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ANÁLISE DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE OS DANOS


PSICOLÓGICOS CAUSADOS AOS ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO

Felipe Corrêa Gomes


Matheus Torres Santana
Acadêmicos do Curso de Educação Física/UEPA

Introdução

O esporte de alto nível é um dos maiores fenômenos sociais atingindo


diretamente ou indiretamente todos os segmentos, sejam de ordem econômica,
educacional, científica, entre outras. “A teoria é que quanto mais treinamento houver,
melhor; você tem que começar a treinar cedo e deve fazê-lo o ano inteiro se quiser
competir em alto nível” (WEINBERG; GOULD, 2008, p. 508).
Porem, esse modelo que há muitos anos é sinônimo de saúde, oculta uma
realidade contraditória. Isto porque durante anos nos foi imposto à ideia de que a
prática e o treinamento do esporte de alto rendimento, em que se atinge o máximo
dos limites físicos dos atletas, acabam impactando em ganhos no que se refere à
saúde física desses praticantes.
Entretanto, a saúde não deve ser relacionada somente ao aspecto biológico
ou físico do ser humano, é preciso ter uma visão mais ampla e levar em
consideração os aspectos emocionais e psicológicos desse atleta e entender que a
questão da saúde mental esta atrelada ao esporte tanto quanto a saúde física e
biológica.
Portanto, nesta pesquisa de cunho bibliográfico, vamos dar ênfase neste
vasto assunto que vem sendo discutido corriqueiramente nos dias atuais. Este
trabalho tem como objetivo evidenciar os impactos negativos e problemas
psicológicos causados pela prática de esportes de alto desempenho.
Iremos considerar que o esporte de alto rendimento é aquele no qual o
individuo participa regularmente em competições esportivas, com treinos exaustivos,
sendo o objetivo principal obter recordes e conquistas reconhecidas mundialmente.
O atleta deve manter sempre o seu rendimento máximo com treinamentos de seis a
oito horas por dia, com vistas à superação constante de desafios, ou seja, o fator
esporte como uma prática que transcende os limites físicos do corpo.

Metodologia
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A produção cientifica a ser apresentada é uma revisão bibliográfica da


literatura. Foram selecionados 4 artigos encontrados na plataforma Google
Acadêmico e na SciELO. Para delimitar alguns aspectos da pesquisa foram
utilizados filtros fornecidos pela própria plataforma como: O período de produções
em 10 anos que vai de 2011 a 2021; Artigos apenas em português e algumas
citações de pensadores estrangeiros; Palavras-Chave usadas para a pesquisa
foram: Atletas, Esportes de alto rendimento, psicológico, desempenho, saúde
mental, prejudicar, estresse e performance. Foram obtidos 15.800 artigos que
mencionavam essas palavras, dos quais 15.796 foram descartados por não se
adequar ao tema proposto, por não ter um aprofundamento na pesquisa, fontes
escassas ou que não foram analisados pela falta de tempo e disponibilidade dos
pesquisadores.

Na tabela abaixo, foram colocadas e organizadas as informações referentes


aos artigos selecionados, como os autores, ano de publicação, título e plataforma ou
veículo de publicação. Todos esses documentos estão relacionados aos Danos
psicológicos causados aos atletas de alto rendimento, no qual eles discutem e
observam essa relação, suas causas e consequências e possíveis soluções.

Tabela 1: Contém os artigos usados, organizados por ano, autor, título e plataforma
ou revista.

AUTOR (ES) TÍTULO ANO PLATAFORMA REVISTA


CIENTÍFICA
MEDEIROS, Lesão e dor no Revista da
Clarice atleta de alto 2016 Google Faculdade de
rendimento: o acadêmico Ciências
desafio do humanas e da
trabalho da saúde PUC-SP
psicologia do
esporte.
VERARDI,
C. E. L.; et Esporte, Stress e Estudos de
al. Burnout 2012 SciELO Psicologia
(Campinas)
Volume: 29
Número: 3
OLIVEIRA, Síndrome de Revista da
Fernanda et Burnout e 2021 Google Faculdade de
al. sofrimento em acadêmico Ciências
atletas de alto humanas e da
rendimento no saúde PUC-SP
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esporte brasileiro.
FRADES, Adoecimento Revista
Luane et al. psíquico em 2020 Google educação,
atletas de alto acadêmico psicologia e
rendimento: a interfaces
importância da
psicologia do
esporte.
Fonte: elaboração própria

CAPÍTULO I: PROBLEMAS PSICOLÓGICOS QUE PODEM AFETAR O


DESEMPENHO DO ATLETA.

A condição emocional mencionada é a relação do atleta que além de conviver


com intensas pressões por parte do técnico e da torcida vive um cotidiano com altas
doses de treino físico, tático e técnico, e com isso, vem as dores e lesões que os
mesmos têm de superar para alcançar seus objetivos, além disso, o psicológico
desses atletas é afetado por fracassos e desilusões no esporte, no qual seu objetivo
não foi alcançado. A saúde mental pode ser afetada pela própria cobiça por
medalhas, o atleta faz uma pressão sob si mesmo para ter reconhecimento e
consequentemente, isso causa repercussão e atrai melhores investimentos e
patrocínios, além de melhores condições de treinamento, dessa forma aumenta suas
responsabilidades.

A mídia também interfere de forma negativa na saúde psíquica desses


atletas, ou seja, quando um atleta profissional esta no seu auge, o mesmo passa a
ser mais conhecido, dessa forma ocorre uma intensa divulgação em cima desse
profissional, isso gera um sensacionalismo que pressiona ainda mais o atleta a obter
bons resultados. Outra questão que tem de ser levado em consideração e a família,
provavelmente os atletas passam meses sem ter contato com seus familiares e
amigos e se sentem fragilizados com este isolamento e acabam entrando em
depressão.

A depressão no esporte advém de vários fatores que levam esses atletas ao


adoecimento. As causas mais comuns da depressão nos atletas são: personalidade
do atleta, ansiedade, baixa autoestima, fracasso, lesão física, mudanças de
comportamento, auto cobrança, problemas afetivos, perda de prestígio ou da
posição de titular, baixo rendimento, dentre outras causas. A ansiedade esportiva
também é um fator importante que pode interferir de forma significativa no
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desempenho de um atleta. Ela pode vir a ser um desafio ou uma ameaça segundo a
percepção e estado psicológico de cada atleta. Porém, quando identificada como um
fator de interferência significativa no desempenho, a ansiedade é uma das variáveis
que mais afetam o rendimento do atleta. Por sua relação ao medo de falhar, esse
fator possui grande influência.

Outro fator que pode prejudicar o desempenho de um atleta profissional é o


estresse. Lipp (2003, p.18) define “stress” como uma reação psicofisiológica muito
complexa que tem em sua gênese a necessidade do organismo fazer em face de
algo que ameace sua homeostase interna”. O estresse presente no cotidiano de
atletas pode ocasionar um decréscimo no desempenho e em casos mais graves o
abandono das competições. Em situações mais intensas, o atleta pode interromper a
prática esportiva por tempo indeterminado. O estresse crônico pode levar o
desenvolvimento da síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento
Profissional, que é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão
extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho
desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade. Para
atletas, a exaustão profissional pode ser decorrente das demandas do treinamento e
das competições, e pode estar associada à “percepção de baixo desempenho
profissional em termos de habilidades e rendimento esportivo” (Raedeke, 1997,
p.397). A principal causa do Burnout é justamente o excesso de treino intensivo e é
comum em atletas que atuam diariamente sobre pressão e com responsabilidades
constantes. No âmbito do esporte pode ser desenvolvida por fatores físicos, sociais
e de metas estabelecidas, e representam uma junção de treinamentos e
competições desgastantes com os sentimentos de ansiedade e medo aflorados.

Quando levado em consideração a saúde de uma maneira mais ampla, o


entendimento que se deve ter, permite que os fatores biológicos e psicológicos de
um atleta que pratica esporte de alta performance deve ser levado em conta, em
conjunto com outras variáveis geralmente desconsideradas como, lesões,
desilusões, pressões, cobiça, sensacionalismo, isolamento social, expectativa
gerada pela mídia e dificuldade de adaptação, quando se muda o local de treino por
exemplo.
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CAPÍTULO II: IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA ESPORTIVA PARA A SAUDE


MENTAL DOS ATLETAS

Diante de tantos problemas psicológicos causados aos atletas e a


interferência desses problemas no desempenho dos mesmos, houve a necessidade
de ajudar e entender melhor o lado humano dos atletas que, até então, era deixado
de lado e encarado como forma de fraqueza e de superação dessa fraqueza, e não
como um problema ou dificuldade psicológica, a pouca percepção sugeria que o
problema era apenas físico e não psíquico. Procurou-se então uma forma de
tratamento mais aprofundado e especializado na área da saúde mental, a psicologia
do esporte. A psicologia do esporte enquanto área de conhecimento encontrou-se,
por muito tempo, na divisa entre a Psicologia e a Educação Física, entre os limites
do rendimento humano e as atividades motoras básicas. A alta competitividade e o
alto rendimento técnico, tático e físico alcançado com o passar dos anos pelos
atletas, graças a avanços nas áreas da medicina, fisiologia e biomecânica do
esporte, fez com que o nível das competições fosse elevado tornando a disputa mais
equilibrada.

Dessa forma, o fator emocional foi considerado um diferencial muito


importante na hora de grandes decisões. A psicologia do esporte tem como objetivo,
o estudo e a intervenção junto ao ser humano envolvido com a prática de atividade
esportiva competitiva. Esses estudos podem englobar os processos de avaliação, as
práticas de intervenção ou a análise do comportamento social que se apresenta na
situação esportiva a partir da perspectiva de quem pratica esportes de alto
rendimento. A psicologia esportiva é a transposição da teoria e da técnica das várias
especialidades da psicologia para o contexto esportivo. Proporcionar aos atletas um
cuidado psicológico é tão essencial quanto lhes oferecer uma alimentação adequada
e treinamentos constantes. Da mesma forma que os aspectos relacionados a
técnica, a tática e ao físico são trabalhados, o fator psicológico também pode ser
treinado a fim de se tornar um aliado durante a vida de um atleta. Para Becker
(1998), oferecer aos atletas, um apoio psicológico é tão importante quanto lhes
fornecer uma alimentação balanceada, programada por nutricionistas. Afinal, o corpo
físico e o mental são as duas faces de uma mesma unidade e merecem igual
atenção.
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A preparação psicológica é de suma importância tanto quanto a preparação


física, técnica e tática. Araújo (2002) acredita que os especialistas em Psicologia do
Esporte devem estar empenhados em melhorar o desempenho dos atletas, em
aconselhá-los, reabilitá-los de lesões e promover o exercício físico para melhorar a
saúde dos indivíduos. Outro aspecto a destacar no papel do psicólogo esportivo é o
da comunicação entre os grupos esportivos e os psicólogos . Em algumas ocasiões
extremas, o equilíbrio psicológico é considerado mais importante que outros fatores,
já que algumas perturbações podem abalar o competidor de tal forma que sua
performance seja afetada. O treinamento psicológico consiste em um importante
aliado para o desenvolvimento do atleta e é realizado pelo profissional da área da
psicologia esportiva. O foco principal é desenvolver maior equilíbrio psicológico do
competidor para uma melhora na sua atuação dentro da competição, sendo que a
atuação também deve existir na sua vida pessoal. Como o esporte está se
desenvolvendo de forma constante, os mínimos detalhes são cada vez mais
diferenciais dentro de competições de alto nível, é esperado então, que o nível do
esporte e das competições permaneça em crescimento, demonstrando que seus
limites sempre poderão ser quebrados. É evidente, também, que a inclusão da
preparação psicológica dentro dos treinamentos é importante justamente para agir
como modeladora dos fatores emocionais. Portanto, como dentro da psicologia os
padrões devem ser analisados minuciosamente, a aplicação de algum tipo de
treinamento necessita de uma dedicação personalizada por parte do profissional.

No Brasil, embora a psicologia do esporte pareça um novo ramo dentro da


psicologia em geral, talvez o que seja novo é atenção das pessoas para com esta
área, Poucos acervos são encontrados na literatura brasileira quando se trata de
investigar as faces do esporte, salientando a importância de grandes reflexões e
argumentações sobre esse episódio. Esta área já vem sendo estudada há muitos
anos, o que ocorre é que há certa escassez de profissionais especializados nesta
área de atuação, muitas vezes por falta de investimentos que acarreta também em
uma desvalorização destes profissionais. Isso gera certa dificuldade de debate sobre
esse tema enquanto profissão e prejudica o seu avanço cientifico.

CONCLUSÃO:
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O esporte tomou proporções globais enormes, e isso se deve aos meios de


comunicação que tornaram muito mais acessível o consumo deste que se tornou um
produto valiosíssimo de entretenimento, que movimenta muito a economia local e
global, por meio dos investimentos, alcance, e principalmente por seus
competidores, os atletas que buscam sempre melhor sua performance e alcançar o
top da competição, entretanto como foi observado nos trabalhos pesquisados, todo
esse glamour, competitividade e emoção que o esporte e a mídia transmite, camufla
uma realidade que existe a muito tempo, porém, somente agora está ganhando
espaço em debates e estudos, a saúde mental de quem proporciona todo esse
espetáculo.

Os atletas passam por mudanças abruptas, mudanças físicas e psicológicas,


aquelas que não podemos perceber tão facilmente, ocasionadas por toda a pressão
mental que o mundo faz sobre aquele atleta, bem como ele se pressiona, para não
decepcionar seus fãs ou familiares que confiam em suas habilidades. Como
exemplo, o caso da Simone Biles que recentemente em uma competição de escala
mundial, desistiu de competir as finais em algumas modalidades por alegar não
estar preparada psicologicamente para competir naquele momento, a diferença é
que essa pessoa é considerada a mais completa e melhor do mundo em sua
modalidade. Logo, nota-se que como foi apontada nos estudos, a introdução da
psicologia no esporte é de fundamental importância para proteger e prevenir
situações semelhantes a esta, que estão cada vez mais recorrentes e tendo
repercussão pelo mundo, para evitar essas lesões psicológicas que podem deixar
sequelas mais tarde.

A utilização desse método da psicologia voltada para o esporte, pode ser


utilizado para tratar, mas principalmente evitar que esses casos se agravem, com
conversas ou observações mais profundas de hábitos cotidianos, como na
alimentação, na concentração, na aptidão e desenvolvimento, em prol de obter
informações e identificar possíveis desvios que podem indicar algum problema ou
dificuldade que não seja evidente, visível.
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REFERÊNCIAS:

Araújo, D. (2002). Definição e história da psicologia do desporto. Em Serpa,


S. e Araújo, D. Psicologia do Desporto e do Exercício (p. 9-51). Lisboa: FMH
Edições.

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Feevale, 1998.

Educação, Psicologia e Interfaces, Volume 4, Número 3, p. 1-16,


julho/setembro, 2020. +

FRADES, Luane de Jesus, et al. Adoecimento psíquico em atletas de alto


rendimento: a importância da Psicologia do Esporte. Educação, Psicologia e
Interfaces, v. 4, n. 4, p. 1-16, 2020.

Lipp, M. E. N. (2003). Mecanismos neuropsicofisiológicos do

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MACEDO, Fernando Luiz; ROBERTO, Thayna Gonçalves. A importância e os


benefícios da psicologia do esporte: revisão da literatura. Revista Interciência,
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https://www.fafica.br/revista/index.php/interciencia/article/view/269/43
Acesso em: 14/11/2021

MEDEIROS, Clarisse. Lesão e dor no atleta de alto rendimento: o desafio do


trabalho da psicologia do esporte. Psicologia Revista, Rio de Janeiro, RJ, v.
25, n. 2, p. 355–370, 2016. Disponível em:
9

https://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/view/26235 Acesso
em: 10 out. 2021.

OLIVEIRA, Fernanda Santos de; PEDROZA, Regina Lúcia Sucupira.


Síndrome de Burnout e sofrimento em atletas de alto rendimento no esporte
brasileiro. Psicologia Revista, v. 30, n. 1, p. 226–244, set. 2021. Disponível
em: https://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/view/44411 Acesso
em: 10 out. 2021.

Pedagogia do esporte: livro didático aplicado aos jogos esportivos coletivos.

Motriz, v. 16, n. 3, p. 751-761, jul./ set., 2010. Disponível em:

< http://www.scielo.br/pdf/motriz/v16n3/a24v16n3.pdf> +

RAEDEKE, T. D. (1997). Is athlete burnout more than just +

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& Exercise Psychology, 19 (4), 396-417.

TAYLOR, S. E. (2009). Health psychology (7th ed.). Boston:

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VERARDI, Carlos et al. Esporte, stress e burnout. Estudos de Psicologia,


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https://doi.org/10.1590/S0103-166X2012000300001. Acesso em: 10 out.
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Vieira, Lenamar Fiorese et al. Psicologia do esporte: uma área emergente da


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em: <>. Epub 14 Set 2010. ISSN 1807-0329.

WEINBERG, R.S, & Gould, D. (2008).Fundamentos da psicologia do esporte


e do exercício. Porto Alegre, RS: Artmed. +

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