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FERNANDA DE ALMEIDA AZEVEDO SILVA

ALVENARIA ESTRUTURAL: INFLUÊNCIA DAS ABERTURAS NA


AÇÃO CONJUNTA ENTRE PAREDES E VIGAS

São Paulo
2017
2

FERNANDA DE ALMEIDA AZEVEDO SILVA

ALVENARIA ESTRUTURAL: INFLUÊNCIA DAS ABERTURAS NA


AÇÃO CONJUNTA ENTRE PAREDES E VIGAS

Monografia apresentada a Escola Politécnica


da Universidade de São Paulo para
obtenção de título de Especialização em
Gestão de Projetos de Sistemas Estruturais-
Edificações

São Paulo
2017
3

FERNANDA DE ALMEIDA AZEVEDO SILVA

ALVENARIA ESTRUTURAL: INFLUÊNCIA DAS ABERTURAS NA


AÇÃO CONJUNTA ENTRE PAREDES E VIGAS

Monografia apresentada a Escola Politécnica


da Universidade de São Paulo para
obtenção de título de Especialização em
Gestão de Projetos de Sistemas Estruturais-
Edificações

Área de concentração: Engenharia Civil

Orientador: Prof. Luiz Sérgio Franco

São Paulo
2017
4

AGRADECIMENTOS

Ao professor Luiz Sérgio Franco, pela orientação e indicação de materiais de estudo.

Ao MSc. Arthur Ribeiro Melão da Melão Engenharia, por toda atenção dedicada e
disponibilidade em ajudar e compartilhar conhecimentos.

A empresa Hernando e Targas Engenheiros Associados S/S LTDA, da qual tenho a


felicidade em poder fazer parte, pelo auxílio com o programa e pela oportunidade de
crescimento profissional diário.

Aos familiares, que colaboraram com constante estímulo e deram apoio e suporte
desde o início da especialização.

Aos amigos que compartilharam experiências e informações sobre o tema proposto.


E a todos que colaboraram direta ou indiretamente, na execução deste trabalho.
5

RESUMO

O que se desejou apresentar neste trabalho é um estudo sobre a alvenaria


estrutural, técnica construtiva que cresce cada vez mais no Brasil. Primeiramente é
apresentado um comparativo com outras técnicas presentes no mercado, mostrando
suas vantagens e desvantagens. Apresentaram-se considerações importantes sobre
essa técnica como o efeito arco e a influência de aberturas para sua concepção
estrutural. Baseado nisso, foram desenvolvidos modelos estruturais por meio de
software que simulassem o efeito arco e o caminho das cargas nas paredes de
alvenaria apoiadas em vigas de concreto armado. Foram inseridas aberturas, como
portas e janelas, a fim de ilustrar e possibilitar uma análise sobre o que ocorre na
estrutura com a consideração destas.

Palavras chave: Alvenaria estrutural. Efeito arco. Aberturas.


6

ABSTRACT

This monograph is about a study on the structural masonry, constructive technique


that increases in Brazil. First, comparisons with other techniques are presented,
highlighting their advantages and disadvantages. Important considerations about
structural masonry were presented, such as the arc effect and the influence of
openings for structural design. Based on this, structural models of masonry were
developed to simulate the arch effect and the loads path when it is supported on a
concrete structure. Openings, such as door and window, were inserted into the walls
in order to illustrate what happens in these structures and how they influence the
design.

Key words: Structural masonry. Arch effect. Openings.


7

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Coliseu. ............................................................................................................................... 16


Figura 2- Pirâmide de Gizé. .............................................................................................................. 17
Figura 3- Tabela de "Requisitos para resistência característica à compressão, absorção e
retração” da ABNT NBR6136: 2016. ............................................................................................... 18
Figura 4- Família- M15 (CONSTRUTENS) .................................................................................... 20
Figura 5- Família- M20 (FK comércio) ............................................................................................ 21
Figura 6- Exemplo de modulação e amarração entre fiadas (Catadicas). ................................ 21
Figura 7- Bloco J (Itaipu pré-moldados).................................................................................22
Figura 8- Bloco canaleta (Iporã blocos). ......................................................................................... 22
Figura 9- Exemplo de distribuição de carga exposto pela norma NBR 10837. ........................ 28
Figura 12- Alvenaria estrutural sobre pilotis de concreto armado (BARBOSA, 2000). ........... 30
Figura 10- Ensaio de espraiamento de cargas em estrutura bi-apoiada- (Andolfato, et. al.
2002). ................................................................................................................................................... 30
Figura 11- Ensaio de espraiamento de cargas em estrutura de apoio contínuo (Andolfato, et.
al. 2002). .............................................................................................................................................. 31
Figura 13- Ação parede-viga (HASELTINE; MOORE, 1981). ..................................................... 32
Figura 14- Delimitação do arco imaginário (RIDDINDTON; STAFFORD SMITH, 1978)........ 33
Figura 15- Distribuição de tensões na iteração viga-parede (BARBOSA, 2000). .................... 34
Figura 16- Esforços na viga- comparativo (BARBOSA, 2000).................................................... 34
Figura 17- Cálculo com carregamento equivalente (BARBOSA, 2000). ................................... 36
Figura 18- Exemplo de carregamento inserido (G) no SAP, exemplificando "extremidades" e
"centro" com cargas sobre a parede de alvenaria. ....................................................................... 40
Figura 19- Tabela de equações (BARBOSA, 2000). .................................................................... 42
Figura 20- Modelo da viga recebendo as mesmas cargas, sem auxílio da alvenaria............. 44
Figura 21- Tensão na viga sem considerar o efeito arco= 23,8 MPa ........................................ 44
Figura 22- Modelo de parede de alvenaria com viga de apoio de concreto com dimensão de
30x40. ................................................................................................................................................... 45
Figura 23- Deformada da parede com viga de apoio de 30x40.................................................. 46
Figura 24- Diagrama de tensões na direção x (S11). ................................................................... 47
Figura 25- Valor da tensão máxima em x para a viga de concreto= 4,6 MPa.......................... 47
Figura 26- Diagrama de tensões na direção y (S22). ................................................................... 48
Figura 27- Valor da tensão máxima em y na alvenaria= 5,7 MPa. ............................................ 48
Figura 28- Abertura de janela em viga de apoio de 30x40. ......................................................... 50
Figura 29- Deformada da parede com abertura de janela em viga de apoio de 30x40. ......... 50
Figura 30- Diagrama de tensões na direção x (S11). ................................................................... 51
Figura 31- Tensão máxima em x para a viga de concreto= 4,6 MPa. ....................................... 51
Figura 32- Diagrama de tensões na direção y (S22). ................................................................... 52
Figura 33- Valor máximo da tensão em y na alvenaria= 5,7 MPa. ............................................ 52
Figura 34- Abertura de porta com viga de apoio de 30x40. ........................................................ 53
Figura 35- Deformada da parede com presença de porta em viga de apoio 30x40. .............. 54
Figura 36- Diagrama de tensões na direção x (S11). ................................................................... 54
Figura 37- Tensão máxima em x na viga de concreto= 9,9 MPa. .............................................. 55
Figura 38- Diagrama de tensões na direção y (S22). ................................................................... 55
8

Figura 39- Valor máximo de tensão em y na alvenaria= 10,1 MPa. .......................................... 56


Figura 40- Modelo de porta no centro da parede. ......................................................................... 57
Figura 41- Deformada da parede com presença de porta no centro em viga de apoio 30x40.
............................................................................................................................................................... 57
Figura 42- Diagrama de tensões na direção x (S11). ................................................................... 58
Figura 43- Tensão máxima em x na viga de concreto= 4,6 MPa. .............................................. 58
Figura 44- Diagrama de tensões na direção y (S22). ................................................................... 59
Figura 45- Valor máximo de tensão em y na alvenaria= 6 MPa. ................................................ 59
Figura 46- Modelo da viga recebendo as mesmas cargas, sem auxílio da alvenaria............. 61
Figura 47- Tensão na viga sem considerar o efeito arco= 10,6 MPa ........................................ 61
Figura 48- Modelo de parede de alvenaria com viga de apoio de concreto com dimensão de
30x60. ................................................................................................................................................... 62
Figura 49- Deformada da parede com viga de apoio de 30x60.................................................. 63
Figura 50- Diagrama de tensões na direção x (S11). ................................................................... 63
Figura 51-Valor da tensão máxima em x na viga de concreto= 4,2 MPa.................................. 64
Figura 52- Diagrama de tensões na direção y (S22). ................................................................... 64
Figura 53- Valor da tensão máxima em y na alvenaria= 3,7 MPa. ............................................ 65
Figura 54- Abertura de janela em viga de apoio de 30x60. ......................................................... 66
Figura 55- Deformada da parede com abertura de janela em viga de apoio de 30x60. ......... 67
Figura 56- Diagrama de tensões na direção x (S11). ................................................................... 67
Figura 57- Tensão máxima em x para a viga de concreto= 4,2 MPa. ....................................... 68
Figura 58- Diagrama de tensões na direção y (S22). ................................................................... 68
Figura 59- Valor máximo da tensão em y na alvenaria= 3,8 MPa. ............................................ 69
Figura 60- Abertura de porta com viga de apoio de 30x60. ........................................................ 70
Figura 61- Deformada da parede com presença de porta em viga de apoio 30x60. .............. 70
Figura 62- Diagrama de tensões na direção x (S11). ................................................................... 71
Figura 63- Tensão máxima em x na viga de concreto= 6,5 MPa. .............................................. 71
Figura 64- Diagrama de tensões na direção y (S22). ................................................................... 72
Figura 65- Valor máximo de tensão em y na alvenaria= 6,9 MPa. ............................................ 72
9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Resultados comparativos para a viga....................................................................73


Tabela 2- Resultados comparativos para a parede de alvanaria...........................................74
10

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

NBR Norma Brasileira Regulamentadora

SAP Structural Analysis Program


11

LISTA DE SÍMBOLOS

Rd Resistência de cálculo

Resistência característica

Sd Solicitação de cálculo

Fk Força característica

E Módulo de elasticidade

Inércia

L Distância

cm Unidade de medida- centímetros

m Unidade de medida- metros

fk Resistência característica à compressão simples da alvenaria

fpk Resistência característica de compressão simples de prisma

fpark Resistência característica de pequena parede

fb Resistência de bloco

t Espessura

Eficiência

Coeficiente de segurança externo

e Coeficientes de ponderação
12

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 14
1.1. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS......................................................................... 14
1.1.1. Objetivos Gerais ......................................................................................................... 14
1.1.2. Objetivos Específicos ................................................................................................. 14
1.2. METODOLOGIA DE PESQUISA ..................................................................................... 15
2. REVISÃO TEÓRICA .................................................................................................................. 16
2.1. HISTÓRIA ............................................................................................................................ 16
2.2. COMPONENTES DA ALVENARIA ESTRUTURAL ...................................................... 17
2.3. ASPECTOS TÉCNICOS E ECONÔMICOS ................................................................... 19
2.4. PRINCIPAIS VANTAGENS E DESVANTAGENS ......................................................... 19
2.5. MODULAÇÃO ..................................................................................................................... 20
2.6. SISTEMAS ESTRUTURAIS ............................................................................................. 22
2.7. COMPORTAMENTO ESTRUTURAL .............................................................................. 23
2.7.1. Construções térreas ................................................................................................... 23
2.7.2. Construções de múltiplos andares........................................................................... 23
3. CRITÉRIOS DE PROJETO ...................................................................................................... 24
3.1. MÉTODOS DOS ESTADOS LIMITES ............................................................................ 24
3.2. COMPONENTES DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO ............................................ 24
3.2.1. Blocos ........................................................................................................................... 25
3.2.2. Argamassa................................................................................................................... 25
3.2.3. Graute........................................................................................................................... 26
3.2.4. Armadura ..................................................................................................................... 26
3.3. PARÂMETRO ELÁSTICO PARA ALVENARIA ............................................................. 26
3.4. ABERTURAS E DISTRIBUIÇÃO DE CARREGAMENTOS......................................... 27
4. FUNDAÇÕES .............................................................................................................................. 29
5. EFEITO ARCO ............................................................................................................................ 32
6. ESTUDOS ANTERIORES ........................................................................................................ 37
7. ESTUDO DE CASO ................................................................................................................... 38
7.1. PARÂMETROS CONSIDERADOS ................................................................................. 38
7.2. CARGAS .............................................................................................................................. 39
7.3. FERRAMENTAS................................................................................................................. 40
7.4. ANÁLISE DOS MODELOS ............................................................................................... 41
13

7.4.1. Análise de paredes sem aberturas .......................................................................... 44


7.4.2. Análise de paredes com janela ................................................................................ 49
7.4.3. Análise de paredes com portas ................................................................................ 53
7.4.4. Análise de paredes sem aberturas .......................................................................... 61
7.4.5. Análise de paredes com janela ................................................................................ 66
7.4.6. Análise de paredes com portas ................................................................................ 70
7.5. ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................................ 73
8. CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 75
9. REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 76
14

1. INTRODUÇÃO

1.1. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS

1.1.1. Objetivos Gerais

Este trabalho apresenta o método construtivo de alvenaria estrutural, pontuando


suas vantagens e desvantagens perante os demais métodos construtivos. Para isso,
mostra uma breve história desta, que é uma das técnicas mais antigas do mundo, e
que cresce cada vez mais no Brasil.

O objetivo principal deste trabalho é estudar as características de transferência de


carga dessa estrutura, que a difere de estruturas reticuladas como concreto armado
ou estrutura metálica, por exemplo, uma vez que toda a parede é responsável por
absorver e transmitir esforços.

Foram construídos modelos estruturais que simulassem a interação de paredes de


alvenaria apoiadas sobre vigas de concreto armado a fim de ilustrar a influência do
efeito arco, e da variação da rigidez da viga de apoio no comportamento da
estrutura. Ainda nesta análise, foram simuladas aberturas para que fosse possível
estudar o que ocorre com o efeito arco também para essas situações.

1.1.2. Objetivos Específicos

Este trabalho apresenta o objetivo específico de estudar a influência das dimensões


da viga de apoio de concreto armado em conjunto com uma parede de alvenaria
estrutural, analisando o efeito arco. Para isso, foram realizados modelos estruturais
através de software com diferentes dimensões para a viga de apoio. Ainda com
relação a esse efeito, buscou-se analisar a influência de aberturas nesta parede,
como portas e janelas, para que se verificassem as tensões nestes casos.

Com os modelos apresentados, também foi possível realizar uma comparação com
a proposta apresentada por Barbosa no que se refere a tensões absorvidas pela
parede de alvenaria.
15

Este trabalho tem como objetivo, portanto, auxiliar em novos estudos capazes de
desenvolver cada vez mais a alvenaria estrutural.

1.2. METODOLOGIA DE PESQUISA

Para realização deste trabalho foi primeiramente feito um estudo sobre a história da
alvenaria estrutural, bem como suas principais características. Por apresentar
grandes diferenças com outros sistemas estruturais presentes no mercado atual,
foram feitos um comparativo e uma análise econômica sobre esta técnica, indicando
quais os fatores que influenciam para a escolha do método construtivo a ser
realizado.

Foi então apresentado um estudo de caso com auxílio do software SAP2000, onde
foram realizados modelos de uma parede de alvenaria estrutural apoiada em uma
viga de concreto armado, a fim de expor e esclarecer toda teoria apresentada sobre
o efeito arco.

Assim, foi possível avaliar o comportamento do efeito arco nas paredes de alvenaria
com diferentes seções de vigas de apoio e a influência que as aberturas provocam
no desenvolvimento do traçado do arco.
16

2. REVISÃO TEÓRICA

2.1. HISTÓRIA

A alvenaria estrutural é um sistema no qual predominam tensões de compressão. As


tensões de tração existem, mas devem se restringir a pontos isolados, e mesmo
assim com valores não muito elevados. Como consequência e desenvolvimento
desse conceito, percebeu-se que uma alternativa viável para a execução de vãos
nesse sistema construtivo seriam os arcos. Com isso foi possível a construção de
pontes e obras de maior porte.

A alvenaria estrutural começou em paralelo ao início da atividade humana de


executar estruturas. Essas construções utilizaram inicialmente pedra, argila, entre
outros materiais, e persistiram através de séculos e milênios, com grande
importância histórica e cultural. Alguns exemplos dessas construções: o Coliseu em
Roma (Figura 1), o Farol de Alexandria e as pirâmides de Gizé (Figura 2).

Figura 1- Coliseu.
17

Figura 2- Pirâmide de Gizé.

No Brasil, o sistema construtivo é utilizado desde o século XVI com a chegada dos
portugueses, mas apenas na década de 1960 o termo “alvenaria resistente” foi
agregado a esta técnica. Já a alvenaria como conhecemos hoje, dimensionada
segundo um cálculo racional com a utilização de blocos estruturais, a chamada
“alvenaria estrutural”, teve seu início em 1966, em São Paulo. Hoje o sistema é visto
como uma alternativa econômica, eficiente e prática, que cada vez mais está sendo
utilizada na construção de edifícios.

2.2. COMPONENTES DA ALVENARIA ESTRUTURAL

Neste trabalho, a definição de elemento e componente seguirá o prescrito na ABNT


NBR 10837: 2011, ou seja, elemento é o conjunto de componentes. Exemplificando
temos: elemento- (viga, laje e pilar); componentes- (bloco ou unidade, argamassa,
graute e armadura).

As unidades mais utilizadas no Brasil são as de concreto, cerâmica e sílico-calcário.


Estas podem ser classificadas como maciças (tijolo) ou vazadas (blocos), sendo que
a unidade que possuir até 25% de vazios é chamada de unidade maciça. No que se
refere às tensões, são classificadas em “tensão em relação à área bruta” (onde se
considera a área total, incluindo os vazios), ou “tensão em relação à área liquida”
(onde os vazios são descontados).
18

Segundo a ABNT NBR 6136: 2016 a resistência característica do bloco de concreto


à compressão em relação à área bruta deve ser considerada, segundo tabela
abaixo:

Figura 3- Tabela de "Requisitos para resistência característica à compressão, absorção e retração” da


ABNT NBR6136: 2016.

Outro componente bastante importante nesse sistema estrutural é a argamassa,


cuja função é solidarizar as unidades e transmitir as tensões entre elas, além de
absorver pequenas deformações e prevenir a entrada de água. A argamassa deve
possuir boa trabalhabilidade, plasticidade, resistência e durabilidade, sendo
composta basicamente por areia, cimento, cal ou aditivos e água.

O graute, que possui a importante função de aumentar a resistência à compressão,


e que também é utilizado para o preenchimento dos vazios dos blocos, é um
concreto com agregados de pequena dimensão, a fim de que sua fluidez seja
garantida. Quando a alvenaria for armada, o graute também possui o papel de
garantir que a armação e o bloco trabalhem como um conjunto único,
proporcionando aderência entre os componentes. Segundo a ABNT NBR 10837:
2011, o graute deve apresentar resistência característica maior ou igual a duas
vezes a resistência característica do bloco em relação à área bruta.
19

2.3. ASPECTOS TÉCNICOS E ECONÔMICOS

A alvenaria estrutural se baseia no conceito de utilização da alvenaria, vista como


elemento apenas de vedação em outros métodos construtivos, como própria
estrutura, eliminando-se elementos como vigas e pilares. Pelo fato de eliminar esses
elementos, a alvenaria apresenta um fator positivo do ponto de vista econômico. Em
contrapartida, para garantir sua eficiência e segurança, esse método necessita de
uma execução mais cuidadosa. Em alguns casos a alvenaria se apresenta como
método mais barato, mas em determinadas situações pode ser também mais caro
quando comparado com o método tradicional.

Os fatores que vão determinar qual método construtivo é mais vantajoso são:

-A altura da edificação: Atualmente é comum encontrar edifícios de alvenaria


estrutural de até aproximadamente 20 pavimentos. Normalmente, acima disso, a
resistência à compressão dos blocos encontrados no mercado brasileiro sugere que
a obra seja executada com um grauteamento generalizado, o que encarece a obra.
Além disso, para edifícios maiores, os esforços horizontais começariam a produzir
tensões de tração significativas, encarecendo ainda mais o processo.

-Arranjo arquitetônico: é fato que os blocos possuem dimensões padronizadas e pré-


estabelecidas. Um valor razoável é que haja de 0,5 a 0,7 m de paredes por metro
quadrado de pavimento, o que pode ser um fator limitante para a arquitetura.

-Tipo de uso: A alvenaria estrutural não é adequada em edificações onde há


necessidade de grandes vãos. Além disso, esse sistema construtivo não apresenta
grande flexibilidade de rearranjo de layout, uma vez que as paredes possuem
funções estruturais. Por isso, esse sistema é mais utilizado em construções de baixo
e médio padrão do que em alto padrão.

2.4. PRINCIPAIS VANTAGENS E DESVANTAGENS

A alvenaria estrutural apresenta grandes vantagens quando comparada com o


concreto armado convencional como:

• Economia de fôrmas;
20

• Redução nos revestimentos devido à utilização de blocos com qualidade


controlada e maior controle na execução;
• Flexibilidade no ritmo de execução da obra. Cabe ressaltar que se forem
utilizadas lajes pré-moldadas, não haverá necessidade de tempo de cura na
obra;
• Obra mais limpa, com eliminação de desperdícios.
• Redução do número de armadores e carpinteiros;

Os pontos negativos são:

• Dificuldade de se adaptar arquitetonicamente a um novo uso, uma vez que as


paredes fazem parte do sistema estrutural do edifício;
• Os projetos de arquitetura, estrutura e instalações devem andar sempre
juntos uma vez que esse sistema possui um controle rigoroso de aberturas;
• Necessidade de mão de obra qualificada.

2.5. MODULAÇÃO

Modular um arranjo arquitetônico significa dizer que as dimensões em planta, assim


como o pé direito da edificação devem estar acertados em função das dimensões
dos blocos, a fim de se evitar ou reduzir ao máximo a necessidade de cortes e
ajustes, que acabam por encarecer a obra.

A seguir são apresentados os módulos mais encontrados no Brasil.

Figura 4- Família- M15 (CONSTRUTENS)


Blocos de comprimentos modulares 45, 30 e 15 cm, largura 15 cm e altura 20 cm.
21

Figura 5- Família- M20 (FK comércio)


Blocos de comprimentos modulares 40, 20, 35 e 55 cm, largura 15 cm e altura 20 cm.

Além da definição do módulo mais adequado à arquitetura, outro fator de suma


importância na hora de se fazer o arranjo estrutural é a pesquisa de fornecedores
próximos. Distâncias acima de 200 km da obra normalmente inviabilizam o
empreendimento uma vez que tornam o frete proibitivo.

Depois da definição da primeira fiada, as fiadas subsequentes são definidas de


modo a produzir a melhor concatenação entre os blocos.

Figura 6- Exemplo de modulação e amarração entre fiadas (Catadicas).

Quanto à modulação vertical, pode-se utilizar do chamado bloco J na última fiada,


que apresenta uma das suas laterais com altura maior que a outra, de modo a
acomodar a espessura da laje. As paredes internas podem apresentar blocos
canaletas comuns em sua última fiada, capazes de acomodar a presença de mais
de uma laje. Caso o uso do bloco J não seja empregado, o bloco canaleta pode ser
utilizado também para as paredes externas com o auxílio de fôrmas auxiliares.
22

Figura 7- Bloco J (Itaipu pré-moldados). Figura 8- Bloco canaleta (Iporã blocos).

2.6. SISTEMAS ESTRUTURAIS

A concepção da estrutura se baseia em determinar quais paredes serão estruturais


ou não, que são determinadas pela utilização da edificação, simetria da estrutura,
etc. Segundo Hendry (1981), os sistemas estruturais podem ser nomeados de
acordo com a disposição das paredes, sendo:

• Paredes transversais: edifícios com planta retangular e alongada. As paredes


externas de maior comprimento são estruturais e as lajes, por sua vez, são
armadas em uma direção.
• Paredes celulares: todas as paredes são estruturais, podendo as lajes serem
armadas nas duas direções uma vez que há possibilidade de se apoiarem em
todas as laterais.
• Sistema complexo: utilização simultânea dos dois métodos descritos
anteriormente.

As principais cargas verticais a se considerar nesse sistema construtivo são as


ações das lajes e o peso próprio das paredes. Os valores mínimos dos
carregamentos podem ser encontrados na ABNT NBR 6120: 1980.
23

2.7. COMPORTAMENTO ESTRUTURAL

2.7.1. Construções térreas

Segundo Parsekian, Hamid e Drysdale (2012) a alvenaria estrutural é, de um modo


geral, mais utilizada em edificações térreas, como residenciais e lojas comerciais.
Nesses casos, a alvenaria estrutural propriamente dita costuma ser a parede
externa, utilizada como fechamento da construção.

Nesse tipo de situação é comum o uso de alvenarias não armadas e de pequena


espessura. Enrijecedores então podem ser utilizados quando se considera a rigidez
do travamento insuficiente. A laje ou o próprio telhado funcionam como apoio
horizontal e ajudam a enrijecer a estrutura.

2.7.2. Construções de múltiplos andares

Até meados de 1930 a alvenaria era utilizada em edifícios metálicos e de concreto


convencional para preenchimento da região interna dos pórticos como
contraventamento, garantindo uma rigidez maior à estrutura.

A partir de 1960 foram construídos vários edifícios utilizando as paredes como


própria estrutura resistente as ações laterais. Nesta situação, as alvenarias servem
de apoio contínuo das lajes, e também suportam o peso da estrutura das paredes
que estão posicionadas nos pavimentos superiores. A laje de concreto funciona
como diafragma rígido, distribuindo o carregamento lateral para as paredes
resistentes do contraventamento, que por sua vez irão encaminhar este
carregamento para as fundações. Para isso, a ligação da laje à alvenaria é um fator
que deve ser bem definido.
24

3. CRITÉRIOS DE PROJETO

3.1. MÉTODOS DOS ESTADOS LIMITES

Uma estrutura é considerada segura se esta for capaz de suportar as ações


previstas durante sua vida útil, garantindo sua funcionalidade conforme sua
destinação.

Uma maneira de se conceituar segurança é pelo método dos estados limites. Esses
são definidos como estado limite último (ELU), estado que ao ser atingido, inviabilize
a sua utilização como estrutura; e o estado limite de serviço (ELS), relacionado às
exigências funcionais da estrutura, ou de sua durabilidade.

No método dos estados limites, a segurança é introduzida através da verificação dos


estados limites de serviço e de um coeficiente de segurança externo γ relativo ao
estado limite último.

R −S ≥0

Sendo:

R
Rd= γ (Resistência de cálculo);

Sd= γ x Fk (Solicitação de cálculo);

γ e γ = coeficientes de ponderação;

Rk e Fk = Valores característicos de resistência e ação.

3.2. COMPONENTES DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO

A resistência característica à compressão simples da alvenaria fk é determinada por


ensaio de paredes ou poderá ser estimada como 70 % da resistência característica
de compressão simples de prisma fpk ou 85 % da de pequena parede fpark, segundo
a ABNT NBR 10837: 2011.
25

A resistência à compressão é o parâmetro de resistência mais importante para


alvenaria estrutural, e seus elementos contribuem significativamente para isso:

3.2.1. Blocos

A influência da resistência do bloco em comparação com a resistência da parede


indica a sua eficiência.

f
η= f

Sendo:

fpar = resistência da parede;

fb = resistência de bloco.

3.2.2. Argamassa

Dois fatores contribuem para a resistência da argamassa: sua espessura e sua


resistência à compressão.

Estudos mostram que sua espessura não pode ser muito fina para prevenir que,
caso existam falhas de execução, os blocos não entrem em contato um com o outro,
e para garantir a capacidade de acomodar as deformações da alvenaria; e nem tão
grossas, visto que isso atrapalharia o confinamento da argamassa. Sendo assim a
ABNT NBR 10837: 2011 prescreve uma espessura de junta horizontal entre blocos
de 1 cm, a menos que seja justificada a adoção de valores diferentes deste.

Ainda segundo a ABNT NBR 10837: 2011, a resistência à compressão deve


apresentar o valor máximo limitado a 0,7 da resistência característica especificada
para o bloco com relação à área liquida.
26

3.2.3. Graute

O graute promove um aumento da área resistente da alvenaria, aumentando a


resistência da parede considerando a eficiência bloco-parede. A utilização do graute
leva a um aumento da área líquida da unidade, e devem ser estudadas suas
implicações nos diferentes tipos de blocos (cerâmico e concreto).

A ABNT NBR 10837: 2011 prescreve que, para elementos de alvenaria armada a
resistência à compressão característica deve ser no mínimo de 15 MPa.

3.2.4. Armadura

A armação não é comumente utilizada para aumentar a resistência à compressão,


visto que os outros materiais que compõem a parede possuem resistência à
compressão elevada. A armação é utilizada quando se pretende conferir ductilidade
a estrutura ou quando se necessita um acréscimo localizado de resistência à tração
ou ao cisalhamento.

3.3. PARÂMETRO ELÁSTICO PARA ALVENARIA

A relação entre tensão e deformação da alvenaria é muito importante, influenciando


na deformada da estrutura e definindo a razão modular entre alvenaria e aço, sendo
um parâmetro básico para o dimensionamento a flexão.

Usualmente o módulo de elasticidade é calculado por Ealv= ᶓ fb, sendo ᶓ baseado em


resultados obtidos em pesquisas.

A norma ABNT NBR 10837: 2011, que será utilizada como base para o estudo de
caso deste trabalho, prescreve o uso de E= 800 fpk (sendo fpk resistência de prisma)
para módulo de deformação longitudinal, sendo seu valor máximo de 16 GPa para
alvenaria construída por blocos de concreto. E ressalta que para verificações de
Estado Limite de Serviço este valor seja reduzido em 40%, para aproximar o efeito
da fissuração da alvenaria.
27

Primas são elementos obtidos pela superposição de blocos unidos por argamassa. A
estimativa da resistência das paredes através do ensaio de primas é a adotada pela
ABNT NBR 10837: 2011, e, portanto, a que será utilizada neste trabalho.

A “eficiência” apresentada para a resistência das paredes também pode ser


analisada para os prismas por:

f
η= f

Sendo:

η= “eficiência”;

fp= resistência do prisma;

fb= resistência do bloco;

Normalmente os valores de eficiência prisma-bloco variam de 0,5 a 0,9 para os


blocos de concreto e de 0,3 a 0,6 para blocos cerâmicos.

Já a relação de resistência parede-prisma é por volta de 0,7 tanto para blocos de


concreto quanto para os cerâmicos. A resistência do prisma é maior, pois com o
aumento do número de juntas que a parede apresenta, inclusive verticais, a sua
resistência tende a ser menor.

3.4. ABERTURAS E DISTRIBUIÇÃO DE CARREGAMENTOS

Quando se coloca um carregamento localizado em uma parte da alvenaria, a carga


tende a se espalhar ao longo de sua altura. Espalhamento esse que segundo a
norma, ABNT NBR 10837: 2011, deve ser considerado de 45º.
28

Figura 9- Exemplo de distribuição de carga exposto pela norma NBR 10837.

Aberturas que apresentem como maior dimensão, uma dimensão menor que 1/6 do
menor valor entre a altura e o comprimento da parede na qual estão inseridas
poderão ser desconsideradas para efeitos de interação. Aberturas muito próximas
uma da outra, cuja menor distância entre as suas faces paralelas seja inferior ao
citado valor limite deverão ser consideradas como abertura única.

Usualmente, a existência de abertura é considerada como um limite entre as


paredes, ou seja, o fim de um elemento. Em suma, uma parede com aberturas pode
ser considerada como uma sequência de paredes independentes, mas por haver
forças de iteração entre seus elementos, ainda haverá espalhamento e
uniformização de cargas.

Quanto às solicitações, as cargas verticais que atuam sobre as paredes apresentam


valores diferentes. Isso fica claro quando se pensa que as paredes internas, por
receberem cargas de mais de uma laje, tendem a receber carregamentos maiores
que as paredes externas (cabe ressaltar que ainda assim é de boa prática a
utilização de blocos de mesma resistência para o pavimento inteiro, a fim de se
evitar erros). Por isso, quanto maior a uniformização de cargas verticais ao longo da
altura da parede, melhor a distribuição de cargas nos blocos, e, portanto, maior a
economia que se pode atingir, visto que pode haver uma redução das resistências
dos blocos a serem especificados.
29

4. FUNDAÇÕES

A definição de fundação, segundo Aoki-Veloso (1975) é a parte da edificação que


fica abaixo da superestrutura, e tem função de suportar e transferir para o subsolo
com segurança, todas as solicitações que a estrutura venha a sofrer durante sua
utilização.

Para a concepção de estruturas de fundação, o projetista dispõe das análises do


solo, como o SPT (Standart Penetration Test) e as cargas de cada pilar que deverão
ser transferidas ao solo. Outros fatores também interferem na hora de escolher o
tipo de fundação a ser utilizada, como a disponibilidade de material (que acaba por
influenciar em custo e tempo), e as fundações vizinhas que podem inviabilizar
fundações que envolvam ruídos ou vibrações.

Em uma construção de concreto convencional o caminhamento das cargas se dá


pela interação dos elementos laje-viga-pilar. As cargas absorvidas pelas lajes são
transmitidas as vigas que, por sua vez descarregam nos pilares e chegam até a
estrutura de fundação. Já nos edifícios de alvenaria, os carregamentos chegam à
fundação distribuídos ao longo de todas as paredes, e, portanto, devem ser
projetadas estruturas secundárias (vigas baldrames) que irão transferir todo
carregamento das paredes estruturais para a fundação.

Para as estruturas em alvenaria estrutural podem ser utilizados diversos tipos de


fundações. Normalmente a mais econômica é a utilização de um sistema superficial
como sapatas e radiers, seguido de fundações profundas como estacas e tubulões.
A escolha pode variar de acordo com as características do solo e as cargas que
deverão ser transferidas.

Uma solução para alvenaria estrutural que pode ser utilizada também é a construção
mista sobre pilotis. Neste sistema, existem pilares em concreto chegando às
fundações, portanto seu comportamento é semelhante ao de uma construção de
concreto armado convencional.
30

Figura 10- Alvenaria estrutural sobre pilotis de concreto armado (BARBOSA, 2000).

O modelo apresentado nas figuras a seguir, mostra que o carregamento em paredes


tende a se desenvolver ao longo da parede formando um arco (efeito arco, que será
tratado mais profundamente nos próximos capítulos).

Figura 11- Ensaio de espraiamento de cargas em estrutura bi-apoiada- (Andolfato, et. al. 2002).

Neste ensaio (figura 10), está sendo analisada uma estrutura com blocos de 14 cm
submetidas a uma carga de 200 kN/m.

Quando considerado um apoio contínuo, os ensaios revelaram o indicado na figura


seguinte.
31

Figura 12- Ensaio de espraiamento de cargas em estrutura de apoio contínuo (Andolfato, et. al.
2002).

Neste caso os esforços são reduzidos drasticamente e a variação da tensão entre as


extremidades e o centro da estrutura se tornam muito menos acentuada.

Segundo alguns projetistas, o efeito arco é considerado para alvenarias cujo vão
entre os apoios rígidos é superior ao pé-direito da parede, fazendo com que as
regiões mais próximas aos apoios acumulem maiores tensões.

Uma maneira de minimizar o efeito arco na alvenaria seria utilizar fundações como
sapatas corridas e radier, que consigam dissipar o carregamento de maneira
uniformemente distribuída. No entanto, isso nem sempre é possível, pois esse tipo
de fundação requer uma resistência grande do solo onde será aplicado.

Quando não é possível projetar uma fundação superficial para a alvenaria estrutural,
é importante controlar a flecha nos elementos de concreto, afim de que não haja
patologias na alvenaria.
32

5. EFEITO ARCO

O efeito arco é de suma importância quando é analisado o comportamento da


alvenaria estrutural agindo na estrutura de fundação. Considera-se que uma parede
de alvenaria apoiada sobre uma viga de concreto armado comporta-se como um
“arco atirantado”, uma vez que o arco se forma na parede e a viga funciona como
um tirante (ver figura 13). Mas, cabe ressaltar que nos casos de balanços, por
exemplo, mesmo que o tirante propriamente dito não exista, ainda haverá a
concentração de tensões. Essa concentração de tensões na verdade ocorre devido
à compatibilização entre a rigidez da alvenaria e da estrutura de apoio.

Isso mostra o principal conceito do chamado efeito arco, o de que as cargas ficam
aliviadas no centro da estrutura, e caminham para a região das extremidades.

Figura 13- Ação parede-viga (HASELTINE; MOORE, 1981).

O primeiro a discutir sobre o assunto foi Wood (1952), e depois foram propostos
modelos matemáticos simplificados que comprovassem o fenômeno por Stafford
Smith e Riddington (1973) e Davies e Ahmed (1977).

Wood (1952) ainda propôs regras empíricas para determinar momentos fletores e
calcular a viga suporte. Segundo ele, os cálculos dos momentos fletores nessa viga
poderiam ser reduzidos a PL/100 para paredes sem aberturas próximas aos apoios,
e PL/50 para paredes com aberturas próximas aos apoios.
33

Segundo Haseltine e Moore (1981), existem 3 fatores necessários para a


consideração do efeito arco em uma estrutura, são eles:

• A razão entre altura e comprimento da parede deve ser maior que 0,6;
• As aberturas localizadas nas paredes não devem coincidir com o traçado do
arco imaginário;
• A tensão majorada do arco não deve ser maior que a capacidade resistente à
compressão da alvenaria;

O traçado do arco imaginário é definido entre 0,25L e 0,6L, com o centro desse raio
passando pelo centro da viga de vão L.

Figura 14- Delimitação do arco imaginário (RIDDINDTON; STAFFORD SMITH, 1978).

Através das figuras abaixo, nota-se que a consideração do efeito arco no cálculo de
alvenarias estruturais reduz o memento fletor; gera tração axial na viga; e concentra
a tensão na região dos apoios.
34

Figura 15- Distribuição de tensões na iteração viga-parede (BARBOSA, 2000).

Figura 16- Esforços na viga- comparativo (BARBOSA, 2000).

Segundo Riddington e Stafford Smith (1977), a formação do arco é influenciada por


diversos fatores, sendo eles geométricos (vão, inércia da viga de apoio e espessura
da parede) e físicos (módulo de elasticidade dos materiais- alvenaria e viga de apoio
de concreto). Eles propuseram então uma relação de rigidez relativa expressa pela
seguinte equação:
35

' ." .#$


K=
% .&%

Sendo:

E Módulo de elasticidade longitudinal da parede;

E) Módulo de elasticidade longitudinal da viga;

I) Inércia da viga de apoio;

L Distância entre apoios;

t Espessura da parede;

Este conceito foi utilizado também por Davies e Ahmed (1977), que substituíram a
distância L pela altura da parede H, criando o parâmetro de rigidez R:

' ." .,$


R=
% .&%

Ambos os parâmetros, K e R, apresentam a função de indicar a distribuição das


tensões e a configuração da deformada parede-viga. Isso fica claro quando se nota
que no numerador estão referenciados os parâmetros da parede de alvenaria, e no
denominador os da viga de apoio de concreto. Desta análise conclui-se que quanto
maior for o parâmetro de rigidez, menor é a rigidez da viga suporte em relação à
parede de alvenaria e mais claro é o efeito arco. E quanto maior é o efeito arco,
maior é a concentração de tensões nos apoios e maior é o alívio de momento no
meio da viga. A análise contrária também é verdadeira, quanto menor o parâmetro
de rigidez, maior a rigidez da viga em relação à parede de alvenaria e menor o efeito
arco.

No entanto, esse método foi desenvolvido com a análise de ensaios que


normalmente simulavam uma única parede suportada por uma viga biapoiada.
Como essa situação não pode ser encontrada em muitos casos reais, não é
aconselhado o seu uso. Assim Barbosa (2000) e Silva (2005), não recomendam o
36

emprego de modelos simplificados, e sim o uso de simulações numéricas como


forma de se considerar o efeito arco no cálculo de edifícios.

Outro fator que influencia no efeito arco é a altura da parede. Ao contrário do que se
intui, o “arco” formado pelas tensões não é proporcional a altura da parede. Silva
(2005) diz que a partir de uma certa altura o arco apresenta uma configuração
praticamente constante.

Segundo Wood (1952), o efeito arco se inicia a partir de uma relação entre altura da
parede e comprimento da viga maior ou igual a 0,6, e para relações menores que
este fator, o aumento das tensões de cisalhamento entre viga e parede poderiam
provocar a ruptura do material. Riddington e Sttaford Smith (1977) afirmam ainda
que para relações maiores que 0,7, a porção de parede situada acima de 0,7L não
influencia na formação do arco, é apenas um acréscimo de carga (ver figura 17).

Figura 17- Cálculo com carregamento equivalente (BARBOSA, 2000).


37

6. ESTUDOS ANTERIORES

BARBOSA (2000) também desenvolveu modelos numéricos de paredes, estudando


o efeito de aberturas em região próximas aos apoios, e empregando elementos de
contato para simular a interface entre viga e parede.

Silva (2005) desenvolveu o aplicativo GMPAE que gera uma rede de elementos
finitos de um pavimento de alvenaria apoiado em vigas de suporte, considerando
inclusive as aberturas das paredes (janelas e portas), com o uso do efeito arco. Silva
(2005) também apresentou modelos comparativos entre paredes apoiadas em
grelhas de vigas de concreto armado, considerando e não considerando o efeito
arco. Demonstrou, assim, o potencial econômico de se considerar o efeito arco,
principalmente no que se refere na diminuição dos momentos fletores nas vigas.
38

7. ESTUDO DE CASO

Este capítulo pretende demonstrar e ilustrar, a partir de modelos estruturais,


situações onde ocorrem o efeito arco e sua relação direta com as dimensões da viga
de apoio de concreto armado. Ainda neste estudo de caso, foi realizada a simulação
da presença de aberturas nessas paredes, a fim de tornar possível a avaliação de
variações propostas no momento de conceber e dimensionar uma parede de
alvenaria estrutural considerando o efeito arco.

7.1. PARÂMETROS CONSIDERADOS

Para o estudo de caso procurou-se representar um projeto realístico. Portanto


adotaram-se as seguintes características de projeto do edifício:

• 7 andares mais cobertura (por simplificação a carga da cobertura será a


mesma do tipo);
• Distância piso a piso: h = 2,90 m (2,80 m de parede mais 10 cm de laje)
• Espessura da parede: t = 14 cm;
• Vão da viga de apoio: L = 3,0 m;
• Tipo do bloco: concreto;
• Malha do elemento de casca = 20x20 cm;

Para modelar as paredes apresentadas aqui, será utilizado bloco de concreto não
armado, com as seguintes características:

• Fbk=1,2 kN/cm2 = 12 MPa


• Fpk=0,8x1,2 = 0,96 kN/cm2= 9,6 MPa (eficiência prisma-bloco: -= 0,8)
• Ealv=800x0,96=768 kN/cm2= 768x104 kN/m2= 7680 MPa (Foi considerado,
para simplificação de cálculo, o mesmo módulo de elasticidade para a direção
transversal e longitudinal da alvenaria, apesar de se tratar de um material
ortotrópico);
• Fck,viga = 30 MPa
• Econcreto=27 GPa= 27x106 kN/m2=27000 MPa
• Peso da alvenaria: galv,A = 2,2 kN/m² ; galv,V = 15,714 kN/m3
39

• Peso do concreto armado: gconc = 25 kN/m3

A ABNT NBR 10837: 2011 prevê que a esbeltez das paredes não armadas não deve
exceder 24. Portanto, λ=Hef/tef= 280/14= 20 < 24 → ok!

7.2. CARGAS

Laje:

• Carga Acidental: q = 1,5 kN/m2;


• Carga Permanente: g2 = 3,5 kN/m2 (10 cm de laje mais revestimento)

Cargas sobre a viga de apoio (cargas aplicadas no modelo da viga isolada, sem a
presença da parede de alvenaria):

• Q = (número de pavimentos) x L x (carga acidental)


= 8 x 3,00 x 1,5 = 36,0 kN/m
• Gviga 30x40 (peso próprio da viga de 30x40) =0,3 x 0,4 x 25= 3 kN/m
• Gviga 30x60 (peso próprio da viga de 30x60) = 0,3 x 0,6 x 25=4,5 kN/m
• G1 = (número de pavimentos) x H x (peso da alvenaria)
= 8 x 2,80 x 2,20 = 49,28 kN/m
• G2 = (número de pavimentos) x L x (carga permanente)
= 8 x 3,00 x 3,5 = 84,0 kN/m

Cargas no topo da parede do térreo (cargas aplicadas no modelo com a parede de


alvenaria):

• Q = (número de pavimentos) x L x (carga acidental)


= 8 x 3,00 x 1,5 = 36,0 kN/m
• G1 = (número de pavimentos sobre o térreo) x H x (peso da alvenaria)
= 7 x 2,80 x 2,20 = 43,1 kN/m
• G2 = (número de pavimentos) x L x (carga permanente)
= 8 x 3,00 x 3,5 = 84,0 kN/m

Cargas inseridas nos pontos da malha sobre a parede de alvenaria:

./012
• Q= 322
= 7,20 kN (extremidades: 3,60 kN)
40

45.,37859012
G= = 25,42 kN (extremidades: 12,71 kN)
322

5.,3012
o G1 = = 8,62 kN (extremidades: 4,31 kN)
322
85012
o G2 = 322
= 16,80 kN (extremidades: 8,40 kN)

Figura 18- Exemplo de carregamento inserido (G) no SAP, exemplificando "extremidades" e "centro"
com cargas sobre a parede de alvenaria.

7.3. FERRAMENTAS

Para modelagem dessa estrutura foi utilizado o programa de cálculo de elementos


finitos SAP 2000 structural analysis program, versão 2014. Foi feita uma simulação
com as cargas apresentadas variando a altura da viga de apoio de concreto e a
existência e localização de aberturas, analisando as tensões encontradas na parede.

Foi realizada uma análise linear das estruturas, com um modelo simplificado no qual
não foram considerados pórticos.

A viga no modelo está biapoiada, e seus apoios foram simulados nos nós das
extremidades. Cabe ressaltar que, caso fossem consideradas as dimensões dos
apoios, os resultados obtidos seriam diferentes.
41

7.4. ANÁLISE DOS MODELOS

Verificação a compressão simples da alvenaria- ELU

:; . <= 1,0 BCDEFEG 0,7NO=


?@ KL Q
> 0,9 BIJCDEG :P

Para cálculo da tensão, usa-se um coeficiente que leva em consideração a esbeltez


da parede, responsável pela parcela da fórmula apresentada anteriormente e
denominado de R:

TU;
.
Q R1 S X Y
40WU;

2,8 .
Q Z1 [ _ ` 0,875
40 ∙ 0,14

Usualmente :P =2,0 e :; = 1,4;

Carga total sobre a viga de apoio: Nk= 36+49,28+84=169,3 kN


Portanto:
1,4 ∙ 169,3 ∙ 3 0,7NO=
?1∙ ∙ 0,875
0,14 ∙ 3 2
1693 ? 0,306 NO=
d<
5532,7 5,53 fgC ? NO=
e1
Adotamos -= 0,8:
5,53
Nh= 6,9 fgC
0,8
Como consideramos bloco de 12 MPa ok!

Cálculo do fd (tensão resistente da parede) para blocos de 12MPa:

NO=
Nh= 12fgC
0,8
NO= 9,6 fgC

N= 0,7NO= 6,72 fgC


42

6,72 ∙ Q
Ni 2,94 fgC
:P
Cálculo da tensão solicitante:

jklm 1,4n + 1,4p

36 49,28 + 84
jklm 1,4 ∙ ( ) + 1,4 ∙ ( )
0,14 0,14

jklm 1,4 ∙ 257,1 + 1,4 ∙ 952

d<
jklm 1693 1,69 fgC
e1

Como fd> jklm , o bloco resiste à tensão solicitante que atua na parede.

Cálculo da tensão máxima considerando o efeito arco:

Segundo Barbosa (2000), a tensão máxima pode ser estimada por meio das
equações apresentadas na figura 19.

Figura 19- Tabela de equações (BARBOSA, 2000).

tg
jPás (vwxCçã{ 5.1)
0,75. u. WO
43

Sendo,

vO . WO . u.
|
'
t
vm . }m

Com:

Ep= Módulo de elasticidade da parede de alvenaria;

Ev= Módulo de elasticidade da viga;

Iv= Momento de inércia da viga;

tp= espessura da parede;

L= largura o vão;

CASO 1

Para uma viga com dimensões de 30x40, temos:

768 ∙ 105 ∙ 0,14 ∙ 3.


|
'
t 5,09
27 ∙ 10/ ∙ 1,6 ∙ 10~.

Substituindo em equação 5.1, obtemos:

5,09 ∙ (169,3 ∙ 3) d<


jPás 8207 8,2 fgC
0,75 ∙ 3 ∙ 0,14 e1

Observa-se que fd • jPás , ou seja, a tensão resistente da parede é inferior à tensão


máxima considerando o efeito arco. Isso significa então, que o bloco não resiste à
tensão do efeito arco teórica e, para essa situação, seria necessário aumentar a
resistência do bloco para levar em consideração este efeito.

A jPás é elevada, pois como será observado mais adiante, a tensão na parede de
alvenaria aumenta muito com a consideração do efeito arco.
44

7.4.1. Análise de paredes sem aberturas

Foi realizado um modelo com a viga isolada (30x40), sem a presença da parede de
alvenaria, ver Figura 20.

Figura 20- Modelo da viga recebendo as mesmas cargas, sem auxílio da alvenaria.

Valor do deslocamento máximo apresentado pelo programa= 4,3mm.

Figura 21- Tensão na viga sem considerar o efeito arco= 23,8 MPa
45

Verificação da flecha limite para uma viga biapoiada com carregamento distribuído,
para validação do modelo:

5BJ 5 5 ∙ 172,28 ∙ 35
N = = 4,21. 10~. e = 4,21ee
384v}eq 384 ∙ 27 ∙ 10/ ∙ 1,6 ∙ 10~.

Desenvolveu-se então, a modelagem de uma parede de alvenaria com uma viga de


apoio de concreto com dimensão de 30x40.

Legenda:

Elementos da Viga de apoio de concreto armado.

Elementos da Parede de alvenaria.

Figura 22- Modelo de parede de alvenaria com viga de apoio de concreto com dimensão de 30x40.
46

Figura 23- Deformada da parede com viga de apoio de 30x40.

Valor do deslocamento máximo apresentado pelo programa= 0,6mm.


Verificação quanto ao deslocamento limite, segundo a ABNT NBR 6118: 2014 tabela
13.3:

J 300
= = 0,6 ‚e {x 10ee > 0,6 ee → {d!
500 500
47

Figura 24- Diagrama de tensões na direção x (S11).

Figura 25- Valor da tensão máxima em x para a viga de concreto= 4,6 MPa.
48

Figura 26- Diagrama de tensões na direção y (S22).

Figura 27- Valor da tensão máxima em y na alvenaria= 5,7 MPa.


49

Nota-se, neste primeiro exemplo, que a distribuição das tensões forma claramente
um “arco”, que caminha diretamente em direção aos apoios.

Com a comparação entre os dois modelos expostos anteriormente, o da viga isolada


e o da viga trabalhando com a parede de alvenaria, fica clara a influência da
alvenaria e do efeito arco que ela produz no alívio de tensões na viga e,
consequentemente, com a taxa de armadura na viga de apoio.

Ainda com relação a este modelo, nota-se que o valor obtido na figura 27 para a
parede de alvenaria (5,7MPa), é inferior ao valor jPás proposto por Barbosa, no
entanto é superior ao fd, tensão resistente da parede. Isso significa que, o valor da
tensão é acentuado pelo efeito arco, e esta parede não passa com a consideração
deste efeito.

7.4.2. Análise de paredes com janela

Este trabalho irá analisar também a influência de aberturas variando suas


dimensões e sua distância em relação ao apoio. Primeiramente será feita a
simulação de uma janela no centro da parede, localizada a 1,00 de altura, com
dimensão de 100x60 cm.
50

Figura 28- Abertura de janela em viga de apoio de 30x40.

Figura 29- Deformada da parede com abertura de janela em viga de apoio de 30x40.

Valor do deslocamento máximo apresentado pelo programa= 0,6mm.


51

Figura 30- Diagrama de tensões na direção x (S11).

Figura 31- Tensão máxima em x para a viga de concreto= 4,6 MPa.


52

Figura 32- Diagrama de tensões na direção y (S22).

Figura 33- Valor máximo da tensão em y na alvenaria= 5,7 MPa.


53

Cabe ressaltar que a abertura da janela, por se tratar de uma abertura de pequena
dimensão e localizada no centro da parede de alvenaria, não alterou praticamente o
resultado do deslocamento e de suas tensões, que existiam sem a sua presença.
Pelo contrário, suas tensões se espalharam a fim de passarem por cima da abertura,
sem influenciar nos resultados.

7.4.3. Análise de paredes com portas

Seguidamente, foi estudada a parede com a presença de uma porta com dimensões
de 100x210 cm.

Figura 34- Abertura de porta com viga de apoio de 30x40.


54

Figura 35- Deformada da parede com presença de porta em viga de apoio 30x40.

Valor do deslocamento máximo apresentado pelo programa= 1,5mm.

Figura 36- Diagrama de tensões na direção x (S11).


55

Figura 37- Tensão máxima em x na viga de concreto= 9,9 MPa.

Vale comentar que a região acima da porta (verde mais escuro da figura 37), possui
tensões maiores, como se esta região se comportasse como uma viga.

Figura 38- Diagrama de tensões na direção y (S22).


56

Figura 39- Valor máximo de tensão em y na alvenaria= 10,1 MPa.

Com a abertura da porta, tanto o valor do deslocamento, quanto os valores das


tensões basicamente dobraram. Isso se deve ao fato da porta estar localizada
próxima ao apoio e com altura capaz de cobrir toda a área pela qual antes passava
o “arco”. Ainda assim, nota-se que o caminho das tensões foi espalhado, passando
por cima da porta (ver região em verde escuro na figura 39).

No caso desta porta, sua tensão máxima também deu maior que a tensão resistente
e que a tensão máxima de efeito arco, o que significa dizer que existe um acúmulo
de cargas nessa área, que deve ser estudado para o seu dimensionamento.

Não será objeto de estudo deste trabalho, mas cabe ressaltar que existe uma tensão
cisalhante alta e tração na interface da parede com a viga para essa situação.

Apenas para análise comparativa, foi realizado um modelo desta parede com a porta
no centro, apresentando os seguintes resultados:
57

Figura 40- Modelo de porta no centro da parede.

Figura 41- Deformada da parede com presença de porta no centro em viga de apoio 30x40.

Valor do deslocamento máximo apresentado pelo programa= 0,8mm.


58

Figura 42- Diagrama de tensões na direção x (S11).

Figura 43- Tensão máxima em x na viga de concreto= 4,6 MPa.


59

Figura 44- Diagrama de tensões na direção y (S22).

Figura 45- Valor máximo de tensão em y na alvenaria= 6 MPa.


60

Observa-se que com a porta localizada no centro, o deslocamento e as tensões são


quase iguais aos da parede sem aberturas, e o efeito arco é claramente mais visível.

CASO 2
Foram realizados os mesmos cálculos agora com a viga (30x60):

O parâmetro de cálculo que leva em consideração a rigidez da viga é a jPás ,


portanto:

Cálculo da tensão máxima considerando o efeito arco:

Segundo Barbosa, 2000:

tg
jPás 4vwxCçã{ 5.19
0,75. u. WO

Sendo,

' v . W . u.
t=|
O O
vm . }m

Temos:

768 ∙ 105 ∙ 0,14 ∙ 3.


t=|
'
= 3,77
27 ∙ 10/ ∙ 5,3 ∙ 10~.

Substituindo em equação 5.1, obtemos:

3,77 ∙ 4169,3 ∙ 39 t<


jPás = = 6085 1 = 6,1 fgC
0,75 ∙ 3 ∙ 0,14 e

Nota-se que o valor da tensão máxima teórica para a seção de 30x60 é menor que o
da 30x40, pois quanto maior a rigidez da viga, menor será o efeito arco. No entanto,
ainda assim este valor é superior ao da tensão resistente da parede fd (2,94 MPa).

Será apresentado, portanto, as mesmas simulações agora com a viga de 30x60.


61

7.4.4. Análise de paredes sem aberturas

Figura 46- Modelo da viga recebendo as mesmas cargas, sem auxílio da alvenaria.

Valor do deslocamento máximo apresentado pelo programa= 1,4mm.

Figura 47- Tensão na viga sem considerar o efeito arco= 10,6 MPa
62

Cálculo da flecha limite para uma viga biapoiada com carregamento distribuído, para
validação do modelo:

5BJ 5 5 ∙ 173,78 ∙ 35
N= = = 1,26. 10~. e = 1,26ee
384v} 384 ∙ 27 ∙ 10/ ∙ 5,4 ∙ 10~.

Figura 48- Modelo de parede de alvenaria com viga de apoio de concreto com dimensão
de 30x60.
63

Figura 49- Deformada da parede com viga de apoio de 30x60.

Valor do deslocamento máximo apresentado pelo programa= 0,5mm.

Figura 50- Diagrama de tensões na direção x (S11).


64

Figura 51-Valor da tensão máxima em x na viga de concreto= 4,2 MPa.

Figura 52- Diagrama de tensões na direção y (S22).


65

Figura 53- Valor da tensão máxima em y na alvenaria= 3,7 MPa.

Portanto, fica claro que a variação da altura da viga de apoio de concreto e,


consequentemente a relação entre a rigidez da viga e parede, influencia no efeito
arco.

Cabe ainda observar que neste caso, a tensão máxima na alvenaria observada na
figura 53 (3,7 MPa) ainda é maior que a resistente da parede fd (2,94 MPa), mas
está mais próxima desta. Isso indica a importância da inércia da viga de transição na
análise do efeito arco.
66

7.4.5. Análise de paredes com janela

Figura 54- Abertura de janela em viga de apoio de 30x60.


67

Figura 55- Deformada da parede com abertura de janela em viga de apoio de 30x60.

Valor do deslocamento máximo apresentado pelo programa= 0,4mm.

Figura 56- Diagrama de tensões na direção x (S11).


68

Figura 57- Tensão máxima em x para a viga de concreto= 4,2 MPa.

Figura 58- Diagrama de tensões na direção y (S22).


69

Figura 59- Valor máximo da tensão em y na alvenaria= 3,8 MPa.

A tensão com a abertura da janela se mantém praticamente a mesma da situação


sem aberturas.
70

7.4.6. Análise de paredes com portas

Figura 60- Abertura de porta com viga de apoio de 30x60.

Figura 61- Deformada da parede com presença de porta em viga de apoio 30x60.
71

Valor do deslocamento máximo apresentado pelo programa= 0,8mm.

Figura 62- Diagrama de tensões na direção x (S11).

Figura 63- Tensão máxima em x na viga de concreto= 6,5 MPa.


72

Figura 64- Diagrama de tensões na direção y (S22).

Figura 65- Valor máximo de tensão em y na alvenaria= 6,9 MPa.


73

No caso da porta, a viga de 30x60 também não foi capaz de aliviar as tensões a
ponto de a tensão resistente da parede fd (2,94 MPa) ser superior a indicada na
figura 65.
Vale observar que, embora a tensão gerada pelo modelo da parede com a porta
ainda seja maior que a tensão máxima teórica do efeito arco, ela está mais próxima
desse valor com uma viga de maior rigidez.

7.5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Apresenta-se a seguir os resultados expostos em formato de tabela para melhor


comparação:
TENSÕES ATUANTES NA VIGA DESLOCAMENTO
Dimensão
Situação da parede Viga isolada Viga com parede de Viga isolada Viga comparede de
da viga
(MPa) alvenaria (MPa) (mm) alvenaria (mm)
Sem aberturas 4,6 0,6
30x40 Janela 23,8 4,6 4,3 0,6
Porta próxima ao apoio 9,9 1,5
Sem aberturas 4,2 0,5
30x60 Janela 10,6 4,2 1,4 0,4
Porta próxima ao apoio 6,5 0,8

Tabela 1- Resultados comparativos para a viga.

Observações importantes:

• A tensão máxima na viga isolada de dimensão 30x40 é 5,17 vezes superior à


encontrada na mesma viga com a consideração da parede (Figura 25);
• O deslocamento da viga isolada de dimensão 30x40 é 7,17 vezes superior à
encontrada na mesma viga com consideração da parede;
• No caso da viga com dimensões de 30x60, a tensão máxima na viga isolada
(Figura 47) foi 2,52 vezes maior que a considerando o efeito arco retratada na
figura 51;
• O deslocamento da viga isolada de 30x60 é 2,8 vezes superior à encontrada
para a viga com a parede de alvenaria;
• As tensões e deslocamentos encontrados na situação da parede sem
aberturas e na parede com janela são praticamente os mesmos, uma vez que
as tensões caminham em formato de arco por cima da janela;
74

jPás
TENSÕES ATUANTES NA PAREDE DE ALVENARIA
Dimensão DESLOCAMENTO
Situação da parede fd (tensão resistente … Tensões do
da viga (Tensão (mm)
calculada) (MPa) modelo (MPa)
calculada) (MPa)
Sem aberturas 5,7 0,6
30x40 Janela 2,94 8,2 5,7 0,6
Porta próxima ao apoio 10,1 1,5
Sem aberturas 3,7 0,5
30x60 Janela 2,94 6,1 3,8 0,4
Porta próxima ao apoio 6,9 0,8

Tabela 2- Resultados comparativos para a parede de alvanaria.

Considerações:

• O efeito arco alivia as tensões na viga de concreto, mas aumenta


consideravelmente as tensões na parede de alvenaria;
• As dimensões da viga de apoio de concreto influenciam claramente nas
tensões absorvidas pela parede de alvenaria;
• No caso da viga de apoio de 30x40, a parede com bloco de 12 MPa não
resiste as cargas atuantes em nenhuma das situações;
• No caso da viga de apoio de 30x60, a parede com bloco de 12 MPa também
não resiste as cargas atuantes em nenhuma das situações;
• As tensões atuam em formato de arco e desviam das aberturas, como pode
ser observado nas figuras expostas anteriormente;
• A porta, por estar localizada próxima ao apoio e com altura que cobre o
caminho do “arco”, possui um acúmulo de tensões bastante significativo;
• As tensões e deslocamentos encontrados na situação da parede sem
aberturas e na parede com janela são praticamente os mesmos, uma vez que
as tensões caminham em formato de arco por cima da janela;
• O acréscimo de tensões observado nas paredes também pode ser resistido
com grauteamento. Caso seja considerado um grauteamente de 100%, a
tensão resistente da parede pode aumentar em até 70%. Para essa situação
o modelo deveria ser refeito, mas a parede provavelmente resistiria tanto para
a viga de 30x40 quanto para a de 30x60 na situação sem aberturas e com
janela;
75

8. CONCLUSÃO

O efeito arco parte do princípio de não considerar a alvenaria apenas como carga no
cálculo da viga de apoio de concreto, e sim considerar sua resistência e rigidez, pois
a parede é capaz de aliviar muito as tensões e deslocamentos nesta viga.
O estudo de caso realizado neste trabalho mostra que o efeito arco existe sempre na
parede de alvenaria apoiada sobre uma viga de concreto, mesmo que haja
aberturas.
Com o exposto no capítulo 7, fica elucidado que quanto maior a rigidez da viga de
apoio, menor será o efeito arco. Tanto no caso da viga de 30x40 quanto na de
30x60, e a alvenaria com bloco de resistência de 12MPa, a parede não resiste às
cargas propostas, devendo então ser adotado um bloco com maior resistência.
Outra solução seria o grauteamento, que se realizado 100%, é capaz de aumentar a
resistência da alvenaria em até 70%.
No caso das paredes com portas, os valores ficam bem mais elevados. No entanto,
essa porta localizada próxima ao apoio se trata de um caso hipotético, e em uma
situação real seria preferível e usual não ter um trecho tão pequeno de parede
confinado. E ainda, a tensão do trecho confinado se dissiparia com outras paredes
nas quais estivessem ligadas.
Ainda analisando o estudo de caso, pode se observar que, ao deslocar a porta para
o centro da parede, assim como no caso das aberturas das janelas, os valores das
tensões ficam praticamente idênticos aos da parede sem a sua presença, e suas
tensões caminham claramente em formato de arco para os apoios.
Este trabalho buscou estudar o comportamento da ação conjunta entre paredes de
alvenaria estrutural e vigas de concreto. Para isso, o estudo apresentado por
BARBOSA (2000) foi de suma importância para efeito comparativo e, de acordo com
os resultados aqui apresentados, trata-se de uma proposta empírica e deve ser
avaliada mais profundamente para sua aplicação.
Para pesquisas futuras, sugere-se que sejam feitos novos estudos como, por
exemplo, a consideração das dimensões do apoio no modelo, que acabam por
influenciar nos resultados. Além da simulação de modelos mais completos e análise
da tensão cisalhante.
É interessante que este estudo tenha continuidade, e que sejam estudados
parâmetros que revelem cada vez mais a eficiência do efeito arco e que facilitem o
seu emprego no mercado.
76

9. REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (1980) NBR6120- Cargas para cálculo de estruturas de
edificações. Rio de Janeiro.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2007) NBR6136- Blocos vazados de concreto simples para
alvenaria- Requisitos. Rio de Janeiro.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (1985) NBR8798- Execução e controle de obras de


alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto. Rio de Janeiro.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2011) NBR10837- Cálculo de alvenaria estrutural de


blocos vazados de concreto. Rio de Janeiro.

BARBOSA, P. C. (2000) Estudo da interação de paredes de alvenaria estrutural com vigas de


concreto armado. 110p. Dissertação (Mestrado)- Escola de engenharia São Carlos, Universidade de
São Paulo, São Carlos, 2000.

BORGES, L. F. (2012) Estudo de caso sobre fundações para edifícios em alvenaria estrutural. 86p.
Trabalho de conclusão de curso de Engenharia Civil, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos,
2012.

CONSTRUTENS- Empresa especializada em venda de produtos básicos para construção civil.


Guarulhos.

FK COMÉRCIO- Empresa especializada em vendas de artefatos de concreto- materiais básicos para


construção civil. Guarulhos.

HASELTINE, B. A.; MOORE, J. F. A. (1981) Handbook to BS-5628: structural use of masonry. Part 1:
Unreinforced masonry. The Brick Development Association.

HENDRY, A. W. (1998) Structural Masonry. Second Edition. Macmillan Press Ltd

KLEINGESINDS, S. E. (2014) Influência do efeito arco sobre o custo de estruturas de suporte em


concreto armado para edifícios de alvenaria estrutural. 186 p. Dissertação (Mestrado) Escola de
engenharia São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2014.

LOPES, A. C. S. (2016) Aperfeiçoamento de modelagem computacional para análise da interação


entre painéis de alvenaria e estrutura de suporte em concreto armado. 73p. Trabalho de conclusão
de curso de Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016.

PAES, M. S. (2008) Interação entre edifício de alvenaria estrutural e pavimento em concreto


armado considerando-se o efeito arco com a atuação de cargas verticais e ações horizontais. 163p.
Dissertação (Mestrado) Escola de engenharia São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos,
2008.

PARSEKIAN, G. A. (2012) Apostila do curso 121088- Alvenaria Estrutural. 135p. Apostila do curso de
alvenaria estrutural, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2012.

RAMALHO, M. A.; CORRÊA, M. R. S. Projeto de edifícios de alvenaria estrutural. São Paulo: Editora
Pini Ltda, 2007. 174p.
77

SILVA, T. F. T. (2005) Estudo da interação entre edifícios de alvenaria estrutural e pavimentos em


concreto armado. 104p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas)- Escola de engenharia
São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2005.

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