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Sebenta de Ótica Capítulo 2

Refração de raios luminosos por superfícies esféricas

2. Refração de raios luminosos por superfícies esféricas

Refração por uma superfície esférica – Dioptro Esférico

As componentes ópticas com superfícies esféricas são as mais comuns. As lentes são exemplos
de componentes limitadas por uma ou por duas superfícies esféricas.
A maneira de se obter uma superfície esférica, consiste em utilizar uma ferramenta esférica de
raio de curvatura igual ao da superfície esférica que se pretende obter e um disco de vidro, e
colocar um abrasivo entre ambos, e em seguida rodá-los ao acaso um sobre o outro. À medida
que o processo de desbaste avança, a superfície do vidro torna-se mais esférica. Actualmente
estas superfícies são produzidas por máquinas de desbaste e polimento.

Um dioptro é a superfície de separação de dois meios transparentes e homogéneos. Um


dioptro é esférico, quando a superfície de separação dos dois meios transparentes e
homogéneos é esférica.

2.1 Ótica de Gauss ou dos raios paraxiais de um dioptro esférico

Na figura 2.1, uma superfície esférica de raio r separa dois meios com índices de refração n1 e
n2. A recta definida pelos pontos P e P‘, que passa pelo centro C da superfície esférica, é o eixo
do dioptro. O ponto V é o vértice do dioptro que corresponde ao ponto de intersecção entre o
dioptro e o seu eixo.
Na figura 2.1 está representada a construção geométrica da imagem de um objeto P.

-i I

- i’
h
P β P’
-α V α'
H
C
r

-s s’

Fig. 2.1 Construção geométrica da imagem de um objeto pontual P

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Na construção geométrica são considerados dois raios quaisquer, emitidos pelo ponto P. O
primeiro raio tem uma direcção que coincide com o eixo do dioptro. O ângulo de incidência é
de 0º pois o raio coincide com a normal à superfície no ponto de incidência, não sofrendo este
feixe, alteração na sua trajectória.
A normal a uma superfície esférica num ponto, é uma linha imaginária perpendicular à
tangente que passa pela superfície nesse ponto; a normal (à tangente) a uma superfície
esférica num ponto é uma linha reta que passa pelo centro de curvatura da superfície e por
esse ponto. Na construção geométrica da imagem é necessário representar um segundo raio;
traça-se a normal à superfície no ponto de incidência e ao ser refractado para o segundo meio
faz-se o raio aproximar da normal (na sequência da lei de Snell - refração para um meio mais
refringente). O ponto imagem corresponde ao ponto de intersecção dos raios refractados pelo
dioptro. Neste caso a intersecção dos raios é directa sendo a imagem real.

Para determinar a distância (s’) da imagem ao vértice do dioptro e a distância (s) do ponto
objeto ao dioptro, vamos considerar apenas os raios paraxiais ou centrais, que são raios que
fazem com o eixo do dioptro e com a normal no ponto de incidência, ângulos pequenos,
respectivamente α e i, isto é, α ∼ 0 e i ∼ 0 (figura 2.1), de tal modo que matematicamente é
possível escrever as seguintes aproximações:

sen α ∼ tg α ∼ α e cos α ∼1 (2.1)

sen i ∼ tg i ∼ i e cos i ∼ 1 (2.2)

sen i’ ∼ tg i’ ∼ i’ e cos i’ ∼ 1 (2.3)

Para os raios paraxiais IH = IV, e portanto, o raio de curvatura r = CV ∼ CH, isto é, os pontos H e
V são coincidentes (figura 2.1).

Nestas condições, este sistema óptico dá de um ponto objeto P, um ponto imagem P’


perfeitamente localizado, isto é, dá uma imagem nítida de um objeto luminoso.
A lei de Snell, na óptica de Gauss (raios paraxiais), escreve-se, tendo em conta as aproximações
(2.2) e (2.3), como:
i n2
n1 i = n2 i' → = (2.4)
i' n1

Do triângulo Δ[PIC] da figura 2.1 conclui-se que −i = −α + β , ou seja:


i =α − β (2.5)

Da mesma forma para o triângulo Δ[P’IC], β = −i' + α ' , ou seja


i' = α ' − β (2.6)

Substituindo as equações (2.5) e (2.6) na equação (2.4) obtém-se:

n1 (α − β ) = n2 (α ' − β ) → n1α − n2α ' = (n1 − n2 ) β (2.7)

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Como α, β e α’ são ângulos muito pequenos:


h h
−α ≈ − tanα = → tanα = (2.8)
−s s

h h
β ≈ tan β = e α ' ≈ tanα ' = (2.9)
r s'

em que r = CI. Substituindo as equações (2.8) e (2.9) em (2.7) obtém-se

h h h
n1 − n2 = (n1 − n2 )
s s' r
ou então
n1 n2 n1 − n2
− = (2.10)
s s' r
ou seja
n2 n1 n2 − n1
− = (2.11)
s' s r

A equação (2.11) é a equação de Gauss para o dioptro esférico e relaciona a distância s (do
objeto ao dioptro), com a distância s’, da imagem ao dioptro esférico de raio r, que separa dois
meios homogéneos de índices de refração n1 e n2.
s, s’ e r têm as mesmas unidades (comprimento) e têm de ser consideradas as regras dos sinais
na sua substituição.

Fazendo o raio tender para infinito na equação (2.11) obtém-se a equação do dioptro plano,

n1 n2
= (2.12)
s s'

2.2 Focos e distâncias focais de um dioptro esférico


Entre os numerosos pontos do espaço objeto, há pontos infinitamente afastados. Os pontos
objeto infinitamente afastados emitem um feixe de raios paralelos que podem incidir numa
superfície esférica paralelamente ao eixo óptico.
A superfície esférica determina no espaço imagem, um ponto sobre o eixo que corresponde ao
ponto infinitamente afastado do espaço objeto, que se chama foco posterior ou foco imagem
F’ da superfície esférica, (fig. 2.2).

Foco posterior ou foco imagem F’ de uma superfície ótica, é o ponto de intersecção dos raios
refractados pela superfície, ou dos seus prolongamentos, quando estes raios resultam de raios
incidentes no espaço objeto, paralelos ao eixo ótico. Nas figuras 2.2a) e 2.2c) está
representada a construção geométrica do foco posterior F’, para um dioptro esférico, em que
o meio 1 apresenta índice de refração inferior ao do meio 2 (n1<n2). Como exemplo, o meio 1
pode ser o ar e o meio 2 o vidro.

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O dioptro da figura 2.2a) é um dioptro convexo à entrada da luz; o da figura 2.2c) é côncavo à
entrada da luz. Para a construção geométrica de F’, representam-se pelo menos dois raios que
incidam paralelamente ao eixo do dioptro.

Fig. 2.2 Focos e distâncias focais de superfícies convexas (a e b) e côncavas (c e d)

O plano que passa pelo foco posterior, e é perpendicular ao eixo óptico, chama-se plano focal
posterior. A distância focal posterior (f’) de uma superfície esférica é a distância do vértice da
superfície ao foco posterior, (fig. 2.2).

A distância focal posterior, representa-se por f’, e determina-se considerando na equação de


Gauss o objeto no infinito, isto é, fazendo s = −∞ e s' = f ' :

n2 n1 n2 − n1
− =
f ' −∞ r
o que é equivalente a
n2 n2 − n1
=
f' r
ou então

n2
f' = r (2.13)
n2 − n1

Além do foco posterior no espaço imagem, existe um foco no espaço objeto, chamado foco
anterior ou foco objeto F que é determinado por um feixe de raios paralelos, vindos de infinito
pelo espaço imagem, isto é, do lado direito do desenho que representa o sistema óptico. Esse
feixe de raios paralelos depois de ser refractado na superfície, converge sobre o eixo num
ponto do espaço objeto que é o foco anterior da superfície. A distância do vértice do dioptro
ao foco anterior chama-se distância focal anterior (f), encontrando-se assinalada nas figuras
2.2b) e 2.2d).

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A distância focal anterior determina-se, fazendo na equação de Gauss, s' = +∞ e s = f :

n2 n1 n2 − n1
− =
+∞ f r

n1 n2 − n1
− =
f r

A distância focal anterior é dada pela expressão:

n1 r
f= (2.14)
n2 − n1

O plano que passa pelo foco anterior, e é perpendicular ao eixo óptico, chama-se plano focal
anterior.

Combinando as equações (2.12), (2.14) e (2.11) é possível estabelecer uma relação entre a
distância focal anterior f e posterior f’:
n2 n1 n2 n
− = =− 1
s' s f' f
ou seja
f n
=− 1 (2.15)
f' n2

No seguimento deste capítulo, estudam-se as lentes esféricas. Uma lente esférica é uma
associação de dois dioptros esféricos ou de um esférico com um dioptro plano.

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