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Habeas Corpus

Amparo legal

CF/88 - Art. 5º, LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre


que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação
em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

Código de Processo Penal - Art. 647 e 648 - Dar-se-á habeas


corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer
violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir ou vir, salvo nos casos
de punição disciplinar.

Finalidade

Instituto que ampara o direito de liberdade. A finalidade do


habeas corpus consiste em fazer cessar o constrangimento ilegal ou a
ameaça de um ilegal constrangimento. Se for liberatório, o paciente
será posto em liberdade; se preventivo, por meio dele se visa a impedir
que o constrangimento venha a efetivar-se e, por isso, se expede um
salvo-conduto, não podendo o paciente, pelo fato que lhe deu origem,
vir a ser preso ou sofrer ameaça de sê-lo. Se, porventura, houver
inquérito ou processo criminal em andamento, subsistindo em face de
ato atípico ou ilegal, implica a concessão do habeas corpus o
trancamento do inquérito ou da Ação. O habeas corpus comporta
pedido de medida liminar, assegurando de maneira mais eficaz o direito
de liberdade. Para tanto, é necessário estarem presentes os
pressupostos das cautelares, isto é, periculum in mora (perigo na
demora) da prestação jurisdicional - atuação do judiciário e fumus boni
juris (fumaça do bom direito).

O salvo-conduto

Tratando-se de habeas corpus preventivo, se concedido, será


expedido um salvo-conduto, assinado pela autoridade competente.
Salvo-conduto, do latim salvus (salvo) conductus (conduzido), dá a
precisa idéia de uma pessoa conduzida a salvo. Daí a expressão salvo-
conduto para exprimir o documento emitido pela autoridade que
conheceu do habeas corpus preventivo, visando a conceder livre trânsito
ao seu portador, de molde a impedir-lhe a prisão ou detenção pelo
mesmo motivo que ensejou o pedido de habeas corpus.

Termos usados no habeas corpus

Paciente: designa a pessoa que sofre ou está ameaçado de sofrer um


constrangimento ilegal;

Impetrante: designa a pessoa que pede a ordem de habeas corpus;


Impetrada: designa a autoridade a quem é dirigido o pedido;

Coator: designa a pessoa que exerce ou ameaça exercer o


constrangimento;

Detentor: designa a pessoa que detém o paciente.

Quem pode impetrar o habeas corpus

O habeas corpus pode ser impetrado por qualquer pessoa,


inclusive pelo próprio beneficiário, tenha ou não a capacidade
postulatória (capacidade de peticionar em juízo - advogado). Se o
paciente for analfabeto, alguém poderá assinar o pedido a seu rogo. Se
o impetrante for Advogado, ou mesmo outra pessoa sem capacidade
postulatória, não haverá necessidade de o paciente lhe outorgar
procuração. Em suma, poderá o habeas corpus ser impetrado pelo
maior ou menor, nacional ou estrangeiro.

Como pode ser impetrada a ordem de habeas corpus

Normalmente, o pedido é formulado por meio de petição


circunstanciada, que deverá conter: a) indicação do órgão a quem é
dirigida (juiz federal ou presidente do tribunal a que este estiver
vinculado); b) Nome do autor (impetrante); c) citação dos dispositivos
legais aplicáveis e identificação da medida; d) o nome da pessoa que
sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação (paciente) e o de
quem exerce a violência, coação ou ameaça (autoridade coatora); e) a
declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples
ameaça ou coação, as razões em que funda o seu temor; f) a assinatura
do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não
puder escrever, e a designação das respectivas residências. Apresentar
em 03 (três) vias.

Orientações importantes:

I - identificar a autoridade coatora

- se for delegado, o habeas corpus deve ser dirigido ao juiz federal (1ª
instância) ou no caso do fato ocorrer em sábados, domingos e feridos
(ao juiz de plantão).

- Quando a autoridade coatora for juiz de 1ª instância (ocorre quando


este não relaxa prisão ilegal ou ameaça de decretar prisão) a ordem deve
ser dirigida ao Presidente do Tribunal a que o juiz estiver vinculado.

- Quando a autoridade coatora for membro de tribunal, competente


para conhecer o habeas corpus será o Presidente do Supremo Tribunal
Federal.
- A ordem de habeas corpus deve sempre ser apresentada em 03 (três)
vias.

Modelos

I - Habeas Corpus liberatório. Na hipótese de prisão realizada

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DE ...... ou

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DO


TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DE ........

FULANO DE TAL, brasileiro, estado civil, profissão, residente


e domiciliado à , vem à presença de Vossa Excelência, com apoio no
art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal e nos termos dos arts. 647 e
648, I do Código de Processo Penal, impetrar a presente ordem de

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO

com pedido de liminar

em favor de SICRANO DE TAL, brasileiro, estado civil,


profissão, portador da CI nº , residente e domiciliado à ....., na cidade
de , pelas razões de fato e de direito a seguir delineadas.

DOS FATOS

O paciente foi detido em , sob a acusação de manter em


funcionamento a Rádio comunitária , o que seria vedado pela
legislação vigente, tendo na ocasião da prisão havido, também, a
apreensão dos equipamentos da rádio.

A rádio comunitária funciona há mais de , utilizando


da frequência . A sua constituição foi devidamente noticiada e
comunicada às autoridades do município, bairro etc...

Descrever outros fatos que antecederam e culminaram com a


prisão .

A prisão se revestiu de grave ilegalidade, eis que sem amparo


nas Legislações que regem a matéria.

DA INVIABILIDADE DO SUPORTE JURÍDICO ERIGIDO PARA A


PRISÃO DO PACIENTE

A autoridade responsável pela prisão do paciente


fundamentou sua decisão na hoje inválida previsão legal do art. 70, da
lei 4.117/62, que prescreve:
“Constitui crime punível com a pena de detenção de um a dois anos,
aumentada da metade se houver dano a terceiro, a instalação ou
utilização de telecomunicações, sem observância do disposto nesta lei e
nos regulamentos”.

É portanto, o delegado de polícia federal de , a


autoridade coatora no presente caso.

Diferentemente do fundamento invocado para se perpetrar a


ilegalidade, entende-se que as rádios comunitárias, não se abarcam no
campo de incidência dos citados dispositivos legais. Com a promulgação
da Emenda Constitucional nº 8, de 15 de agosto de 1995, as normas da
lei 4.117/62, no que dizem respeito à classificação e natureza das
emissoras de rádio e televisão, por não estarem mais albergadas pelo
conceito de telecomunicações, não mais se aplicam por terem perdido
sua fundamentação material. De outra forma, com a alteração
constitucional, as rádios comunitárias estão plenamente previstas e
asseguradas na Constituição.

Ademais, o Código Brasileiro de Telecomunicações não


regulamenta em nenhum momento, a potência das emissoras. Se não
prevê a existência das rádios comunitárias, por outro lado também nele
não se encontra proibição quanto à baixa potência que apresente. Por
outro lado, os serviços de radiodifusão de caráter local, que encontram
regulamentação no Código, não se confundem de forma com as rádios
comunitárias. Estas apresentam âmbito de divulgação sonora bem mais
restrito.

Enganou-se, dessa forma, a autoridade coatora. Não há


ilicitude nas atividades das rádios comunitárias. Estas, na verdade, se
constituem na vigente ordem jurídica e social, em um imperativo social,
decorrente da necessidade de informação, de natureza local e de veículo
de ordem cultural.

ATENÇÃO .... NOVA FUNDAMENTAÇÃO

De qualquer sorte Excelência, a celeuma jurídico-repressiva


existente em torno do funcionamento da emissoras de Rádiodifusão
Comunitária agora perde relevo, tendo em vista a edição e promulgação
da Lei nº 9.612, de 19 de fevereiro de 1998 que instituiu o Serviço de
Radiodifusão Comunitária.

Com efeito, a referida lei, regulamentada pelo Decreto nº


2.615, de 3 de junho de 1998 e pela Portaria do Ministério das
Comunicações de nº 191, de 6 de agosto de 1998, veio explicitar os
Comandos democráticos já prescritos no texto da Carta da República,
mas, sobretudo, atender aos anseios de cidadania da população
brasileira, afastando, porquanto, as injustas e ilegais posturas
autoritárias ainda adotadas pela fiscalização do Ministério das
Comunicações e pelo Departamento de Polícia Federal.

Nesse sentido, a Rádio ...., em consonância com o


mencionado comando normativo, já encaminhou .... ou está
encaminhando .... ou já tem autorização do poder público para operar
emissora de Rádiodifusão Comunitária, não havendo, portanto, justa
causa ou razão plausível para a atitude arbitrária e abusiva da
autoridade coatora indicada.

Outros fatos que julgar relevante em face da nova lei.....

.........................

DO DIREITO

A Constituição Federal prescreve:

“Art. 5º, inciso IX: É livre a expressão da atividade intelectual, artística,


científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

“Art. 215: O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos


culturais e acesso às fontes de cultura nacional, e apoiará e incentivará
a valorização e difusão das manifestações culturais”.

Outros dispositivos legais vão na mesma esteira da licitude


do funcionamento da rádio comunitária e, por conseguinte, de
encontro à ilegalidade da prisão do ora paciente.

“O Decreto nº 52.026, de 20 de maio de 1963, aprovou o Regulamento


Geral para a execução da Lei 4.117, de 27 de agosto de 1962, em 80
artigos”;

”O Decreto 52.795, de 31 de outubro de 1963, aprovou o Regulamento


dos Serviços de Radiodifusão, em 185 artigos. Repetindo, no art. 171, o
crime previsto no art. 70, da lei 4.117, preceituando que seria crime a
instalação de equipamento de radiodifusão ou a sua utilização sem
observância da lei 4.117/62, e seus regulamentos, com claro
desrespeito ao art. 1º do Código Penal de 1940”.

“O Decreto 678, de 6 de novembro de 1992, que promulgou a


Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da
Costa Rica), de 22 de novembro de 1969, determinou em seu art. 1º:

“A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da


Costa Rica), celebrada em São José da Costa Rica em 22 de novembro
de 1969, apensa por cópia ao presente decreto, deverá ser cumprida tão
inteiramente como nela se contém”.
O que contém esta Convenção?

Art. 13. Liberdade de pensamento e de expressão

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de


expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e
difundir informações e idéias de toda natureza, sem consideração de
fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou
artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.

2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode


estar sujeito a censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que
devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessárias para
assegurar:

a) o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou

b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde


ou da moral públicas.

3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios


indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de
papel de imprensa, de freqüências rádio-elétricas ou de equipamentos e
aparelhos usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros
meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de idéias e
opiniões.

4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia,


com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral
da infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2.

A convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José


da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969, promulgada no Brasil pelo
Decreto 678 de 6 de novembro de 1992, e em face do Decreto legislativo
nº 27, de 26 de maio de 1992, do Congresso Nacional, passou a valer
como lei interna do Pais”.

Lei nº 9.612, de 19 de fevereiro de 1998, que institui o Serviço


de Radiodifusão Comunitária e dá outras providências.

Art. 1º Denomina-se Serviço de Radiodifusão Comunitária a


radiodifusão sonora, em frequência modulada, operada em baixa
potência e cobertura restrita, outorgada a fundações e associações
comunitárias, sem fins lucrativos, com sede na localidade de prestação
de serviço. (...)”

Decreto nº 2.615, de 3 de junho de 1998, que Aprova o


Regulamento do Serviço de Radiodifusão Comunitária, e Portaria nº 191,
de 6 de agosto de 1998, que traz Norma Complementar do Serviço de
Radiodifusão Comunitária.

DA POSIÇÃO DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL VIGENTE ANTES


MESMO DA EXISTÊNCIA DA LEI QUE INSTITUIU O SISTEMA DE
RÁDIO DIFUSÃO COMUNITÁRIA

A Justiça Federal, por diversas decisões de seus magistrados,


posicionou-se no sentido de acompanhar o trem da democracia,
seguindo os ventos que apontam para um futuro de plena liberdade em
nosso país. São alguns trechos de acórdãos:

“R.A. Defiro “inaudita altera parte” a medida liminar para o fim de


impedir a busca e apreensão de equipamentos e bens da emissora,
diante do justo receio de que seja realizada busca e apreensão diante a
proximidade de policiais, bem como do “fumus boni iuris”, diante das
reiteradas manifestações, constantes dos autos, no sentido da licitude
da atividade”.

(Juízo de Direito da Comarca de Iguape/SP - 1ª Vara - Cartório do 1º


ofício cível - juiz de Direito Titular Dr. Caramuru Afonso Francisco -
Medida Cautelar com Pedido de Liminar - Proc. nº 426/95).

“(...) com a edição da Constituição Federal de 1988 pretendeu-se, sem


dúvida, pôr termo a um regime autoritário e antidemocrático, com a
revogação de todas as normas que lhe davam tal feição, estabelecendo-
se um regime democrático, sem qualquer restrição às liberdades
individuais e coletivas de manifestação do pensamento, notadamente
manifestações e atividades culturais, consoante se vê dispositivos acima
mencionados.

Não há como negar que o Decreto-lei nº 236, de 28.02.67, editado no


auge do regime autoritário, modificando o Código Brasileiro de
Telecomunicações e estabelecendo sanções criminais no caso de
instalação ou utilização de aparelhos de telecomunicações, visava
cercear a manifestação do pensamento e a veiculação de qualquer
forma de atividade cultural, para desta forma exercer o pleno controle
da sociedade, levando-a a absorver somente as informações de interesse
do regime e dos grupos que representava”.

(Poder Judiciário - Justiça Federal - 4ª Vara Criminal da Justiça


Federal/SP - Juiz Federal Dr. Casem Mazioum - Proc. nº 91.0101021-
2).’ ‘

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. CONVENÇÃO INTERNACIONAL. RÁDIO


COMUNITÁRIA. SEGURANÇA CONCEDIDA.

1. Por ser o Brasil signatário do Pacto de São José da Costa Rica, que
integra o ordenamento jurídico nacional por força do Decreto nº
678/92, não pode a União, via Delegacia Regional do Ministério das
Comunicações, coibir o funcionamento de Rádios Comunitárias, sob
pena de estar violando o art. 5º, inciso IX e § 2º da Constituição de
1988.

II - Ao assegurar que é da competência do Poder Executivo “outorgar e


renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de
radiodifusão sonora e de sons e imagens” (art. 223, caput), está a
Constituição Federal disciplinando a conduta do Estado para com o
segmento empresarial das comunicações sociais. Não são destinatárias
da mencionada regra constitucional as atividades de radiodifusão extra-
empresariais ou não-oficiais, tais como as nominadas Rádios
Comunitárias, expedidoras de sinais de baixa frequência e curto
espectro.

(JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA - SEÇÃO JUDICIÁRIA


DO RIO GRANDE DO NORTE - 5ª VARA - AÇÃO DE MANDADO DE
SEGURANÇA - Nº 96.1996-7 - IVAN LIRA DE CARVALHO - JUIZ
FEDERAL).

Como ficou patente, as rádios comunitárias são uma


exigência do mundo atual. Com efeito, a malha de emissoras de médio
ou grande porte existente em todo o território nacional, não se presta a
servir as pequenas comunidades do interior ou aos bairros das grandes
cidades com a mesma eficiência e espírito de atendimento. E isto é
bastante natural porque as emissoras de rádio e televisão existem para
atender a um público bastante maior e diversificado.

A legislação que agrida a liberdade de imprensa, em seu


sentido genérico, é suspeita aos olhos de uma nação livre e
democrática. Sendo suspeita, merece exame atento pelo judiciário, no
aspecto da sua recepção face à Constituição (regra matriz), que é mãe e
fonte de validade de todas as normas inferiores (periféricas).

Assim, à luz dos princípios constitucionais erigidos como


colunas mestras da democracia e do desenvolvimento de uma nação
livre, com total garantia da preservação da iniciativa privada e liberdade
civis, não pode, jamais, ser considerado crime a abertura e o
funcionamento das rádios comunitárias, mormente agora com a edição
de uma legislação de regência da matéria.

Dessa forma, a criação de rádio não pode tipificar, por si só, a


prática de crime. Eventualmente, o abuso das faixas de potência é que,
podem vir a configurar algum ilícito, se assim estiver tipificado em lei.
Portanto, não constitui a atividade informativa qualquer crime.

Nesse sentido, o dispositivo incriminador mencionado no art.


70, da Lei 4.117/62, não foi recepcionado pela Constituição atual.
Perdeu, portanto, sua vigência. Seu valor atual e, juridicamente,
nenhum.

DOS PRESSUPOSTOS DA MEDIDA LIMINAR

A medida ora pleiteada comporta prestação preliminar, o que


desde já se requer, eis que presente todos os pressupostos necessários
para o deferimento mesma.

A plausibilidade jurídica da concessão da liminar encontra-se


devidamente caracterizada na presente. O fumus boni iuris foi
devidamente demonstrado pelos elementos fáticos e jurídicos trazidos à
colação e a incidência do periculum in mora reside no fato de que
grave prejuízo moral e psicológico poderá sofrer o paciente, cidadão
trabalhador e cumpridor de seus deveres, se mantido no convívio com
outros detentos já integrados à vida criminosa.

O periculum in mora repousa, ainda, no prejuízo que o


fechamento sumário da rádio acarretará para a comunidade local, que
ficará privada de ouvi-la, quando se sabe da enorme importância deste
veículo de comunicação na divulgação de informações para as pequenas
comunidades interioranas.

DO PEDIDO

Como ficou devidamente consignado, a prisão do paciente


não encontra guarida no ordenamento jurídico em vigor, revestindo-se,
portanto, de flagrante ilegalidade.

Diante desse fato e configurado, pois, o constrangimento


ilegal a que se sujeita o paciente, requer o impetrante se digne Vossa
Excelência conceder em favor de SICRANO DE TAL, o pretendido writ,
para que cessa a coação, determinando, ainda, seja expedido o
competente alvará de soltura, para que seja, de imediato, posto em
liberdade, por ser da mais absoluta e para que

JUSTIÇA!

T. em que

Pede deferimento

Cidade ( ), de de 1997

Advogado/impetrante

II - Habeas Corpus preventivo. Na hipótese de ameaça de prisão ou


coação ilegal
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DE ...... ou

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DO


TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DE ........

FULANO DE TAL, brasileiro, estado civil, profissão, residente


e domiciliado à , vem à presença de Vossa Excelência, com apoio no
art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal e nos termos dos arts. 647 e
648, I do Código de Processo Penal, impetrar a presente ordem de

HABEAS CORPUS PREVENTIVO

com pedido de liminar

em favor de SICRANO DE TAL, brasileiro, estado civil,


profissão, portador da CI nº , residente e domiciliado à ....., na cidade
de , pelas razões de fato e de direito a seguir delineadas.

DOS FATOS

O paciente mantém em funcionamento a Rádio


Comunitária , tudo conforme a legislação em vigor. Entretanto, vem
sofrendo constantes ameaças de prisão e apreensão dos equipamentos
sob o pálio de que a atividade é vedada pela lei 4.117/62. A esse
respeito, já foi aberto pela autoridade policial o inquérito nº ou já foi
denunciado pelo Ministério Público em ...., sob a acusação de manter
em funcionamento da Rádio comunitária ,

A rádio comunitária funciona há mais de , utilizando


da frequência . A sua constituição foi devidamente noticiada e
comunicada às autoridades do município, bairro etc...

Descrever outros fatos que justificam a apreensão do


paciente quanto a eventualidade de vir a ser preso .....

A prisão, se efetivada, revestir-se-á de grave ilegalidade, eis


que sem amparo na Legislação que informa a matéria, além de trazer
graves e irreparáveis prejuízos para o paciente.

ATENÇÃO .... NOVA FUNDAMENTAÇÃO

De qualquer sorte Excelência, a celeuma jurídico-repressiva


existente em torno do funcionamento da emissoras de Rádiodifusão
Comunitária agora perde relevo, tendo em vista a edição e promulgação
da Lei nº 9.612, de 19 de fevereiro de 1998 que instituiu o Serviço de
Radiodifusão Comunitária.
Com efeito, a referida lei, regulamentada pelo Decreto nº
2.615, de 3 de junho de 1998 e pela Portaria do Ministério das
Comunicações de nº 191, de 6 de agosto de 1998, veio explicitar os
Comandos democráticos já prescritos no texto da Carta da República,
mas, sobretudo, atender aos anseios de cidadania da população
brasileira, afastando, porquanto, as injustas e ilegais posturas
autoritárias ainda adotadas pela fiscalização do Ministério das
Comunicações e pelo Departamento de Polícia Federal.

Nesse sentido, a Rádio ...., em consonância com o


mencionado comando normativo, já encaminhou .... ou está
encaminhando .... ou já tem autorização do poder público para operar
emissora de Rádiodifusão Comunitária, não havendo, portanto, justa
causa ou razão plausível para a atitude arbitrária e abusiva da
autoridade coatora indicada.

Outros fatos julgados pertinentes em face da nova


legislação...

.........................

DA INVIABILIDADE DO SUPORTE JURÍDICO ERIGIDO PARA A


PRISÃO DO PACIENTE

A autoridade que ameaça com a prisão do paciente,


fundamenta-se no art. 70, da lei 4.117/62, que prescreve:

“Constitui crime punível com a pena de detenção de um a dois anos,


aumentada da metade se houver dano a terceiro, a instalação ou
utilização de telecomunicações, sem observância do disposto nesta lei e
nos regulamentos”.

É portanto, o delegado de polícia federal de , a


autoridade coatora no presente caso.

Diferentemente do fundamento invocado para se perpetrar a


ilegalidade, entende-se que as rádios comunitárias, não se abarcam no
campo de incidência dos citados dispositivos legais. Com a promulgação
da Emenda Constitucional nº 8, de 15 de agosto de 1995, as normas da
lei 4.117/62, no que dizem respeito à classificação e natureza das
emissoras de rádio e televisão, por não estarem mais albergadas pelo
conceito de telecomunicações, não mais se aplicam por terem perdido
sua fundamentação material. De outra forma, com a alteração
constitucional, as rádios comunitárias estão plenamente previstas e
asseguradas na Constituição e, agora, mais do que nunca, amparadas
em legislação específica.

Ademais, o Código Brasileiro de Telecomunicações não


regulamenta em nenhum momento, a potência das emissoras. Se não
prevê a existência das rádios comunitárias, por outro lado também nele
não se encontra proibição quanto à baixa potência que apresente. Por
outro lado, os serviços de radiodifusão de caráter local, que encontram
regulamentação no Código, não se confundem de forma com as rádios
comunitárias. Estas apresentam âmbito de divulgação sonora bem mais
restrito.

Enganou-se, dessa forma, a autoridade coatora. Não há


ilicitude nas atividades das rádios comunitárias. Estas, na verdade, se
constituem na vigente ordem jurídica e social, em um imperativo social,
decorrente da necessidade de informação, de natureza local e de veículo
de ordem cultural.

DO DIREITO

A Constituição Federal prescreve:

“Art. 5º, inciso IX: É livre a expressão da atividade intelectual, artística,


científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

“Art. 215: O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos


culturais e acesso às fontes de cultura nacional, e apoiará e incentivará
a valorização e difusão das manifestações culturais”.

Outros dispositivos legais vão na mesma esteira da licitude


do funcionamento da rádio comunitária e, por conseguinte, de
encontro à ilegalidade da prisão do ora paciente.

“O Decreto nº 52.026, de 20 de maio de 1963, aprovou o Regulamento


Geral para a execução da Lei 4.117, de 27 de agosto de 1962, em 80
artigos”;

”O Decreto 52.795, de 31 de outubro de 1963, aprovou o Regulamento


dos Serviços de Radiodifusão, em 185 artigos. Repetindo, no art. 171, o
crime previsto no art. 70, da lei 4.117, preceituando que seria crime a
instalação de equipamento de radiodifusão ou a sua utilização sem
observância da lei 4.117/62, e seus regulamentos, com claro
desrespeito ao art. 1º do Código Penal de 1940”.

“O Decreto 678, de 6 de novembro de 1992, que promulgou a


Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da
Costa Rica), de 22 de novembro de 1969, determinou em seu art. 1º:

“A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da


Costa Rica), celebrada em São José da Costa Rica em 22 de novembro
de 1969, apensa por cópia ao presente decreto, deverá ser cumprida tão
inteiramente como nela se contém”.

O que contém esta Convenção?


Art. 13. Liberdade de pensamento e de expressão

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de


expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e
difundir informações e idéias de toda natureza, sem consideração de
fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou
artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.

2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode


estar sujeito a censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que
devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessárias para
assegurar:

a) o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou

b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde


ou da moral públicas.

3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios


indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de
papel de imprensa, de freqüências rádio-elétricas ou de equipamentos e
aparelhos usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros
meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de idéias e
opiniões.

4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia,


com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral
da infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2.

A convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José


da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969, promulgada no Brasil pelo
Decreto 678 de 6 de novembro de 1992, e em face do Decreto legislativo
nº 27, de 26 de maio de 1992, do Congresso Nacional, passou a valer
como lei interna do Pais”.

Lei nº 9.612, de 19 de fevereiro de 1998, que institui o Serviço


de Radiodifusão Comunitária e dá outras providências.

Art. 1º Denomina-se Serviço de Radiodifusão Comunitária a


radiodifusão sonora, em frequência modulada, operada em baixa
potência e cobertura restrita, outorgada a fundações e associações
comunitárias, sem fins lucrativos, com sede na localidade de prestação
de serviço. (...)”

Decreto nº 2.615, de 3 de junho de 1998, que Aprova o


Regulamento do Serviço de Radiodifusão Comunitária, e Portaria nº 191,
de 6 de agosto de 1998, que traz Norma Complementar do Serviço de
Radiodifusão Comunitária.
DA POSIÇÃO DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL VIGENTE ANTES
MESMO DA EXISTÊNCIA DA LEI QUE INSTITUIU O SISTEMA DE
RÁDIO DIFUSÃO COMUNITÁRIA

A Justiça Federal, por diversas decisões de seus magistrados,


posicionou-se no sentido de acompanhar o trem da democracia,
seguindo os ventos que apontam para um futuro de plena liberdade em
nosso país. São alguns trechos de acórdãos:

“R.A. Defiro “inaudita altera parte” a medida liminar para o fim de


impedir a busca e apreensão de equipamentos e bens da emissora,
diante do justo receio de que seja realizada busca e apreensão diante a
proximidade de policiais, bem como do “fumus boni iuris”, diante das
reiteradas manifestações, constantes dos autos, no sentido da licitude
da atividade”.

(Juízo de Direito da Comarca de Iguape/SP - 1ª Vara - Cartório do 1º


ofício cível - juiz de Direito Titular Dr. Caramuru Afonso Francisco -
Medida Cautelar com Pedido de Liminar - Proc. nº 426/95).

“(...) com a edição da Constituição Federal de 1988 pretendeu-se, sem


dúvida, pôr termo a um regime autoritário e antidemocrático, com a
revogação de todas as normas que lhe davam tal feição, estabelecendo-
se um regime democrático, sem qualquer restrição às liberdades
individuais e coletivas de manifestação do pensamento, notadamente
manifestações e atividades culturais, consoante se vê dispositivos acima
mencionados.

Não há como negar que o Decreto-lei nº 236, de 28.02.67, editado no


auge do regime autoritário, modificando o Código Brasileiro de
Telecomunicações e estabelecendo sanções criminais no caso de
instalação ou utilização de aparelhos de telecomunicações, visava
cercear a manifestação do pensamento e a veiculação de qualquer
forma de atividade cultural, para desta forma exercer o pleno controle
da sociedade, levando-a a absorver somente as informações de interesse
do regime e dos grupos que representava”.

(Poder Judiciário - Justiça Federal - 4ª Vara Criminal da Justiça


Federal/SP - Juiz Federal Dr. Casem Mazioum - Proc. nº 91.0101021-
2).’ ‘

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. CONVENÇÃO INTERNACIONAL. RÁDIO


COMUNITÁRIA. SEGURANÇA CONCEDIDA.

1. Por ser o Brasil signatário do Pacto de São José da Costa Rica, que
integra o ordenamento jurídico nacional por força do Decreto nº
678/92, não pode a União, via Delegacia Regional do Ministério das
Comunicações, coibir o funcionamento de Rádios Comunitárias, sob
pena de estar violando o art. 5º, inciso IX e § 2º da Constituição de
1988.

II - Ao assegurar que é da competência do Poder Executivo “outorgar e


renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de
radiodifusão sonora e de sons e imagens” (art. 223, caput), está a
Constituição Federal disciplinando a conduta do Estado para com o
segmento empresarial das comunicações sociais. Não são destinatárias
da mencionada regra constitucional as atividades de radiodifusão extra-
empresariais ou não-oficiais, tais como as nominadas Rádios
Comunitárias, expedidoras de sinais de baixa frequência e curto
espectro.

(JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA - SEÇÃO JUDICIÁRIA


DO RIO GRANDE DO NORTE - 5ª VARA - AÇÃO DE MANDADO DE
SEGURANÇA - Nº 96.1996-7 - IVAN LIRA DE CARVALHO - JUIZ
FEDERAL).

Como ficou patente, as rádios comunitárias são uma


exigência do mundo atual. Com efeito, a malha de emissoras de médio
ou grande porte existente em todo o território nacional, não se presta a
servir as pequenas comunidades do interior ou aos bairros das grandes
cidades com a mesma eficiência e espírito de atendimento. E isto é
bastante natural porque as emissoras de rádio e televisão existem para
atender a um público bastante maior e diversificado.

A legislação que agrida a liberdade de imprensa, em seu


sentido genérico, é suspeita aos olhos de uma nação livre e
democrática. Sendo suspeita, merece exame atento pelo judiciário, no
aspecto da sua recepção face à Constituição (regra matriz), que é mãe e
fonte de validade de todas as normas inferiores (periféricas).

Assim, à luz dos princípios constitucionais erigidos como


colunas mestras da democracia e do desenvolvimento de uma nação
livre, com total garantia da preservação da iniciativa privada e liberdade
civis, não pode, jamais, ser considerado crime a abertura e o
funcionamento das rádios comunitárias.

Dessa forma, a criação de rádio não pode tipificar, por si só, a


prática de crime. Eventualmente, o abuso das faixas de potência é que,
podem vir a configurar algum ilícito, se assim estiver tipificado em lei.
Portanto, não constitui a atividade informativa qualquer crime.

Nesse sentido, o dispositivo incriminador mencionado no art.


70, da Lei 4.117/62, não foi recepcionado pela Constituição atual.
Perdeu, portanto, sua vigência. Seu valor atual e, juridicamente,
nenhum.

DOS PRESSUPOSTOS DA MEDIDA LIMINAR


A medida ora pleiteada comporta prestação preliminar, o que
desde já se requer, eis que presente todos os pressupostos necessários
para o deferimento mesma.

A plausibilidade jurídica da concessão da liminar encontra-se


devidamente caracterizada na presente. O fumus boni iuris foi
devidamente demonstrado pelos elementos fáticos e jurídicos trazidos à
colação e a incidência do periculum in mora reside no fato de que
grave prejuízo moral e psicológico poderá sofrer o paciente, cidadão
trabalhador e cumpridor de seus deveres, se preso .... e fechado a rádio.

O periculum in mora repousa, ainda, no prejuízo que o


fechamento sumário da rádio acarretará para a comunidade local, que
ficará privada de ouvi-la, quando se sabe da enorme importância deste
veículo de comunicação na divulgação de informações para as pequenas
comunidades interioranas.

DO PEDIDO

Como ficou devidamente consignado, a eventual prisão do


paciente não encontrará guarida no ordenamento jurídico em vigor e,
assim, se revestirá de flagrante ilegalidade.

Diante desses fatos, requer de digne Vossa Excelência em


conceder o salvo-conduto, a fim de que as autoridades encarregadas de
fiscalizar o funcionamento de rádio comunitária se abstenham de
atentar contra a liberdade de locomoção do paciente, e que fiquem
impedidas de apreenderem os equipamentos respectivos.

JUSTIÇA!

T. em que

Pede deferimento

Cidade ( ), de de 1997

Advogado/impetrante

III - Habeas Corpus. Para trancamento de Inquérito Policial ou Ação


Penal em Curso

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DE ...... ou

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DO


TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DE ........

FULANO DE TAL, brasileiro, estado civil, profissão, residente


e domiciliado à , vem à presença de Vossa Excelência, com apoio no
art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal e nos termos dos arts. 647 e
648, I do Código de Processo Penal, impetrar a presente ordem de

HABEAS CORPUS

com pedido de liminar

em favor de SICRANO DE TAL, brasileiro, estado civil,


profissão, portador da CI nº , residente e domiciliado à ....., na cidade
de , pelas razões de fato e de direito a seguir delineadas.

DOS FATOS

O paciente responde ao inquérito policial em ou está sendo


processado pela Vara Federal , por manter em funcionamento a
Rádio Comunitária , tudo conforme a legislação em vigor.

A rádio comunitária funciona há mais de , utilizando


da frequência . A sua constituição foi devidamente noticiada e
comunicada às autoridades do município, bairro etc...

Descrever outros fatos

DA INVIABILIDADE DO SUPORTE JURÍDICO ERIGIDO PARA A


ABERTURA DE INQUÉRITO OU PROPOSIÇÃO DE AÇÃO PENAL

A autoridade responsável pelo inquérito ou Ação Penal ,


fundamenta-se no art. 70, da lei 4.117/62, que prescreve:

“Constitui crime punível com a pena de detenção de um a dois anos,


aumentada da metade se houver dano a terceiro, a instalação ou
utilização de telecomunicações, sem observância do disposto nesta lei e
nos regulamentos”.

É portanto, o delegado de polícia federal de ou o Juiz


Federal de , a autoridade coatora no presente caso.

Diferentemente do fundamento invocado para se perpetrar a


ilegalidade, entende-se que as rádios comunitárias, não se abarcam no
campo de incidência dos citados dispositivos legais. Com a promulgação
da Emenda Constitucional nº 8, de 15 de agosto de 1995, as normas da
lei 4.117/62, no que dizem respeito à classificação e natureza das
emissoras de rádio e televisão, por não estarem mais albergadas pelo
conceito de telecomunicações, não mais se aplicam por terem perdido
sua fundamentação material. De outra forma, com a alteração
constitucional, as rádios comunitárias estão plenamente previstas e
asseguradas na Constituição.
Ademais, o Código Brasileiro de Telecomunicações não
regulamenta em nenhum momento, a potência das emissoras. Se não
prevê a existência das rádios comunitárias, por outro lado também nele
não se encontra proibição quanto à baixa potência que apresente. Por
outro lado, os serviços de radiodifusão de caráter local, que encontram
regulamentação no Código, não se confundem de forma com as rádios
comunitárias. Estas apresentam âmbito de divulgação sonora bem mais
restrito.

Enganou-se, dessa forma, a autoridade coatora. Não há


ilicitude nas atividades das rádios comunitárias. Estas, na verdade, se
constituem na vigente ordem jurídica e social, em um imperativo social,
decorrente da necessidade de informação, de natureza local e de veículo
de ordem cultural.

ATENÇÃO .... NOVA FUNDAMENTAÇÃO

De qualquer sorte Excelência, a celeuma jurídico-repressiva


existente em torno do funcionamento da emissoras de Rádiodifusão
Comunitária agora perde relevo, tendo em vista a edição e promulgação
da Lei nº 9.612, de 19 de fevereiro de 1998 que instituiu o Serviço de
Radiodifusão Comunitária.

Com efeito, a referida lei, regulamentada pelo Decreto nº


2.615, de 3 de junho de 1998 e pela Portaria do Ministério das
Comunicações de nº 191, de 6 de agosto de 1998, veio explicitar os
Comandos democráticos já prescritos no texto da Carta da República,
mas, sobretudo, atender aos anseios de cidadania da população
brasileira, afastando, porquanto, as injustas e ilegais posturas
autoritárias ainda adotadas pela fiscalização do Ministério das
Comunicações e pelo Departamento de Polícia Federal.

Nesse sentido, a Rádio ...., em consonância com o


mencionado comando normativo, já encaminhou .... ou está
encaminhando .... ou já tem autorização do poder público para operar
emissora de Rádiodifusão Comunitária, não havendo, portanto, justa
causa ou razão plausível para a atitude arbitrária e abusiva da
autoridade coatora indicada.

Outros fatos julgados pertinentes em face da nova lei........

.........................

DO DIREITO

A Constituição Federal prescreve:

“Art. 5º, inciso IX: É livre a expressão da atividade intelectual, artística,


científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
“Art. 215: O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos
culturais e acesso às fontes de cultura nacional, e apoiará e incentivará
a valorização e difusão das manifestações culturais”.

Outros dispositivos legais vão na mesma esteira da licitude


do funcionamento da rádio comunitária e, por conseguinte, de
encontro à ilegalidade da prisão do ora paciente.

“O Decreto nº 52.026, de 20 de maio de 1963, aprovou o Regulamento


Geral para a execução da Lei 4.117, de 27 de agosto de 1962, em 80
artigos”;

”O Decreto 52.795, de 31 de outubro de 1963, aprovou o Regulamento


dos Serviços de Radiodifusão, em 185 artigos. Repetindo, no art. 171, o
crime previsto no art. 70, da lei 4.117, preceituando que seria crime a
instalação de equipamento de radiodifusão ou a sua utilização sem
observância da lei 4.117/62, e seus regulamentos, com claro
desrespeito ao art. 1º do Código Penal de 1940”.

“O Decreto 678, de 6 de novembro de 1992, que promulgou a


Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da
Costa Rica), de 22 de novembro de 1969, determinou em seu art. 1º:

“A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da


Costa Rica), celebrada em São José da Costa Rica em 22 de novembro
de 1969, apensa por cópia ao presente decreto, deverá ser cumprida tão
inteiramente como nela se contém”.

O que contém esta Convenção?

Art. 13. Liberdade de pensamento e de expressão

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de


expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e
difundir informações e idéias de toda natureza, sem consideração de
fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou
artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.

2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode


estar sujeito a censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que
devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessárias para
assegurar:

a) o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou

b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde


ou da moral públicas.
3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios
indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de
papel de imprensa, de freqüências rádio-elétricas ou de equipamentos e
aparelhos usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros
meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de idéias e
opiniões.

4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia,


com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral
da infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2.

A convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José


da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969, promulgada no Brasil pelo
Decreto 678 de 6 de novembro de 1992, e em face do Decreto legislativo
nº 27, de 26 de maio de 1992, do Congresso Nacional, passou a valer
como lei interna do Pais”.

Lei nº 9.612, de 19 de fevereiro de 1998, que institui o Serviço


de Radiodifusão Comunitária e dá outras providências.

Art. 1º Denomina-se Serviço de Radiodifusão Comunitária a


radiodifusão sonora, em frequência modulada, operada em baixa
potência e cobertura restrita, outorgada a fundações e associações
comunitárias, sem fins lucrativos, com sede na localidade de prestação
de serviço. (...)”

Decreto nº 2.615, de 3 de junho de 1998, que Aprova o


Regulamento do Serviço de Radiodifusão Comunitária, e Portaria nº 191,
de 6 de agosto de 1998, que traz Norma Complementar do Serviço de
Radiodifusão Comunitária.

DA POSIÇÃO DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL VIGENTE ANTES


MESMO DA EXISTÊNCIA DA LEI QUE INSTITUIU O SISTEMA DE
RÁDIO DIFUSÃO COMUNITÁRIA

A Justiça Federal, por diversas decisões de seus magistrados,


posicionou-se no sentido de acompanhar o trem da democracia,
seguindo os ventos que apontam para um futuro de plena liberdade em
nosso país. São alguns trechos de acórdãos:

“R.A. Defiro “inaudita altera parte” a medida liminar para o fim de


impedir a busca e apreensão de equipamentos e bens da emissora,
diante do justo receio de que seja realizada busca e apreensão diante a
proximidade de policiais, bem como do “fumus boni iuris”, diante das
reiteradas manifestações, constantes dos autos, no sentido da licitude
da atividade”.
(Juízo de Direito da Comarca de Iguape/SP - 1ª Vara - Cartório do 1º
ofício cível - juiz de Direito Titular Dr. Caramuru Afonso Francisco -
Medida Cautelar com Pedido de Liminar - Proc. nº 426/95).

“(...) com a edição da Constituição Federal de 1988 pretendeu-se, sem


dúvida, pôr termo a um regime autoritário e antidemocrático, com a
revogação de todas as normas que lhe davam tal feição, estabelecendo-
se um regime democrático, sem qualquer restrição às liberdades
individuais e coletivas de manifestação do pensamento, notadamente
manifestações e atividades culturais, consoante se vê dispositivos acima
mencionados.

Não há como negar que o Decreto-lei nº 236, de 28.02.67, editado no


auge do regime autoritário, modificando o Código Brasileiro de
Telecomunicações e estabelecendo sanções criminais no caso de
instalação ou utilização de aparelhos de telecomunicações, visava
cercear a manifestação do pensamento e a veiculação de qualquer
forma de atividade cultural, para desta forma exercer o pleno controle
da sociedade, levando-a a absorver somente as informações de interesse
do regime e dos grupos que representava”.

(Poder Judiciário - Justiça Federal - 4ª Vara Criminal da Justiça


Federal/SP - Juiz Federal Dr. Casem Mazioum - Proc. nº 91.0101021-
2).’ ‘

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. CONVENÇÃO INTERNACIONAL. RÁDIO


COMUNITÁRIA. SEGURANÇA CONCEDIDA.

1. Por ser o Brasil signatário do Pacto de São José da Costa Rica, que
integra o ordenamento jurídico nacional por força do Decreto nº
678/92, não pode a União, via Delegacia Regional do Ministério das
Comunicações, coibir o funcionamento de Rádios Comunitárias, sob
pena de estar violando o art. 5º, inciso IX e § 2º da Constituição de
1988.

II - Ao assegurar que é da competência do Poder Executivo “outorgar e


renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de
radiodifusão sonora e de sons e imagens” (art. 223, caput), está a
Constituição Federal disciplinando a conduta do Estado para com o
segmento empresarial das comunicações sociais. Não são destinatárias
da mencionada regra constitucional as atividades de radiodifusão extra-
empresariais ou não-oficiais, tais como as nominadas Rádios
Comunitárias, expedidoras de sinais de baixa frequência e curto
espectro.

(JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA - SEÇÃO JUDICIÁRIA


DO RIO GRANDE DO NORTE - 5ª VARA - AÇÃO DE MANDADO DE
SEGURANÇA - Nº 96.1996-7 - IVAN LIRA DE CARVALHO - JUIZ
FEDERAL).
Como ficou patente, as rádios comunitárias são uma
exigência do mundo atual. Com efeito, a malha de emissoras de médio
ou grande porte existente em todo o território nacional, não se presta a
servir as pequenas comunidades do interior ou aos bairros das grandes
cidades com a mesma eficiência e espírito de atendimento. E isto é
bastante natural porque as emissoras de rádio e televisão existem para
atender a um público bastante maior e diversificado.

A legislação que agrida a liberdade de imprensa, em seu


sentido genérico, é suspeita aos olhos de uma nação livre e
democrática. Sendo suspeita, merece exame atento pelo judiciário, no
aspecto da sua recepção face à Constituição (regra matriz), que é mãe e
fonte de validade de todas as normas inferiores (periféricas).

Assim, à luz dos princípios constitucionais erigidos como


colunas mestras da democracia e do desenvolvimento de uma nação
livre, com total garantia da preservação da iniciativa privada e liberdade
civis, não pode, jamais, ser considerado crime a abertura e o
funcionamento das rádios comunitárias.

Dessa forma, a criação de rádio não pode tipificar, por si só, a


prática de crime. Eventualmente, o abuso das faixas de potência é que,
podem vir a configurar algum ilícito, se assim estiver tipificado em lei.
Portanto, não constitui a atividade informativa qualquer crime.

Nesse sentido, o dispositivo incriminador mencionado no art.


70, da Lei 4.117/62, não foi recepcionado pela Constituição atual.
Perdeu, portanto, sua vigência. Seu valor atual e, juridicamente,
nenhum.

DOS PRESSUPOSTOS DA MEDIDA LIMINAR

A medida ora pleiteada comporta prestação preliminar, o que


desde já se requer, eis que presente todos os pressupostos necessários
para o deferimento mesma.

A plausibilidade jurídica da concessão da liminar encontra-se


devidamente caracterizada na presente. O fumus boni iuris foi
devidamente demonstrado pelos elementos fáticos e jurídicos trazidos à
colação e a incidência do periculum in mora reside no fato de que a
qualquer momento o paciente, de forma ilegal poderá a vir sofrer com
uma eventual medida policial ou judicial, ferindo seu direito de
liberdade ou mesmo, sofrendo prejuízos em face de eventual apreensão
de equipamentos.

O periculum in mora repousa, ainda, no prejuízo que o


fechamento sumário da rádio acarretará para a comunidade local, que
ficará privada de ouvi-la, quando se sabe da enorme importância deste
veículo de comunicação na divulgação de informações para as pequenas
comunidades interioranas.

DO PEDIDO

Diante desses fatos, requer se digne Vossa Excelência em


conceder liminarmente a ordem de habeas corpus para determinar o
trancamento do inquérito noticiado ou da ação penal nº ... em curso na
.....Vara Federal, por não constituir crime o fato (falta de justa causa),
devendo a autoridade coatora proceder à restituição dos aparelhos
transmissores e, ainda, abastar-se da prática de qualquer ato que
impeça o funcionamento da rádio.

JUSTIÇA!

T. em que

Pede deferimento

Cidade ( ), de de 2004

Advogado/impetrante

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