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Bibliografia paralela:

1. Pierre Clastres (1934-1977) foi um importante antropólogo e etnógrafo francês, conhecido


sobretudo pelos seus trabalhos de antropologia política, por uma suposta vinculação ao
anarquismo e pelo seu trabalho de campo entre os índios da América do Sul, nomeadamente do
Brasil. Trabalho referido, de passagem, na aula de 9 dezembro:

Pierre Clastres, A sociedade contra o Estado: Investigações de Antropologia Política Lisboa:


Antígona, 2018 [ed. anterior, da Arcádia, encontra-se esgotada há vários anos]

Existe ainda, publicado em Portugal,


Pierre Clastres, O Grão-Falar: Mitos e Cantos Sagrados dos Índios Guarani [uma sociedade que
recusou o Estado] (tradução de Luiza Neto Jorge), Lisboa: Ed. Arcádia, 1977

Filósofo de formação, Pierre Clastres (falecido prematuramente, num acidente de viação)


interessou-se pela antropologia e especificamente pela América do Sul sob a influência de
Claude Lévi-Strauss e de Alfred Métraux. Realizou pesquisas de campo na entre os índios
Guayaki (Paraguai), Guarani e Ianomâmi (Brasil).
Uma de suas principais contribuições consistiu na crítica ao pressuposto de que todas as
sociedades evoluem necessariamente de um sistema tribal primitivo, comunista e "igualitário"
para sistemas mais avançados, caracterizados por uma forte organização hierárquica da
sociedade. As sociedades não-hierárquicas, como demonstrou Clastres, possuem mecanismos
culturais que impedem ativamente o aparecimento de figuras de comando – seja isolando os
possíveis candidatos a chefe (como no caso dos Pajés), seja destituindo-os do poder do mando
(como no caso dos chefes que só têm poder para aconselhar). Estes povos configuram-se,
assim, como verdadeiras sociedades "contra o Estado", cuja dinâmica visa precisamente impedir
a formação de uma classe de dirigentes e outra de dirigidos.

Não existem chefes entre os Ianomâmis


Não existem chefes nas aldeias ianomâmis: todas as decisões são tomadas por consenso.
https://www.survivalinternational.org/povos/yanomami
A partir da década de 1980, a construção da rodovia BR-210 e descoberta de importantes jazidas
minerais no território dos Ianomâmi (selva amazónica, fronteira com a Venezuela) causaram um impacto
muito negativo na sua população.
Estima-se que entre 1987-1992 terão ocorrido 1 500 a 1800 mortes entre a população indígena, devido
a doenças e de actos de violência causados pelos 45 mil garimpeiros que invadiram a região. Em julho
de 1993, garimpeiros invadiram uma aldeia ianomâmi e assassinaram a16 indígenas, entre eles idosos,
mulheres e crianças, episódio que ficou conhecido como o Massacre de Haximu; foi o primeiro caso
julgado pela Justiça brasileira no qual os réus foram condenados por genocídio. Mais recentemente, um
estudo efetuado na região de Waikás, encontrou um alto índice de contaminação por mercúrio entre os
Ianomâmi, devido à proximidade com o garimpo ilegal.
https://medium.com/hist%C3%B3rias-socioambientais/o-povo-yanomami-est%C3%A1-contaminado-
por-merc%C3%BArio-do-garimpo-fa0876819312#.ev79z0tp4

2. Sobre a “recente” área dos Estudos de Imagem e sobre a tradição europeia (sobretudo franco-
alemã) de historiografia vs. norte-americana, selecionei a seguinte bibliografia:

Hans Belting, A imagem verdadeira. Porto: Dafne, 2011.


--- - Antropologia das imagens, Lisboa, KKYM, 2014.
Horst Bredekamp, Teoria do acto icónico, Lisboa, KKYM, 2015.
G. Didi-Huberman, O que nós vemos, o que nos olha, Porto: Dafne, 2011.
--- -- L’image survivante. Histoire de l’Art et Temps de Fantômes selon Aby Warburg, Paris:
Éditions de Minuit, 2002.
--- - Imagens apesar de tudo, Lisboa, KKYM, 2012
--- - Altas ou a gaia ciência inquieta, Lisboa, KKYM, 2013.
Marie-José Mondzain, Homo Spectator, Lisboa: Orfeu Negro, 2015
Jacques Rancière, O Espectador Emancipado, Lisboa: Orfeu Negro, 2010
--- – O Destino das imagens, Lisboa: Orfeu Negro, 2011
Aby Warburg, The Renewal of Pagan Antiquity. Los Angeles: Getty Research Institute, 1999.

Deixo também aqui, a título de curiosidade, os conteúdos programáticos da uc Domínio das


imagens -Teorias e práticas da representação, da FAUP (Faculdade de Arquitetura Univ. Porto).
O regente desta cadeira é o Prof. Doutor Vítor Silva, aliás co-editor do Projecto editorial KKYM,
Imago/Ymago. https://sigarra.up.pt/faup/pt/func_geral.formview?p_codigo=226932

Programa
1. Investigar sob a condição dos nomes: Imagem, imaginação, imitação, real, virtual, ideia, simulacro,
etc. Contexto e enquadramento: filologia, filosofia e história das imagens. Ver, ler e interpretar/imaginar.
Um mundo dentro de um mundo: as imagens e a arte; as imagens e o pensamento. A metafísica de
Platão. Mimésis: cópia e simulacro. Real e virtual. O fundamento do visível e do invisível. A 'Verdade' e
o poder do falso. Regimes ontológicos das imagens. Analogismo, Naturalismo, animismo e totemismo.
A antropologia: morte e imagem. Dupla face; contradição simultânea entre presença e ausência, entre
passado e presente; entre forma e emoção. Os tempos e a ‘migração’ das imagens.

2. Imago e imitação. Breve história: do paleolítico até à 'realidade virtual'. O regime das similitudes e das
dissimilitudes. A forma e a força das formas. Diferentes estatutos jurídicos, éticos, estéticos e políticos
das imagens. Da linhagem à livre permutação. Imagem-contacto, efígie, ícone, ídolo e símbolo.

3. Questões de método. O Atlas das imagens. A relação, o movimento e a montagem das imagens. o
papel da memória; a tensão psíquica. Determinação e sobre-determinação. Permanência e dinâmicas
de transformação. As formas e os conteúdos. Metamorfose e emoção. Aby Warburg e a metodologia
warburgiana. O formalismo, a empatia, a antropologia, o arquivo e o atlas. As noções de Nachleben, de
Polaritat e pathosformeln. Iconologia de intensidades. Anacronismo e heterogeneidade dos tempos.

3. Finalmente, sobre o escritor Albert Cossery e a sua apologia da preguiça e do vagar:

Albert Cossery (1913-2008) nasceu no Cairo e viveu em Paris desde 1945, no mesmo modesto
quarto de hotel. Escritor egípcio de língua francesa foi amigo de Camus, Henry Miller, Giacometti,
entre outros. Publicou o seu primeiro livro em 1940 e, depois disso apenas oito títulos – porque
o autor, adepto da indolência e profeta do prazer e da preguiça, sempre fez questão de não
ultrapassar as suas médias: uma linha por semana, um livro de oito em oito anos. Contemplado
em 1990 com o Grande Prémio da Francofonia, atribuído pela Academia Francesa ao conjunto
da sua obra, e em 2000 com o Prémio Mediterrâneo.
Está editado em Portugal pela Antígona.

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