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Certificação

de
Unidades
Armazenadoras
“Já fiz mais de 200 auditorias de unidades
armazenadoras, no Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, Mato Grosso e Minas Gerais. Uma coisa
que tenho observado é que na maioria das
empresas que prestam serviços de armazenamento
de produtos agrícolas e desejam fazer a certificação,
dois pontos surgem sempre como o maior problema.
Não são as instalações nem os equipamentos. São
os procedimentos escritos e os registros.
É sobre isto que vamos tratar neste e-book.”

Nede Lande Vaz da Silva


A CERTIFICAÇÃO DE UNIDADES
ARMAZENADORAS É OBRIGATÓRIA?

Vocês vão encontrar no Art. 2˚ da Lei n˚ 9.973, de 29 de maio de


2000, a determinação de criação de sistema de certificação, para
qualificação dos armazéns destinados à guarda e conservação de
produtos agropecuários. Pouco mais de um ano após a publicação
desta Lei, foi publicada a sua regulamentação através do Decreto n˚
3.855 de 3 de julho de 2001, onde no seu Art. 16, mais
especificamente, no parágrafo 2˚, está o que nos interessa:

– “É obrigatória, nos termos e prazos que a regulamentação


estabelecer, a certificação das unidades que prestem serviços
remunerados de armazenagem de produtos a terceiros, inclusive
dos estoques públicos.”

  A regulamentação citada no Decreto n˚ 3.855 demorou um


pouco a ser publicada, quase nove anos. A primeira
regulamentação foi a Instrução Normativa n˚ 03, de 8 de janeiro de
2010, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, mais
tarde ela foi substituída pela Instrução Normativa n˚ 29, de 08 de
junho de 2011, do mesmo Ministério de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Esta é a normativa que está em vigor ainda hoje,
maio de 2019, data de publicação deste e-Book.

  A Instrução Normativa n˚ 29 estabelece que a certificação de


unidades armazenadoras é obrigatória para as pessoas jurídicas
que prestam serviços remunerados de armazenagem à terceiros de
produtos agropecuários, seus derivados, subprodutos e resíduos de
valor econômico, inclusive estoques públicos.
Destaquei algumas palavras e expressões.

Pessoas jurídicas – As pessoas físicas que prestam serviços de


armazenagem não são obrigadas a certificar suas unidades
armazenadoras.
Remunerados – A certificação só é obrigatória se houver
remuneração por estes serviços. Embora caiba alguma
interpretação, entende-se que, havendo uma relação comercial,
como por exemplo, a aquisição de um produto com emissão de nota
fiscal e pagamento em período posterior à entrega deste produto,
caracteriza-se uma prestação de serviço remunerado.
À terceiros – Se o produtor armazena sua própria produção não é
obrigado a certificar sua unidade armazenadora, mas se o CNPJ da
produção é diferente do CNPJ da unidade armazenadora, mesmo
sendo do mesmo proprietário, a produção passa a não ser
considerada como produção própria e a unidade armazenadora é
obrigada a certificar.
Produtos agropecuários, seus derivados, subprodutos e
resíduos de valor econômico – Contrariando um entendimento
existente, não apenas unidades armazenadoras que armazenem
produtos agropecuários, mas também aquelas que armazenam
derivados, subprodutos e resíduos, desde que tenham valor
econômico, devem ser certificadas

Cabe destacar ainda que só é obrigatória a certificação de unidades


armazenadoras em ambiente natural, ficando de fora outros tipos de
armazenamento, como as unidades armazenadoras que usem frio,
por exemplo. Entende-se, também, que armazenagem de produtos
em forma líquida, não estão previstos na obrigatoriedade de
certificação.
EU PRECISO CERTIFICAR TODAS AS
MINHAS UNIDADES ARMAZENADORAS AO
MESMO TEMPO?

Este assunto só interessa para as empresas que possuem mais de


uma unidade armazenadora. Houve várias alterações neste
escalonamento, mas a Instrução Normativa que está em vigor é a n˚
22, de 14 de junho de 2017, também do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento. Ela estabelece que, em 2019, as
empresas tenham pelo menos 60% do número de CNPJ ou do total
da capacidade estática, certificadas. Ou um ou outro. A empresa
quando da primeira certificação define se ela deseja adotar o critério
de escalonamento por CNPJ ou por capacidade estática. Isto pode
ser alterado posteriormente, mas já é outro assunto.
Em 31 de dezembro de 2019, esta exigência vai passar para 75%
dos CNPJ ou da capacidade estática e em 31 de dezembro de 2022
todas as unidades armazenadoras deverão estar certificadas.
 
QUAIS AS ATIVIDADES NA UNIDADE
ARMAZENADORA QUE PRECISAM TER
PROCEDIMENTOS ESCRITOS?

Como eu falei no início, os procedimentos escritos são o maior


problema que as empresas enfrentam para fazer a certificação. É o
maior problema, mas também, ao lado dos treinamentos
obrigatórios, é o maior benefício que a certificação de unidades
armazenadoras trouxe para o processo de armazenagem no país.
No acompanhamento que faço de unidades já certificadas, constato
que houve grande melhoria desde a certificação inicial e atribuo boa
parte desta melhoria à existência de procedimentos escritos e ao
treinamento obrigatório. Algumas empresas tem uma percepção tão
clara da melhoria da qualidade que traz este processo que criam
procedimentos para outras atividades que não estão catalogadas
como obrigatórias pela Instrução Normativa n˚ 29/2011
Na Instrução Normativa n˚ 29/2011 consta o seguinte texto nas
justificativas iniciais – “É condição indispensável para a certificação
que a unidade armazenadora disponha de normas operacionais
descritas que comprovem os métodos e processos utilizados para
os serviços realizados, disciplinando e padronizando suas ações no
que se refere à prestação de serviços de armazenamento”
No entanto no corpo da Instrução Normativa n˚ 29/2011 são
destacados os itens que obrigatoriamente devem possuir
procedimentos escritos. São apenas nove e não são difíceis de
fazer. Vamos ver:
 
1 – Amostragem
A unidade armazenadora deve dispor de normas operacionais em
meio físico ou digital sobre os procedimentos adotados para a
amostragem dos produtos que recebe. Estas normas devem
atender todas as formas em que o produto é recebido – sacaria, a
granel, big-bag, enfardados.
Faz parte do procedimento de amostragem a atividade de
homogeneização da amostra e o preparo para a tarefa seguinte que
é a determinação da qualidade do produto.
 
2 – Determinação da Qualidade do Produto
A unidade armazenadora deve dispor de normas operacionais
referentes aos procedimentos empregados para a determinação de
matérias estranhas e impurezas e, também, de normas
operacionais referentes aos procedimentos empregados para a
determinação de umidade. Deve ficar explicito no procedimento que
a determinação da umidade é feita em produto limpo.
No caso da unidade armazenadora fazer determinação de
transgenia e/ou de micotoxinas, ela deve, também, ter normas
operacionais referentes aos procedimentos empregados para estas
determinações. 

3 – Sistema de Limpeza
A unidade armazenadora deve dispor de normas operacionais (ou
manuais operacionais) referentes aos procedimentos empregados
para a limpeza dos produtos.

4 – Sistema de Secagem
A unidade armazenadora deve dispor de normas operacionais (ou
manuais operacionais) referentes aos procedimentos adotados para
a secagem de produtos

5 – Limpeza e Higienização da Unidade Armazenadora


A unidade armazenadora deve ter um sistema descrito e
documentado de limpeza e higienização da unidade armazenadora.
Este sistema deve conter, no mínimo, a descrição da limpeza de
toda estrutura armazenadora, equipamentos, compartimentos e
pátio. 
6 - Termometria
A unidade armazenadora deve dispor de normas (ou manuais
operacionais) referentes aos procedimentos adotados para realizar
a leitura da temperatura.

7 – Aeração
A unidade armazenadora deve dispor de normas (ou manuais
operacionais) referentes aos procedimentos adotados para a
operação do sistema de aeração.

8 – Controle de Pragas e Roedores


A unidade armazenadora deve dispor de normas (ou manuais
operacionais) referentes aos procedimentos adotados para o
controle de pragas e roedores. No caso de terceirização apresentar
o procedimento da terceirizada.

9 – Acompanhamento Psicrométrico do Ar
A unidade armazenadora deve dispor de normas operacionais
referentes aos procedimentos adotados para o acompanhamento
das condições psicrométricas do ar (umidade e temperatura)

10 -Tratamento de Reclamações de Clientes


A unidade armazenadora deve possuir um procedimento para
recebimento e tratamento de reclamações de clientes.
COMO FAZER UM PROCEDIMENTO?

A norma não estabelece um padrão para a elaboração dos


procedimentos. Na forma mais simples, um caderno com a
descrição dos procedimentos obrigatórios é o suficiente, mas nós
vamos tratar aqui da montagem mais elaborada de um
procedimento.
Independente do formato, o essencial é descrever em termos
simples o que é realmente executado.
Na minha experiência a forma mais simples é entrevistar a pessoa
que a gente chama de “dono do processo”. Se eu estou montando
um procedimento sobre coleta de amostras, vou conversar com o
operador que faz este trabalho e peço para ele me descrever, passo
à passo, o que ele faz.
Se existe alguma falha técnica no procedimento que ele descreve,
eu faço a correção, obtenho a concordância dele e vamos em
frente. Após esta entrevista transcrevo para o papel ou para o
computador, e está pronto o processo. É conveniente retornar ao
“dono do processo” e colher a opinião dele.
Como é necessário um conhecimento técnico para analisar o
procedimento adotado pelo “dono do processo” é conveniente que
esta tarefa seja executada pelo responsável técnico da empresa.
COMO MELHORAR A DESCRIÇÃO DO SEU
PROCEDIMENTO?

Não é preciso muito para fazer um procedimento bem interessante.


1 - O primeiro conselho é não fazer um procedimento único –
Procedimento da Unidade Armazenadora João das Neves, por
exemplo.
Faça procedimentos separados - Procedimento para Coleta de
Amostras, Procedimento para Determinação da Qualidade e assim
por diante.
2 – Dê um número de revisão para o procedimento. O que é que é
isso?
Simples. O primeiro procedimento que você fizer, chame de revisão
00 e coloque isto bem visível no procedimento. Depois, quando
você fizer uma alteração, chame de revisão 01, e assim por diante.
Já viu a vantagem de não fazer um procedimento único, não é? A
cada vez que você fizesse uma alteração na coleta de amostras,
por exemplo, teria que fazer uma revisão do procedimento todo.
3 – Determine quem vai ficar responsável pela alteração do
procedimento. Pode ser uma pessoa, por exemplo o responsável
técnico, que se encarregará de todas as revisões, mas você pode
preferir designar responsáveis diferentes para cada procedimento.
Anote no procedimento quem é o responsável pela revisão.
4 – De tempos em tempos, digamos um ano, faça uma revisão geral
dos procedimentos, com a participação de todos os encarregados.
5- Crie uma Lista Mestra. O que é a lista mestra? A lista mestra é
um formulário, físico ou digital, onde você vai anotar todas as
revisões que estão em vigor. Isto é importante para todos saberem
quais as revisões que estão em vigor em determinada data. A
atualização da lista mestra é importantíssima e deve ser feita
sempre que houver uma revisão em qualquer procedimento.
6 – O procedimento não é para ficar num arquivo. É importante que
ele esteja disponível para os operadores. O Procedimento de Coleta
de Amostras, deve ficar no local da coleta de amostras. Pode ser
num quadro na parede por exemplo.
Novamente, sempre verificar se o procedimento está atualizado.
7 – Os procedimentos não são estáticos, eles sempre devem estar
em aperfeiçoamento e gerando novas revisões.
 

 
REGISTROS
A Instrução Normativa n˚ 29/2011 nomeia alguns registros que são
obrigatórios para que a unidade armazenadora receba a
certificação.
Os registros obrigatórios são os seguintes:
1 - Romaneios ou controles de recepção
Deve existir um sistema de romaneios ou controles de recepção
onde constem informações, pelo menos, sobre a identificação do
proprietário da carga e do produto, a pesagem (tara e bruto) e a
qualidade do produto apurada.
2 – Controle da operação de secagem
O controle da operação pode ser feito em um caderno, em folhas
avulsas ou em registros eletrônicos, inclusive os registros
automáticos dos secadores mais modernos. Que informações
mínimas devem constar deste registro? Identificação do secador,
produto, identificação do operador, data da realização da secagem,
o período de operação de secagem e o monitoramento da
temperatura do ar de secagem, umidade inicial e final. Nas
secagens de baixa temperatura, os registros devem conter,
também, a temperatura e umidade relativa do ambiente.
3 – Controle das operações fitossanitárias
Da mesma forma que no registro de secagem, os registros das
operações fitossanitárias não tem um modelo ou forma de registro
obrigatórios. Devem conter, pelo menos, as seguintes informações:
identificação do produto, quantidade do produto tratado, data da
realização, o fumigante ou inseticida aplicado, a dosagem utilizada
e o responsável pela aplicação. No caso de operações
terceirizadas, a administração da unidade armazenadora deve
solicitar ao prestador de serviço o fornecimento destas informações.
4 – Controle de temperatura
Não existe um modelo para registros da termometria, que pode ser
manualmente ou por meio eletrônico. Os registros devem ser feitos,
pelo menos, semanalmente, dos armazéns que contiverem produto.
É recomendável que a leitura seja realizada sempre em horário fixo,
de preferência pela manhã.
5 – Controle de aeração
Não existe um modelo para o registro da aeração, o qual pode ser
feito manualmente ou por meio eletrônico. Os registros devem
conter, pelo menos, as seguintes informações: identificação do silo
ou armazém, o responsável pela aeração (em sistemas manuais),
data da realização, horário inicial e final, temperatura e umidade
relativa do ar ambiente durante a aeração.
6 – Registro das condições do ar ambiente
Não existe um modelo para o registro das condições do ar
ambiente, o qual pode ser feito manualmente ou por meio
eletrônico. O registro deve ser feito sempre que estiver sendo feita
aeração.
7 – Registros das ocorrências operacionais
A unidade armazenadora deve ter um registro de toda ocorrência
operacional relativa aos estoques depositados, desde o
recebimento até a expedição. Estes registros devem ser feitos de
forma auditável, para que possa ser rastreado, por proprietário dos
estoques, os procedimentos que foram adotados durante o período
de armazenamento.
8 - Tratamento de reclamações de clientes
A unidade armazenadora ou a empresa a que pertence deve ter um
registro das reclamações de clientes e do tratamento que foi dado à
reclamação
OUTROS PONTOS
1 – Relatório do responsável técnico
A unidade armazenadora deve apresentar um relatório, pelo menos
trimestral, das supervisões realizadas por seu responsável técnico.
Este relatório também não tem um modelo específico e pode estar
tanto em formato manual como digital. Neste relatório o responsável
técnico deve apresentar as condições quantitativas e qualitativas do
produto armazenado, no período.
2 – Programa de treinamento e aperfeiçoamento técnico.
A unidade armazenadora deve apresentar um programa de
capacitação dos empregados do quadro efetivo da empresa. Para
aqueles que atuam nas áreas operacionais, o programa deve
possibilitar treinamento ou reciclagem que totalize, no mínimo, 24
horas anuais, nas áreas de armazenagem. A norma não obriga que
estes treinamento sejam efetuados por organismos oficiais, mas o
prestador do treinamento deve ter capacitação técnica para tal. Não
há obrigação de emissão de certificados, mas deve haver o registro
do nome do treinamento, quando foi feito, carga horária, temas
abordados, participantes e o ministrante do curso.

Existem mais exigências, constantes na Instrução Normativa n˚


29/2011 do MAPA, mas os pontos que apontamos acima, são os
que tem apresentado maiores problemas.
Cabe destacar que a unidade armazenadora necessita ter um
regulamento técnico do armazém e um fiel depositário registrados
na Junta Comercial do Estado em que esteja localizada, ter um
responsável técnico, devidamente registrado no CREA, com a
comprovação realizada por meio da ART.

Obrigado!

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