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ANEXO 2:

Tradução e adaptação para o português (BR) dos textos contidos no manual: Charcas con
vida

CAPÍTULO 18: Inventário e estudo de charcos

Um dos objetivos do Charcos com Vida é a criação de uma rede de pessoas que de
maneira participativa inventarie e estude os charcos de sua região. O inventário e a inspeção
de charcos são ferramentas que permitem a qualquer pessoa ou grupos de pessoas aproximar-
se de uma maneira singela a eles e contribuir ao seu estudo e conservação.

A participação como voluntário (a) oferece duas opções complementares. Pode se


colaborar com o inventário de charcos e ademais contribuir ao seu estudo e seguimento,
mediante sua inspeção.

Inventário de charcos

O inventário de charcos permite-nos conhecer qual é a realidade destes pequenos humidais, e


saber mais sobre sua distribuição, abundância e situação na região.

Encharquemo-nos

É importante lembrar de duas coisas importantes na hora de fazer as inspeções:

Tentar faze-las cada ano nas mesmas datas. Deste jeito pode se ver a evolução de
algumas características observadas (ex.: abundância da vegetação, quantidade de água, etc.)

Dedicar sempre o mesmo esforço amostral nas diferentes inspeções (ex.: número de
vezes que passamos o puçá).

Desta maneira, estaremos unificando os resultados. Por exemplo, se há um ano faz-se


a inspeção na primavera ao final de março e para o mesmo dedicamos uma hora e passamos
dez vezes o puçá, tentar seguir essa mesma rotina todos os anos. Do contrário, se o fazermos
em datas e/ou com esforços diferentes podemos ter datas muito díspares e interpretações
errôneas.

Estudar sem impactar

A hora de realizar o estudo do charco necessita tomar determinadas precauções para que a
atividade suponha o menor impacto possível aos organismos que habitam o humidal.
 Antes da inspeção devemos assegurarmos de que o material que iremos empregar seja
esterilizado, significa dizer que as bandejas e o puçá estejam secos e que não levem
sementes (de espécies exóticas, por exemplo). Devemos ter a mesma precaução com
nossa roupa (calçados, mochilas, etc.)
 Se possível, devemos evitar de entrar no charco. Podemos fazer o estudo e as análises
utilizando a beira do charco. Desta maneira evitaremos remover sedimentos que
podem afetar os macroinvertebrados, bem com como a vegetação aquática. Se o
fizermos, basta uma pessoa.
 A única pegada que se pode deixar é somente a dos próprios pés. Recolha o resíduo
que produzir, além de outros que eventualmente encontrar próximo ao charco.
 Uma vez concluída a inspeção, lembre-se de limpar o equipamento. Pode ser feito
deixando-se secar ou limpando com um pouco de enxágue. Com esta medida evita-se
a propagação de enfermidades e organismos de um charco para outro.

Algumas questões prévias

Antes da inspeção do charco deverás preparar a saída a campo. Organize o material


necessário e assegurar-se das normas mínimas de segurança, para a própria segurança
pessoal e do charco. Pode ser feita uma lista de tarefas para que o trabalho de inspeção
seja mais fluído.

Quanto ao material a ser levado:

 O manual que tem em mãos e as fichas de identificação.


 A ficha de inspeção.
 Uma pasta para levar lápis e borracha.
 Mapa da zona/região: Escala 1:5:000 ou de maior detalhamento (opcional).
 Fita métrica apropriada para o tamanho do charco.
 Estaca de madeira ou de outro material para medir o fundo, pode-se colocar
previamente marcas para se calcular a profundidade.
 Câmera fotográfica.
 Lupa, pinças e pincéis, potes ou bandejas com o fundo branco para facilitar o
processo de identificação.
 Fitas e tubos para medir o pH, nitratos e oxigênio dissolvido.
 Termômetro (sem mercúrio/de álcool).
 Luvas de látex.
 Puçá/surber para captura de organismos.
 Disco de transparência (disco de Secchi) para medir a transparência da água.
 Garrafa de plástica vazia e transparente.

E sem esquecer-se:

 Procure estudar o charco em grupo (no mínimo com duas pessoas).


 Tenha sempre em conta a profundidade e o tipo de substrato do charco, pois
pode ser perigoso.
 Para fazer a inspeção busque um lugar acessível e seguro.
 Se o charco se localiza em um lugar fechado ou de propriedade particular,
deve-se pedir permissão prévia.
 Pode se levar um caixa de primeiros socorros e contato telefônico do centro de
saúde mais próximo.
 Cuidado com organismos urticantes/venenosos.
 Água parada (comum em charcos) não é potável, nunca se deve bebe-la.
 Importante: Levar calçado e roupa apropriada, botas de trilha ou de borracha,
roupa impermeável e de reserva, caso precise trocar-se por algum motivo.

Quando decidir ir até o charco para fazer a inspeção será melhor faze-lo com o tempo
bom. Não se deve ir com pressa para que se possa aproveitar o trabalho de campo.

É importante não fazer a inspeção se nos dias anteriores choveu muito, já que isto
pode influenciar nos resultados e tamanho do charco, profundidade, etc. Se, por exemplo,
houve um temporal, aguarde pelo menos uma semana antes de fazer a inspeção.

Esquema do charco

Se seu charco tem outros próximos, pode fazer um esquema em conjunto. Uma opção
é fazer um esboço detalhado do charco que será feita a inspeção, e outro esquema como um
mapa geral do conjunto dos charcos.

O procedimento mais singelo


 Busque a beira mais elevada ou um lugar que se possa visualizar o charco por
completo (ou a maior parte possível).
 Se optar por ir em grupo, uns podem permanecer no lugar escolhido e outros irem
fazendo as medições.
 Pode dividir a folha em várias partes e depois desenhar o charco. Para fazer o esquema
comece medindo a parte mais longa e a mais larga e, logo vai completando a silhueta
do charco com as demais medidas. Será de utilidade para este procedimento uma fita
métrica.
 Uma vez que tenha desenhado o charco anote os elementos mais característicos
fazendo uma visualização do local ou percorrendo o charco ao seu entorno.
 Completado o esquema e os detalhes do perímetro, estude o fundo do charco, tomando
suas medidas com uma vara ou corda calibrada. Se é possível, faça a medição da
profundidade existente no ponto central do charco e em 4 pontos das beiradas para ter
uma visão geral de como é o fundo.
 Anotaremos as características mais importantes do charco e do meio:
o Acidentes e estruturas mais importantes.
o Composição do substrato e morfologia (rochas, ilhas, etc).
o Tipo de vegetação aquática.

 Por último, faça o esquema aproximado da seção do charco com as medidas de


profundidade.

Como fazer um esquema mais detalhado

Pode-se utilizar um satélite para observar o charco (por exemplo Sixpac ou Google Earth).
No sistema de informação geográfica de parcelas, Sixpac, há uma ferramenta que permite
medir distâncias e áreas que pode ser muito útil para completar o esquema do charco. Porém,
lembre-se que estes visualizadores trabalham com fotos de uma época específica do ano e os
charcos são muito dinâmicos em relação à quantidade de água. Se a foto do charco foi tirada
no verão, ele pode aparecer na imagem quase seco ou sem água.
 Também pode se utilizar um mapa de escala 1:2000 ou de maior detalhamento e assim
desenhar um esquema com maiores detalhes. A utilização de mapas geográficos traz a
vantagem de caracterizar melhor a silhueta e extensão real do charco.
 Se dispor de um aparelho de GPS, pode realizar o contorno do perímetro do charco
para depois calcular sua superfície e observar sua forma.

Tabela de símbolos estandardizados

Procurar tabela no site ou realizar a digitalização da tabela presente no manual impresso.

Ficha de inspeção

Antes de preencher os itens de sua ficha é importante se familiarizar com o charco que
será inspecionado. Para isso pode-se realizar um passeio ao entorno do charco e observar as
suas características. Esta atividade facilitará o trabalho. Impactos antrópicos, fauna, flora,
entre outras coisas, são aspectos que merecem atenção e, portanto, devem ser observados.

Dados gerais

Procurar preencher os dados da ficha de inspeção com letra legível. Caso o charco
esteja em propriedade particular, preencha duas fichas de inspeção, pois uma deve ser
entregue ao proprietário da propriedade.

Os charcos podem se encontrar em terrenos privados. Como dito anteriormente, se for


este o caso, será preciso pedir permissão para entrar na propriedade e fazer a inspeção.
Perguntar ao proprietário (a) se é possível que o mesmo forneça seus dados pessoais para
identificação. Assim, será possível entrar em contato com o mesmo no caso de haver, por
exemplo, uma espécie ameaçada no local inspecionado e, queira-se iniciar alguma ação de
conservação.

Caso o charco não se encontre situado em propriedade privada, deve-se especificar sua
localização utilizando-se de pontos de referência (beira de estrada, parque público, etc).

Dados meteorológicos

O tempo pode ser um fator determinante no recolhimento de dados. Como já


comentamos, o melhor momento para a inspeção será em dias ensolarados, tanto para facilitar
o trabalho no geral, como para melhor observar a fauna e flora. Caso tenha havido um período
prolongado de chuvas, deve-se evitar fazer o estudo do charco e aguardar mais alguns dias.
O vento é outro dos fatores que podem influenciar na observação da fauna, por
exemplo, num dia com muito vento é pouco provável que se vejam libélulas ou efémeras.

No caso dos anfíbios, como muitos apresentam hábito noturno, pode-se complementar
o estudo fazendo-se uma visita noturna ou após ao pôr do sol. Também pode-se escolher um
dia de pouco calor e com bastante umidade para esta inspeção.

Estudo do charco

O estudo se estrutura em cinco blocos diferenciados:

 Como é o nosso charco: Descrição do ponto da água (tipologia, usos e ameaças dos
charcos assim como a análise do habitat circundante).
 Caracterização física: Medição das características físicas do charco, profundidade,
superfície, substrato, etc.
 Caracterização da água: Medições de parâmetros físico-químicos da água como a
temperatura, turbidez, pH, nitratos e oxigênio dissolvido.
 Caracterização biológica: Porcentagem de vegetação ao redor e dentro do charco.
Deve-se procurar realizar um inventário com o máximo de esforço amostral da flora e
fauna do charco e do meio.
 Estudo histórico-patrimonial: Para aqueles charcos construídos por humanos. Destaca-
se a origem ou o uso que teve o charco, assim como todos aqueles aspectos históricos
ou culturais ligados ao mesmo.

Como é o nosso charco

Tipologia do nosso charco

Existe uma grande diversidade de charcos, todos eles são importantes. A primeira
coisa que devemos distinguir é se estamos frente a um charco natural ou artificial. As
vezes pode ser complicado sabe-lo, já que alguns pontos de água como possas ou
pequenas explorações minerais devido à sua antiguidade podem estar muito naturalizadas.

Alguns charcos naturais podem ser originados em depressões do terreno onde se


acumula água da chuva; os que se formam com água procedente de mananciais que
provavelmente terão uma corrente de água muito reduzida; ou aqueles criados em
aberturas de rochas. Normalmente, são de pequeno tamanho, mas não menos importantes.
Se o charco analisado não se enquadra nestas descrições pode ser adicionado à lista,
contanto que sejam descritas suas características de maneira clara e objetiva.

Também é possível que no local onde pretende-se fazer a inspeção, não haja um
charco, senão vários. Isto também é um dado importante. Recomenda-se que se recolha os
dados dos demais charcos em conjunto, caso houverem, mas concentre-se em um destes
para fazer a inspeção. Neste, realiza-se o levantamento de dados relativos à fauna e flora,
parâmetros químicos, etc. Posteriormente, se quiser pode-se fazer o mesmo com os demais
charcos. Mas, lembre-se de repetir as amostragens no mesmo lugar e com igual esforço. É
melhor pouco e bem feito, ao invés de muito e mal feito!

Os dados de um conjunto de charcos podem ser mais complicados de se levantar.


Talvez, para obter as medidas, ou para contabilizar o número de charcos, seja mais fácil
empregar ferramentas como Sixpac, ou levar um mapa detalhado da zona. Com isto
poderá medir a superfície total (aproximada) que cobrem os charcos, ou inclusive localizar
outras que não se vejam no terreno.

Porém, caso se esteja disposto, pode-se fazer duas coisas: primeiro, obtenha os dados
no campo (número de charcos, superfície aproximada e superfície total do terreno onde se
encontram) e depois tente tomar as mesmas medidas com as ferramentas do Sixpac. Logo
após, compare e corrija as diferenças.

Além dos charcos naturais existem outros muitos pontos de água que apresentam uma
origem antrópica (criadas com fim de armazenamento de água). Estas são de grande valor
para a conservação da biodiversidade e também para o patrimônio cultural. Assim,
observe e indague a origem do charco e se não se encontrar na ficha, podes inserir no item
“outros”, explicando com poucas palavras de que tipo de charco artificial se trata.

Nota: Estudar estes pontos de água é importante, já que conhecer a biodiversidade


que abrigam ajudará na hora de restaurá-los ou limpá-los. Assim, será feita uma
restauração que conserve o patrimônio cultural e também o natural.

Uso do charco

Os charcos são elementos da paisagem aos que podemos atribuir diferentes usos.
Alguns foram criados com fins ornamentais, outros para serem empregados como aula de
campo, etc. Antigamente a construção de pontos de água fazia-se sobre tudo para
aproveitar-se este recurso natural, bem fosse para lavar, bem para dar de beber ao gado ou
então para regar as flores. Lamentavelmente, muitos desses usos foram abandonados e
com eles estes valiosos pontos de água. Se o charco é de origem artificial, procure
conhecer sobre seu uso no passado.

Uso do solo (Área circundante)

A conexão do charco com o ecossistema que o rodeia será importante para a


conservação dos organismos que nele habitam.

A presença de atividades industriais, agrícolas, pecuárias, lazer ou também redes de


comunicação em terrenos adjacentes podem afetar a estrutura do charco e a qualidade de
sua água. Na ficha, há uma lista dos usos do solo que poderá localizar a menos de 10
metros do charco ou entre 10 e 100 metros da mesma. Pode-se marcar mais de um.

Será importante destacar qual é o uso que mais se beneficia do solo, já que dará uma
ideia do que rodeia e da existência de possíveis ameaças. Por outro lado, isto também
permite conhecer as suas potencialidades. Não será a mesma coisa a situação de um
charco que se encontra rodeado de uma monocultura de eucaliptos, se comparado a outro
rodeado por um bosque frondoso. Procurar fazer uma estimativa em porcentagem da
superfície que cobre esse uso ao redor do charco. Para determinar os usos entre os 10
metros e os 100 metros, o programa Sixpac ou Google Earth poderão ser de grande ajuda.

Impactos e ameaças

A pouca consideração frente aos charcos por uma grande parte da população, somada
a sua escassa ou nula proteção por parte da administração é a origem de múltiplos
impactos. Será logo importante fazer um seguimento das principais alterações detectadas
no charco e de possíveis ameaças.

Uma das agressões ambientais mais fáceis de observar será a presença de resíduos.

Lamentavelmente os charcos foram utilizados desde há muito tempo como aterros


ilegais, pelo que podemos encontrar grande número de restos. No que se refere aos
resíduos poderemos classifica-los conforme sua procedência; sólidos urbanos, caso seja
derivado da produção doméstica como, por exemplo, eletrodomésticos, embalagens, etc.;
resíduos que podem ter sua origem na construção civil (entulhos, tijolos, etc.), e os mais
perigosos sendo aqueles derivados da indústria, sendo estes os resíduos químicos (pilhas,
baterias, medicamentos).
Também pode-se encontrar encanamentos ilegais que venham da rede de tubulações
domésticas, de alguma exploração pecuária próxima ou de uma indústria de outro tipo. As
vezes não é possível observar os canos, mas pode-se encontrar embalagens de produtos
tóxicos. Realizar uma observação ao redor do charco pode possibilitar o encontro de
resíduos como esses.

Há charcos que de maneira natural mostram uma película superficial que parece óleo,
mas não o é, já que é derivado da ação de microrganismos. Principalmente ocorre em
charcos de bosque. Não confunda com óleo de algum encanamento.

Outro impacto que muitas vezes se apresenta nas zonas úmidas são as alterações
morfológicas como aterros ou dragagens, por exemplo. Os aterramentos são feitos com a
finalidade de eliminar a lâmina de água e ampliar a superfície do terreno, sobre tudo, para
fazer cultivos intensivos.

Outras ameaças podem afetar diretamente as populações de animais, por exemplo o


efeito de isolamento. Será impossível que os animais possam dispersar-se entre ruas e
edifícios até um charco que se encontre no meio de uma cidade.

Dependendo da tipologia do ponto de água também variam as possíveis ameaças. Por


exemplo as fontes ou lavadouros podem estar tomados pelo abandono; ou certos charcos
naturais podem sofrer soterramentos pelas cinzas de um incêndio. Se o charco se situa
num lugar com vegetação autóctone e bem conservada, mas há perto uma estrada,
devemos saber que isto também é um perigo para muitos animais que podem acabar em
baixo das rodas dos veículos. Outras ameaças podem ser limpezas agressivas, espécies
invasoras, etc.

Caso observe-se alguma ameaça ou impacto no charco que não aparece na lista poderá
ser acrescentado junto ao item “outros”, especificando-se brevemente de que se trata.
Depois de ficar a par de como é o charco e o seu contorno próximo, pode-se inspecioná-lo
um pouco mais a fundo. Para isso, é possível caracteriza-lo de três formas diferentes.

Se realizará primeiramente uma caracterização física medindo-o de várias formas


(dimensões, etc.); logo se fará uma singela análise para caracterizar a sua água
(parâmetros físico-químicos, etc.) e, por último, observa-se a biodiversidade que abriga o
pequeno humidal fazendo-se uma caracterização biológica.

Caracterização física
Tenha em conta que quanto mais diverso em ambientes e micro habitats seja o charco,
seguramente maior biodiversidade irá acolher. Assim, serão diferentes um charco muito
fundo de outro com partes profundas e beiradas pouco pronunciadas ou com vegetação
aquática ou sem vegetação. Devemos apurar os dados sobre a parte física, pois nos dará
uma visão geral deste hábitat.

Área e profundidade

Começar medindo a área. Ter-se em conta que não é uma medida muito precisa, já que
faremos uma aproximação da superfície medindo largura por largura, e na grande maioria
dos casos os charcos não apresentam uma forma retangular (exceto pias ou bebedouros).

Mediremos duas coisas: a área que ocupa a água no momento de fazer a inspeção e, a
área do charco, sendo esta aquela que inclui a vegetação das margens. Para calcular as
dimensões (largura por largura) de cada uma das zonas do charco. Poderá usar um rolo de
corda ou fita métrica. Uma pessoa deverá assegurar a corda numa beira do charco e outra
pessoa deverá deslocar-se até a beira oposta assegurando a corda. Depois marca-se com
uma caneta ou marcador o limite da corda, para finalmente medir com a fita métrica a
medida obtida.

Para calcular a profundidade média do charco, se este é pouco profundo, meça com
um pau ou uma pedra atada a uma corda (barbante), medindo posteriormente a longitude
molhada.

No caso de um charco muito profundo, o qual não se pode entrar, se pode perguntar
aos vizinhos e vizinhas. Talvez alguma pessoa tenha visto o charco vazio ou quase vazio.
Nesse caso indicar uma estimativa. Deve adicionar também a porcentagem da área
ocupada de pouca profundidade, é a porcentagem do charco que tenha uma profundidade
menor ou até 25 metros.

Inclinação das margens

A inclinação das margens do charco ou ponto de água é importante, sobre tudo para
alguns animais. Certos anfíbios precisam ter um caimento pouco pronunciado para que lhe
seja fácil subir e abandonar o charco. Alguns pontos de água com paredes verticais,
muitas vezes acabam sendo uma armadilha mortal para estes animais que entram para se
reproduzir e logo não conseguem sair, morrendo afogados.

Tipo de substrato
Segundo o tipo de substrato existente no charco, se verão favorecidos uns tipos de
organismos em relação a outros. Isto também tem a ver com o grau de naturalização e o
potencial de regeneração. A diversidade de substratos favorecerá a diversidade de
organismos, sobre tudo na comunidade de invertebrados. Deverá estimar
aproximadamente a porcentagem dos diferentes substratos: Argila/lama, areia/cascalho,
rochas, artificial, etc. Este parâmetro só poderá ser medido com precisão se a
profundidade permite ver o fundo. Ainda assim, se o charco é muito fundo por estar numa
área arenosa pode se intuir qual é o substrato da mesma. Tente fazer uma medida de toda
o charco ou se não é possível, indique que se faz referência à zona de amostragem.

Caracterização da água

Esta apresenta-se como a uma das partes mais importantes na inspeção do charco: a
água. Bem se sabe que sem não houver água, tampouco poderia estar fazendo a inspeção,
mas talvez esta água nem sempre está no local, e quando está... de onde se origina? Isto é
o que iremos descobrir. Posteriormente se faz uma singela análise das características
físico-químicas dessa água.

A água fluí

Os charcos são pequenas massas de água de corrente muito reduzida ou parada. Ainda
que em muitos lugares se fala de charcos como sinônimos de água estagnada, a realidade é
que muitas delas (pias, poças, etc.) apresentam durante todo o ano ou parte dele, um
pequeno fluxo de água. Este aspecto é importante, já que pode ser limitante para
determinadas espécies.

Nível da água

O nível da água do charco será outro aspecto importante que se deve apontar e assim
valorizar se este é o habitual, escasso ou abundante para a época do ano.

A origem da água

Os charcos que se enchem através do lençol freático localizam-se em zonas baixas


(planícies, fundos de vales, dunas, etc.), e muitas vezes apresentam solos permeáveis
(areia, cascalho, etc.). No caso de que não seja visível nenhuma fonte de água direta
(manancial, linha d’água, mina, etc.) provavelmente se encherá com água de chuva. É
frequente que em jardins se encham com água da rede pública.
Hidroperíodo

O hidroperíodo é o tempo durante o qual o charco retém água. Para analisar este
parâmetro deve-se conhecer bem o charco, ou perguntar aos vizinhos e vizinhas. Talvez
na primeira visita não se possa conhecer seguramente sobre seu hidroperíodo. Porém a
segunda visita será durante o verão, que dependendo da localização geográfica acaba
sendo uma estação de seca. Se ainda apresenta bastante água é provável que a tenha ao
longo de todo o ano. Com o passar do tempo pode-se fazer uma visita semanal ou
quinzenal.

Alguns fatores como o tipo de vegetação poderão ajudar a supor o hidroperíodo do


charco. A abundância de vegetação submersa, de peixes ou plantas aquáticas do gênero
Nymphaeaceae indicam que é permanente. A presença de vegetação nas áreas marginais
como os juncos, no centro (ou na área mais funda do mesmo) indicam que pode ser um
charco temporário.

Caracterização físico-química

Nesta parte serão analisados alguns parâmetros físico-químicos que expõem


informações a respeito do que se passa no momento da amostragem.

O pH

O pH mede o grau de acidez da água. Os valores de pH medem-se numa escala que vai
de 0 a 14, na qual o valor neutro se situa em 7, sendo o zero a acidez máxima e 14 o valor
mais básico. Dentro desta escala há um intervalo específico no qual situa-se a maior parte
da biodiversidade, tanto de flora como de fauna, que muitas vezes está compreendido
entre 4 e 10. Há organismos que podem sofrer de distúrbios e inclusive morrer em
condições muito ácidas ou muito básicas. Aliás, águas ácidas podem provocar a
dissolução de determinadas substâncias tóxicas para os organismos que habitam nos
charcos.

As causas que podem produzir variações de pH na água são, por um lado, a natureza
geológica da zona onde se realiza a medição. Por outro lado, estão as ações relacionadas
às atividades humanas, como vazamentos de águas residuais industriais que podem gerar
variações importantes de pH e provocar danos às povoações de organismos do charco.

Como o medimos?
Encha um tubo com 10 ml (grande) com água (até em cima) e coloque o comprimido
de pH. Feche o recipiente e agite até dissolver totalmente a pastilha. Compare com a
escala colorimétrica correspondente e anote o resultado na folha de campo.

Os nitratos

A concentração de nitratos nos informa sobre a quantidade de nitrogênio oxidado


presente nessa massa de água. A oxidação da matéria orgânica e do íon amônio (NH4+) é
um processo natural e constituí a principal fonte de procedência de nitratos, substância
fundamental para assegurar o crescimento de algas e plantas aquáticas, que por serem
produtores primários, condicionam o resto da cadeia trófica. Porém, sabe-se que o
aumento de compostos nitrogenados na água pode vir diretamente da contaminação difusa
derivada da atividade pecuária ou agrícola e dos vazamentos de águas residuais e urbanas.
O limite estabelecido pela União Europeia relação à concentração de nitratos é de 50 mg/l.
Acima deste valor as águas são consideradas afetadas.

Uma presença excessiva deste composto pode provocar um crescimento desmensurado


da vegetação aquática e favorecer fenômenos de eutrofização (a elevada taxa de
desenvolvimento da vegetação aquática provoca uma diminuição do oxigênio dissolvido
na água que afeta a todos os organismos aquáticos que dependem dele para respirar. Pode-
se detectar facilmente um aumento de nutrientes (nitratos e fosfatos), caso constate-se uma
presença ou crescimento excessivo de algas num charco.

Como o medimos?

Encha um tudo de 10 ml com água até a metade (5 ml) e coloque nele a pastilha 1 de
nitratos. Feche o recipiente e agite até a dissolução total da pastilha. A seguir, coloque a
pastilha 2 de nitratos e volte a agitar. Uma vez dissolvida, espere cinco minutos e anote o
resultado observado na escala colorimétrica.

Oxigênio dissolvido

O oxigênio gasoso que se encontra dissolvido na água é um elemento fundamental


para o desenvolvimento da vida aquática, tornando possível a respiração dos seres vivos
neste meio. Ademais atua em processos tão importantes dentro do ecossistema como a
decomposição da matéria orgânica ou a oxidação de elementos contaminantes. A
concentração de oxigênio na água depende diretamente da temperatura desta; assim as
águas frias são capazes de dissolver maior quantidade de oxigênio que as águas quentes. O
limite para que o desenvolvimento da vida seja ótimo é de 4 mg/l; abaixo deste valor as
comunidades de anfíbios, peixes ou macroinvertebrados se verão afetadas diminuindo a
sua densidade.

Como medimos?

Encha um tubo pequeno (5 ml) do lote de inspeção com uma amostra de água e
coloque duas pastilhas de medir o oxigênio. Feche o recipiente e agite até a dissolução
total das pastilhas. Espere cinco minutos e compare com a escala colorimétrica. Anote o
resultado na folha de campo.

A temperatura

A temperatura da água sofre oscilações naturais como consequência da alternância


dia/noite, da incidência da luz ou das estações, ou pelo contrário pode ser estável se o lugar
for sombreado. Deve-se ter em conta também que a relação existente entre a temperatura e a
quantidade de oxigênio dissolvido na água constitui um fator que pode condicionar o
desenvolvimento da vida na água. Quanto maior seja a temperatura da água, menor será a
quantidade de oxigênio dissolvido e maior a dificuldade respiratória dos organismos que
habitam o charco.

Para as medições de temperatura da água deve-se escolher um termômetro apropriado para


medir temperatura neste meio, isto porque termômetros para medição de febre não servem
para esta finalidade.

Como medimos?

Para medir a temperatura, afunde a parte inferior do termômetro (nunca de mercúrio) num
frasco com água ou diretamente no charco. Neste último caso, tenha cuidado para não deixar
o termômetro cair até o fundo do charco.

A turbidez

A turbidez indica a presença de substâncias dissolvidas e em suspensão. Estas partículas


podem ser de origem orgânica (algas microscópicas) ou inorgânicas (areias, limos). Uma alta
turbidez nos indica que a luz terá dificuldade para chegar até as regiões mais profundas, o que
afetará determinados grupos de organismos aquáticos. A turbidez na água de um charco pode
ter origem natural, como pode ser decorrente da remoção de sedimentos de fundo promovida
por chuvas fortes, ou também devido a atividades humanas (extração de areia, desague de
águas residuais ou agrícolas, etc.).

Existem medidas padrão para aferir a turbidez, que se utilizam nos estudos científicos. A
mais usada é o disco de Secchi com o qual pode-se medir a profundidade conforme diminui-
se a visibilidade do disco enquanto este submerge na água. Entretanto há uma alternativa mais
artesanal, mas não menos eficiente e que será descrita a seguir.

Como medimos?

Pegue uma garrafa plástica transparente de um litro e meio. Corte a parte cônica, para
obter um cilindro regular. Encha o recipiente com água do rio até que preencha-o todo.
Coloque o disco de Secchi dentro da garrafa. Faça imediatamente para evitar que se decantem
os sólidos em suspensão. Olhe o disco através da coluna d’água. Anote os setores que podem
ser vistos com nitidez a olho nu.

Caracterização biológica

Os charcos são lugares importantes para a biodiversidade. Alguns organismos dependem


diretamente deles para completar seu ciclo vital e outros simplesmente os empregam como
lugar de refúgio ou para a obtenção de alimento temporariamente. Como exemplo do primeiro
caso pode se citar algumas espécies de algas ou plantas aquáticas, ou ainda anfíbios e
artrópodes da ordem Odonota; do segundo caso, morcegos ou répteis. Outros organismos
aquáticos, como certos coleópteros aquáticos passam toda a sua vida no charco.

A medida que for sendo feito o esquema e tomando as diferentes medições observe e faça
anotações a respeito da diversidade vegetal e animal. Tenha em conta que muitos animais
capazes de habitar o charco ou usá-lo de vez em quando podem ser muito esquivos, mas
certos indícios podem ajudar, como excrementos, restos, plumas, etc. Os rastros e pegadas
também pode revelar a biodiversidade.

Vegetação (aquática) nas margens, submersa e flutuante

Como já apontamos quanto mais heterogêneo seja um charco provavelmente mais


diversidade terá, o que também pode ser aplicado à vegetação. Quanto mais variada e diversa
for a vegetação do charco e de seu entorno, mais comunidades biológicas abrigará. Se
encontrar-se rodeado de espécies arbóreas como salgueiros ou amieiros, estas podem
estabelecer corredores com hábitats circundantes; se dispõem de espadanas (espécies do grupo
das gramíneas) poderão ser um refúgio ou lugar de nidificação de aves.
Os tipos de vegetação em um charco:

 Aquática emergente;
 Aquática submersa;
 Aquática flutuante;
 Terrestre submergida;

Cobertura por árvores

A ocupação das margens por vegetação de hábito arbóreo é importante para determinar a
quantidade de luz que chega ao charco, o que favorece ou limita o crescimento da vegetação.
Será de interesse, portanto, observar e anotar a sombra produzida pela vegetação circundante,
principalmente pela de hábito arbóreo, tanto em quantidade de sombra como em porcentagem.

Flora

Podes identificar com a ajuda de fichas e guias as espécies presentes no charco. Será
comum encontrar principalmente espécies de hábito aquático e arbóreo, além de arbustos. Se
encontrar alguma espécie que não está na ficha inclua-a no item: outros.

Fauna

Insetos, anelídeos, crustáceos e moluscos formam parte do grupo dos


macroinvertebrados presentes nos ecossistemas aquáticos. Os invertebrados que podem ser
vistos a olho nu são uns dos habitantes mais desconhecidos dos ecossistemas, e parte
fundamental das teias alimentares.

Os anfíbios são o grupo de vertebrados mais ameaçado do planeta. As diferentes


características deste grupo fazem com que alguns anfíbios possam ser considerados como os
bioindicadores da saúde dos hábitats aquáticos. É importante tentar reconhecer a maior
quantidade de organismos presentes no charco com a finalidade de conhecer a sua riqueza
faunística. Para realizar o estudo deve ser feito coletas e posterior análise dos
macroinvertebrados e dos anfíbios. Para a realização das coletas pode se utilizar um puçá,
com o qual se deve coletar amostras em todos os hábitats. Também pode-se separar as coletas
por tipos de hábitat (vegetação, areia, lama, etc.) e assim comparar a biodiversidade que cada
local abriga.
É importante anotar os lugares nos quais serão coletadas as amostras e também o esforço
amostral dedicado em cada local (quantas vezes é passado o puçá, por exemplo). Assim se
passar o puçá três vezes em cada localização terá esse dado para os próximos anos.

Uma vez terminadas as passadas com o puçá, poderá se dedicar a identificação dos
organismos capturados. Utilize uma chave para identificação de macroinvertebrados e
anfíbios e tente identificar a maior quantidade de organismos possíveis, ao mesmo tempo que
for os separando.

Os anfíbios são os vertebrados mais ameaçados do planeta. É por isso que um dos
objetivos do projeto é a sua conservação e conhecimento. Para a identificação de espécies de
anfíbios pode ser útil utilizar a chave de identificação disponibilizadas nos materiais do
projeto. Quando identificar algum anfíbio especifique se é uma larva ou um adulto, e nesse
caso se é um macho ou uma fêmea, se possível.

Lembre-se que os anfíbios precisam ter a pele umedecida, portanto deve se ter cuidado
para que não ressequem. Uma vez identificados devolva-os ao seu hábitat. Além disso, caso
se interessar, poderá observar outros tipos de fauna, como aves, répteis, insetos, etc.

Rastros e pegadas

Durante os horários que se pretende realizar a inspeção poderá ser difícil observar a
possível multidão de animais que se esconderam ou caminharam em quanto sentirem a
presença humana. Porém, há um punhado de indícios que conforme se aprende observar
poderão dar alguma pista dos esquivos habitantes e visitantes do charco.

Os charcos são lugares que além dos inquilinos habituais, são visitados por um elevado
número de animais que buscam aliviar sua sede, se alimentar ou descansar. Plumas ou penas,
excrementos, restos de comida ou pegada na lama permitem saber quem habita ou visita o
charco. Se nos concentrarmos podemos identificar rastros como: a pegada de uma graça que
estava caçando rãs, os restos de um veado que raspou os chifres em um salgueiro. Assim,
independente da estação do ano, observar os indícios de vida deixados pelos organismos que
habitam ou visitam o charco podem revelar a dinamicidade das relações que ali se
estabelecem entre as populações e comunidades presentes neste ecossistema.

Quando ser possível observar algum indício procure registrar, se possível, em fotos e
acrescentar uma descrição. Atualmente existem guias de identificação de restos e pegadas que
podem auxiliar.
Espécies invasoras

As espécies invasoras são a segunda causa de extinção da biodiversidade nos


ecossistemas continentais, e a primeira nos insulares. Se considerarmos os charcos como
ecossistemas ilhados estas espécies daninhas podem ser a causa de extinção das espécies do
nosso pequeno ecossistema. Isto é, a introdução de um caranguejo vermelho americano
poderia acabar com a totalidade de indivíduos de caranguejos europeus, espécies de peixes, ou
inclusive anfíbios. Estas espécies, bem sejam de fauna ou flora são um grande perigo que
muitas vezes passa desapercebido.

As fichas de identificação poderão ajudar no reconhecimento de algumas destas espécies


e talvez informar ou encaminhar alguma ação para eliminá-las ou controlá-las.

Lembre-se de apontar dois dados importantes: o tempo da inspeção (marque-o


assinalando o horário de início da observação), e quantas vezes aproximadamente passou o
puçá, lembrar de dedicar sempre o mesmo esforço amostral a cada coleta. Desta maneira pode
se unificar os resultados.

Nota: Nas fichas que serão fornecidas com o manual aparecem as principais famílias de
macroinvertebrados e algumas espécies de répteis, aves e mamíferos, associados aos charcos.
Se preferir fazer identificações de maior precisão será necessário levar guias de campo
específicos para esta finalidade.

Estudo do patrimônio cultural

Arquitetura popular vem sendo toda intervenção feita pelo homem sobre o meio natural
com o objetivo de modifica-lo para que, tendo em conta as suas demandas de caráter
funcional, socioeconômico e cultural, se logrem com essa modificação as melhores condições
para a vida humana. (Manuel Caamaño)

A modificação do entorno que se realizou ao tempo em que nossa cultura avançava criou
um aumento dos elementos patrimoniais com diferentes funções e usos. Construções
relacionadas com a água como fontes, represas e caldeiras para a rega, lavadouros, etc, são
elementos da paisagem. Entretanto, devido à má preservação desse patrimônio, a paisagem
pode se tornar mais pobre, cultural e ambientalmente.

O abandono destes elementos patrimoniais por falta de uso e manutenção pode dar lugar a
que lâmina d’água se perca, diminuindo a biodiversidade associada. Pelo contrário, a sua falta
de uso também pode permitir que certas povoações de animais ou plantas ocupem esse
espaço, aumentado a biodiversidade.

É possível que alguns elementos que sejam inventariados como áreas de charcos possam
ter certo valor patrimonial, como uma antiga fonte.

REFERÊNCIAS
ADEGA. Manual Charcas con vida. Santiago de Compostela - Galiza. P. 18-52, 2013.

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