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EXCELENTÍSSIMO 

SENHOR  DOUTOR  JUIZ  DE  DIREITO  DA  1a  VARA 


CÍVEL DA COMARCA DE TRAMANDAÍ. 

Processo n. 17.12.2006 

EMPRESA  DE  LATICÍNIOS  “6  AMIGOS  S.A”​,  pessoa  jurídica  de  direito 
privado,  inscrita  no  CNPJ  de  (número),  nesta  Comarca,  sem  endereço  eletrônico,  neste 
ato  representado  por  seu  advogado,  que  esta  subscreve  (procuração  em  anexo),  vem, 
respeitosamente  perante  Vossa  Excelência,  com  fundamento  no  art.  525  do  Código  de 
Processo  Civil  de  2015  (CPC)  e  mais  disposições  aplicáveis  à  espécie,  apresentar  a 
presente 

IMPUGNAÇÃO com pedido de efeito suspensivo 

em  face  de  ​JOEY  TRIBBANI  já  qualificado,  pelos  fatos  e  fundamentos  a 
seguir expostos. 

1. PRELIMINARMENTE:  

1.1 DA TEMPESTIVIDADE DA PRESENTE IMPUGNAÇÃO:  

Salienta-se  que  a  presente  impugnação  é  devidamente  tempestiva,  haja  vista 


que  o  prazo  para  a  sua  apresentação  é  de  que  15  (quinze) dias úteis, contado da data da 
intimação,  nos  moldes do artigo 231, VII e do artigo 525, ambos do Código de Processo 
Civil. Assim, é tempestiva, tendo em vista que o prazo termina no dia 27/10. 

1.2 DO DEPÓSITO EFETUADO 

No  que  tange  ao  depósito  realizado,  verifica-se  que  fora  depositado  o valor de 
R$20.000  (vinte  mil  reais),  o  qual  inclui  pagamento  de  R$10.000  (10 mil reais) a título 
de  dano  moral  e  R$  5.000  (cinco  mil  reais)  a  título  de  dano  material,  bem  como  o 
percentual  de  20%  de  honorários  sucumbenciais  advocatícios,  conforme  certidão  de 
cálculo em anexo.  

 
2. DOS FATOS:  

A  impugnante  Empresa  de  Laticínios  “6  Amigos  S.A”  foi  demanda  no 
processo  na  Ação  proposta  por  Joey  Tribbani  perante  à  1°  Vara  Cível  da  Comarca  de 
Tramandaí.  Após  o  devido  prosseguimento  do feito, sobreveio a sentença determinando 
o  pagamento  no  montante  de  R$  10.000,00  (dez  mil  reais)  a  título  de  danos  morais, 
acrescidos  de  R$  5.500  (cinco  mil  e  quinhentos  reais)  a  título  de  danos  materiais  e 
honorários sucumbenciais de 20%.  

Após  o  trânsito  em  julgado  do  processo  de  conhecimento,  o  autor  requereu  o 
início  da  execução,  juntando  os  cálculos  de  liquidação  atualizado,  totalizando  o 
montante de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).  

Após  o  trânsito  em  julgado  da  demanda,  a  executada,  em  sede  de impugnação 
ao  cumprimento  de  sentença,  insurgiu  contra  os  cálculos  apresentados  pela  exequente, 
motivo pelo qual apresenta as suas razões de mérito no que segue.  

3. DO MÉRITO:  

3.1. DO EXCESSO DE EXECUÇÃO (ART. 525, §1°, V).  

Inicialmente,  cumpre  salientar  que  o  executado  discorda  do  cálculo  proposto 


pelo  exequente  na  liquidação  de  sentença.  Isto  por  que,  tal  quantia  extrapola ao que foi 
determinado pelo Juízo da 1º Vara Cível da Comarca de Tramandaí.  

Conforme  dispõe  o  artigo  491  do  Código  de  Processo  Civil,  o  Magistrado  na 
sentença  de  primeiro  grau,  minudente,  condenou ao pagamento de quantia, ao dizer que 
a  decisão  deve  definir  desde  logo  a  extensão  da  obrigação,  o  índice  de  correção 
monetária,  a  taxa  de  juros,  o  termo  inicial  de  ambos  e  a  periodicidade  da  capitalização 
dos juros, se for o caso.  

Danos morais  R$ 10.000,00 

Danos materiais  R$ 5.500,00 

Honorários  20 % 
sucumbenciais 
Em  congruência,  se  apresenta  ao  presente  autos  a  liquidez  determinada  pelo 
Juízo nos autos do processo de conhecimento, se não vejamos:  

Em  relação  a  isso,  conforme  as  fls.  Xxx,  o  credor  apresentou  os  valores 
atualizados  do  montante  de  R$  50.000,00  (cinquenta  mil reais), o que, ao entendimento 
por  essa  signatária,  extrapola  os  valores  arbitrados  em  juízo  e,  inclusive,  coloca  em 
dúvida a boa-fé e a cooperação processual do exequente.  

Cabe  ressaltar  que  a  parte  executada  não  está  se  eximindo  da  sua 
responsabilidade  de  cumprir  com  uma  obrigação  reconhecida  pelo  Tribunal  de  Justiça, 
mas sim questionando a legitimidade dos cálculos apresentados pela parte exequente.  

Dessa  maneira,  nos  termos  do  artigo  525,  §4°,  do  Código  de  Processo  Civil, a 
parte  autora apresenta os seus cálculos atualizados em sede de cumprimento de sentença 
no  montante  de R$ 20.000,00, conforme os demonstrativos que seguem em anexo a esta 
petição.  

Outrossim,  conforme  o  exposto  no  artigo  525,  §1°,  V  do  Código  de  Processo 
Civil,  em  sede  de  impugnação  ao  cumprimento  de  sentença  poderá  ser  elencada  a 
alegação de excesso de execução, assim vejamos:  

“Art.  525.  Transcorrido  o  prazo  previsto  no ​art.  523 ​sem  o 


pagamento  voluntário,  inicia-se  o  prazo  de  15  (quinze)  dias 
para  que  o  executado,  independentemente  de  penhora  ou  nova 
intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação. 
V - Excesso de execução ou cumulação indevida de execuções.” 

A  esse  respeito,  é  de  se  elencar  o  entendimento  do  professor  Humberto 


Theodoro Júnior em sua obra “Curso de Direito Processual Civil”, textualmente:  

 
Para  que  o  executado  seja  ouvido,  quando  sua  impugnação 
acuse  excesso  de  execução  (art.  525,  §  1º,  V),  é  indispensável 
que  a  afirmação  de  estar  o  exequente  a  exigir  quantia  superior 
à  resultante  da  condenação  seja  acompanhada  da  declaração 
imediata  de  qual  o  valor  que  entende  correto,  mediante 
apresentação  de  demonstrativo  discriminado  e  atualizado  do 
seu cálculo (NCPC, art. 525, § 4º).​1 

Dessa  maneira,  se  mostra  incontroverso  o  pagamento  a  título  de  danos  morais, 
materiais e honorários sucumbenciais pelo montante de R$ 20.000,00 

1
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 50 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
v. 3.
Por  fim,  a  jurisprudência  do  Tribunal  de  Justiça  é  pacífica  ao  reconhecer  o 
excesso  de  execução  naqueles  processos  cujo  pedido  do  exequente  excede  a  quantia 
fixada em decisão transitada em julgado, vejamos:  

AGRAVO DE INSTRUMENTO. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. 
IMPUGNAÇÃO  AO  CUMPRIMENTO  DE  SENTENÇA 
ACOLHIDA.  LITIGÂNCIA  DE  MÁ-FÉ.  DESCABIMENTO. 
Inexistência  de  dolo  processual  no  agir  da  parte  recorrente 
capaz  de  ensejar  a  aplicação  da  penalidade  por  litigância  de 
má-fé  prevista  no  artigo  80  do  Código  de  Processo  Civil. 
EXPEDIÇÃO  DE  ALVARÁ. DEFERIMENTO. LIBERAÇÃO DO 
VALOR  INCONTROVERSO.  Havendo  manifestação  expressa 
da  parte  devedora  quanto  ao  montante  que  entende  ser 
incontroverso,  inexiste  óbice  para  que  dito  valor  seja  liberado 
em  favor  da  parte  credora.  Sendo  definitivo  o cumprimento de 
sentença  e  incontroversa  a  quantia  a  ser  levantada, 
desnecessária  a  caução.  ​SUCUMBÊNCIA  MANTIDA. 
EXCESSO  RECONHECIDO.  SUCUMBÊNCIA  DA 
IMPUGNADA.  MODIFICAÇÃO  DA  BASE  DE  CÁLCULO. 
Uma  vez  acolhido  o  excesso  de  execução  veiculado  pelo 
impugnante,  implica  decaimento  integral  da  parte  impugnada, 
que  deve  arcar  com  o  pagamento  das  custas  e  honorários 
advocatícios.  Alteração  da  base  de  cálculo,  fins  de  incidir  o 
percentual  arbitrado  pela  sentença  sobre  o  valor  excluído  da 
execução.  AGRAVO  DE  INSTRUMENTO  PARCIALMENTE 
PROVIDO.(Agravo  de  Instrumento,  Nº  70079145322,  Décima 
Quinta  Câmara  Cível,  Tribunal  de  Justiça  do  RS,  Relator:  Ana 
Beatriz Iser, Julgado em: 14-11-2018) 

Dessa  maneira,  resta  claro  que  é  de  entendimento, tanto do Tribunal de Justiça 


quanto  da  doutrina  e  dos  legisladores  que  o  valor  arbitrado  pela  parte  exequente  que 
excede  os  limites  propostos  na  sentença  fere  a  boa-fé  processual  e  o  princípio  da 
cooperação.  

Assim  sendo,  requer  seja  acolhida  a  procedência  da  presente  impugnação  à 


execução perante, repassando o pagamento a título de danos morais, materiais   

3.2.   DA  CONCESSÃO  DE  EFEITO  SUSPENSIVO  À  PRESENTE 


IM-PUGNAÇÃO 

Diante  da  presença  dos  requisitos  previstos  em  lei,  esta  impugnação  deve  ser 
recebida no efeito suspensivo. 
Consoante  art.  525,  §  6º  do  CPC,  os  requisitos  para  que  seja  atribuído  efeito 
suspensivo  à  impugnação  são  os  seguintes:  (i)garantia  do  juízo  (há  penhora),  (ii) 
fundamentos relevantes da defesa e (iii) grave dano no prosseguimento da execução. 

O  que  já  foi  acima  exposto  demonstra  claramente  que  o  pagamento  a título de 
danos  morais,  materiais  e  os  honorários  sucumbenciais  extrapolam  o  que  foi  arbitrado 
na Sentença de Primeiro Grau. 

Por  sua  vez,  o  valor  caução  já  pago  a  penhora  já  sana  o  prejuízo  causado  à 
parte  exequente,  Desta  maneira,  não  há  o  risco  de  dano  da  presente  demanda,  senão 
àquele causado pelo próprio credor no que tange ao excesso de execução.   

DO PEDIDO E DOS REQUERIMENTOS 

Diante do exposto, requer-se e pede-se: 

a) liminarmente, a atribuição de efeito suspensivo a esta impugnação; 

b) a  intimação  da  impugnada,  na  pessoa  de  seu  procurador,  para  que, 
querendo, apresente resposta a esta impugnação; 

c) o  levantamento  dos  cálculos  realizados,  tendo  em  vista  ser  totalmente 


indevidos e por causar prejuízo ao impugnante; 

d) a  procedência  desta  impugnação,  reconhecendo-se  a  exceção  da 


execução; 

e) a  condenação  do  impugnado  ao  pagamento  de  custas,  honorários 


advocatícios e demais despesas; 

f) requer  provar  o  alegado  por  todos  os  meios  em  direito  admitidos, 
especialmente pelos documentos ora juntados. 

Nestes Termos, 

pede deferimento. 

Local/Data 

(Nome e assinatura do Advogado) 

OAB n. (número​) 
A IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA:  

Matéria  de  Ordem  Pública,  a  impenhorabilidade  do  bem  de  família  é  àquele 
previsto  no  artigo  6º  da  Constituição  Federal,  sendo  uma  das  premissas  para  a  garantia 
fundamental do bem de família.   

Como  preceitua  o  §  único  do  art.  1°  da  Lei  8009/90,  o  bem  de  família  é 
impenhorável  e  compreende  o  imóvel  sobre  o  qual  se  assentam  a  construção,  as 
plantações,  as  benfeitorias  de  qualquer  natureza  e  todos  os  equipamentos,  inclusive  os 
de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados. 

Todavia,  conforme  bem  preceitua  o  professor  Humberto  Theodoro  Júnior  a 


impenhorabilidade  do  bem  de  família  possui  sua  exceções  quanto  a  sua  aplicação,  ou 
seja, o litigante pode sofrer a execução de seu bem em casos específicos, vejamos:  

(b) Os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem


a residência do executado (inciso II)​: prevalece o intuito de evitar
penhora sobre bens que geralmente não encontram preços
significativos na expropriação judicial e cuja privação pode acarretar
grandes sacrifícios de ordem pessoal e familiar para o executado. A
impenhorabilidade legal, no entanto, sofre limitações instituídas para
manter o privilégio dentro do razoável.​2 

Ocorre  que  no  atual  cenário  do  Judiciário,  a  exceção  da  regra  da 
impenhorabilidade  vem,  cada  vez  mais,  abrindo  margem  as  novas  interpretações  pelo 
Magistrado,  havendo,  assim, um confronto entre o referido direito constitucional e a sua 
exceções, vejamos um exemplo:  

EMBARGOS  DE  TERCEIRO.  PRESCRIÇÃO  DO  DIREITO  DE 


EXECUTAR  A  DÍVIDA  EM  RELAÇÃO  AO  GARANTIDOR 
HIPOTECÁRIO.  IMPENHORABILIDADE  DO  BEM  DE  FAMÍLIA. 
IMÓVEL  REGISTRADO  EM  NOME  DE  PESSOA  JURÍDICA. 
AUSÊNCIA  DE  PROVAS  DE  QUE  O  IMÓVEL  SERIA  UTILIZADO 
COMO  RESIDÊNCIA.  ILIQUIDEZ,  INEXIGIBILIDADE  E 
INCERTEZA  DO  TÍTULO  EXECUTIVO.  VÍCIOS  NA  AVALIAÇÃO 
DO  IMÓVEL.  A  garantia  hipotecária,  independentemente  de  ser 
ofertada  por  terceiro,  é  acessória  da  obrigação  principal  assumida 
pelo  devedor,  e,  por  isso,  segue  o  mesmo  destino  desta.  Em  tendo 
havido  interrupção  da  prescrição  pela  citação  do  devedor  principal 
na  ação  de  execução,  essa  interrupção  prejudica  o  terceiro  garante, 

2
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 50 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
v. 3.
fazendo-se  interromper  o  prazo  prescricional  também  em  relação  à 
obrigação  acessória.  Não  tendo  havido  o  último  ato  do  processo, 
permanece  interrompida  a  contagem  do  prazo  prescricional.  A 
despeito  da  possibilidade  de  se  declarar  como  bem  de  família 
impenhorável  o  imóvel  registrado  em  nome  de  pessoa  jurídica,  a 
Associação  não  logrou  comprovar  que  o  imóvel  é  utilizado  como 
residência  de  alguma  associado  e  sob  quais  condições.  A  discussão 
sobre  critérios  de  remuneração  e  atualização  monetária  não  afasta a 
liquidez  do  título  executivo,  que  se  consubstancia  na 
determinabilidade  do  valor  executado.  Os  oficiais  de  justiça  são 
profissionais  qualificados  para  a  avaliação  de  bem  imóvel,  estando 
habilitados  a  exercer  tal  tarefa,  que,  inclusive,  consta  dentre  as  suas 
atribuições  previstas  no  art.  143,  V,  do  CPC. Ausentes elementos que 
refutassem  o  laudo  do  oficial ou que demonstrassem a necessidade de 
nomeação de um perito específico. 

(TRF-4  -  AC:  50069566120114047000  PR 


5006956-61.2011.4.04.7000,  Relator:  CÂNDIDO  ALFREDO  SILVA 
LEAL JUNIOR, Data de Julgamento: 18/03/2014, QUARTA TURMA) 

Assim,  tal  abertura  põe  à  tona  o  conflito  de  princípios  Constitucionais  e  do 
Código  Civil,  tais  como  a  operabilidade,  o  devido  processo  legal  em  prol  da  boa-fé 
processual.  

A  boa-fé  objetiva  impõe  uma  regra  de  conduta,  se  tratando  de  uma  contenção 
às  práticas  abusivas  contratuais,  bem  como  delimitando  a  ​fonte  de  novos  deveres  de 
conduta  anexos  à  relação  contratual;  limitadora  dos  direitos  subjetivos  advindos  da 
autonomia  da  vontade,  bem  como  norma  de  interpretação  (observar  a  real  intenção  do 
contraente) e integração do contrato. 

O  presente  caso,  se  refere  a  aplicação  da impenhorabilidade do bem de família 


quando  da  realização  do  contrato  findado  a  parte  renunciou  a  sua  impenhorabilidade. 
Ocorre  que,  após  meses  de  inadimplemento,  o  executado  percebeu a dívida equivalente 
a  um  milhão  de  reais  vindo  a  receber  a  execução  de  sua  residência,  o  único  bem  de 
família.  

Em  minha  opinião,  a  impenhorabilidade  do  bem  de  família,  no  presente  caso, 
deve  ser  relativizado, uma vez que houve quando firmado o contrato, o autor apresentou 
a sua vontade na questão, qual seja: a abertura da penhora de sua residência.  

A  esse  respeito,  o  artigo  5°  do  Código  de  Processo Civil determina que aquele 


que  de  qualquer  maneira  participa  do  processo  deverá  comportar-se  de  acordo  com  a 
boa-fé.  Da  mesma  maneira,  o  artigo  422  do Código Civil determina que os contratantes 
deverão guardar os princípios da boa-fé objetiva.  

Ou  seja,  na  presente  demanda,  se  o  autor  se  tentasse  se  beneficiar  com  o 
escudo  estipulado  pelo  833  ele  estaria  agindo  em  desacordo  com  a  boa-fé  e  se 
beneficiando pela sua própria torpeza (Venire Contra Factum Proprium).  
Venire  Contra  Factum  Proprium  se  refere  a  uma  locução  de  origem  canônica 
expressa  o  ideal  de  que  ninguém  se  beneficie  de  sua  própria  torpeza  .  Por  exemplo,  o 
credor  que  concordou,  durante  a  execução  do  contrato  de  prestações  periódicas,  com  o 
pagamento  em  lugar  e  tempo  diferente  do  convencionado,  não  pode  surpreender  o 
devedor  com  a  exigência  literal  do  contrato,  não  se  exige  dolo  nem  culpa  do  credor,  a 
proibição  do  ​venire  é  uma  aplicação  do  princípio  da  confiança  e  não  uma  proibição  de 
má-fé e da mentira. 

Assim,  ao  caso  em  análise,  o  autor  estaria  se  beneficiando  de  sua  própria 
torpeza.  Da  mesma  maneira,  uma  das  exceções  do  bem  de  família  é  a  penhorabilidade 
quando  esse  ultrapasse  o  limite  normal  da  sobrevivência  de  uma  família.  Ao  caso  em 
apreço,  o  autor  teria  um  bem  avaliado  em  dois  milhões  de  reais,  o  que  não  impediria, 
para  o  bom  andamento  familiar,  a  penhora  de  tal  bem  com  a  posterior  compra  de  um 
imóvel menor o qual sanasse as necessidades familiares.  

Da mesma maneira, caso fosse possível, o imóvel também poderia ser dividido, 
sanando a dívida e não sendo necessário o desfazimento do bem.  

Assim,  entendo  que  o  devedor,  levando  em  consideração  que  no  momento  de 
formação  do  contrato  compactuou  com  a  penhorabilidade  de  seu  único  bem  deverá 
arcar  com  a  consequências  dos  seus  atos,  recebendo,  assim,  a  execução  do  imóvel  em 
desfavor dele. 

 
 
 
 

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