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Acordam os Juízes na 1ª Secção Cível do Tribunal da Relação de Évora
no seguinte:
I – RELATÓRIO
(…), Lda., com sede em Reguengos de Monsaraz, intentou a presente
acção declarativa de condenação, com processo comum, contra a
Sociedade Agrícola (…), Lda., com sede em Montoito, Redondo,
peticionando a condenação da Ré no pagamento de uma quantia de €
49.211,76 acrescida de juros moratórios à taxa legal até efectivo e
integral pagamento.
Para tanto alegou, em síntese, que a Ré fez tratamentos fitossanitários
em 2018 numa vinha contígua a um terreno onde a Autora produzia
ervas aromáticas em Modo de Produção Biológico, facto que era do
conhecimento da Ré.
Acrescentou que os tratamentos consistiram na aplicação de produtos
fitofarmacêuticos através de um pulverizador acoplado ao tractor, sem
utilizar bicos de pulverização anti-deriva e sem que a Autora tivesse
sido avisada previamente das pulverizações, esclarecendo que estas
últimas ocorreram quando os ventos sopravam na direcção do seu
terreno, arrastando a nuvem de pulverização para as suas plantações de
tomilho-limão.
Mais adiantou terem sido detectados fungicidas num lote de 200 quilos
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A Autora apresentou resposta ao requerimento de recurso, concluindo
do seguinte modo:
“VI - CONCLUSÕES
A) Todas as alterações que a recorrente pretende que sejam feitas à
matéria de facto dada como provada pela sentença recorrida não têm
fundamento.
B) A sentença apelada fez correta e fundamentada apreciação da prova
produzida e deve ser quanto a essa matéria inteiramente confirmada.
C) Verificam-se no caso todos os requisitos da responsabilidade civil
exigidos pelo artigo 483.º do Código Civil: o facto ilícito, a culpa do
seu autor, o nexo de causalidade, a violação do direito do lesado, e os
danos resultantes dessa violação.
Com efeito,
D) A Ré fez, no seu terreno, pulverizações de produtos
fitofarmacêuticos sem tomar os cuidados necessários para impedir que
os produtos pulverizados, por arrastamento ou deriva, atingissem as
plantações existentes no terreno da A., danificando essas plantações.
E) Tal procedimento da Ré é ilícito, por violar as disposições legais do
Regulamento (CE) n.º 1107/2009 do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 21 de Outubro de 2009, relativo à colocação dos produtos
fitofarmacêuticos no mercado, da Lei n.º 26/2013, de 11 de Abril, com
as alterações do Decreto-Lei n.º 35/2017, de 24 de Março, que regula as
atividades de distribuição, venda e aplicação de produtos
fitofarmacêuticos para uso profissional.
F) Esse procedimento é culposo porque a Ré podia e devia ter dado
cumprimento às referidas disposições legais.
G) Existe pois manifesto nexo de causalidade entre o procedimento da
Ré e a danificação das plantações da Autora.
H) Dessa danificação resultou que ao contrato de compra e venda de
produtos produzidos celebrado pela Autora, foi posto termo pela outra
parte contratante por motivo da contaminação desses produtos, pelas
pulverizações efectuadas pela Ré.
I) Está, pois, a Ré obrigada a indemnizar a Autora dos prejuízos
resultantes da cessação do contrato de fornecimento por motivo das
referidas pulverizações, conforme decidiu a douta sentença.
J) Acresce, que a pulverização de produtos fitofarmacêuticos é uma
atividade perigosa pela natureza dos meios utilizados, pelo que, nos
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17. Mais acordaram que a entrega das ervas seria feita de forma faseada
ao longo do período de um ano.
18. Os custos com a expedição das ervas ficavam a cargo do
comprador.
19. O preço seria pago no valor correspondente à quantidade de ervas
recebida pelo comprador em cada expedição.
20. O pagamento do preço ficava dependente do resultado de análises
laboratoriais a amostras recolhidas de cada lote de ervas enviado,
comprovando a ausência de resíduos de produtos fitofarmacêuticos na
sua composição química.
21. A Autora tinha certificado válido para o exercício da actividade em
Modo de Produção Biológico para o período de 04/10/2018 a
30/06/2019.
22. Em 24 de Abril de 2018, a Ré fez o tratamento fitossanitário da sua
vinha, aplicando produtos fitofarmacêuticos para a prevenção do
míldio.
23. Neste tratamento, a Ré aplicou o produto com o nome comercial
“Vitipec Gold WG”.
24. O produto “Vitipec Gold WG” é um fungicida anti-míldio
sistémico, composto por folpete (grupo das ftalimidas), cimoxanil, e
fosetil-alumínio. 25. Em 22 de Maio de 2018, a Ré fez o tratamento
fitossanitário da sua vinha, aplicando produtos fitofarmacêuticos para a
prevenção do míldio e do oídio.
26. Neste tratamento, a Ré aplicou os produtos com os nomes
comerciais “Profilux (BELCHIM)” e “Eminent F (ISAGRO)”.
27. O produto “Profilux (BELCHIM)” é um fungicida anti-míldio,
composto por cimoxanil e mancozebe.
28. O produto “Eminent F (ISAGRO)” é um fungicida anti-oídio
sistémico, composto por tetraconazol.
29. Em 8 de Junho de 2018, a Ré fez o tratamento fitossanitário da sua
vinha, aplicando produtos fitofarmacêuticos para a prevenção do míldio
e do oídio.
30. Neste tratamento, a Ré aplicou os produtos com os nomes
comerciais “Sidecar F (ISAGRO)” e “Douro (SAPEC)”.
31. O produto “Sidecar F (ISAGRO)” é um fungicida anti-míldio
sistémico, do grupo das fenilamidas, composto por benalaxil-M e
folpete.
32. O produto “Douro (SAPEC)” é um fungicida anti-oídio sistémico à
base de penconazol.
33. A Ré aplicou os produtos fitofarmacêuticos acima referidos através
de pulverizadores de tractor com turbina.
34. A pulverização foi feita com a turbina ligada.
35. Os bicos de pulverização utilizados não eram adequados a evitar a
deriva da nuvem de pulverização que se formava com os jactos da
calda. 36. A Ré iniciava a pulverização pela primeira carreira de
videiras situada mais a norte da vinha (a mais próxima do terreno da
Autora) até terminar na carreira mais a sul (a mais afastada do terreno
da Autora).
37. Os ventos que sopravam de sul, sudeste, e sudoeste arrastavam a
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04/08/2017”.
4 – Além de na vinha do prédio descrito supra em 5, existem na região
e em concreto no local muitas outras parcelas de vinha, em torno das
largas centenas.
5 – Nas suas parcelas de vinha, incluindo a dos autos, a Ré adota uma
política de proteção fitossanitária preventiva direcionada para uma
prática baseada no modo de produção integrada, sobressaindo a
utilização cuidadosa de produtos fitofarmacêuticos estritamente
necessários para o combate às doenças, em número e quantidade
reduzida.
6 – Produtos fitofarmacêuticos aplicados de modo preventivo pela Ré,
com recurso a equipamento apropriado, calibrado, certificado e com
respeito pelas boas práticas agrícolas nomeadamente: a aplicação em
conformidade com as condições meteorológicas existentes; a escolha
do produto mais adequado; o cumprimento das condições de aplicação-
doses, concentrações, época, número e intervalo de tratamentos;
preparação de um volume de calda adequado à dimensão da área a
tratar; de modo a impedir o escoamento, projeção e arrastamento de
calda para o solo e para os espaços vizinhos limítrofes.
7 – As aplicações de produtos fitossanitários efetuadas pela Ré em
2018 foram realizadas por pessoa com título de autorização de
aplicação, emitido pela Direção-Regional de Agricultura e Pescas do
Alentejo.
8 – Para a cultura da vinha a Ré tem-se apoiado na associação técnica
dos viticultores do Alentejo (ATEVA), de que é associada desde a sua
fundação, nomeadamente desde 1991 no engenheiro agrónomo (…),
que lhe presta apoio técnico ao nível dos tratamentos fitossanitários,
determinando as datas, produtos fitofarmacêuticos e quantidades a
aplicar.
9 – Tratamentos fitossanitários que a Ré fez por serem indispensáveis
para o combate às duas principais doenças que anualmente a atingem: o
míldio e o oídio.
10 – Em 31.03.2016 a Autora declarou junto do Instituto de
Financiamento da Agricultura e Pescas, IP, aceitar a decisão de
aprovação e executar a operação referente ao apoio financeiro que lhe
foi concedido no âmbito da operação (…), do programa PDR 2020, na
medida da ‘valorização da produção agrícola’, submedida/ação
‘investimento na exploração agrícola’, intervenção “investimento na
exploração agrícola”, no valor de € 344,824.56.
11 – Do plano financeiro/investimento dessa operação consta, além do
mais a rubrica “cerca de arame”, no valor de € 10.525,42, não
reembolsável.
12 – Essa “cerca de arame” foi implantada pela A. na estrema entre o
prédio identificado supra no ponto 3 e o prédio identificado supra no
ponto 5.
13 – O benefício económico alcançado pela Ré em 2018 na exploração
do prédio descrito supra em 5, cifrou-se entre os € 700,00 e os €
1.000,00”.
Desde já impõe-se dizer que não tendo o conteúdo de qualquer um dos
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2 – Reapreciação de mérito
Segue-se a abordagem da segunda e última questão objecto do recurso
atinente à reapreciação de mérito.
Do acervo das conclusões recursivas delineadas pela Apelante decorre
que a mesma entende que não se provaram factos suficientes para
considerar verificados os pressupostos legais da responsabilidade civil
extracontratual por factos ilícitos, sustentando, ainda, não ter incorrido
no exercício de uma actividade perigosa não sendo, como tal, correcto
presumir que os danos sofridos pela Apelada foram causados por tal
actividade, mais argumentando que sempre seria de considerar in casu
uma situação de concorrência de culpas, por virtude de a Apelada ter
desrespeitado o “dever de precaução” que sobre si impendia decorrente
das regras previstas para o modo de produção biológico, terminando a
sustentar que ainda que se mostrem preenchidos os requisitos
integrantes da responsabilidade civil extracontratual por factos ilícitos
sempre será de fundar a sua responsabilidade na mera culpa e não no
dolo fixando-se a indemnização à Apelada equitativamente em
montante inferior ao correspondente aos danos causados.
Por seu turno, entende a Apelada, na sua resposta ao recurso, que se
mostram preenchidos todos os requisitos atinentes à responsabilidade
civil extracontratual por facto ilícito decorrente do exercício de
actividade perigosa pela natureza dos meios utilizados, devendo
improceder todas as conclusões recursivas da Apelante.
O argumentário apresentado pela Apelante assenta em boa medida nas
alterações por si pretendidas à matéria de facto considerada como
provada na sentença recorrida, as quais, a procederem, conduziriam, no
seu entendimento, a uma solução jurídica da questão atinente à sua
responsabilização por danos causados à Apelada, pela prática
censurável de factos ilícitos, diversa da adoptada na sentença recorrida.
É o que se verifica designadamente quanto ao modo de aplicação pela
Apelante dos produtos fitofarmacêuticos no seu prédio misto, que
confina com o prédio misto da Apelada, bem como no tocante aos
danos sofridos por esta, traduzidos na contaminação das respectivas
culturas e ausência de recebimento do preço de venda a cliente de parte
do cultivo contaminado (200 quilos de tomilho-limão), bem como da
relação entre a superveniência dos ditos danos e o modus operandi
adoptado pela Apelante nos tratamentos fitossanitários que levou a
cabo no seu prédio.
Sucede que tendo sido rejeitadas tais alterações (como todas as outras
pretendidas) à matéria de facto provada na sentença recorrida, tornou-
se definitivo o elenco de factos provados e não provados da mesma,
não tendo a Apelante apresentado uma solução jurídica diversa da
tomada na dita sentença para a hipótese de se manter, como se
manteve, demonstrada a factualidade descrita designadamente sob os
pontos de facto com os números 33 a 38 e 41 a 51, constantes do
subsegmento dos factos considerados como provados.
Por outro lado, o argumento, igualmente apresentado no seu recurso
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V- Decisão
Termos em que, face a todo o exposto, acordam os Juízes desta Relação
em negar provimento ao presente recurso de Apelação interposto por
Sociedade Agrícola “(…), Lda.” e, em consequência, decidir o
seguinte:
1-Confirmar a sentença recorrida;
2-Fixar as custas a cargo da Apelante (artigo 527.º, nºs 1 e 2, do CPC).
Notifique.
Évora, 16 de Dezembro de 2021
José António Moita (Relator)
Silva Rato (1º Adjunto)
Mata Ribeiro (2º Adjunto)
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