas exportações exceto café; ii)BB fornecia 60% cambiais
para importação à taxa oficial]; (3)[i)volume de operações no mercado livre >
mercado oficial (1935)].

“(...)acentuou-se em 1934 a tendência à maior liberalização do mercado. Inicialmente


foram os bancos autorizados a operar no mercado livre com câmbio proveniente de
outras fontes que não exportações. Visava-se com isso a canalizar para esse tipo de
operações os recursos que convergiam para o mercado negro. O Banco do Brasil, contudo,
continuava com o monopólio da compra de divisas de exportações e supria
integralmente as cambiais para importação essenciais”(Villela e Suzigan, p. 310).

III – Estado Novo (1937-45)

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 i) Fechamento do Congresso; ii) deposição dos Presidentes dos Estados; iii)


Constituição de 1937; iv) ampliação da centralização do poder executivo.

 1937: [M  deterioração saldo comercial]  controle cambial (1937-39) similar ao


anterior: BB monopólio operações (cambiais de exportação compulsoriamente
vendidas a ele e as de importação eram vendidas à taxa oficial segundo ordem de
prioridade).

“Em fins de 1937, a escassez de divisas, fruto da substancial elevação das importações,
que cresceram cerca de 40% em valor em 1936 e 1937, forçou a adoção, após o golpe de
novembro, do monopólio cambial do governo, com base em uma taxa única
desvalorizada, introduzindo um sistema de controle cambial similar ao vigente entre 1931
e 1934”

“Quando em 1937, o saldo da balança comercial, por força de um aumento de quase 20%
das importações, ficou reduzido(...) foi o governo obrigado a decretar volta do monopólio
de todas as operações cambiais através do Banco do Brasil, a partir de dezembro de 1937.
Os exportadores voltaram a ser obrigados a vender ao Banco toda a receita de exportação à
taxa oficial e as solicitações de cambiais passaram a ser atendidas dentro da seguinte ordem
de prioridades(...)” (Villela e Suzigan, p. 311).

 Suspensão parcial dos pagamentos dívida externa (1938-39).

 Liberalização parcial do mercado de câmbio (1939): taxas múltiplas (livre, oficial e


livre especial). Até 1947.

 II Guerra (1939): proteção cambial de facto  [movimento de liberalização parcial


do câmbio: i)livre: 70% cambiais de exportação (vendidas compulsoriamente pelos
exportadores aos bancos comerciais) para importações autorizadas pelo BB; ii)oficial
(fixa < livre): 30% restantes para compromissos oficiais (vendias compulsoriamente ao

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BB); iii)livre especial: cambiais de turistas destinadas para operações privadas não-
comercias].

“(...)foram suspensos por anos (1938-1939), os pagamentos da dívida externa(...). Esse


sistema vigoraria até abril de 1939 quando, em face das melhores condições no mercado
cambial já a partir de 1938, praticamente se liquidaram os créditos comerciais em atraso
desde 1933, propiciando o retorno à liberdade no mercado cambial” (Villela e Suzigan, p.
311-2).

“O monopólio cambial perdurou até 8 de abril de 1939 quando(...) restabeleceu-se quase


que integralmente a liberdade das operações cambiais” (Villela e Suzigan, p. 312).

“Esse sistema vigorou até princípios de 1947. Embora tenha ocorrido nos anos de guerra
retorno à liberdade cambial, as condições de guerra funcionaram de maneira
semelhante a um controle de câmbio, dando ocasião a que se formasse no país uma
procura reprimida por importações e remessas que, no pós-guerra, consumiram em
apenas alguns meses todas as divisas acumuladas em vários anos, trazendo a volta do
sistema de controle de cambial e restrições quantitativas às importações” (Villela e
Suzigan, p. 313).

 Acordo Interamericano do Café (1940): sustentação do preço  estratégia


americana do esforço de guerra.

“No início da guerra, o governo norte-americano, percebendo as implicações econômicas e


políticas de um agravamento dos obstáculos ao comércio exportador dos países latino-
americnos e desejando garantir seu acesso a matérias primas necessárias à condução da
guerra – bem como privar o eixo desses produtos – implementou uma política que, entre
outros objetivos, visava aumentar os preços dos produtos de exportação dos países latino-
americanos. Este foi o caso do(...) Acordo Interamericano do Café” (p. 96).

 Guerra: saldos comerciais  acumulação de reservas (a partir de 1942).

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 Acumulação de reservas (II Guerra): esforço de guerra  [(i)  importações:


acesso restrito aos mercados e redução da praça marítma; (ii)  exportações: a)acordo
de suprimento de materiais estratégicos para os EUA; b)mercados com fornecimento
interrompido; c)Acordo Interamericano do Café (manutenção preço)]  saldos
comerciais.

“(...) [Em 1942] pela primeira vez desde a década de 20 começaram a acumular-se reservas
cambiais” (p. 95).

 [i)restrição às importações: esforço de guerra; ii) exportação em detrimento do


mercado interno (carne)]  Inflação (1941).

“A inflação acelerou-se a partir de 1941, mantendo-se grosso modo entre 15 e 20% ao


ano. As pressões inflacionárias foram estimuladas pelos saldos na balança comercial
associado às restrições ao acesso a importações e à competição entre consumo
doméstico e exportações no caso de produtos tais como a carne” (p. 95).

4. Revolução de 30: centralização republicana  embrião da intervenção estatal


direta (projeto industrializante: Estado empresário): i)órgãos especializados;
ii)criação da CSN e CVRD: única alternativa (Baer: dois agentes de
desenvolvimento – capital estrangeiro e o Estado).

 Órgãos especializados: CNC, DNC, Instituto do Açúcar e do Álcool, Instituo


Nacional do Mate, Instituto Nacional do Pinho.

“O ponto de partida é o reconhecimento da centralização política e administrativa que se


processou após a Revolução de 1930. Em clara oposição ao poder das oligarquias(...)
iniciou o processo que visava transferir poderes e atribuições para o governo federal. (...)no

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plano adminstrativo, a centralização se processou de modo progressivo, principalmente por


meio da criação de órgãos federais que absorviam funções antes encontradas na órbita
estadual. No plano econômico, esses organismos tiveram atribuições cada vez mais
amplas: a coordenação, a regulamentação e o planejamento de diversas atividades
assumidas pelo governo federal. Paralelamente, o governo também ingressava na
atividade produtiva por meio de empresas estatais [Estado empresário]. Finalmente, e
não menos importante, o estado passou a intervir nas relações entre capital e trabalho
urbano, transformando a questão social em um problema de estado (e não mais como um
caso de polícia de acordo com a famosa frase atribuída ao Presidente Washington Luís).
O primeiro governo de Vargas avançou substancialmente nessa direção, estabelecendo
mesmo as bases que iriam vigorar até 1964 e cujas projeções ainda estão presentes neste
final de século XX” (Saes, p. 152).

“(...) consolido-se a reversão da descentralização republicana, fortalecendo-se o poder


central, sendo criadas novas agências governamentais com objetivos reguladores na área
econômica”

“Embora seja difícil encontrar substância nas atividades dos inúmeros conselhos e
autarquias que pululavam no período, a construção da primeira indústria siderúrgica
integrada brasileira utilizando coque mineral marcou clara mudança na forma de ação
do Estado. A despeito de si mesmo, como se verá adiante, o Estado transitou da arena
normativa da atividade econômica para a provisão de bens e serviços” (p. 91).

“Neste caso [da CSN], a exemplo do que ocorreria no caso da Cia. Vale do Rio Doce, a
decisão não resultou de qualquer fricção com interesses privados nacionais ou estrangeiros.
Pelo contrário, o governo brasileiro viu-se obrigado a participar diretamente do projeto
em vista da impossibilidade de convencer – mesmo com o apoio claro do governo dos
Estados Unidos – qualquer dos grandes produtores de aço norte-americanos a participar
do projeto” (p. 98).

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“No plano mais geral, no entanto, estes investimentos estatais, somados às ações de
coordenação e planejamento antes indicadas, revelam o comprometimento do Estado
brasileiro com um projeto industrializante” (Saes, p. 154).

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