Você está na página 1de 15

Os Maias

Autor e obra
Informações biobibliográficas
 
        Nasceu a 25 de novembro de 1845, na Póvoa de Varzim. Foi criado até aos seis anos por
uma ama, à qual foi entregue pela sua mãe, devido à sua condição de ilegitimidade. Desde dos
seis aos dez anos de idade Eça viveu em casa dos seus avós paternos, altura em que entrara no
colégio da Lapa. Aos dezasseis anos formou-se em Direito, na Universidade de Coimbra.
Durante esse período conheceu Antero de Quental (escritor e poeta português) que o influenciou
quanto às novas ideias filosóficas e literárias vindas da Europa, o que se tornou decisivo para a
sua formação intelectual e cívica, além disso integrou o grupo da Geração de 70.            
        Devido à posição profissional do pai a família integra-se facilmente no seio da capital. A
partir dos 21 anos, Eça tornou-se "enraizadamente lisboeta, lisboeta até às íntimas moléculas
do seu organismo, até às mais profundas criptas da sua alma", segundo Ramalho Ortigão.
Juntamente com Jaime Batalha Reis e Antero de Quental, Eça criou um "heterónimo" coletivo,
chamado Carlos Fradique Mendes, poeta da modernidade. Eça de Queirós repartiu a sua vida
pelo jornalismo na gazeta de Portugal, por um curto período como advogado e por uma
duradoura carreira diplomática. A sua carreira literária de caráter realista começa com a
publicação no Diário de Notícias do conto Singularidades de uma rapariga loura.  Em 1871
Eça colabora na organização das Conferências Democráticas do Casino juntamente com os
membros do Cenáculo liderados por Antero de Quental.
        Em 1886 casa com D. Emília de Castro Pamplona de quem teve quatro filhos. A maior parte
da produção literária foi realizada em Inglaterra. Seguidamente instala-se definitivamente em
Paris, regressando a Lisboa ocasionalmente, e participa sempre nos jantares organizados pelo
grupo de amigos conhecidos como Os Verdadeiros da Vida.  Em 1888 publica a sua obra de
maior êxito, Os Maias. Morre em Neuilly, arredores de Paris.

Contexto histórico-cultural
 A Segunda metade do século XIX:

    Na década de 50 assistiu-se a um grande desenvolvimento das vias de comunicação e a um


progresso económico. Esta época de estabilidade política ficou conhecida por Regeneração.
Este desenvolvimento económico deu-se graças a Fontes Pereira de Melo, tendo sido o iniciador
de uma política de implementação de infra-estruturas, tais como: caminhos-de-ferro, estradas,
pontes, telégrafo, etc... designada por "fontismo".
No entanto, esta política não foi pacífica nem igual para todos, uma vez que se
verificaram desequilíbrios entre o interior e o litoral.

 O contexto cultural:

    Enquanto o crescimento económico progredia, os padrões estético-literários vigentes na


época dominados ainda pelo ultra-romantismo e pela sua figura emblemática permaneceram
iguais. 
    A década anterior à publicação de Os Maias foi a mais polémica da História da Literatura, foi
marcada por uma série de revoluções:

1. o idealismo cede lugar ao positivismo;


2. o romantismo é violentamente atacado pelo realismo;
3. o realismo clarifica os grandes males sociais;
4. a arte literária é entregue ao serviço da revolução de mentalidades.

    Eça de Queirós terá demorado cerca 8 anos para escrever a obra Os Maias, tendo sido
publicada a 2 de Junho de 1888. Isso poderá explicar o afastamento progressivo, à medida que a
ação avança, do romantismo para o naturalismo/ realismo. No inicio da obra, Eça é fortemente
influenciado pelas teses naturalistas (meio, educação, hereditariedade), assim como elege o
destino como responsável pelo desenlace trágico da família Maia. A obra foi atacada por fortes
críticas quanto à sua extensão e outros fatores, tanto por críticos como também pelo próprio
Eça.

 A Questão Coimbrã

     O "Poema da Mocidade" de Pinheiro Chagas foi fortemente elogiado por Castilho numa
publicação de um prefácio, no qual Castilho aproveitou para censurar um grupo de jovens de
Coimbra que acusa de exibicionismo, obscuridade propositada e de tratamento de temas que
nada tinham a ver com a poesia. Desse grupo faziam parte Teófilo Braga e Antero de Quental. 
    Antero de Quental decidiu responder a Castilho com uma Carta intitulada "Bom Senso e Bom
Gosto" que acabou por sair em folheto. Formou-se assim um conflito entre Castilho e Antero de
Quental.  Castilho defendia a arte pela arte, enquanto para Antero, a arte deveria estar entregue
ao serviço das transformações sociais.
    Esta nova conceção de arte e literatura abriu caminho à introdução do realismo em Portugal.

 A Geração de 70

    Um grupo de jovens intelectuais da Universidade de Coimbra formado por Antero de


Quental, Eça de Queirós, Teófilo Braga, Alberto Sampaio, Oliveira Martins, entre outros,
responderam às inventivas dos seus adversários e realizaram um conjunto de atividades
científicas, literárias e artísticas. 
    Estes jovens opunham-se contra a ordem conservadora e retrógrada, pondo assim em questão
toda a cultura portuguesa.

 A difusão do realismo em Portugal

    A difusão do "pensamento moderno" foi facilitada pela ligação ferroviária entre Coimbra e
Paris assim como pela contestação dos jovens intelectuais ao poder instituído, quer pela
Universidade, quer pelos representantes das "literaturas oficiais" sediados em Lisboa. 
    Para a divulgação das novas ideias e críticas sociais e políticas, foram organizadas várias
conferências, "Conferências do Casino", o programa conferia a realização de 10 conferências,
mas no entanto foram interrompidas pelas autoridades não permitindo que Eça proferisse o seu
trabalho (4ª conferência) intitulada "O Realismo como Nova Expressão de Arte". 
Resumo da Obra
 Ação
 N'Os Maias podemos distinguir dois níveis de ação: a crónica de
costumes - ação aberta; e a intriga - ação fechada, que se divide
em intriga principal e intriga secundária. São, aliás, estes dois
níveis de ação, que justificam a existência de título e subtítulo
nesta obra. O título - Os Maias - corresponde à intriga, enquanto
que o subtítulo - Episódios da Vida Romântica - corresponde à
crónica de costumes. 

 Na intriga secundária temos: a história de Afonso da Maia - época de reacção do


Liberalismo ao Absolutismo; a história de Pedro da Maia e Maria Monforte -
época de instauração do Liberalismo e consequentes contradições internas; a
história da infância e juventude de Carlos da Maia - época de decadência das
experiências Liberais.                 

 Na intriga principal são retratados os amores incestuosos de Carlos e Maria


Eduarda que terminam com a desagregação da família - morte de Afonso e
separação de Carlos e Maria Eduarda. Carlos é o protagonista da intriga
principal. Teve uma educação à inglesa e tirou o curso de medicina em Coimbra.
A educação de Maria Eduarda foi completamente diferente, donde se conclui
que a sua paixão não foi condicionada pela educação, nem pela hereditariedade,
nem pelo meio. A sua ligação amorosa foi comandada à distância por uma
entidade que se denomina destino.

 A ação principal d' Os Maias, desenvolve-se segundo os moldes da tragédia


clássica - peripécia, reconhecimento e catástrofe. A peripécia verificou-se com o
encontro casual de Maria Eduarda com Guimarães; com as revelações casuais
do Guimarães a Ega sobre a identidade de Maria Eduarda; e com as revelações a
Carlos e Afonso da Maia também, sobre a identidade de Maria Eduarda. O
reconhecimento, acarretado pelas revelações do Guimarães, torna a relação
entre Carlos e Maria Eduarda uma relação incestuosa, provocando a catástrofe
consumada pela morte do avô; a separação definitiva dos dois amantes; e as
reflexões de Carlos e Ega.

 Espaço
Na obra os Maias a Ação decorre em diferentes Espaços físicos, Sociais e Psicológicos. 

O Espaço Físico é o local onde se desenrola a narrativa (um país, uma cidade, uma
casa, etc).

O Espaço Psicológico está relacionado com as personagens pois traduz uma


atmosfera de ordem psicológica, que se projeta nos comportamentos destas.

O Espaço Social são os lugares e ambientes em que se proporciona a análise dos


comportamentos das personagens, pois aí elas denunciam os seus tiques e os seus
vícios.
o
o
o Físico
Espaço geográfico: Espaços interiores:

 Coimbra: espaço de boémia estudantil,    Ramalhete: a degradação do edificio


artística e literária; espaço de formação de acompanha o percurso da família e a
Carlos cuja existência surge ainda marcada passagem de Carlos por Lisgboa, sendo
pelo Romantismo que a sua geração procura considerado um marco referêncial
rejeitar. Ambiente propício ao diletantismo e importante. Símbolo desse percurso é a
ociosidade. descrição do jardim (aspecto simbólico
oposto ao racionalismo naturalista): -1º
momento: o jardim tem um aspecto de
 Lisboa: é o espaço com maior importância
abandono e degradação; corresponde ao
na obra, isto é, é o local onde ocorrem os
desgosto de Afonso após a morte de Pedro;
principais acontecimentos. As ruas, as
- 2º momento: é o renascimento da
praças, os hotéis, os locais de convívio, os
esperança, renovação da casa por Carlos;
teatros são caracterizados como personagens
-3ª momento: «areado e limpo, mas
ao longo da obra. Lisboa é o símbolo da
sombrio e solitário», simboliza o fim de um
sociedade portuguesa da Regeneração,
sonho e a morte de uma família.
incapaz de se modernizar (obras da Avenida
da Liberdade) e que agoniza na
contemplação de um passado glorioso.  O consultório: A descrição do consultório
revela-nos algumas facetas de Carlos:
diletantismo, entusiasmos passageiros,
  Sintra: A ida a Sintra de Carlos, Cruges e
projectos inacabados.
Alencar constitui um dos momentos mais
poéticos  hilariantes da obra. Sintra é o
paraíso romântico perdido, é o refúgio   A casa de Dâmaso: a sua excentricidade
campestre e purificador. faz um contraste com a personalidade
mesquinha e cobarde de Dâmaso e com a
sua embaraçada aflição no episódio da
 Santa Olávia: É um local de extrema
carta.
importância para as personagens, sendo
como refúgio aos problemas e um local
calmo que proporciona um ambiente
agrdável para pensamentos.   A Vila Balzac: A carecterização da casa
remete para a própria personalidade de
Ega. Os móveis escolhidos, nomeadamente
a cama, acentuam a exuberância afectiva e
erótica de Ega o espelho à cabeceira insinua
a extravagância, um temperamento
exibicionista e narcisista.  

  O Hotel Central/ a casa da rua de S.


Francisco/ a Toca: Carlos tenta descobrir
facetas da personalidade de Mª Eduarda
através da observação dos objectos que a
rodeiam. A decoração da Toca simboliza a
excentricidade, a anormalidade e a tragédia
que caracterizarão as relações de Carlos e
Mª Eduarda. Foi à entrada desse Hotel que
Carlos e Maria Eduarda se terão avistado
pela primeira vez.



 Psicológico
 Vai privilegiar o que ocorre dentro das personagens, sobretudo através do
monólogo interior, manifestando-se em momentos de maior densidade
dramática. É sobretudo Carlos que desvenda os meandros da sua consciência,
ocupando também Ega lugar de relevo. O narrador como que desnuda as
personagens perante o leitor, dando conta dos estados de alma, dos personagens,
dos pensamentos, da corrente da sua consciência. 
     A representação do espaço psicológico permite definir a composição destas
personagens como personagens modeladas. A presença do espaço psicológico
implica, obviamente, a presença da subjectividade, pondo em causa a estética
naturalista. 
 O Espaço psicológico consegue-se através do(a) sonho, memória, imaginação e
emoção.

 Social
A Corrida de Cavalos

Objectivos:

 Novo contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta, incluindo o próprio rei;
 Visão panorâmica dessa sociedade (masculina e feminina) sob o olhar crítico de Carlos;
 Tentativa frustrada de igualar Lisboa às capitais europeias, sobretudo Paris;
 Cosmopolitismo (fingido) da sociedade;
 Possibilidade de Carlos encontrar aquela figura feminina que vira à entrada do Hotel
Central.

Existem 4 corridas.

Visão caricatural:

 O hipódromo parecia um palanque de arraial;


 As pessoas não sabiam ocupar os seus lugares;
 As senhoras traziam "vestidos sérios de missa";
 O bufete tinha um aspecto nojento;
 A 1ª corrida terminou numa cena de pancadaria;
 As 3ª e 4ª corridas terminaram grotescamente.
Conclusões a retirar:

 Fracasso total dos objectivos das corridas;


 Radiografia perfeita do atraso da sociedade lisboeta;
 O verniz da civilização estalou completamente;
 A sorte de Carlos, ganhando todas as apostas, é indício de futura desgraça (Sorte no
jogo…).

O Jantar dos Gouvarinho

Objectivos:

 reunir a alta burguesia e aristocracia;


 reunir a camada dirigente do País;
 radiografar a ignorância das classes dirigentes.

Os alvos visados neste jantar são:

 Conde de Gouvarinho

o voltado para o passado;


o tem lapsos de memória;
o comenta muito desfavoravelmente as mulheres;
o revela uma visível falta de cultura;
o não acaba nenhum assunto;
o não compreende a ironia sarcástica do Ega;
o vai ser ministro.
 Sousa Neto
o acompanha as conversas sem intervir;
o desconhece o sociólogo Proudhon;
o defende a imitação do estrangeiro;
o não entra nas discussões;
o acata todas as opiniões alheias, mesmo absurdas;
o defende a literatura de folhetins, de cordel;
o é deputado.

Nota-se assim a superficialidade dos juízos dos mais destacados funcionários do Estado;
incapacidade de diálogo por manifesta falta de cultura.

A Imprensa

"A Corneta do Diabo":

 o director é o Palma "Cavalão", um imoral;


 a Redacção é um antro de porcaria;
 publica um artigo contra Carlos mediante dinheiro;
 vende a tiragem do número do jornal onde saíra o artigo;
 publica folhetins reles, de baixo nível.

"A Tarde":

 o director é o deputado Neves;


 recusa publicar a carta de retractação de Dâmaso porque o confunde com um seu
correligionário político;
 desfeito o engano, serve-se da mesma carta como meio de vingança contra o inimigo
político;
 só publica artigos ou textos dos seus correligionários políticos.

Aspectos a notar: o baixo nível; a intriga suja; o compadrio político; assim como os jornais, está
o País.

Sarau do Teatro da Trindade

Objectivos:

 ajudar as vítimas das inundações do Ribatejo;


 apresentar um tema querido da sociedade lisboeta: a oratória;
 reunir novamente as várias camadas das classes mais destacadas, incluindo a família
real;
 criticar o ultra-romantismo que encharcava o público;
 contrastar a festa com a tragédia.

Neste sarau, destacam-se dois personagens:

 Rufino

o o bacharel transmontano;
o o tema do Anjo da Esmola;
o o desfasamento entre a realidade e o discurso;
o a falta de originalidade;
o o recurso a lugares-comuns;
o a retórica é oca e balofa;
o a aclamação por parte do público tocado no seu sentimentalismo.
 Alencar
o o poeta ultra-romântico;
o o tema da Democracia Romântica;
o o desfasamento entre a realidade e o discurso;
o o excessivo lirismo carregado de conotações sociais;
o a exploração do público seduzido por excessos estéticos estereotipados;
o a aclamação do público.

N.B.: As classes dirigentes estão alheadas da realidade (nota-se isso pela indignação do
Gouvarinho). Caracteriza-se a sociedade como sendo deformada pelos excessos líricos do ultra-
romantismo.

 Personagens
 Personagens principais



 Afonso da Maia
 Caracterização física
 Afonso era baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua cara larga, o nariz
aquilino e a pele corada. O cabelo era branco, muito curto e a barba branca e comprida.
Como dizia Carlos: "lembrava um varão esforçado das idas heróicas, um D. Duarte
Meneses ou um Afonso de Albuquerque".
 Caracterização psicológica
 Provavelmente o personagem mais simpático do romance e aquele que o autor mais
valorizou. Não se lhe conhecem defeitos. É um homem de carácter culto e requintado
nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo e é obrigado, pelo seu pai, a
sair de casa; instala-se em Inglaterra mas, falecido o pai, regressa a Lisboa para casar
com Maria Eduarda Runa. Dedica a sua vida ao neto Carlos. Já velho passa o tempo em
conversas com os amigos, lendo com o seu gato – Reverendo Bonifácio – aos pés,
opinando sobre a necessidade de renovação do país. É generoso para com os amigos e os
necessitados. Ama a natureza e o que é pobre e fraco. Tem altos e firmes princípios
morais. Morre de uma apoplexia, quando descobre os amores incestuosos dos seus
netos. É o símbolo do velho Portugal que contrasta com o novo Portugal – o
da Regeneração – cheio de defeitos. É os sonho de um Portugal impossível por falta de
homens capazes.

 Pedro da Maia
 Caracterização física
 Era pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos – "assemelhavam-no a
um belo árabe". Valentia física.
 Caracterização psicológica
 Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e de grande instabilidade
emocional. Tinha assiduamente crises de "melancolia negra que o traziam dias e dias,
murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já velho".
 O autor dá grande importância à vinculação desta personagem ao ramo familiar dos
Runa e à sua semelhança psicológica com estes.
 Pedro é vítima do meio baixo lisboeta e de uma educação retrograda. O seu único
sentimento vivo e intenso fora a paixão pela mãe.
 Apesar da robustez física é de uma enorme cobardia moral (como demonstra a reação
do suicídio face à fuga da mulher). Falha no casamento e falha como homem.

 Carlos da Maia
 Caracterização física
 Carlos era um belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído, de ombros largos, olhos
negros, pele branca, cabelos negros e ondulados. Tinha barba fina, castanha escura,
pequena e aguçada no queixo. O bigode era arqueado aos cantos da boca. Com diz Eça,
ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da Renascença".
 Caracterização psicológica
 Carlos era culto, bem educado, de gostos requintados. Ao contrário do seu pai, é fruto de
uma educação à Inglesa. É corajoso e frontal. Amigo do seu amigo e generoso. Destaca-
se na sua personalidade o cosmopolitismo, a sensualidade, o gosto pelo luxo, e
diletantismo (incapacidade de se fixar num projecto sério).
 Todavia, apesar da educação, Carlos fracassou. Não foi devido a esta mas falhou, em
parte, por causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem
estímulos e também devido a aspectos hereditários – a fraqueza e a cobardia do pai, o
egoísmo, o futilidade e o espírito boémio da mãe. Eça quis personificar em Carlos a
idade da sua juventude, a que fez a questão Coimbrã e as Conferências do Casino e que
acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo.

 Maria Eduarda
 Caracterização física
 Maria Eduarda era uma bela mulher: alta, loira, bem feita, sensual mas delicada, "com
um passo soberano de deusa", é "flor de uma civilização superior, faz relevo nesta
multidão de mulheres miudinhas e morenas".  Era bastante simples na maneira de
vestir, "divinamente bela, quase sempre de escuro, com um curto decote onde
resplandecia o incomparável esplendor do seu colo"
 Caracterização psicológica
 Podemos verificar que, ao contrário das outras personagens femininas Maria Eduarda
nunca é criticada, Eça manteve sempre esta personagem à distância, a fim de
possibilitar o desenrolar de um desfecho dramático (esta personagem cumpre um papel
de vítima passiva). Maria Eduarda é então delineada em poucos traços, o seu passado é
quase desconhecido o que contribui para o aumento e encanto que a envolve. A sua
caracterização é feita através do contraste entre si e as outras personagens femininas,
mas e ao mesmo tempo, chega-nos através do ponto de vista de Carlos da Maia, para
quem tudo o que viesse de Maria Eduarda era perfeito, "Maria Eduarda! Era a primeira
vez que Carlos ouvia o nome dela; e pareceu-lhe perfeito, condizendo bem com a sua
beleza serena."                                                                                                          Uma vez
descoberta toda a verdade da sua origem, curiosamente, o seu comportamento mantém-
se afastado da crítica de costumes (o seu papel na intriga amorosa está cumprido), e esta
personagem afasta-se discretamente de "cena".     

 Maria Monforte

 Caracterização física
 É extremamente bela e sensual. Tinha os cabelos loiros, "a testa curta e clássica, o colo
ebúrneo".
 Caracterização psicológica
 É vítima da literatura romântica e daqui deriva o seu carácter pobre, excêntrico e
excessivo. Costumavam chamar-lhe negreira porque o seu pai levara, noutros tempos,
cargas de negros para o Brasil, Havana e Nova Orleães. Apaixonou-se por Pedro e casou
com ele. Desse casamento nasceram dois filhos. Mais tarde foge com o napolitano,
Tancredo, levando consigo a filha, Maria Eduarda, e abandonando o marido - Pedro da
Maia - e o filho - Carlos Eduardo. Leviana e imoral, é, em parte, a culpada de todas as
desgraças da família Maia. Fê-lo por amor, não por maldade. Morto Tancredo, num
duelo, leva uma vida dissipada e morre quase na miséria. Deixa um cofre a um
conhecido português - o democrata Sr. Guimarães - com documentos que poderiam
identificar a filha a quem nunca revelou as origens.

 Personagens tipo:
 João da Ega

 Caracterização física
 Ega usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco, pescoço esganiçado,
punhos tísicos, pernas de cegonha". Era o autêntico retrato de Eça.
 Caracterização psicológica
 João da Ega é a projeção literária de Eça de Queirós. É uma personagem contraditória.
Por um lado, romântico e sentimental, por outro, progressista e crítico, sarcástico do
Portugal Constitucional. Era o Mefistófeles de Celorico. Amigo íntimo de Carlos desde
os tempos de Coimbra, onde se formara em Direito (muito lentamente). A mãe era uma
rica viúva e beata que vivia ao pé de Celorico de Bastos, com a filha. Boémio, excêntrico,
exagerado, caricatural, anarquista sem Deus e sem moral. É leal com os amigos. Sofre
também de diletantismo, concebe grandes projetos literários que nunca chega a
executar. Terminado o curso, vem viver para Lisboa e torna-se amigo inseparável de
Carlos. Como Carlos, também ele teve a sua grande paixão - Raquel Cohen. Ega, um
falhado, corrompido pela sociedade, encarna a figura defensora dos valores da escola
realista por oposição à romântica. Na prática, revela-se em eterno romântico. Nos
últimos capítulos ocupa um papel de grande relevo no desenrolar da intriga. É a ele que
o Sr. Guimarães entrega o cofre. É juntamente com ele, que Carlos revela a verdade a
Afonso. É ele que diz a verdade a Maria Eduarda e a acompanha quando esta parte para
Paris definitivamente.

 Conde de Gouvarinho
 Caracterização física
         Era ministro e par do Reino. Tinha um bigode encerado e uma pêra curta.
 Caracterização psicológica
         Era voltado para o passado. Tem lapsos de memória e revela uma enorme falta de
cultura. Não compreende a ironia sarcástica de Ega. Representa a incompetência do
poder político (principalmente dos altos cargos). Fala de um modo depreciativo das
mulheres. Revelar-se-á, mais tarde, um bruto com a sua mulher.

 Condessa de Gouvarinho
 Caracterização física
 Cabelos crespos e ruivos, nariz petulante, olhos escuros e brilhantes, bem feita, pele
clara, fina e doce; é casada com o conde de Gouvarinho e é filha de um comerciante
inglês do Porto.
 Caracterização psicológica               
 É imoral e sem escrúpulos. Traí o marido, com Carlos, sem qualquer tipo de remorsos.
Questões de dinheiro e a mediocridade do conde fazem com que o casal se desentenda.
Envolve-se com Carlos e revela-se apaixonada e impetuosa. Carlos deixa-a, acaba por
perceber que ela é uma mulher sem qualquer interesse, demasiado fútil.

 Dâmaso Salcede
 Caracterização física
 Era baixo, gordo, "frisado como um noivo de província". Era sobrinho de Guimarães. A
ele e ao tio se devem, respectivamente, o início e o fim dos amores de Carlos com Maria
Eduarda.
 Caracterização psicológica
          Dâmaso é uma súmula de defeitos. Filho de um agiota, é presumido, cobarde e sem
dignidade. É dele a carta anónima enviada a Castro Gomes, que revela o envolvimento
de Maria Eduarda com Carlos. É dele também, a notícia contra Carlos n' A Corneta do
Diabo. Mesquinho e convencido, provinciano e tacanho, tem uma única preocupação na
vida o "chic a valer".                                  Representa o novo riquismo e os vícios da Lisboa
da segunda metade do séc. XIX. O seu carácter é tão baixo, que se retracta, a si próprio,
como um bêbado, só para evitar bater-se em duelo com Carlos.   

 Sr. Guimarães 

 Caracterização física
         Usava largas barbas e um grande chapéu de abas à moda de 1830.
 Caracterização psicológica
 Conheceu a mãe de Maria Eduarda, que lhe confiou um cofre contendo documentos que
identificavam a filha. Guimarães é, portanto, o mensageiro da trágica verdade que
destruirá a felicidade de Carlos e de Maria Eduarda. 

 Alencar
 Caracterização física
 Tomás de Alencar era "muito alto, com uma face encaveirada, olhos encovados, e sob o
nariz aquilino, longos, espessos, românticos bigodes grisalhos".
 Caracterização psicológica
 Era calvo, em toda a sua pessoa "havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de
lúgubre". Simboliza o romantismo piegas. O paladino da moral. Era também o
companheiro e amigo de Pedro da Maia. Eça serve-se desta personagens para construir
discussões de escola, entre naturalistas e românticos, numa versão caricatural da
Questão Coimbrã. Não tem defeitos e possui um coração grande e
generoso.                                                            É o poeta do ultrarromantismo.

 Cruges
 Caracterização física
 "De grenha crespa que lhe ondulava até à gola do jaquetão", "olhinhos piscos" e nariz
espetado.
 Caracterização psicológica
         Maestro e pianista patético, era amigo de Carlos e íntimo do Ramalhete. Era
demasiado chegado à sua velha mãe. Segundo Eça, "um diabo adoidado, maestro,
pianista com uma pontinha de génio". É desmotivado devido ao meio lisboeta - "Se eu
fizesse uma boa ópera, quem é que ma representava". 

 Craft 
    É uma personagem com pouca importância para o desenrolar da ação,
mas que representa a formação britânica, o protótipo do que deve ser um
homem. Defende a arte pela arte, a arte como idealização do que há de
melhor na natureza. É culto e forte, de hábitos rígidos, "sentindo
finamente, pensando com retidão". Inglês rico e boémio, colecionador de
"bric-a-brac".

 Eusebiozinho
 Eusebiozinho representa a educação retrógrada portuguesa. Também conhecido por
Silveirinha, era o primogénito de uma das Silveiras - senhoras ricas e beatas. Amigo de
infância de Carlos com quem brincava em Santa Olávia, levando pancada
continuamente, e com quem contrastava na educação. Cresceu tísico, molengão,
tristonho e corrupto. Casou-se, mas enviuvou cedo. Procurava, para se distrair, bordéis
ou aventureiras de ocasião pagas à hora.   

 Simbologia e linguagem
Simbolismo
Os Maias estão incrivelmente repletos de símbolos.
Afonso da Maia é uma figura simbólica - o seu nome é simbólico, tal como o de Carlos - o nome
do último Stuart, escolhido pela mãe. Carlos irá ser o último Maia - note-se a ironia em forma de
presságio.

No Ramalhete, esta designação e o emblema (o ramo de girassóis) mostram a importância "da


terra e da província" no passado da família Maia. A "gravidade clerical do edifício" demonstra a
influência que o clero teve no passado da família e em Portugal.

Por oposição, as obras de restauro, levadas a cabo por Carlos, introduziram o luxo e a decoração
cosmopolita, simbolizam uma nova oportunidade, uma reforma da casa (ou do país) para uma
nova etapa - é o reflexo do ideal reformista da Geração de Carlos. Carlos é um símbolo
da Geração de 70, tal como o é Ega. Tal como o país, também eles caíram no "vencidismo".

No último capítulo, a imagem deixada pelo Ramalhete, abandonado e tristonho, cheio de


recordações de um passado de tragédia e frustrações, está muito relacionado com o modo como
Eça via o país, em plena crise do regime.

O quintal do Ramalhete, também sofre uma evolução. O fio de água da cascata é símbolo da
eterna melancolia do tempo que passa, dos sentimentos que leva e traz. A estátua de Vénus que,
enegrece com a fuga de Maria Monforte, no final a sua presença obscura na quintal é uma vaga
premonição da tragédia. Ela marca o início e o fim da ação principal.

No quarto de Maria Eduarda, na Toca, o quadro com a cabeça degolada é um símbolo e


presságio de desgraça. Os seus aposentos simbolizam o carácter trágico, a profanação das leis
humanas e cristãs.

Também o armário do salão nobre da Toca, tem uma simbologia trágica. Os guerreiros
simbolizam a heroicidade, os evangelistas, a religião e os trofeus agrícolas o trabalho: qualidades
que existiram um dia na família (e no Portugal da epopeia). Os dois faunos simbolizam os dois
amantes numa atitude hedonista e desprezadora de tudo e todos. No final um partiu o seu pé de
cabra e o outro a flauta bucólica, pormenor que parece simbolizar o desafio sacrílego dos faunos
a tudo quanto era excelso e sublimado na tradição dos antepassados.

No final, a estátua de Camões é o símbolo da nostalgia do passado mais recuado.

Não é difícil lermos o percurso da família Maia, nas alterações sofridas pelo Ramalhete. No
início o Ramalhete não tem vida, em seguida habitado, torna-se símbolo da esperança e da vida,
é como que um renascimento; finalmente, a tragédia abate-se sobre a família e eis a cascata
chorando, deitando as últimas gotas de água, a estátua coberta de ferrugem; tudo tem um
carácter funéreo. O cedro e o cipreste, são árvores que pela sua longevidade, significam a vida e
a morte, foram testemunhas das várias gerações da família.

A morte instala-se nesta família. No Ramalhete todo o mobiliário degradado e disposto em


confusão, todos os aposentos melancólicos e frios, tudo deixa transparecer a realidade de
destruição e morte. E se os Maias representam Portugal, a morte instalou-se no país.

A Toca é o nome dado à habitação de certos animais, o que, desde logo, parece simbolizar o
carácter animalesco do relacionamento de Carlos e Maria Eduarda. Na primeira vez que lá vão,
Carlos introduz a chave no portão com todo o prazer, o que sugere o poder e o prazer das
relações incestuosas; da segunda vez ambos a experimentam - a chave torna-se, portanto, o
símbolo da mútua aceitação e entrega.

Os aposentos de Maria Eduarda simbolizam o carácter trágico, a profanação das leis humanas e
cristãs.

Os Maias estão também, povoados de símbolos cromáticos: a cor vermelha tem um carácter


duplo, Maria Monforte e Maria Eduarda são portadoras de um vermelho feminino, despertam a
sensibilidade à sua volta; espalham a morte. O vermelho é, portanto, o símbolo da paixão
excessiva e destruidora.

O vermelho da vila Balzac é muito intenso, indicando a dimensão essencialmente carnal e


efémera dos encontros de amor de Ega e Raquel Cohen.

O tom dourado está também presente, indicando a paixão ardente; anunciando a velhice (o
outono), a proximidade da morte. Morte prefigurada pela cor negra, símbolo de uma paixão
possessiva e destruidora.

Mãe e filha conjugam em si estas três cores: elas são, portanto, vida e morte, o divino e o
humano, a aparência e a realidade, a força que se torna fraqueza.

Constatamos que a simbologia d'Os Maias possui uma função claramente pressagiosa da


tragédia.

Linguagem
A linguagem do romance ilustra o quanto a linguagem literária de Eça foi profundamente
inovadora para a literatura portuguesa, tanto pelo impressionismo das descrições, como pelo
realismo dos diálogos. 

Com efeito, Eça de Queirós através da narração, da descrição, do diálogo e do monólogo ,


apropria-se da linguagem de forma inovadora, atribuindo novos valores estéticos e literários. A
narração ganha maleabilidade pela necessidade de relatar objetivamente os acontecimentos,
como convinha a estética realista; o diálogo enche-se de força coloquial; a descrição minuciosa,
frequentemente sensorial, serve os propósitos do realismo que se afirma pelo rigor da
observação e pela análise dos acontecimentos sociais; o monólogo ajuda a perscrutar o mundo
interior das personagens; o comentário permite a intervenção de um narrador que, ora
adotando uma focalização omnisciente, ora uma focalização interna, tudo observa com olhar
crítico e contundente.

Principais figuras de estilo usadas na obra:

 Personificação;

 Hipálage;

 Adjetivação: o adjetivo aparece também associado a outras características


morfológicas como o advérbio; o adjetivo associa-se a outros recursos
estilísticos, como por exemplo à animização, à hipálage, à ironia e à
sinestesia; a repetição do adjetivo cria uma intencionalidade expressiva.

 O emprego do advérbio: a categoria morfológica que imprime valores


inusitados à narração e à descrição; 

 Ironia: uma das originalidades de Eça para evidenciar os aspetos risíveis e reveladores
das incoerências das personagens ou dos factos. Assim o narrador anula a objetividade
que caractreriza o romance realista, assumindo uma perspectiva crítica e subjetiva,
revelando simultaneamente uma posição de superioridade e distanciamento. 
 Comparação: 

 Metáfora;

 Emprego do diminutivo: utilizado frequentemente com intencionalidade irónica.

 Sinestesia: mistura de sensaçoes visuais e tácteis.

 Presença de estrangeirismos: é uma espécie de "dedo apontado" à sociedade


burguesa que importa os modelos estrangeiros, de forma pouco criteriosa e pouco
adaptada  a realidade nacional.

 Criação de neologismos (novas palavras);

 Discurso indireto livre;

 Uso do gerúndio. 

 Temas
Os temas de Os Maias estão, em grande parte associados à ideologia e aos movimentos idealista
e naturalista. No entanto na obra encontramos mais temas como:

 o amor;
 o incesto;
 o adultério;
 a educação;
 o diletantismo;
 a decadência de Portugal;
 a ideia de Portugal;
 a família;
 o Romantismo;
 a literatura.

 Tempo
 Este romance não apresenta um seguimento temporal linear, mas, pelo contrário, uma
estrutura complexa na qual se integram três tipos de tempo: tempo histórico, tempo do
discurso e tempo psicológico.  
  
  
 Tempo histórico
 Entende-se por tempo histórico aquele que se desdobra em dias, meses e anos vividos
pelas personagens, refletindo até acontecimentos cronológicos históricos do país.
 N' Os Maias, o tempo histórico é dominado pelo encadeamento de três gerações de uma
família, cujo último membro - Carlos, se destaca relativamente aos outros. A fronteira
cronológica situa-se entre 1820 e 1887, aproximadamente. Assim, o tempo concreto da
intriga compreende cerca de 70 anos.
 Tempo do discurso
 Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado
pelo narrador, ordenado ou alterado logicamente, alargado ou resumido. 
 Na obra, o discurso inicia-se no outono de 1875, data em que Carlos, concluída a sua
viagem de um ano pela Europa, após a formatura, veio com o avô instalar-se
definitivamente em Lisboa. Pelo processo de analepse, o narrador vai, até parte do
capítulo IV, referir-se aos antepassados do protagonista (juventude e exílio de Afonso da
Maia, educação, casamento e suicídio de Pedro da Maia, e à educação de Carlos da Maia
e sua formatura em Coimbra) para recuperar o presente da história que havia referido
nas primeiras linhas do livro. Esta primeira parte pode considerar-se uma novela
introdutória que dura quase 60 anos. Esta analepse ocupa apenas 90 páginas,
apresentadas por meio de resumos e elipses. Assim, como vemos, o tempo histórico é
muito mais longo do que o tempo do discurso. Do outono de 1875 a janeiro de 1877 -
data em que Carlos abandona o Ramalhete - existe uma tentativa para que o tempo
histórico (pouco mais de um ano da vida de Carlos) seja idêntico ao tempo do discurso -
cerca de 600 páginas - para tal Eça serve-se muitas vezes da cena dialogada. O último
capítulo é uma elipse (salto no tempo) onde, passados 10 anos, Ega se encontra com
Carlos em Lisboa.

                                      Tempo psicológico
         O tempo psicológico é o tempo que a personagem assume interiormente; é o tempo
filtrado pelas suas vivências subjetivas, muitas vezes carregado de densidade dramática.
É o tempo que se alarga ou se encurta conforme o estado de espírito em que se encontra.
         No romance, embora não muito frequente, é possível evidenciar alguns momentos
de tempo psicológico nalgumas personagens: Pedro da Maia, na noite em que se deu o
desaparecimento de Maria Monforte e o comunicado a seu pai; Carlos, quando recorda
o primeiro beijo que lhe deu a Condessa de Gouvarinho, ou, na companhia de João da
Ega, contempla, já no final de livro, após a sua chegada de Paris, o velho Ramalhete
abandonado e ambos recordam o passado com nostalgia. Uma visão pessimista do
Mundo e das coisas. É o caso de "agora o seu dia estava findo: mas, passadas as longas
horas, terminada a longa noite, ele penetrava outra vez naquela sala de repes
vermelhos...".
               O tempo psicológico introduz a subjetividade, o que põe em causa as leis do
naturalismo.
o

Você também pode gostar